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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região

Tutela Cautelar Antecedente


0000244-24.2020.5.09.0010

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 24/03/2020


Valor da causa: R$ 42.000,00

Partes:
REQUERENTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES EM URBANIZACAO DO ESTADO DO
PARANA
ADVOGADO: ALMIR ANTONIO FABRICIO DE CARVALHO
ADVOGADO: SANDRO LUNARD NICOLADELI
ADVOGADO: ANDRE FRANCO DE OLIVEIRA PASSOS
REQUERIDO: URBS URBANIZACAO DE CURITIBA S/A
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO
10ª VARA DO TRABALHO DE CURITIBA
TutCautAnt 0000244-24.2020.5.09.0010
REQUERENTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES EM URBANIZACAO DO
ESTADO DO PARANA
REQUERIDO: URBS URBANIZACAO DE CURITIBA S/A

Vistos, etc...

O SINDICATO DOS TRABALHADORES EM URBANIZAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ,


representando os empregados da empresa URBS URBANIZAÇÃO DE CURITIBA, formula os
seguintes requerimentos, em sede tutela cautelar antecedente, todos voltados à prevenção do
contágio pelo "novo coronavirus (COVID-19)":

"1. A liberação de empregados para isolamento compulsório com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos, conforme orientação da ANVISA e OMS e, recentemente, pela Nota Técnica
Conjunta nº 02/2020, do Ministério Público do Trabalho6;

2. A liberação de empregados com doenças crônicas sem necessidade de apresentação de


atestado médico, considerando que as clínicas e hospitais estão fechados para tal atendimento e
que a empresa possui tais informações dos trabalhadores no prontuário médico;

3. A determinação para que as pessoas que trabalham nas unidades em que já foram
constatados casos com suspeita da COVID-19 sejam colocadas em quarentena, a saber: 3.1.
Rua da Cidadania Matriz; 3.2. SETRAN Prado Velho; 3.3. Prédio Central da URBS; 3.4. Prédio
Ferroviaria (URBS / SETRAN);

4. A suspensão imediata de todas as atividades que exijam o atendimento direto ao público,


principalmente nos locais onde são feitos os atendimentos do Cartão Transporte,
Estacionamento da Rua da Cidadania Mariz e Rodoferroviária;

5. A redução do horário de funcionamento da URBS dentro da jornada habitual das 12h30min às


18h30min, com possibilidade de trabalho remoto;

6. A liberação dos menores aprendizes e estagiários, conforme Nota Técnica Conjunta 05/2020
do MPT7;

7. A redução do quadro de funcionários operacionais/utilidade pública em 70% (setenta por


cento), trabalhando com sistema de plantão com revezamento.

8. Para as atividades de limpeza, o fornecimento dos seguintes EPI’s: luvas de borracha ¾ com
substituição diária, máscaras adequadas a exigência da atividade, avental de lavação de material

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impermeável, protetor facial de material transparente e higienizável, bem como substituição dos
atuais materiais utilizados para a limpeza (como, por exemplo, panos de limpeza) por materiais
descartáveis;

9. Para os demais trabalhadores que forem necessários nas atividades essenciais, o


fornecimento de todos os equipamentos de proteção individual necessários adequados para
cada uma das funções;

10. Quanto às atividades que utilizam de uniforme, o fornecimento de quantidade de peças


necessárias para a troca diária;

11. Treinamento a respeito das precauções necessárias para o exercício das funções para os
trabalhadores necessários nas atividades essenciais da Empresa;

12. O estabelecimento de rotinas de trabalho que não exijam a reunião em local fechado para
instruções a respeito das atividades a serem desenvolvidas;

13. A dispensa de todos os empregados que tiverem filhos em creche e em idade escolar
devidamente matriculados, conforme solicitação;

14. A adoção imediata de procedimentos e medidas para que os usuários possam utilizar
serviços de forma não presencial - pela internet ou correios – e, nos locais de estacionamento,
que o pagamento se dê exclusivamente com cartões em serviço de autoatendimento;

15. Possibilitar, internamente, o acesso irrestrito a locais destinados à higiene frequente das
mãos; bem como reforçar a limpeza do ambiente de trabalho, disponibilizando álcool em gel para
a devida higiene das mãos e também das superfícies (cadeiras, mesas, computadores e
telefones), bem como dos dispositivos usados para a execução da atividade laboral, tais como
smartphones e microfones, considerando que a recomendação é que estes sejam higienizados
com os produtos adequados antes e após o uso pelos trabalhadores;

16. A adoção, no caso de trabalhadores que exercem suas atividades em local arejado com o
uso de ar condicionado e mediante baixas temperaturas, das medidas que sejam necessárias
para possibilitar a salubridade com relação ao compartilhamento de conjuntos de head set (fones
com microfones acoplados), microfones, pontos eletrônicos e afins - uma vez que os mesmos
podem servir de veículo para a transmissão do coronavírus, sendo indicada a aquisição de
protetores descartáveis para as superfícies dos head sets e a higienização frequente dos
microfones e demais dispositivos utilizados nestes ambientes;

17. O fechamento dos banheiros públicos pagos: Pelourinho, Arcadas de São Francisco, Parque
Barigui e Praça Osório e a suspensão da cobrança dos banheiros públicos doTerminal
Guadalupe e Rua da Cidadania da Matriz."

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De início, cabe considerar que, como é notório, o mundo está enfrentando uma pandemia de
proporções jamais vivenciadas pelas atuais gerações. Não há regras pré-definidas sobre como
enfrentá-la. O que é certo é que o momento é de se colocar o direito à vida e à saúde acima de
qualquer outra prioridade. É sob este prisma que serão apreciadas as medidas postuladas pelo
sindicato autor, tendo em conta o que dispõem os artigos 1º, III, e 7º, XXII, da CF/88.

A portaria 454 de 20/03/2020 do Ministério da Saúde declarou, em seu art. 1º, o estado de
transmissão comunitária do coronavirus (covid-19) em todo o território nacional. Em seu art. 4º, a
mesma Portaria estabelece que "As pessoas com mais de 60 (sessenta) anos de idade devem
observar o distanciamento social, restringindo seus deslocamentos para realização de atividades
estritamente necessárias, evitando transporte de utilização coletiva, viagens e eventos
esportivos, artísticos, culturais, científicos, comerciais e religiosos e outros com concentração
próxima de pessoas."

Quanto à providência requerida no tópico "1", portanto, o requerimento é pertinente, haja vista
que a portaria supracitada considera como grupo de risco todas as pessoas com mais de 60
anos (e não somente acima de 65 anos, como constou do ATO URBS 009/2020).

Quanto ao requerido no item "2", também merece acolhida. Não é razoável exigir que o
empregado portador de doença crônica que o enquadre em grupo de risco, neste momento,
procure uma unidade de saúde para obter um atestado médico. Isso porque as unidades de
saúde estão se dedicando, primordialmente, a atender vítimas da pandemia. Tal exigência
sobrecarregaria ainda mais o sistema de saúde e, por outro lado, exporia o empregado de forma
desnecessária ao risco de contágio. Ademais, como esclarece o sindicato autor, a informação
sobre ser portador de doença crônica, por certo, estará constando do prontuário médico do
trabalhador junto à empresa. Logo, deverá a ré aceitar a autodeclaração do empregado a
respeito da existência de doença crônica, a qual poderá ser confrontada, se for o caso, com o
prontuário médico do trabalhador junto à empresa, não se olvidando que a prestação de
declaração falsa poderá gerar as sanções que forem pertinentes. Solução semelhante foi
adotada, no âmbito federal, pela Instrução Normativa nº 21, que a IN nº 19, de 12 de março de
2020, do Ministério da Economia, em seu art. 4-B, § 1º:

§1º A comprovação de doenças preexistentes crônicas ou graves ou de imunodeficiência


ocorrerá mediante autodeclaração, na forma do Anexo I, encaminhada para o e-mail institucional
da chefia imediata.

Quanto ao requerido no item "3", entendo que a exordial não trouxe elementos que confirmem a
existência de casos suspeitos de COVID-19 nas unidades citadas, razão pela qual o
requerimento, inaudita altera pars, não se sustenta. Indefere-se, por ora, sem prejuízo de nova
análise, após a manifestação da ré.

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Quanto ao requerido no item "4" (suspensão imediata do atendimento ao público), a inicial não
traz elementos que permitam ao juízo aferir a viabilidade do acolhimento de tal requerimento,
destacando-se que a ré exerce, fato incontroverso, atividade essencial. Logo não considero
possível acolher o requerimento, do modo como formulado, inaudita altera pars. Indefere-se, por
ora, sem prejuízo de nova análise, após a manifestação da ré.

Quanto ao requerido no item "5", observo que o objetivo do Ato URBS 009/2020, ao estabelecer
dois turnos de trabalho, foi reduzir o deslocamento de empregados no horário de "rush", bem
como o diminuir o período de contato entre os empregados no ambiente de trabalho. Nesse
contexto, não se vislumbra, a priori, que o ato em análise, nesse aspecto, demande interferência
do Poder Judiciário.

Quanto ao requerido no item "6" (liberação de menores aprendizes e estagiários), o pedido foi
formulado com base na nota técnica conjunta do Ministério Público do Trabalho e da
Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente. A
norma técnica em questão refere-se ao trabalho do adolescente. O art. 67, III, do ECA,
estabelece ser vedado o trabalho do adolescente em locais prejudiciais à sua formação e ao seu
desenvolvimento físico, psíquico e social. Assim, ainda que não se trate grupo de risco, entendo
que estagiários e aprendizes, quando menores de 18 anos, estão protegidos pelo ECA e, por
isso, deve ser conferido a eles o mesmo tratamento que aos idosos e portadores de doenças
crônicas. Assim, deverá a ré aplicar aos estagiários e aprendizes menores de 18 anos o mesmo
regime do art. 4º do ato URBS 009/2020, ressalvada a possibilidade de trabalho remoto, quando
viável.

Quanto ao requerido no item "7" (redução do quadro de funcionários operacionais / utilidade


pública em 70%, trabalhando com sistema de plantão com revezamento), é necessário
considerar que a ré já sofrerá significativa redução do quadro de trabalhadores presenciais, ante
os grupos de risco liberados para isolamento domiciliar. Há que se considerar que a ré exerce
atividade essencial (fato sequer questionado na exordial), de modo que não vislumbro amparo
legal para o acolhimento da medida pretendida, neste momento.

Quanto ao requerido no item "8", deverá a ré fornecer todos os EPI´s cabíveis para os
trabalhadores em atividades de limpeza, em especial máscaras e luvas, observando o conteúdo
das normas regulamentares que tratam do tema. Quanto a panos de limpeza, as informações
disponíveis até o momento revelam que o "coronavirus" não resiste a sabão e detergente, de
modo que não se justifica, ao menos por ora, o pedido de substituição diária de todos os
materiais utilizados.

Quanto ao requerido no item "9", trata-se de pretensão genérica, pois menciona a exordial que
devem ser fornecidos "todos os equipamentos de proteção individual necessários e adequados

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para cada uma das funções", sem descrever quais seriam estes EPIs, tampouco quais deles a ré
não estaria fornecendo. Logo, deixo de acolher o pedido de liminar, em tal aspecto, no presente
momento.

Quanto ao requerido no item "10", entendo que, para reduzir o risco de contaminação, o uniforme
(para as atividades que exigem o uso), de fato, não deve ser utilizado por mais de um dia, pois
ainda não se sabe exatamente por quanto tempo o vírus pode sobreviver em contato com tecido.
Logo, deverá a ré fornecer quantidade de peças de uniforme que permita a troca diária.

Quanto ao requerido no item "11" (treinamento a respeito das precauções necessárias para o
exercício das funções para os trabalhadores necessários nas atividades essenciais da Empresa),
a exemplo do item "9", consiste em pretensão demasiadamente genérica. Não explicita o
sindicato autor a que tipo de "precauções" está se referindo. Note-se que as determinações que
decorrerem da presente decisão serão acompanhadas de multa cominatória, não havendo lugar,
nesse contexto, para ordens genéricas e sem delimitação do conteúdo.

Quanto ao requerido no item "12", entendo ser pertinente, pois a reunião de vários empregados
em locais fechados para reuniões majora consideravelmente o risco de contágio. Logo, deverá a
ré estabelecer rotinas de trabalho que evitem reuniões presenciais, em local fechado, com
participação de mais de 10 empregados, mantendo-se sempre o ambiente arejado e um
distanciamento razoável entre os participantes.

Quanto ao requerido no item "13", entendo que seu acolhimento comprometeria a manutenção
das atividades da ré, pois é de se supor que a grande maioria dos empregados que não são
idosos possui filhos em idade escolar. Assim, não obstante a compreensível preocupação do
sindicato autor, o requerimento, tal como formulado, não pode ser acolhido.

Quanto ao requerido no item "14" (medidas para que os usuários possam utilizar serviços de
forma não presencial), entendo não ser possível seu acolhimento, inaudita altera pars. Isso
porque a introdução de tecnologias que permitam ao usuário obter atendimento de forma remota,
via de regra, demanda estudos e investimentos, necessitando um prazo razoável para
implantação. Indefere-se, por ora, sem prejuízo de nova análise, após a manifestação da ré.

Quanto ao requerido no item "15", deve ser acolhido, pois se trata de medidas básicas de
higiene, que devem abarcar inclusive head sets, microfones e demais dispositivos utilizados no
ambiente de trabalho (o que já atende o requerido no item "16").

Quanto ao requerido no item "17", este juízo não entende pertinente, neste momento, o
fechamento de banheiros públicos, pois estamos vivenciando momento em que, justamente, há
maior necessidade de propagação de bons hábitos de higiene, especialmente lavar as mãos.

Assinado eletronicamente por: GRAZIELLA CAROLA ORGIS - Juntado em: 25/03/2020 16:03:27 - 840c0ed
Ante tudo o que foi acima exposto, considerando a presença do periculum in mora e do fumus
boni iuris, ACOLHO EM PARTE o pedido de liminar, para determinar à ré as seguintes
providências:

A) Deverá a ré permitir que o isolamento compulsório previsto no artigo 4º do ATO URBS 009
/2020 beneficie todos os empregados acima de 60 anos;

B) Deverá a ré aceitar autodeclaração dos empregados portadores de doenças crônicas que os


enquadrem em grupo de risco, dispensando a apresentação de atestado médico;

C) Deverá a ré aplicar aos estagiários e aprendizes menores de 18 anos o mesmo regime do art.
4º do ato URBS 009/2020, ressalvada a possibilidade de trabalho remoto, quando viável;

D) Deverá a ré fornecer todos os EPI´s cabíveis para os trabalhadores em atividades de limpeza,


em especial máscaras e luvas, observando o conteúdo das normas regulamentares que tratam
do tema;

E) Deverá a ré fornecer quantidade de peças de uniforme que permita a troca diária, para os
trabalhadores sujeitos a uso de uniforme;

F) Deverá a ré estabelecer rotinas de trabalho que evitem reuniões presenciais, em local


fechado, com mais de 10 empregados, mantendo-se sempre o ambiente arejado e um
distanciamento razoável entre os participantes;

G) Deverá a ré possibilitar, internamente, o acesso irrestrito a locais destinados à higiene


frequente das mãos, bem como reforçar a limpeza do ambiente de trabalho, disponibilizando
álcool em gel para a devida higiene das mãos e também das superfícies (cadeiras, mesas,
computadores e telefones), bem como dos dispositivos usados para a execução da atividade
laboral, tais como smartphones e microfones, considerando que a recomendação é que estes
sejam higienizados com os produtos adequados antes e após o uso pelos trabalhadores.

As providências acima deverão ser cumpridas no prazo de 2 (DOIS) dias úteis, a contar da
intimação da ré (não se aplicando a suspensão dos prazos processuais, por se tratar de medida
urgente), sob pena de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), por obrigação
descumprida.

Intime-se a parte ré, com urgência, através de Oficial de Justiça, inclusive notificando-a de que
dispõe do prazo de 03 (TRÊS) dias úteis para se manifestar quanto ao cumprimento das medidas
e, também, quanto aos demais requerimentos formulados em caráter liminar (novamente não se
aplicando aqui a suspensão de prazos), especialmente quanto aos pedidos dos itens 3, 4 e 14,
haja vista a possibilidade de extensão das medidas deferidas, caso isso se mostre necessário.

Intime-se a parte autora.

Assinado eletronicamente por: GRAZIELLA CAROLA ORGIS - Juntado em: 25/03/2020 16:03:27 - 840c0ed
CURITIBA/PR, 25 de março de 2020.

GRAZIELLA CAROLA ORGIS


Juíza Titular de Vara do Trabalho

Assinado eletronicamente por: GRAZIELLA CAROLA ORGIS - Juntado em: 25/03/2020 16:03:27 - 840c0ed
https://pje.trt9.jus.br/pjekz/validacao/20032509362304200000074580253?instancia=1
Número do processo: 0000244-24.2020.5.09.0010
Número do documento: 20032509362304200000074580253

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