Você está na página 1de 5

Supremo Tribunal Federal

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 906.027 PIAUÍ

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


RECTE.(S) : INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA E PREVIDÊNCIA DO
ESTADO DO PIAUÍ - IAPEP
ADV.(A/S) : MARIA DE FÁTIMA MOURA DA SILVA MACEDO
RECDO.(A/S) : RITA OLINDA GOMES DA SILVA
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO PIAUÍ

DECISÃO: DECISÃO: Trata-se de agravo cujo objeto é a decisão que


inadmitiu recurso extraordinário interposto em face do acórdão do
Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, assim ementado (eDOC 2, p. 50):

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER


JULGADA PROCEDENTE. PRELIMINAR SUSCITADA DE
INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO DA INFÂNCIA E
DA JUVENTUDE. ACOLHIMENTO. NULIDADE DO
DECISUM RECORRIDO. MÉRITO. CAUSA PRONTA PARA
JULGAMENTO IMEDIATO. REINSCRIÇÃO DE MENOR SOB
GUARDA COMO DEPENDENTE JUNTO AO IAPEP.
POSSIBILIDADE. GUARDA CONCEDIDA ANTES DA
VIGÊNCIA DA LC Nº 40/2004. ART. 227, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. PREVALÊNCIA DO INTERESSE DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE. PLEITO ORIGINÁRIO JULGADO
PROCEDENTE. I- A jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça sedimentou o entendimento de que a
competência das Varas da Infância e da Juventude só se
configura se restar caracterizado que o menor, cujo interesse se
discute no processo, encontra-se em situação irregular ou de
risco, entendida esta como a ameaça ou a violação aos direitos
reconhecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente, nos
termos do art. 98. II- Com isto, tem-se que na espécie, não é
possível afirmar que o menor esteja submetida a qualquer das
circunstâncias descritas no art. 5º, do ECA, por ameaça ou
violação a direitos, de modo que a sua situação não pode ser
caracterizada como sendo “irregular ou de risco”. III- Desse
modo, a competência para o julgamento da causa originária do
presente recurso não é da Vara da Infância e da Juventude,

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 10986036.
Supremo Tribunal Federal

ARE 906027 / PI

porque não consta nos autos qualquer circunstância indicativa


de que a menor se encontre em situação de risco, mas, noutro
sentido, a Apelante, autarquia estadual, integra a
Administração Pública Indireta, enquadrando-se no conceito de
Fazenda Pública, fato que justifica o deslocamento da
competência para a Vara dos Feitos da Fazenda. IV- Isto posto,
deve ser reconhecida a incompetência absoluta da Vara da
Infância e da Juventude para processar a ação originária e,
consequentemente, ser declarada nula a decisão. V- Em virtude
da causa encontrar-se em condições de imediato julgamento,
deve ser aplicada a Teoria da Causa Madura. VI- A Apelada
pugna pela reinscrição da menor sob sua guarda, como sua
dependente junto ao IAPEP – Instituto de Assistência e
Previdência do Estado do Piauí, por ter sido excluída, após a
criação do IAPEP SAÚDE, sob o argumento de que estaria em
desacordo com o art. 5º, da Lei Federal nº 9.717/98, com o art.
16, da Lei Federal nº 8.213/91, com a nova redação conferida
pela Lei nº 9.528/97, e art. 6º, da Lei Complementar Estadual nº
040/2004. VII- Ocorre que, analisando-se percucientemente os
autos, verifica-se que o pleito da Apelada se encontra em
consonância com o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº
8.069/90), e em estrita observância aos dispositivos
constitucionais regulamentadores da matéria, pois os
documentos que instruem a exordial da referida Ação,
notadamente do teor da Certidão de Guarda, extrai-se que a
guarda da aludida menor, foi concedida a requerente, por
sentença proferida em 05.04.2004, pelo Juiz da Vara da Infância
e Juventude da Comarca de Teresina-PI (fls. 11/2), portanto,
antes da vigência da Lei Complementar Estadual nº 40/2004,
que se deu na data de sua publicação, então efetivada no DOE
nº 132, de 15.07.2004. VIII- Dessa forma, considerando-se os
argumentos fático-legais expendidos pelas partes em suas
manifestações processuais, destaque-se que a controvérsia da
demanda está em saber qual o alcance da restrição imposta pela
Lei Complementar Estadual nº 40/2004, no que alude à exclusão
do menor sob guarda da relação de dependentes de segurado

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 10986036.
Supremo Tribunal Federal

ARE 906027 / PI

para fins previdenciários. IX- Ademais, cotejando o disposto


nos mencionados diplomas legais, impõe-se a garantia da
inscrição da menor como dependente da Apelada, vez que do
contexto probatório dos autos não restou configurada a guarda
previdenciária, ou seja, aquela que visa garantir-lhes apenas os
reflexos previdenciários da dependência, artifício combatido
veementemente pela jurisprudência, consoante entendimento
do STJ. X- Nesta senda, a garantia do direito aos menores de
permanecerem como dependentes visa prestigiar os direitos
fundamentais da criança e do adolescente, razão pela qual
deve-se acolher a interpretação que reconheça maior eficiência
aos direitos fundamentais. XI- Recurso conhecido e provido
para acolher a preliminar de incompetência absoluta do Juízo
da Vara da Infância e Juventude, anulando a sentença
reexaminada, por ter sido proferida por juízo incompetente, e,
aplicando o disposto no art. 515, §3º, do CPC, para apreciar a
demanda originária, julgando procedente o pleito exordial,
determinando ao IAPEP que renove a inscrição da menor
STEPHANY GABRIELLE MOURA GOMES, na qualidade de
dependente de RITA OLINDA GOMES DA SILVA,
condenando-o, ainda, ao pagamento das custas e honorários
advocatícios, os quais ficam fixados em 10% (dez por cento)
sobre o valor da causa. XII- Jurisprudência dominante dos
tribunais pátrios.”

No recurso extraordinário, com fundamento no art. 102, III, “a” e


“b”, do permissivo constitucional, aponta-se ofensa aos arts. 40, § 12; e 97
da Constituição Federal.
Nas razões recursais, sustenta-se, em suma, que não há amparo
constitucional à inclusão do menor sob guarda como dependente de
servidor público (eDOC 3, pp. 21-40).
A Presidência do TJPI inadmitiu o recurso em virtude da incidência
da Súmula 279 do STF ao caso, bem como por se tratar de debate restrito
à legislação infraconstitucional.
É o relatório. Decido.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 10986036.
Supremo Tribunal Federal

ARE 906027 / PI

A decisão do Tribunal de origem, ao inadmitir o recurso


extraordinário, não merece reparos.
Como se observa da leitura do acórdão recorrido, o exame das
razões recursais exige análise da legislação infraconstitucional (Leis
8.039/90, 8.213/91 e 9.528/97 e Lei Complementar Estadual 40/2004).
Assim, eventual divergência em relação ao entendimento adotado pelo
Tribunal a quo demandaria o reexame da legislação aplicável à espécie e
de fatos e provas, o que inviabiliza o processamento do apelo extremo.
Eventual ofensa constitucional, se tivesse ocorrido, seria indireta. Incidem
no caso as Súmulas 279 e 280 do STF.
Neste sentido:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO.
PENSÃO POR MORTE. MENOR SOB GUARDA DA AVÓ.
ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL.
INCURSIONAMENTO NO CONTEXTO FÁTICO-
PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 279 DO STF. 1. A
pensão por morte, quando sub judice a controvérsia sobre a sua
concessão a menor sob guarda, demanda a análise de normas
infraconstitucionais e o reexame do conjunto fático-probatório
dos autos. Precedente: ARE 763.778-AgR, Rel. Min. Cármen
Lúcia, Segunda Turma, DJe 24/10/2013. 2. A violação reflexa e
oblíqua da Constituição Federal decorrente da necessidade de
análise de malferimento de dispositivo infraconstitucional torna
inadmissível o recurso extraordinário. 3. O recurso
extraordinário não se presta ao exame de questões que
demandam revolvimento do contexto fático-probatório dos
autos, adstringindo-se à análise da violação direta da ordem
constitucional. 4. In casu, o acórdão recorrido assentou:
“ADMINISTRATIVO E PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE
SEGURANÇA. PENSÃO POR MORTE. NETO MENOR DE
SERVIDORA PÚBLICA. MENOR SOB GUARDA JUDICIAL.
[...] DIREITO LÍQUIDO E CERTO VIOLADO. SEGURANÇA
PARCIALMENTE CONCEDIDA”. 5. Agravo regimental
DESPROVIDO” (ARE n. 718.191-AgR, Relator o Ministro Luiz

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 10986036.
Supremo Tribunal Federal

ARE 906027 / PI

Fux, Primeira Turma, DJe 18.9.2014).


“DIREITO PREVIDENCIÁRIO. POSSIBILIDADE DE
MENOR SOB GUARDA INTEGRAR O ROL DE
DEPENDENTES DO SEGURADO. DEBATE DE ÂMBITO
INFRACONSTITUCIONAL. EVENTUAL VIOLAÇÃO
REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO
EM 13.9.2010. Divergir do acórdão recorrido no tocante à
possibilidade ou não de menor sob guarda integrar o rol de
dependentes previdenciários de servidor segurado exigiria a
análise da legislação infraconstitucional aplicável à espécie, o
que refoge à competência jurisdicional extraordinária,
prevista no art. 102 da Constituição Federal. Precedentes.
Agravo regimental conhecido e não provido” (RE 634.487-AgR,
Relatora a Ministra Rosa Weber, Primeira Turma, DJe 1º.8.2014,
grifos nossos).

Na mesma toada, anoto as seguintes decisões monocráticas: ARE


926.705/CE e RE 826.572/DF, ambos da relatoria da Ministra Cármen
Lúcia; ARE 767.585/DF, Rel. Min. Luiz Fux; AI 803.776/MT, Rel. Min. Dias
Toffoli.
No que se refere à admissibilidade do recurso pelo art. 102, III, ‘b’,
da Constituição Federal, anoto que não houve declaração de
inconstitucionalidade pelo Tribunal de origem, mas meramente
interpretação conjugada da legislação aplicável, concluindo-se pela
prevalência do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) sobre
a Lei 9.528/97.
Ante o exposto, nego seguimento ao recurso, nos termos do art. 21,
§1º, RISTF.
Publique-se.
Brasília, 17 de maio de 2016.

Ministro EDSON FACHIN


Relator
Documento assinado digitalmente

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 10986036.

Você também pode gostar