Você está na página 1de 5

Porque a voz não funciona:

A voz é impedida de responder com uma espontaneidade ideal porque essa


espontaneidade depende de ação de reflexo, e a maioria das pessoas perdeu a
habilidade e, talvez, o desejo de se comportar reflexivamente, a não ser em casos de
extrema dor, medo e euforia. Quase todos os comportamentos vocais são feitos por
impulsos secundários.
Esses impulsos são normalmente de proteção, e existe um pensamento antes,
bloqueando os primeiros impulsos, que formam hábitos.
Hábitos são necessários para a vida humana, alguns são escolhidos
conscientemente (por que caminho ir todo dia para o trabalho, tomar banho de
manhã), mas a maioria dos hábitos mentais e emocionais (eu nunca choro, eu não sei
cantar, eu sempre choro com essa música) são formados inconscientemente e por
outra pessoa, não você mesmo. (Pare de gritar, senão você vai ficar sem sorvete;
meninos não choram; meninas não gritam)
Na mente inconsciente profunda, o instinto animal de resposta emocional a
estímulos é em grande parte condicionada na infância.
Uma pequena história que conto como exemplo é a História da bolacha de
chocolate.
Quando um bebe nasce, um batalhão de primeiros impulsos é ativado, para
fazer o bebê viver. A primeira experiência é de vida ou morte, e se descobre que
respiração dá a vida.
Mas só respirar não é o suficiente, sobreviver é necessário. O bebê experiencia
então o chamado “Pang”, que sinaliza que o bebê precisa de algo para a sobrevivência,
como comida, por exemplo. O Pang, no meio da barriga, tem uma integração neural
com o mecanismo de respiração, e essa que deu a vida, agora se transforma em
mecanismo de sobrevivência, e o bebê chora tão alto que mal dá para acreditar que
vem de um ser tão pequeno.
Miraculosamente o choro é traduzido por aqueles que o escutam como um
choro por fome, e trazem leite, parando então a dor e o choro. Pronto! Respiração e
voz foram usados a favor da sobrevivência. A primeira experiência de voz do bebê foi
em resposta de uma experiência de vida ou morte.
Necessidade – Pang – Voz – Resposta – Sobrevivência
Esse mecanismo é repetido várias vezes, esse primeiro condicionamento é o
meio de comunicação que se provou eficiente. Nesse mecanismo se forma a raiz de
emoções desde tristeza, raiva, medo, até alegria, felicidade e amor.
Imagine esse bebê, agora com 2 ou 3 anos. Muito se aprendeu, muitas palavras,
a maioria ligada a comida, mas o pang ainda comanda.
Essa criança então, enquanto brinca com seus brinquedos sente uma
necessidade incontrolável por bolacha de chocolate. O pang entra em ação, e ela corre
para a cozinha, onde está sua mãe, pai ou babá e grita “Eu quero uma bolacha de
chocolate! Me dá uma bolacha de chocolate! Bolacha de chocolate!”
Como podemos facilmente imaginar, a mãe, pai ou babá podem não responder
positivamente. A reação mais possível é “Pare de gritar! Você não vai ganhar bolacha de
chocolate até aprender a pedir com educação! Só quando pedir por favor e obrigada,
então talvez ganhe uma bolacha de chocolate!”
Infelizmente essa fase continua por um tempo e inclui castigos, mas o novo
aprendizado é que seguir com a pang pode não nos levar à sobrevivência, mas pode ser
o equivalente à morte. Comunicação continua sendo o meio de sobrevivência, mas o
pang não pode mais ser usado, ele pode até te levar à morte.
Numa próxima vez, às vezes até no dia seguinte, o pang volta, e a criança
começa a chorar, mas logo lembra do ocorrido, para de chorar e pede. O Pang é
ignorado e o seu centro, desligado da respiração. A necessidade juntamente com a
respiração encontrada somente na parte superior dos pulmões, bem longe da perigosa
central do pang, é redirecionada para um grupo músculos acima da garganta. A criança
sorri, lábios, língua e mandíbula respondem ao sentimento de necessidade, a voz não
ressoa mais através do corpo com a reverberação de uma luta pela vida, mas flui doce e
inofensiva pelas bochechas e cabeça. A criança então vai para a cozinha e diz “Se eu for
uma boa menina(o) e pedir por favor, você me dá uma bolacha de chocolate, querida
mamãe? Por favor!”, e a mãe responde “Que boa menina(o), aprendeu a pedir! Aqui
estão duas bolacha.”
A criança aprendeu sua próxima grande lição sobre comunicação: seguir os
segundos impulsos neurofisiológicos levam à sobrevivência.
Esse simples exemplo mostra na forma mais alegórica porque a voz não
funciona.
Condicionamento de segundos impulsos continua pelos anos de formação e
resulta em modo de comunicação habitual, que parece funcionar. Nossos primeiros
impulsos, como responder à um simples “bom dia”, são bloqueados, mas a necessidade
de resposta continua, criando muitas vezes respostas como “Porque ele está falando
comigo? Ele nunca conversa comigo!” ou “Já sei, você precisa que eu assine aquele
petição”. Isso interrompe a jornada de impulsos elétricos para a respiração e os
músculos da laringe, e manda um segundo impulso elétrico que diz aos músculos da
respiração para segurar firme e não responder espontaneamente. Os músculos da
respiração falham na entrega do combustível natural da respiração às cordas vocais, e
uma pequena respiração se dá abaixo da clavícula, somente o suficiente para ativar
vibração, enquanto os músculos da garganta, maxilar, lábios e língua trabalham o dobro
para compensar a falta de poder respiratório. O som resultante é pequeno e a
mensagem não comprometedora. Esse é um dos meios de evitar resposta espontânea.
Não quer dizer que espontaneidade é certo e calcular é errado, mas que
espontaneidade deveria ser possível e raramente é.
A programação neuromuscular defensiva desenvolve hábitos mentais e
musculares que cortam a conexão instintiva de emoção e respiração. A voz não
consegue funcionar com o seu potencial verdadeiro se sua energia básica não foi
liberdade de respiração. Enquanto nos protegermos das emoções, nossa respiração não
pode ser livre. Enquanto nossa respiração não for livre, a voz vai depender de
compensação de força na garganta e músculos da boca. Quando esses músculos
tentam expressar fortes emoções, vários resultados possíveis podem ocorrer: Eles
acham um modo seguro, musical de descrever emoções; eles impulsionam som
monótono para a cabeça; ou eles tencionam, contraem, empurram e apertam com
tanto esforço que as cordas vocais se friccionam, e então as cordas inflamam, perdem
sua resiliência, e se tornam incapazes de produzir a vibração regular, e, finalmente,
crescem pequenos nódulos enquanto elas se rangem sem a lubrificação da respiração.
Então, tudo que se escuta é um som arenoso e rouco, quase nada.
A mesma mensagem inibitória também confunde a parte em que as vibrações
são amplificadas pelos ressonadores.
Existem algumas interferências construtivas que criam harmônicos e
enriquecem o som com complexidades, mas antes de contar com isso, as interferências
que restringem a extensão e a ressonância tem que ser removidas. Normalmente essas
restrições existem quando a respiração está restrita. Se a garganta está tensa, com
esforço, ela estreita o canal pelo qual o som passa. Mais comumente esse
estreitamento impede que a vibração viaje livremente para os ressonadores mais baixos
da faringe e peito, desviando a amplificação para os ressonadores do meio e de cima. O
resultado é um som leve, agudo e estridente. Às vezes a tensão da garganta, junto com
uma necessidade inconsciente de ter um som maior ou sob controle, pode empurrar a
laringe para baixo, para que o som ressoe somente nas cavidades mais baixas, e uma
uma voz monótona e grave é desenvolvida, sem nuances e variações inflexíveis da parte
aguda da extensão. Se o palato mole e a parte de trás da língua se uniram ao batalhão
de substitutos da respiração, eles podem se juntar com esforço muscular e levar a voz
para o nariz, ao invés de permitir uma passagem livre entre eles para a boca. O
ressonador nasal é poderoso, dominador e nada sutil. Se a voz se estabelece no nariz, o
comunicador vai ser ouvido, mas talvez não como pretende. O conteúdo é distorcido
pela única forma de ressonador disponível.
Existem três formas mais óbvias de reações distorcidas de ressonância quando a
voz é inibida por tensões habituais. Mais sutil, todo o aparelho de som é sujeito a
qualquer mensagem inibitória enviada pela mente, que enrijece o corpo. Se os
músculos da respiração tencionam, o lenço muscular da laringe também o faz. Se esses
pequenos músculos enrijecem em resposta a mensagens inibitórias, eles não podem
mais realizar seus movimentos sutís, enrijecendo e liberando em resposta à constante
mudança de tom de inflexão de pensamento, regulando a abertura através da qual o
som flui e amplifica a mudança de altura.
Quando olhamos então para a parte de “o som resultante é articulado pelos
lábios e língua para formar palavras”, pode parecer que tudo já está tão errado que
comunicação verdadeira é impossível. A respiração e os ressonadores foram vítimas de
tensão, e é pedida a compensação dos lábios e da língua pelas tantas tarefas que sua
simples habilidade de articulação é soterrada por esse novo fardo. Se a língua não está
relaxada enquanto um som básico está sendo formado, ela não pode executar sua
função natural, que é moldar o som. A língua é ligada à laringe (pelo osso hioide), e a
laringe se comunica diretamente com o diafragma através da traqueia. Tensão em uma
dessas três áreas causa tensão nas outras duas. Se tiver tensão na língua, ela vai
articular com mais esforço que o necessário, diminuindo assim a sensibilidade de
resposta de impulsos motores do córtex da fala.
A língua está intimamente conectada com os trabalhos internos do aparato
vocal, enquanto os lábios refletem uma ligeira diferença de aspecto dessas inibições.
Eles são parte dessa complexa musculatura facial que responde às mensagens
inibitórias da mente desenhando uma cortina através das janelas da face. A face pode
ser a parte mais reveladora do corpo, ou a menos. Algumas faces endurecem em
mascaras impassivas, atrás da qual eles podem calcular, planejar e manter
invulnerabilidade; outros assumem uma máscara de apaziguamento; outros caíram em
uma tristeza tão pesada que um momento de otimismo mal consegue levantar os
cantos da boca. É perfeitamente normal que a postura facial revele as partes empáticas
de uma personalidade formada num curso de quarenta ou cinquenta anos. Mas nos
primeiros anos esses músculos podem ser prevenidos de definições prematuras
permitindo os captar as complexidades das mudanças de humor e respostas. Os
músculos da face, assim como todos os músculos do corpo, ficam flácidos ou enrijecem
sem exercício. Para que esse exercício natural aconteça, pensamentos, pessoas
precisam querer se revelar, serem destemidos desse semblante transparente, e
acreditar que vulnerabilidade na comunicação é força.
Os lábios, como guardiões da boca, podem se desenvolver em altamente
armados fortes ou em portas bem lubrificadas fáceis de abrir. O lábio superior rígido é
um mero símbolo do fleuma britânico; ele existe e parece enrijecer em resposta a uma
determinada necessidade de não demonstrar medo ou dúvida. Pode também enrijecer
para esconder dentes ruins ou um sorriso que seu dono acha não atrativo nos anos de
formação. A liberdade dos lábios superiores é essencial para uma articulação vivaz. A
responsabilidade da articulação deve ser igualmente dividida entre os lábios superior e
inferior para obter uma máxima eficiência. Se o lábio superior estiver rígido, o lábio
inferior estará fazendo no mínimo 85% do trabalho e irá provavelmente engajar a
mandíbula como um suporte extra. A mandíbula é grosseira comparada ao lábio, e a
articulação não será econômica em tal situação.
Tomaria um livro inteiro para listar todas os desvios que a voz pode tomar para
prevenir que seu dono seja reconhecido. Existem vozes que se tornaram experts em
proclamar dureza, um lutador agressivo para proteger um inseguro e assustado
pequeno menino; vozes que suspiram para camuflar a força de uma mulher que
inconscientemente pensa que num mundo de homens, ela precisa fingir ser fraca para
conquistar; vozes que são ricas, relaxadas e graves, passando confiança e realização
onde não há; vozes que soam com soberba para esconder pânico. A falsa voz pode estar
sintonizada a uma primorosa duplicidade.
Contudo, essa descrição introdutória tem a intenção de ser apenas um
preâmbulo para um livro positivo, dedicado para a voz que vai se revelar
transparentemente a verdade sobre o seu dono, se o dono assim o desejar.
Se caso você achar que eu apresentei um prospecto de trabalho assustador, eu
gostaria de enfatizar, agora e continuamente, que um pensamento claro e uma
expressão emocional livre ajuda tremendamente em resolver problemas. Uma
abordagem psicofísica é um exemplo perfeito do enigma, “O que veio primeiro? O ovo
ou a galinha?”, mas as duas máximas seguintes devem fundamentar todo o trabalho da
voz:
- Emoções bloqueadas são os obstáculos fundamentais para uma voz livre.
- Pensamento turvo é o obstáculo fundamental para uma articulação clara.

Você também pode gostar