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AS APARIÇÕES DE MARIA ANTÔNIA: Narrativas que povoam o imaginário

fantástico da população diamantinense.

ROSIRENE BENTO DA ROCHA

RESUMO: O modelo de narrativa que se deseja destacar é aquele das memórias


afetivas da infância, que construía estórias as quais, passadas de boca em boca,
construíam um efeito de verdade, de realidade. Elas causavam medo. E o medo se
manifestava pelo fato de tratarem de “almas”, de terem ligação com “santos”, de terem
na vida prática uma ligação muito direta e também endossada pelo povo, que os narrava
como se acontecido fosse naquele minuto. Em Diamantino, Mato Grosso, a força de
narrativas dessa natureza encontra-se no “arquivo cultural e vivo da cidade” e, muitas
delas ainda não possuem registro. Assim sendo, apresentou-nos o desejo de resgatar
essas narrativas, sobretudo, as aparições de Maria Antônia, tema desta proposta de
pesquisa. O objetivo é descrever as estórias que giram entorno da personagem, as lendas
criadas acerca de suas aparições ao longo da história do município de Diamantino. A
hipótese inicial, pensada após ouvir o recontar da vida de Maria Antônia, é que em
vários momentos da história local (diamantinense), a personagem é reconstruída – com
anuência da Igreja - como um símbolo católico/cristão e, qual Nossa Senhora, auxilia e
conforta, mas também apresenta segredos e é também um exemplo de vida para os
pecadores porque morreu em sofrimento, mas alcançou a glória. Essa estória recontada
também nos coloca o problema de entender os artifícios narrativos que permitem
compor a estória de uma mulher turbulenta, sinônimo de desordeira, em ícone e
heroína?
INTRODUÇÃO
Num mundo cujo tempo é embalado por inúmeras velocidades, como é o presente que
vivemos, as manifestações da memória, revisitada e reconstruída pelas lembranças de
acontecimentos do passado, são constantemente estimuladas pela intensidade daquilo
que apresenta os meios de comunicação. É possível, certamente, dar uma forma
concreta às imagens que em tempos de outrora ficariam restritas a mente e a
imaginação. Possivelmente se trate de outra forma de manifestação da imaginação e
narração que é diferente daquela que se deseja trazer à tona.
O modelo de narrativa que se deseja destacar é aquele das memórias afetivas da
infância, que construía estórias as quais, passadas de boca em boca, construíam um
efeito de verdade, de realidade. Elas
Num mundo cujo tempo é embalado por inúmeras velocidades, como é o presente que
vivemos, as manifestações da memória, revisitada e reconstruída pelas lembranças de
acontecimentos do passado, são constantemente estimuladas pela intensidade daquilo
que apresenta os meios de comunicação. É possível, certamente, dar uma forma
concreta às imagens que em tempos de outrora ficariam restritas a mente e a
imaginação. Possivelmente se trate de outra forma de manifestação da imaginação e
narração que é diferente daquela que se deseja trazer à tona.
O modelo de narrativa que se deseja destacar é aquele das memórias afetivas da
infância, que construía estórias as quais, passadas de boca em boca, construíam um
efeito de verdade, de realidade. Elas causavam medo. E o medo se manifestava pelo fato
de tratarem de “almas”, de terem ligação com “santos”, de terem na vida prática uma
ligação muito direta e também endossada pelo povo, que os narrava como se acontecido
fosse naquele minuto.
Em Diamantino, Mato Grosso, a força de narrativas dessa natureza encontra-se no
“arquivo cultural e vivo da cidade” e, muitas delas ainda não possuem registro. Assim
sendo, apresentou-nos o desejo de resgatar essas narrativas, sobretudo, as aparições de
Maria Antônia, tema desta proposta de pesquisa. O objetivo é descrever as estórias que
giram entorno da personagem, as lendas criadas acerca de suas aparições ao longo da
história do município de Diamantino. A hipótese inicial, pensada após ouvir o recontar
da vida de Maria Antônia, é que em vários momentos da história local (diamantinense),
a personagem é reconstruída – com anuência da Igreja - como um símbolo
católico/cristão e, qual Nossa Senhora, auxilia e conforta, mas também apresenta
segredos e é também um exemplo de vida para os pecadores porque morreu em
sofrimento, mas alcançou a glória. Essa estória recontada também nos coloca o
problema de entender os artifícios narrativos que permitem compor a estória de uma
mulher turbulenta, sinônimo de desordeira, em ícone e heroína?
Um dos caminhos para se conhecer essas representações criadas pela população são os
narradores. E uma parcela significativa destes, sobretudo as mulheres, vem diminuindo
periodicamente em razão da morte. Embora eles/elas tenham deixado essas estórias para
os filhos e netos, vizinhos e amigos muitos deles não são exatamente narradores, no
sentido mais estrito da palavra.
Enfim, entre as narrativas que povoam o imaginário fantástico da população
diamantinense existe um espaço significativo para as aparições de Maria Antônia. E
como lembrou há algum tempo Roland Barthes, “A narrativa começa com a própria
história da humanidade e não há em parte alguma, povo algum sem narrativa”
(BARTHES, 1995, p.103-4). Quanto às narrativas fantásticas, essas (...) vacilações
experimentadas por um ser que não conhece mais que as leis naturais, frente a um
acontecimento aparentemente sobrenatural (TODOROV, 1981, p.16), elas definem a
relação ao real e imaginário, fazendo do imaginário objeto de investigação.
O resgate dessas proposições é importante por tratarem de um passado ainda presente,
por tratar de uma personagem feminina que, povoando o imaginário da população
transita entre fatos reais, muitas vezes ignorados ou descritos com loucura, mas que
começam a ser eclipsados pela emergência de religiões protestantes com indicativo de
que não serão narradas mais.

JUSTIFICATIVA
Essas estórias fantásticas fazem parte da minha formação imaginária. Desde a infância
ouvia de meu pai, figura forte e amorosa; um homem profundo e de sabedoria popular,
contar, como se verdade fosse, estórias de aparição. Uma das mais presentes, e que até
hoje é motivo de graça entre os meus familiares diz respeito ao dia de 24 de agosto, dia
de São Bartolomeu. Este é o santo protetor de todas as caças.
Segundo meu pai, e os moradores do Alto da Boa Vista - região do Araguaia -, Mato
Grosso, onde cresci e vivi minha mocidade, quem se metesse a caçar nesse no dia São
Bartolomeu teria como castigo a aparição de animais com cores diferentes do normal,
assim como, a aparição de espécies desconhecidas do homem. O povo contava de um
“veado com patas marcadas de preto até altura do joelho” e sobre “pacas maiores que o
tamanho original”.
Contavam o povo do Alto da Boa Vista que na noite do 24 de agosto, uma noite muito
escura, a imagem de São Bartolomeu vinha simbolizada em animais que andam à solta,
só regressando ao oculto da natureza no clarear do outro dia. Por via deste fato,
recomendavam os mais velhos que nesse período não houvesse caça, recomendando-se
ainda que os caçadores de plantão não esperassem os animais em nenhuma das arvores
que tivessem flores ou frutos que os alimentassem. Mas, como nem tudo o que é
recomendado é ouvido pelos jovens, na noite escura desse dia em questão, meu irmão
resolveu por a prova essas estória e esperar a caça.
Meu velho pai relembrou-o que não deveria sair para esperar os bichos, pois era dia
santo e que se fosse poderia ver os animais místicos e que sofreria com medo
incontrolável. Enfim, alertou-o que não era certo caçar, pois entendia que deveria
guardar a tradição, como era o costume popular (católico). Alertando que sua
desobediência seria desobediência e provocação ao santo.
Meu irmão, num tom espevitado respondeu:
É hoje que eu vou saber se realmente se esse tal Bartolomeu é capaz de mudar as
cores da caça.
Pegou sua espingarda e sua rede e adentrou-se na mata. Chegando lá, escolheu um
pequizeiro que, segundo ele, estava forrado de flores embaixo. Ao subir na árvore
pensou não demoraria muito e logo avistaria uma paquinha para que pudesse “deitar na
fumaça”, uma linguagem muito utilizada naquela região para indicar que iria assar a
carne.
Pouco tempo depois, narrou meu irmão, pode-se escutar a pisada de uma caça que
aproximava em lentos passos. Mas, para o seu espanto a mesma parecia estar brincando
com os galhos causando demora de chegar embaixo da árvore. Assim que o animal
entrou embaixo do pequizeiro, narrou que um clarão tomou conta da mata. Minutos
depois, meu irmão pode visualizar o animal. Ele era irreconhecível. Um calafrio tomou
conta de seu corpo enquanto a caça põe-se a bater no tronco do pequizeiro.
Segundo ele: haviam flores levitando, seus perfumes se misturando a outros odores, o
que o embriagava. Nenhuma munição da espingarda permaneceu no cartucho. A rede
balançava e o galho onde meu irmão se sustentava partiu ao meio levando-o
imediatamente ao chão. Embaixo da árvore e pertinho da caça, que veio a cheirá-lo,
levou-o ao desespero partindo em disparada.
Uma sensação medonha tomou conta dele, restando-lhe apenas rezar, baixinho,
ofegante, enquanto corria para casa a oração para São Bartolomeu:
- Glorioso São Bartolomeu, modelo sublime de virtude e puro frasco das graças do
Senhor! Protetor das caças! Perdoe-me! Proteja este seu servo que humildemente se
ajoelha a seus pés e implora que tenha a bondade de pedir por mim junto ao trono do
Senhor. Se me livrar dessa, prometo nunca mais caçar dia 24 de agosto e recontarei essa
minha experiência para que o mais novos nunca faça o que eu fiz (Domínio Público). A
narrativa da aparição desses animais sempre permanecerá em minha memória. Nunca
esquecerei o semblante transtornado de meu irmão ao entrar em casa. Pois que, duas
décadas mais tarde, já em outro município, Diamantino, Mato Grosso, ao qual cheguei
por conta do seletivo para formadora do CEFAPRO – Centro de Formação e
Atualização dos Profissionais da Educação, ocupando a vaga de língua portuguesa,
novamente deparei-me com outra narrativa fantástica que por diversas vozes chega ao
meu conhecimento.
Dessa vez era uma mulher. Maria Antônia, um tipo popular, transgressor, que viveu em
Diamantino entre fins do século XIX e início do século XX. Essa personagem bebia,
dançava, se dava aos homens e sofria suas dores de amor publicamente. Uma
personagem bastante densa.
Mas, Maria Antônia se diferenciava dos inúmeros tipos populares que habitam
qualquer cidade por ter sua história de vida ligada às lendas de suas aparições – sempre
com o cunho religioso. O povo conta das aparições de Maria Antônia e seus segredos,
os quais, qual Nossa Senhora, em Fátima, vai mudando seu sentido cada vez que se
conta o conto de suas estórias. É justamente esse mistério que atrai a atenção e acende o
desejo de trazer a público essa narrativa ainda tão forte no município Diamantino, mas
que se percebe esvair-se com a vida dos mais velhos....

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Memorias, narrativas e lendas.
Entre as narrativas que povoam o imaginário fantástico da população diamantinense
existe um espaço significativo para narrativas das aparições de Maria Antônia. É
importante lembrar que narrar histórias é algo próprio dos homens de todos os lugares
em todos os tempos. “Há muitos anos o homem já narrava. A narrativa começa com a
própria história da humanidade e não há em parte alguma, povo algum sem narrativa”
(BARTHES, 1995, p.103-4).
É possível, como nos permite refletir Zigmunt Bauman (2007), que a velocidade em
que vivemos nestes tempos líquidos, na modernidade, ou pós-modernidade, essas
narrativas tenham perdido parte de seu encantamento já que facilmente são
representadas virtualmente. Talvez seja saudosismo não considerar os suportes
narrativos da nossa sociedade, onde os filmes são os grandes exemplos. Mas é a
perspectiva do ouvir as narrativas, formulação da memória, através do que apresentam
os grupos sociais é algo de uma riqueza que seria pena se perder.
Dai, surge-nos a necessidade de resgatar a ideia e os valores que parecem deixados para
traz, não apenas por nostalgias, mas de modo rememorado, em novos contornos, numa
interação desses momentos tão reais como um imaginário significativo.
As narrativas de memorias não são meros atos verbalizados. Essas fazem parte do
gênero literário, do narrar, pois são atos de recuperação, dando outra espessura aos fatos
do cotidiano revitalizando o vivido, tornando-o, assim um ato de resistência.
Com relação ao tratar das memorias, Moisés, (1997, p 161) define como sendo ao
mesmo tempo: (...) o eu que se narra, e de sua circunstancia, na qual se incluem outras
personagens. A arte de rememorar, revisita lugares mentais por em suas máximas, faz
uso do recurso da lembrança e da memoria fazendo do difícil exercício da recapitulação
do espaço e do tempo um ato quase nato, dando ressignificação a outra construção
histórica, individualizada ou coletivamente.

Esse rememorar do eu e do outro, faz com que os dados narrados sejam mesclados nos
fatos verídicos. Buscar esse espaço e esse tempo distante através das narrativas do
passado obedece a critérios pessoais, a uma subjetividade de modo a emergir não toda a
vida pregressa da narrativa verbalizada no caso das lendas, mas, uma fração de
memória, que adquirem razões, de sobrevivência.
Para Bakhtin (2003) as narrativas de memorias se configuram como expressão do eu
estar intimamente ligada a história social do indivíduo, e se situa nas fronteiras entre a
experiência do narrador e do ouvinte. As narrativas das experiências de vida lhe da
consciência do estar no mundo. O memorialista, pregava livremente, o seu passado em
busca do tempo passado, tempo esse perdido recuperável somente nas coisas e nas
pessoas que lhe povoam o imaginário.
Bosi (2003, p 55), enfatiza atualidade da memória: na maior parte das vezes, lembrar
não é reviver, refazer, reconstruir, repensar, com as imagens de hoje, as experiências do
passado. A memória não é um sonho, é trabalho. Desta forma, a memória se daria para
cada sujeito no inconsciente, preconizando uma unicidade que demarcaria as narrativas,
uma vez corporificando nestas uma relação bem próxima entre o criador(autor) e suas
verbalizações que buscam sempre as lembranças de fatos a ou coisas anteriores ao
tempo presente na construção do imaginário de sujeito único e coletivo.
Lendas
Somos herdeiros dos tempos pretéritos, de nossos pais, avós, de nossos ancestrais onde,
na aldeia de antigamente, o velho sábio reunia os mais jovens em volta da fogueira para
contar histórias. No crepitar do fogo, as lendas eram contadas e recontadas, passadas de
geração a geração, no intuito de explicar o extraordinário no meio ambiente e, ensinar a
preservação, o respeito, os valores e princípios necessários à preservação sadia da
espécie humana.
Tendo os humanos, potencialidades máximas da memória, recuperando facilmente as
coisas vividas, e potencializando o imaginário, podendo verbalizar recontar cenas e
fatos do cotidiano, fazendo das narrativas um tecido do real com o imaginário, dando
surgimento as narrativas de memorias. Assim, na tentativa de recontar as cenas da
natureza, estão as lendas com as quais propomos esses trabalho.
Lendas são fontes preciosas da história do nosso povo. Guardando em sua essência, do
povo brasileiro, elementos de diferentes culturas. As narrativas populares , as lendas
fazem parte do contexto diário da sociedade e da cultura. Eles estão presentes em todas
as formas artísticas, até as mais abstratas, e mesmo nos trabalhos científicos. Nesse
cenário, entre os gêneros literários existentes, pela Literatura, podemos citar as lendas
que povoam o imaginário dos nossos ancestrais, dando lugar as narrativas folclóricas
(FERREIRA , 2001, p.204): O folclore está historicamente incorporado como uma base
científica para o estudo e conhecimento do comportamento popular. Temos em nossas
vivencias as mais diversificadas formas de expressão, representadas basicamente pelas
danças, lendas e contos que, na sua grande maioria sintetizam a herança, sinalizando a
formação do povo brasileiro.
Isso faz de nós herdeiros de tempos pretéritos, pois, somos convidados a retornar pela
força da nossa formação imaginaria, no mundo das historias, das lendas, que nos traz o
encanto e magia, onde há lugares para o fantástico, lugares de memórias em vozes que
dizem de príncipes, princesas, bruxas. Nesse caso em estudo as narrativas populares
sobre Maria Antônia que fazem parte, do imaginário de um povo podem ser definido
como narrativas fantásticas. Segundo Camarini, (2014):
A narrativa fantástica caracteriza-se ao mesmo tempo pela aliança e pela oposição que
estabelece entre as ordens do real e do sobrenatural, promovendo a ambiguidade, a
incerteza no que se refere à manifestação dos fenômenos estranhos, insólitos, mágicos,
sobrenaturais.

Outras narrativas, como por exemplo, as lendas, trazem para as vidas dos mais jovens
um cunho moral, de ensinamento, valores que permearam por toda nossa vida e serão
retransmitidos de geração a geração, trazendo a tona recordações para o meio da
memoria da gente, de tempo distante, mais que não se faz esquecido, tornando se
mutável, mas, rememorável em novos tempos dando espaço a reflexão, sobre o hoje e o
ontem, resinificando-se em um futuro mais agradável, pois o contar das lendas, das
narrativas, trazem aos lugares uma identidade peculiar, marcando um outro espaço de
tempo, determinado por vozes que narram essas histórias.
A memória tem espaço marcado pela história, pois, revitaliza os fatos, marcantes como
num passado próximo e que não se afasta do imaginário do seu narrador, surge e
ressurge, reconstruindo e se presentificando e dando identidade aos narradores e as
narrativas que pode estar ou não na primeira pessoa.
Aqui se tratando das narrativas nesse plano de estudo, a escolha desse gênero não foi
aleatória, e sim pelo fantástico descrito pelos narradores. Eles evidenciam uma lenda na
personagem de Maria Antônia, podendo esse gênero se elevar de fantástico para
fantástico maravilhoso, pois dizem que a mesma nunca aniversariara, nunca ouve
referência ao seu aniversário, porque ela sempre viveu, nunca nasceu e mais, também
nunca haveria de morrer.
Segundo Tadorov (1981, p.2909) “o fantástico, não dura mais que o tempo de uma
vacilação: vacilação comum ao leitor e ao personagem, que devem decidir se o que
percebem provém ou não da “realidade”, tal como existe para a opinião corrente”. Ao
finalizar a história, o leitor, se o personagem não o tiver feito, toma, entretanto uma
decisão: opta por uma ou outra solução, saindo assim do fantástico se submetendo ao
fantástico maravilhoso Encontramo-nos no campo do fantástico-maravilhoso, ou, dito
de outra maneira, dentro da classe de relatos que se apresentam como fantásticos e que
terminam com a aceitação do sobrenatural. Estes relatos são os que mais aproximam do
fantástico puro, pois este, pelo fato mesmo de ficar inexplicado, racionalizado, sugere-
nos, em efeito, a existência do sobrenatural. O limite entre ambos será, pois, incerto,
entretanto, a presença ou ausência de certos detalhes permitirá sempre tomar uma
decisão.
As lendas são narrativas imaginarias da própria vivencia ou das vidas das pessoas que
narram essas memorias, é fonte de sabedoria popular, sobre si e o processo das
narrações, são verbalização conduzida pelo próprio narrador, se mesclando com as
narrativas de memorias opera-se em uma transposição do tempo que não segue uma
ordem cronológica, mas, sempre psicológica. Isso porque, há uma seleção previa ainda
que inconsciente para orientar a sequência de certos acontecimentos e a ocultação de
outro. Assim, ora, esse gênero apresenta – se com dificuldade em sua sistematização
para o estudo, uma vez que vagueia entre a história e a ficção, podendo ser real ou
imaginário.

OBJETIVOS
a) Objetivo Geral:
Descrever as estórias que giram sobre essa personagem popular e as lendas criadas em
torno de suas aparições no município de Diamantino-MT.

b)Objetivos Específicos:

•Levantar as representações criadas no imaginário popular acerca da personagem;


•Mapear os lugares e sentidos de suas aparições;
•Recontar as representações com base no material levantado.

METODOLOGIA
Essa pesquisa, cuja proposta é recompor, a partir de narrativas orais dos moradores da
cidade de Diamantino, a vida, a morte e as aparições de Maria Antônia, trata-se de uma
pesquisa qualitativa dada a intensidade do objeto, das fontes e das análises a serem
realizadas para o desenvolvimento do trabalho (DEMO, 2011). Essa pesquisa irá se
compor com outro tipo de pesquisa, que é a documental (que se realizará no dossiê
produzido sobre Maria Antônia pela Secretaria de Cultura de Diamantino) e, agregando-
se às demais fontes materiais existentes.
A opção pelo uso de narrativas orais permite o contanto direto com indivíduos e
suas narrativas. A realização de entrevistas gravadas dará acesso às representações
acerca da cidade e o imaginário fantástico que circula em torno dessa personagem.
Os narradores, identificados entre os moradores mais antigos da seção urbana de
Diamantino que é denominada “Velho Diamantino” - correspondente ao corpo urbano
da formação inicial do município - é também o lócus privilegiado dos acontecimentos
que dizem respeito à personagem. As informações dessas pessoas nascem daquilo que
podemos chamar de arte de lembrar, que são ações mediadas pelos trabalhos da
memória (BOSI, 1993, p.277-284), ação que permite aos mais velhos “fazer viver” uma
mulher e suas relações com o sobrenatural, com o sagrado.
Entre os mais velhos – e mesmo entre os jovens – são muitos os narradores da
história de Maria Antônia. Eles estão espalhados pelos bairros da cidade de Diamantino
antiga. Mas, para efeito da pesquisa, fez-se necessário optar por 10 moradores, com
idade entre 40 e 85 anos, sendo 07 mulheres e 03 homens. A opção se faz baseada no
fato de que as mulheres encontradas foram apresentam maior quantidade de detalhes,
característica encontrada em somente três dos homens.
Para efeito da coleta de dados serão realizadas 02 sessões de entrevistas com os
selecionados, que serão gravadas e transcritas. As informações obtidas serão
confrontadas com o material escrito sobre a personagem. Após esse momento, as partes
serão recompostas para construção de um campo de sentido, individual e coletivo, que
conforme a perspectiva de Ecléa Bosi permitirá a construção de uma estrutura que
permitirá a produção de uma compreensão acerca da representação que se constituiu
entorno da personagem e seus mitos. BIBLIOGRAFIA

BAKTHIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem, São Paulo, 1999.


—————Estética da criação Verbal. Martins Fontes. São Paulo 2003.

BARTHES, Roland. Análise Estrutural da Narrativa: Pesquisa, Semiótica. 4ª ed. Vozes.


Petropólis, 1996.

CAMARANI, Ana Luiza Silva. A literatura fantástica: Caminhos teóricos. Araraquara –


SP: Cultura Acadêmica, 2014, (Coleção Letras, 04).

CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade. 10ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul,
2008.
DEMO, Pedro. Pesquisa. Princípio Científico e Educativo. São Paulo: Cortez, 14ª
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FERREIRA, João Carlos Vicente. Mato Grosso e seus municípios. Cuiabá: Secretaria
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LIMA, Luiz Costa. (Org.) Teoria da literatura em suas fontes. 02 vol. Rio de Janeiro:
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Estudos Literários. 2005, (5 vol.).
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