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VINÍCIUS DE LIMA BRUM

O ESTADO DE DIREITO E A JUSTIÇA POPULAR

CANOAS, 2011.
1

VINÍCIUS DE LIMA BRUM

O ESTADO DE DIREITO E A JUSTIÇA POPULAR

Trabalho de conclusão de curso de


graduação apresentado no curso de
Direito, na UNILASALLE, como exigência
para obtenção do grau de Bacharel em
Direito.

Orientação: Prof. Me. Clóvis Dvoranovski


2

CANOAS, 2011.

VINICIUS DE LIMA BRUM

O ESTADO DE DIREITO E A JUSTIÇA POPULAR

Trabalho de conclusão de curso de


graduação apresentado no curso de
Direito, na UNILASALLE, como exigência
para obtenção do grau de Bacharel em
Direito.

Aprovado pela banca examinadora em ____________2011.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Prof. Me. Clóvis Dvoranovski
Unilasalle

_______________________________________
Prof. Me. Darcy Paulo Gonzalez De Moraes
Unilasalle

_______________________________________
Profª. Mª. Fernanda Correa Osório
Unilasalle
3

Aos meus pais, Felício e Glória, que sempre


me deram apoio nesses seis anos de estudos.
4

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar a partir de pesquisa em artigos e livros
sobre a existência da Justiça Popular e seu braço visível: Linchamento no Estado de
Direito. O motivo seria de que um modelo de Estado com aparatos que permitem
dizer o direito com precisão, que ainda sim provoque descontentamento. Na
compreensão dessa existência deve-se entender o início da existência do Estado e
como se formou, visto que devemos conhecer o conceito de justiça para que
tenhamos a ponte necessária para entender o que é Justiça Popular. Essa justiça irá
manifestar-se no mundo físico através do linchamento. Ela apresenta certas
caracterizas como meio propício de seu surgimento, grupos de possíveis vítimas,
tipos de crimes e seu rito próprio. O resultado será de que mesmo o Estado forneça
instrumentos suficientes para dizer o direito, por causa de seus agentes que não
cumprirão a suas obrigações, o sentimento de impunidade provocará a necessidade
de busca à justiça pelas próprias mãos. Esse trabalho deseja mostrar que essa
Justiça aparece em um país de primeira grandeza, Estados Unidos. Até ele não
escapa dela.

Palavras-chave: Estado de direito. Justiça. Justiça popular. Linchar. Linchamento.


5

ABSTRACT

This work has as objective to analyze through research in articles and books about
the being of the Popular Justice and his arm visible Lynching in the Rule of Law. The
reason would be at a model state with apparatuses permitting to tell the right
accurately, still yes provoke dissatisfaction. In the comprehension of that being must
understand initiate him(it) of the being of State, as though formed. Seen, owed to
know the justice concept that have the pons necessary to understand the Popular
Justice. That justice will manifest in the nature through of lynching. It introduces
certain characterize as half propitiate of its emergence, group of possible victims,
kinds of crimes and your own rite. The result will be that even the instruments
sufficient furnish State at tell the right, case for your agents than will perform your
obligations, the impunity feeling will provoke to search necessity the justice for the
own hands. This work wishes show that Justice appears into a country ace-high
greatness, United states. Even it does not escape of Justice.

Keywords: Rule of Law. Justice. Popular Justice. Lynch. Lynching.


6

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Homicídios Dolosos ................................................................................ 27


Quadro 2 – Latrocínio ................................................................................................ 28
Quadro 3 – Estupro ................................................................................................... 28
Quadro 4 – Tentativa de Homicídio, Lesão Corporal Culposa de Transito e Lesão
Corporal Doloso ........................................................................................................ 28
Quadro 5 – Roubos ................................................................................................... 29
Figura 1 – Jesse Washington .................................................................................... 41
7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 CONCEITOS ............................................................................................................ 9
2.1 Estado .................................................................................................................. 9
2.2 Estado de Direito ............................................................................................... 10
2.2.1 Estado Liberal de Direito .................................................................................. 12
2.2.2 Estado Social de Direito ................................................................................... 13
2.2.3 Estado Democrático de Direito ......................................................................... 14
2.3 Justiça ................................................................................................................ 16
2.4 Justiça Popular.................................................................................................. 17
2.4.1 Linchamento ..................................................................................................... 18
3 ESTADO DE DIREITO E JUSTIÇA POPULAR ..................................................... 19
3.1 Estado de Direito e Justiça Popular: contrato social ..................................... 19
3.3 Estado de Direito e Justiça Popular: linchamento nos EUA ......................... 32
4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 43
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 44
8

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho irá falar sobre o tema Justiça Popular no Estado de Direito.
Primeiramente o Estado é sistema institucional no qual fornece o direito aos
cidadãos em troca que este não pode impor sua justiça, normalmente para esse
sistema dar certo, pelo motivo de o Estado dar o direito sem ter envolvimento
pessoal com as partes. Os envolvidos na lide têm a garantia de que seus problemas
serão resolvidos. Infelizmente, como qualquer sistema, nem sempre funciona como
deveria.
Quando o Estado, por qualquer seja o motivo, venha a falhar em sua
obrigação, deixa os envolvidos frustrados. Pessoas frustradas irão tornar-se
descrentes sobre o sistema e procurarão um modo “alternativo” de terem seu direito
respeitado. Esse modo “alternativo” seria a Justiça Popular, é nele que este trabalho
será baseado. Essa justiça convoca que as pessoas desgostosas com a situação
devam julgar e executar o direito com suas próprias mãos, ignorando o Estado. Ela
torna-se visível quando populares resolvem executar suspeito de crime contra vida,
por este ter ousado macular um inocente.
Dessa forma, pretende-se aqui analisar a ocorrência desse método de
resolução de conflito no atual Estado de Direito.
9

2 CONCEITOS

Observado a introdução, nota-se que existem dois grandes assuntos que


devem ser entendidos para que o trabalho seja compreendido, são eles: Estado de
Direito e Justiça.

2.1 Estado

Antes de conceituarmos o Estado de Direito, devemos vislumbrar, rapidamente,


como ele chegou nessa situação.
O conceito de contratualismo comenta que homens abrem mão de certos
direitos para uma autoridade ou governo em troca de proteção. Para colaborar com
essa afirmação invoco a afirmação dos autores, como Lenio Luiz Streck e José Luis
Bolzan de Morais. Observada a citação, menciona-se estado de natureza e estado
civil. O estado de natureza é um estado anterior ao da sociedade civil. O autor
contratualista Thomas Hobbes comenta que esse estado é uma eterna guerra de
todos contra todos, aonde homens criam armas e proteções para que possam
reduzir o perigo e ainda sim é inútil. Essa visão que se tem de estado de natureza
seria o comportamento humano na sociedade inglesa do séc. XVII, como dizem C.
B. Macpherson:

É importante lembrar que, como defende Macpherson, quando Hobbes está


falando de “Estado de Natureza” ele não está falando de indivíduos não
civilizados que viveram em épocas passadas; ele está pensando a natureza
humana como atemporal, mas partindo do que ele vê na sociedade inglesa
do século XVII: os homens em Estado de Natureza que deveriam ser
resgatados pelo Estado Soberano, perfeitos eram os homens que, em
Estado de Natureza, constituíam a sociedade civil de soberania imperfeita
(STRECK; MORAIS apud MACPHERSON, 2010).

O estado civil seria o Estado de fato, aonde os homens viveriam sobre o direito
civil, leis criadas e aplicadas pelo soberano. Nele os acordantes deveriam transferir
os seus direitos naturais para o soberano, e este o transformaria em direito positivo.
Não esquecendo de que no direito natural está incluído o direito de uso de força,
10

vingança contra crimes e direitos de propriedade. A base dessa afirmação está


representada na seguinte passagem:

A sociedade civil é o Estado propriamente dito. Trata-se da sociedade


vivendo sob o direito civil, isto é, sob as leis promulgadas e aplicadas pelo
soberano. Feito o pacto ou o contrato, os contratantes transferiram o direito
natural ao soberano e com isso o autorizam a transformá-lo em direito civil
ou direito positivo, garantindo a vida, a liberdade e a propriedade privada
dos governados. Estes transferiram ao soberano o direito exclusivo ao uso
da força e da violência, da vingança contra os crimes, da regulamentação
dos contatos econômicos, isto é, a instituição jurídica da propriedade
privada, e de outros contratos sociais (como, por exemplo, o casamento
civil, a legislação sobre a herança, etc.).

Verificando o exposto supracitado, nota-se que não foi mencionado o contrato


social, pelo motivo de que seria de melhor compreensão se ele fosse trabalhado em
separado. Dessa forma, vejamos outros autores que trabalham sobre esse assunto:
Thomas Hobbes e John Locke. Hobbes comenta sobre contrato social, afirmando
que “[...] à maneira de que um pacto em favor de terceiro, é firmado entre os
indivíduos que, com intuito de preservação de suas vidas, tranferem a outem não
partípe todos os seus poderes”. Isso significa que os homens, para evitar a
destruição mútua, deram sua força para outra pessoa em troca de proteção, pois só
assim, segundo Hobbes, evitariam uma guerra contra todos. Não esquecendo que
reunindo essa força sobre uma só pessoa, criou-se o soberano. Esse ser tem o
poder ilimitado sobre todos. Assim, para John Locke, o contrato social serve para
consolidar os direitos já existentes no estado de natureza.

2.2 Estado de Direito

Observado anteriormente, já é possível falar sobre o que é Estado de Direito.


Essa expressão foi criada por Robert Von Mohl, no séc. XIX, para sintetizar o Direito
e o Estado. Em seu breve conceito expresso pelo Canotilho entende-se que o
“estado de direito é um Estado ou uma forma de organização político-estatal cuja
atividade é determinada e limitada pelo direito” (CANOTILHO, 1999, p. 11).
O Estado de Direito é o estado que se submete às regras jurídicas criadas por
ele. Para que tenha mais peso o que foi dito invoco o entendimento de Miguel Reale:
11

Por Estado de Direito entende-se aquele que, constituído livremente com


base na lei, regula por esta todas as suas decisões. Os constituintes de
1988, que deliberaram ora como iluministas, ora como iluminados, não se
contentaram com a juridicidade formal, preferindo falar em Estado
[01]
Democrático de Direito , que se caracterizam por levar em conta também
os valores concretos da igualdade” (REALE, 2000, p. 37).

Juntando com o conceito de Miguel, pode-se dizer que o governo das leis
submete a dos homens. Isso é o observado em nossa constituição no Art. 60,§4º
CF/88. Nele comenta-se sobre a forma federativa, o voto, direitos e garantias
individuais e a separação dos poderes.
Os elementos que constituem o Estado de Direito: Império das Leis, separação
dos poderes e a prevalência dos direitos fundamentais. A primeira característica fala
que a lei deve ser imposta a todos, mesmo para aquele a criou, visto que quem tem
personalidade jurídica pode ser objeto do direito. A segunda é a separação de
poderes; não deverá haver submissão de um poder pelo outro, pelo fato de não
seres iguais. E o último, cuida dos direito individuais.
As suas características são: ser um projeto acadêmico, não ser político nem
transformador da sociedade; assegurar a personalidade jurídica do Estado;
monopólio legal do uso da força física pelo Estado; ser o único a produzir leis; só
poder agir través de leis; sistematizar os direitos políticos; criar critérios para
solenidade e publicação; a constituição é o ápice da hierarquia nas relações
jurídicas; o interesse público submete o privado; estabelecer a função estatal de
pacificação; o Estado tem o poder de distribuir a Justiça; delimitar o “Poder
Extroverso”1, os atos administrativos atingirão terceiros que tenham concordado ou
não em implementar a ideia da necessidade dos princípios fundamentais. E seus
princípios são: princípios administrativos da formalidade, impessoalidade e
imparcialidade; princípio político da eficiência e probidade; princípio jurídico da
razoabilidade, proporcionalidade, neutralidade, racionalidade, objetividade,
fundamentação, previsibilidade, igualdade, isonomia e legalidade.
Já posto a respeito do conceito de Estado de Direito, é possível falar sobre o
que sobre os três modos desse modelo: Estado Liberal, Social e Democrático de
Direito.

1
O poder extroverso pode der definido como o poder que o Estado tem de constituir, unilateralmente,
obrigações para terceiros, com extravasamento dos seus próprios limites.
12

2.2.1 Estado Liberal de Direito

Nesse capítulo será exposto o que é Estado Liberal de Direito, mas primeiro
devemos conhecer como surgiu esse modelo. Seu ínicio foi em 1215 com a
declaração “Bill of Rights” contra o Rei João Sem Terra. Nela estão descritos os
direitos dos cidadãos ingleses protestantes que tiveram o direito de portar armas
para defender a si mesmos. Nos anos 1688 e 1689, teve-se a Revolução Gloriosa e
a “2ª Bill of Rights”, respectivamente. Nesse dois fatos, o Parlamento Inglês enviou à
Coroa uma declaração de direitos individuais. Nas duas Revoluções Industriais
(1750 e 1850), através do capitalismo o liberarismo não encontrou barreiras para
sua expansão. O liberarismo começou a existir nos EUA a partir 1776, com a
declaração da Virgínia e, em 1787, com a Constituição Federal. Nessas duas
ocasiões é defendido o direito de insurreição. Ele representa o ideal de liberdade,
pois caso o governo atentesse contra algum princípio, seria invocado. Como diz o
preâmbulo da Constituição dos EUA:

[...] os homens foram criados iguais; com direitos inalienáveis – como à


vida, liberdade e felicidade; os governos devem defender esses direitos,
porque foram formados pelo consentimento dos governados; o povo pode
invocar o direito à insurreição, contra toda forma de governo que atente
contra tais direitos, garantias e liberdades (EUA).

Na França, o liberalismo surgiu a partir da Revolução Francesa. Nela é notável


o interesse burguês por trás dessa. O guia da Revolução a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão, no preâmbulo, mostra por que veio:

Os representantes do povo francês, constituídos em Assembleia Nacional,


considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos
do homem são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção
dos governos, resolveram expor, numa declaração solene, os direitos
naturais, inalienáveis, e sagrados do homem (FRANÇA).

Nele é mostrada a importância que é dada aos direitos naturais do homem.


Como visto no paragrafo anterior, nota-se que o Estado Liberal surgiu para evitar
que o Estado intrometesse-se além do nescessário na vida dos cidadões. E, para
evitar intervenções, o modelo de Estado de Direito Liberal propõem que se deve agir
somente para proteger as prorrogativas e direitos de propriedade; fora disso não
deve se intrometer. Ele procura agir somente para proteger seus cidadões contra
13

nações estrangeiras, proteger eles de si mesmo, jurisdição imparcial e manter


instituições públicas, como hospitais e escolas. Para dar força a essa afirmação
evoco Reinhold Zippelius para dizer que:

De acordo com o sistema da liberdade natural, o poder do Estado fica


apenas com três funções para cumprir, aliás, três obrigações, de maior
importância, mas simples e compreensíveis para o senso comum: em
primeiro lugar, a obrigação de proteger a nação contra atos de violência e
ataques de outras nações independentes; em segundo lugar, a obrigação
de salvaguardar, na medida do possível, todos os membros da própria
nação contra agressões ilegais dos seus concidadãos, ou seja, garantir uma
jurisdição imparcial; e em terceiro lugar, a obrigação de criar e manter
determinadas instituições públicas [...] (ZIPPELIUS, 1997, pp. 377).

Esse modelo possui três elementos básicos: individualismo, propriedade e


liberdade. O individualismo é caracterizado por ensinar que o individuo é a força por
trás da ação na realidade. As relações jurícas e direitos existem só para pessoas
humanas e a coletividade não a possui normalmente, a não ser por coincidência dos
indíviduos que a compôem. O segundo elemento, propriedade, representa o direito
inviolável sobre uma determinada propriedade. E o último, liberdade, o Estado não
deve intrometer-se profundamente na vida de seus cidadões; fazendo isso estará
prejudicando a capacidade criativa dos seus cidadões.

2.2.2 Estado Social de Direito

Esse modelo ao contrário do Estado Liberal de Direito, preocupa-se mais com


os direitos sociais do que o anterior jamais sonhou. Quando o Estado Liberal
propôem que o Estado não deve se intrometer em assuntos que não sejam proteger
o território e o livre trânsito econômico. Já o Estado Social de Direito garante o bem
estar social com os direitos sociais e trabalhistas, sem esquecer o mercado. Nota-se
que o Estado Social nasce em resposta ao egoísmo do Liberal. Porque o Liberal não
prega o “cada um por si” do individualismo? Também não é ele que ordena a não
intervenção em assuntos sociais, por motivo que seja o indivíduo a resolver seus
problemas. O social prega a ideia de que o Estado crie leis para auxiliar os seus
cidadões a desenvolver uma comunidade harmoniosa. Conforme Bobbio:
Da crítica das doutrinas igualitárias contra a concepção e a prática liberal do
Estado é que nasceram as exigências de direitos sociais, que
14

transformaram profundamente o sistema de relações entre o indivíduo e o


Estado e a própria organização do Estado, até mesmo nos regimes que se
consideram continuadores, sem alterações bruscas, da tradição liberal do
século XIX [...] Liberalismo e igualitarismo deitam suas raízes em
concepções da sociedade profundamente diversas: individualista,
conflitualista e pluralista, no caso do liberalismo; totalizante, harmônica e
monista, no caso do igualitarismo. Para o liberal, a finalidade principal é a
expansão da personalidade individual, abstratamente considerada como um
valor em si; para o igualitário, essa finalidade é o desenvolvimento
harmonioso da comunidade. E diversos são também os modos de conceber
a natureza e as tarefas do Estado: limitado e garantista, o Estado liberal;
intervencionista e dirigista, o Estado dos igualitários (BOBBIO, 2000, p. 42).

O Estado Social de Direito manisfestou-se a partir da década de 1920 como


retaliação à burguesia. Em 24 de outubro de 1945, houve a criação da ONU, onde
indicou que os direitos humanos deveriam reger as relações politicas. Em 1948,
ocorre a criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que assegura os
direitos sociais. O seu término se dá durante as décadas 70 a 80 e os motivos
seriam a queda do petróleo e o fim da ameaça socialista.
O capitalismo nesse modelo importa-se com os trabalhadores. De forma que
sem um mínima preocupação de criar direito, como poderão gastar seus preciosos
recursos em suplérfulos. E também com esses benefícios, estarem mais calmos,
não pensando assuntos políticos. Colaborando com o que foi dito, fala Vinício
Martinez:

[...] do capitalismo e para tanto considera apropriado constituir e defender


alguns direitos trabalhistas, entendendo-se que o trabalhador assalariado é
o principal consumidor da própria mercadoria por ele produzida” e isso
também afastaria o "fantasma do socialismo (especialmente dos anos 50
até o final da década de 70 e 80) porque, mais satisfeito economicamente, o
trabalhador mostra-se mais acomodado politicamente. (MARTINEZ, 2006)

2.2.3 Estado Democrático de Direito

O Estado Democrático de Direito busca realizar o bem estar social sob uma lei
justa e de ampla participação possível do povo no processo político. Para que tenha
esse efeito, o Estado Democrático usa a lei para auterar as relações sociais.
O Estado Democrático de Direito é caracterizado por buscar a igualdade, a
transformação do status quo e a lei, sendo um instrumento de transformação. A
primeira característica busca garantir, através do asseguramento jurídico, o mínimo
necessário de condição de vida para que o cidadão e a comunidade possam existir
15

com felicidade. A transformação do status mostra o Estado agindo diretamente para


mudar a situação social de seu território. A lei não é só abstrata, mas tem função de
transformação social.
Os princípios do Estado Democrático de Direito são:
a) Constitucionalidade: O Estado deve estar vinculado a uma contituição;
b) Organização Democrática da Sociedade;
c) Justiça Social: mecanismo de correção da desigualdade;
d) Igualdade:não é apenas possibilidade formal, um meio de ter uma sociedade
justa;
e) Divisão de Poderes;
f) Legalidade;
g) Segurança e Certeza Jurídica.

Existem diferenças entre o Estado Democrático, o Social e o Liberal. O primeiro


sobre a ação estatal. O liberal é conhecido pelo Estado ausente e limitado que não
deve agir na vida de seus cidadões. No Social, o Estado só age para resolver o
problema. E no Democrático, o objetivo não é só remediar, mas transformar toda a
sociedade para evitar o problema. Sobre a lei, o Liberal é uma ordem geral e
abstrata, o Social é um instrumento de ação concreta e o Democrático, instrumento
de transformação.
Existe um outro tipo de Estado Democrático de Direito que será falado no
próximo tópico.

2.2.4 Estado Democrático de Direito Social

Esse tipo de Estado é parecido com o Estado Democrático de Direito, pois seu
conceito e seus princípios são similares. A diferença está no “direito social”. O
conceito é o direito que tem alcance geral, tendo relevância social, mas ainda sendo
um direito composto de significados, exercício e usufruto social, como direito público
e subjetivo que seja assegurado pelo Estado. De acordo com Vinicios Martinez:

Direito social, portanto, refere-se à dimensão globalizada, integrada (não-


excludente, não-refratária ou meramente dogmática, excessivamente formal
16

ou sectária do direito), buscando-se a máxima realização da isonomia e da


proporcionalidade. Neste sentido, também são direitos tendentes a alcançar
os direitos econômicos e trabalhistas e não só os direitos individuais, civis e
políticos – defendendo-se por isso a necessidade de serem cláusulas
pétreas (MARTINEZ, 2003).

O Estado de Democrático de Direito Social necessita de fruição social de


direito. Primeiramente, entende-se por fruição social de direito a condição que o
direito deve ser, como um poderoso instrumento de transformação social. Através
dele é possivel mudar o status quo. A fruição social de direito é a ideia indicada para
um sentido amplo para própria concepção de sociedade, como o meio social e a
cultura. Essa relação é fonte de direito, pois é através da interação e contradição
que ele existirá. Visto isso, percebe-se que o direito não é só estatal, pois também
surge dos anseios e das necessidades sociais, porque é o papel do direito ser
método de socialização e humanização.
Em nosso Estado Democrático nota-se que garantimos os direitos
fundamentais, direito sociais e trabalistas, não são cláusulas pétreas. Os direitos
sociais e trabalhistas garantidos não significam que estão protegidos. Eles deveriam
ser cláusulas pétreas, porque só uma nova constituinte poderá modificá-la. Mesmo
como esse porém, as garantias fazem parte da segurança jurídica. As garantias são
o sinônimo da democratização institucional. Ela é o momento na história em que o
Estado começou se voltar para os interesses populares.

2.3 Justiça

É importante saber o conceito de justiça para que se possa compreender o que


é Justiça Popular. Primeiramente, entende-se por conceito básico de justiça o
cumprir a lei e dar a cada um o que é seu por direito. Essa ideia vai ao encontro de
Aristóteles, onde justiça é aquela que cumpri a lei e a injustiça o que descumpri:

Considera-se como injusto aquele que viola a lei, aquele que toma mais do
que lhe é devido, como também aquele que viola a igualdade (tomando, no
que respeita às coisas más, menos do que sua parte), de sorte que
evidentemente o homem justo (a contrário) é, portanto, o que observa a lei e
respeita a igualdade. O justo é, portanto, o que é conforme a lei e respeita a
igualdade, e o injusto o que é contrário à lei e falta à igualdade” e "A justiça
existe apenas entre homens cujas relações mútuas são governadas pela lei;
17

e a lei existe para os homens entre os quais há injustiça, pois a justiça legal
é a discriminação do justo e do injusto (ARISTÓTELES, 2001).

Segundo Aristóteles, justiça também é distribuir igualmente, sem que alguém


fique com uma parte maior que a outra:

Justiça é aquilo em virtude do qual se diz que o homem justo pratica, por
escolha própria, o que é justo, e que distribui, seja entre si mesmo e um
outro, seja entre dois outros, não de maneira a dar mais do que convém a si
mesmo e menos do que convém a si mesmo e menos ao seu próximo (e
inversamente no relativo ao que não convém), mas de maneira a dar o que
é igual de acordo com a proporção; e da mesma forma quando se trata de
distribuir entre duas outras pessoas (ARISTÓTELES, 2001).

Assim, se essas palavras forem ouvidas e cumpridas não haverá grande


tristeza numa sociedade quanto à justiça, visto que não haverá revolta daqueles que
a seguem.

2.4 Justiça Popular

A Justiça Popular costuma entrar quando o Estado, por algum motivo, falha na
expectativa da população e ou num ato que a provocou, seja esse considerado de
tamanha vileza. Antes de falar sobre como a sociedade chegou a essa situação,
devemos primeiro conhecer esse tipo de justiça.
Como visto anteriormente, a Justiça é o respeitar das regras e dar a cada
indivíduo o que é seu por direito. Desse modo, o Popular fornece o sentimento de
certo e errado no julgamento. Quando a lei é ignorada ela responde como força
excessiva para reparar o dano, assim, sua visão e julgamento não terão
neutralidade. Em outras palavras como diz José de Souza Martins,

A justiça popular se baseia no pressuposto da vendetta, na concepção da


função social restauradora ou instituidora da vingança, sobretudo nos casos
de crime de sangue (MARTINS, 2002).

Justiça Popular torna-se presente quando o Estado falha em dar a resposta


esperada pela população. O lendário contrato social que foi firmado entre os homens
em favor ao Estado, obriga este a dizer o direito com presteza. Às vezes essa
obrigação falha, como libertar um criminoso já condenado aos olhos da população.
Com essa atitude, o Estado força a população a tomar atitudes radicais. Outro
18

motivo que força sua presença são crimes praticados contra pessoas que são
consideras inocentes pela comunidade de fato. Esse tipo de situação provoca o
aparecimento de “braços” da justiça Popular, tais como linchamento e vingança.

2.4.1 Linchamento

O significado de Linchamento é o assassinato de um indivíduo por uma


multidão, sem direito a um julgamento; sendo aquele que recebe punição através
dos populares. O termo “linchamento” vem da expressão “Law Lynch” da qual é
baseada no sobrenome de Charles Lynch. Ele em 1780, em Pittsylvania Country,
Virgínia, EUA, tinha suprimido as ações dos pró-britânicos usando a combinação
dos cidadãos para impor castigos. Nos EUA, essa prática está ligada aos
assassinatos de negros antes da Reforma Civil.
As características do linchamento são: ser espontâneo, irresponsável e
irracional. Os participantes agem com suas vontades dominadas pela vontade
coletiva. Outra característica do linchamento é ser um comportamento conservador
de um ordenamento estável.
E os praticantes de linchamento têm a concepção de que o crime de multidão é
lícito, porque o Código Penal tem atenuante à participação em crime coletivo. De
maneira que justiça formal e vingança ficam unidas para justificar o feito. Quando
são levados para julgamento, geralmente esses infratores têm seus crimes
absolvidos, pois quase sempre alguém da comunidade irá salvá-los.
19

3 ESTADO DE DIREITO E JUSTIÇA POPULAR

A seguir, será abordado a respeito do envolvimento entre o Estado de Direito e


a Justiça Popular. Primeiramente, lembramos que o Estado surgiu como uma
maneira das pessoas se protegerem contra outros, entregando seus poderes a
terceiros. O Estado de Direito é a forma de estado cuja atividade é determinada e
limitada pelo direito. A Justiça é a virtude de cumprir a lei e dar a cada indivíduo o
que é seu por direito. Dessa forma, Justiça Popular baseia-se na emoção sem
utilizar a razão em seus julgamentos, consequentemente, o linchamento é a
execução da sentença dada pela Justiça Popular onde o condenado não tem direito
de contestar.

3.1 Estado de Direito e Justiça Popular: contrato social

O Estado surgiu após constituição do místico contrato social, nele, como diz
Hobbes, “[...] à maneira de um pacto em favor de terceiro, é firmado entre os
indivíduos que, com intuito de preservação de suas vidas, tranferem a outem não
partípe todos os seus poderes”. Assim, as pessoas transferiam os poderes para
terceiros, já que ainda não se falava em direitos, para que esses os protegessem.
Nesse contrato é esperado que o terceiro, governante, aja de acordo com o poder
que recebeu. Infelizmente nem sempre é cumprido o acordo. Nesse
descumprimento, o poder dado pode ser retornado momentaneamente por aqueles
que o deram.
Na seção anterior falou-se sobre o que é Justiça Popular e foi dito que ela
manifesta-se quando o Estado não cumpre o contrato como deveria. Esse
descumprimento se dá devido ao mau funcionamento do sistema de justiça pública e
por ineficiência do serviço público. Desse modo, o mau funcionamento do sistema
de justiça público leva ao linchamento.
Maria Benevides explica o motivo:
20

[...] descrédito na eficácia da policia e na ação da justiça, pelo envolvimento


da polícia com os criminosos, por um lado, e pelo sentimento de que” há
uma justiça para pobre e outra para rico (BENEVIDES, 1982, p. 109).

Percival de Souza complementa a ideia analisando que a polícia prefere se


concentrar em grandes crimes ao invés de pequenos roubos e ataques sexuais dos
quais a população pobre sofre. Na citação de Benevides e a análise de Percival de
Souza vê-se que a polícia não está tendo eficácia esperada, pois, como tem crédito,
quando ela não está sendo ineficaz estará unindo-se com os criminosos. Na parte
de ineficácia, basta analisar o como a polícia falha na parte de investigação, pois é
dado crédito a essa instituição quando ela se apresenta desinteressada na
investigação de fato criminoso. Quando uma pessoa faz denúncia de um crime tem
chance de receber uma ironia, como diz Maria Victoria: “Em geral as denúncias são
recebidas com ironia e humilhação; não raro os pais aflitos ouvem: “a policia não
tem tempo para defender o [...] de sua filha” (BENEVIDES, 1982, p. 101). Quando
uma pessoa não é irônica ignora pequenos casos, para concentrar em grandes
crimes, visto que quando está sendo confiada, mostra-se lenta e insensível, outro
motivo estar na “ação da justiça”. Esse motivo mostra que a população não entende
os ritos do judiciário, onde acabam vendo possíveis criminosos sendo soltos pela
justiça, quando esses estão condenados pela população. Jacqueline Sinhoretto
mostra um caso que deixa claro os motivos desse mau funcionamento:

Caso de Ribeirão Pires (1982)


O linchamento ocorreu no contexto de intensa mobilização dos moradores em
torno do problema da segurança num bairro de recente ocupação, distante
do centro do município. Pertencente à Região Metropolitana de São Paulo,
Ribeirão Pires era uma cidade pequena que foi sendo incorporada à
metrópole devido ao crescimento do polo industrial conhecido como ABC e,
embora conte com alguma atividade industrial, sua ocupação foi caracterizada
como a de um município-dormitório, isto é, local de residência de
trabalhadores sem especialização ou com baixa qualificação, empregados nas
indústrias de outras cidades. Quase 30% da população era composta por
migrantes com menos de dez anos de residência e 65% dos habitantes
tinham idade inferior a 29 anos. Em todo o município a infraestrutura urbana
era precária, mais particularmente nos bairros criados naquele momento. O
bairro onde ocorreu o linchamento era uma densa mata atlântica, parte da
Serra do Mar, até o final dos anos 1970, quando se iniciaram os primeiros
loteamentos, o desmatamento e a construção das primeiras residências. Em
1982, portanto, ainda havia áreas de mata e terrenos desocupados, as casas
eram esparsas, não havia asfalto, iluminação nas ruas ou saneamento
básico, contribuindo para a sensação de que o lugar era uma espécie de
terra sem lei. Mas, já nessa época, muitos crimes ocorriam no bairro e o
policiamento era extremamente deficitário. Entre 1981 e 1998, houve
crescimento de 257% nos homicídios dolosos e, em 1982, apenas 21% de
todas as ocorrências policiais chegaram a se constituir em inquérito policial.
Apesar da intensa movimentação política daquele momento na região, a
21

principal preocupação dos moradores do novo bairro era com a


criminalidade. Residências eram invadidas por ladrões, que assaltavam
também as pessoas que iam ou voltavam do trabalho, da escola ou do
comércio e, segundo relatos, até as compras feitas para a refeição eram
roubadas. Por conta de tanta insegurança havia um “toque de recolher”
informal ao anoitecer e os moradores trancavam-se nas casas.
Um grupo organizou-se para pedir providências às autoridades e, em
paralelo, formou- se um grupo de patrulhamento das ruas, com revezamento
entre os moradores. Na noite do linchamento, vários grupos de quatro ou
cinco homens faziam ronda pelas ruas. Referindo- se a esses grupos de
ronda, uma reportagem de jornal caracterizou-os como um grupo de
extermínio chamado “Justiceiros do Parque Aliança”, que contaria com 100
participantes. Nos depoimentos à polícia e nas entrevistas, não se confirmou
a existência do grupo de extermínio, reconhecendo-se a ocorrência de um
linchamento. A Polícia Civil, dias antes, havia realizado uma ronda no bairro,
apreendendo armas e realizando algumas prisões de assaltantes, mas sua
presença não era constante e uma semana após ocorreu o linchamento. Um
dos grupos de patrulha teria retido dois homens suspeitos de um assalto e
alertado os demais grupos. Com a grande confusão nas ruas, outros
moradores saíram das casas armados para auxiliar na execução dos bandidos.
Os rapazes mortos tinham 21 e 16 anos, um negro e outro branco, residentes
nas imediações. No momento dos fatos e na chegada da polícia, dois ou três
moradores declararam certeza de terem sido suas vítimas, todavia, no
decorrer das investigações policiais, essa certeza não foi confirmada e, ao
final das investigações, não foi recolhida prova de envolvimento dos jovens
mortos com atividades criminais. No inquérito policial foram indiciados 22
moradores do Parque Aliança e outros tantos foram ouvidos como
testemunhas. O processo penal tramitou por muitos anos, mas os réus não
foram a julgamento por falta de provas.
Entre os entrevistados, houve apoio à ação de linchamento em face da
gravidade da situação vivida naquele momento, superada a partir de então,
fazendo com que o bairro fosse considerado tranquilo nos anos 1990. Porém,
outras formas de execução sumária privada foram desaprovadas, mostrando
que a ação coletiva ocupa um lugar diferenciado de outras formas de violência
no imaginário daquela população. Há algum consenso em torno da
legitimidade do uso da força para a defesa pessoal e dos familiares e é muito
baixa a credibilidade da polícia, associada a abusos de poder, violência,
corrupção, ligações escusas com comerciantes para proteção da propriedade
privada, discriminações raciais e de classe (SINHORETTO, 2009, p. 80).

A respeito disso, Maria Benevides traz opinião de um leitor do Jornal do Brasil:

O assaltante pratica todos os delitos imagináveis, tornando-se até assino e,


não raras vezes, nenhuma investigação é realizada (alega-se falta de
policiais, de viaturas, de gasolina etc.). No entanto, quando o povo, cansado
de ser tão vilipendiado, faz justiça com as próprias mãos, através do
linchamento, quase sempre aparece uma patrulha “salvadora” do celerado.
Por que ela nunca aparece no momento de um cidadão esta sendo
atacado? (BENEVIDES. 1982. p. 107).

Nas duas citações supracitadas, fica claro que tudo começa com a má
prestação do serviço público, não esquecendo que no caso de Ribeirão Pires há
precariedade da região no fato como aditivo para o aparecimento da Justiça Popular.
Como exigir da população que deixe de usar seu poder de fazer justiça, quando o
Estado não faz o trabalho com presteza?
22

3.2 Estado de Direito e Justiça Popular: justiça popular e Brasil

Nesta seção será discutido sobre a Justiça Popular no Estado Democrático de


Direito, mais especificamente no Brasil. É de conhecimento no Brasil, segundo a
Constituição, que no:

PREÂMBULO
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a
solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus,
a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos (BRASIL, 1988).

O Estado Democrático de Direito trabalha baseando-se no respeito aos direitos


humanos e pelas liberdades fundamentais através da proteção jurídica. É dito que
no Brasil o direito tem um papel importante na socialização. Com esse ideal seria
esperado que não existissem conflitos, mas em nosso caso nem sempre isso ocorre,
basta ver os problemas na justiça brasileira.
No Brasil, se percebe que infelizmente é passada a sensação de que existem
dois tipos de justiça, uma para os pobres e outra para os ricos. Essa afirmação se
baseia na forma de como a justiça é distribuída. Sabe-se que os ritos processuais
são iguais para todos; o problema está em que um grupo, ricos, tem condições para
manipular o sistema para que se demore a ponto de haver prescrição de processos.
Isso não seria mal visto se a outra parte tivesse as mesmas condições para usar o
sistema. Como visto de fora, parece que os ricos podem fazer o que bem quiserem e
não sofrerem nada. Isso pode ser levantado como um dos motivos que a Justiça
Popular, linchamento, levanta-se em nosso Estado Democrático de Direito. Para
colaborar com que foi afirmado, Jacqueline Sinhoretto diz que:

Os linchamentos seriam, portanto, expressões de um conflito de interesses


que ganha uma dimensão política na medida em que questionam a
desigualdade de acesso às instituições estatais, à participação nas
políticas públicas, a desigualdade no exercício da cidadania e da própria
condição humana (SANTOS apud SINHORETTO, 2004, p. 9).
23

Ainda a respeito da justiça, deve-se que ver sobre sua prestação de serviços.
Nela observar-se como é oferecida à população e como é refletido o sentimento de
descrédito quando a mesma não funciona. Seria difícil exigir que a população dê
crédito ao aparato judiciário quando a insensibilidade e o descaso são percebidos. A
insensibilidade quando o braço da lei, por exemplo, recebe uma denúncia de um
crime de estupro e simplesmente age com indiferença e o descaso nada mais são
do que o modo de tratar a população menos privilegiado como um lixo quando vai
procurar seus direitos. Com isso, entende-se que não é possível confiar na justiça.
Nota-se que a população não tendo aonde obter socorro irá buscar a justiça popular
para que possa ter o que deseja, conforme mostra José de Souza:

[...] é evidente e não raro é explicitamente dito que a justiça pelas próprias
mãos é praticada por descrença na justiça institucional. A população
reconhece que estamos vivendo um momento histórico de crescente
desordem social, mas não crê que a policia e a justiça saibam lidar
corretamente com a necessidade de restauração da ordem (MARTINS,
2002 p. 142).

Como visto no parágrafo anterior, os motivos que se leva aqui no Brasil a se


buscar a Justiça Popular como método de resoluções de problemas manifestam-se
através do linchamento. O linchamento aqui tem características diferentes de outros
lugares, por exemplo, nos EUA, ele se mostra como modo de intimidar os negros
sulistas.
No Brasil, o linchamento aparece mais visível no meio urbano, mas poderá
ocorrer no meio rural. Antes de falar sobre cada um deles é importante salientar que
eles possuem características comuns, como a violência, que se manifesta em áreas
recém criadas, bairros novos ou zonas antigas de atração recentes. As vítimas
dessa justiça costumam ser pessoas mal integradas ao local. O motivo de essa
justiça estar no anseio de um local seja estável e regulado é por que ela representa
o desejo de uma sociedade estável. No meio rural, o linchamento é caracterizado
por ser um tipo de justiça não muito tradicional no meio rural, porém nesse meio, a
justiça é baseada pelo direito de sangue, principalmente em crimes contra vida e
sexuais. Quando a justiça é realizada, caso a vítima tenha filhos, nada é poupado,
pois os filhos podem retalhar contra os responsáveis. No meio urbano, onde isso
mais ocorre, esse método de justiça é praticado por grupos da vizinhança e por
famílias extensas. Nos bairros afastados das grandes cidades e nos pequenos
municípios, as ações são feitas por grupos que se conheçam. O objetivo dessa
24

união é para trazer a ordem que foi retirada por um crime. O motivo que leva a essa
reação nessas regiões é por crimes de sangue. Para ilustrar o que foi dito sobre o
motivo e localidades, segue abaixo um fato ocorrido em Minas Gerais:

O mineiro Tiago José dos Santos, 32 anos, foi resgatado das mãos de
populares enfurecidos após ser acusado de abuso sexual contra uma
criança de 7 anos na periferia de Itapetinga, a 560 km de Salvador.
Santos foi encaminhado ao plantão central do Complexo Policial com
escoriações na cabeça e lesões no olho direito devido à tentativa de
linchamento às margens do Rio Catolé, no Bairro Clodoaldo Costa. O fato
foi registrado pro volta das 23 horas de quinta-feira, 4.
Segundo a polícia, o acusado é vizinho da criança e foi visto com a
garotinha nas proximidades do rio. “Senti falta da menina e saí procurando,
até que encontrei minha neta num matagal”, relatou a avó. “Ela estava nua
e chorando muito, alegando que tinha sido molestada pelo dito rapaz.
De acordo com a avó, além de apresentar lesões visíveis na região dos
olhos, a criança relatou que o suposto autor teria tirado sua roupa e atirado
nas água do Rio Catolé. “Quando ela começar a gritar ele segurou no
pescocinho dela e tentou sufocar”.
Minutos depois, Tiago foi rendido por populares e sofreu tentativa de
linchamento. A Polícia Militar foi acionada através da Central de Rádio
Patrulha (190), e uma equipe composta pelos soldados Leomarcos e
Mainarth dirigiu-se ao local.
Os policias afirmaram que encontraram Tiago totalmente despido e
desmaiado nas margens do rio, sangrando muito e com lesões na boca e
nos olhos. Ele foi socorrido pela PM e encaminhado, inicialmente, ao
Hospital Cristo Redentor.
A suposta vítima, a avó e o pai da criança foram ouvidos pelo delegado
plantonista Leonardo Rabelo. A garota foi encaminhada ao mesmo hospital
para exame médico legal. O delegado lavrou o Auto de Prisão em Flagrante
(CABECADE CUIA, 2011).

Nos centros das grandes cidades, aonde todos são desconhecidos o que
motiva esse tipo de ação é um crime contra o patrimônio. Maria Benevides cita como
exemplo o seguinte caso:

No sábado, no dia 10, os fregueses do restaurante Maxim´s, na Avenida


Atlântica, em Copacabana, suspenderam a feijoada tradicional para surrar
um assaltante desastrado que disparara um tiro contra o gerente da casa.
Foi salvo pela policia (BENEVIDES, 1982, p. 102).

Os motivos que levam à ocorrência dessa justiça são: crimes de sangue –


homicídio, latrocínio, estupro tanto com ou sem morte; crimes contra pessoa e
crimes contra o patrimônio – roubo, furto, invasão de residência.
Nessa Justiça devesse considerar primeiramente que os membros da elite
social são os grupos mais visados para a prática do linchamento. O motivo está em
que os ricos podem fazer o que bem quiserem e nada irá acontecer, como é
possível verificar no exemplo seguinte:
25

Houve um caso no interior do Paraná de um médico linchado porque sua


enfermeira havia movido uma ação trabalhista contra ele e, por vingança,
ele encomendou seu assassinato. As pessoas não toleraram. O médico foi
apanhado na cadeia junto com o policial pago para matá-la e os dois foram
mortos (FAPESP, 2000, p. 3).

Observa-se que tanto o médico como o policial fazem parte da elite social e
também espera-se deles que ajam com decência. A parte de cima da pirâmide social
é muito lembrada pelos linchadores, como também é verdade que a base é trazida
para essa justiça. Os pobres aguentam muitos problemas em suas vidas com
resignação, mas só o que acabam com a risignação quando sofrem uma violência
feita por um igual. O motivo por essa revolta está na quebra de lealdade, pois ambos
estão na mesma situação de miséria. Quando essa quebra ocorre, a punição torna-
se mais violenta que em outros casos, como a dos ricos. Como exemplo, Maria
Benevides cita:

O linchamento do menor “Testão” (15 anos, ingresso da FEBEM, acusado


de vários assaltos e latrocínios), numa favela da Vila Missionária, periferia
de São Paulo, foi procedido de um requintado ritual punitivo: familiares do
dono do bar assassinado obrigaram o menor assassino a assistir ao velório
e depois o lincharam. Em seguida fretaram um ônibus e se apresentaram na
delegacia (BENEVIDES, 1982, p.107).

No parágrafo anterior foi falado sobre os grupos visados para o linchamento,


agora será falado o fio condutor de toda a história. Esse fio pode ser constituído por
crianças, mulheres grávidas, idosos, pobres ao extremo, casais jovens e outros que
a cultura popular considere inocente. Esses inocentes, criancinhas e mulheres
grávidas na visão das pessoas médias representam o limite entre o Homem e o
Divino. Assim, qualquer ação cometida contra elas terá uma resposta extremamente
violenta. Essa resposta é necessária para restaurar o dano causado contra o
inocente que estava sobre a guarda da comunidade. O determinado crime, como
incesto e estupro contra menor, é tão grave que o ofensor é considerado como uma
palha, não podendo ficar na mesma cela que outros detentos, pois estes,
assassinos, ladrões e outros mau-feitores não iriam tolerar a presença deles já que
os criminosos não querem ser igualados aos violadores de inocentes. Como diz
José de Souza Martins:
[...] quando o autor é preso, acaba sendo linchado pelos presos junto aos
quais é colocado e mesmo o homicida violento não quer ser confundido com
o criminoso que praticou incesto, para ele um verdadeiro criminoso
(MARTINS, 2002).
26

Outro exemplo de caso ocorreu em Sarandi:

Preso acusado de estupro é linchado na Delegacia de Sarandi por outros


detentos um homem preso na Delegacia de Polícia de Sarandi sob a
acusação de estupro foi espancado por outros detentos, na madrugada
desta quarta-feira (30). A Polícia Civil abriu inquérito para apurar quem são
os responsáveis pela agressão.
Vanderlei da Silva Ferreira, 33 anos, está internado na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) do Hospital Metropolitano de Sarandi. O hospital informou
que ele está em coma, respira com ajuda de aparelhos e corre risco de
morte.
Segundo o superintendente da Delegacia de Sarandi, Carlos de Oliveira,
Ferreira entrou na carceragem na delegacia em 15 de janeiro de 2007. Em
26 de janeiro deste ano, ele foi transferido para a 9ª Subdivisão Policial de
Maringá (9ª SDP) e ontem retornou com outros noves presos a Sarandi. Ele
é suspeito de estuprar várias mulheres em Sarandi.
Conforme Oliveira, não havia condições de isolar Ferreira dos outros presos
em decorrência da superlotação da cadeia, que possui hoje 185 detentos,
mas tem capacidade máxima para 46 detentos. Ele foi espancado por
outros durante a madrugada quase até a morte, disse.
O superintendente da delegacia disse que foi instaurado um inquérito
policial para apurar os responsáveis pelo linchamento na carceragem. Os
agressores serão indiciados por tentativa de homicídio e, caso o detento
morra no hospital, pelo crime de homicídio (O DIÁRIO, 2007).

No caso mencionado, na Justiça Oficial, o réu irá passar por ritos processuais.
Enquanto que na Oficial ele teria direito a ampla defesa, direito a contraditório e
direito a ter um magistrado que o julgue com imparcialidade, na Popular, teria o
direito de passar por suplícios. Antes de falar sobre o final cruel do linchamento,
temos que comentar como chegou esse processo a esse fim. Isso ocorre por motivo
da população estar ligada a rituais de purificação. A comunidade o fez desse modo
para que pudesse se limpar dos crimes de sangue que ocorreram na região,
também mostrando que através da punição estão acolhendo os familiares da vítima
que se importam com sua dor. Os suplícios que o réu poderá passar são: ser
queimado vivo, mutilado, esquartejado, castrado, ter o corpo arrastado pelas ruas da
localidade de ocorrência, ser morto com instrumentos de trabalho dos parentes e
amigos da vítima e seu corpos jogado no lixo. Esses suplícios servem para que a
comunidade possa ver o destino do corpo linchado, todo machucado e sem
humanidade. É como diz José de Souza Martins:

Essas práticas indicam que estamos em face de rituais de exclusão ou


desincorporação e dessocialização de pessoas que, pelo crime cometido,
revelaram-se incompatíveis com o gênero humano, como se tivessem
exposto, por meio dele, que nelas prevalece a condição de não-humanas.
As mutilações e queimas de corpos praticadas nesses casos são
desfigurações que reduzem o corpo da vítima a um corpo destituído de
características propriamente humanas. São, portanto, rituais de
27

desumanização daqueles cuja conduta é socialmente imprópria (MARTINS,


1996. p. 10).

Entende-se que o objetivo do linchamento é retirar a humanidade do alvo, visto


que não basta só matar o agressor e ou torturá-lo, mas sim reduzi-lo a nada. Esse é
o fim que os linchadores buscam dar ao linchado, pois com o corpo destruído, quem
irá lembrar que o agressor existiu; também para que com isso o linchamento possa
servir de lição para outros possíveis réus. José Martins cita outro caso:

Um linchamento ocorrido em fevereiro de 1996 em Campos, no Rio de


Janeiro, é bem indicativo dos valores envolvidos nesses casos. Um
adolescente negro matou, para roubar, uma adolescente negra no momento
em que esta abria a porta do modesto estabelecimento comercial da família,
logo de manhã. Em seguida fugiu e escondeu-se num terreno baldio das
proximidades. Mas, o crime fora presenciado por um irmão da vítima, de 4
anos de idade, que identificou o criminoso, pois era conhecido. A população
da cidade ajudou a família a procurá-lo, localizou-o, agarrou-o, acorrentou-o
a um poste e o entregou à família da moça para linchá-lo. A polícia chegou
no momento em que jogavam álcool sobre ele para queimá-lo vivo. Jornais
de diversas regiões do país publicaram fotos do linchamento. Nelas se vê
os familiares, especialmente a mãe da menina, espancando o criminoso,
cercados pela multidão que o aprisionara e que apenas contempla. Pessoas
presentes, que ajudaram na captura, recuaram para que a própria família da
moça pudesse linchá-lo (O Dia, 1996; Diário Popular, 1996) (MARTINS,
1996, p. 9).

Nesse caso a população do bairro deu à família o direito de puni-lo. Já foi


mostrado que os crimes que motivam o linchamento são: homicídio, latrocínio,
estupro, contra pessoa e crime contra o patrimônio – roubo, furto, invasão de
residência. Dessa forma, para que possa se confirmar essa informação serão
usados os materiais recolhidos do “Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública”, das páginas 14, 21, 24 e 26. Serão utilizados como amostra de casos
quatro estados: Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, visto que
todos os casos apresentados neste trabalho vieram dessas regiões:

HOMICIDIOS DOLOSOS
ESTADOS Nº Absolutos Taxas
2008 2009 2008 2009 Variação (%)
Bahia 4319 4375 29,8 29,9 0,4
São Paulo 4426 4564 10,8 11,0 2,2
Rio de Janeiro 5235 5318 33,0 33,2 -0,7
Rio Grande do Sul 2276 2192 21,0 20,1 -4,2
Quadro 1 – Homicídios Dolosos
Fonte: Autoria própria, 2011.
28

LATROCÍNIO
ESTADOS Nº Absolutos Taxas
2008 2009 2008 2009 Variação (%)
Bahia 115 128 0,8 0,9 10,3
São Paulo 266 303 0,6 0,7 12,9
Rio de Janeiro 185 197 1,2 1,2 5,6
Rio Grande do Sul 100 90 0,9 0,8 -10,5
Quadro 2 – Latrocínio
Fonte: Autoria própria, 2011.

ESTUPRO
ESTADOS Nº Absolutos Taxas
2008 2009 2008 2009
Bahia 1106 1407 7,6 9,6
São Paulo 3387 5645 8,3 13,6
Rio de Janeiro 1398 2216 8,8 13,8
Rio Grande do Sul 1364 1687 12,6 15,5
Quadro 3 – Estupro
Fonte: Autoria própria, 2011.

TENTATIVA DE LESÃO CORPORAL LESÃO CORPORAL


HOMICÍDIO CULPOSA DE TRÂNSITO DOLOSO
ESTADO Nº Taxas N º Absolutos Taxas N º Absolutos Taxas
S Absolutos
Bahia 338 339 22, 23, 7312 6706 50,4 45,8 40404 38744 278, 264,
1 5 3 2 6
7
São 506 517 12, 12, 14111 13026 344, 314, 17086 18625 416, 450,
Paulo 5 6 4 5 9 7 1 8 3 8 6
1
Rio de 302 328 19, 20, 28257 29305 178, 183, 63,25 68457 398, 427,
Janeiro 1 4 0 5 0 6 5
6
Rio 346 336 31, 30, 40983 39036 377, 357, 81823 79901 753, 732,
Grande 7 5 9 8 5 7 8
1
do Sul
Quadro 4 – Tentativa de Homicídio, Lesão Corporal Culposa de Transito e Lesão
Corporal Doloso
Fonte: Autoria própria, 2011.
29

ROUBOS
ESTADOS Nº Absolutos Taxas
2008 2009 2008 2009
Bahia 9100 10147 62,7 69,3
São Paulo 211032 248993 514,6 601,7
Rio de Janeiro 25403 23548 160 147,1
Rio Grande do Sul 10084 8847 92,9 81,1
Quadro 5 – Roubos
Fonte: Autoria própria, 2011.

Observados esses dados pode-se ver que São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia
apresentam um alto índice de linchamento, assim como já comentado pelos autores
Valéria Oliveira Santos, Jacqueline Sinhoretto, Maria Victoria Benevides e José de
Souza Martins, com exemplos recentes desse tipo de caso. Na Bahia, em São Paulo
e no Rio de Janeiro os motivos dos casos são: por atrair imigrantes de outros
estados em busca de melhor sorte. Eles acabaram indo para zonas novas dos
centros urbanos e, como já dito, geraram conflitos pelo motivo de que essas áreas
ainda não foram devidamente estruturadas, também porque os que vivem nelas
estão com suas vidas no limite da economia estável e da sociedade organizada. A
seguir exemplo visível do que foi acima comentado:

BAHIA
Simões Filho acusado de pedofilia é linchado
Um suposto pedófilo morreu após ser espancado por populares em Simões
Filho, na Região Metropolitana de Salvador, na madrugada desta segunda-
feira (14). Rafael Alves dos Santos, de 23 anos, foi linchado por moradores
da quadra 4 do CIA 1, de acordo com a 22ª Companhia Independente da
Polícia Militar (CIPM). Ainda segundo a polícia, o rapaz também teria
envolvimento com o tráfico de drogas. Apesar das informações, o motivo
das agressões ainda não é confirmado. A polícia encontrou o corpo do
jovem dentro de um buraco em um terreno baldio. (REDE DE
INFORMAÇÃO UNIVERSAL, 2011)
RIO DE JANEIRO

RJ: caseiro confundido com assaltante é linchado em São Gonçalo


30 de setembro de 2010
Confundido com um ladrão de celular, o caseiro Marco Antônio Corrêa
Vicente, de 19 anos, foi a quarta vítima de linchamentos em São Gonçalo,
na região metropolitana do Rio de Janeiro, nos últimos seis meses. Pelo
menos mais quatro pessoas foram espancadas em ruas da cidade no
mesmo período, mas conseguiram sobreviver. O corpo do jovem, surrado
por dezenas de pessoas até a morte na manhã dessa terça-feira, no Jardim
Catarina Novo, foi enterrado na quarta-feira à tarde no Cemitério São
Miguel.
A barbárie em série, desencadeada pelo desejo de buscar a justiça com as
próprias mãos, revolta parentes das vítimas e é motivo de preocupação
para autoridades e especialistas em segurança. Dos oito casos de violência,
pelo menos cinco envolveriam inocentes.
30

Os pais de Marco Antônio demonstraram perplexidade. "Meu filho seguia


para o trabalho de bicicleta, quando alguém teria gritado que ele era o rapaz
que vinha roubando celulares de estudantes na área. Foi o suficiente para
um grupo cercar e bater nele covardemente até a morte. Ainda levaram a
bicicleta, que pertencia a um amigo", lamentou o pai de Marco Antônio, o
ajudante de obras Marco Antônio da Conceição Vicente, 42.
Segundo testemunhas, moradores da Rua Tambacuris atacaram o rapaz
com chutes, socos, pedras e paus. Ele ainda teve o braço esquerdo
quebrado e foi enforcado com fios de energia elétrica.
Nessa quarta-feira, agentes da 74ª DP (Alcântara) tentaram localizar os
assassinos. O delegado-adjunto Luciano Coelho afirmou que a polícia
repudia esse tipo de ação e que os criminosos serão indiciados por
homicídio qualificado, cuja pena varia de 12 a 30 anos de prisão (TERRA
NETWORKS BRASIL S.A, 2010).

Nos dados obtidos no Rio Grande do Sul, local em que foi escrito o presente
Trabalho de Conclusão, também há aqueles que lincham pelas mesmas razões já
citadas:

Rio Grande do Sul


“Colisão mata menina e condutor é linchado por 50 pessoas em Canoas
Acidente, que vitimou criança de cinco anos, ocorreu no bairro Niterói, no
começo da tarde.
Canoas
Um acidente no começo da tarde desta quarta-feira vitimou uma criança de
cinco anos no bairro Niterói, em Canoas, de acordo com a Brigada Militar. O
condutor do veículo foi linchado por, aproximadamente, 50 pessoas e
encaminhado ao hospital. O teste do bafômetro indicou ausência de álcool
no organismo do motorista.
Segundo a Brigada Militar, Andréia Garcia Teixeira Greis, de cinco anos, foi
atropelada por Cleiton Cassiano Liessen, de 28 anos, às 13 horas desta
quarta. O acidente ocorreu na rua Venâncio Aires, no bairro Niterói. O
motorista afirmou que dirigia em direção ao centro, entre 60 e 70 km/h,
quando a menina apareceu de repente. Liessen tentou frear, mas não foi o
suficiente. Os pais da menina encontravam-se na calçada e testemunharam
a morte da filha.
Após o acidente, Liessen desceu do veículo para prestar socorro e foi
surpreendido por moradores e transeuntes que o agrediram. Segundo a BM,
aproximadamente 50 pessoas lincharam o condutor do veículo. Quando as
viaturas da polícia chegaram ao local, tiveram de impedir o prosseguimento
da violência. Liessen, que recebeu cotoveladas, socos e chutes, foi
encaminhado ao hospital.
Na confusão, cinco pessoas mais exaltadas foram detidas pela polícia, por
"uso arbitrário das próprias razões", inclusive o pai da vítima. De acordo
com a BM, elas não aceitavam que os policiais impedissem o linchamento
(JORNAL VS, 2010).

Após o feito é esperado que os envolvidos na aplicação da sentença sejam


punidos. Infelizmente nem sempre esse é o fim esperado para história. Por motivo
de esse tipo de crime ser considerado de difícil solução, primeiramente porque não é
o crime de linchamento tipificado em nossa legislação. Quando os autores desse
fato são levados à Justiça Formal serão julgados separadamente pelo crime de
homicídio, mas para a vítima do linchamento a grande chance da Justiça Formal
31

prevalecer é remota, visto que quem vai julgar os linchadores geralmente são
pessoas que vivem na comunidade. Assim, não se pode esperar condenação, e
quando isso ocorre é o réu o mais desprotegido entre dos envolvidos.
Mostradas as características do linchamento brasileiro, é observado que esse
modo ocorre em grandes cidades e em áreas de habitação recentes, também pode
ocorre em zona rural. As vítimas preferenciais são pessoas de classe alta e pobres
que comentam crimes contra outros na mesma situação. As primeiras podem
escapar como mais facilidade da punição dada pela justiça oficial, os segundos para
punir a traição cometida contra o mesmo grupo. A peça que motiva toda a história é:
crianças, casais jovens, mulheres tanto grávidas ou não, pobres e outras pessoas
consideradas indefesas pela comunidade, pelo motivo de elas serem consideras
símbolos da inocência. Por fim, aqueles que ousaram profanar esses inocentes
sofreram penas cruéis, por motivo de que nada venha a sobrar do agressor para que
este não possa ser lembrado.
O Estado Democrático de direito brasileiro ainda sofre mesmo com todo o
aparato que nossa constituição possui para extinguir esse tipo Justiça. Os motivos
seriam: a sensação de que fazer o que é correto não levará a nada e o ambiente
aonde se vive não apresenta um local desejado. Essas situações são observadas
nos casos já citados. No primeiro motivo quem acompanha notícias no meio de
comunicação verá que sempre tem informação sobre atos de desprezo às regras,
acompanhada disso vem a sensação de desesperança na Justiça Formal. Mesmo
que nossa Constituição diga que o direito tem como papel o de socializar todas as
camadas sociais é difícil crer que isso ocorra. Quem deseja recorrer aos órgãos
responsáveis pela distribuição da mesma deve preparar-se para enfrentar longas
batalhas judiciais para ver o seu bem da vida reconhecido, lógico que para tanto
deve haver recursos necessários para sustentar a campanha. Como de praxe, quem
não tem resta ver suas pretensões caírem por terra e, mesmo assim, o Estado
Democrático Brasileiro exigi deveres de seus cidadãos, e de contra partida pouco
oferece em troca. Na literatura e nas notícias a respeito o linchamento aparece como
um dos motivos de apelar pra a justiça frente ao descaso e à insensibilidade das
autoridades polícias sobre as queixas. É terrível quando suas súplicas por ajuda
caem em ouvidos surdos, pois como não fazem justiça com as próprias mãos após
ouvir respostas duras, e quando simplesmente o aparato age com lerdeza em suas
funções, demonstrando verdadeiramente ou não a falta de vontade restaurar a
32

ordem. Esses descasos e insensibilidades mostram à população quem ela não deve
chamar quando não houver mais esperança. Jacqueline Sinhoretto traz a opinião
que vai ao encontro com o que foi dito de uma moradora:

primeiro a gente tem que dar uma chance pra eles pra ver... eles têm que
tentar melhorar eles mesmo, né, procurar fazer algo de mais importante
pra... o pessoal voltar a ter confiança neles, porque o povo hoje em dia não
confia mais na polícia. Eles perderam todo... hoje em dia se uma pessoa
puder fazer justiça com as suas mão ela vai fazer, porque se ela for
depender da polícia... polícia não vai resolver nada! Hoje em dia a
população quer distância das polícia, quanto mais longe da polícia melhor.
Por quê? Porque em vez deles ajudar eles acabaram foi... colocando medo
nas pessoa. [...] Então, acho que é isso daí, enquanto a polícia agora não
mostrar alguma coisa boa pra população, ela não vai acreditar nas polícia
não! (SINHORETTO, 2010, p. 18-19).

O ambiente aonde se vive não apresenta um local desejado. Todos os casos


apresentados são em áreas de com pouca infraestrutura. É dever de nosso estado
oferecer saneamento básico, pois é estressante viver em uma área em que não há
iluminação pública, saneamento básico, calçamentos, segurança etc. isso mostra o
abandono estatal sobre a comunidade e é difícil exigir obediência de seus cidadãos
quando este não cria áreas confortáveis para viver.

3.3 Estado de Direito e Justiça Popular: linchamento nos EUA

Nesta seção será mostrado que a Justiça Popular não existe só no Brasil, mas
também em países de primeiro mundo. Primeiramente, o linchamento no Brasil
funciona de maneira diferente do que nos Estados Unidos. Em nosso país o
linchamento tem como base punir o crime de maneira cruel, enquanto que nos EUA
tem como base a segregação racial.
Nos primeiros momentos o linchamento nos EUA começou com comitês de
vigilância para manter a ordem durante a Guerra Civil. Foi criado pelo Coronel
Charles Lynch, que dirigiu um tribunal irregular, em 1782, para lidar com os
criminosos. Na zona de fronteira, a Justiça Popular, ao contrario do que a crença diz,
ocorre menos contra criminosos e mais por motivo de racismo. Nessa mesma crença
entra ideia de que por ser locais esmos, teria que ter resposta mais dura, mas não é
assim, visto que criminosos sob custódia eram atacados. O motivo seria de não
33

haver ausência de lei, mas sim uma instabilidade social das comunidades e de seus
primeiros concursos para condição de propriedade, bem como definição de ordem
social, um exemplo disso é o caso a seguir:

Em 1835 em Vicksburg, Mississippi, o povo voltou-se contra os jogadores


que dominavam a cidade. Uma multidão cercou uma taverna, que por sua
vez levou a um tiroteio com os jogadores. Depois de um médico local foi
morto no tumulto, cinco dos jogadores foram agredidos e pendurados em
portas. Seus corpos foram deixados lá por 24 horas antes que eles foram
levados para baixo e enterrado.
Animosidade e conflito aumentaram nos Estados Unidos durante os 30
anos anteriores à Guerra Civil. Onde existia a escravidão, o castigo dos
escravos tornou-se mais frequentes e mais graves, embora os casos
tenham dito ter sido esporádicos e isolados.
Em 1849, no vale do rio Gila, no que é agora o Arizona um assassino foi
julgado por um tribunal popular que consiste de um juiz ad hoc e júri e foi
executado por um pelotão de fuzilamento escolhidos por sorteio. Haverá
mais sobre esta espécie de tribunal de fronteira na seção de linchamento no
2
Ocidente (MURPHEY, 2011). (tradução nossa).

Após a Guerra Civil, durante a Reconstrução (1865-1877), o linchamento


tornou-se vinculado ao sul dos Estados Unidos com o aparecimento da primeira leva
da Ku Klux Klan, fundada em 1866. 1868 a 1871 foi período de grande quantidade
de linchamento no Sul, pois foi nessa época em que republicanos queriam impedir a
ratificação da Constituição, impedindo as pessoas de votarem. Para impedir a
votação foram usados meios para aterrorizar, mas que acabaram fracassando e,
assim, trouxeram a morte para 1300 pessoas durante as eleições de 1868. Após os
conflitos político-partidários, a Justiça Popular voltou-se para raça. Neste período,
retornou por um momento às patrulhas de escravos, grupos de brancos pobres que
perseguiam negros em busca da recompensa. Os objetivos de trazer a Justiça era
lembrar os mesmo de seu antigo lugar. Os linchadores faziam “batidas” nas casas
de pessoas de cor para confiscar suas armas. Em 1871, o presidente Ulysses S.
Grant e o congresso aprovaram uma lei banindo a Ku Klux Klan. Essa lei dava a
permissão de usar a lei marcial no estado da Carolina do Sul, pois era nesse local
onde a KKK era mais forte. Por causa dessa ação essa organização desapareceu,

2
“In 1835 in Vicksburg, Mississippi, the townspeople turned against the gamblers who dominated the
city. A crowd surrounded a tavern, which in turn led to a shoot-out with the gamblers. After a local
doctor was killed in the melee, five of the gamblers were beaten and hung in doorways. Their bodies
were left there for twenty-four hours before they were taken down and buried.
Animosity and conflict increased in the United States during the thirty years preceding the Civil War.
Where slavery existed, the punishment of slaves became more frequent and severe, although the
cases are said to have been sporadic and isolated.
In 1849 in the Gila River valley in what is now Arizona a murderer was tried by a popular tribunal
consisting of an ad hoc judge and jury and was executed by a firing squad chosen by lot. There will be
more about this sort of frontier tribunal in the section on lynching in the West”.
34

sendo retomada no inicio do séc. XX. Contudo, não era só no sul que o linchamento
com o tom racial existia, em Nova York os tumultos entre negros livres e imigrantes
irlandeses por causa da falta de emprego gerou onze mortes de negros.
Após 1876, a frequência de ocorrência de linchamento diminuiu para torna-se
um método de ameaça contra os negros e manter a ordem social racista. O
congresso americano nessa época abrigava muitos republicanos do sul que
procuravam proteger o direito de voto negro com ajuda das forças armadas. Houve
um acordo para eleger Rutherford B. Hayes como presidente em 1876, onde houve
a promessa de acabar com a reconstrução do sul. Isso se tornou em uma
provocação, porque os racistas brancos começaram a destruir o poder político que
os negros haviam conquistado durante a Reconstrução. Junto dessa reação foram
criadas as Leis Jim Crow, que entraram em vigor em 1876; sua revogação foi com o
Civil Rights Act, em 1964, que incluiu as leis que discriminavam negros os quais
ousavam ter sua presença nas escolas públicas, bem como utilização de
restaurantes, teatros, hotéis, cinemas e banheiros públicos. Trens e ônibus também
foram separados e, em muitos estados, o casamento entre brancos e negros foi
proibido. Para se ter uma noção de como essa lei funcionava, destaca-se:

Agnes Smedley, carta a Aino Taylor (7 de dezembro de 1942)


O tratamento dos negros no sul humilhou e envergonhou-me tão
profundamente que o meu sangue corre frio em minhas veias. Viajando de
ônibus, com a chuva, o motorista pediu uma dúzia de negros a recuar e
deixar duas belas mulheres brancas a bordo do primeiro. Vieram, então o
motorista viu que tinha sangue negro em suas veias – talvez seu cabelo
mostrou. O motorista deu um tapa na perna e chorava de tanto rir, e disse
aos passageiros brancos: "Não é que piada! Agora eu pensava que era
branco e eles são Nigger. É" As faces de t ele duas mulheres e de todos os
passageiros coloridas foram congelados. Minas congelou também. Alguns
dos passageiros brancos quebrou em um rir da piada.
Eu vi um branco soldado norte pedir um soldado coloridas para sentar-se
por ele e por último o fez, então o motorista parou o ônibus e disse:
"Levanta-te Nigger!" O soldado levantou-se colorida. O soldado branco
disse: "Ah inferno!" e levantou-se também. Mas tinha que soldado branco
não foi uniforme, não sei o que teria acontecido.
Agora, quando eu ouvi isso, eu deveria ter se levantou e matou o motorista.
Mas eu sentei lá petrificada, estava lá como um traidor da raça humana.
Fiquei pensando de que Jesus teria feito, e sabia que ele talvez tivesse se
permitiu ser morto. Eu não. Eu não fiz uma coisa por várias razões: porque
foi avisado uma dúzia de vezes por pessoas brancas que se eu fizesse
alguma coisa seriam as pessoas de cor que sofreu por isso. Todo o sul
sussurra, se a coisa menos irrompe. Em uma cidade na Geórgia, uma briga
começou na seção colorida da cidade. Tão grande é a tensão que no
minuto em que começou, a locomotiva do trem começou a Toot, o ataque
sirenes de ar saiu como se houvesse um ataque aéreo, carros e
motocicletas da polícia passaram pela rua, e ouvi o disparo de armas de
35

3
fogo. Uma briga de rua começa uma noite um alarme (SPARTACUS
EDUCATIONAL, 2011). (tradução nossa).

E:
Elizabeth Eckford foi um dos nove Africano estudantes americanos que
tentaram inscrever-se em Little Rock Central High School em setembro de
1957. Depois ela foi entrevistada sobre suas tentativas de entrar para a
escola no primeiro dia do prazo.
A multidão ficou em silêncio. Eu acho que eles estavam esperando para ver
o que ia acontecer. Quando eu era capaz de regular os meus joelhos, fui
até o guarda que tinha deixado os estudantes brancos dentro Quando eu
tentei espremer passado, ele ergueu a baioneta e, em seguida, os outros
guardas fechado e eles levantaram suas baionetas. Eles me olharam com
um olhar e dizer que eu estava muito assustado e não sabia o que fazer.
Eu me virei e da multidão veio em minha direção. Alguém começou a gritar
"linchar ela!"
Tentei encontrar um rosto amigo em algum lugar na multidão. Olhei para
ela novamente, ela cuspiu em mim. Eles se aproximaram, gritando: "Não
cadela nigger vai ficar na nossa escola! Saia daqui!" Então eu vi um banco
no ponto de ônibus. Quando cheguei lá, eu não acho que eu poderia ter ido
mais um passo. Sentei-me e a multidão aglomerada para cima e começou
a gritar novamente. Só então um homem branco se sentou ao meu lado,
colocou o braço em volta de mim e bateu no meu ombro. Ele levantou meu
4
queixo e disse: "Não deixe que eles te ver chorar" (SPARTACUS
EDUCATIONAL, 2011). (tradução nossa)

3
“Agnes Smedley, letter to Aino Taylor (7th December, 1942)
The treatment of Negroes in the south has humiliated and shamed me so deeply that my blood runs cold in
my veins. Traveling by bus, with the rain pouring, the driver ordered a dozen Negroes to step back and let
two handsome white women aboard first. They came on, then the driver saw they had Negro blood in their
veins - perhaps their hair showed it. The driver slapped his leg and bawled with laughter and said to the
white passengers: "Now ain't that a joke! I thought they was white and they are Niggers." The faces of t he
two women and of all the colored passengers were frozen. Mine froze too. Some of the white passengers
broke into a laugh at the joke.
I saw a northern white soldier ask a colored soldier to sit down by him and the latter did so; then the bus
driver stopped the bus and said: "Stand up. Nigger!" The colored soldier stood up. The white soldier said:
"Aw hell!" and stood up also. But had that white soldier not been in uniform, I don't know what would have
happened.
Now when I heard this, I should have stood up and killed the driver. But I sat there petrified, sat there like a
traitor to the human race. I kept thinking of what Jesus would have done, and knew that he would perhaps
have allowed Himself to be killed. I didn't. I didn't do a thing for many reasons: because I was warned a
dozen times by white people that if I did anything it would be the colored people who suffered for it. The
whole south whispers if the least thing breaks out. In one town in Georgia a fight started in the colored
section of the town. So great is the tension that the minute it started, the railway engine on the train began
to toot, the air-raid sirens went off as if there was an air raid, police cars and motorcycles roared through the
street, and I heard the firing of guns. A street fight starts such a night alarm.
4
Elizabeth Eckford was one of the nine African American students who tried to enroll at Little Rock Central
High School during September, 1957. She was later interviewed about her attempts to gain entry to the
school on the first day of term.
The crowd was quiet. I guess they were waiting to see what was going to happen. When I was able to
steady my knees, I walked up to the guard who had let the white students in. When I tried to squeeze past
him, he raised his bayonet and then the other guards closed in and they raised their bayonets. They glared
at me with a mean look and I was very frightened and didn't know what to do. I turned around and the crowd
came toward me. Someone started yelling "lynch her!"
I tried to find a friendly face somewhere in the mob. I looked at her again she spat on me. They came
closer, shouting, "No nigger bitch is going to get in our school! Get out of here!" Then I saw a bench at the
bus stop. When I got there, I don't think I could have gone another step. I sat down and the mob crowded
up and began shouting all over again. Just then a white man sat down beside me, put his arm around me
and patted my shoulder. He raised my chin and said, "Don't let them see you cry".
36

Apesar de que nessa época a grande maioria dos casos que envolvesse a
Justiça Popular eram negros, os imigrantes italianos também eram alvos. Em 1891,
onze imigrantes foram linchados em New Orleans Luisiana, por serem falsamente
acusados pelo assassinato do chefe de polícia da cidade.
A Ku Klux Klan retornou em 1915, graças ao linchamento de Leo Frank e o
lançamento do filme O nascimento de uma nação. Junto com o antigo objetivo, a
KKK teve nesse período ênfase sobre a violência contra imigrantes, judeus e
católicos, e Leo foi a fagulha, como é mostrado:

O assassinato em 1915, de gerente de fábrica Leo Frank, um judeu


americano, foi um dos linchamentos mais notório de uma organização não-
Africano-Americano. In sensationalistic newspaper accounts, Frank was
accused of fantastic sexual crimes, and of the murder of a Mary Phagan, a
girl employed by his factory. Nas contas do jornal sensacionalista, Frank foi
acusado de crimes de natureza sexual fantástica, e do assassinato de um
Maria Phagan, uma menina de empregado por sua fábrica. He was
convicted of murder after a questionable trial in Georgia (the judge asked
that Frank and his counsel not be present when the verdict was announced
due to the violent mob of people in the court house). Ele foi condenado por
assassinato depois de um julgamento questionável na Geórgia (o juiz pediu
que Frank e seu advogado estivessem presente quando o veredicto foi
anunciado, devido à turba violenta de pessoas na casa de corte). His
appeals failed (Supreme court justice Oliver Wendell Holmes dissented,
condemning the intimidation of the jury as failing to provide due process of
law). Seus apelos não (Corte Suprema de Justiça Oliver Wendell Holmes
discordou, condenando a intimidação do júri como deixar de fornecer o
devido processo legal). The governor then commuted his sentence to life
imprisonment, but a mob calling itself the Knights of Mary Phagan kidnapped
Frank from the prison farm, and lynched him. O governador, então sua
sentença comutada para prisão perpétua, mas uma multidão que se
autodenomina "Cavaleiros de Maria Phagan seqüestrado Frank da fazenda
prisão, e linchado ele. Ironically, the evidence in the murder actually pointed
to the factory's black janitor, Jim Conley, who had a criminal record, was
seen washing a bloody shirt, and repeatedly changed his story.
Ironicamente, as evidências do assassinato de fato apontado faxineiro
negro da fábrica, Jim Conley, que tinha antecedentes criminais, foi visto
lavando uma camisa ensanguentada, e repetidamente mudou sua história. It
later came out that Conley had confessed to three different people that he
had been Phagan's murderer. Veio mais tarde que Conley tinha confessado
a três pessoas diferentes que ele tinha sido o assassino Phagan's. Many
black Americans believed that the extensive national attention focused on
Frank as an "American Dreyfus"[6] would never havehappened if Frank had
been black. Muitos negros americanos acreditavam que o grande atenção
nacional sobre o Frank como um "American Dreyfus" nunca havehappened
se Frank havia sido negra (WIKIPEDIA ENCYCLOPEDIA, 2001). (tradução
nossa)

A partir desse incidente, o editor e político Tom Watson conseguiu reorganizar


a Ku Klux Klan. Em sua inauguração teve a participação dos antigos Klan junto com
os Cavaleiros de Maria Phagan. O filme O nascimento de uma nação (1995), de DW
37

Griffith, deu uma grande ajuda para reviver a organização. O motivo seria de que a
personagem Maria Phagan era a análoga Flora, pois uma foi estuprada a outra se
atirou do penhasco para evitar o mesmo destino.
Nas décadas que atingem a Primeira Guerra Mundial, os conflitos entre negros
e brancos aumentaram. Durante esse período o sul dos EUA se preocupava com os
negros após o retorno da guerra, assim, não quisessem reocupar pacificamente o
posto de segunda classe, enquanto o norte não gostava da onda de migração dos
negros vindos do sul, principalmente, quando estavam ocupando os posto de
trabalhos e suas residências. No verão de 1919, muito conhecido por “The Red
Summer”, nome dado por James Weldon Johnson, foi a época de maior violência
interracial que o país presenciou. Os motivos seriam de que nessa época houve
secas e chuvas torrenciais no sul rural, tornando as terras pouco lucrativas. Os
brancos para aliviar suas frustrações linchavam os negros e, com isso, as possíveis
vítimas iam para o norte em busca de melhor sorte. Quando chegavam, eram vistos
como concorrência pelos brancos. Para visualizar o que ocorria nesse verão veja:
Em 10 de maio de 1919, em Charleston, Carolina do Sul, espalhar rumores
sobre um incidente racial que envolve um oficial da Marinha e um homem
negro. Multidões de raiva militares brancos e veteranos, muitos dos quais
estavam armados e todos pareciam estar inspirados pela retórica do ódio,
invadiu um dos bairros predominantemente negros de Charleston.
Eventualmente, esta multidão estava fora de controle, e a polícia da cidade
chamado o comando naval de ajuda insubduing os desordeiros. Em certa
medida, a ordem foi restaurada, mas não antes de dois homens negros
foram mortos e muitos outros tinham sido espancadas ou feridos e feridos.
Em junho de 1919, John Hartfield foi linchado em Ellisville, Mississippi.
Hartfield, um violador alegado, tornou-se alvo de uma multidão enfurecida
branco e foi gravemente ferido. No início, sua vida foi poupada por meio
das boas graças de um médico no bairro, mas a retórica inflamada dos
jornais locais entraram em vigor. cidadãos Branca sentiu que a sua causa
tinha fundamento, além disso, alguns oficiais acreditam que a violência da
multidão jamais poderia ser extinto se a justiça não foi feita, neste caso,
"justiça" significava a morte de Hartfield. Hartfield foi enforcado, queimado,
e acabou baleado por membros de uma multidão de 3.000 manifestantes.
Um evento particularmente ameaçador ocorreu em Longview, Texas,
algumas semanas depois do incidente em Charleston. Em Longview, a
tensão racial começou a intensificar como resultado de preocupações
econômicas. Especificamente, os brancos tinham sido abaladas por
actividades do Negro National Business League, uma organização fundada
por Booker T. Washington para promover a produtividade econômica de
Africano americanos. A liga tinha incentivado os agricultores negros para
negociar acordos comerciais diretamente com seus compradores do
mercado em Galveston perto, no Texas, como resultado, os empresários
negros eram capazes de vender seus produtos a preços mais baixos do que
os brancos poderiam oferecer. O incidente começou quando o corpo nu e
mutilado de Lemuel Walters foi encontrado e os moradores negros, liderada
por membros da Liga, exigiu uma investigação. Logo se tornou evidente
que a polícia local não estava ativamente perseguindo a investigação, além
disso, os moradores negros expressaram preocupação de que a evidência
38

no caso seria destruída. A desconfiança entre as raças se intensificou.


Então, um jornal negro, o Defensor de Chicago, publicou um artigo
alegando que Walters tinha sido morto por uma multidão por causa de seu
amor por uma mulher branca, que a polícia de Longview se recusou a
investigar o assassinato, e que a polícia tinha realmente incentivou a
violência popular contra Walters. Em reação, um grupo de homens brancos
irado confrontado SL Jones, um agente local para o Defensor, e o acusou
de ter escrito o artigo, Jones negou a acusação, mas foi, no entanto,
severamente espancado. Ele procurou a ajuda de um médico local, PB
Davis, ele e Davis eram então pessoalmente ameaçado, mas eles se
recusaram a deixar Longview, e assim se tornou um alvo de violência racial
iminente. Na noite de 10 de Julho, a tensão entre esses dois homens e os
habitantes da cidade branca piorou, e vários cidadãos negros ajudaram
Jones e Davis preparar um ataque contra uma multidão que se aproximava.
Davis começou um tiroteio em que quatro homens foram mortos e outros
ficaram feridos. Brancos retaliou, queimando casas de moradores negros e
assassinar o pai de Davis-de-lei. Davis e Jones conseguiram escapar e,
eventualmente, a lei marcial foi imposta. Até lá, porém, muitos negros e
5
brancos tinham morrido (ENCYCLOPEDIA OF THE HARLEM
RENAISSANCE, 2004). (tradução nossa)

5
“On 10 May 1919, in Charleston, South Carolina, rumors spread about a racial incident involving a
naval officer and a black man. Mobs of angry white servicemen and veterans, of whom many were
armed and all seemed to be inspired by the rhetoric of hate, invaded one of Charleston’s
predominantly black neighborhoods. Eventually, this mob was out of control, and the city police called
the naval command for help insubduing the rioters. To a certain extent, order was restored, but not
before two black men had been killed and countless others had been beaten or otherwise wounded
and injured.
In June 1919, John Hartfield was lynched in Ellisville, Mississippi. Hartfield, an alleged rapist, became
the target of an angry white mob and was severely wounded. At first, his life was spared through the
good graces of a doctor in the neighborhood, but then the inflammatory rhetoric of local newspapers
took effect. White citizens felt that their cause was justified; moreover, some officials believed that mob
violence could never be quenched unless justice was done—in this case, “justice” meant Hartfield’s
death. Hartfield was hanged, burned, and eventually shot by members of a crowd of 3,000 rioters.
A particularly ominous event occurred in Longview, Texas, a few weeks after the incident in
Charleston. In Longview, racial tension had begun to intensify as a result of economic concerns.
Specifically, whites had been unsettled by the activities of the National Negro Business League, an
organization originally founded by Booker T. Washington to promote economic productivity for African
Americans. The league had encouraged black farmers to negotiate business deals directly with their
market buyers in nearby Galveston, Texas; as a result, black business owners were able to sell their
products at lower prices than whites could offer. The incident began when the naked, mutilated body
of Lemuel Walters was found and black residents, headed by members of the league, demanded an
investigation. It soon became apparent that the local police force was not actively pursuing the
investigation; furthermore, black residents expressed concern that evidence in the case would be
destroyed. Mistrust between the races intensified. Then a black newspaper, the Chicago Defender,
published an article alleging that Walters had been killed by a mob because of his love for a white
woman, that the police in Longview had refused to investigate the murder, and that the police had
actually encouraged the mob violence against Walters. In reaction, a group of irate white men
confronted S. L. Jones, a local agent for the Defender, and accused him of having written the article;
Jones denied the allegation but was nevertheless severely beaten. He sought the aid of a local
physician, C. P. Davis; he and Davis were then personally threatened, but they refused to leave
Longview, and they thus became a target of impending racial violence. On the night of 10 July, tension
between these two men and the white townspeople worsened, and several black citizens helped
Jones and Davis prepare an assault against an approaching mob. Davis started a shootout in which
four men were killed and others were wounded. Whites retaliated by burning black residents’ homes
and murdering Davis’s father-in-law. Davis and Jones managed to escape, and martial law was
eventually imposed. By then, however, many blacks and whites had died”.
39

Após a Segunda Guerra Mundial, o governo americano começou a tomar


medidas contra o linchamento. Em 1946, a Seção de Direitos Civis do Departamento
de Justiça teve a sua primeira vitória contra a Justiça Popular. O policial da Flórida,
Tom Crew, foi condenado a uma multa de $1000 e um ano de prisão por violações
dos direitos civis na morte de um trabalhador rural negro. Nesse mesmo ano grupos
de homens atacaram jovens negros perto da ponte Moore's Ford. Tal ato selvagem
foi o ponto de partida para o presidente Truman fazer com que os direitos civis
fossem prioridade em sua administração. Na era da Guerra fria, a União Soviética
usou a existência do linchamento em solo americano como propaganda negativa.
Isso se tornou motivo de vergonha para o governo americano, infelizmente, por
causa da exploração do linchamento pela URSS, os de estrema direita no governo
americano começaram a acusar todos os grupos anti-linchamento de “comunistas”.
Em 1981, a KKK no Alabama, matou o negro Michael Donald por vingança
contra a absolvição de um júri de um homem negro acusado de assassinar um
policial. Os Klans foram presos e tiveram de pagar 7 milhões em um termo civil. Isso
resultou na venda de todos os ativos da organização.
Esse modelo de Justiça Popular nos EUA tem como motivos os aspectos
econômicos e os sociais. O aspecto econômico gira em torno dos brancos pobres
que viam a prosperidade de seus vizinhos de cor, porém não era bem visto essa
provocação, visto que eles ousaram competir e vencer, e, através do linchamento,
poderiam recuperar o que foi conquistado pelos atrevidos negros. Na ótica social o
linchamento americano seria por motivo de que os brancos temiam que o negro
saísse do seu lugar, como pessoa de segunda classe. Nessa visão, os brancos
usavam o linchamento como forma de proteção do status quo de manter os “nigger”
em seu devido lugar.
As pessoas que participavam dessa justiça eram homens empobrecidos de
pequenas cidades rurais e de baixa educação, cujas vidas eram monótonas. Suas
vidas eram duras e ainda tinham que lidar com concorrência de quem os via como
inferior. Unindo essas características não é difícil ver uma multidão levantando-se
facilmente para matança. Não eram só pobres sulistas que participavam das classes
inferiores e que não davam o seu apoio moral, a polícia local raramente fazia alguma
coisa para proteger as vítimas, quando não dava apoio. Como exemplo:

A East St. Louis, Illinois, em 1917, motim foi desencadeado pelo medo de
homens brancos e negros de trabalho que os avanços na situação
40

econômica, política e social estavam ameaçando a sua própria situação.


Quando a força de trabalho de uma fábrica de alumínio entraram em greve
em abril, a empresa contratou trabalhadores negros. Embora a greve foi
esmagada por uma combinação de milícia, injunções e preto e branco fura-
greves, o sindicato culpou sua derrota na Negros. Uma reunião da União
maio exigiu que "East St. Louis deve permanecer uma cidade do homem
branco." Um motim seguiu, provocada por um homem branco, durante os
quais mobs edifícios demolidos e os negros foram agredidos e espancados.
Policiais pouco mais fez do que levar os feridos para hospitais e desarmar
6
os negros. Perseguições e as agressões continuaram até junho. (GIBSON,
1979). (tradução nossa)

Os crimes que causavam a perseguição, além de simplesmente existir são:


roubo, furto, ofensa a pessoa branca, testemunho contra branco, pedindo em
casamento uma mulher branca tentativa de estupro e estupro. Esses dois últimos
itens merecem ser vistos com mais cuidado, pois esses feitos tornaram-se uma parte
importante para a defesa do linchamento, visto que o homem branco tinha horror de
que um negro possui-se uma mulher branca.
Os métodos de execução da justiça são através de espancamentos, cortando
dedos, queimando casas, castração e homicídio. O homicídio era a forma mais
comum da sentença dada pelos linchadores, tendo apoio das autoridades policiais,
deixando as vítimas em situação que não pudesse escapar. A grande maioria dos
linchamentos terminou com enforcamento, antes da básica tortura. Muitas vezes os
infelizes eram linchados por um pequeno grupo de vigilantes brancos de noite. As
crianças eram levadas para ver a aplicação da justiça, como forma de doutrinação.
O meio de comunicação era chamado quando tinha o linchamento, às vezes até
antes para que este pudesse se preparar. Isso era popular a ponto de ser cartão
postal de algumas localidades, conforme a figura abaixo:

6
“The East St. Louis, Illinois riot in 1917 was touched off by the fear of white working men that Negro
advances in economic, political and social status were threatening their own status. When the labor
force of an aluminum plant went on strike in April, the company hired Negro workers. Although the
strike was crushed by a combination of militia, injunctions, and both Black and white strike breakers,
the union blamed its defeat on the Blacks. A union meeting in May demanded that “East St. Louis
must remain a white man’s town.” A riot followed, sparked by a white man, during which mobs
demolished buildings and Blacks were attacked and beaten. Policemen did little more than take the
injured to hospitals and disarm Negroes. Harassments and beatings continued through June”.
41

Um cartão postal mostrando o corpo queimado de Jesse


Washington, Waco, Texas, 1916. Washington era um colono de 17
anos de idade retardado que confessou ter estuprado e matado
uma mulher branca. Ele foi castrado, mutilado e queimado vivo por
uma multidão aplaudindo, que incluiu o prefeito e o chefe de
polícia. Um observador escreveu que "Washington foi espancado
com pás e tijolos... [Ele] foi castrado, e suas orelhas eram cortadas.
Uma árvore de suporte da cadeia de ferro que o levantou acima do
fogo... Das Lamentações, o menino tentou subir a cadeia frigideira
quente. Para isso, os homens cortaram-lhe os dedos. "Esta
imagem é de um postal que dizia nas costas: "Este é o churrasco
da noite passada. Minha foto está à esquerda com uma cruz sobre
7
ele. Seu filho, Joe" .

Figura 1 – Jesse Washington


Origem: THE NATIONAL GREAT BLACKS IN WAX MUSEUM, 2011. (tradução nossa)

Aquele que participava do feito tinham grande chance de não ser preso, porque
poucos eram condenados por participarem, visto que o júri era tipicamente branco e

7
“A postcard showing the burned body of Jesse Washington, Waco, Texas, 1916. Washington was a
17-year-old retarded farmhand who had confessed to raping and killing a white woman. He was
castrated, mutilated, and burned alive by a cheering mob that included the mayor and the chief of
police. An observer wrote that "Washington was beaten with shovels and bricks […] [he] was
castrated, and his ears were cut off. A tree supported the iron chain that lifted him above the fire […]
Wailing, the boy attempted to climb up the skillet hot chain. For this, the men cut off his fingers." This
image is from a postcard, which said on the back, "This is the barbeque we had last night. My picture
is to the left with a cross over it. Your son, Joe".
42

não votaria em condenar o linchador, muito menos o legislador faria algo, pois
correria o risco de não ser eleito no próximo mandato. A seguir apresenta-se um
exemplo de apoio:

[...] 1892 em Port Jervis, Nova Iorque, um policial tentou impedir o


linchamento de um homem negro que foi revelado após sua morte, tinha
sido injustamente acusado de agredir uma mulher branca. A multidão
respondeu, colocando a corda em volta do pescoço do próprio diretor como
uma forma de assustá-lo. No inquérito do legista, o gestor identificou oito
pessoas que haviam participado do linchamento, incluindo o ex-chefe de
polícia, mas o júri do legista concluiu que o assassinato tinha sido realizada
8
"por pessoa ou pessoas desconhecidas". (THE NATIONAL GREAT
BLACKS IN WAX MUSEUM, 2011). (tradução nossa).

Nem sempre as vítimas ficavam quietas. Elas decidiam responder com


violência retaliatória, migração para o norte e protesto não-violentos. A primeira
opção parecia ser adequada, mas levava a mais linchamento e violência, mesmo
assim eles ainda acabam sendo derrotados. Na segunda, acontecia a migração para
o norte. Entre 1910 a 1920 houve mais de quinhentos mil fugitivos da opressão
social e política do sul. Em contrapartida, encontraram no norte imigrantes europeus
que não gostavam da concorrência de pessoas de cor. A última opção trata-se dos
protestos não-violentos cujo objetivo era de educar a opinião pública sobre a
barbárie do linchamento e a aprovação de legislação federal anti-linchamento. Os
lideres negros consideram essas leis uma arma eficaz contra a violência das
multidões.
Em 13 de junho de 2005, o senado dos Estados Unidos pediu desculpas por
seus fracassos nas décadas anteriores e promulgou uma lei federal anti-
linchamento, que foi vítima dos interesses dos senadores do sul.

8
“[…] in Port Jervis, New York, a policeman tried to stop the lynching of a black man who, it was
revealed after his death, had been wrongfully accused of assaulting a white woman. The mob
responded by putting the noose around the officer's own neck as a way of scaring him off. At the
coroner's inquest, the officer identified eight people who had participated in the lynching, including the
former chief of police, but the coroner's jury found that the murder had been carried out "by person or
persons unknown".
43

4 CONCLUSÃO

Nesta consideração podemos dizer que a Justiça Popular irá aparecer quando
o estado não cumprir sua obrigação. Portanto, deve o estado se debruçar para
resolver problemas que possam vir a aparecer, pois nada adianta colocar em sua
constituição todos os direitos de seus cidadãos se não os cumprir.
A doutrina sempre aponta que umas das causas para que a Justiça Popular se
manifeste é através de locais precários e do descaso de seus agentes da ordem,
porque não basta ter mecanismo de justiça eficaz se ele deve trazer satisfação de
um julgamento correto; não o sendo, trará insatisfação e sensação de impunidade.
Não se esquecendo de que a justiça aparece no país considerado de primeira
grandeza, como nos Estados Unidos. Nesse país o linchamento se dá não por causa
de crimes de sangue, mas pelo simples medo que uma cor tem da outra.
44

REFERÊNCIAS

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