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Teorias da aprendizagem

Caracterização da aprendizagem
Teorias da aprendizagem
Teorias behavioristas
Teorias cognitivistas
Teorias humanistas
Caracterização da aprendizagem
O que é a aprendizagem?
Mudança num indivíduo causada pela experiência
(Mazur, 1990)

Construção pessoal, resultante de um processo


experiencial, interior à pessoa e que se traduz numa
modificação de comportamento relativamente estável
(Tavares & Alarcão, 2002)

A aprendizagem avalia-se através dos seus efeitos, isto é,


das modificações que ela opera no comportamento
exterior, observável do sujeito (Tavares & Alarcão,
2002)
Teorias behavioristas
Behaviorismo
O behaviorismo é uma tentativa de compreender o
comportamento em termos das relações entre os
estímulos observáveis (acontecimentos no meio
ambiente) e respostas observáveis (acções
comportamentais) e respectivas consequências e
acontecimentos contingentes/consequentes

“A psicologia, da maneira como é vista pelo behaviorista,


constitui-se como um ramo objectivo da Ciência Natural.
O seu objectivo teórico é a predição e o controlo do
comportamento. A introspecção não é parte essencial
dos seus métodos…” (Watson, 1913)
Behaviorismo
O estudo do comportamento consiste em estabelecer as relações
entre os estímulos e as respostas.
E R

Estímulo: conjunto de excitações que agem sobre o organismo


(meio externo / meio interno)
Resposta: reacção muscular ou glandular (explícitas / implícitas)

O comportamento (conjunto de respostas objectivamente


observáveis) é determinado por um conjunto complexo de
estímulos (situação) provenientes do meio físico ou social em
que o organismo se insere

R = f (S)
Behaviorismo – limitações

Para uma mesma situação, podem surgir reacções


diversas…
O mesmo sujeito, perante a mesma situação, pode
apresentar reacções diversas…
Situações diferentes podem desencadear o mesmo
tipo de resposta…
“Dêem-me uma dúzia de crianças sadias, bem
constituídos e a espécie de mundo que preciso para
as educar, e eu garanto que, tomando qualquer
uma delas, ao acaso, prepará-la-ei para se tornar
um especialista que eu seleccione: um médico, um
comerciante, um advogado e, sim até um pedinte ou
ladrão, independentemente dos seus talentos,
inclinações, tendências, aptidões, assim como da
profissão e da raça dos seus antepassados.”
(Watson, 1928)
Pavlov e o condicionamento clássico
Antes do condicionamento

Estímulo neutro – campainha Não há resposta

Estímulo incondicionado – carne Resposta não condicionada – salivação


Durante o condicionamento

Estímulo neutro – campainha


+ Resposta não condicionada – salivação
Estímulo incondicionado – carne

Após o condicionamento

Estímulo condicionado – campainha Resposta condicionada – salivação


Extinção: diminuição e/ou extinção da resposta condicionada
devido à ausência do estímulo não condicionado (quando a
campainha toca repetidas vezes, sem apresentar carne, o cão
saliva cada vez menos, até deixar de salivar)

Recuperação espontânea: depois da resposta condicionada se


extinguir, se se tocar a campainha, após um tempo de descanso, o
cão volta a salivar, ainda que de forma mais atenuada

Generalização: tendência para responder a estímulos semelhantes


ao estímulo condicionado

Discriminação: capacidade de um indivíduo, que emite uma


resposta condicionada a um determinado estímulo, não responder a
estímulos semelhantes
Thorndike e a lei do efeito

Aprendizagem por tentativas e erros


Lei do efeito: se um comportamento é seguido de uma mudança satisfatória
no meio ambiente (recompensa), a probabilidade de que esse
comportamento venha a ser repetido em situações semelhantes aumenta. No
entanto, se o comportamento é seguido de uma mudança insatisfatória do
meio ambiente (punição), as hipóteses de que esse comportamento venha a
ser repetido diminuem

Lei do exercício ou frequência (lei do uso e do desuso): quanto mais uma


conexão estímulo-resposta for utilizada, mais forte se tornará; quanto menos
for utilizada, mais fraca se tornará. Mais tarde, Thorndike vai esclarecer que
a repetição de um comportamento, por si só, não conduz à aprendizagem.
Para que ocorra aprendizagem, é necessário que esta repetição do
comportamento seja acompanhada de resultados positivos, o que remete
para a lei do efeito como principal abordagem para a aprendizagem

Lei da maturidade específica: para que ocorra aprendizagem, é necessário


que um organismo esteja preparado para estabelecer a conexão entre o
estímulo e a resposta; caso contrário, o resultado não será agradável e a
aprendizagem não acontecerá
Skinner
O comportamento muda de acordo com as suas
consequências imediatas

Reforço: consequências que fortalecem o comportamento


Reforço positivo: o estímulo cuja presença serve para manter
ou fortalecer a resposta
Reforço negativo: a eliminação de um estímulo que põe fim a
uma situação aversiva e que serve para manter ou fortalecer
a resposta

Punição: consequências que enfraquecem o


comportamento, através da aplicação de um estímulo
negativo ou pela suspensão de um estímulo positivo
Programa de razão fixa: programa de reforço em que o comportamento
desejado é reforçado depois de um número fixo de comportamentos ter
ocorrido

Programa de razão variável: programa de reforço em que o comportamento


desejado é reforçado depois de um número imprevisivel de comportamentos
ter ocorrido

Programa de intervalo fixo: programa de reforço em que o comportamento


desejado é reforçado depois de um intervalo de tempo previamente
determinado

Programa de intervalo variável: programa de reforço em que o


comportamento desejado é reforçado depois de períodos de tempo
variáveis
Teorias cognitivistas
As teorias gestaltistas
Gestaltismo – o indivíduo interpreta e organiza o que se
passa à sua volta em termos de conjuntos e não de
elementos isolados. Estudar e conhecer um elemento
isolado não teria assim qualquer significado, já que os
elementos fazem sempre parte de um contexto, isto é,
de um todo

O todo não é equivalente à soma das partes – o todo é


tão diferente da soma das partes que pensar em
termos sumativos significa alcançar uma visão pobre e
distorcida da realidade
1. A solução para o problema surge de repente e como uma
espécie de intuição. A aprendizagem intuitiva seria muito
comum na aprendizagem humana, por expressar a
capacidade, perante novas situações, de descobrir por si
próprio soluções de modo repentino para resolver novos
problemas – experiência do “Ah!” ou do “Oh, já sei!”
2. A solução parece estável e susceptível de ser aplicada em
situações mais ou menos semelhantes
3. A solução surge porque o sujeito compreendeu a relação
entre os diferentes elementos da situação no seu conjunto,
isto é, houve uma alteração súbita na forma como o
campo perceptivo passou a ser encarado pelo sujeito
Piaget e a teoria do desenvolvimento
cognitivo
Estuda os processos cognitivos do conhecimento e
tenta encontrar um modelo capaz de explicar a sua
génese, a sua estrutura e as suas transformações

A mente não é nem uma tábua rasa em que o


conhecimento pode ser gravado, nem um espelho
que reflecte o que percebe
Assimilação Acomodação
Da experiência à Da mente à
mente experiência

Equilibração
Estados de equilibrio
de adaptação cada
vez mais estáveis e
complexos
Assimilação: consiste em interpretar novas
experiências em termos das estruturas mentais
existentes sem que estas se alterem
Acomodação: consiste em alterar as estruturas
mentais existentes para integrar novas experiências
Equilibração: processo de procura de equilibrio
entre a assimilação e a acomodação para eliminar
inconsistências ou faltas entre a realidade e a
representação da mesma
Critérios a que obedecem os estádios

1. A ordem de sucessão dos estádios é constante,


embora as idades médias que os caracterizam
possam variar de um indivíduo para o outro
2. Cada estádio é caracterizado por uma estrutura de
conjunto em função da qual se explicam as principais
reacções particulares
3. As estruturas de conjunto são integrativas e não se
substituem umas às outras: cada uma delas resulta da
precendente, integrando-a na qualidade de estrutura
subordinada, e prepara a seguinte, integrando-se
nela mais cedo ou mais tarde
Teorias humanistas
O movimento humanista, no que se refere à
aprendizagem, surge mais como uma reacção
contra algumas das teorias da aprendizagem
existentes e da forma como a aprendizagem se
realiza do que como uma teoria bem formulada e
consistente (Tavares & Alarcão, 2002)
Carl Rogers
A pessoa é valorizada, considerada naturalmente
boa, detentora de um potencial de crescimento
pessoal, com capacidade para se desenvolver
numa busca contínua de auto-realização

Requisitos:
Congruência (ser autêntico)
Empatia (compreender os seus sentimentos)
Respeito (consideração positiva incondicional)
“Por aprendizagem significativa entendo uma aprendizagem que
é mais do que uma acumulação de factos. É uma
aprendizagem que provoca uma modificação, quer seja no
comportamento do indivíduo, na orientação futura que escolhe
ou nas suas atitudes e personalidade. É uma aprendizagem
penetrante, que não se limita a um aumento de conhecimentos,
mas que penetra profundamente todas as parcelas da sua
existência” (Rogers, 1970)
Abraham Maslow

Teoria da auto-realização: toda a espécie humana


tem as mesmas necessidades psicológicas. O homem
expande as suas necessidades no decorrer da sua
vida e à medida que as necessidades mais básicas
vão sendo satisfeitas, outras mais elevadas
assumem o predomínio do seu comportamento
Pirâmide das necessidades
Necessidades
de auto-
realização

Necessidades de
estima

Necessidades de afecto e
pertença

Necessidades de segurança

Necessidades fisiológicas (fome, cansaço, sono,


desejo sexual)
Implicações para a educação
Teorias behavioristas - Implicações
para a educação
1. Definir, com a maior exactidão possível, os objectivos finais da
aprendizagem
2. Analisar as estruturas das tarefas de modo a determinar os
objectivos de percurso
3. Estruturar o ensino em unidades muito pequenas, de forma a
permitir um melhor condicionamento do aluno e conduzi-lo através
de experiências positivas de aprendizagem
4. Apresentar estímulos capazes de suscitar reacções adequadas
5. Evitar as ocasiões de erro e, no caso de ele vir a ocorrer, ignorá-
lo o mais possível ou puni-lo, de modo a evitar a instalação de
hábitos errados
6. Proporcionar aos alunos conhecimentos dos resultados obtidos e
retroalimentação adequada
7. Recompensar, retirar recompensas ou punir os alunos de acordo
com a natureza dos seus comportamentos e em relação à
aprendizagem desejada
Técnicas de ensino

exercícios de repetição
ensino individualizado de tipo programado
demonstrações de actividades a imitar sem serem
acompanhadas de grandes explicações
Teorias cognitivistas – implicações para
a educação
1. Motivar o aluno para a aprendizagem, relacionando-a com as suas necessidades
pessoais e os objectivos da própria aprendizagem
2. Reconhecer que a estrutura cognitiva do educando depende da sua visão do mundo
e das experiências que ele teve anteriormente
3. Adequar o ensino ao nível do desenvolvimento dos alunos e ajudá-los a relacionar
conhecimentos e habilidades novas com conhecimentos e habilidades que tenham
previamente adquirido
4. Ajudar o aluno a perceber a estrutura da tarefa a aprender e a estrutura da sua
própria aprendizagem, informando-o sobre a tarefa de aprendizagem que lhe é
proposta e apresentando-a na sua estrutura, na sua totalidade, nos seus elementos
vários e nas relações das suas partes com o todo
5. Fornecer informações, indicar factos, abrir pistas que facilitem a compreensão, a
organização e a retenção dos conhecimentos
6. Não pedir ao aluno que decore sem compreender aquilo que ele tem possibilidade
de compreender antes de decorar
7. Começar o ensino por conjuntos significativos e descer gradualmente aos pormenores,
que devem ser devidamente relacionados com o conjunto
8. Não equacionar prática com repetição, mas concebê-la como uma série de tentativas
sucessivas e variadas que facilitem a transferência de habilidades e conhecimentos na
sua aplicação a situações novas.
Técnicas de ensino
ensino pela descoberta
ensino pela descoberta guiada
apresentação de sumários
introduções
questionários orientadores
questionários de revisão
esquemas
objectivos
discussões e trabalhos de grupo
estudo de casos
Piaget e o desenvolvimento cognitivo –
implicações para a educação
Foco no processo de pensamento da criança, e não apenas
nos seus produtos. Para além da correcção das respostas
das crianças, os professores deverão tentar compreender os
processos que as crianças utilizam para conseguir encontrar
as respostas
Reconhecimento do papel primordial da auto-iniciativa e da
participação activa da crianças nas actividades de
aprendizagem
Ideia de que as práticas educativas não deverão ter como
objectivo pôr as crianças a pensar como os adultos
Aceitação das diferenças individuais na progressão no
desenvolvimento
Carl Rogers – implicações para a
educação
1. Não-directividade do professor
2. Responsabilidade do educando pela própria
aprendizagem
3. Inexistência de avaliação, recompensa e punição
4. Liberdade sem limites
5. Indisciplina
6. Individualismo
7. Preparação académica insuficiente

Todo o aluno tem uma tendência natural para a


aprendizagem e para o estabelecimento de relações
interpessoais construtivas?
Teorias humanistas – implicações para
a educação
1. Preocupação com a aprendizagem numa perspectiva de desenvolvimento da
pessoa humana, mais do que preocupação com o ensino
2. Centrar a aprendizagem no aluno, nas suas necessidades, na sua vontade,
nos seus sentimentos (e não no professor, nos objectivos bem definidos ou nos
conteúdos programáticos)
3. Desenvolver no educando a responsabilidade pela auto-aprendizagem e
incutir um espírito de auto-avaliação
4. Centrar a aprendizagem em actividades e experiências significativas para o
educando
5. Desenvolver as relações interpessoais, empáticas, no interior do grupo
6. Ensinar também a sentir e não apenas a pensar
7. Ensinar a aprender
8. Criar uma atmosfera emocional positiva que ajude o educando a integrar
novas experiências e novas ideias
9. Promover uma aprendizagem activa, orientada para um processo de
descoberta, autónomo e reflectido
10. Implementar um sistema escolar que permita atingir estes objectivos
Técnicas de ensino

ensino individualizado
técnicas de trabalho de grupo: discussões, debates,
painéis, simulações, jogos de papéis (“role-
playing”)
Técnicas de resolução de problemas

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