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Quer se olhe para o lado direito ou para o lado esquerdo de uma estrada de
Mutum, é provável que o observador encontre um pasto ou um área de fazenda. Caso
esse olhar dirigido às paisagens em Mutum seja um pouco mais curioso e mais
demorado, é possível que reconheça-se certas especificidades nas imagens que remetem
imediatamente a uma área de fazenda ou a um pasto. Com um pouco de atenção, é
possível notar propriedades de tamanho medio ou pequenas que apresentam casa com
quintal anexo com bananeiras e árvores frutíferas, pequeno curral, antena parabólica,
área com pé de côco e com plantação de milho. Às vezes, essas propriedades
apresentam pequenos jardins defronte a casa. A referência é clara: trata-se de pequenos
sítios ou de chácaras em que se desenvolvem, em pequena escala, atividades
agropecuárias.
Figura 1- Estrada de chão em Mutum em que é possível avistar uma área de sítio indiciada por pequeno
curral de telha do tipo colonial e árvores frutíferas em quintal. Foto produzida durante trabalho de campo
Geralmente, os sítios possuem acesso fácil e, por isso, são facilmente avistáveis
da beira da estrada. Avançando por estradas que apresentam propriedades com estas
configurações, percebe-se que as propriedades em geral são pequenas, por vezes
intercaladas com pastos, mas delimitadas por cercas de mourão e arame farpado. Os
sítios também surgem como propriedades um pouco mais estruturadas, mas são minoria.
Neste caso, são compostos por casa de mais de um pavimento, e área destinada ao lazer,
como campo de futebol, tal como aparece na figura 2.
Figura 2- Sítio com curral e casa de dois andares, além de campo de futebol à esquerda.
Foto produzida durante trabalho de campo
Figura 4- Sítio com coqueiral e área murada com casa, árvores frondosas e bananeira.
Foto produzida durante trabalho de campo.
A paisagem de sítios remete a um passado que não mais existe, à época em que
havia muitas dificuldades, mas que as pessoas tinham capacidades de suprir as
demandas por alimentação por meio da agricultura. Os produtos consumidos pela
população de Mutum, principalmente os alimentícios, eram todos encontrados no
mercado local. De acordo com os entrevistados, os fatores para tais mudanças são
múltiplos, tal como destacado anteriormente por Edilson, que se refere à disponibilidade
do arroz por um preço baixo possibilitado pela agricutura mecanizada do sul.
Para Nelita de Oliveira, as razões do enfraquecimento da agricultura familiar
são, também, outras: “Aqui é muito difícil porque parece que a aposentadoria veio
trazer uma força pro pessoal e tá sendo um fracasso porque hoje tem muitas famílias
que não fazem nada, só vive de aposentadoria e aqui passando dificuldade. Não planta
um tantinho de feijão, não planta uma horta, não cria um frango, não cria um porco.
Nós aqui mexemos com tudo, nós não compramos galinha, não compramos ovo, nem
porco. Esse ano meu marido plantou feijão e colheu dois sacos e meio. Mas assim, ele
pagou para plantar, para capinar, para arrancar, que já não aguenta mais, ele tá com
74 anos, mas a gente gosta de mexer, eu tenho a minha hortinha”. (Depoimento de
Nelita de Oliveira, aposentada, moradora de Santa Rita. Julho/2019). É de se pensar que
as transformações que essa mudança na relação com a agricultura familiar como
principal fonte de subsistência impactou a paisagem local nas últimas décadas e que a
paisagem de sítios era mais abrangente e comum no município.
Figura 7- Sítio em Santa Maria/Mutum. Fotografia de Elpídio Justino. Apesar da fotografia ser de mais de
10 anos atrás, apresenta traços em comum com a paisagem observada durante o trabalho de campo.
Disponível em: https://www.facebook.com/pg/SoPaisagens. Acesso em 01/08/2019.
Por um lado, o orgulho de manutenção de práticas de plantio que auxiliam às
famílias a obterem ao menos parte do que necessitam para comer e, portanto, para
sobreviver. Por outro lado, a perspectiva das dificuldades de se viver na roça, sobretudo
para as gerações mais novas para as quais as oportunidades de estudo e emprego são
reduzidíssimas. Mesmo assim, os entrevistados relatam as iniciativas de resistência e
observam algumas possibilidades de “saída” para a situação nas áreas rurais. Genilson
Tadeu, secretário de meio ambiente de Mutum, pontua: “ Tem uma associação de
hortifruti, que é a turma que faz a feirinha aqui da cidade. São coisas que andam ainda
pouco estruturadas, mas tem tido um bom desenvolvimento, sabe? Por esforço e mérito
do próprio produtor, entendeu? A presença do Estado existe, mas ela é muito pequena
ainda, muito aquém da necessidade...” (Depoimento de Genilson Tadeu, Secretário de
Meio Ambiente de Mutum, moradora de Mutum. Julho/2019).
Há também quem enxerga que os jovens desejam ficar nas áreas rurais, em um
futuro não tão distante. Alessandra Mariana, diretora de escola em Humaitá, ressalta que
dentre os jovens: “ (…) a maioria tem perspectiva de permanecer na região com o
cultivo familiar nas pequenas propriedades. Uns tem o sonho de trabalhar, uns
conciliam o estudo já partindo para um ensino medio eles aumentam responsabilidade
com algum trabalho porque querem adquirir uma moto, ou um carro, ou alguns ter a
própria lavoura, tem também esse sonho, outros de ir embora e a maioria de
permanecer na região”.(Depoimento de Alesssandra Mariana, professora, moradora de
Humaitá. Julho/2019).