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EXMO. SR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA


DO ESTADO DE SÃO PAULO.

Apelação n°.: 992.08.065117-7

BANCO SEMEAR S.A, já devidamente qualificada nos autos do processo em epígrafe,


vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., apresentar

CONTRARRAZÕES AO RECURSO ESPECIAL

interposto por C&M SOFTWARE LTDA., pelas razões a seguir expostas, requerendo
sejam estas recebidas e processadas, pelos fundamentos abaixo expostos.

Nestes termos,
Pede deferimento.

De Belo Horizonte para São Paulo, 17 de abril de 2020.

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DANIELA CAMILLO ROQUE


OAB/SP: 212.136
CONTRARRAZÕES

RECORRENTE: C&M SOFTWARE LTDA

RECORRIDO: BANCO SEMEAR S.A

Colenda Turma Julgadora,

1. DA SÍNTESE DOS AUTOS

Versam os autos sob comento acerca de Ação de Rescisão Contratual c/c


Cobrança de Serviços Prestados, ajuizada pela Recorrente em detrimento do Recorrido,
em que a C&M Software LTDA pleiteava a resolução do vínculo previsto no Instrumento
de Dação em Pagamento por suposto descumprimento por parte do Banco Semear S/A1.

Atendo-se ao conjunto probatório acostado aos autos, denota-se que o


Juízo de Primeira Instância houve por bem julgar improcedente o pedido exordial,
notadamente porquanto não teria verificado qualquer hipótese de desacordo comercial
por parte do Banco Semear S/A. Confira-se (fl. 244):

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Antigo Banco Emblema S/A.
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Em face do exposto JULGO IMPROCEDENTE a presente ação.

Na mesma linha de raciocínio, denota-se que o Egrégio Tribunal de Justiça


do Estado de São Paulo houve por chancelar a aludida decisão, quando do julgamento da
Apelação Cível n°. 992.08.0651177, em que aquela E. Corte optou por negar provimento
ao Recurso, ante a inocorrência de descumprimento contratual, senão veja-se:

Dessa forma, é incontroverso que o apelado deu fiel cumprimento


às disposições contratuais, que afasta os pedidos de rescisão
contratual e cobrança.

[...]

Isto posto, dou parcial provimento ao recurso, tão somente para


afastar a condenação referida.

Compulsando o aludido aresto, verifica-se que o E. Tribunal Estadual


concluiu pela inexistência de provas que induzissem à ocorrência de transgressão a
qualquer das cláusulas contratuais contidas no Instrumento de Dação em Pagamento,
razão pela qual reputou insubsistentes os argumentos contidos não peça recursal.

Irresignada, a C&M Software LTDA interpôs o presente Recurso Especial,


com fulcros nos permissivos constitucionais contidos no art. 105, III, “a”, por ter o Acórdão
recorrido implicitamente negado vigência ao art. 1.226 do Código Civil.

Ali, alegou que a ocorrência de uma interpretação simplista do dispositivo


em comento, na medida em que o julgado em apreço entendeu que a simples tradição
transferiria a propriedade de bens móveis, o que não poderia ocorrer na hipótese em
apreço.

Entrementes, a despeito do que restou argumentado em sede de Recurso


Especial, não há sequer que se admitir o seu respectivo conhecimento, considerando que
a análise de seu mérito esbarraria necessariamente nos óbices insculpidos nas súmulas
05 e 07 do Colendo Superior Tribunal de Justiça, consoante restará detalhadamente
demonstrado a seguir, eis que o Aresto Estadual concluiu expressamente pela
inocorrência de descumprimento contratual, na hipótese versada nos autos.

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Ademais, não se pode olvidar que as razões ali contidas não perfilam a
melhor interpretação dada aos contratos em geral, bem como à disciplina de transferência
da propriedade móvel dada pela Legislação Pátria, motivo pelo qual não assiste razão à
recorrente.

2. DA INADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL

Conforme introduzido alhures, tem-se que a análise do Apelo Especial não


poderá ultrapassar as etapas preliminares de admissibilidade, mormente porquanto
afigura-se incabível na hipótese vertente.

Consoante se infere mediante leitura das razões recursais, denota-se que a


Recorrente visa a reforma do Acórdão objurgado alegando ter ocorrido o descumprimento
de cláusulas do Instrumento de Dação em Pagamento celebrado entre as partes.

Em contrapartida, verifica-se que o Aresto Estadual concluiu


expressamente pela inocorrência de descumprimento contratual, na hipótese versada nos
autos. Confira-se:

Dessa forma, é incontroverso que o apelado deu fiel cumprimento


às disposições contratuais, que afasta os pedidos de rescisão
contratual e cobrança.

No entanto, verifica-se que a pretensão da recorrente acaba por esbarrar


nos óbices da súmula 05 do Superior Tribunal de Justiça, conforme se depreende da
leitura dos aludidos enunciados. Veja-se:

Súmula 05. A simples interpretação de cláusula contratual não


enseja recurso especial.

Isto porque afigura-se impossível a verificação de ocorrência de desacordo


comercial sem que se percorra por todo o caminho interpretativo das cláusulas contidas
no Instrumento Particular de Dação em Pagamento, celebrado entre as partes.

Nesta senda, é certo que a conduta da Recorrente encontrou-se em plena


consonância com o que preconizava o contrato sob comento, sendo certo que concluir em
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sentido diverso redundaria em reexame das cláusulas contratuais referentes à entrega


das notas fiscais mencionadas nos autos.

Ademais, não se pode olvidar que isso implicaria na necessidade de


reanalise do conjunto probatório acostados aos autos, o que é veementemente vedado
pela súmula 07 deste Egrégio Sodalício. Confira-se:

Súmula 07. A pretensão de simples reexame de prova não enseja


recurso especial.

Destarte, torna-se forçoso concluir que o Recurso ora aviado padece de


incabimento, na medida em que o Apelo Especial somente pode versar sobre questões de
direito objetivo que extrapolem a simples irresignação das partes, o que o presente caso
não ocorreu.

Por fim, deve o presente Recurso Especial se inadmitido, eis que sua
análise esbarra nos óbices estabelecidos pelas súmulas 05 e 07 deste Colendo Tribunal.

3. DAS RAZÕES PARA A MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO

3.1. DA CORRETA INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.226 DO CÓDIGO CIVIL.

Não bastasse o incabimento do Recurso Especial preteritamente aviado,


urge sobrelevar que suas razões não refletem a melhor interpretação acerca da norma
aplicável à espécie.

No caso em tela, verifica-se que a Recorrente alega que houve


interpretação simplista do art. 1.226 do Código Civil, na medida em que se entendeu que
a simples tradição tem o condão de propiciar a transferência da propriedade móvel,
conforme ocorreu no presente caso.

Com efeito, oportuno se faz a transcrição do dispositivo legal em apreço,


para que não pairem dúvidas acerca de sua escorreita aplicação, senão veja-se:

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Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando


constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem
com a tradição. (G.N)

Atendo-se às razões formuladas pela Recorrente, verifica-se que esta se


limita a discorrer acerca da suposta conduta irregular do Recorrido, na medida em que
este, ao entregar os bens móveis para a C&M Software, não havia se curado em
transferir as notas fiscais de saída dos aludidos bens.

No entanto, conforme exaustivamente delineado nas decisões proferidas


nestes autos, tem-se que o objeto central da convenção de Dação em Pagamento
celebrada entre as partes era justamente a transferência da propriedade móvel de
diversos bens titularizados pelo Banco Semear, sendo o envio, ou não, de notas
fiscais referentes à saída destes bens é absolutamente irrelevante, para efeitos de
avaliação de desacordo comercial.

Urge ponderar que a texto do art. 1.226 do Código Civil revela a existência
de norma cogente, mormente porquanto o vocábulo ali contido faz menção à
imperiosidade da tradição, no tocante à transferência da propriedade móvel.

Fato é que restou inequívoco a ocorrência da tradição dos referidos bens, o


que, por si só, tem o condão de transferir a titularidade da propriedade móvel, consoante
restou amplamente fundamentado no Acórdão recorrido.

Destarte, conclui-se que houve perfeita aplicação do art. 1.226 do Código


Civil, na medida em que este prevê de forma límpida que a propriedade móvel somente
se transferirá mediante tradição.

3.2. DA EVENTUALIDADE – DA AUSÊNCIA DE DESCUMPRIMENTO


CONTRATUAL – APLICAÇÃO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL.

Caso se ultrapasse as questões acima ventiladas, o que somente se


admite a título de eventualidade, tem-se que não há que se reconhecer a ocorrência de

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descumprimento contratual em decorrência da simples ausência de envio das notas


fiscais de saída dos bens objeto do pacto de Dação em Pagamento.

Neste sentido, tem-se que o Recorrente alega ao longo de toda a lide que o
envio de notas fiscais acabou por gerar o descumprimento contratual acima epigrafado.

No entanto, em que pese o esforço hermenêutico empenhado pela


Recorrente, urge sobrelevar que a ausência de envio das notas fiscais em apreço não
passam de questão acessória sobre o acordo entabuado entre as partes.

Em contrapartida à suposta violação de questão acessória, impende


salientar que a obrigação principal decorrente do contrato em apreço foi plenamente
cumprida, eis que o Recorrido entregou os bens móveis ali contemplados.

Nestas esteira, não se afigura razoável que a Convenção de Dação em


Pagamento, a qual gerou efeitos durantes anos a fio, seja rescindida por suposta quebra
de questão contratual acessória, notadamente porquanto foi cumprida a obrigação
principal ali prevista.

Com isto, cumpre salientar a aplicação da Teoria do Adimplemento


Substancial, a qual preconiza que não há desacordo comercial na hipótese de
cumprimento de parte essencial da obrigação ali assumida.

Sendo assim, a Recorrente sequer poderia requerer a rescisão contratual


em face de suposta quebra de questão contratual acessória, eis que esta configura parte
mínima da avença contraída, se comparada à obrigação principal, consoante sinaliza a
jurisprudência desta Colenda Corte. Confira-se:

DIREITO CIVIL. CONTRATO DE ARRENDAMENTO


MERCANTIL PARA AQUISIÇÃO DE VEÍCULO (LEASING ).
PAGAMENTO DE TRINTA E UMA DAS TRINTA E SEIS
PARCELAS DEVIDAS. RESOLUÇÃO DO CONTRATO. AÇÃO
DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DESCABIMENTO. MEDIDAS
DESPROPORCIONAIS DIANTE O DÉBITO REMANESCENTE.
APLICAÇÃO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL.
1. É pela lente das cláusulas gerais previstas no Código Civil de
2002, sobretudo a da boa-fé objetiva e da função social, que deve
ser lido o art. 475, segundo o qual "[a] parte lesada pelo
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inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não


preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos
casos, indenização por perdas e danos".
2. Nessa linha e entendimento, a teoria do substancial
adimplemento visa a impedir o uso desequilibrado do
direito de resolução por parte do credor, preterindo
desfazimentos desnecessários em prol da preservação da
avença, com vistas à realização dos princípios da boa-fé e da
função social do contrato.
3. No caso em apreço, é de se aplicar a da teoria do
adimplemento substancial dos ontratos, porquanto o réu pagou:
"31 das 36 prestações contratadas, 86% da obrigação total
(contraprestação e VRG parcelado) e mais R$ 10.500,44 de
valor residual garantido". O mencionado descumprimento
contratual é inapto a ensejar a reintegração de posse pretendida e,
consequentemente, a resolução do contrato de arrendamento
mercantil, medidas desproporcionais diante do substancial
adimplemento da avença.
4. Não se está a afirmar que a dívida não paga desaparece, o que
seria um convite a toda sorte de fraudes. Apenas se afirma que o
meio de realização do crédito por que optou a instituição financeira
não se mostra consentâneo com a extensão do inadimplemento e,
de resto, com os ventos do Código Civil de 2002. Pode,
certamente, o credor valer-se de meios menos gravosos e
proporcionalmente mais adequados à persecução do crédito
remanescente, como, por exemplo, a execução do título.
5. Recurso especial não conhecido2. (g.n)

Sendo assim, conclui-se que inexistem motivos suficientes que possam


ensejar a rescisão contratual no caso em apreço, mormente porquanto restou inequívoco
que o Recorrido cumpriu a parte preponderante do contrato de Dação em Pagamento,
quando da tradição dos bens à Recorrente.

Por fim, caso o Apelo Especial ultrapasse a etapa de análise preliminar,


deve ser-lhe negado provimento a fim de se manter incólume o Acórdão ora objurgado.

4. DO PEDIDO E REQUERIMENTOS

Ex positis, requer seja o presente Recurso Especial inadmitido, pelos


fundamentos expostos no item 02 da presente peça de resistência recursal.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.051.270 – RS. Rel. Min. Luis Felipe Salomão. DJU. 05/09/2011.
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Ademais, caso restem ultrapassadas as questões acima noticiadas, o que


somente se admite ad argumentadum, requer seja negado provimento ao Recurso
Especial face à escorreita interpretação dispensada ao art. 1.226 do Código Civil, bem
como aplicação da Teoria do Adimplemento Substancial.

Por fim, requer que todas as publicações referentes a este feito sejam
feitas em nome de FLAIDA BEATRIZ NUNES DE CARVALHO, OAB/MG 96.864, sob
pena de nulidade.

Nestes termos,
Pede deferimento.

De Belo Horizonte para São Paulo, 17 de abril de 2020.

DANIELA CAMILLO ROQUE


OAB/SP: 212.136

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