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CORO N AVÍR U S , H 1 N1 , GR I P E ESPA N HO L A , VACI N A S E E DI Ç ÃO 1

HISTÓRIA
OUTRO LADO DA

SUS
A Importância do
Sistema Público de
Saúde brasileiro
Gripe Espanhola >>> pag 16
O vírus que matou mais do que a primeira Guerra
Mundial e tirou a vida de um Presidente do Brasil.
>>> pag 4

História das Vacinas


Como foi criada a primeira no Mundo,

H1N1 x
assim como a distribuição no Brasil e os
movimentos contrários a vacinação.

Coronavírus
>>> pag 12

Entenda as principais diferenças das duas


pandemias e saiba porquê a economia não parou
em 2009 da mesma forma que agora.
>>> pag 6

COMO CADA GOVERNANTE REAGIU A


PANDEMIAS, EPIDEMIAS E SURTOS.
Outro Lado da História | Abril 2020

2 I NF O

PRO DU Ç Ã O
D O U G L A S NU NE S

REDA Ç Ã O
N U N ES . D OU G@ H OTM A I L .CO M

CO N TATO COM E RC I A L
CO N TATO @ OU TROL A D ODAHI STO RI A .CO M

REDES S O C I A I S
T W IT T ER. COM / D OU GNU NES1 2
I N S TAG R A M .COM /C A NA LOUTRO L A DO DA HI STO RI A
FAC EBO O K .COM / C A NA LOUTRO L A DO DA HI STO RI A

S IT E
O U T RO L AD ODA H I S TOR I A .CO M
Outro Lado da História | Abril 2020

Í ND IC E 3

GRIPE ESPANHOLA
C on h e ç a a h i stóri a d a pa n d em i a d e 1 9 1 8 , q u e mato u
m a i s d o q u e a G u erra Mu n d i a l . PAG 4.

H1N1 X CORONAVÍRUS
E n te n da p o rq u e t u d o teve q u e pa ra r a g ora e n ão f o i
a dot a da a m es m a p os t u ra 1 0 a n os a t rá s . PAG 6.

PANDEMIAS ANTERIORES
Ve j a c om o c a d a g overn a n te rea g i u a pa n d em i a s , epi-
de m i a s e s u r tos d u ra n te os m a n d a tos . PAG 8.

HISTÓRIA DAS VACINAS


S a i ba c o m o s u rg i u e q u a n d o ch eg a ra m a o B ra s i l , além
do s n ú m e ros de vi d a s s a l va s com a va ci n a çã o. PAG 12.

IMPORTÂNCIA DO SUS
A h i s tó ri a d a s a ú d e pú bl i ca a té o s u rg i m en to do
Si s tem a ú n i co d e s a ú d e. PAG 16.
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4 PA N DEMIA 1 9 1 8

G R I P E E S PA N H O L A
O mundo hoje está preocupado com o Coronavírus, que já matou mais
de 2 0 m i l p e s s o a s e e s t á e s p alhad o em tod os os continentes . Só que
qua se u m sé culo a t r á s, e m 1918, uma outr a doença, q ue f icou conhe-
ci da c om o g r ip e e s p a n h o la também f oi letal. R elembr ar es te caso é
i m p ort a n t e p a r a c o m p r e e n d er a g r avid ad e d a s ituação atual e evi t ar
com et er os m e s m o s e r r o s .

Primeiramente é No total matou mais de que lutavam na I Guerra


importante desfazer uma 50 milhões, embora algumas M u n d ia l.
confusão. A gripe espanhola publicações apontem um
não surgiu na Espanha. Ela número ainda maior. De O evento ocorreu
só carrega este nome, pois qualquer forma, todos mesmo com especialis-
na época ocor ria a I Guerra tratam como uma quanti- tas de saúde recomen-
Mundial e a Espanha era um dade s up e rior a s d e v id o a I dando evitar aglomerações
dos poucos países afetados Guerra M u n d ia l. de pessoas para retardar o
pela pandemia que tinha a va n ço d a d oe n ça , o q ue f o i
posição neutra e com isso, O risco da ignorado pelas autoridades
foi a primeira a divulgar ag l o me r a ç ã o d o E s t a d o d a Pe n s i l v â n i a .
c a s os. Cerca de 200 mil pessoas
U m ca s o qu e ch a ma a foram as ruas e em menos de
No entanto, já se atenção é que em 28 de setem- uma semana depois a cidade
sabia que a gripe existia nos bro de 1918 foi organizado j á r e g i s t r a va 4 . 5 0 0 m o r t e s .
Es t ados Uni dos e em outros um evento na Filadélfia, nos O n ú me ro n o lo ca l ch e g o u a
países da Europa, que escon- Es tados U n id o s , co m o o bje- 1 2 mil n o tota l. Nos E s t a d o s
diam os casos por estarem tivo de arrecadar fundos Unidos inteiro foram cerca
e nvol vi das no con flito. para as tropas americanas d e 6 7 5 mil.
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A G ripe Esp a nhola no 5


Bras il Somente na cidade o que acabou originando
de Rio de Janeiro foram a Capirinha, segundo o
O vírus chegou ao mais de 1 0 mil mortos , com Instituto Brasileiro de
Brasil também em setembro, algumas publicações tra- C a ch a ça .
através de um navio vindo zendo números próximo a
da Eu r opa e q ue des embar- 15 mil. Chama a atenção, A gripe espanhola
cou passageiros infecta- principalmente, porque acabou desaparecendo ainda
dos no Recife, Salvador isso representava cerca n o fin a l d e 2 0 1 8 , o cor r e nd o
e no Rio de Janeiro. Em de 15% da população da poucos contágios em dezem-
menos de um mês já exis- cidade. Além disso cerca bro, ou seja, quase três meses
tiam casos em todo o país, de 600 mil pessoas cheg- a p ós o s e u in icio.
deixando todos os hospi- aram a serem infectadas.
t a i s l o t a d o s . At é m e s m o o Em todo o Brasil, estima- Não dá para fazer
P r e s i dent e el ei to Rodrig ues s e que f o ra m 3 5 mil mo rte s . qualquer tipo de compa-
Alves foi infectado e não ração em relação a como
s ó não escondeu os ex ames Entre as medidas para ficou a economia mundial
como alguns fazem, como amen iza r o s e fe itos d a cris e após a Gripe Espanhola,
também acabou morrendo gerada pela pandemia, o pois além da pandemia,
e m j anei ro do an o s eguin te. Presidente interino Delfim ocorreu também até aquele
Todas as classes econômi- Moreira baixa um decreto ano a Primeira Guerra
cas acabaram atingidas, que n enh u m a lu n o re p e tiria Mundial e que também
c r i a n d o u m c e n á r i o d e va s - de ano em 1918. O deputado trouxe graves consequên-
tador devido ao volume de Celso Bayma fez um decreto cias para o mundo todo.
mortes em um curto período ampliando em 15 dias o prazo
de t em po. para pagamento das dívidas Evidente que hoje
que venciam no período tudo está totalmente dife-
Assim como hoje, na da epidemia. A medida rente, que o vírus é outro
ocasião também decidiram era exatamente para evitar e qu e a s con d içõ e s m é d i c a s
fechar as escolas, comér- que comerciantes decretas- e cientificas são bem mel-
cio, teatros e cinemas, s em fal ê n cia p or n ã o co n s e- hores, porém, não dá para
além de proibir aglomera- guirem honrar os compro- embarcarmos nos mesmos
ç õ e s par a evi t ar que o c on- missos devido ao período e rros d o p a s s a d o.
tágio aumentasse muito em que ficassem fechados.
mais, porém, na época as Não é possível que
condições de comunicação, Na época também correntes de whatsapp e
de higiene e até hospitala- foram noticiados diversos pessoas preocupadas apenas
res eram muito piores que as remédios como responsáveis com o lucro das empresas ou
atuais. Além disso, a decisão pela cura, mas nenhum quanto o PIB vai subir ou vai
de isolamento demorou, deles foi realmente eficaz. ca ir te n h a m ma is in fl uê nc i a
p o i s na época também s ub - A receita mais curiosa que quem estuda o tema e
estimaram as notícias da foi a de limão, alho e mel a p re s e n ta fo rma s d e r e d uz -
gripe espanhola no exterior. com u pouco de álcool, irmos o n ú me ro d e m o r t e s .
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6 PA N DEMIA 2 0 0 9

H 1N 1 X C O R O N AV ÍR U S
Po r qu e a ec o n o m ia n ã o p a r o u com o H1N1 como ag or a com o
Co r on a v í r u s ?

Como tudo hoje é em 1918 , ma s d e s ta ve z com número subiria para entre


jogado em meio a um debate um subtipo inédito. Ele foi 12 e 16. Já o Coronavírus a
político, muitas pessoas identificado primeiramente taxa é de 2,79, porém, alguns
comparam o Coronavírus no México e nos Estados estudos chegam a apontar 3.
c o m o H1N1, a fin al, muitos Un idos e a p ó s qu a tro me s e s Desta forma, com 10 pessoas
dos países tinham grupos alcançou mais de 120 países. in fe cta d a s e s te n ú me r o s o b e
políticos diferentes no poder As s im como o C oro n a v íru s , para entre 27 a 30, prati-
em 2009 comparado com atu- ele também era transmit- camente o dobro da H1N1.
almente. Com isso, os apoia- ido pela tosse e espirros. E s te v olu me tã o rá p i d o q ue
dores dos líderes atuais, sobrecarrega os hospitais,
especialmente ao do Brasil Só que a primeira fazendo com que os sistemas
se perguntam o porquê grande diferença está na de saúde pelo Mundo entrem
de parar tudo agora e não capacidade de transmissão. e m cola p s o , co mo e s t á o c o r-
terem defendido o mesmo Isso porque segundo dados rendo na Itália e na Espanha,
pouco mais de 10 anos atrás. da Organização Mundial por exemplo. Isso porque
da Saúde (OMS) aponta o Coronavírus exige 65
Em abril de 2009 que a capacidade de trans- ve z e s m a i s h o s p i t a l i z a ç õ e s .
surgiu o H1N1, do vírus mis s ão co m H 1 N1 e ra d e 1 , 2
influenza, que havia apa- a 1 , 6 . O u s e j a , s e t i ve s s e m Acontece que pior
recido na Gripe Espanhola, 10 pessoas infectadas este ainda que o ritmo de con-
ta min a çã o e s tá a le ta l i d a d e .
Nova me n te d e a co rdo c o m a
OM S , a ta x a d o C o ron a v í r us
e s tá e n tre 3 , 4 %. No e nt a nt o ,
algumas entidades consid-
e ra m qu e e s te n ú me r o p o d e
e s ta r e le va d o d e v id o a f a l t a
d e te s te s e m tod a a po p ul a-
çã o . A in d a a s s im, a e s t i m a-
tiva é que a taxa esteja entre
0 , 5 a 1 %, o qu e s ig n if i c a q ue
e m ca d a 1 0 . 0 0 0 p e s s o a s c o m
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Coronavírus morrem pelo muito mais otimistas, porque de contaminação era muito 7
menos 50. Já o do H1N1 é j á h a v i a u m a va c i n a c o n t r a me n o r, p o ré m, a in d a a s s i m ,
de 0 ,02% , ou se ja, p ara c ada o vírus in flu e n z a . E ra e n tã o atitudes semelhantes a atual
10.000 pessoas infectadas, uma questão de adaptar para foram tomadas principal-
du a s morrem . o n ovo s u btip o , o qu e le v ou mente em algumas regiões
cerca de 7 meses, enquanto do México e dos Estados
Desta forma, simpli- a do Co ro n a v íru s co n ta com Unidos, as que foram mais
ficando, o Coronavírus tem mais de 20 versões em desen- a t i n g i d a s . At é m e s m o n o
uma capacidade de trans- volvimento, porém, pre- Brasil a volta às aulas
missão duas vezes maior que cisarão de muitos mais testes de julho de 2009 também
o H1N1 e mata 25 vezes mais. para garantir que funcionem chegaram a ser adiadas.

Coronavírus tem uma capacidade de transmissão


duas vezes maior que o H1N1 e mata 25 vezes mais .

e també m bu s ca r fo rma s d e Estes são os pontos princi-


Levando para números produzir em larga quanti- p a is d a d ife re n ça , p o r é m , o
g e r ai s. Em 16 mes es de p an- dade e com isso a previsão ma is imp orta n te é e n t e nd e r
demia de H1N1 ocorreram é de que só fique pronta que não é porque ambos
493 mil casos e 18,6 mil c erc a d e 1 a n o e me io a p ó s o são vírus e são pandemias,
mortes. O do Coronavírus já c omeç o d o s u rto. q u e d e ve r e m o s e s p e r a r q u e
p a s sou de 1 m i lh ão de c as os sejam tratados de forma
e 50 mil mortes e a contagem A lé m d is s o é u m e rro igual. Cada vírus, cada pan -
ainda está em crescimento dizer que nada foi feito. demia tem sua particulari-
acelerado e não chegamos Obviamente não ocorreu dade e, portanto, cabe aos
sequer a seis meses. E só lem- paralisações nas propor- especialistas apontar qual
brando que este número só ç õ e s q u e e s t á va m o s v e n d o a me lh o r forma d e q ue i s s o
ainda não está maior porque ag ora, ma s e x a ta me n te p e lo n ã o s e e s p a lh e .
praticamente todos os países o que disse antes, o ritmo
afetados estão em quaren-
tena há algumas semanas.

Outro ponto impor-


t a nt e é q u e nenh uma p es s oa
tem imunidade contra o Sars-
Cov-2. Ao contrário do H1N1,
q u e a f e t a va m e n o s i d o s o s .

Para completar, as
perspectivas por vacina para
a pandemia de 2009 eram
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8 POL ÍT IC A

COMO CADA GOVERNANTE


R E A G I U A PA N D E M I A S ,
EPIDEMIAS E SURTOS
O Brasil já enfren- pelo o Aedes Aegypti, o mal que já havia matado mais
tou diversas doenças no mesmo vetor da dengue. de 60 mil pessoas, sendo que
p a s sado e m u i tas das vezes 1000 somente em 1902 na
com acertos e outras com E o p r i m e i r o g o ve r n o cidade do Rio de Janeiro, até
e r r os de q u em lidera o p aís a tomar medidas efetivas então capital federal. O san-
e consequentemente a saúde contra a doença foi o de itarista, que também ficou
p ú b l i ca. A f or ma c omo c ada Rodrigues Alves. Ele já havia conhecido pela campanha
P r e s i dent e l i dou c om a s itu- tido febre amarela e inclu- de vacinação obrigatória
ação foi determinante para s i ve p e r d e u u m a d a s f i l h a s c o n t r a a va r í o l a e q u e f o i
o a ument o de cas os ou p ara p elo me s mo motiv o . r e s p o n s á ve l p a r a e r r a d i c a r
c o nt r ol ar o pr oblema. a doença, então cria uma
fo rte ca mp a n h a d e c o m b a t e
O s wa l d o C r u z a s s u m e co m a mi ssão aos mosquitos. Além de
de livrar o país de uma doença que já equipes conhecidas como
havia matado mais de 60 mil pessoas, mata-mosquitos que per-
s e nd o q u e 1 0 0 0 s o m e n t e em 1902 n a corriam diariamente ruas e
c ida d e d o Ri o d e J a nei ro , at é en t ão casas, existia também multas
c a pit a l f e d e r a l . p a r a d o n o s d e i m ó ve i s q u e
estivessem em condições
Febre Amarela e Varíola Ele então nomeia i n s a l u b r e s . Pa r a c o n s c i e n -
Osvaldo Cruz para ser tizar a população também
A primeira epidemia Diretor-Geral de Saúde foram distribuídos diver-
q ue enf r ent amos n o p eríodo Pública. Que é uma função sos folhetos educativos.
da República foi a Febre que pode ser consid-
Amarela. Na verdade o prob- erada semelhante a de um A epidemia foi per-
lema já existia desde que Ministro da Saúde hoje, só dendo força, mas ressurge
o Brasil era Colônia, com que na época não existia n a d é ca d a d e 2 0 . De s t a ve z ,
r e l a t os de casos n o fin al do a força de um Ministério, quem vai ser fundamental no
s é c u l o XV I I , mas que retor - nem a autonomia como em combate a Febre Amarela é
nava com força na virada do tes e deve ria te r a tu a lme n te . a F u n d a çã o Ro ck e fe l l e r . E l a
século XIX para o XX. O vírus O s wa l d o C r u z a s s u m e c o m pertencia a John Rockefeller,
da doença era transmitido a mis s ão d e a ca ba r co m u m que chegou a ser o homem
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mais rico do mundo, revolu - C o n f e rê n c i a S a n i t a r i a Pa n - Programa de Erradicação 9


cionando o setor do petróleo Americana havia declarado d o A e d e s a e g y p ti, que t i nha
e q ue u sou par te da fortun a que o B ra s il e s ta va liv re d o como objetivo repetir a
com filantropia, principal- mos qui to. missão do passado, de acabar
m e nt e em m edicin a, educa - com o mosquito. No entanto,
ção e pesquisas científicas, D e ngu e a missão se mostrou pouco
a t r a vés da su a Fun daç ão. E efetiva e os números de casos
em 1923, o Governo Federal, Só que como todo a u m e n t a va m a n o a p ó s a n o ,
que tinha como Presidente mundo sabe, o Aedes aegypti chegando a 800 mil em 2002.
Artur Bernades faz um ressurgiu no Brasil, apa-
c o n vê n i o c o m e s t a f u n d a - recendo primeiramente no Em 2003, já no
ção, para cooperação em Pará, em 1 9 6 7 e e m s e g u id a Governo Lula, foi criado
programas de erradica- no Maranhão. O governo então o Programa Nacional
ção de endemias, como a militar da época não demon- de Controle de Dengue,
febre amarela e a malária. strou condições de enfrentar que tinha como principais
o p robl e ma e is s o fo i d e te r- me d id a s o d e s e n v o lv i m e nt o
Foi graças a is s o, que minante para o mosquito de campanhas de informação
seria construído um labo- então se espalhar por Natal, e mo biliz a çã o d a s p e s s o a s e
r a t ó r i o na Fi ocruz p ara fab- Rio de Janeiro e foi alcan- o fo rta le cime n to d a v i g i l â n-
ricar a vacina para febre ç an do m a is re g iõe s n o fin a l cia para eliminar criadouros.
amarela, podendo final- da década de 70 e de 80.
mente controlar o número A campanha então
de c asos, q u e só s eguem até Em 1981 foi docu- basicamente apostou na
os dias de hoje devido ao mentada a primeira epi- conscientização da popu-
fato de nem todas as pessoas demia d e De n g u e n o B ra s il, lação e até chegou a apre-
s e r e m vaci nadas . ocorrida em Roraima. sentar redução nos anos
Em 1986 ocorrem no Rio seguintes, porém, voltou a
Além disso seguiram de Janeiro e em algumas disparar nos últimos cinco
também as campanhas cidades do Nordeste. anos e em 2019 foram mais
para combate ao de 1.500.000 casos, um
A e des Aeg y p ti Só que a primeira ação aumento de 488% em relação
e em 1958, m a i s e f e t i va d e c o m b a t e a o a 2018, e com 782 mortes.
a p roblema foi s ó e m 1 9 9 6 , n o
Governo de Fernando Pa r a p i o r a r o A e d e s
Henrique Cardoso, Aegypti ainda trans-
quando foi mite também a Zika e a
lançado C h ik u n g u n ya , qu e s o m a d a s
o apresentaram mais de 142
mil casos em 2019,
co m 9 5 m o r t e s .
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10 POL ÍT IC A

P olio mieli te
mas era o co me ço d o re g ime então teve que agir, sus-
Embora existam reg- militar e o governo enten- pendendo aulas e fechando
i s t r o s de casos des de o fin al dia que admitir a existên- alguns comércios em São
do século XIX, a grande cia da epidemia seria prej- Pa u l o , a l é m d a d e s i s t ê n c i a
epidemia de Poliomielite udicial. Com isso, médicos d a ca p ita l p a u lis ta d e s e d i a r
ocorreu em 1953, quando e instituições públicas os Jogos Pan-Americanos
registrou um coeficiente foram proibidos de con- de 1975. Ainda assim,
de 21 casos a cada cem mil ceder entrevistas, enquanto s ome n te n a qu e le a n o m o r r e-
habitantes. É causada pelo o a l t o e s c a l ã o n e g a va t u d o . ram mais de 3 mil pessoas.
poliovírus e pode infectar
por contato com fezes ou A verdade só veio Só que mesmo assu-
secreções eliminadas pela à tona em 1974, quando o min d o a d oe n ça , a D i t a d ur a
boca de pessoas doentes. Hospital Emílio Ribas, que seguiu censurando algumas
t i n h a 3 0 0 l e i t o s e s t a va c o m r e p o r t a g e n s , i n c l u s i ve u m a
A primeira vacina 1.200 pacientes interna- entrevista com o Ministro
contra a poliomielite já dos. Naquela altura, eram da Saúde da época. A situ-
e xi s ti a desde 1950, mas n ão já 67 mil casos pelo país, ação só foi controlada em
chegou a ser utilizada no sendo que 40 mil somente 75 quando ocorreu uma
Br a si l na época p or s er c on- e m S ã o Pa u l o . O G o v e r n o campanha de vacinação.
siderada de alto custo. Ela
só foi distribuída pela saúde
pública em 1960, durante
o governo de Juscelino
Kubitschek. Foi ocorrendo
um aumento progressivo
das vacinações nos governos
q ue vi er am em s eguida, até
que em 1989 foi registrado
o último caso no Brasil.

Mening it e

Um a gr an de ep idemia
que ocorreu na Ditatura teve
u m a f ort e censura p ara n ão
ser noticiada. A Meningite
começa a ter os primeiros
casos registrados em 1971,
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A ids L a b o r a t ó r i o s p a r a o m o n - pessoas naquele ano. Circula 11


itoramento de p a c i e n t e s in clu s ive e m mu ita s c o r r e n -
Na década seguinte, soropositivos. T rê s a n o s te s u m v íd e o e m qu a l L ul a ,
o B r a s i l v i u u m a n o va e p i - d e p o i s , o p a í s a n u n c i a va a qu e e ra Pre s id e n te na é p o c a
demia, a de AIDS. O primeiro redução de mortes em 50%. afirmou que “a gripe não é
caso foi registrado em São d o ta ma n h o qu e ia s e r ” . N o
Paulo, em 1980 e os números Durante os Governos de e n t a n t o , a f a l a é r e c o r t a d a ,
foram aumentando daí em Lula e Dilma, foram adicio- pois na frase seguinte ele
diante sem que nada fosse n a d o s n o v o s m e d i c a m e n t o s , a p on ta qu e a g rip e é g r a ve ,
fe i t o. A pri mei ra medida foi além de campanhas contra as m a s q u e o B r a s i l e s t a v a
em 1986, no Governo Sarney, DST. Atu a lme n te , s e g u n d o o tomando cuidado para evitar
com a criação do Programa Min is té rio d a S a ú d e ce rca d e que ela se alastre. Além disso,
Nacional de DST e Aids 900 mil bra s ile iros tê m H I V, o mo me n to e m qu e f a z e s t a
do Ministério da Saúde, sendo que graças aos medica- declaração, em maio daquele
porém, a atuação mesmo mentos mais da metade não ano, de fato, a H1N1 até
só ocorre com a criação do o tran s mite , a s s im como h oje e n t ã o a p r e s e n t a va n ú m e r o s
SUS, em 1988, e que tem também conseguem ter uma bem menores, tanto que a
esta epidemia como pri- vida está ve l. primeira morte no Brasil
meiro desafio, pois já eram ocorre somente em junho.
m a i s de 4 mi l cas os n o p aís . Gripe Espanhola e H1N1
Até a própria OMS não
No entanto, o O Brasil e n f r e n t o u tinha certeza do tamanho
Ministério da Saúde se ainda outras duas epidemias, q u e a g r i p e p o d e r i a c h e g a r
recusou a comprar o pri- mas que falei nas páginas e pregava cautela com a
meiro antirretroviral, ale- anteiores. Em 1918, foi a chegada do inverno, que
gando que o dinheiro Grip e E s p a n h o la , qu e ma tou f o i r e a l m e n t e q u a n d o o
deveria vir do Ministério m a i s d e 3 5 m i l p e s s o a s . N a n ú me ro d e ca s os a u m e nt o u.
da Previdência. Com isso, ocasião, apesar de um certo
somente em 1991, com atraso, o Presidente Delfim Ainda assim, ocorreu
Collor, o Brasil adquiriu e Moreira também decretou uma grande campanha de
anunciou a distribuição gra - o fechamento de escolas, contenção do vírus, espe-
tuita de antirretrovirais, que c omérc io , te a tros e cin e ma s . c i a l m e n t e n o c o n t r o l e d o s
a t u am no cont role da multi - A epidemia acabou passando aeroportos para viagens que
plicação do vírus para que e m t rê s m e s e s e d e a j u d a a vinham da América do Norte.
e l e n ão at aq u e o organ is mo. população, o C o n g r e s s o Ou tra me d id a a d ota d a f o i o
h a v i a a p r o va d o u m a a m p l i - adiamento da volta as aulas,
Alguns anos mais a ç ã o d e 1 5 d i a s a p a r t i r ampliando as férias de julho
tarde, com Fernando d o f i m d a e p i d e m i a p a r a d e e s co la s e u n ive rs i d a d e s .
H e n r i q u e, m 19 96, es s a dis- o pagamento das dívidas.
t r i b ui ção vi ra Lei, in clus ive
com novos medicamentos e Já em 2009, ocorreu
n o a n o s e g u i n t e o G o ve r n o a H1N1, conhecida como a
cria uma Rede Nacional de gripe suína, e que matou 2060
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12 I M U N IZA Ç Ã O

VA C I N A S : H I S T ÓR I A ,
I M P O R T ÂN C I A E D E B AT E
O mundo hoje está em desespero com a morte de Va c i n a ç ã o n o B r a s i l :
m i l h a r e s d e p e s s o a s e o u t r a s m i l h a r e s i n t e r n a d a s . Tu d o H i s t ó r i a e n ú m e r o s
i s s o por cau sa d o Coron avírus , uma d oe n ça qu e a in d a n ã o
t e m rem édi o e n em vacin a. Agora s e tu d o is s o oco rre p or No Brasil, a vacina
uma doença, imagina um mundo se todas as outras que chegou em 1804, trazida
vieram antes como Sarampo, Meningite, Poliomielite, Febre p e lo ma rqu ê s d e B a r b a c e na .
A m arel a e ou t ras grip es n ão tives s em va cin a s . F a z e r e s ta S ome n te 1 6 a n o s ma i s t a r d e
reflexão é fundamental porque até hoje ainda existe um o país teria o primeiro mapa
g r u p o grande d e p es s oas que é con tra va cin a . anual de vacinação em
ma s s a . S ó qu e foi n o s é c ul o
XX que passam a entrar de
ve z n a v i d a d a m a i o r i a d o s
COMO SURGIU A brasileiros. Isso porque em
VA C I N A 1904 ocorre a obrigatorie-
As vacinas são sub- dade da vacinação contra
stâncias introduzidas va r í o l a , q u e g e r a a R e v o l t a
no corpo para ativar o d a va cin a , p e lo n ú m e r o s d e
sistema imunológico para tiveram contato com pessoas contrárias a esta
que o nosso organismo va r í o l a b o v i n a e f i c a r a m d e cis ã o.
c om b at a ví r us e bactérias imunes a doença na sua
e evite o desenvolvimento forma mais grave, a REVOLTA DA VACINA
da doença. A Organização varíola h u ma n a . Na qu e le
Mu ndi al da S aúde (O MS) mes mo a n o , e m 1 7 9 6 , e le A r e v o l t a d a Va c i n a
estima que cerca de 2 desenvolveu a vacina, com ocorreu de 10 a 16 de novem-
a 3 milhões de mortes con c en t ra d o s d o v íru s d a bro de 1904, no Rio de
no mundo são evitadas va r í o l a va c c í n i a ( q u e e r a Ja n e iro, qu e e ra a ca p i t a l d o
p o r c a u s a d a va c i n a ç ã o . r e f e r e n t e a s e r d a va c a e p a ís n a qu e la é p oca , g r a ç a s
que deu origem ao nome). a m e d i d a d e O s wa l d o C r u z
A p r i m e i r a va c i n a As p es soa s qu e re ce bia m p a r a e r r a d i c a r a Va r í o l a ,
foi produzida no final a vacina tinham febres que é uma doença infecto-
do sécu l o XVIII. O in g lês por alguns dias, mas logo contagiosa considerada uma
Edward Jenner estudou fic avam bo a s e imu n e s . das mais cruéis e catastró-
o caso de pessoas que fica s já e x is te n te s , m a t a nd o
mais de 300 milhões de
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pessoas pelo Mundo. Mais entre outras questões. Isso pobre, principalmente de 13
do que a gripe espanhola, gerou uma grande insatis- ex-escravos que se insta-
a tuberculose e até mesmo faç ão na s p e s s o a s , qu e a cu - laram na região. Com isso
as duas Guerras Mundiais. s aram a p rop os ta d e fe rir a foram alargadas as ruas,
liberdade a individual. A d e rru ba n d o ba rra co s e c o n-
O vírus era transmit- manifestação também ocorria struindo avenidas, como
ido através das vias respira- por má informação. Estamos a Av e n i d a Rio Branco.
tórias, causando febre alta, falando de um período em
dor de cabeça, nas costas que n ão e x is tia s e qu e r rá d io E para completar,
e abatimento. Em seguida, e que a taxa de analfabetismo existia também uma ala
surgiam erupções vermel- era alta, chegando a 65%. militar e uma ala monar-
has pelo corpo, que depois quista, que também dese-
causavam coceira e dor. S ó qu e a lé m d is s o, d o javam retornar ao poder
Não existia tratamento e mesmo jeito que existe teoria e que se aproveitaram
a s o b r e v i vê n c i a d e p e n d i a da conspiração hoje do surg- da situação também para
d a f o r m a d e va r í o l a q u e a imen to d e u ma d oe n ça p a ra inflamar a população.
pessoa adquiria. A mais determ in a d o p a ís te r va n ta -
grave tinha 30% de letali- gem ec o n ômica , n o p a s s a d o O fato é que por
dade, enquanto a menor, 1%. p arte d a p op u la çã o ta mbé m e s t e s t rê s m o t i v o s , o p o v o
tinha medo que isso pudesse então se rebelou e ocor-
No Brasil, Oswaldo ser uma estratégia para reram quebras de bondes,
Cruz foi escolhido pelo exterminar a população mais depredação de edifícios
P r e s i dent e R odrig ues Alves pobre. E eles até tinham e até ataques aos agentes
para ser chefe da Diretoria porquê ter receio, afinal, de saúde, responsáveis
de Saú de Pú bl ic a em març o quando Rodrigues Alves pela aplicação da vacina.
de 1903 tendo como missão chega ao poder ele tinha
acabar com as doenças que como plano modernizar o O governo então
d o m i n a va m a c i d a d e e q u e p orto e re mo d e la r a cid a d e . reagiu com mais violência,
i nc l usi ve af ast avam in ves ti - A alegação era principal- decretou estado de sítio,
mentos, pois os estrangeiros mente devido as condições suspendeu direitos consti-
tinham medo de vir ao Brasil. sanitárias da região, que pela tucionais. A revolta acabou
forma desregularizada que a controlada, porém, foram 30
O sanitarista então cidade cresceu, convivia com mortos durante a rebelião
propôs que o governo criasse muitas doenças, fazendo e mais 110 feridos. Além
uma Lei que obrigasse a i n c l u s i ve c o m q u e o R i o d e disso 1000 pessoas foram
va c i n a ç ã o e m t o d o o p a í s . Janeiro ficasse conhecida detidas e 460 deportadas.
Além de dar poderes às c omo a “ C id a d e Pe s tile n ta ” .
autoridades sanitárias para
entrar nas casas das pessoas, Tinha um pouco
também seriam criadas disso, mas tinha também
multas para quem se negasse um pouco da vontade dos
e a e x i g ê n c i a d a va c i n a ç ã o governantes de afastarem
para matrícula nas escolas do local a população mais
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14 I M U N IZA Ç Ã O

Ainda assim, o governo


d e cid iu re v og a r a o brig a tor i e d a d e
d a va c i n a , m a s m a n t e ve v á l i d a a
exigência do atestado de vacinação
para trabalho, viagem, matrícula
O Zé Got i nha foi c riado em 1986, pe lo em escolas públicas e hospedagem
a r t i st a pl ást ic o Darlan Ros a, s e torn a n d o e m h o té is . E te ve co mo s a l d o p o s-
s í mbol o da camp an h a que ajudou a e rra d i- itivo o fato do Rio de Janeiro ter
c ar a pol i omielite. An os dep ois p a s s o u a s e r conseguido erradicar a varíola. De
ut i l i zado para outras vac in as . 3.500 mortes na cidade em 1904,
e s t e n ú m e r o c a i u p a r a n o ve d o i s
a n o s d e p o is .

Nos anos seguintes foram


aparecendo muitas outras vacinas,
trazendo números expressivos.
Na década de 1970, por exemplo,
tivemos 11.545 casos de polio-
mie lite , a p a ra lis ia in fa n til , e q ue
graças a vacinação ela desapareceu
por completo em 1989. A coque-
luche em 1991 tinha incidência
de 10,6 por 100 mil habitantes e
depois despencou para 0,32 de
1 9 9 1 p a ra 1 9 9 9 . Os ca s os d e d i f t e-
ria caíram de 495 para 56 no mesmo
período. Já a de meningite eram
de 1.700 casos por ano em 1999 e
reduziu para 23. Resultados impor-
t a n t e s e q u e s a l va r a m a v i d a d e
mu ita s p e s s oa s . Na d é ca d a d e 8 0 ,
a mo rte p or d oe n ça s ma is c o m uns
para crianças de até cinco anos era
sarampo, poliomielite, rubéola,
síndrome da rubéola congênita,
meningite, tétano, que giravam
e m to rn o 5 . 5 0 0 ó bito s p o r a no e m
média. Hoje são de apenas 50.
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É também uma relação que eram formas de exter- pagar mais impostos porque
direta entre o aumento da minar a população. Só que fere suas liberdades individ-
cobertura e a redução das nos últimos anos isso foi uais. Isso porque quando
t a xas de mort alidade in fan- muito i n flu e n cia d a p or u ma v o cê d e cid e qu e o s e u f i l ho
til, no grupo das crianças tese publicada na Revista n ã o s e j a va c i n a d o , n ã o é s ó
menores de 1 ano. Entre Lan c et, e m 1 9 9 8 a s s ocia n d o ele que estará exposto, como
1 9 9 7 e 2015, el a caiu de 31,9 a Tríplice viral ao autismo. também crianças ao redor que
por 1.000 nascidos vivos A l g u n s a n o s d e p o i s , d e s c o- podem não ter alcançado a
para 13,8, de acordo com o briu-se que o médico autor idade certa para a vacinação.
I BG E . Al ém di ss o, em 1930, do artigo recebia pagamento
a s d oenças i nf e c ios as e p ar- de adv o g a d o s e m p roce s s o s No Brasil, uma pes-
asitárias representavam por compensação de danos quisa do Ministério da
45,7% dos óbitos do Brasil. vac in ai s . Ou s e ja , e le le va n- S a ú d e e m 2 0 1 4 a p o n t o u q ue
Em 2010, o índice despen- tava um a te o ria qu e p od e ria a média de vacinação era
cou para 4,3%, de acordo ser usada n o tribu n a l con tra de 81,4%, porém, entre os
c o m o Mi ni st ério da Saúde. as empresas e órgãos respon- mais ricos era de 76,3%. O
s áveis pe la a p lica çã o . fato do número da parcela
At u a l m e n t e , o B r a s i l d a re n d a ma is a lta s e r i nf e-
é u m dos paí ses que oferec e Ao longo desta desc- rior, mesmo tendo mais
o m a i o r n ú m e r o d e va c i n a s oberta, diversas pesquisas acesso e recursos, mostra
à população, disponibili- e estudos foram feitos para que é exatamente a parcela
zando mais de 300 milhões p rovar qu e n ã o e x is tia qu a l - mais contra a vacinação.
de doses anuais, com 26 quer ligação das vacinas com
va c i n a s , p r o t e g e n d o c o n t r a o autis mo e o a rtig o fo i a té E quem fala contra a
Poliomielite, Tétano, excluído, mas o estrago já vacina não tem ideia do pro-
Coqueluche, Meningite, e s t a va f e i t o , p o i s r e s u l t o u ce s s o bu rocrá tico qu e e xi s t e
Sarampo, Rubéola, Caxumba, em uma queda de vacinação e p a r a a a p r o va ç ã o d e u m a .
Febre Amarela, Difteria, resultando no ressurgimento S ã o d ive rs a s e x ig ê n c i a s r e g-
Hepatite, Influenza, HPV e de algumas doenças que já ulatórias para garantir a
contra a forma mais grave de eram tratadas como errad- s e g u ra n ça e e ficá cia . O f a b -
t ub e rcu l ose. icadas, como o Sarampo, ricante tem que fazer aprox-
q u e t e ve a u m e n t o d e c a s o s imadamente 500 testes de
n os Es t a d os U n id os , E u rop a controle de qualidade, em
Grupo s Ant i-va c ina e Brasil. Somente aqui um processo que costuma
foram 1 0 mil ca s o s e m 2 0 1 8 . l e va r e m m é d i a c e r c a d e 1 0
Ainda assim existem a n o s . At u a l m e n t e o s ó r g ã o s
muitas pessoas que são Outra crítica feita é a p on ta m qu e e la s e m a l g uns
c o nt r a as vaci n as . Ao lon go que a o brig a torie d a d e a ta ca ca s o s ca u s a m a p e n a s f e b r e s ,
da história já foram muitas as liberdades individuais. d ore s e vô mito s .
teorias, desde a questões No entanto, trata-se de lei.
religiosas a até crenças Imagina você escolher não
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DIR EITO D E TOD OS

A I M P O R T ÂN C I A D O S U S
Em 2020, o SUS completa 30 anos de existência, tendo sido criado através da LEI nº
8 . 0 8 0 , de 19 de setembro de 1990. Só q u e s u a g e s ta çã o n a ve rd a d e foi fe ita a in d a n a a s s i-
n a t u ra da Const ituiç ão de 1988, que e s tip u la va qu e “ a s a ú d e é d ire ito d e tod os e d e ve r
d o E s t ado...”. Com is s o o s is tema deve ria s e r u n ive rs a l, s e m cobra r n a d a , in d e p e nd e nt e
de condição social e deveria ser sustentado pelos três níveis de governo – federal, estad -
ua l e m u ni ci pal .
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A ideia era a criação de Isso era resultado do baixo governantes cuidando do 17


um sistema que abrangesse investimento no setor, que setor em diversas regiões,
desde a saúde básica, pas- correspondia a apenas 1% comparando com o nosso
sando pela atenção primária do orça me n to d a U n iã o . E s te passado é um grande erro em
e secundária, até a hospi- f o i o p r i m e i r o c h o q u e d e n ã o va loriz a r o S U S , p r i nc i-
tal de alta complexidade. realidade, no qual mostrou palmente porqee pouquís-
At u a l m e n t e , 3 / 4 d o s m a i s que o chamado “milagre simos países do Mundo
de 200 milhões de habitan- econ ôm ico ” , e s ta va lon g e d e p o s s u e m u m a r e d e c o m o o
t e s s ão at endi d os p elo SUS, t r a z e r b e n e f í c i o s a p o p u l a - SUS. Em locais como Estados
enquanto o outro 1/4 usa a ç ã o , e s p e c i a l m e n t e a o s m a i s U n i d o s , Au s t r á l i a e g r a n d e
rede particular. Nós somos p obres . S e g u n d o a re v is ta d o p a r t e d a E u r o p a o m o r a d o r
o único com mais de 100 Cen tro B ra s ile iro d e E s tu d o s l o c a l n ã o t e m a t e n d i m e n t o
milhões de habitantes que da Saúd e , d e 1 9 7 6 , e s tima -s e g r a t u i t o . N e s t e s l u g a r e s ,
oferece este serviço gratuito. q u e e n t r e 1 9 7 2 e 1 9 7 6 m o r - caso você passe mal na rua e
r e r a m 1 . 4 1 7 . 5 0 0 c r i a n ç a s d e seja levado para uma clínica
Só que nem sempre causas evitáveis, associa- ou hospital acordará com
foi assim. Muitas gerações d a s a f a l t a d e s a n e a m e n t o , u ma d ív id a d e a lg u m a s c e n-
n ã o v i ve r a m u m B r a s i l s e m aten dim e n to ou d e s n u triçã o. tenas ou milhares de dólares
SUS e muitas outras não e não importa se você tem
lembram como era antes Uma das m e d i d a s ou não condições de pagar.
d a c r i a ç ã o d o m e s m o . At é p a r a r e s o l v e r a s i t u a ç ã o Dos países mais populares,
1990 não existia um setor f o i a c r i a ç ã o d o I N P S , q u e a p e n a s Re in o U n id o , F r a nç a
público a saúde. O acesso unia todos os órgãos pre- e Canadá contam com um
era ligado a Previdência e v i d e n c i á r i o s q u e f u n c i o n a - s i s t e m a u n i ve r s a l d e s a ú d e
s e d e d i c a va a p e n a s a t r a b - va m d e s d e 1 9 3 0 , m a s a i n d a p a r e c i d o c o m o b r a s i l e i r o .
alhadores formais, ou seja, assim, somente o trabalha-
quem tinha carteira assi- dor formal continuaria tendo At u a l m e n t e , temos
na d a. D est a f orma, a dis tri- acesso a saúde. O Sistema, próximo de 13% de desem-
b ui ção dos r ecurs os p ara os assim como INAMPS, que foi p re g a d o s . A lé m d o s m a i s d e
e s t a d os era de acordo c om a c riado d e p ois d e v id o a cris e 4 0 milh õe s d e tra ba lha d o r e s
contribuição daquela região. previdenciária, operava basi- i n f o r m a i s . P o p u l a ç ã o e s t a
A l é m di sso, q uem n ão tin h a camente através de convênios q u e e s t a r i a c o m p l e t a m e n t e
carteira assinada depen- com a rede privada. Em 1978, desassistida, mesmo em meio
dia de casas de caridade os 41 hospitais próprios do a pandemia,se ainda vigo-
o u h o s p i t a i s u n i ve r s i t á r i o s . I N A M P S f i z e r a m 2 5 3 m i l rasse os sistemas de saúde
internações, enquanto do da ditadura ou de outros
Pa r a p i o r a r , d u r a n t e setor privado, pago com p a í s e s do mundo.Desta
o p erí odo do r egime militar d i n h e i r o p ú b l i c o f e z 6 , 2 8 fo rma , o qu e d e ve mo s f a z e r
algumas doenças como a milhões de i n t e r n a ç õ e s . é cobrar que o SUS receba os
meningite e a dengue se in ve s time n tos n e ce s sá r i o s e
intensificaram e ocorreram Portanto, por m a i s não permitir que políticos
um aumento de epidemias que faltem recursos atual- destruam a sua existência
e da mortalidade infantil. m e n t e e t e n h a m o s p é s s i m o s u n ive rs a l e g ra tu ita .
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OUTROL ADODAHISTORIA

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