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Universidade São Judas Tadeu

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Bruno R. Cardoso - 816114849

MMAM - Museu da Memória Arquitetônica da


Mooca: a ativação do patrimônio industrial da
Mooca.

São Paulo

2020
PROBLEMÁTICA.

O bairro da Mooca, conhecido por seu passado que ajudou no processo de


industrialização da cidade de São Paulo, onde grandes industrias estavam
sitiadas, como por exemplo a fábrica Alpagartas, a Cia Antarctica, Indústrias
Reunidas Matarazzo e o Cotonifício Crespi, vem assistindo seus registros
históricos sendo lentamente modificados a medida que a especulação imobiliária
cresce na região, como consequência desse fenômeno, ocorre também o
processo de verticalização da região.

O patrimônio industrial, mesmo sem uso e/ou em processo de degradação,


que tem potencial de gerar problemas para o sítio em que se encontra, está
estritamente ligado à paisagem urbana da Mooca, e como tal, à cultura, memória
e identidade de seus moradores. É possível a reutilização destes bens, com a
modificação de seus usos sem que suas características físicas sejam alteradas,
de modo a evitar que sejam transformados em meros memoriais desprovidos de
sentido, de acordo com Ada Huxtable (1997) citada por PROCHNOW, Simone
Back, em seu artigo, Heterocronia na arquitetura, o projeto como viabilizador do
patrimônio. “[...] critica as conversões do patrimônio em meros memoriais cujos espíritos
tinham sido exorcizados, e nossa memória de certo modo, editada. Segundo ela, o abandono
tem seu próprio significado e mensagem, e um contato direto com o que “uma vez foi”
eventualmente desaparece com a restauração.”

Além dos grandes galpões e fábricas das indústrias instaladas no bairro da


Mooca, os bens construídos que foram construídos como “consequência” dos
usos industriais também tem um papel significativo na construção da paisagem,
estas construções periféricas às fábricas são em sua maioria de uso residencial,
as vilas industriais, os armazéns, pequenos negócios e padarias, que trazem
consigo grande valor imaterial dos costumes dos moradores da região, e também
são passíveis de catalogação, registro e preservação.

Como referências de projetos urbanos realizados em outros sítios parecidos


com o da Mooca temos o projeto Porto Maravilha no Rio de Janeiro, onde a
revitalização dos bens históricos do porto foi aplicada, dando assim um uso atual
para o local, sem que suas características originais fossem perdidas, ou em
projetos internacionais como o projeto do Distrito22@ em Barcelona, que tinha
como objetivo requalificar uma grande zona industrial e trazer novos usos para
a região, ou até mesmo o projeto das Docklands na cidade de Londres, onde a
região do porto as margens do rio Tâmisa foi requalificada de modo a criar novos
espaços e uma nova dinâmica para a região.

TOMBAMENTOS.

Entre os bens já tombados na região, estão o conjunto de galpões da Mooca,


localizados na região da Rua Monsenhor João Felipo com a Rua Borges de
Figueiredo, conforme a resolução 14/2007 do CONPRESP (Figura 1); o Conjunto
Residencial Mooca/IAP, conforme a resolução 18/2018 do CONPRESP (Figura
2); Escola Estadual Pandiá Calógeras, conforme a resolução 30/2018 do
CONPRESP (Figura 3); Teatro Municipal da Mooca Arthur Azevedo, conforme a
resolução 29/1992 do CONPRESP (Figura 3); Escola Estadual Owaldo Cruz,
conforme as resoluções SC 60, de 21/07/2010 do CONDEPHAAT e 29/2014 do
CONPRESP (Figura 4); Estádio Conde Rodolfo Crespi, conforme a resolução
06/2016 do CONPRESP (Figura 5); Cotonifício Crespi, conforme a resolução
06/2016 do CONPRESP (Figura 6); Travessias da Estrada Ferro, conforme a
resolução 06/2016 do CONPRESP (Figura 1); Conjunto de Casas na Rua Barão
de Jaguara, conforme a resolução 33/2018 do CONPRESP (Figura 7).
Figura 1. Mapa das áreas tombadas conforme a resolução 14/2007 - Fonte: DPH-Departamento do
Patrimônio Histórico

Figura 2. Conjunto Residencial Mooca/IAP, Av. Cassandoca tombamento Conpresp, resolução 18/2018,
Fonte: Google Earth
Figura 3. Teatro Municipal da Mooca e Escola Estadual Pandiá Calógeras, Av. Paes de Barros Fonte:
Google Earth

Figura 4. Escola Estadual Oswaldo Cruz, Rua da Mooca Fonte: Google Earth
Figura 5. Estádio Conde Rodolfo Crespi, Rua Javari Fonte: Google Earth

Figura 6. Cotonifício Crespi, Rua Taquari Fonte: Google Earth


Figura 7. Conjunto de Casas na Rua Barão de Jaguara fonte: Google Earth

OBJETIVO E JUSTIFICATIVA.

Levando tais fatos em consideração, faz-se necessário a criação de um plano


de ação que tenha como objetivo frear o avanço da especulação imobiliária e
como consequência, a verticalização na região, e a criação de um espaço onde
essas características do bairro possam ser estudadas, restauradas e
preservadas, para que assim possam ser expostas para a população local, de
modo a conscientizar a população sobre a importância do patrimônio
arquitetônico da cidade.

A escolha de um museu como objetivo deste trabalho se deu ao fato de que


seus programas complexos e ao mesmo tempo flexíveis, que não estão
necessariamente ligados apenas a um espaço unicamente expositivo, mas
também com funções pedagógicas e culturais, conforme cita o trecho “Novas
funções apareceram durante a segunda metade do século XX, conduzindo, especialmente, a
modificações arquiteturais maiores: multiplicação das exposições temporárias, permitindo uma
distribuição diferente das coleções entre os espaços de exposição de longa duração e os das
reservas técnicas; desenvolvimento de estruturas de acolhimento, espaços de criação (ateliês
pedagógicos) e áreas de descanso, o que se deu particularmente com a criação de espaços
multiuso; e desenvolvimento de livrarias e restaurantes, além da criação de lojas para a venda
de produtos derivados. [...] a. A arquitetura, como arte ou como método para a construção e
implantação de um museu, pode ser vista como uma obra completa, que integra todo o
mecanismo do museu. [...]” DESVALLÉES, André, MAIRESSE, François, Conceitos-chave
da museologia - ICOM, 2013, pág. 30)

TERRENO.

O terreno escolhido para a implantação do museu fica na esquina da Rua


Itajaí com a Rua Bresser, onde atualmente se encontra o Depósito Bresser 12,
da prefeitura da cidade de São Paulo, porém, que antigamente sediava um
antigo ramal da Estrada de ferro Santos - Jundiaí, conhecida como São Paulo
Railway (Figura 9). Contando ainda com uma grande área livre que pode ser
considerada como subutilizada por se encontrar entre eixos, e sua proximidade
com equipamentos e áreas para eventos importantes, como por exemplo, o
parque da Mooca, logo a frente, um campus do Senai, também nas
dependências do parque, a feira de produtos orgânicos que acontece
periodicamente ao lado, e a zona de centralidade da Mooca, na Av. Paes de
Barros (Figura 8).

O entorno do terreno ainda apresenta uma qualidade paisagística


característica da Mooca, com suas vilas industriais compostas por pequenos
sobrados germinados, e suas fábricas e galpões ligados à indústria, conforme
pode-se observar nas figuras 10 a 12.

Figura 8. Diagrama de eixos importantes produzido pelo autor (Em vermelho, a Rua Bresser, que dá
acesso ao bairro do Brás, em amarelo, a Rua dos Trilhos, que dá acesso à radial leste, em azul, a Rua
Taquari e Av. Paes de Barros, que dão acesso ao Belém ao leste, e à Vila Prudente ao oeste e em rosa, a
Av. Radial Leste, que liga os bairros da zona leste de São Paulo ao Centro) e selecionado em vermelho e
laranja o terreno de interesse e área expandida, base do Google Earth.
Figura 9. Mesma região, porém em 1930, onde o ramal da São Paulo Railway existia fonte:
Mapeamento de 1930 - Sara. Geosampa

Figura 10. Vista da Rua Itajaí para a Rua Hipódromo Fonte: Google Earth
Figura 11. Vista da Vila industrial na Rua Hipias. Fonte: Google Earth

Figura 12. Vista da área de interesse, da Rua Hipias para a Rua Itajaí. Fonte: Google Earth
Bibliografia:
Mooca, ou como a verticalização devora a paisagem e a memória de um bairro.
Vitruvius. Disponível em
[https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.140/4189]

PROCHNOW, Simone Back. Heterocronia na arquitetura, o projeto como


viabilizador do patrimônio. Revista da ESDM, Brasil, v. 4 n. 7 (2018): Revista da
ESDM, 10/2018.

RODRIGUES, Angela Rosch, Patrimônio industrial e instrumentos urbanos na


cidade de São Paulo. Occulum Ensaios, Revista de Arquitetura e Urbanismo.
Brasil, n. 15 (2012)

BONEKÄMPER, G. D. HERITAGE AND BEYONG. The social and spatial


frameworks of heritage – What is new in the Faro Convention? (Pag. 69).
Council of Europe Publishing.

Azevedo, E. B. (2010). Patrimônio industrial no Brasil. usjt - arq.urb, 3. Acesso


em 04 de mar de 2020, disponível
em http://www.usjt.br/arq.urb/numero_03/2arqurb3-esterezilda.pdf

Operação Urbana Consorciada – Bairros do Tamanduateí – Subprefeitura da


Sé.

Kühl, B. M. Preservação do Patrimônio arquitetônico da Industrialização.


Problemas teóricos de restauro. 2ª edição, Ateliê Editorial, 2008

Choay, F. A alegoria do patrimônio. 6ª edição, Estação Liberdade: Editora


Unesp, 2017.

Choay, F. O patrimônio em questão. Antologia para um combate, 1ª edição,


Fino Traço, 2011.

Villaça, F. Espaço intra-urbano no Brasil. Studio Nobel, 2000.

DESVALLÉES, André, MAIRESSE, François, Conceitos-chave da museologia -


ICOM, 2013, pág. 30
Referências teórico-práticas:

MAAT, the new Museum of Art, Architecture and Technology, AL_A. Lisboa,
Portugal. 2016. Disponível em: https://www.ala.uk.com/projects/maat/

Centro Universitário Maria Antônia, UNA Arquitetos. São Paulo, Brasil. 2017.
Disponível em: https://www.archdaily.com/890131/maria-antonia-university-
centre-una-arquitetos?ad_source=search&ad_medium=search_result_all

Refunctionalization of the Marconetti Ex-Mill, Subsecretaría de Obras de


Arquitectura, Governo de Santa Fé. 2017. Disponível em:
https://www.archdaily.com/921378/refunctionalization-of-the-marconetti-ex-mill-
subsecretaria-de-obras-de-arquitectura-gobierno-de-santa-
fe?ad_source=search&ad_medium=search_result_all

Ecomuseo delle Bonifiche, Archiplanstudio. Bondanello, Itália. 2019. Disponível


em: http://www.archiplanstudio.com/projects/view/233

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