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A Mulher Montada na

Besta

DAVE HUNT

EBOOK - 1ª EDIÇÃO - 2015


Traduzido do original em inglês: “A Woman Rides the Beast”
Copyright © 1994 by Dave Hunt Publicado por Harvest
House Publishers Eugene, Oregon 97402 EUA
Tradução: Mary Schultze, Jarbas Aragão Revisão: Traudi
Federolf
Edição: Ingo Haake
Capa: Émerson Hoffmann
Layout: Roberto Reinke
Todos os direitos reservados para os países de língua
portuguesa Copyright © 2015 Actual Edições
Ebook ISBN - 978-85-
7720-114-3
R. Erechim, 978 – B. Nonoai 90830-000 – Porto Alegre/RS –
Brasil Fones: (51) 3241-5050 – 03000789.5152
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ÍNDICE INTRODUÇÃO -
Uma Tentativa Para
Derrubar a Reforma
CAPÍTULO 1 - A M ULHER M ONTADA NA BESTA!
CAPÍTULO 2 - RAZÃO P ARA CRER
CAPÍTULO 3 - UMA CONSPIRAÇÃO DA P ÁSCOA?
CAPÍTULO 4 - UMA REVELAÇÃO P ROGRESSIVA
CAPÍTULO 5 - M ISTÉRIO: BABILÔNIA
CAPÍTULO 6 - A CIDADE SOBRE SETE M ONTES
CAPÍTULO 7 - F RAUDE E HISTÓRIA F ORJADA
CAPÍTULO 8 - LINHA ININTERRUPTA DE SUCESSÃO APOSTÓLICA?
CAPÍTULO 9 - HEREGES INFALÍVEIS?
CAPÍTULO 10 - INFALIBILIDADE E TIRANIA
CAPÍTULO 11 - SOBRE ESTA P EDRA?
CAPÍTULO 12 - A M ÃE P ROFANA
CAPÍTULO 13 - SEDUTORA DE ALMAS
CAPÍTULO 14 - UMA M ETAMORFOSE INCRÍVEL
CAPÍTULO 15 - ALIANÇAS P ROFANAS
CAPÍTULO 16 - DOMÍNIO SOBRE REIS
CAPÍTULO 17 - SANGUE DOS M ÁRTIRES
CAPÍTULO 18 - P ANO DE F UNDO DO HOLOCAUSTO
CAPÍTULO 19 - O VATICANO, OS NAZISTAS E OS JUDEUS
CAPÍTULO 20 - O M ASSACRE DOS SÉRVIOS
CAPÍTULO 21 - AS ROTAS DE F UGA DO VATICANO
CAPÍTULO 22 - SÓ A ESCRITURA?
CAPÍTULO 23 - UMA QUESTÃO DE SALVAÇÃO
CAPÍTULO 24 - O “SACRIFÍCIO” DA M ISSA
CAPÍTULO 25 - A REFORMA TRAÍDA
CAPÍTULO 26 - APOSTASIA E ECUMENISMO
CAPÍTULO 27 - QUAL O P APEL DE M ARIA?
CAPÍTULO 28 - A F UTURA NOVA ORDEM M UNDIAL
APÊNDICE A - O P URGATÓRIO
APÊNDICE B - AS INDULGÊNCIAS
APÊNDICE C - DOMÍNIO SOBRE REIS: M AIS DOCUMENTAÇÃO
APÊNDICE D - A INFALIBILIDADE P APAL E A SUCESSÃO APOSTÓLICA
APÊNDICE E - P APAS HEREGES, A BÍBLIA E GALILEU
APÊNDICE F - E QUANTO À TRADIÇÃO?
APÊNDICE G - JOÃO P AULO II P EDE “P ERDÃO”
APÊNDICE H - A VISITA DE JOÃO P AULO II A ISRAEL
APÊNDICE I - DECLARAÇÃO CONJUNTA DE LUTERANOS E CATÓLICOS
APÊNDICE J - P IO XII, OS NAZISTAS E OS JUDEUS
APÊNDICE K - A M ORTE DE UM P APA
GLOSSÁRIO
NOTAS:
INTRODUÇÃO

Uma Tentativa Para


Derrubar a Reforma
Este livro é dedicado aos quase um bilhão de católicos romanos
mal informados por sua hierarquia; aos 400 milhões de
protestantes igualmente ignorantes dos fatos e aos genuínos
mártires de ambos os lados.

O evento mais significativo dos últimos 500


anos da história eclesiástica foi apresentado como
um fato consumado em 29 de março de 1994.
Naquele dia líderes católicos e evangélicos
americanos assinaram uma declaração conjunta
intitulada “Evangélicos e Católicos Unidos: a Missão
Cristã no Terceiro Milênio”. Esse documento, sem
dúvida, visava reverter os efeitos da Reforma e
causou uma inquestionável repercussão no mundo
cristão, que persistirá por muitos anos.
Esse acontecimento preocupante foi o ápice de
planejamentos e negociações cuidadosas que
duraram cerca de dois anos. Cada passo foi
continuamente monitorado e aprovado pelo
Vaticano. O New York Times deu a notícia em
primeira mão, que foi reproduzida em todos os
jornais americanos no dia 30 de março. Iremos citá-
la aqui parcialmente:
Eles trabalharam juntos nos movimentos contra o
aborto e a pornografia, e agora as lideranças dos
católicos e evangélicos estão pedindo aos seus
rebanhos que dêem um importante passo de fé:
aceitarem-se mutuamente como cristãos. No que está
sendo chamada de “declaração histórica”, evangélicos,
inclusive Pat Robertson e Charles Colson (um dos
principais mentores) juntaram-se aos atuais líderes
católicos conservadores para estreitarem os laços de fé
que unem os maiores e politicamente mais
importantes grupos religiosos dos Estados Unidos. Eles
pediram que católicos e evangélicos parem com o
proselitismo agressivo do rebanho alheio, algo feito por
ambas as partes.
John White, presidente do Geneva College e ex-
presidente da Associação Nacional dos Evangélicos,
disse que a declaração representa um “momento
triunfal” na vida religiosa americana, após séculos de
desconfianças...
Outros evangélicos também são simpatizantes do
movimento, incluindo os líderes da Junta de Missões
Nacionais e da Comissão de Vida Cristã da maior
denominação protestante dos Estados Unidos: a
Convenção Batista do Sul (que se reuniram em um
local diferente); Bill Bright, fundador da “Cruzada
Estudantil e Profissional Para Cristo”...; Mark Noll, da
Universidade de Wheaton, [Os Guiness, Jesse Miranda,
(das Assembléias de Deus Americanas), Richard Mouw
(diretor do Seminário Teológico Fuller), J. I. Packer e
Herbert Schlossberg].

Robert Simonds, presidente da Associação


Nacional dos Evangélicos dos Estados Unidos, com
sede no sul da Califórnia, “aplaudiu a declaração” e
disse que espera que ela traga “uma crescente
cooperação entre evangélicos e católicos...” Outros
líderes evangélicos também assinaram a declaração,
enquanto alguns a denunciaram como sendo uma
traição à Reforma. Ironicamente o audacioso
movimento “para unir católicos e evangélicos”
poderá dividir os evangélicos como nenhuma outra
coisa seria capaz de fazê-lo – algo já percebido pelos
que apoiam esse movimento.
O documento de 25 páginas reconhece, sem
comprometimento, algumas diferenças básicas entre
católicos e evangélicos (tais como o significado do
batismo e a autoridade das Escrituras). Infelizmente,
a diferença mais importante – o que significa ser
cristão – não é mencionada. De fato, nega-se que tal
diferença exista. Esse comprometimento do
Evangelho é que está no cerne deste acordo.
O elemento-chave por trás dessa histórica
declaração conjunta é a anteriormente inimaginável
admissão, por parte dos líderes evangélicos, de que a
participação ativa na Igreja Católica faz de alguém
um cristão. Se esse realmente é o caso, então a
Reforma não passou de um erro trágico. Os milhões
que foram martirizados (durante dez séculos antes
da Reforma e até os dias de hoje) por rejeitar o
catolicismo como um falso evangelho, terão morrido
em vão. Se, contudo, os reformadores tinham razão,
então este acordo entre católicos e evangélicos seria
o golpe mais astuto e mortal contra o Evangelho de
Cristo em toda a história da Igreja. De qualquer
maneira, as conseqüências serão perturbadoras. Ao
elogiar essa declaração conjunta, um líder
evangélico declarou:
[Este documento] tem o poder de relançar todas as
discussões ecumênicas que se têm desenrolado
durante anos... Esta é uma nova fase. Como
evangélicos, nossos amigos mais chegados na tarefa
cultural e teológica fundamental são os católicos
romanos.[1]

As diferenças teológicas entre católicos e


protestantes já foram consideradas tão grandes, que
milhões morreram como mártires para não
comprometê-las, e seus executores católicos estavam
igualmente convencidos da importância de tais
diferenças. Como podem essas diferenças ter
desaparecido? O que levou os líderes evangélicos a
declarar que o evangelho do catolicismo, que os
reformadores denunciaram como herético, agora
tornou-se bíblico? Esse evangelho não mudou em
nada! Será que a convicção foi comprometida a fim
de criar uma imensa coalizão entre os conservadores
por uma ação social e política?
Normalmente os evangélicos americanos iriam
protestar se alguém dissesse simplesmente que todo
aquele que freqüenta uma igreja é cristão. Como,
então, os líderes protestantes concordaram com a
visão de que todos os católicos praticantes são
cristãos e não precisam ser evangelizados? O
documento explica que tanto católicos como
evangélicos endossam o Credo Apostólico: “Cristo
padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e
sepultado...” Esse credo, porém, como o de Nicéia e
outros credos, não expressa o Evangelho que salva
(Romanos 1.16): “Cristo morreu pelos nossos
pecados...” (1 Coríntios 15.1-4). Os mórmons
também endossam o Credo Apostólico, mas isso não
significa que eles sejam cristãos no sentido bíblico.
Não é o fato de abraçar o Credo que torna os
católicos (ou protestantes) cristãos verdadeiros.
Além do mais, o que os católicos querem dizer
quando declaram que Cristo morreu pelos seus
pecados é totalmente diferente do que os
evangélicos entendem sobre essa verdade, conforme
mostraremos nas páginas seguintes.
O catolicismo romano já foi a religião estatal de
muitos países – em toda a América Latina e em
grande parte da Europa – e nessa época proibiu a
prática de todas as demais religiões, mas hoje isso
acabou. Roma, então, usa novas estratégias. Em
alguns países, como a França, a Igreja Católica está
pressionando o governo para considerar ilegal o
“proselitismo” – exatamente o aspecto sobre o qual
os endossadores desse pacto comum têm
concordado. Noutros lugares a Igreja Católica está
exigindo que os evangélicos assinem um acordo
similar ao que entrou em vigência nos Estados
Unidos. Uma notícia publicada no início dos anos
90 dizia:
Espantado com o forte crescimento das “seitas”
evangélicas no Brasil, os líderes da Igreja Católica
Romana têm ameaçado desencadear uma “guerra
santa” contra os protestantes, a não ser que eles
parem de tirar o povo do domínio católico... Na 31a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil... o bispo
Sinésio Bohn disse que os evangélicos são uma séria
ameaça à influência do Vaticano neste país.
“Declararemos uma ‘guerra santa’, não duvidem”,
anunciou ele. “A Igreja Católica dispõe de uma
poderosa estrutura e quando nos mexermos
esmagaremos qualquer um que se colocar em nossa
frente...” Conforme Bohn, tal guerra santa pode ser
evitada, desde que 13 grandes denominações
protestantes assinem um acordo... [o qual] requereria
que os protestantes cessassem com todos os esforços
evangelísticos no Brasil. Ele disse ainda que, em troca,
os católicos concordariam em parar com todo tipo de
perseguição aos protestantes.[2]
Esse bispo admitiu que a perseguição aos
protestantes ainda é uma política oficial. A extensão
de tal política através da história (a qual iremos
documentar) irá surpreender tanto os católicos
quanto os protestantes. É importante notar que o
objetivo da Conferência dos Bispos não era a
verdade do Evangelho nem a salvação de almas, mas
manter a influência do Vaticano e manter o povo
dentro da Igreja Católica.
Notem ainda que o mesmo acordo que bispo o
Bohn exigiu, ameaçando os evangélicos do Brasil,
foi bem aceito nos Estados Unidos por Colson,
Packer, Bright, Robertson, etc. Fica evidente que as
ameaças de Bohn influenciaram os líderes
evangélicos americanos quando vemos a declaração
feita por Colson durante uma entrevista em que ele,
e outros signatários do documento, declararam estar
“aborrecidos com os conflitos que surgiram em
decorrência do crescimento do protestantismo
evangélico na América Latina tradicionalmente
católica...” [3]
Enquanto os evangélicos assinam uma trégua,
Roma se move no sentido de convencer os
protestantes a virem para a Igreja Católica. O
projeto católico “Evangelização 2000” realizou seis
conferências de treinamento evangelístico nos EUA,
em 1994, envolvendo grupos como os “Institutos de
Evangelização Paulina” (na capital, Washington) e a
“Associação de Coordenadores de Evangelização
das Escolas Católicas” (também em Washington).
Essas foram sessões sérias de treinamento para
líderes, no que eles chamaram de “evangelismo
católico”. Charles Colson foi um dos palestrantes na
conferência “João Paulo II e a Nova Evangelização:
Implementando a Visão”, realizada em maio daquele
ano na cidade de Ypsilanti, no estado de Michigan.
Ele esteve junto a líderes católicos, como o frei Tom
Forrest, que comandava o “Evangelização 2000”
para o Vaticano. [4]
Aparentemente os líderes evangélicos que
assinaram a declaração conjunta imaginavam que
haveria um companheirismo espiritual com os
católicos para ganhar o mundo para Cristo.
“Evangelismo” para os evangélicos significa levar as
pessoas a Cristo. Para os católicos, contudo,
significa levar as pessoas para dentro da Igreja
Católica Romana - algo que o acordo deixou de
declarar. Consideremos a seguinte explanação do
que vem a ser o “evangelismo católico”, dada pelo
frei Tom Forrest a um grupo de católicos
carismáticos em 1990:
Nosso negócio é fazer o povo tão profunda e
completamente cristão quanto possível, fazendo com
que sejam parte da Igreja Católica. Assim a
evangelização não é totalmente bem sucedida, apenas
parcialmente, até que o convertido se torne um
membro do corpo de Cristo, entrando na Igreja
[Católica].
Agora escutem novamente as palavras de Paulo VI [o
papa]. Esse é um documento que todos vocês
deveriam ter em casa... chama-se “A Evangelização no
Mundo Moderno”. O papa disse: “o compromisso de
alguém recém-evangelizado não pode permanecer
abstrato (simplesmente dizer: “oh, eu sou um cristão”,
é algo muito vago)... Deve assumir uma forma
concreta e visível, entrando para a Igreja [Católica], o
nosso sacramento perceptível da salvação”.
Gosto de dizer essas palavras, vou dizê-las novamente:
“nosso sacramento visível de salvação”. Isto é a Igreja,
e se ela é isto, então temos de evangelizar para fazer
com que eles entrem para a Igreja!...
Portanto, você não convida alguém para ser cristão,
você o convida para ser católico... Por que isso é tão
importante? Em primeiro lugar lembre-se que existem
sete sacramentos e que a igreja é quem os
administra... Sobre nossos altares temos o corpo de
Cristo, bebemos o sangue de Cristo. Jesus está vivo
sobre nossos altares, como oferta... Tornamo-nos um
com Cristo na eucaristia...
Como católicos temos Maria, ela é a nossa mãezinha, a
rainha do céu, que fica rezando por nós, até que nos
veja na glória. Como católicos temos o papado e a
história dos papas, desde Pedro até João Paulo
II...Temos a rocha sobre a qual Cristo edificou a Sua
Igreja.
Como católicos – adoro dizer isso – temos o
purgatório. Graças a Deus! Eu sou um daqueles que
jamais gozariam da visão beatífica sem ele. Esse é o
único caminho a ser percorrido...
Então, como católicos... é nossa tarefa aproveitar esta
última década do século XX para evangelizar cada
pessoa que pudermos, fazendo com que entrem para
a Igreja Católica, entrem para o corpo de Cristo e no
terceiro milênio de história católica.[5]

Bem, apesar dessas explanações tão claras


sobre o “evangelismo” dos católicos, os evangélicos
continuam participando de esforços evangelísticos
conjuntos. Para os seguidores do catolicismo a
salvação não acontece quando recebemos Cristo
como Salvador, mas é um processo lento que se
inicia com o batismo e, portanto, depende de uma
relação contínua com a Igreja Católica. Eles crêem
que a salvação vem pela participação nos
sacramentos, penitências, boas obras, sofrimentos
pelos seus pecados (e dos outros) aqui e/ou no
purgatório, indulgências para reduzir a pena no
purgatório, e uma quantidade quase infinita de
missas e rosários rezados em benefício próprio ou
mesmo dos que já morreram. O “evangelismo”
católico baseia-se em boas obras, o que é a completa
antítese do “evangelho da graça de Deus” (Atos
20.24).
Apesar de tudo, muitos católicos, ao ouvirem o
verdadeiro Evangelho da graça de Deus, estão
recebendo Cristo como Salvador. Esses cristãos
católicos eventualmente acabam confrontando o
catolicismo romano com aquilo que eles agora
descobriram ser o ensino bíblico – esse é um
conflito tão grande que a maioria acha impossível
permanecer na Igreja Católica. Muitos protestantes
ficam igualmente em dúvida de como deveria ser a
sua relação com os católicos.
As questões tratadas pela Reforma estão
confusas. O propósito deste livro é apresentar
informações vitais e fatuais que lancem a luz
necessária sobre a relação entre católicos e
protestantes. A grande maioria, tanto dos católicos
quanto dos protestantes, ignora totalmente esses
assuntos tão importantes. É nossa esperança e
oração que as páginas seguintes ajudem a esclarecer
os fatos e a desfazer essa confusão.
CAPÍTULO 1

A Mulher Montada na
Besta!
“Trans por tou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma
mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de
blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres”.

– Apocalipse 17.3

As mais espantosas profecias da Bíblia se


encontram em seu último livro, chamado
“Apocalipse” ou “Revelação” (o sentido original da
palavra), registradas pelo apóstolo João por volta do
ano 95. Ele afirmou ter recebido do próprio Cristo
ressurreto essa série de visões do julgamento final de
Deus sobre a humanidade, que findaria a história.
Esta última e mais espantosa visão panorâmica do
futuro traz a revelação sobre diversos eventos –
alguns já cumpridos e muitos ainda por se cumprir,
mas todos ao mesmo tempo incríveis e terríveis. De
todas “as coisas que em breve devem acontecer”
(Apocalipse 1.1), reveladas por João, nada é tão
intrigante e chocante como a visão registrada por ele
no capítulo 17, onde lemos sobre uma horrenda
besta escarlate com sete cabeças e dez chifres. Essa
não é a primeira vez que ela aparece aos profetas
bíblicos. Pela sua descrição fica óbvio que essa é a
mesma criatura terrível que foi descrita
anteriormente três vezes. O próprio João viu-a duas
vezes. Daniel já a havia visto, porém cerca de 600
anos antes de João. Mas alguma coisa mudou nessa
última visão.
Nas aparições anteriores da besta na Escritura
ela sempre atraía totalmente o foco das atenções
para si e invariavelmente aparecia sozinha. Porém,
agora surge com uma amazona montada sobre si.
Parece algo além da imaginação alguém se atrever,
ou ser capaz de cavalgar essa terrível besta. Mesmo
assim uma mulher está sentada, bem à vontade e
obviamente no controle da situação, sobre uma
criatura devoradora de mundos, impossível de ser
descrita. Uma mulher? Sim, essa é a visão descrita
pelo livro de Apocalipse!
Por mais de 1900 anos a besta tem sido um dos
principais objetos de atenção por parte dos
estudiosos da profecia. Sua identidade e o papel
aterrador que irá desempenhar nos últimos tempos,
bem como a sua destruição, têm sido debatidos
durante séculos. Nos últimos 200 anos, porém,
muitos cristãos evangélicos chegaram perto de um
consenso: a mulher montada na besta representa
tanto o Império Romano (que é a falsificação
satânica do Reino de Deus em escala mundial),
quanto o Anticristo, que será o seu novo soberano,
empossado pelo próprio Satanás. Nas páginas
seguintes iremos verificar se tal interpretação está
correta ou não.

A Mulher Que Não Pode Ser


Ignorada
A mulher é uma figura muito mais enigmática
do que a besta. Os líderes da Reforma tinham
certeza de que ela representava a Igreja Católica
Romana como um todo e o papa em particular. Essa
crença, todavia, tem sido rejeitada ultimamente pela
maioria dos protestantes como sendo algo
provocativo e humilhante para os companheiros
católicos, com quem os evangélicos desejam
trabalhar conjuntamente na tarefa de ganhar o
mundo para Cristo. Na verdade, hoje em dia evita-se
falar sobre essa mulher, pois esse assunto geralmente
é considerado perigoso demais para ser discutido, já
que causa divisão.
Contudo, a mulher retratada em detalhes por
João não pode ser ignorada assim tão facilmente,
pois ela é real e dois dos capítulos finais da Bíblia
são dedicados para descrevê-la. Que faremos com
essa mulher? Seria desonesto ignorarmos uma figura
profética tão importante. A Bíblia inteira é a Palavra
de Deus. Não podemos fechar os olhos para os
capítulos 17 e 18 de Apocalipse assim como não
podemos ignorar João 3.16.
Sem dúvida a mulher é a figura central nestes
dois capítulos tão importantes, uma das principais
personagens do drama dos últimos dias. João dá
muito mais atenção a ela do que à besta. A mulher
cavalga a besta – um ser que tem uma importância
tão grande que ocupa posição de destaque na
profecia bíblica. Podemos ver claramente que o
segredo da identidade dessa mulher e o papel que
ela desempenhará é a principal chave para
entendermos as profecias bíblicas referentes ao
reinado do Anticristo e os eventos que conduzirão à
Segunda Vinda de Cristo.

A Profecia Mais
Impressionante das
Escrituras
Nas páginas seguintes mostraremos que a
identidade da mulher foi meticulosamente revelada
pelo próprio João de uma maneira que não restam
dúvidas. Veremos também que a visão da mulher é
uma das mais notáveis e importantes profecias das
Escrituras. As revelações feitas sobre essa mulher,
dadas pelo Espírito Santo, impressionaram muito a
João e continuam sendo chocantes até hoje.
Muitas das visões que João teve já se
cumpriram na história e, portanto, podem ser
inquestionavelmente constatadas. Baseados naquilo
que nos foi revelado pelo apóstolo João, nossa
identificação da identidade da mulher será feita de
forma cuidadosa e inequívoca. Embora muitos
leitores possam vir a questionar nossas conclusões,
ninguém será capaz de refutá-las.
A verdade sobre a visão da mulher montada na
besta é uma das profecias mais assombrosas das
Escrituras. Dizemos especificamente “das
Escrituras” porque profecias importantes que foram
registradas durante séculos e tiveram um
cumprimento posterior são exclusivas da Bíblia. Não
estamos falando de conjecturas de pouca
importância, feitas por videntes, mas de profecias
que envolvem eventos globais de grande importância
e que têm um irrefutável registro histórico.
A imagem da mulher montada na besta, como
veremos, nos dará subsídios importantes para
entendermos melhor os eventos que fizeram parte da
história mundial no passado e que determinarão o
destino da humanidade no futuro. Essa mulher não
está somente sobre a besta, mas também na
culminância de séculos de profecias bíblicas.

Uma Questão de
Credibilidade
Estamos simplesmente sensacionalizando a
visão de João? Por que deveríamos nos interessar
por sua interpretação hoje em dia? A questão da
relevância desse assunto pode ser facilmente
esclarecida. A maioria das profecias da Bíblia já se
cumpriu. Portanto, é muito simples e fácil examinar-
se tais registros. Por causa dos muitos que irão
duvidar e também para fortalecer a fé daqueles que
já crêem, devemos dar um rápido passeio pelo
fascinante mundo da profecia bíblica. Provaremos
que as profecias do passado eram impecavelmente
exatas, seu cumprimento não pode ser explicado
pelo acaso e as evidências nos asseguram que não
estamos perdendo nosso tempo examinando as
profecias concernentes ao futuro. Essa mulher
montada na besta realmente tem muito a nos
mostrar sobre o futuro.
Depois de alcançarmos o nosso objetivo iremos
focalizar nossa atenção em Apocalipse 17 e 18,
tratando de revelar a identidade e o papel que essa
mulher montada na besta terá no futuro, certos que
a profecia será cumprida exatamente como João nos
revelou.
Muitas das informações que iremos apresentar
aqui não farão deste livro uma leitura agradável.
Mesmo que perturbe e desafie muitos dos conceitos
do leitor, a verdade, apesar de negada por muitos,
será bem documentada. Além disso, essa é uma
realidade que todas as pessoas do planeta Terra (em
especial os que se consideram cristãos), e acima de
tudo os católicos romanos, precisam urgentemente
perceber.
Lamentamos principalmente por aqueles
católicos romanos sinceros, que depositam grande
confiança em sua Igreja, aceitando o que a
hierarquia católica lhes diz, sem estudar a história
para aprenderem toda a verdade. É nossa esperança
e oração que os fatos aqui relatados sejam
comparados com os registros históricos, para que
assim muitos dos devotos seguidores de Roma
venham a encarar as evidências.
CAPÍTULO 2

Razão Para Crer


“Lembrai-vos das coisas passadas da antigüidade: que eu sou
Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a
mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e
desde a antigüidade, as coisas que ainda não sucederam; que
digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha
vontade”.

– Isaías 46.9-10

A profecia bíblica é a chave para se entender


tanto o passado quanto o futuro. Embora aos céticos
essa talvez pareça uma pretensão absurda, ela é
facilmente comprovada. Pelo fato de já ter se
cumprido a maior parte das profecias registradas na
Bíblia, fica muito simples determinar se essas
profecias são confiáveis ou não.
Dois importantes assuntos da profecia
estendem-se consistentemente por toda a Escritura:
(1) Israel; (2) O Messias que vem para Israel e
através de Israel para o mundo como Salvador de
toda a humanidade. Ao redor desses dois temas
centrais quase todas as demais profecias se
desenvolvem e encontram seu significado, seja o
Arrebatamento da Igreja, o Anticristo, seu governo e
religião vindouros, o Armagedom, a Segunda Vinda
de Cristo ou qualquer outra ocorrência profética. A
Bíblia é absolutamente única na apresentação dessas
profecias, as quais ela registra com detalhes
específicos, começando há mais de 3.000 anos.
Cerca de 30% da Bíblia é dedicado à profecia.
Esse fato confirma a importância do que tem se
tornado um assunto negligenciado. Em contraste
marcante, a profecia está completamente ausente no
Corão, nos Vedas hindus, no Baghavad Gita, no
Ramayana, nas palavras de Buda ou Confúcio, no
Livro de Mórmon, ou quaisquer outros escritos das
religiões mundiais. Esse fato isolado já provê um
inegável selo de aprovação divina sobre a fé judaico-
cristã, elemento que falta em todas as outras
crenças. O perfeito registro do cumprimento da
profecia bíblica é suficiente para autenticar a Bíblia
como a única e inerrante Palavra de Deus, ao
contrário de todos os outros escritos.

Profecia – A Grande Prova


Há muitos motivos importantes para a profecia
bíblica. Em primeiro lugar, o cumprimento da
profecia estabelece prova irrefutável da existência do
próprio Deus que inspirou os profetas. Pelos
importantes eventos da história mundial,
profetizados centenas e mesmo milhares de anos
antes de acontecerem, o Deus da Bíblia prova ser o
único Deus verdadeiro, Criador do universo e da
humanidade, o Senhor da História – e que a Bíblia é
a Sua Palavra infalível, dada a fim de comunicar os
Seus propósitos e o meio de salvação a todos os que
crêem. Aqui está uma prova tão simples que uma
criança pode entender, e tão profunda que os
maiores gênios não podem refutar.
A profecia, pois, desempenha um papel vital ao
revelar o propósito de Deus para a humanidade. Ela
também fornece uma prova inteiramente segura na
identificação do verdadeiro Messias de Deus, ou
Cristo, e desmascara o impostor de Satanás, o
Anticristo, de maneira que ninguém que observar a
Palavra de Deus venha a ser por ele enganado.
Entretanto, por ser a profecia algo único na
Bíblia, ela é exclusiva para Cristo. Profecia nenhuma
narrou a vinda de Buda, Maomé, Zoroastro,
Confúcio, Joseph Smith, Mary Baker Eddy, os
populares gurus hindus que têm invadido o
Ocidente, ou qualquer outro líder religioso, todos
eles sem as credenciais que distinguem Jesus Cristo.
Entretanto, há mais de 300 profecias do Antigo
Testamento que identificam o Messias de Israel.
Séculos antes de Sua vinda, os profetas hebreus
estabeleceram critérios específicos que deveriam ser
preenchidos pelo Messias. O cumprimento destas
profecias nos mínimos detalhes da vida, morte e
ressurreição de Jesus de Nazaré demonstra
indiscutivelmente ser Ele o prometido por Deus, o
verdadeiro e único Salvador.
Visto que estes dois importantes itens da
profecia bíblica, Israel e o Messias, são tratados em
alguns dos meus livros, principalmente em Quanto
Tempo Nos Resta?, va mos resumi-los aqui
rapidamente. Em Isaías 43.10, o Deus de Israel
declara que os judeus são Suas testemunhas para o
mundo de que Ele é Deus. Tal é o caso, apesar de
30% dos israelitas hoje declararem-se ateus e a
maior parte dos judeus do mundo inteiro jamais
pensar em dizer que Deus existe. Mesmo assim eles
são testemunhas da existência dEle, tanto para si
mesmos como para o mundo, por causa do
espantoso cumprimento exato, na história, daquilo
que Deus disse que aconteceria a esse povo especial.

O Povo Escolhido – Sua


Terra e Seu Destino
Embora muito do que os profetas predisseram
para Israel ainda seja para o futuro, nove profecias
importantes envolvendo detalhes específicos e
verificáveis já se cumpriram, exatamente como fora
previsto séculos antes.
1) Deus prometeu uma terra e fronteiras
claramente definidas (Gênesis 15.18-21) a Abraão
(Gênesis 12.1; 13.15; 15.7, etc.). Renovou essa
promessa a Isaque, filho de Abraão (Gênesis 26.3-
5), ao seu neto Jacó (Gênesis 28.13) e aos seus
descendentes para sempre (Levítico 25.46; Josué
14.9, etc.).
2) É um fato histórico Deus ter trazido esse
“povo escolhido” (Êxodo 7.4-8; Deuteronômio 7.6;
14.2, etc.) à Terra Prometida, por si só uma
surpreendente história de milagres.
3) Quando os judeus entraram na Terra
Prometida, Deus os advertiu que, se praticassem a
idolatria e imoralidade dos antigos habitantes
daquele lugar, os quais havia destruído por
praticarem o mal (Deuteronômio 9.4), Ele também
os lançaria para longe (Deuteronômio 28.63; 1 Reis
9.7 e 2 Crônicas 7.20, etc.). Que isso aconteceu é,
também, inegável pela história. Até este ponto, a
história nada tem de especial. Outros povos
acreditaram que uma certa área geográfica era a sua
“terra prometida” e depois de entrarem nela foram
posteriormente expulsos pelos inimigos. Porém, as
próximas seis profecias e o seu cumprimento são
absolutamente únicos na história dos judeus. A
ocorrência desses eventos, exatamente como foram
profetizados, jamais pode ter acontecido por acaso.
4) Deus declarou que o Seu povo seria
espalhado “entre todos os povos, de uma até à
outra extremidade da terra” (Deuteronômio 28.64;
cf. 1 Reis 9.7; Neemias 1.8; Amós 9.9; Zacarias
7.14, etc.). E assim aconteceu. O “judeu errante” é
encontrado em toda parte. A precisão com que essas
profecias aconteceram exclusivamente aos judeus se
tornou marcante, porque segue cumprimento após
cumprimento até que a existência de Deus, através
do trato com o Seu povo escolhido, se torne
irrefutável.
5) Deus os admoestou que onde quer que
vagassem, os judeus seriam “pasmo, provérbio e
motejo entre todos os povos” (Deuteronômio
28.37; 2 Crônicas 7.20; Jeremias 29.18; 44.8,
etc.). Incrivelmente isso tem se tornado realidade a
respeito dos judeus através de toda a história,
exatamente como a geração presente o sabe muito
bem. A maledicência, o desprezo, as piadas, o ódio
violento chamado anti-semitismo, não apenas entre
os muçulmanos mas até mesmo entre os que se
chamam cristãos, é um fato único e persistente na
história peculiar do povo judeu. Mesmo hoje, apesar
da freqüente lembrança do Holocausto de Hitler,
que chocou e envergonhou o mundo inteiro como
um desafio à lógica e à consciência, o anti-semitismo
está vivo e recrudesce em todo o mundo.

História de Perseguição
Além disso, os profetas declararam que esse
povo espalhado não apenas seria difamado,
denegrido e discriminado, mas:
6) Seria perseguido e assassinado como
nenhum outro povo na face da terra, fato que a
história atesta com eloqüente testemunho, pois foi
exatamente o que aconteceu aos judeus, século após
século, onde quer que fossem encontrados. O
registro histórico de nenhum outro grupo étnico ou
nacional contém algo que ao menos se aproxime do
pesadelo de terror, humilhação e destruição que os
judeus têm suportado no decorrer da história pelas
mãos dos povos entre os quais foram espalhados.
Vergonhosamente, muitos que afirmavam ser
cristãos e, portanto, seguidores de Cristo, Ele
mesmo um judeu, estavam na linha de frente da
perseguição e extermínio dos judeus. Havendo
ganho completa cidadania no Império Romano
pagão, em 212, sob o Édito de Caracalla, os judeus
se tornaram cidadãos de segunda classe e objeto de
incrível perseguição depois que o imperador
Constantino supostamente tornou-se cristão. A partir
daí, os que se chamavam cristãos tornaram-se mais
cruéis com os judeus do que os pagãos jamais
haviam sido.
Os papas católicos romanos foram os primeiros
a fomentar ao máximo o anti-semitismo. Hitler, que
permaneceu católico até o fim, afirmou que estava
apenas seguindo o exemplo dos católicos e dos
luteranos concluindo o que a igreja havia começado.
O anti-semitismo fazia parte do catolicismo, do qual
Martim Lutero jamais se libertou. Ele advogava que
se incendiassem as casas dos judeus, dando-lhes a
alternativa de se converterem ou ficarem sem a
língua.[1] Quando os judeus de Roma foram
libertados de seus guetos pelo exército italiano em
1870, sua liberdade finalmente pôs fim a cerca de
1.500 anos de inimaginável humilhação e
degradação nas mãos dos que afirmavam ser os
vigários de Cristo. Papa nenhum odiou os judeus
mais do que Paulo IV (1555-1559), cuja crueldade
foi além da imaginação humana. O historiador
católico Peter de Rosa confessa que uma inteira
“sucessão de papas reforçou os antigos preconceitos
contra os judeus, tratando-os como leprosos,
indignos da proteção da lei. Pio VII (1800-1823) foi
sucedido por Leão XII, Pio VIII, Gregório XVI e
Pio IX (1846-1878) – todos eles discípulos de Paulo
IV.[2] O historiador Will Durant nos lembra que
Hitler teve bons precedentes para a suas sanções
contra os judeus:
O Concílio (católico romano) de Viena (1311) proibiu
qualquer transação entre cristãos e judeus. O Concílio
de Zamora (1313) estabeleceu que era proibido aos
cristãos se associarem aos judeus... E levou as
autoridades seculares (como a Igreja havia há muito
estabelecido em Roma e nos Estados papais) a
confinar os judeus em quarteirões separados (guetos)
e compeli-los a usar um distintivo (antes havia sido um
chapéu amarelo) e assegurando sua freqüência aos
sermões para que se convertessem.[3]

Preservação e Renascimento
Deus declarou que, apesar de tais perseguições
e massacres periódicos,
7) Ele não permitiria que o Seu povo fosse
destruído, mas o preservaria como um grupo étnico
e nacional identificável (Jeremias 30.11; 31.35-37,
etc.). Os judeus teriam toda razão de se misturarem
através de casamentos [com os gentios], de
mudarem seus nomes e de esconderem sua
identidade de todas as maneiras possíveis, a fim de
escaparem à perseguição. Por que preservaram sua
linhagem sangüínea, se não possuíam uma terra
própria, se a maioria não cria literalmente na Bíblia e
se a identificação racial só lhes trazia as mais cruéis
desvantagens?
Deixar de se misturar através do casamento não
fazia sentido. A absorção por aqueles entre os quais
eles viviam parecia inevitável, assim sendo, poucos
sinais que caracterizam os judeus como povo
distinto deveriam permanecer até hoje. Afinal,
aqueles exilados desprezíveis foram espalhados por
todos os cantos da terra por 2.500 anos, desde a
destruição de Jerusalém por Nabucodonosor em 586
a.C. Poderia a “tradição” ser tão forte sem uma fé
real em Deus?
Contra todas as previsões, os judeus
permaneceram um povo distinto depois de todos
esses séculos. Este fato é um fenômeno sem paralelo
na história e absolutamente peculiar aos judeus. Para
a maioria dos judeus que viviam na Europa, a lei da
igreja tornava impossível o casamento misto sem a
conversão ao catolicismo romano. Aqui mais uma
vez a Igreja Católica desempenhou um papel
infame. Durante séculos era pecado mortal, sob a
jurisdição dos papas, o casamento entre judeus e
cristãos, proibindo os casamentos mistos mesmo
entre os que o desejassem.
A Bíblia diz que quando Deus determinou
guardar o Seu povo escolhido separado para Si
próprio (Êxodo 33.16; Levítico 20.26, etc.), o fez
porque:
8) Ele os traria de volta à Sua terra nos últimos
dias (Jeremias 30.10; 31.8-12; Ezequiel 36.24,35-
38, etc.), antes da segunda vinda do Messias. Essa
profecia e promessa há tanto esperada foi cumprida
com o renascimento de Israel em sua Terra
Prometida. Isso aconteceu em 1948, quase 1.900
anos após a Diáspora final, que se deu na destruição
de Jerusalém pelos exércitos romanos liderados por
Tito no ano 70. Essa restauração de uma nação,
depois de 25 séculos, é absolutamente espantosa,
um fenômeno sem paralelo na história de qualquer
outro povo e inexplicável por meios naturais e muito
menos pelo acaso. Mais notável é que
9) Deus declarou que nos últimos dias, antes da
segunda vinda do Messias, Jerusalém se tornaria
“um cálice de tontear... uma pedra pesada para
todos os povos” (Zacarias 12.2-3). Quando
Zacarias fez essa profecia, há 2.500 anos, Jerusalém
permanecia em ruínas e cheia de animais selvagens.
A profecia de Zacarias parecia uma grande loucura,
mesmo após o renascimento de Israel em 1948. Pois
hoje, exatamente como foi profetizado, um mundo
de mais de 6 bilhões de pessoas tem os seus olhos
voltados para Jerusalém, temendo que a próxima
Guerra Mundial, se explodir, seja travada por causa
dessa pequenina cidade. Que incrível cumprimento
da profecia!

Não uma Explicação


Qualquer
Israel ocupa 1/6 de 1% da área de terra que os
árabes possuem. Os árabes têm o petróleo, a riqueza
e a influência mundial que tais recursos
aparentemente inesgotáveis proporcionam. Não
apenas o pedacinho de terra de Israel é dificilmente
perceptível no mapa-múndi, como também lhe
faltam todas as coisas essenciais para que se torne o
centro das preocupações de todo o mundo.
Entretanto, desafiando o bom-senso, Israel é o foco
da atenção mundial, exatamente como foi
profetizado.
Jerusalém é uma pequena cidade sem
importância comercial ou localização estratégica.
Mesmo assim, os olhos do mundo inteiro estão
sobre ela mais do que sobre qualquer outra cidade.
Jerusalém tornou-se realmente uma “pedra pesada”
atada ao pescoço de todas as nações do mundo, o
problema mais irritante e instável que as Nações
Unidas enfrentam hoje. E não há explicação lógica
para isso. Está se cumprindo hoje o que os profetas
hebreus declararam há milhares de anos e que
parecia absolutamente irreal em seu tempo. Essa é
apenas uma parte da evidência de que os “últimos
dias” profetizados estão chegando para nós, e que a
nossa geração, provavelmente, verá o restante da
profecia cumprida.
As profecias acima delineadas (para não citar
inúmeras outras), têm sido assunto de conhecimento
público nas páginas da Escritura e têm estado
disponíveis para exame cuidadoso durante séculos.
Que elas tenham se cumprido com detalhes não
pode ser obra do acaso, sendo, na verdade, a prova
evidente da existência do Deus que inspirou a Bíblia,
provando a autenticidade e inerrância desse Livro.
Em vista de tal clara e admirável evidência, somente
podemos supor benevolentemente que nenhum
agnóstico ou ateu tenha se atrevido a ler as profecias
bíblicas nem as tenha pessoalmente comparado com
a história e os eventos atuais.
Existem profecias adicionais concernentes a
Israel e Jerusalém que se referem aos últimos dias,
as quais ainda aguardam cumprimento futuro.
Entretanto, podemos estar certos, baseados nas
profecias que já se cumpriram, que estas também se
realizarão em um futuro não muito distante. O
tempo mais aterrador de destruição para os judeus e
também para toda a população mundial ainda está
por vir. Ele se chama “tempo de angústia para
Jacó” (Jeremias 30.7).
Com espantosa precisão a Bíblia não
menciona Damasco, Cairo, Londres ou Paris
como centro da ação dos últimos dias, mas
apenas duas cidades específicas: Jerusalém e
Roma. Elas são antagônicas, têm sido
inimigas desde a época dos césares e
notavelmente continuam rivais pela
supremacia espiritual ainda hoje. A Roma
católica reivindica ser a “Cidade Eterna” e a
“Cidade Santa”, títulos que a Bíblia concede a
Jerusalém. Roma também afirma que é a
“Nova Jerusalém”, provocando um conflito
direto com as promessas de Deus
concernentes à verdadeira Cidade de Davi.
Passaram-se 2.000 anos de tensão e
antagonismo entre Roma e Jerusalém. Durante
quase 46 anos após o renascimento de Israel
em 1948, o Vaticano se recusou a reconhecer
esse país. Essa animosidade não foi apagada
pela recente abertura, que o Vaticano usou
apenas como expediente para se aproximar de
Israel. Roma quer exercer influência sobre o
futuro de Jerusalém, insistindo em torná-la
uma cidade internacional, sobre a qual Israel
não tenha mais direitos do que qualquer outra
nação.
Com espantosa precisão a Bíblia identifica
Jerusalém e Roma como os pontos centrais
dos eventos profetizados para os últimos dias.
Ambas vão ter sua parte no julgamento de
Deus. Exige-se pouco mais do que atenção
casual sobre as notícias diárias para se
reconhecer a precisão da profecia. Também aí,
no que a Bíblia diz sobre Roma e a Cidade do
Vaticano, temos evidências adicionais de que
esse Livro é a Palavra de Deus.
CAPÍTULO 3

Uma Conspiração da
Páscoa?
“Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o
Nazareno... sendo entregue pelo determinado desígnio e
presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de
iníquos”.

– Pe dro, em seu primeiro sermão (Atos 2.22-23) “Paulo... por


três sábados arrazoou com eles (os judeus em sua sinagoga)
acerca das Escrituras... que o Cristo padecesse e ressurgisse
dentre os mortos... é o Cristo [Messias], Jesus, que eu vos
anuncio”.

– Pau lo, em um dos seus sermões típicos (Atos 17.2-3)

As profecias concernentes ao segundo tema


mais importante da Bíblia (a vinda do Messias), são
ainda mais numerosas e detalhadas do que as que
dizem respeito a Israel. Já tratei desse assunto em
meus livros anteriores, por isso iremos resumir
brevemente algumas delas aqui. Até mesmo os
críticos mais anticristãos, que negam
categoricamente que Jesus de Nazaré seja o
Salvador do mundo, admitem que muitas das
profecias messiânicas foram cumpridas em Sua vida
e crucificação. Na tentativa de diminuir a
importância desse fato, algumas teorias bizarras
foram inventadas.
Um exemplo típico dessas tentativas foi um
livro e um filme (nenhum deles foi um grande
sucesso), lançados alguns anos atrás, intitulados A
Conspiração da Páscoa. Sua tese era que Jesus,
conhecendo algumas das profecias messiânicas do
Antigo Testamento, conspirou com Judas para
cumpri-las, aparentando ser Ele o Messias
prometido.

Contradição Inconsistente?
Obviamente é ridículo pensar que Jesus
deixou-Se crucificar a fim de convencer um
pequeno bando de seguidores incultos e ineptos de
que Ele era o Cristo. De fato, nem Seus discípulos
nem qualquer outro judeu, inclusive João Batista,
poderia crer (embora as profecias fossem claras,
como Cristo sempre explicou) que o Messias seria
crucificado. Na verdade Sua morte até parecia ser
uma prova de que Ele não era o Messias, e
cumprindo assim, literalmente, as profecias
referentes à Sua crucificação, como Ele o fez, não
seria o meio mais apropriado de conseguir
seguidores. A verdade é que a morte de Cristo,
segundo as profecias ocorreu para pagar a
penalidade pelos nossos pecados.
As profecias referentes à Sua morte (Salmo
22.16; Isaías 53.5; 8-10; Zacarias 12.10, etc.) eram
evitadas pelos judeus, como mistérios impenetráveis,
pois pareciam totalmente destoantes das outras, as
quais declaravam claramente que o Messias haveria
de subir ao trono de Davi e governar um reino
magnífico. Como poderia o Messias estabelecer um
reino e uma paz sem fim (Isaías 9.7) e ao mesmo
tempo ser rejeitado e crucificado pelo Seu próprio
povo? Parecia impossível que ambas fossem
verdadeiras, por isso os intérpretes judeus
simplesmente ignoravam o que não fazia sentido
para eles.
O fato dos judeus terem conseguido crucificar
Jesus foi a prova final e triunfante para os rabinos, e
serviu como uma frustrante mas inegável evidência
para o povo judeu e para os Seus discípulos mais
devotados de que Jesus de Nazaré não podia ser o
Messias. O reino messiânico que havia sido
profetizado não tinha sido estabelecido e Ele não
havia trazido paz a Israel, livrando-o dos seus
inimigos. Sendo assim, na melhor das hipóteses Ele
era um impostor bem-intencionado e, na pior delas,
uma fraude deliberada. Esse continua sendo o
argumento da maioria dos judeus hoje em dia.
Existia, porém, uma maneira de reconciliar
essas aparentes contradições: o Messias deveria vir
duas vezes, a primeira para morrer pelo pecado dos
homens e a segunda para reinar assentado sobre o
trono de Davi. Mesmo que Jesus tenha explicado
esses fatos antes deles acontecerem, ninguém
conseguiu entendê-los. Seria preciso que Ele
ressuscitasse para abrir os olhos cegos.

Mais do Que Um Simples


Homem Sim, Jesus de
Nazaré poderia ter
conspirado juntamente com
Judas, ou com outros, para
que fossem cumpridas
algumas profecias. A maior
parte das profecias, contudo,
estava além do controle de
qualquer simples mortal. Por
exemplo, nascer em Belém,
da descendência de Davi, era
um dos principais requisitos
para o Messias. Além disso, o
tempo em que ocorreu o
nascimento do Messias,
como fora profetizado antes,
tampouco podia ser
determinado por qualquer
pessoa. Seu nascimento teria
de ocorrer antes do “cetro se
arredar de Judá” (Gênesis
49.10), enquanto o templo
ainda estivesse de pé
(Malaquias 3.17), enquanto
os registros genealógicos
ainda estivessem disponíveis
para provar a sua linhagem
(2 Samuel 7.12; Salmo 89;
etc.) e pouco tempo antes
que o templo e Jerusalém
fossem destruídos (Daniel
9.26).
Havia apenas um limitado período de tempo
durante a qual o Messias teria de vir – e Ele veio.
Como o apóstolo Paulo, um ex-mestre do judaísmo,
expôs de maneira tão eloqüente: “Vindo, porém, a
plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido
de mulher [ou seja, de uma virgem], nascido sob a
lei...” (Gálatas 4.4). Portanto, seria tarde demais
caso o Messias viesse pela primeira vez hoje em dia.
Agora só pode haver uma Segunda Vinda, como a
Bíblia nos ensina. Mesmo assim os judeus aguardam
a vinda daquele que eles pensarão ser o Messias,
mas que na realidade será o Anticristo.
O cetro foi arredado de Judá por volta do ano
7, quando os rabinos perderam o direito de decretar
a pena de morte. Esse direito era crucial para a
prática de sua religião, porque a morte era a
penalidade para certas ofensas religiosas. Quando
Pilatos disse aos judeus que nada tinha a ver com
Jesus, e que eles mesmos O julgassem, os judeus
responderam: “A nós não nos é lícito matar
ninguém” (João 18.31). O Messias teria de nascer
antes que esse poder fosse perdido e deveria morrer
em seguida, não sendo apedrejado (o modo de
execução dos judeus), mas crucificado pelos
romanos. De um modo incrível Sua crucificação
fora profetizada séculos antes que este meio de
execução fosse conhecido: “Traspassaram-me as
mãos e os pés” (Salmo 22.16).
É óbvio que o Messias devia nascer enquanto
ainda existissem os registros genealógicos, ou não
haveria prova alguma de que Ele descendia de Davi.
Esse tipo de documentação se perdeu com a
destruição do templo, no ano 70, um evento que
tanto Daniel como Cristo profetizaram (Mateus
24.2). A partir de então passou a ser tarde demais
para que o Messias viesse, embora a maioria dos
judeus continue aguardando o Seu primeiro
advento. Por outro lado, os cristãos aguardam a
Segunda Vinda, a qual também foi profetizada pelos
profetas judeus.

Incríveis Cumprimentos de
Profecias Se Jesus tivesse
conspirado para realizar as
profecias, Ele também teria
de induzir Pilatos a condenar
os dois ladrões a serem
crucificados com Ele, para
que Isaías 53.9 se cumprisse.
Teria também de saber quais
soldados estariam de serviço
naquele dia, a fim de poder
suborná-los com
antecedência para que
dividissem as Suas vestes,
deitando sortes sobre a Sua
túnica (Salmo 22.18),
dessem-Lhe vinagre
misturado com fel para
beber (Salmo 69.21), O
traspassassem com uma
lança (Zacarias 12.10) ao
invés de quebrar Suas
pernas, conforme o costume
da época, pois isso não
poderia ser feito ao Messias
(Êxodo 12.46; Salmo 34.20).
Os rabinos também eram parte da conspiração?
Foi por isso que eles pagaram a Judas exatamente
30 moedas de prata pela traição, conforme
profetizado em Zacarias (11.12), tendo sido esse
dinheiro usado para comprar o “campo do oleiro”
para cemitério de forasteiros (Mateus 27.7), depois
que Judas atirou para o santuário as moedas, o que
também foi profetizado (Zacarias 11.13)? É por isso
que eles crucificaram Jesus exatamente no momento
em que os cordeiros pascais estavam sendo mortos
em todo o Israel, em cumprimento de Êxodo 12.6?
Quanto mais se examina o cenário dessa
“Conspiração da Páscoa”, mais ridícula ela se
torna.
Onde Jesus conseguiu dinheiro para pagar a
multidão que se amontoava na estrada que leva a
Jerusalém e O saudou como o Messias, enquanto
montava um jumento – o último animal que se
esperaria ser escolhido como a montaria de um rei
triunfante – precisamente como fora profetizado em
Zacarias 9.9? Isso ocorreu no dia 10 do mês de
Nissan [6 de abril] do ano 32, o dia exato predito
pelos profetas em que esse incrível evento
aconteceria. Ou seja, 483 anos depois do dia (69
semanas de anos, conforme a profecia de Daniel
9.25) em que Neemias, no vigésimo ano do reinado
de Artaxerxes Longimanus (465-425 a.C.), recebeu
[dia 1º de Nissan de 445 a.C.] autorização para
reconstruir Jerusalém (Neemias 2.1)! O
cumprimento em Jesus, dessas e das muitas outras
profecias messiânicas em seus mínimos detalhes,
não pode ser nem de longe negado.

Corpo Desaparecido,
Túmulo Vazio Além do mais,
se Jesus tivesse tido sucesso
na “conspiração” para ser
crucificado na data e no
tempo exato que havia sido
profetizado – apesar da
determinação dos rabinos
para que ocorresse o
contrário (Mateus 26.5;
Marcos 14.2), – Ele ainda
teria de ressuscitar dos
mortos. Nenhuma
Conspiração da Páscoa, não
importa quantos
conspiradores estivessem
envolvidos, poderia fazer
com que isso ocorresse. Uma
“ressurreição” de mentira
não seria o suficiente para
que Seus seguidores
propagassem o cristianismo.
Somente se Cristo tivesse
realmente morrido e
ressuscitado é que os
apóstolos teriam motivação e
coragem para proclamar o
Evangelho, enfrentando
perseguições e o martírio.
Os soldados romanos não dormiram durante a
guarda. Se isso tivesse acontecido enquanto os
discípulos roubavam o corpo, todos eles seriam
crucificados no dia seguinte, por terem cometido o
crime de violar o selo romano que estava na pedra
colocada sobre o túmulo. Se os discípulos tivessem
roubado o corpo e, de algum modo, mantivessem
isso em segredo, por que morreriam por uma
mentira? Eles eram tão covardes que nenhum deles
quis morrer pelo que acreditavam ser a verdade.
Mesmo assim, mais tarde quase todos morreram
como mártires, declarando até o fim serem
testemunhas oculares da ressurreição de Jesus.
Nenhum deles tentou salvar a própria vida em troca
da revelação do lugar onde o corpo havia sido
escondido. Simplesmente não existe maneira de se
explicar um túmulo inegavelmente vazio, exceto pela
ressurreição.
Nem o hinduísmo, o budismo, o islamismo ou
qualquer outra religião do mundo pode ter a
pretensão de afirmar que o seu líder ainda está vivo.
Para o cristianismo, contudo, a ressurreição é o
coração do Evangelho. Se Cristo não ressuscitou dos
mortos, então tudo não passa de uma fraude. Jesus
não mandou os Seus discípulos irem para as
longínquas terras da Sibéria ou da África do Sul a
fim de pregar a Sua ressurreição, onde ninguém
poderia contestar aquelas declarações. Mas mandou-
os começar por Jerusalém, onde, caso Ele não
tivesse ressuscitado, um pequeno passeio até o
túmulo (nos arredores da cidade), provaria que
ainda estava morto. Como os rabinos e o
governador romano adorariam poder desacreditar o
cristianismo antes que ele se alastrasse! A maneira
mais segura de fazer isso seria exibir o corpo de
Jesus, só que eles não puderam fazê-lo. O túmulo
fortemente guardado, de repente, ficou vazio!

Surge Saulo de Tarso As


provas da ressurreição de
Jesus são numerosas e
irrefutáveis, mas como já
tratamos desse assunto em
outros livros, mencionaremos
apenas uma – aquela prova
que sempre é ignorada. A
única explicação para o fato
de Saulo de Tarso, o maior
inimigo do cristianismo, ter
se tornado o Seu maior
apóstolo é Cristo ter
realmente ressuscitado dos
mortos. Saulo, um fariseu
jovem e popular, estava
próximo de alcançar grandes
honrarias pelo papel de
liderança que desempenhava
na perseguição dessa seita
aberrante, detendo,
prendendo e martirizando os
seguidores de Jesus. Então,
de repente, ele se tornou um
dos cristãos mais
desprezados e perseguidos e
por sua fé acabou sendo
detido, espancado e
aprisionado várias vezes.
Certa ocasião, chegou a ser
apedrejado e abandonado
para morrer. Finalmente foi
decapitado. Essa incrível
reviravolta em sua vida não
faria sentido... a não ser que
a ressurreição fosse
verdadeira.
Por que trocar voluntariamente a popularidade
pelo sofrimento e um eventual martírio? Paulo dizia
ter se encontrado com o Cristo ressurreto, afirmava
que Aquele que havia morrido pelos pecados do
mundo estava vivo e tinha Se revelado a ele. Esse
testemunho, contudo, não era suficiente para provar
que Cristo realmente estava vivo. Seria necessário
algo mais.
Ninguém poderia duvidar da sinceridade de
Paulo. Isso foi demonstrado pela sua disposição de
sofrer e até morrer por Cristo. Porém apenas uma
crença sincera de que Cristo realmente estava vivo
não era prova suficiente. Era possível que Paulo
tivesse apenas tido uma alucinação, na qual
simplesmente imaginava que Cristo tinha aparecido
e falado com ele, dizendo que ainda estava vivo.
Os governadores romanos Félix e Festo, bem
como o rei Agripa, escutaram a narrativa de Paulo
sobre o seu encontro sobrenatural e tiveram a
certeza de que ele era sincero, mas que estava
enganado (Atos 24.26). Essa explicação, contudo,
não está de acordo com os fatos. A intimidade
repentina de Paulo com os ensinos de Cristo fornece
prova suficiente da ressurreição, que jamais poderia
ser explicada de outro modo.

Evidência Conclusiva Paulo,


que não havia conhecido
Cristo antes dEle ser
crucificado, de repente se
tornou a maior autoridade
naquilo que Jesus havia
ensinado em particular ao
Seu círculo íntimo de
discípulos. Certamente ele O
tinha encontrado! Os
apóstolos, que haviam sido
pessoalmente instruídos por
Cristo durante vários anos,
tinham de reconhecer que
seu antigo inimigo, Paulo,
sem consultar nenhum deles,
sabia tudo que Cristo lhes
havia ensinado e tinha tido
revelações até mais
profundas do que eles.
Quando Paulo repreendeu
Pedro por ter se desviado
momentaneamente dos
ensinamentos de Jesus, este
submeteu-se à correção
(Gálatas 2.11-14).
“Porque eu recebi do Senhor o que também
vos entreguei...” (1 Coríntios 11.23). Foi assim que
Paulo começou a sua explanação à igreja de Corinto
sobre o que acontecera na Última Ceia e o que
Cristo havia ensinado aos Seus discípulos naquela
ocasião. Entretanto, Paulo não esteve presente e
nem consultou nenhum dos que lá estiveram:
“...Não consultei carne e sangue, nem subi a
Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de
mim, mas parti para as regiões da Arábia...”
(Gálatas 1.16,17), foi seu testemunho. Ter se
tornado, de repente, o principal apóstolo e a maior
autoridade sobre o que Cristo havia ensinado, só
poderia ser explicado pelo fato de Paulo ter sido
instruído pelo próprio Senhor ressurreto, exatamente
como afirmava.
Sem consultar nenhum daqueles que haviam
sido discípulos de Cristo durante o Seu ministério
terreno, Paulo tornou-se a principal autoridade na
doutrina cristã, como todas as igrejas tiveram de
reconhecer. Ele escreveu a maioria das epístolas do
Novo Testamento. “Faço-vos, porém, saber,
irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é
segundo o homem. Porque eu não o recebi, nem o
aprendi de homem algum, mas mediante revelação
de Jesus Cristo” (Gálatas 1.11,12), era o
testemunho solene de Paulo. Não existe outra
explicação a não ser que Cristo realmente
ressuscitou e instruiu a Paulo pessoalmente.

Temos Motivo Para Confiar


O cumprimento das
profecias acima
mencionadas, bem como
dezenas de outras sobre a
vida, morte e ressurreição de
Cristo provam, sem sombra
de dúvida, que Ele é o
Messias de Israel, o Salvador
do mundo. Ninguém pode
examinar os fatos e
continuar duvidando.
Aqueles que se recusam a
crer, mesmo diante das
extraordinárias evidências,
tornam-se indesculpáveis.
Usamos estas poucas páginas para estabelecer a
validade da profecia bíblica com um propósito.
Tendo em vista que aquilo que a Bíblia profetizou a
respeito dos eventos do passado se cumpriu com
100% de precisão, temos razões de sobra para crer
que todas suas profecias relativas ao futuro também
serão cumpridas.
Com confiança, então, podemos agora
considerar a revelação sobre o futuro que nos foi
dada em Apocalipse 17 e 18, e estudar a importante
questão da identidade da mulher montada na besta.
Mas antes de tudo, nossa atenção deve ser dirigida à
própria besta.
CAPÍTULO 4

Uma Revelação
Progressiva
“Quatro animais, grandes, diferentes uns dos outros, subiam do
mar. O primeiro era como leão... O segundo semelhante a um
urso... E eis aqui outro, semelhante a um leopardo... E eis aqui o
quarto animal, espantoso e sobremodo forte... E tinha dez
chifres... Os dez chifres correspondem a dez reis...”

– Daniel 7.3-7, 24

A visão de João da mulher montada na besta,


em Apocalipse 17, não é a primeira a descrever essa
horrenda criatura. Essa é, na verdade, a culminância
de uma série de visões que começaram 600 anos
antes. A primeira delas foi o sonho do rei
Nabucodonosor, na qual ele viu uma estátua: “A
cabeça era de fino ouro, o peito e os braços, de
prata, o tronco e os quadris, de bronze; as pernas
de ferro, os pés, em parte, de ferro, em parte, de
barro” (Daniel 2.32-33).
A interpretação dada por Deus a Daniel foi a de
que a estátua, com suas quatro partes de metais
diferentes, referia-se a quatro impérios mundiais:
Babilônico, Medo-Persa, Grego e Romano. O
Império Babilônico ainda existia naquela época. Que
ele foi sucedido pelas outros três, nessa ordem, é
confirmado pela história.
Por que só quatro impérios foram vistos? O
que foi feito de tantos outros que a história registrou
e que ocuparam territórios pelo menos tão grandes
quanto qualquer um desses quatro? A Bíblia ignora
todos eles. Por quê? O tempo os fez desaparecer.
Eles não voltarão mais a existir. Apenas Roma
ressurgirá, pois sua “ferida mortal” será curada
(Apocalipse 13.13).
Durante séculos o centro do poder mundial foi
o Egito. Houve grandes dinastias na China, o
grandioso império de Gêngis Khan e também os
vastos reinos Maia e Asteca, na América Central e
do Sul. Por um determinado período, os árabes
controlaram a maior parte da África do Norte, do
Oriente Médio e porções da Europa. Nenhum
desses impérios, contudo, se reerguerá novamente.
Só Roma recobrará a sua grandeza. Assim como
controlou o mundo antigo, ela será o quartel-general
da nova ordem mundial, que é o sonho das Nações
Unidas.
Os Estados Unidos têm sido nos últimos 50
anos a força, tanto industrial quanto militar,
dominante no mundo. Esse domínio, contudo, está
destinado ao fim. As profecias são claras: o Império
Romano se reerguerá com o governo do Anticristo
na Europa Ocidental e o quartel-general da religião
mundial ficará em Roma, como veremos mais tarde.
Isso é o que a Bíblia tem nos dito nos últimos 2000
anos, desde o tempo do Novo Testamento e por
muitos séculos antes no Antigo Testamento. Os
Estados Unidos nem são mencionados.

Um Império Dividido As
duas pernas da estátua
simbolizavam profeticamente
a divisão do quarto império,
o Romano, em Oriental e
Ocidental, e assim aconteceu.
No ano 330, Constantino
estabeleceu Constantinopla
(hoje Istambul) como sua
nova capital imperial,
deixando o bispo de Roma
encarregado do Ocidente,
fazendo que assim tudo
ficasse pronto para a divisão
política e religiosa final do
império. A ruptura religiosa
definitiva aconteceu em
1054, quando a Igreja
Ortodoxa Oriental se
desligou da Igreja Católica
Romana Ocidental e o papa
Leão IX excomungou o
patriarca de Constantinopla,
Miguel Cerulário. A divisão
entre o catolicismo romano e
os ortodoxos orientais
permanece até hoje e foi o
que causou as guerras
sangrentas que dizimaram a
Iugoslávia, resultando na
independência da Croácia e
da Bósnia-Herzegóvina,
como iremos documentar
posteriormente.
O Império Romano foi politicamente reativado
várias vezes no Ocidente – por exemplo, no ano
800, com Carlos Magno. Os reinos do Oriente e
Ocidente, contudo, nunca mais foram reunificados.
O Império Romano, como um todo, deixou de
existir politicamente, mas a sua religião continuou
crescendo e se espalhou por todo o mundo. Hoje a
Igreja Católica Romana já tem mais de 1 bilhão de
membros. A Igreja Ortodoxa tem pouco mais do que
um quinto desse número. A ruptura entre essas duas
igrejas será restaurada pelo Anticristo.
Os protestantes de várias denominações
correspondem ao remanescente do que tem sido
conhecido como Cristandade, totalizando 1,7
bilhões de pessoas, cerca de 30% da população do
mundo hoje. De acordo com Apocalipse 13.8,
“adorá-lo-ão [ao Anticristo] todos os que habitam
sobre a terra...” Isso indica que não apenas o ca to
li cis mo romano e os ortodoxos se reunificarão, mas
também os protestantes se unirão a eles, assim como
todas as outras religiões, incluindo até mesmo os
muçulmanos, para formar uma nova religião
mundial. Ela envolverá adoração ao imperador,
como na época dos césares, com pena de morte para
os que se recusarem a fazê-lo (Apocalipse 13.14-
15).
Este reavivamento da religião de Roma será,
sem dúvida, uma mistura de cristianismo e
paganismo, como aconteceu sob Constantino e
continuou daí por diante. Essa forma pervertida e
paganizada de cristianismo tornou-se posteriormente
conhecida como catolicismo romano. Afirmando ser
infalível e imutável (semper eadem, ou seja “sempre
a mesma”), a Igreja Católica Romana permanece
sendo até hoje o veículo que permitirá a união
ecumênica final de todas as religiões.

A Importância da Profecia
Os dedos da estátua vista
pelo rei Nabucodonosor
representavam os dez reis
futuros, aos quais Daniel
2.44 se refere, usando uma
linguagem objetiva e
inequívoca: “...nos dias destes
reis, o Deus do céu suscitará
um reino que não será jamais
destruído...” Apesar do
Império Romano jamais ter
sido governado por dez reis
ao mesmo tempo, essa
simples declaração nos diz
que ele será restaurado sob
dez governantes, os quais
serão dirigidos, sem dúvida,
pelo Anticristo.
Esse versículo da Escritura convenceu os
discípulos de Cristo (e também João Batista e os
rabinos), que não era a hora de Cristo assumir o
trono de Davi, Seu pai. A razão era óbvia: naquele
tempo não havia dez reis governando o Império
Romano. A falta de entendimento dessa profecia
levou os que viveram na época de Cristo a ficarem
decepcionados quando Ele não estabeleceu
imediatamente o Seu reino na terra. Aqui vemos
novamente a importância de uma compreensão
exata da profecia.
Em sua visão, Nabucodonosor viu “uma pedra
cortada sem auxílio de mãos, que feriu a estátua
nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou. Então,
foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o
bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como
a palha... e o vento os levou e deles não se viram
mais vestígios... E a pedra que feriu a estátua se
tornou em grande montanha, que encheu toda a
terra” (Daniel 2.34-35). A interpretação é clara: a
verdadeira Igreja não tomará conta do mundo
gradualmente, mas o Reino de Deus será
estabelecido repentinamente por uma intervenção
cataclísmica dos céus. Cristo retornará para destruir
o Anticristo e o seu Império Romano restaurado e
então estabelecerá o Seu reino milenar para
governar o mundo, a partir de Jerusalém, no antigo
trono de Davi que será reinstalado pelo próprio
Deus. Esta interpretação é confirmada por outras
partes das Escrituras, principalmente por 2
Tessalonicenses 2.8, onde é afirmado claramente
que Cristo destruirá o Anticristo “quando for
revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará
com o sopro de sua boca e o destruirá pela
manifestação de sua vinda”. Desse modo, a
Segunda Vinda (diferentemente do Arrebatamento
dos crentes) não acontecerá até que o Anticristo seja
revelado e o governo mundial estabelecido. Só então
Cristo retornará, durante o Armagedom (junto com
os crentes que Ele já terá arrebatado ao céu; cf.
Zacarias 14.5 e Judas 14) para resgatar Israel dos
exércitos do Anticristo, que estarão prontos para
destruí-lo, a fim de executar juízo sobre a terra e
estabelecer o Seu reino messiânico, governando o
mundo assentado no trono de Davi, em Jerusalém
(veja Zacarias 12-14).

A História Foi Escrita


Antecipadamente Algum
tempo depois do sonho de
Nabucodonosor, Daniel teve
a sua própria visão como
próximo estágio da revelação
progressiva de Deus sobre a
vinda do governo mundial
do Anticristo. Nessa visão
Daniel viu novamente os
mesmos quatro impérios
mundiais, dessa vez descritos
como animais ferozes. O
quarto animal,
representando o Império
Romano, tinha dez chifres,
que significavam os dez
dedos da estátua, dez reis ou
governantes regionais que se
levantarão no futuro (Daniel
7.24).
A visão de Daniel incluía detalhes tão acurados
sobre os impérios Medo-Persa e Grego, que os
céticos tentaram desesperadamente, mas sem
sucesso, mostrar que o livro de Daniel foi escrito
após os fatos terem ocorrido. Caso contrário eles
teriam de admitir que existem profecias verdadeiras.
Sem dúvida a Bíblia está repleta de profecias
verdadeiras, datadas de séculos antes do seu
cumprimento. Sem dúvida alguma, as que
mencionamos resumidamente no capítulo anterior,
referentes a Israel e ao Messias, foram todas escritas
muitos séculos antes do seu impressionante
cumprimento.
Daniel predisse claramente que o Império
Grego, de Alexandre, o Grande, se dividiria em
quatro partes (Daniel 8.20-22; 11.14). Os 16
versículos seguintes dão detalhes impressionantes
das guerras travadas por Ptolomeu (o general grego
que se apossou do Egito após a morte de Alexandre)
e as guerras dos seus sucessores contra os selêucidas
da Síria. Essa profecia culmina dando detalhes sobre
o governante selêucida Antíoco Epifânio (Daniel
11.21-36), que era um tipo do Anticristo. É esta
história, prevista antecipadamente, que os críticos
têm tentado desesperadamente provar que foi escrita
após os fatos já terem ocorrido.
Já ficou comprovado que o livro de Daniel foi
realmente escrito durante o cativeiro babilônico,
muito antes desses fatos acontecerem. Além do
mais, Daniel 9.25 revela o dia exato em que o
Messias entraria em Jerusalém montado num
jumento, sendo saudado como o Prometido. Até
mesmo os críticos mais céticos devem reconhecer
que o livro de Daniel foi escrito muito tempo antes
que esse evento acontecesse.
Entre o fim do Antigo e o início do Novo
Testamento houve quatro séculos de silêncio antes
que Deus falasse novamente através dos Seus
profetas. Só quando chegamos a Apocalipse 12.3 é
que podemos ver novamente a quarta besta descrita
por Daniel, dessa vez sem referência alguma às
outras três, que não serão mais vistas. Além disso, a
partir desse ponto a quarta besta será vista apenas
depois de ter sido revivida.

Surge o Dragão À medida


que a profecia se desenrola, a
quarta besta de Daniel
aparece a João como “um
dragão grande, vermelho, com
sete cabeças, dez chifres, e,
nas cabeças, sete diademas”
(Apocalipse 12.3). Este é
Satanás, pois alguns versos
depois vemos uma futura
“peleja no céu. Miguel e os
seus anjos pelejaram contra o
dragão... E foi expulso o
grande dragão, a antiga
serpente, que se chama Diabo
e Satanás, o sedutor de todo o
mundo...” (vv. 7, 9).
A interpretação é clara: o quarto império
mundial revivido, e sob a liderança do Anticristo,
será tão mau quanto o próprio Satanás. Que coisa
terrível está para acontecer com este mundo depois
que Cristo, no Arrebatamento, tiver levado os Seus
para a casa do Pai!
Essa “quarta besta” é vista novamente no
capítulo 13.1, a “emergir do mar”, como todas as
quatro bestas de Daniel 7.3 fizeram. Aqui ela é
novamente descrita como tendo “dez chifres e sete
cabeças”, mas agora com “dez diademas e, sobre
as cabeças, nomes de blasfêmia”. A besta é descrita
no versículo seguinte como sendo “semelhante a
leopardo... urso... leão...” (v.2) Assim, embora as
outras três bestas já não apareçam mais, devemos
lembrar que existe uma continuidade entre o Império
Romano restaurado e os outros três impérios que o
precederam desde a Babilônia. Lembre-se que as
bestas representando esses antigos impérios
mundiais foram descritas como um leão, um urso e
um leopardo (Daniel 7.4-6).
Em Apocalipse 13, a quarta besta claramente
representa tanto o Império Romano restaurado
como o Anticristo e “todos os que habitam sobre a
terra adorarão” (v. 8). Nesta visão impressionante
sobre o futuro, é dito que os povos, “adoraram o
dragão porque deu a sua autoridade à besta” (v.
4). Então Satanás novamente aparece como o poder
por trás do Anticristo e do seu reino: “E deu-lhe [ao
Anticristo] o dragão [Satanás] o seu poder, o seu
trono e grande autoridade” (v. 2).
Durante a tentação no deserto, Satanás
mostrou a Cristo “todos os reinos do mundo e a
glória deles” (Mateus 4.8) e os ofereceu a Cristo,
dizendo: “Tudo isto te darei se, prostrado, me
adorares” (v. 9) O amor pelo mundo e o desejo de
poder levam por fim a uma associação com Satanás
e à sua adoração. Sem dúvida, Cristo resistiu a
Satanás. Porém, tragicamente, uma igreja cansada
de perseguição cairia diante da mesma oferta que lhe
seria feita mais tarde por Constantino.
Cristo não discutiu a afirmação de Satanás que
alegara ser o dono do mundo: “Dar-te-ei toda esta
autoridade e a glória destes reinos, porque ela me
foi entregue, e a dou a quem eu quiser” (Lucas
4.6). Como diz João: “o mundo inteiro jaz no
Maligno [ou seja, Satanás (cf. 2 Tessalonicenses
2.8)]” (1 João 5.19). Deus, para realizar os Seus
propósitos, permite que Satanás entregue ao
Anticristo o mundo que Cristo recusou.

A Futura Religião Mundial


Será feita uma imagem da
besta. Todos os que não se
ajoelharem diante dela e a
adorarem (e
conseqüentemente ao
Anticristo) como sendo Deus,
serão mortos (Apocalipse
13.15). Sabemos que essa era
a prática no antigo Império
Romano. Estamos, assim,
sendo informados que a
religião de Roma, com a
adoração ao seu imperador,
também será restaurada. A
religião deve, de fato, não
apenas ser incluída no novo
governo mundial do
Anticristo, mas certamente
será preeminente, pois
Satanás, que controla tanto o
Anticristo como o Império
Romano restaurado, é “o
deus deste mundo” (2
Coríntios 4.4) e deseja
ardentemente ser adorado
por ele. A mulher montada
na besta do capítulo 17
representa sem dúvida
alguma essa religião
mundial, conforme veremos.
A religião sempre foi o elemento dominante
nos impérios mundiais da antigüidade, inclusive os
quatro representados pela estátua de Nabucodonosor
e pelas quatro bestas de Daniel. Sacerdotes,
adivinhos e bruxos eram os conselheiros mais
chegados dos governantes por milhares de anos, e,
na maioria dos casos, eram o real poder que estava
por trás do trono, manipulando os soberanos com
suas mágicas e conselhos duvidosos. A própria
ciência tem suas raízes no ocultismo, começando
pela astrologia e alquimia. Materialismo, ceticismo e
ateísmo têm origens mais ou menos recentes e serão
imersos nessa onda de interesse renovado pela
“espiritualidade”, que já está ocorrendo, conforme
Jesus previu que aconteceria nos últimos dias
(Mateus 24.4,5,11,24).
O ateísmo não é a maior arma usada por
Satanás em sua campanha para enganar a
humanidade fazendo com que ela o siga. O diabo
não é ateu, pois sua maior ambição é “ser
semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14.14), de mons
tran do que ele reconhece que Deus existe. Satanás
deseja ser adorado como Deus, mas já que é um ser
destituído de corpo, terá de satisfazer-se com a
adoração recebida pelo homem que o representa: o
Anticristo.
Sendo o “deus deste mundo”, a maior arma de
Satanás são as falsas religiões e as promessas
enganosas que elas apresentam, as quais perverterão
todos os que nelas crerem, impedindo que
conheçam a verdade de Deus. A religião
desempenhará um papel primordial no Império
Romano restaurado, como o fazia nos tempos
antigos. Isso é claramente retratado pelo fato da
mulher, que representa a nova religião mundial, estar
montada na besta e segurando suas rédeas.

Ressurreição Satânica?
Durante o desenrolar posterior da revelação da
quarta besta, João viu “uma de suas cabeças como
golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi
curada e toda a terra se maravilhou, seguindo a
besta” (Apocalipse 13.3). Pa ra muitos intérpretes,
essa revelação significa que o próprio Anticristo será
morto e voltará a viver. Outros crêem que uma
figura do Anticristo que viveu no passado, como
Hitler ou Nero, voltará a viver e será o governante
na nova ordem mundial. Muito ao contrário,
nenhuma figura do passado nem o Anticristo
voltarão do túmulo porque Satanás não tem o poder
de criar vida. (Isso não elimina a possibilidade de
que o mundo seja enganosamente levado a crer que
uma ressurreição aconteceu. Entretanto, o texto de
Apocalipse 13.3 não apóia essa idéia).
O fato de uma das cabeças ter recebido um
golpe mortal não indica que a besta te nha morrido,
mas sim que ela foi apenas ferida. Em bo ra se diga
que as cabeças representam reis, não poderia ser
literalmente um rei que foi morto e ressuscitou,
como já explicamos. A besta e suas cabeças
representam várias coisas ao mesmo tempo: reis,
reinados, Satanás, o Anticristo e o Império Romano
restaurado. Este último traz consigo elementos de
morte e aparente ressurreição. O Império Romano
realmente “morreu”, embora não completamente,
uma vez que os seus fragmentos permaneceram,
juntamente com a eterna esperança da ressurreição
final. Quando essa “ressurreição” acontecer, sob o
governo do Anticristo, será como se o império – e
não uma pessoa – voltasse da morte. Também está
claro que Deus pretende estabelecer Seu reino na
terra e que esse Império Romano restaurado
encontra-se em Seu caminho e deverá ser destruído
para que o Reino de Deus seja estabelecido. Isso foi
mostrado bem no início dessa revelação progressiva,
representada pela pedra que esmaga a imagem e
enche a terra. Está igualmente claro que o Anticristo
é uma imitação satânica de Cristo e que o Império
Romano, agora restaurado, é uma imitação do Reino
de Deus.

O Primeiro e o Futuro
Anticristo O prefixo “anti”
vem do grego e tem dois
significados: 1) oposição a; e
2) no lugar de ou em
substituição a.[1] O
Anticristo trará consigo
ambos os sentidos. Sem
dúvida ele se oporá a Jesus,
da maneira mais diabólica e
astuta possível: fazendo-se
passar por Cristo,
pervertendo assim o
“cristianismo” desde o seu
âmago. O Anticristo irá,
realmente, “assentar-se no
santuário de Deus...” (2
Tessalonicenses 2.4).
Quando o Anticristo tentar se passar por Cristo
e for adorado pelo mundo todo (Apocalipse 13.8),
seus seguidores serão obviamente chamados de
“cristãos”. Assim sendo, o “cristianismo” é que
subverterá o mundo, não o verdadeiro cristianismo,
mas uma imitação criada pelo Anticristo.
Lembremos que a grande apostasia precede a sua
revelação (2 Tessalonicenses 2.3). Parte dessa
apostasia é o movimento ecumênico, o qual está
arranjando tudo para que ocorra uma união de todas
as religiões e tem influenciado até os evangélicos. O
“cristianismo” do Anticristo deve ser criado para
englobar todas as religiões, e ao qual todas as
religiões abraçarão – o que, aliás, já está
acontecendo agora, com uma rapidez espantosa.
Documentamos esse assunto em outros livros, como
Global Peace and the Rise of Antichrist [Paz Global
e o Surgimento do Anticristo] e teremos muito mais
a dizer sobre isso posteriormente.
O equivalente latino para “anti” é “vicarius”, de
onde vem a palavra “vigário”. Assim, “vigário de
Cristo” literalmente significa Anticristo. Embora os
papas da Igreja Católica se intitulem “vigários de
Cristo” há séculos, eles não foram os primeiros a
fazer isso, mas herdaram esse título de Constantino.
Seu imitador futuro, o governador do Império
Romano restaurado, será o Anticristo.
Como já observamos antes, no antigo Império
Romano o imperador era adorado como um deus.
Pela posição que ocupava ele assumia a condição de
líder do sacerdócio pagão e da religião pagã
patrocinada pelo império. Foram feitas imagens dos
césares, diante das quais os cidadãos eram obrigados
a se ajoelhar. Os que se recusavam a aceitar o
imperador como deus eram mortos. Também será
assim quando o Império Romano for restaurado, sob
o governo do Anticristo. O fato é claramente
apresentado na extensa visão de Cristo, dada ao
apóstolo João: “[a outra besta] faz com que a terra e
os seus habitantes adorem a primeira besta...
dizendo aos que habitam sobre a terra que façam
uma imagem à besta... como ainda fizesse morrer
quantos não adorassem a imagem da besta”
(Apocalipse 13.12-15).

A Paganização do
Cristianismo Quando o
Imperador Constantino
supostamente tornou-se
cristão, no ano 313 (algo que,
na verdade, foi uma astuta
manobra política), deu
liberdade aos cristãos e deu
status oficial ao cristianismo
conjuntamente com o
paganismo. Uma vez que a
Igreja agora se tornara uma
instituição religiosa
absorvida pelo Império,
Constantino, como
imperador, precisava ser
reconhecido como seu líder
“de facto”. E como tal, ele
convocou o primeiro concílio
ecumênico, o de Nicéia, em
325, estabeleceu os assuntos
a serem tratados, fez o
discurso de abertura e o
presidiu, não estando
interessado na verdade do
Evangelho, mas sim na
unificação do seu império.
Carlos Magno fez algo
semelhante no Concílio de
Chalon, 500 anos mais tarde.
Constantino foi o primeiro
ecumenista e introduziu o
erro numa Igreja cristã já
cansada de tanta
perseguição.
Ao mesmo tempo em que dirigia a Igreja cristã,
continuava encabeçando o sacerdócio pagão,
celebrando cerimônias pagãs e endossando a
edificação de templos pagãos, mesmo depois de
começar a construir as primeiras igrejas cristãs.
Como chefe do sacerdócio pagão, ele era o Pontifex
Maximus (sumo pontífice) e precisava de um título
semelhante como cabeça da Igreja Cristã. Os
cristãos o honraram com o título de “bispo dos
bispos”, enquanto Constantino preferiu dar a si
mesmo o título de Vicarius Christi (vigário de
Cristo). Ele queria dizer que era um “outro Cristo”,
agindo no lugar de Cristo. Quando traduzido para o
grego, podemos ver que Vicarius Christi significa
literalmente Anticristo. Constantino era o protótipo
do Anticristo profetizado na Escritura, o qual ainda
está por vir.
Na Idade Média os bispos de Roma
começaram a afirmar que eram os novos
representantes de Cristo na terra. Exigindo que a
Igreja do mundo inteiro ficasse sujeita ao seu
governo, proibiram qualquer bispo de ser chamado
“papa” (papai) e tomaram para si mesmos os três
títulos de Constantino: Pontifex Maximus, vigário de
Cristo e bispo dos bispos, títulos que usam até hoje.
Como os papas afirmam ter absoluto poder
sobre os reinos, o povo e suas propriedades foram
taxados, desse modo uma grande corrupção
penetrou na Igreja Católica Romana. Os
reformadores e seus credos foram unânimes em
identificar cada papa com o Anticristo. Contudo, a
Escritura não dá sustentação a essa afirmação. O
Anticristo é único, sem predecessores nem
sucessores. Ele será o novo “Constantino”, o
governante de um Império Romano revivido.

Uma Revelação Nova e


Terrível A revelação final da
quarta besta está na visão
que Deus deu a João,
conforme vemos em
Apocalipse 17. Dessa vez há
um fato novo e terrível: uma
mulher está montada nessa
criatura horrível! Está claro
que essa é a mesma besta
que Daniel viu e que nos foi
apresentada nos capítulos 12
e 13 de Apocalipse, pois ela
tem “sete cabeças e dez
chifres” (Apocalipse 17.3).
Outra característica que a
identifica: “[ela] é cheia de
nomes de blasfêmia”, uma
referência óbvia ao que foi
visto em Apocalipse 13.1: “e,
sobre suas cabeças, nomes de
blasfêmia”.
Há uma notável mudança de perspectiva nessa
última vez em que a besta é vista. O foco da atenção
agora é, em lugar da besta, a mulher que a cavalga.
A descrição da besta é breve, suficiente apenas para
nos dizer que é a mesma que já foi vista antes.
Nenhum outro dado é apresentado sobre qual a
natureza ou o significado dessa criatura horrível.
Uma personagem nova ocupa o centro da cena e
dois capítulos inteiros de Apocalipse (17 e 18), são
dedicados a uma descrição detalhada da mulher –
muito mais espaço do que foi dado à própria besta
em todas as suas aparições anteriores.
João não forneceu qualquer indício, nas três
vezes que viu a medonha criatura, que tivesse ficado
chocado ou mesmo surpreso com ela. Mas ele
expressa agora, finalmente, um grande espanto –
não com a besta, mas com a mulher sobre o seu
dorso. É a visão dela que choca João.
Como pode essa mulher cavalgar uma criatura
tão assustadora? Por que a besta lhe permitiria sentar
sobre o seu dorso, segurando as rédeas e
controlando-a? Obviamente, essa mulher vai
desempenhar um papel chave na restauração do
Império Romano, no reino do Anticristo e nos
eventos mundiais futuros que conduzirão à Segunda
Vinda de Cristo.
Que papel será esse? Quando será revelado?
Quem é essa mulher? O propósito deste livro é
responder essas perguntas e outras mais.
CAPÍTULO 5

Mistério: Babilônia
“Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério:
BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS
ABOMINAÇÕES DA TERRA”.

– Apocalipse 17.5

Assim como a Lua recebe a sua luz do Sol... também o poder


real [Estado] deriva da autoridade pontifícia, o esplendor da sua
dignidade... O estado do mundo... será restaurado por nossa
diligência e cuidado... pois a autoridade pontifícia e o poder real...
são suficientes para tal propósito...

– pa pa Inocêncio III (1198-1216)

Por que “mistério”? Essa Babilônia, uma


cidade antiga cujas ruínas ficaram cobertas pelas
areias do deserto por pelo menos 2300 anos, que foi
mencionada proeminentemente nas profecias
relativas aos últimos dias, parece ser realmente um
enigma. Popularmente ensina-se que a mulher
representa a antiga Babilônia revivida. O fato de
Saddam Hussein, o sádico dirigente do Iraque, ter
iniciado sua reconstrução alguns anos atrás parece
contribuir para o cumprimento dessa visão.
Entretanto, a antiga Babilônia, mesmo que se torne
uma cidade habitada e em pleno funcionamento, não
poderia ser a Babilônia à qual se refere o que está
escrito na fronte da mulher. A reconstrução de
Babilônia por Hussein simplesmente não preenche
os critérios estabelecidos por João. Tais critérios,
que serão examinados em detalhes, estabelecem a
identidade da mulher que, como veremos, não é a
antiga Babilônia.
Saddam imagina ser o Nabucodonosor
moderno, talvez até mesmo a reencarnação desse
antigo imperador da Babilônia. O que o presidente
do Iraque mais admira em Nabucodonosor é que ele
destruiu Jerusalém e matou ou levou cativos os
habitantes de Israel para a Babilônia, deixando
deserta a terra de Israel. Como o novo
Nabucodonosor, ele sonha em causar a mesma
destruição no Israel de hoje, a quem considera um
dos seus maiores inimigos. Sabemos que a antiga
Babilônia foi conquistada em seguida pelos medos e
persas. Por isso Saddam vê o Irã (sucessor da antiga
Pérsia) como seu outro grande inimigo e, por isso,
guerreou contra ele durante oito anos. Hussein
imprimiu orgulhosamente seu nome em cada tijolo
usado na reconstrução da antiga Babilônia. Tão
odiado quanto temido por seu próprio povo, um dia
Saddam será deposto, como geralmente acontece
com todos os tiranos. Não será surpresa se os
iraquianos, a fim de apagar os últimos vestígios da
abominável memória de Saddam, passem então um
trator nas estruturas que ele orgulhosamente erigiu
no local da antiga Babilônia. Quer isso aconteça
quer não, é impossível confundirmos essa cidade,
reconstruída depois de estar em ruínas por mais de
2000 anos, com a Babilônia que é o assunto
principal dos capítulos 17 e 18 de Apocalipse.

A Conexão Babel
Sem dúvida existe uma conexão com a antiga
Babilônia. O nome na fronte da mulher estabelece
isso. O que poderia significar esse nome para o
mundo dos “últimos dias”, logo antes da Segunda
Vinda de Cristo? Obviamente ele deve se referir a
alguma peculiaridade comum aos quatro impérios –
um elemento importante do primeiro império,
Babilônia, ainda que seja predominante no quarto
império, Roma.
Uma das características mais importantes,
comum a todos eles, foi a união existente entre o
trono e o altar, entre príncipe e sacerdote. A
separação entre Igreja e Estado ainda era algo
desconhecido; na verdade, o que ocorria era o
oposto. Os sacerdotes pagãos – astrólogos, magos,
adivinhos, bruxos – eram os conselheiros mais
chegados do imperador e geralmente a influência
oculta que controlava o império. Desse modo, um
dos aspectos principais desta mulher, que é tanto
uma cidade quanto uma entidade espiritual, será sua
relação adúltera com os governantes seculares.
A união entre Igreja e Estado persistiu nos dias
da antiga Babilônia até após a ascensão de Roma, o
quarto império mundial da visão de Daniel. Como já
vimos, os imperadores romanos, como outros
governantes antigos, encabeçavam o sacerdócio
pagão e eram adorados como deuses. Além do mais,
como a religião era o fator dominante em todo
império, é válido examinarmos a religião da
Babilônia.

Uma Torre Que Alcançasse o


Céu
A Babilônia de Nabucodonosor foi construída
ao redor das ruínas da torre de Babel, que fora
erigida logo após o dilúvio pelos descendentes de
Noé sob a liderança de Ninrode (Gênesis 10.8-10;
Miquéias 5.6). Seu propósito original fora
claramente estabelecido por seus construtores
“Vinde, edifiquemos para nós uma ci da de e uma
tor re cujo tope chegue até aos céus e tornemos
célebre o nosso nome, para que não sejamos
espalhados por toda a terra” (Gênesis 11.4).
A cidade era uma união política e civil dos
habitantes da terra naquele tempo. A torre era
claramente um empreendimento religioso, o meio de
atingir o céu. Babel representa, assim, a união de
Igreja e Estado, envolvendo o mundo inteiro na
tentativa de elevar o homem ao nível de Deus.
Conseguir realizar isso através da construção de uma
torre utilizando-se a energia e o conhecimento
humano obviamente representa a religião humana do
esforço-próprio. Além disso, como o mundo inteiro
estava unido nesse esforço, temos o primeiro
exemplo de governo e religião mundial feitos um.
Como o homem começou nessa unidade, também
deve terminar nela; essa é a clara mensagem na
fronte da mulher.
A torre era a obsessão dos habitantes da cidade,
o propósito de vida que tanto unia como
escravizava. Portanto a religião dominava a aliança
de Igreja e Estado. Será assim também na Nova
Ordem Mundial do Anticristo, pelo menos por
algum tempo, e isso está claramente demonstrado
pelo fato da mulher cavalgar a besta.
A torre de Babel contrastava brutalmente com
os meios de salvação que Deus tinha ensinado
consistentemente desde a oferta de Abel. A rebelião
de Adão e Eva no Jardim do Éden havia separado o
homem de Deus por causa do pecado. Nem a
reconciliação com Deus e nem a entrada no céu
seria possível, a menos que fosse feito o pagamento
completo pela penalidade do pecado. Para o
homem, uma criatura finita, o pagamento da pena
infinita exigida pela infinita justiça de Deus era
impossível. Um dia, em misericórdia e graça, o
próprio Deus viria como um homem perfeito e sem
pecado, para morrer pelos pecados do mundo, em
pagamento total da penalidade exigida pela Sua
própria justiça. Ele seria o “Cordeiro de Deus”
(João 1.29,36), o único sacrifício aceitável. Em
antecipação ao Messias vindouro, os animais eram
sacrificados como tipos do Santo que “se
manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo
sacrifício de si mesmo, o pecado” (Hebreus 9.26).
A única aproximação com Deus aprovada por
Ele tinha sido claramente declarada (Êxodo 20.24-
26). Sacrifícios de animais seriam oferecidos sobre
um altar de terra. Se o terreno fosse rochoso demais
para conseguir juntar terra suficiente, o altar poderia
ser feito de pedras empilhadas, mas não cortadas ou
polidas por ferramentas. Nem deveria ser de tal
modo elevado que alguém tivesse de subir ao altar
por degraus.
Nenhum esforço humano poderia desempenhar
qualquer parte na salvação humana. Ela é um dom
de Deus, imerecido e inatingível. O orgulho
humano, contudo, tem sempre resistido à graça de
Deus. Vemos a violação clara da Palavra de Deus
continuando até hoje. Isso é refletido nas catedrais
douradas e ornamentadas, nos altares elevados, tanto
de protestantes como de católicos, bem como nos
rituais e boas obras que os homens futilmente
imaginam serem capaz de os tornar aceitáveis para
Deus. Tudo começou com Babel.
Um Modelo Seguido por
Roma
A cidade e a torre de Babel estabeleceram o
padrão da aliança profana entre o governo civil e a
religião do esforço-próprio e do ritual, essa ligação
continuou existindo por milhares de anos, podendo
ser exemplificada tanto na Roma pagã como na
Roma “cristã”, após a “conversão” de Constantino.
A “separação de Igreja e Estado” é um conceito de
origem recente, vindo desde a Reforma Protestante,
e à qual a Igreja Católica Romana, como a
continuação religiosa do Império Romano, tem se
oposto consistente e selvagemente. O Dr. Brownson,
um jornalista católico muito respeitado do século
XIX, expressa a posição do catolicismo no jornal
Brownson Quaterly:
Nenhum governo civil, quer seja monarquia,
aristocracia, democracia... pode ser um governo sábio,
justo, eficiente e duradouro, governando para o bem
da comunidade, sem a Igreja Católica; sem o papado
não há e nem pode haver uma Igreja Católica”.[1]
O Vaticano tem combatido consistentemente
cada avanço democrático das monarquias
absolutistas em direção a um governo popular,
começando com a Magna Carta da Inglaterra (em
15 de junho de 1215), a “mãe das constituições
européias”. Esse documento tão importante foi
imediatamente denunciado pelo papa Inocêncio III
(1198-1216), que o “declarou nulo e vazio,
excomungando os barões ingleses que o obtiveram”,
[2] perdoando o rei pelo seu pacto com os barões.
[3] Encorajado pelo papa, o rei João trouxe
mercenários estrangeiros para lutar contra os barões,
o que causou uma grande destruição no país. Os
papas subseqüentes fizeram todo o possível para
ajudar o sucessor de João, Henrique III, que
subverteu a Magna Carta, empobrecendo o país
com impostos papais (os salários dos inúmeros
padres italianos eram três vezes a renda anual da
coroa). Contudo, os barões prevaleceram no final.
O papa Leão XII reprovou Luiz XVIII por ter
aceitado a “liberal” Constituição Francesa, enquanto
o papa Gregório XVI condenou a constituição belga
de 1832. Sua encíclica ultrajante, Mirari vos, de 15
de agos to de 1832 (a qual foi confirmada em 1864
por Pio IX em seu Syllabus Errorum), con de nou a
liberdade de consciência, considerando-a “uma
tolice insana” e chamando a liberdade de imprensa
de “um erro pestífero, que não poderia ser
suficientemente detestado” [4]. Ele reassegurou o
direito da Igreja de usar a força e, como incontáveis
papas antes dele, exigiu que as autoridades civis
prendessem imediatamente os não-católicos que se
atrevessem a pregar sua fé. Um eminente historiador
do século XIX, comentando a respeito da censura
do Vaticano às constituições da Bavária e da Áustria,
parafraseou assim tal atitude:
Nosso sistema absolutista, apoiado pela Inquisição,
pela censura mais rígida, pela supressão de toda
literatura, com a isenção privilegiada do clero e o
poder arbitrário dos bispos, não pode suportar
nenhum outro governo, senão os absolutistas...[5]

A história da América Latina tem demonstrado


a exatidão dessa declaração. Nos países católicos, o
ódio dos papas pela liberdade e sua aliança com os
regimes opressores, que geralmente conseguiam
manipular para os seus próprios fins, é algo
documentado historicamente. Seja quais forem os
seus reais motivos, a história dá um testemunho
completo do fato da Igreja Católica Romana, em
todos os lugares em que pôde agir, suprimiu e
condenou abertamente os direitos humanos básicos,
como a liberdade de imprensa, opinião, religião, e
até mesmo de consciência.
Antes da revolução feita por Benito Juarez, em
1861, o catolicismo romano havia dominado a vida
do povo mexicano e controlado o governo por 350
anos. Era a religião estatal e a única permitida.
Conforme declarou um historiador, após exaustiva
investigação dos arquivos:
A opressão exercida pela Espanha e pela Igreja de
Roma estavam tão interligadas que, para o povo, elas
se tornaram indistintas. A hierarquia [Católica
Romana] sustentava o regime espanhol e
excomungava, através da Inquisição do Novo Mundo,
qualquer um que resistisse ao poder do Estado... O
governo, por sua vez, fortificava as leis da Igreja e,
como “braço secular” atuava como órgão de disciplina
e até mesmo de execução da Igreja.[6]

Conseqüências da Religião
Estatal
Depois que o exército francês de Napoleão III
derrotou Juarez e instituiu Maximiliano como
imperador do México, este viu que não seria
possível regressar ao antigo totalitarismo. O papa
Pio IX ficou furioso e escreveu indignado a
Maximiliano, exigindo que “a religião católica
estivesse acima de todas as coisas, continuando a ser
a glória e sustentáculo da nação mexicana, com a
exclusão de qualquer outro culto dissidente”. Que
“instruções públicas ou particulares deveriam ser
dirigidas e observadas pelas autoridades
eclesiásticas” e que ela não deveria ficar “sujeita à
arbitrária regra do governo civil”.[7]
A pobreza e a instabilidade que desgraçaram a
América Latina resultaram da união entre Igreja e
Estado, e do poder sobre o governo que Roma, após
tê-lo gozado durante séculos na Europa, trouxe para
o Novo Mundo em nome de Cristo. Os clérigos
romanos se comportavam como deuses, dominando
os nativos, que se tornaram seus criados. As
revoluções nos países da América Latina foram, em
grande parte, criadas pelo contraste entre a pobreza
do povo e a riqueza da Igreja Católica Romana e os
maus ditadores que ela sustentava. A Teologia da
Libertação foi pregada na América Latina pelos
padres e freiras radicais, cujas consciências
perturbadas já não podiam justificar a opressão das
massas, tanto pela Igreja como pelo Estado.
Dezenas de outros exemplos poderiam ser
citados, mas faremos isso mais adiante. A questão é
que as raízes da aliança profana entre Igreja e
Estado, com a Igreja dominando, nos remetem de
volta a Babel. Ninrode fundou o primeiro império
mundial, onde Igreja e Estado eram um só. Esse é o
império ideal que o catolicismo romano tem se
esforçado ao máximo para estabelecer e manter.
Como o periódico The Catholic World [O Mundo
Católico] declarou na época do Vaticano I:
Conquanto o Estado tenha alguns direitos, ele os tem
apenas em virtude, e com a permissão da autoridade
superior... [da] Igreja...[8]

A antipatia do catolicismo romano pelas


liberdades humanas básicas acabou resultando em
alianças profanas com os governos totalitários de
Hitler e Mussolini, que eram aclamados pelo papa e
outros líderes católicos como homens escolhidos por
Deus. Os católicos foram proibidos de se opor a
Mussolini e foram instigados a apoiá-lo. A Igreja
virtualmente colocou o ditador fascista no poder
(como faria com Hitler alguns anos depois). Em
troca, Mussolini (na Concordata de 1929 com o
Vaticano) tornou o catolicismo romano novamente a
religião estatal oficial da Itália e qualquer crítica feita
era considerada crime. À Igreja foram concedidos
outros favores, inclusive uma vasta soma em
dinheiro e títulos.

Raízes de Uma Ilusão


Moderna
A promessa de Satanás feita a Eva de que ela
poderia ser como Deus é a fundação da religião
pagã mundial. Para atingir essa meta o homem teria
de se firmar e trabalhar muito, e assim nasceu a
religião do esforço-próprio. Na verdade, as obras em
vez da graça, sempre foi, e continua sendo, a
religião da qual o catolicismo romano é um exemplo
perfeito. A edificação da torre de Babel parece ter
fornecido a credencial para a grande ilusão de que o
homem pode atingir o céu por seu esforço-próprio.
É bem provável que Ninrode foi o primeiro
imperador a ser deificado, o que faz dele um
percursor do Anticristo.
Babel (e a cidade de Babilônia construída mais
tarde ao seu redor) foi o berço da crença em um
“destino superior” para toda a humanidade. Mais
tarde esse sonho ficaria limitado à raças especiais,
tais como os arianos, uma idéia que o nazismo de
Hitler perseguiria a fim de destruir seis milhões de
judeus. Fazendo eco à mentira da serpente, Hitler
diria: “O homem está se tornando um deus...
Precisamos de homens livres que sintam e saibam
que Deus está dentro deles próprios”. Os judeus,
entretanto, não eram de modo algum homens, na
perspectiva de Hitler, mas sim Untermenschen
(subumanos), os quais ele resolveu exterminar pe lo
bem da raça ariana.
A teoria de Hitler da “pureza do sangue”, que
ele procurava obter através do extermínio dos judeus
(sem oposição do Vaticano), teve sua origem no
antigo ocultismo. Ela estava ligada a um mítico
Jardim do Éden nórdico, localizado na distante
região conhecida como Hiperbórea. Lá,
supostamente, uma raça ariana de homens-deuses
teria sido gerada por deuses visitando a terra.
Nietzsche, cujos escritos muito influenciaram a
Hitler, iniciou sua famosa obra “Anticristo” com a
seguinte frase: “Vejamos por nós mesmos o que
somos. Somos todos hiperboreanos [deuses]”. Mais
uma vez se faz presente a mentira da serpente do
Jardim do Éden.
O historiador Peter Viereck, vencedor de um
prêmio Pulitzer de jornalismo, encontrou as raízes
do sonho nazista de raça superior de homens-deuses
governando o mundo não apenas em Hegel e
Nietzsche, mas em Wagner e uma porção de
escritores românticos, e em todos eles ecoava a
mentira da serpente. O seguinte excerto é da
conclusão do notável livro escrito por Viereck e
publicado em 1940, Meta-Politics: The Roots of the
Nazi Mind [Meta-Política: As Raízes da Mente
Nazista]. Essa conclusão foi a que o editor original
recusou-se a incluir por ser radical demais, mas que
em retrospectiva mostra-se incrivelmente acurada:
Mein Kampf [Minha Luta, livro escrito por Hitler] já era
um campeão de vendas muito antes que o povo
germânico, votando livremente na eleição do
Reichstag, em setembro de 1930, aumentasse de 12
para 107 as cadeiras nazistas, fazendo dele o maior
partido da Alemanha. Naquele momento Hitler já havia
dito em Minha Luta (usaremos uma de suas ameaças
típicas): “Se no começo [da I Guerra Mundial]
tivéssemos envenenado 12 ou 15 mil desses hebreus
que subvertem o povo... então o sacrifício de um
milhão de alemães no front não teria sido em vão... A
eliminação oportuna de 12.000 andarilhos...”
O enigma germânico é: que tipo de comportamento
poderiam esses milhões de eleitores pró-Hitler esperar,
a partir de 1930, da mente monstruosa que
engendrou essas ameaças de extermínio?... seu livro
não é um documento secreto... milhões de alemães o
possuem... sendo que poucos devem tê-lo lido. Inclua-
se entre os poucos leitores aqueles que o apoiavam em
público e alguns influentes dignitários que tinham
acesso à imprensa, rádio e outros meios para
alertarem o público...
Algum dia os mesmos alemães, que agora vibram com
a entrada triunfal de Hitler em Paris, dirão: “Não
sabíamos o que estava acontecendo...” e quando
chegar o dia em que ninguém dirá saber de coisa
alguma, então serão ouvidas gargalhadas vindas do
inferno.[9]
Adolf Hitler, Escolhido por
Deus?
Certamente Minha Luta tam bém era
conhecido por muitos dos 30 milhões de alemães
católicos, bem como pelos líderes da Igreja Católica
Romana tanto na Alemanha como em Roma.
Mesmo assim a liderança da Igreja louvava a Hitler,
algumas vezes nos termos mais extravagantes. O
papa Pio XI disse ao vice-chanceler Fritz von Papen,
um católico influente, “como estava agradecido que
agora o governo alemão tivesse como líder um
homem totalmente contrário ao comunismo...” [10].
Nenhuma palavra de reprovação contra o mal que
Hitler havia trazido sobre a Alemanha.
O bispo Berning publicou um livro frisando os
laços entre o catolicismo e o patriotismo e mandou
uma cópia a Hitler, dizendo na dedicatória: “como
prova de minha devoção”. Monsenhor Hartz
elogiava Hitler por ter salvo a Alemanha do “veneno
do liberalismo... [e] da peste do comunismo”. O
jornalista católico Franz Taeschner elogiou “o
Führer, dotado de genialidade” e declarou que ele
tinha “sido enviado pela Providência a fim de fazer
com que as idéias sociais católicas fossem
implantadas”.[11]
A maioria dos católicos alemães estava eufórica
depois da assinatura da Concordata de 1933 entre
Hitler e o Vaticano. Os jovens católicos receberam
ordens de “levantar seu braço direito em saudação e
de mostrar a bandeira com a suástica... A
organização juvenil católica Neudeutsche Jugend...
reivindicou que houvesse uma cooperação estreita e
completa entre o Estado totalitário e a Igreja
totalitária”. Os bispos alemães unidos declaravam
sua solidariedade com o Nacional-Socialismo.
Dirigindo-se a uma reunião de jovens católicos na
catedral de Trier, o bispo Bornewasser declarou:
“De cabeça erguida e passos firmes, entramos no
novo Reich e estamos dispostos a servi-lo de todo
nosso corpo e alma”.[12]
O bispo Vogt de Aachen, em telegrama
congratulatório, prometeu a Hitler que “a diocese e
o bispo participarão alegremente da construção do
novo Reich”. O cardeal Faulhaber, em mensagem
manuscrita a Hitler, expressou o desejo “vindo do
íntimo do coração: que Deus possa preservar o
chanceler do Reich para o nosso povo”. Um
desenho apareceu em jornal teuto-americano
mostrando o vigário-geral Steinmann liderando as
organizações da Juventude Católica numa parada
diante de Hitler e imitando igualmente a saudação de
braço levantado do Führer. Respondendo à crítica
dos furiosos católicos americanos, Steinmann
declarou que “os católicos alemães verdadeiramente
consideravam o governo de Adolf Hitler como a
autoridade dada por Deus e que algum dia o mundo
reconheceria, agradecido, que a Alemanha... erigiu
um bastião contra o bolchevismo...”[13] Que dizer
de Minha Luta e do mal que o nazismo provocou?
Guenter Lewy, professor de política da
Universidade de Massachussets, fugiu de sua terra
natal, a Alemanha, em 1939, quando tinha 15 anos.
Regressou em 1960 a fim de passar anos
pesquisando os arquivos oficiais. Lewy escreve em
seu livro The Catholic Church and Nazi Germany
[A Igreja Católica e a Alemanha Nazista]:
Em 1933 o papa Pio XI declarou que o chanceler do
Reich Germânico [Hitler] era o primeiro estadista que,
junto com o papa, havia claramente reconhecido o
perigo bolchevista... O bispo Landersdorfer elogiou ‘a
harmoniosa colaboração da Igreja com o Estado
[embora os nazistas já tivessem aprisionado muitos
padres e freiras por razões políticas]’.
No dia 29 de março de 1936, 45.453.691 alemães, ou
99% dos cidadãos aptos a votar, foram às urnas.
Desses, 44.461.278, ou 98% dos que votaram,
declararam sua aprovação à liderança de Hitler (os
votos católicos foram virtualmente unânimes
aprovando Hitler).
Uma carta pastoral conjunta [de todos os bispos
alemães] foi lida durante as missas... em 3 de Janeiro
de 1937, declarando que ‘os bispos alemães
consideram-se no dever de apoiar o líder do Reich
alemão com todos os meios que Igreja Católica
dispõe... Devemos mobilizar todas as forças morais e
espirituais da Igreja a fim de fortalecer a confiança no
Führer’.[14]

A essa altura ninguém poderia ignorar a


crueldade de Hitler e seus verdadeiros objetivos.
Mesmo assim, líderes católicos (bem como a
maioria dos clérigos protestantes) da Alemanha
continuaram a honrar o seu companheiro católico.
Dois livros tratando do Reich e a Igreja, publicados
com permissão eclesiástica, pediam por uma “maior
compreensão do grande trabalho de renovação
alemã, ao qual o Führer tem nos convocado”, a
“maior tarefa espiritual do catolicismo alemão
contemporâneo”. Karl Adam, teólogo católico
renomado mundialmente, declarou que o Nacional-
Socialismo e o catolicismo, longe de estarem em
conflito, “deveriam estar sempre juntos, como
natureza e graça” e que em Adolf Hitler a Alemanha
tinha encontrado finalmente o “verdadeiro chanceler
do povo”.[15]
Uma minoria de homens valentes (tanto
católicos como protestantes) se opunha a Hitler, uns
abertamente, outros em conspirações secretas.
Algumas vozes se levantavam em protesto público.
Uma era a de um padre, o frei Muckermann, que se
atreveu a expressar sua admiração e consternação:
Apesar das brutalidades desumanas perpetradas nos
campos de concentração... apesar dos insultos
pessoais contra os príncipes da Igreja, contra o Santo
Padre e toda a Igreja... os bispos encontraram
palavras de apreciação para o que (ao lado do
bolchevismo) era o seu pior inimigo...[16].
Resposta a um Enigma
O enigma da Alemanha é o mesmo da Rússia,
da China, Vietnã, Cuba, Haiti, Iugoslávia, África do
Sul, e do mundo todo de hoje. Por outro lado, não
se trata de algo enigmático se aceitarmos o
testemunho da Escritura. Encontramos a resposta
em Babel - uma torre que jamais deixou de estar em
construção. Somente sua localização e aparência se
alterarão de tempos em tempos, mas a ambição
pervertida, ou seja, o seu sonho impossível,
continua.
O resultado final – o julgamento de Deus que
virá sobre a humanidade – está profetizado
claramente na Bíblia. Não se engane, estamos nos
aproximando desse dia. Enquanto isso, a mulher que
está montada na besta, cujo nome é “um mistério:
BABILÔNIA” (Ap 17.5), tem um papel fundamental
a desempenhar. Por isso ela irá experimentar o
julgamento de Deus antes que o restante da
humanidade conheça toda a extensão do seu incrível
poder.
Em sua importante análise, feita em 1940,
Viereck alertou que o nazismo era a religião que
havia infectado a juventude alemã. Por natureza era
uma forma de adoração pagã, mas mesmo assim
denominada “cristã”, que enganou a milhões de
pessoas (como ainda continua fazendo em muitos
lugares do mundo até hoje). Essa perversão surgiu
no pensamento insano do ministro da propaganda
nazista, Joseph Göbbels, que admirava Cristo por
Ele ser “um de uma longa descendência de heróis
arianos, que iam desde Wotan e Siegfried até
Wagner e Hitler”.[17] Esse mesmo tipo de
argumento enganoso foi usado pelo Dr. Ley, líder
das Frentes de Trabalho Nazistas, que disse: “Nossa
fé... é o Nacional-Socialismo...!”[18] Hans Kerrl,
ministro de Assuntos Eclesiásticos, levou ainda mais
longe essa idéia mentirosa, que foi aceita pela
maioria dos católicos e evangélicos alemães,
dizendo: “O verdadeiro cristianismo é representado
pelo Partido Nazista... O Führer é o arauto da nova
revelação...”[19]
Nova? Viereck chamou o nazismo de “o novo
paganismo”. Na verdade apenas o verniz era novo,
mas o que estava por baixo dele ainda era Babel. A
visão que João teve da mulher montada na besta
deixa isso bastante claro.

Religião do Esforço Próprio


Deus confundiu a língua falada pelos
construtores de Babel, transformando-a em
numerosas outras para que assim eles não pudessem
se entender e isso os levou à dispersão. Mas a
orgulhosa religião do esforço-próprio que levava à
deificação de uma raça superior persistiu, o que é
evidenciado pelas ruínas de torres similares,
chamadas de zigurates, encontradas em abundância
naquela parte do mundo. Entretanto, devido à
tecnologia primitiva disponível naqueles dias,
nenhuma das torres tinha uma grande altura. O céu
ainda estava além do alcance humano. Então os
zigurates tornaram-se altares ocultistas onde todo
tipo de perversão era praticado. Foi nos seus
pináculos que a astrologia teve início, pois cria-se
que a adoração de corpos celestes tinha o poder
místico de controlar o destino dos homens.
Longe de ter fim, a religião de Babel, que é
centrada no esforço-próprio, foi institucionalizada na
Babilônia e por todo aquele vasto império. Isso é o
paganismo, a perene religião mundial que persiste
até os dias de hoje. Não está presente apenas nos
povos primitivos que adoram os espíritos da
natureza, mas também pode ser encontrada entre os
professores de universidades que atribuem
inteligência similar a essas “forças” da natureza.
O paganismo tem sido caracterizado no mundo
todo através dos séculos por misteriosos rituais
celebrados em volta de altares decorados e
esculpidos em cima de estruturas como as pirâmides
que podem ser encontradas no Egito e na América
Central e do Sul. Mesmo tendo sido alertado pelos
seus profetas quanto a esse mal, Israel também
sucumbiu à sedução pagã. Essa corrupção da
verdade que Deus lhes havia ensinado acabou
trazendo o julgamento divino sobre o Seu povo
escolhido.
O Antigo Testamento traz muitas referências
aos “lugares altos” que foram construídos em Israel,
violando a proibição de Êxodo 20.26: “Nem subirás
por degrau ao meu altar, para que a tua nudez não
seja ali exposta”, tornando-se os centros da idolatria
judia (Levítico 26.30; Números 22.41; etc.). Nos
períodos em que houve arrependimento e
reavivamento esses “lugares altos”, com seus ídolos,
foram destruídos por reis e sacerdotes justos, porém
Israel nunca se viu livre desse mal. Tanto a Igreja
Ortodoxa quanto a Católica (e algumas das
protestantes) abraçaram a mesma corrupção ao
construírem suas estruturas imponentes, altares
elevados e ao fazerem uso de vestes ornamentadas e
liturgias intrincadas, que supostamente agradam a
Deus e ajudam a abrir portas para o céu.
Os tijolos e a argamassa utilizados para
construí-la nos lembram que Babel não era apenas
uma iniciativa política e religiosa, mas que fazia uso
dos maiores avanços da tecnologia e da ciência de
seus dias. A ciência de hoje continua sendo uma
tentativa de elevar o homem ao status de “deus”, ao
conquistar o espaço e o átomo, encontrando a cura
para doenças e, quem sabe um dia, até para a morte.
Babilônia/Babel Ainda Está
Presente Entre Nós
Em Babel, Deus espalhou a humanidade e
confundiu a sua língua para que eles não pudessem
comunicar seus maus intentos uns para os outros.
No Areópago, em Atenas, Paulo declarou que Deus
separou as raças e as nações para que eles pudessem
“buscar a Deus” (Atos 17.26-27). Atualmente o
consenso é que precisamos buscar justamente o
oposto: a solução para os males da humanidade se
dará quando as línguas forem unificadas e as nações
se aliarem para realizar projetos científicos que irão,
por fim, transformar o planeta Terra novamente
num paraíso.
Essa foi a declaração feita numa propaganda da
Corporação Lockheed na revista Scientific
American, ilus tra da com uma imagem da antiga
torre de Babel. Ressaltando as realizações
tecnológicas da Lockheed, o anúncio gloriava-se de
que os avanços científicos estavam “desfazendo o
efeito Babel”, aproximando a humanidade e
tornando possível que todos falassem uma única
língua... Em outras palavras, a Lockheed estava se
opondo a Deus, o responsável pelo que ela chamava
de “o efeito Babel”.
Sabemos também que, quando passou a ser
integrada por 12 países, foi lançado um pôster pela
União Européia (cuja unidade monetária provisória
– a ECU - apresentava a mulher montada na besta),
onde a torre de Babel estava representada. Em volta
da torre inacabada havia 12 estrelas (representando
os países), que, ao contrário das estrelas da bandeira
americana, tinham suas pontas viradas para baixo,
formando um pentagrama do ocultismo clássico. O
pentagrama, com os dois “chifres” apontando para
cima e sua “barba” para baixo, também é conhecido
como a Cabra de Mendes, ou Bafomete, um
símbolo de Satanás.
A IBM (International Business Machines)
também usou uma gravura artística da torre de
Babel em alguns dos seus anúncios, com modernos
edifícios projetados contra o céu, saindo da estrutura
inacabada. Por que essa nostálgica volta ao que a
maioria das pessoas considera hoje um mito? Parece
haver uma simpatia inata por Babel, um
reconhecimento que o homem moderno tem de
recomeçar onde Babel parou e de buscar com a
mesma ambição a imortalidade através do seu
próprio esforço.
Deus dispersou os construtores da torre de
Babel, mas a determinação de hoje é fazer o
contrário: juntar todas as nações em uma Nova
Ordem Mundial. Deus confundiu as línguas, mas a
tecnologia atual intenta quebrar qualquer barreira de
línguas. Em breve teremos disponíveis no mercado
telefones que permitirão que o inglês falado nos
aparelhos em Los Angeles chegue aos terminais em
Tóquio já traduzido para o japonês.
Podemos nos atrever a dizer que algo está
errado? Por que não encorajar e gozar aquilo que o
intelecto e o talento podem atingir? O próprio Deus
reconheceu a falta de limites para a capacidade
humana, quando disse: “...não haverá restrição
para tudo que intentam fazer” (Gênesis 11.6).
Mas Deus também declarou: “é mau o
desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade”
(Gênesis 8.21). Então a engenhosidade
humana, como Deus previu, criaria um mal
cada vez mais crescente, até que a
sobrevivência da humanidade estivesse em
jogo. Certamente as ameaças à sobrevivência
da humanidade, que hoje são reais, foram
originadas da genialidade científica. A
honestidade também nos forçaria a admitir que
o crescimento da urbanização, já nos tempos
antigos, contribuiu para aumentar a escalada
do mal, ameaçando tomar conta do mundo de
hoje.
A visão de João indica que a
Babel/Babilônia estará muito viva nos últimos
dias. Estampadas na fronte da mulher montada
na besta estão as palavras “mistério:
BABILÔNIA”. Está claro que ela representa o
paganismo revivido.
O mais interessante de tudo é que ela
incorpora também o “cristianismo” paganizado.
A mulher representa um sistema religioso
mundial que está estabelecido em Roma e
afirma ser cristão, mas que tem suas raízes em
Babel e na Babilônia. Essa conclusão se
tornará incontestável quando examinarmos
detalhadamente a visão de João.
CAPÍTULO 6

A Cidade Sobre Sete


Montes
“A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os
reis da terra. Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete
cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada...”

– Apocalipse 17.18,9

A mulher está montada na besta e essa mesma


mulher é uma cidade construída sobre sete montes,
que domina sobre os reis da terra! Será que em toda
a história já foi feita uma declaração como essa?
João imediatamente caracteriza a aceitação pelo
leitor dessa revelação como “sabedoria”. Não nos
atrevemos a tratar essa declaração de modo
superficial. Este assunto merece um estudo
cuidadoso e feito em espírito de oração.
Aqui não é utilizada uma linguagem mística,
nem alegórica, mas trata-se de uma declaração
bastante clara e que nada tem de ambígua: “A
mulher... é a grande cidade” (Apocalipse 17.18).
Não é necessário procurar outro significado oculto,
mesmo que livros tenham sido escritos e sermões
foram pregados insistindo que “Mistério: Babilônia”
refere-se aos Estados Unidos. Vemos claramente
que esse não é o caso, pois os EUA são um país e
não uma cidade. Com justiça alguém poderia referir-
se aos Estados Unidos como Sodoma, se levarmos
em conta a honra dada agora aos homossexuais
naquele país, mas certamente não se trata da
Babilônia que João descreve em sua visão. A mulher
é uma cidade.
Além disso, é uma cidade construída sobre sete
montes. Is so elimina especificamente a antiga
Babilônia. Só uma cidade com mais de 2000 anos
tem sido conhecida como a cidade dos sete montes.
Essa cidade é Roma. A Catholic Encyclopedia
[Enciclopédia Católica] declara: “É dentro da cidade
de Roma, chamada de cidade dos sete montes, que
se localiza todo o território do Vaticano”.[1]
É verdade que existem outras cidades, tais
como o Rio de Janeiro, que também foram
construídas sobre sete montes. Por conseguinte,
João fornece pelo menos mais sete características
que limitam a identificação somente a Roma.
Examinaremos cada uma detalhadamente nos
capítulos seguintes. Entretanto, para mostrar onde
queremos chegar, vamos listá-las agora, analisando-
as resumidamente. Como veremos, existe apenas
uma cidade na terra, a qual, tanto na perspectiva
histórica como na contemporânea, passa em todos
os testes propostos por João, inclusive em sua
identificação como “Mistério: Babilônia”. Essa
cidade é Roma, e mais especificamente o Vaticano.
Até mesmo o apologista católico Karl Keating
há muito tempo admite que Roma tem sido
identificada como a Babilônia. Ele afirma que a
declaração de Pedro: “Aquela que se encontra em
Babilônia... vos saúda...” (1 Pedro 5.13), prova
que Pedro estava escrevendo de Roma. Keating
explica:
Babilônia é uma palavra em código para designar
Roma. Ela é usada dessa maneira seis vezes no último
livro da Bíblia (quatro delas nos capítulos 17 e 18) e
obras extrabíblicas como Oráculos de Sibélio (5, 159f.),
o Apocalipse de Baruque (ii, 1) e 4 Esdras (3.1).
Eusébio Panfílio escreveu, por volta do ano 303: “é
dito que a primeira epístola de Pedro... foi escrita em
Roma, e que ele mesmo indica isso, referindo-se à
cidade em sentido figurado como Babilônia”[2]

Quanto a “Mistério”, o nome impresso na


fronte da mulher, é uma perfeita designação da
Cidade do Vaticano. O mistério está no coração do
catolicismo romano, desde as palavras “Mysterium
Fide” pronunciadas na suposta transformação do
pão e do vinho literalmente no corpo e sangue de
Cristo até as misteriosas aparições de Maria ao redor
do mundo. Cada sacramento, do batismo até a
extrema-unção, manifesta o poder que o fiel deve
acreditar ser exercido pelo padre, mas para o qual
não há evidência alguma. O novo Catecismo de
Roma ex pli ca que a liturgia “almeja iniciar as almas
no mistério de Cristo (isso é o que se chama de
“mistagogia”) e que tudo na liturgia da Igreja é um
mistério”.[3]
Quem é a Meretriz?
A primeira coisa que se conta sobre a mulher é
que ela é uma “meretriz” (Apocalipse 17.1), “com
quem se prostituíram os reis da terra” (v. 2) e que
“com o vinho de sua devassidão, foi que se
embebedaram os que habitam na terra” (v. 3). Por
que uma cidade seria chamada de prostituta e
acusada de se prostituir com reis? Tal acusação
jamais poderia ser dirigida a Londres, Moscou ou
Paris - ou qualquer outra cidade comum. Não faria
sentido.
Prostituição e adultério são usados na Bíblia
tanto em sentido físico como espiritual. Sobre
Jerusalém, Deus diz: “Como se fez prostituta a
cidade fiel” (Isaías 1.21). Israel, que Deus havia
separado dos outros povos, para ser santo segundo
os Seus propósitos, havia feito alianças profanas e
adúlteras com nações vizinhas que adoravam ídolos.
“...Porque adulterou, adorando pedras e árvores
[ídolos]” (Jeremias 3.9). “E com seus ídolos
adulteraram” (Ezequiel 23.37). O capítulo 16 de
Ezequiel explica detalhadamente o adultério
espiritual de Israel, tanto com as nações pagãs, como
com seus falsos deuses, como muitas outras
passagens da Bíblia também o fazem.
Não há como uma cidade se engajar
literalmente em fornicação carnal. Então só
podemos concluir que João, como os profetas do
Antigo Testamento, está usando o termo no sentido
espiritual. Portanto, a cidade deve ter uma relação
espiritual com Deus. De outro modo, tal alegação
não teria significado.
Embora construída sobre sete montes, não
haveria razão para se acusar o Rio de Janeiro de
fornicação espiritual. Essa cidade não afirma ter uma
relação espiritual com Deus. Embora Jerusalém
tenha tal relação espiritual, não pode ser a mulher
montada na besta, pois não foi construída sobre sete
montes, nem preenche outros critérios pelos quais
essa mulher será identificada.
A acusação de adultério só poderia ser feita
contra uma outra cidade na história. Essa cidade é
Roma, mais especificamente a Cidade do Vaticano.
Desde o início ela alega ter sido o quartel-general do
cristianismo e mantém essa afirmação até hoje. O
papa, entronizado em Roma, afirma ser o único
representante de Deus, o “vigário de Cristo”. Roma
é o quartel-general da Igreja Católica Romana,
dizendo ser a única e verdadeira.
Numerosas igrejas, é claro, têm suas sedes em
cidades, mas apenas uma cidade alega ter o quartel-
general da Igreja de Cristo. Os mórmons, por
exemplo, têm sua sede principal em Salt Lake City,
mas existem muitas outras igrejas naquela cidade. O
mesmo não acontece com a Cidade do Vaticano. Ela
é o coração da Igreja Católica Romana e nada mais.
Ela é uma entidade espiritual que poderia muito bem
ser acusada de fornicação espiritual caso não
permanecesse fiel a Cristo.
Deitada Com os Governantes
Não somente o papa de Roma afirma ser o
vigário de Cristo, mas a Igreja que ele encabeça
afirma ser a única verdadeira e a noiva de Cristo. A
Noiva de Cristo, cuja esperança é reunir-se ao noivo
no céu, não pode ter nenhuma ambição terrestre.
Contudo, como prova a história, o Vaticano tem
obsessão por empresas terrestres. Para conquistar
esses objetivos, a Igreja Católica, exatamente como
João previu em sua visão, tem se engajado em
relações adúlteras com os reis da terra. Esse fato é
reconhecido até mesmo pelos historiadores católicos.
Cristo disse aos Seus discípulos: “Se vós
fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu;
como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário,
dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia”
(João 15.19). A Igreja Católica, contudo, é sem
dúvida deste mundo. Os papas têm construído um
império mundial inigualável em propriedades,
riqueza e influência. A edificação desse império não
é algo que foi abandonado no passado. Já vimos que
o Vaticano II estabelece claramente que a Igreja
Católica Romana ainda hoje continua tentando
colocar sob seu controle toda a humanidade e toda
sua riqueza.
Há muito tempo o papa tem declarado possuir
domínio sobre o mundo e seus povos. A bula do
papa Gregório XI, de 1372, (In Coena Domini)
declarou o domínio total sobre o mundo cristão,
secular e religioso, excomungando todos os que
falham em obedecer aos papas e pagar-lhes os
tributos. In Coena foi depois confirmada pelos
papas subseqüentes e em 1568 o papa Pio V
afirmou que essa bula permaneceria como uma lei
eterna.
O papa Alexandre VI (1492-1503) afirmava
que toda terra que não havia sido descoberta
pertenceria ao pontífice romano, para dela dispor
como bem entendesse em nome de Cristo, já que
era Seu vigário. O rei João II, de Portugal, foi
convencido de que em sua bula Romanus Pontifex o
papa havia concedido tudo que Colombo descobrira
exclusivamente a ele e seu país. Fernando e Isabel
da Espanha, entretanto, pensavam que o papa havia
dado as mesmas terras a eles. Em maio de 1493
Alexandre VI, espanhol de nascimento, emitiu três
bulas para resolver a disputa.
Usando o nome de Cristo, que não tinha onde
reclinar a cabeça, o maligno papa Bórgia, afirmando
ser o dono do mundo, traçou uma linha de norte a
sul no mapa-múndi daquela época, dando tudo que
havia no Oriente a Portugal e no Ocidente à
Espanha. Desse modo, por concessão papal,
“originada na plenitude do poder apostólico”, a
África foi dada para Portugal e as Américas para a
Espanha. Quando Portugal “conseguiu chegar à
Índia e à Malásia, assegurou a confirmação de tais
descobertas por parte do papado...” Havia, contudo,
uma condição: “esforçar-se para trazer os habitantes
...a professarem a fé católica”.[4] Foi exatamente
por isso que a América Central e a do Sul, como
conseqüência dessa aliança profana entre Igreja e o
Estado, foram forçadas pelo catolicismo, através da
espada, a se declararem católicas. A América do
Norte (com exceção de Quebec e Louisiana) foi
poupada do domínio do catolicismo romano por ter
sido amplamente colonizada pelos protestantes.
Nem podem os descendentes dos astecas, incas
e maias ter esquecido que os padres católicos
romanos, auxiliados pela espada secular, deram aos
seus ancestrais a escolha entre a conversão (que
quase sempre significava escravidão) ou a morte.
Quando João Paulo II, numa visita à América
Latina, propôs beatificar Junipero Serra (um dos
maiores responsáveis pela imposição do catolicismo
aos índios no século XVIII), esses descendentes
fizeram um protesto tal que a cerimônia teve de ser
realizada em segredo.
Cristo disse: “O meu reino não é deste mundo.
Se o meu reino fosse deste mundo, os meus
ministros se empenhariam por mim...” (João
18.36). Os papas, entretanto, têm lutado com
exércitos e navios em nome de Cristo para construir
um vasto império, que é realmente deste mundo. E
para aumentar o seu império terrestre, eles têm se
comprometido repetidamente em fornicação
espiritual com imperadores, reis e príncipes.
Afirmando ser a noiva de Cristo, a Igreja Católica
Romana tem se deitado na cama com governantes
ímpios por toda a história, e essa relação adúltera
continua até hoje. A fornicação espiritual será
comentada com detalhes mais tarde.

Roma = Vaticano
Alguns podem objetar que Roma, e não a
pequena parte conhecida como Cidade do Vaticano,
é que está edificada sobre sete montes e além disso o
Vaticano não pode ser chamado de “grande cidade”.
Embora ambas as objeções sejam verdadeiras, as
palavras “Vaticano” e “Roma” são usadas
universalmente sem distinção. Do mesmo modo que
se alguém se referisse a Washington estaria falando
sobre o governo que dirige os Estados Unidos, quem
se refere a Roma trata da hierarquia que governa a
Igreja Católica.
Tome-se, por exemplo, um cartaz empunhado
por um manifestante na Conferência Nacional dos
Bispos Católicos realizada em Washington D.C. em
1993. Esse cartaz tinha como objetivo protestar
contra qualquer um que não concordasse com o
papa. Nele estava escrito: “SIGA ROMA OU SIGA
EM FRENTE”.[5] Obviamente que, ao dizer
“Roma”, estava se referindo ao Vaticano. Isso é algo
comum. Roma e o catolicismo estão tão interligados,
que a Igreja Católica é conhecida como Igreja
Católica Romana ou simplesmente Igreja Romana.
Além disso, por mais de 1000 anos a Igreja
Católica Romana exerceu tanto o controle religioso
como o civil sobre toda a cidade de Roma e seus
arredores. O papa Inocêncio III (1198-1216) aboliu
o Senado Romano secular e colocou a administração
de Roma diretamente sob o seu comando. O Senado
de Roma, que havia governado a cidade sob os
césares, havia sido chamado de Cúria Romana. Es
se nome, conforme o Pocket Catholic Dictionary
[Dicionário de Bolso do Catolicismo], é agora a
designação “de todo o conjunto de escritórios
administrativos e judiciais, através dos quais o papa
dirige as operações da Igreja Católica”.[6]
A autoridade do papa se estende até mesmo aos
grandes territórios fora de Roma adquiridos no
século VIII. Naquele tempo, com a ajuda de um
documento feito pelos papas e deliberadamente
fraudado, conhecido como A Doação de
Constantino, o papa Estêvão III convenceu Pepino,
rei dos francos e pai de Carlos Magno, de que os
territórios recentemente tomados pelos lombardos
dos bizantinos foram, na verdade, doados ao papado
pelo Imperador Constantino. Pepino venceu os
lombardos e entregou ao papa as chaves de mais de
20 cidades (Ravena, Ancona, Bolonha, Ferrara, Iesi,
Gubbio, etc.) e um imenso pedaço de território junto
às costas do mar Adriático.
Datada de 30 de março de 315, a Doação
declarava que Constantino havia dado
perpetuamente essas terras aos papas, junto com
Roma e o palácio de Latrão. Em 1440, Lorenzo
Valla, um adido papal, provou que esse documento
era uma fraude e até hoje é assim considerado pelos
historiadores. Contudo os supostos papas infalíveis
continuaram asseverando durante séculos que a
Doação era genuína e sobre essa base justificam sua
pompa, poder, e posses. Essa fraude continua sendo
perpetuada por uma inscrição no batistério da Igreja
de São João de Latrão, em Roma, que jamais foi
corrigida.
Desse modo, o Estado papal foi literalmente
roubado pelos papas dos seus legítimos
proprietários. O papado controlou e taxou esses
territórios até 1848, extraindo deles grande riqueza.
Nesse tempo o papa, junto com os governantes da
maior parte dos outros territórios divididos da Itália,
foi obrigado a dar uma constituição aos seus súditos
rebelados. Em setembro de 1860, em meio a
furiosos protestos, Pio IX perdeu todos os Estados
papais para o novo reino da Itália, agora finalmente
unido, que ainda o deixou, até o Concílio Vaticano I,
em 1870, no controle de Roma e seus arredores.
Vemos assim que, exatamente como João
previu em sua visão, uma entidade espiritual que
afirmava ter uma relação especial com Cristo e com
Deus começou a ser identificada com uma cidade
construída sobre sete montes. Essa “mulher”
praticou fornicação espiritual com os governantes da
terra e finalmente reinou sobre eles. A Igreja
Católica Romana tem sido continuamente
identificada como sendo essa cidade. Como a
Catholic Encyclopedia declara:
...Daí entende-se o lugar central de Roma na vida da
Igreja hoje e o sentido de seu título ‘Igreja Católica
Romana’, a Igreja que é universal, mas ainda assim
centrada no ministério do bispo de Roma. Desde a
fundação da Igreja por São Pedro, Roma tem sido o
centro de toda a cristandade.[7]

Enriquecimento Ilícito
A incrível riqueza da mulher atraiu logo a
atenção de João. Ela se vestia de “púrpura e
escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e
de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro
transbordante de abominações e com as imundícias
da sua prostituição” (Apocalipse 17.4). As cores
púrpura e escarlate uma vez mais identificam a
mulher tanto com a Roma pagã como com a cristã.
Eram essas as cores dos césares romanos, que os
soldados usaram ao cobrirem Cristo com um manto,
chamando-O zombeteiramente de “rei” (Mateus
27.28 e João 19.2-3). O Vaticano tomou-as para si e
até hoje as cores do clero romano são as mesmas
das vestes da mulher. A enciclopédia acima
mencionada também diz:
Cappa Magna
Uma capa com uma longa cauda e um capuz para
cobrir os ombros... era de lã púrpura para os bispos;
para os cardeais era de seda tingida de escarlate (para
celebrar o Advento, a Quaresma, a Sexta-Feira Santa e
o conclave, era de lã púrpura); e de seda rosa-claro
para os domingos Gaudete e Laetare; a do papa era
de veludo vermelho, usada nas Matinas de Natal, e a
sarja vermelha para outras ocasiões.
Batina (ou Sotaina)
Roupa até o calcanhar usada pelo clero católico como
sua vestimenta oficial... A cor para os bispos e outros
prelados é púrpura, para os cardeais é escarlate...”[8]

O “cálice de ouro em sua mão” novamente


identifica a mulher com a Igreja Católica Romana. A
Catholic Encyclopedia diz sobre o cálice: “[é] o
mais importante dos vasos sagrados... deve ser de
ouro ou de prata; se for de prata nesse caso, seu
interior deve ser folheado a ouro”.[9] A Igreja
Católica Romana possui milhares de cálices de ouro
maciço guardados em suas igrejas ao redor do
mundo. Até mesmo a cruz de Cristo, outrora suja de
sangue, foi agora transformada em uma cruz de
ouro, cravejada de pedras preciosas, como reflexo
da grande riqueza de Roma. A Catholic
Encyclopedia diz: “A cruz peitoral (pendurada numa
corrente ao redor do pescoço e usada por abades,
bispos, arcebispos, cardeais e pelo papa) deve ser
feita de ouro e... decorada com pedras
preciosas...”[10]
Roma tem praticado o mal a fim de acumular
sua riqueza, pois a “taça de ouro” está cheia de
“abominações”. Muito da riqueza da Igreja Católica
Romana foi adquirida através do confisco de
propriedades das pobres vítimas da Inquisição. Até
mesmo os mortos eram exumados para serem
julgados e suas propriedades eram confiscadas dos
seus herdeiros pela Igreja. Um historiador escreve:
As punições da Inquisição não acabavam quando as
vítimas eram queimadas ou trancadas nas masmorras
da Inquisição. Seus parentes eram reduzidos à miséria
pela lei que determinava que todas as suas posses
fossem confiscadas. O sistema oferecia oportunidades
ilimitadas para saques...
Essa fonte de ganho demonstra claramente a
revoltante prática do que tem sido chamado de
“julgamento de cadáveres”... Que a prática de
confiscar propriedades dos hereges condenados era
produto de muitos atos de extorsão, rapinagem e
corrupção não pode ser contestado por pessoa alguma
que tenha um mínimo de conhecimento da natureza
humana ou dos documentos históricos... homem
nenhum estava a salvo se a sua riqueza pudesse
despertar a cobiça, ou cuja independência pudesse
provocar vingança”.[11]

A maior parte da riqueza de Roma foi


adquirida através da venda de salvação. Incontáveis
bilhões de dólares lhe têm sido pagos pelos que
julgam estar comprando o céu, à prestação, para si
ou para seus entes queridos. A prática continua hoje
em dia - mormente quando o catolicismo está no
controle. Nenhum engano ou abominação maior
poderiam ser perpetrados. Quando o cardeal
Cajetan, estudioso dominicano do século XVI,
queixou-se da venda de perdões e indulgências, a
hierarquia da Igreja Católica ficou indignada e
acusou-o de querer “tornar Roma um deserto
inabitado, reduzir o papado à impotência, privar o
papa... de fontes de recursos indispensáveis ao
desempenho do seu ofício”.[12]
Em adição a tais perversões do Evangelho, que
têm levado centenas de milhões à perdição, existem
ainda outras abominações que o Vaticano e seus
representantes têm empregado amplamente. Por
exemplo, as práticas bancárias corruptas, lavagem de
dinheiro do narcotráfico, venda de seguros
fraudulentos e negócios com a Máfia (fartamente
documentados pela polícia e nos registros cíveis).
Nino Lo Bello, ex-correspondente da revista
Business Week em Roma e chefe do escritório do
New York Journal of Commerce em Roma escreve
que o Vaticano está de tal modo aliado à Máfia na
Itália, que “muitas pessoas... crêem que a Sicília ...é
nada mais do que um sustentáculo do Vaticano”.[13]
A Igreja Católica Romana é de longe a
instituição mais rica da terra. Sim, ouvem-se
periodicamente os pedidos de Roma exigindo
dinheiro - apelos persuasivos afirmando que o
Vaticano não pode manter-se com suas limitadas
reservas e necessita de assistência monetária. Tais
pedidos não passam de conspirações absurdas. O
valor de incontáveis esculturas de mestres tais como
Miquelângelo, pinturas dos maiores artistas do
mundo e tantos outros tesouros e documentos
antigos que Roma possui (não apenas no Vaticano,
mas nas catedrais ao redor do mundo) está muito
além de qualquer avaliação. No Sínodo Mundial dos
Bispos em Roma, o cardeal Heenan da Inglaterra
propôs que a Igreja Católica vendesse alguns desses
tesouros supérfluos e doasse o lucro aos pobres. Sua
sugestão não foi bem recebida.
Cristo e Seus discípulos viveram na pobreza.
Ele ensinou Seus discípulos a não acumularem
tesouros na terra, mas sim no céu. A Igreja Católica
Romana tem desobedecido este mandamento e
acumulado uma quantidade de riquezas sem igual,
das quais “o Pontífice Romano é o supremo
administrador e mordomo...”[14] Não existe igreja
nem cidade alguma que seja uma entidade, uma
instituição religiosa do passado ou do presente que
já tenha ao menos se aproximado da riqueza da
Igreja Católica Romana. Uma reportagem publicada
em um jornal europeu descreveu apenas uma fração
desse tesouro numa certa localidade:
O fabuloso tesouro de Lourdes (na França), cuja
existência foi mantida em segredo pela Igreja Católica
durante 120 anos, foi desvendado... Rumores têm
circulado durante décadas sobre uma coleção de
cálices de ouro de valor inestimável, crucifixos
cravejados de diamantes (algo bem distante da cruz
em que Cristo morreu), prata e pedras preciosas
doadas por peregrinos agradecidos.
Após uma observação indiscreta feita pelo seu assessor
de imprensa esta semana, as autoridades da Igreja
Católica concordam em mostrar parte da coleção...
foram abertos (alguns) contêineres que estavam
abarrotados, revelando 59 cálices de ouro, além de
anéis, crucifixos, estátuas e broches de ouro maciço,
muitos deles incrustados de pedras preciosas. Quase
escondida no meio de outros tesouros, está a “coroa”
cravejada de diamantes de Nossa Senhora de Lourdes,
feita por um joalheiro francês em 1876.
Autoridades da Igreja dizem que é impossível avaliar a
coleção. “Não tenho nem idéia”, diz o padre Pierre-
Marie Charriez, diretor de Patrimônio e Santuário. “É
de valor incalculável”...
Do outro lado da rua há um prédio onde estão
guardados centenas de [antigos] ornamentos
eclesiásticos, roupas, mitras, e cinturões - muitos de
ouro maciço...
“A Igreja Católica é pobre”, insiste o padre Charriez. O
“Vaticano é pobre”.[15] [O tesouro aqui descrito é
apenas parte do que se encontra guardado na
pequena cidade de Lourdes, na França!]

A Mãe das Meretrizes e das


Abominações
Quanto mais profundamente entramos na
história da Igreja Católica Romana e suas práticas
atuais, mais assombrados ficamos com a
impressionante exatidão da visão recebida por João,
séculos antes dela se tornar uma lamentável
realidade. A atenção de João é despertada para o
título ousadamente colocado sobre a fronte da
mulher: “Mistério: Babilônia, a Grande, a Mãe das
Meretrizes e Abominações da Terra (Apocalipse
17.5). In fe liz men te a Igreja Católica Romana se
adapta à descrição “mãe das meretrizes e
abominações”, exatamente como também se adapta
a outros títulos similares. Isto se deve em grande
parte à exigência antibíblica de que seus sacerdotes
sejam celibatários.
O grande apóstolo Paulo era um celibatário e
recomendou essa vida a outros que desejassem
devotar-se inteiramente ao serviço de Cristo. Ele,
porém, não fez disso uma condição para a liderança,
como a Igreja Católica tem feito, impondo assim um
fardo antinatural sobre todo o clero, algo que
pouquíssimos conseguem suportar. Pelo contrário,
Paulo escreveu que o bispo deveria ser “marido de
uma só mulher” (1 Timóteo 3.2), fazendo as
mesmas exigências para os presbíteros (Tito 1.5-6).
Pedro, que os católicos erroneamente afirmam
ter sido o primeiro papa, era casado, assim como
alguns dos outros apóstolos. Isso não ocorreu por
obra do acaso, antes de Cristo os chamar, mas era
considerado uma norma. O próprio Paulo dizia que
ele, assim como os outros, tinha o direito de se
casar: “E também o de fazer-nos acompanhar de
uma mulher irmã, como fazem os demais
apóstolos, e os irmãos do Senhor [meio-irmãos,
filhos de Maria e José] e Cefas [Pedro]? (1
Coríntios 9.5).
A Igreja Católica Romana, entretanto, tem
insistido no celibato, embora muitos papas, como
Sérgio III (904-911), João X (914-928), João XII
(955-963), Benedito V (964), Inocêncio VIII (1484-
1492), Urbano VIII (1623-1644) e Inocêncio X
(1644-1655), assim como milhões de cardeais,
bispos, arcebispos, monges e padres através da
história tenham violado esses votos. O celibato não
apenas fez pecadores os membros do clero que
caíram na prostituição, mas transformou em
prostitutas aquelas com quem eles coabitaram
secretamente. Roma é realmente “a mãe das
meretrizes”! Sua identificação como tal é
inconfundível. Nenhuma outra cidade, igreja ou
instituição na história do mundo rivaliza com ela na
prática desse mal em particular.
A história está repleta de dizeres que zombam
do falso clamor da Igreja pelo celibato e revelam sua
verdade: “o eremita mais santo tem sua prostituta” e
“Roma tem mais prostitutas do que qualquer outra
cidade porque tem a maioria dos celibatários”, são
exemplos. Pio II declarou que Roma era “a única
cidade governada por bastardos” (filhos de papas e
cardeais). O historiador católico e ex-jesuíta Peter de
Rosa escreve:
Os papas tinham amantes de 15 anos de idade, eram
culpados de incesto e perversões sexuais de toda
sorte, tinham inúmeros filhos, eram assassinados em
pleno ato de adultério [por maridos ciumentos que os
encontravam na cama com suas esposas]... Como diz
o antigo ditado católico: Por que ser mais santo do que
o papa?[16]

Em matéria de abominação, até mesmo os


historiadores católicos admitem que entre os papas
estavam alguns dos mais degenerados monstros sem
consciência da história. Seus incontáveis crimes,
muitos dos quais parecem inacreditáveis, têm sido
citados por vários historiadores a partir de
documentos secretos que revelam a profundidade da
depravação papal, alguns dos quais serão tratados
em capítulos posteriores. Chamar qualquer um
desses homens de “sua santidade, vigário de Cristo”,
é zombar da santidade de Cristo. Ainda assim os
nomes de cada um desses papas perversos –
genocidas, fornicadores, ladrões, fomentadores de
guerras, alguns culpados do massacre de milhares –
figuram na lista oficial dos papas. Essas
abominações que João previu não apenas ocorreram
no passado, elas acontecem até hoje, como veremos
a seguir.

Embriagada com o Sangue


dos Mártires
Em seguida João nota que a mulher está
embriagada - mas não com bebida alcoólica. Ela está
embriagada com “o sangue dos santos e com o
sangue das testemunhas de Jesus...” (Apocalipse
17.6). O quadro é horrível. Não são apenas suas
mãos que estão tintas de sangue, mas ela está
embriagada com ele. O assassinato de inocentes,
que por razões de consciência não concordaram
com suas exigências totalitárias, acabou refrescando
e animando a mulher de tal modo, que ela se
encontra em estado de êxtase.
Logo pensamos nas Inquisições (Romana,
Medieval e Espanhola) que durante séculos
prenderam a Europa em suas garras terríveis. Em
sua History of Inquisition [História da Inquisição],
Canon Llorente, secretário da Inquisição em Madri
de 1790 a 1792, tinha acesso aos arquivos de todos
os tribunais e calculou que somente na Espanha o
número de condenados excedeu os três milhões,
com cerca de 300.000 queimados na estaca.[17] Um
historiador católico comenta sobre os
acontecimentos que conduziram ao término da
Inquisição Espanhola em 1809:
Quando Napoleão conquistou a Espanha em 1808, um
oficial polonês do seu exército, coronel Lemanouski,
registrou que os dominicanos [responsáveis pela
Inquisição] se trancaram no seu mosteiro em Madri.
Quando as tropas de Lemanouski forçaram a entrada,
os inquisidores negaram a existência de quaisquer
câmaras de tortura.
Os soldados revistaram o mosteiro e as descobriram
escondidas num porão. As câmaras estavam cheias de
prisioneiros, todos nus, muitos ensandecidos. As
tropas francesas, acostumadas à crueldade e ao
sangue, não conseguiram evitar as náuseas diante da
visão. Esvaziaram as câmaras de tortura, jogaram
pólvora sobre o mosteiro e o explodiram.[18]

Para conseguir as confissões dessas pobres


criaturas, a Igreja Católica Romana usava torturas
engenhosas, tão atrozes e bárbaras, que passaríamos
mal só de ouvir sua descrição. O historiador da
Igreja, bispo William Shaw Kerr, escreve:
A abominação mais hedionda de todas era o sistema
de tortura. Os relatos de suas operações, feitas a
sangue frio, faz-nos estremecer diante da capacidade
dos seres humanos de serem cruéis. Elas eram
decretadas e reguladas pelos papas que afirmavam
representar Cristo na terra...
Cuidadosas anotações foram feitas não apenas sobre
tudo que era confessado pelas vítimas, mas também
dos seus protestos, gritos, lamentações, interjeições
interrompidas e apelos por misericórdia. A coisa mais
comovente na literatura da Inquisição não é a
narração do sofrimento das vítimas, mas os frios
memorandos guardados pelos oficiais dos tribunais.
Ficamos perturbados e estarrecidos, justamente
porque não havia a mínima intenção de nos chocar.
[19]

Na Europa, ruínas de algumas câmaras de


horror podem ser visitadas ainda hoje. Elas
permanecem como memorial para os zelosos
seguidores dos dogmas católicos romanos, que
ainda hoje continuam válidos, e para uma igreja
que afirma ser infalível e até aos dias atuais justifica
tais barbaridades. São também memoriais da
espantosa exatidão da visão de João em Apocalipse
17. Em um livro publicado na Espanha em 1909,
Emelio Martinez escreve:
A esses três milhões de vítimas (documentados por
Llorente), deveriam ser acrescentados milhares e
milhares de judeus e mouros deportados de suas
terras natais... Em apenas um ano, 1481, e apenas em
Sevilha, o Santo Ofício [da Inquisição] queimou 2.000
pessoas. Os ossos e efígies de mais 2.000... e outros
16.000 foram condenados a variadas sentenças.[20]

Peter de Rosa reconhece que a própria Igreja


Católica “foi responsável por perseguir judeus, pela
Inquisição, pelo extermínio dos hereges aos
milhares, pela reintrodução na Europa da tortura
como parte do processo judicial”. Mesmo assim a
Igreja Romana jamais admitiu oficialmente que tais
práticas fossem más, nem se desculpou com o
mundo nem com qualquer das vítimas ou seus
descendentes. Tampouco pode o papa João Paulo II
se desculpar hoje, porque “as doutrinas responsáveis
por essas coisas terríveis ainda estão em vigor”.[21]
Interiormente não houve mudança em Roma,
independente de quão doces sejam suas palavras,
quando algo a beneficia.

Mais Sangue do que os


Pagãos
A Roma pagã transformou em esporte práticas
de atirar pessoas aos leões, queimá-las vivas e os
muitos outros modos como foram mortos milhares
de cristãos e não poucos judeus. Ainda assim a
Roma “cristã” exterminou muitas vezes esse
número, tanto de cristãos como de judeus. Além das
vítimas da Inquisição, os huguenotes, albigenses,
valdenses e outros cristãos foram massacrados,
torturados e queimados às centenas de milhares. Isso
ocorreu porque eles simplesmente recusaram
alinhar-se com a Igreja Católica Romana, com sua
corrupção, dogmas e práticas heréticas. Por razões
de consciência eles tentaram seguir os ensinamentos
de Cristo sem depender de Roma, e por esse crime
foram amaldiçoados, caçados, aprisionados,
torturados e assassinados.
Por que Roma iria se desculpar ou mesmo
admitir esse holocausto? Ninguém exige que ela
preste contas hoje. Os protestantes já esqueceram as
centenas de milhares de pessoas queimadas em
fogueiras por aceitarem o simples Evangelho de
Cristo e recusarem dobrar-se diante da autoridade
papal. Incrivelmente, os protestantes agora estão
aceitando Roma como sendo cristã, enquanto ela
insiste para que os “irmãos separados” se
reconciliem com ela e aceitem seus termos
imutáveis!
Muitos líderes evangélicos pretendem trabalhar
com os católicos romanos para evangelizar o
mundo. Eles não querem saber de nenhuma
recordação “negativa” dos milhões de pessoas
torturadas e assassinadas pela igreja à qual eles agora
prestam honra, ou ao fato de Roma pregar um falso
evangelho de sacramentos e obras.
A Roma “cristã” exterminou judeus aos
milhares – muito mais do que a Roma pagã jamais
conseguiu. O território de Israel foi considerado
como propriedade da Igreja Católica Romana, não
dos judeus. Em 1096, o papa Urbano II promoveu a
Primeira Cruzada para retomar Jerusalém dos
muçulmanos. Com a cruz em seus escudos e armas
defensivas, os cruzados massacraram os judeus por
toda a Europa em seu caminho até a Terra Santa.
Praticamente, o seu primeiro ato ao retomar
Jerusalém “para a Santa Madre Igreja” foi reunir
todos os judeus numa sinagoga e atear fogo nela.
Esses fatos históricos não podem ser varridos para
debaixo do tapete do ecumenismo como se jamais
tivessem acontecido.
Nem pode o Vaticano fugir da grande
responsabilidade pelo Holocausto nazista, o qual era
bem conhecido por Pio XII, apesar do seu silêncio
completo, durante toda a guerra, sobre um dos seus
assuntos mais importantes.[22] O envolvimento do
catolicismo no Holocausto será examinado mais
tarde. Se o papa tivesse protestado, como os
representantes das organizações judaicas e as Forças
Aliadas lhe pediram que fizesse, ele teria condenado
sua própria Igreja. Os fatos são inegáveis:
Em 1936, o bispo Berning, de Osnabrück, havia falado
com o Führer durante quase uma hora. Hitler
assegurou a ele que não havia nenhuma diferença
fundamental entre o Nacional-Socialismo e a Igreja
Católica. Acaso não tinha a Igreja, que agora o
interrogava, considerado os judeus como parasitas e
os trancado em guetos?
“Estou apenas fazendo”, ele se gabou, “o que a Igreja
tem feito por 15 séculos, somente com mais
eficiência”. Sendo ele próprio católico, disse a Berning
que “admirava e pretendia promover o cristianismo”.
[23]

Existe, certamente, outra razão pela qual a


Igreja Católica Romana não tem se desculpado nem
se arrependido desses crimes. Mas como poderia? A
execução dos hereges (inclusive dos judeus) foi
decretada pelos papas “infalíveis”. A própria Igreja
Católica afirma ser infalível, portanto suas doutrinas
não poderiam estar erradas.

Reinando Sobre os Reis da


Terra
Finalmente, o anjo revela a João que a mulher
“é a grande cidade que domina sobre os reis da
terra” (Apocalipse 17.18). Existe tal cidade? Sim,
novamente é apenas uma: a Cidade do Vaticano. Os
papas coroaram e depuseram reis e imperadores,
exigindo obediência, amedrontando-os com a
excomunhão. No tempo do Concílio Vaticano I, em
1869, J. H. Ignaz von Dollinger, professor de
História da Igreja em Munique, preveniu que o papa
Pio IX forçaria o Concílio a fazer um dogma
infalível “da teoria favorita dos papas – que eles
podiam forçar reis e magistrados com a excomunhão
e suas conseqüências, para prosseguirem com suas
sentenças de confisco, prisão e morte...” Ele
relembrou seus companheiros católicos romanos de
algumas das más conseqüências da autoridade
política papal:
Quando, por exemplo, [o papa] Martinho IV
excomungou o rei Pedro de Aragão e o colocou sob
interdição... prometendo em seguida indulgências de
todos os pecados àqueles que guerreassem ao seu
lado e ao do tirano Carlos I [de Nápoles] contra Pedro,
e finalmente declarou seu reinado falso... o que custou
aos reis da França e de Aragão suas vidas e à França a
perda de seu exército...
O papa Clemente IV, em 1265, depois de vender
milhões de italianos do sul a Carlos de Anjou, em troca
de um tributo anual de oitocentas onças de ouro,
declarou que ele seria excomungado se o primeiro
pagamento fosse menor do que o determinado e que
na segunda negativa a nação inteira incorreria em
interdição...[24]

Embora João Paulo II não tenha mais o poder


de fazer exigências tão brutais, sua Igreja ainda
mantém os dogmas que o autorizam a fazer isso. E
os efeitos práticos de seu poder não são menores do
que os dos seus predecessores, embora exercitados
nos bastidores. O Vaticano é a única cidade que
envia e recebe embaixadores dos países mais
importantes da terra. Os embaixadores vêm ao
Vaticano de todos os países importantes, inclusive
dos Estados Unidos, não por mera cortesia, mas
porque o papa é hoje o governante mais importante
da terra. Até mesmo o ex-presidente Clinton viajou
até Denver em 1993 só para saudar o papa. Ele se
dirigiu a João Paulo II chamando-o de “santo padre”
e “sua santidade”.
Sim, embaixadores de nações vão a
Washington (D.C.), Paris e Londres, mas só porque
o governo nacional tem sua capital lá. Nenhuma
dessas cidades, ou qualquer outra, pode enviar
embaixadores a outros países. Só a Cidade do
Vaticano faz isso. Diferente de qualquer outra
cidade na terra, o Vaticano é reconhecido como um
Estado soberano com seus próprios direitos,
separado e distinto da Itália onde se encontra. Não
existe até hoje outra cidade na história em que isso
tenha acontecido.
Só do Vaticano se poderia dizer que é a cidade
que domina sobre os reis da terra. A frase “a
influência mundial de Washington” não significa a
influência de uma cidade, mas dos Estados Unidos,
cuja capital lá se encontra. Quando, porém, se fala
da influência do Vaticano ao redor do mundo, é
exatamente esse o significado – a cidade e o poder
mundial do catolicismo romano e do seu líder, o
papa. A Cidade do Vaticano é sem igual.

Não Espere Uma Babilônia


Reconstruída
Alguns sugerem que o Vaticano se mudará para
a Babilônia, no Iraque, quando ela for reconstruída.
Mas por que o faria? O Vaticano tem cumprido a
profecia de João, estando localizada em Roma
durante os últimos 1500 anos. Além do mais, já
mostramos a conexão com a antiga Babilônia, que o
Vaticano tem mantido por toda a história do
cristianismo paganizado que ele tem difundido.
Quanto à antiga Babilônia, ela nem existiu mais nos
últimos 2300 anos, por isso não mais “domina
sobre os reis da terra” (Apocalipse 17.18). A
Babilônia está em ruínas enquanto a Roma pagã e
depois a Roma católica, a nova Babilônia, continua
dominando os reis da terra.
Um historiador do século XVIII contou 95
papas que afirmavam ter o poder divino para depor
reis e imperadores. O historiador Walter James
escreveu que o papa Inocêncio III (1185-1216)
“tinha toda a Europa em sua rede”.[25] Gregório IX
(1227-1241) declarava exaltadamente que o papa
era o senhor e mestre de tudo e de todos. O
historiador R. W. Southern declarou: “Durante todo
o período medieval havia em Roma uma única
autoridade temporal e espiritual [o papado],
exercitando poderes que acabaram excedendo todos
os que já haviam existido sob as garras do imperador
romano”.[26]
É um fato histórico incontestável que os papas
dominaram sobre os reis, como documentaremos
por completo mais tarde. Também é indiscutível o
fato que, conforme João previu, abominações tão
horríveis foram cometidas. O papa Nicolau I (858-
867) declarou: “Somente nós [os papas] temos o
poder de prender e soltar, de absolver Nero e
condená-lo, e os cristãos não podem, sob pena de
excomunhão, executar outro julgamento senão o
nosso, o qual é infalível”. Ao ordenar que um rei
destruísse outro, Nicolau escreveu:
Nós ordenamos, em nome da religião, que invada seus
Estados, queime suas cidades, e massacre seu povo...
[27]

A informação especial que João nos dá, sob


inspiração do Espírito Santo, para identificar a
mulher, que é uma cidade, é específica, conclusiva e
irrefutável. Não existe cidade sobre a terra, no
passado ou no presente, que preencha todos esses
critérios, exceto a Roma católica e agora a Cidade
do Vaticano. Esta inegável conclusão se tornará cada
vez mais clara na medida em que continuarmos
revelando os fatos.
CAPÍTULO 7

Fraude e História
Forjada
Todo clérigo deve obedecer ao papa, mesmo que ele mande
fazer algo ruim; pois ninguém pode julgar o papa.

– papa Inocêncio III (1198-1216)

A Primeira Sé [Roma/papado] por ninguém é julgada. É


somente do pontífice romano o direito de julgar... aqueles que
desempenham os mais elevados cargos civis num Estado...
Não existe apelo nem recurso contra uma decisão ou decreto do
pontífice romano.

– Código de Direito Canônico[1]

Os papas têm sido, geralmente, as figuras


religiosas e políticas mais importantes da terra. Isso
continua sendo verdade, mesmo que o papa não
tenha mais ao seu dispor os exércitos e as tropas
armadas dos pontífices romanos do passado. O
papado é indispensável para o catolicismo, que
deverá desempenhar um papel vital nos últimos dias,
antes da Segunda Vinda de Cristo. Por conseguinte,
devemos estudar bastante para entender melhor o
papado e sua relação tanto com a Igreja quanto com
o mundo. Como surgiu o ofício papal? Qual seu
significado hoje?
O número de seguidores do Vaticano (quase
um bilhão de pessoas) é pelo menos três vezes maior
que o número de cidadãos de qualquer democracia
ocidental, sendo superados apenas pela população
da China. Mais importante ainda, seus membros
estão espalhados pelo mundo todo e muitos deles
têm altos cargos políticos, militares e comerciais em
países que não são católicos. Além disso o papa
dispõe de milhares de agentes secretos espalhados
pelo mundo inteiro. Isso inclui os jesuítas, os
cavaleiros de Colombo, cavaleiros de Malta, Opus
Dei e outros. O Serviço Secreto do Vaticano, com
todos os recursos de que dispõe, é inigualável.
Na maioria das vezes o poder político do papa
é exercido nos bastidores, em algumas ocasiões em
cooperação com (e outras vezes contra) a CIA, a
Inteligência Britânica, o Mossad de Israel, e outros
serviços de inteligência. Lembrem-se, seus milhões
de súditos estão presos a ele por laços religiosos,
que são muito mais fortes do que a lealdade política.
Nenhum governo secular pode competir com o
poder que a crença religiosa exerce.
O católico típico, embora possa discordar da
sua Igreja no tocante a assuntos como
homossexualidade, aborto, sexo extraconjugal,
anticoncepcionais e a necessidade de confissão,
ainda acredita que, quando chegar a hora da morte,
Roma é sua única esperança. O papa, como “vigário
de Cristo”, oferece uma realidade visível e uma
expressão prática para tal esperança. A posição
extraordinária do papa em relação aos membros da
Igreja foi expressa de maneira concisa na publicação
romana La Civilta Cattolica, que um documento
papal descreveu nos meados do século XIX como:
“o mais puro órgão jornalístico da verdadeira
doutrina da Igreja”.[2]
Não é suficiente que as pessoas apenas saibam que o
papa é o cabeça da Igreja... elas devem entender
também que sua própria fé e vida religiosa emanam
dele; ele é o laço que une os católicos uns aos outros,
o poder que os fortalece e a luz que os guia, aquele
que distribui as graças espirituais, o doador dos
benefícios da religião, promotor da justiça e protetor
dos oprimidos.[3]

Palavras semelhantes foram ditas pelos


seguidores de Joseph Smith, Sun Myung Moon, e
outros líderes de seitas. O papa é “outro Cristo” e
“Deus na terra” para seus seguidores, e, como diz o
Vaticano II, não pode ser julgado por nenhum
homem ou tribunal.[4]

Deixe Seu Cérebro na


Entrada
Tanto o papa, quanto a Igreja que o tem como
cabeça, afirmam ser infalíveis. Os fiéis católicos não
devem questionar coisa alguma que o papa ou a
Igreja digam com respeito à fé e moral. Os concílios
e catecismos têm declarado durante séculos a
necessidade dessa submissão completa e continuam
insistindo sobre isso ainda hoje. O periódico The
Catholic World [O Mundo Católico] lembrou a
todos os católicos dos Estados Unidos, durante o
Concílio Vaticano I:
Todos devem aceitar a fé e a lei da Igreja... Ninguém
tem o direito de questionar as razões da Igreja, a não
ser Deus Todo-Poderoso... Devemos receber com
inquestionável docilidade todas as instruções dadas
pela Igreja.[5]

Temos aqui uma negação tão clara da


responsabilidade moral do indivíduo quanto
podemos encontrar em qualquer seita. A mesma
exigência de submissão total foi feita pelo Vaticano
II. O Código de Direto Canônico também reafirma
essa regra:
O cristão fiel, cônscio de sua responsabilidade, está
obrigado pela obediência cristã a seguir o que os
pastores sagrados declaram, uma vez que eles, como
mestres da fé e representantes de Cristo, são os
líderes da Igreja.[6]

No tocante à fé, à moral e ao caminho da


salvação, os católicos devem deixar seus cérebros na
porta de entrada da igreja e aceitar o que lhes é dito.
Não podem sequer estudar a Bíblia sozinhos, pois
somente o Magistério pode interpretá-la.
Obviamente essa proibição da liberdade de
consciência está relacionada com a total supressão
dos direitos humanos básicos para toda a
humanidade, que é o imutável objetivo do
catolicismo romano.
Para compreender o catolicismo deve-se
ignorar a postura pública e as idéias manifestadas
pela Igreja Católica, promovidas por seu
departamento de relações públicas. A maneira com
que Roma se apresenta ao mundo varia de país para
país, dependendo do controle que exerce e do que
pode realizar. Em vez disso, devemos analisar as
doutrinas oficiais do catolicismo, que nunca mudam.
Muitos católicos e não-católicos achavam que o
Vaticano II havia liberalizado o catolicismo. Na
verdade, ele reafirmou os cânones e decretos de
importantes concílios anteriores: “Este sagrado
concílio aceita a lealdade e fé de nossos ancestrais...
e propõe novamente os decretos do Segundo
Concílio de Nicéia, do Concílio de Florença, e do
Concílio de Trento”.[7]
O Concílio de Trento denunciou a Reforma e
amaldiçoou as crenças evangélicas com mais de 100
anátemas. Todas estas condenações do Evangelho
da graça de Deus são endossadas e reafirmadas pelo
Vaticano II. Com relação ao papa, ficou estabelecido
claramente que:
O Pontífice Romano, cabeça do colégio de bispos, goza
desta infalibilidade em virtude do seu ofício [não de
sua santidade de vida], enquanto supremo pastor e
mestre de todos os fiéis... ele proclama com absoluta
decisão as doutrinas referentes à fé e à moral. Por
essa razão suas definições são ditas corretamente,
sendo irrefutáveis... em nenhuma hipótese carecendo
da aprovação de outros e não admitindo apelação de
qualquer outro tribunal.
...os fiéis, por seu lado, ficam obrigados a submeter-se
às decisões dos seus bispos, feitas em nome de Cristo,
sobre fé e moral e aderindo a elas com pronta e
respeitosa fidelidade de consciência. Esta submissão
leal da vontade e intelecto deve ser feita de um modo
especial, à autoridade do autêntico ensino do Pontífice
Romano, mesmo quando ele não fala ex catedra, com
tal sabedoria que a suprema autoridade do seu ensino
seja reconhecida com respeito e que se obedeça às
suas decisões de acordo com a sua manifesta
consciência e intenção...[8]
“Obrigados a submeter-se às decisões dos
seus bispos... Esta submissão leal da vontade e
intelecto deve ser feita...”! Isso dá a Roma um
poder incrível sobre os devotos católicos. Não
importa que nem todo católico obedeça. O que
interessa é que tal palavra é “o ensino intensivo e
imutável da Igreja”, não só para os seus membros,
mas para toda a humanidade.
Mesmo que muitos católicos rebelem-se contra
certas doutrinas da Igreja, eles permanecem ligados
nominalmente a ela, embora muitas vezes a
freqüentem somente no Natal e na Páscoa. Contudo,
quando se trata da esperança de ser salvo do
purgatório e de alcançar o céu, nenhum católico
pode questionar a Igreja para não ficar fora de sua
proteção e ser condenado. O Concílio Vaticano II
diz claramente:
O santo Concílio ensina... que a Igreja... é necessária
para a salvação... Por conseguinte, não podem ser
salvos aqueles que, sabendo que a Igreja Católica foi
fundada por Deus através de Cristo, se recusarem a
ingressar ou nela permanecer.[9]

Lembre-se que Hitler e Mussolini continuaram


sendo católicos até o fim e jamais foram
excomungados pela Igreja. Isso também é válido
para milhares dos piores criminosos de guerra
nazistas, que o Vaticano retirou da Europa e levou
para lugares seguros na América do Sul. Esses
grandes criminosos foram honrados com funerais
católicos, assim como os membros da Máfia, que
morrem com a segurança de que sua Igreja
continuará a rezar missas a fim de retirá-los do
purgatório e levá-los depois para o céu. É uma
política de segurança que poucos conseguem ignorar
completamente.

“Impecabilidade” Versus
“Infalibilidade”
A fé cega exigida pelos pronunciamentos do
papa e do clero parecem fazer sentido, pois a Igreja
Romana é a maior e mais antiga. Certamente esses
bilhões de seguidores não poderiam ter sido
enganados por mais de 1500 anos! Assim a fé é
mantida pela suposta segurança de que a Igreja
Católica Romana é a única igreja verdadeira, a única
que pode ser rastreada até os apóstolos originais, e
cuja autoridade papal vem diretamente de Cristo
(através de Pedro), numa longa e ininterrupta linha
de sucessão apostólica.
Como prova, a Igreja fornece uma lista
completa de seus papas (até agora foram 263) com a
ascendência desde Pedro. Poucos católicos sabem
que os papas lutavam entre si, excomungando-se
mutuamente e, por vezes, até matavam uns aos
outros. É difícil achar algum papa que, depois do
século V, tenha exibido as virtudes cristãs básicas.
Suas vidas, conforme registrado na Catholic
Encyclopedia, são comparáveis às novelas de TV
em matéria de luxúria, loucura, ostentação e
assassinatos. Contudo, todos esses mestres do crime,
envenenadores, adúlteros e genocidas são
considerados infalíveis quando falam ex catedra –
ou seja, fazem pronunciamentos dogmáticos sobre
fé e moral a toda a Igreja.
Os apologistas católicos argumentam que existe
uma diferença entre impecabilidade de caráter e
conduta, que os papas certamente não tinham, e
infalibilidade em matéria de fé e moral, o que todo
católico deve crer que eles possuem.[10] É tolice
acreditar que um homem que nega a fé e tem
comportamento imoral em sua vida, é infalível
quando fala sobre fé e moral!
Os católicos que conhecem os fatos
prontamente admitem que muitos papas foram
terríveis. Mas argumentam que isso prova
simplesmente que eles eram humanos e permite que,
se somos conscientes do que aconteceu,
discordemos deles. Para os católicos faz sentido que,
apesar da inegável maldade do seu clero, a Igreja
Católica Romana seja a única esperança da
humanidade. Afinal de contas, ela foi fundada pelo
próprio Cristo, que fez de Pedro o primeiro papa.
Isto está, supostamente, comprovado nas Escrituras:
“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja” (Mateus 16.18). Exa mi na re mos
detalhadamente esse versículo mais tarde.
O Dogma Desconhecido
Ao contrário do que se ensina aos católicos, o
ofício papal não começou com o apóstolo Pedro.
Ele teve origem centenas de anos antes do bispo de
Roma tentar controlar o resto da igreja e muitos
séculos antes que essa primazia fosse aceita por
todos. Em 449, a carta de Leão o Grande a Flaviano
não foi aceita até que o Concílio de Calcedônia a
aprovasse. “O próprio papa Leão [I] reconheceu que
esse tratado não podia tornar-se uma regra de fé, até
ter sido confirmado pelos bispos”.[11]
Houve oito concílios da Igreja antes que o
Cisma de 1054 a dividisse em Católica Romana e
Oriental Ortodoxa, quando o bispo de Roma e o
patriarca de Constantinopla se excomungaram
mutuamente. Nenhum desses oito concílios foi
convocado pelo papa, mas sim pelo Imperador, que
também deu sua aprovação aos decretos. Quanto à
autoridade papal, um historiador católico nos
lembra:
O papa Pelágio (556-560) fala sobre hereges
separando-se das Sés Apostólicas, ou seja, Roma,
Jerusalém, Alexandria (mais Constantinopla). Em todos
os escritos antigos sobre hierarquia não existe menção
de um papel especial do bispo de Roma, nem ainda o
título de “papa”... Das cerca de 80 heresias dos
primeiros seis séculos, nenhuma se refere à autoridade
do bispo de Roma e nenhuma teve início com ele...
Nenhuma ataca a [suprema] autoridade do pontífice
romano, já que ninguém ouviu falar disso.[12]

O Sínodo Oriental de 680, convocado pelo


papa Ágato, foi o primeiro corpo eclesiástico que
asseverou a primazia de Roma sobre o resto da
Igreja, mas esse não foi um concílio reunindo toda a
Igreja, portanto suas decisões não foram aceitas em
larga escala. Como frisa o historiador católico Peter
de Rosa:
...nenhum dos primeiros Pais da igreja via na Bíblia
qualquer referência à jurisdição papal sobre a Igreja.
Pelo contrário, eles estavam certos de que os bispos,
principalmente os metropolitas, tinham o pleno direito
de governar e administrar seu próprio território, sem
sofrer interferência de ninguém. A Igreja Oriental
nunca aceitou a supremacia papal; a tentativa de
Roma de impor-se foi o que levou ao Cisma.
...procura-se em vão no primeiro milênio por uma
única doutrina ou legislação imposta apenas por Roma
ao resto da Igreja. As únicas leis gerais procederam de
concílios como o de Nicéia. De qualquer modo, como
poderia o bispo de Roma ter exercido jurisdição
mundial naquele tempo se ainda não havia a Cúria
[Romana]; quando nenhum bispo permitia
interferência de quem quer que fosse, quando Roma não
emitiu dispensação alguma, não exigia tributo nem
imposto; quando todos os bispos, não apenas o de
Roma, tinham o poder de ligar e desligar; quando
nenhum bispo ou igreja ou indivíduo era censurado
por Roma?
Além disso, durante séculos, o bispo de Roma foi
escolhido pelos cidadãos locais – clero e laicato. Se ele
tivesse jurisdição sobre a Igreja Universal, o resto do
mundo não iria desejar dizer algo sobre a sua
nomeação? Enquanto ele acreditava ter supremacia
[universal], o restante da Igreja exigia participar de
sua eleição. Isso só teve início na Idade Média.[13]

Do Calvário ao Régio
Pontífice
É necessário que se faça uma engenhosa
modificação para que da distorção de uma simples
declaração: “sobre esta pedra edificarei a minha
igreja”, sur gis se o ofício petrino, a sucessão
apostólica, a infalibilidade papal, e toda a pompa,
cerimônia e poder que rodeiam o papa hoje. Como
um escritor católico sarcasticamente declara: “Exige-
se [uma grande] habilidade para se tomar uma
declaração feita por um pobre carpinteiro a um
pescador, igualmente pobre, e aplicá-la a um régio
pontífice, que em breve passaria a ser chamado de
‘o Dono do Mundo’.”[14]
Con tu do, este é o único fundamento “bíblico”
sobre o qual toda a estrutura da Igreja Católica
Romana está baseada. Incluindo a infalibilidade
papal, a sucessão apostólica e uma intrincada
hierarquia de padres, bispos, arcebispos e cardeais; o
Magistério dos Bispos, o único que pode interpretar
a Bíblia; a exigência de que, por suposta
infalibilidade, o papa deve falar ex catedra a toda a
Igreja em matéria de fé e moral, etc. Que nenhum
destes conceitos é remotamente sugerido, muito
menos estabelecido, quer seja em Mateus 16.18 ou
em qualquer outro lugar na Escritura, é deixado de
lado pelos apologistas católicos, os quais logo se
voltam para a “tradição” parta apoiar tais crenças.
Fazendo isso, entram num labirinto de engano e
verdadeira fraude.
Foram necessários muitos séculos para se
desenvolver engenhosos argumentos para que,
finalmente, se chegasse à teoria de que o mesmo
Cristo, que “não tinha onde reclinar a cabeça”
(Mateus 8.20), viveu em pobreza e fui crucificado
nu, deveria ser representado por um régio pontífice
que possui palácios com mais de 1.100 salas cada
um, é servido dia e noite por um batalhão de criados
e usa as melhores roupas de seda bordadas com fios
de ouro! Que Cristo delegou a Pedro tal pompa e
luxo, o que nenhum dos dois conheceu, é tanto
ridículo quanto blasfemo.
As glórias e poderes desfrutados pelos papas
não são, nem remotamente, mencionados nos relatos
existentes sobre a vida de pureza e pobreza de
Pedro. O apóstolo-pescador declarou: “Não tenho
prata nem ouro” (Atos 3.6). Os luxos do papa e
suas pomposas declarações de autoridade sobre reis
e reinos não eram conhecidos na Igreja até séculos
mais tarde, quando papas ambiciosos começaram a
estender gradualmente e solidificar seu domínio
sobre os governantes. Os líderes supremos do
catolicismo começaram a usar títulos como:
“supremo governante do mundo”, “rei dos reis”.
Outros afirmaram ser “Deus na terra”, ou até
mesmo “o redentor”, que “pendurados na cruz
como o fez Cristo”, asseveraram que “Jesus colocou
os papas no mesmo nível de Deus”.[15] Pedro
certamente teria denunciado tais fraudes pretensiosas
como blasfêmia.
Roma era a capital do Império Romano antes
de Constantino mudar o seu palácio para o Oriente,
por isso continuou sendo considerada como capital
da porção Ocidental do império. Com o imperador
Constantino instalado na cidade de Constantinopla
(hoje Istambul), o papa desenvolveu um poder
quase absoluto, não apenas como cabeça da Igreja,
mas também como imperador do Ocidente. Mais
tarde, com a queda do Império Romano, o papado
foi quem continuou governando as ruínas
fragmentadas. Thomas Hobbes disse: “O papado
nada mais é do que o fantasma do finado Império
Romano, sentado sobre o seu túmulo com a coroa
na cabeça”.
W. H. C. Frend, professor emérito de história
eclesiástica em seu clássico “The Rise of
Christianity” [A Ascensão do Cristianismo] frisa
que, pelos meados do século V a Igreja “tinha se
tornado o mais poderoso elemento nas vidas dos
povos do império. A virgem e os santos haviam
substituído os deuses (pagãos) e padroeiros das
cidades”.[16]. O papa Leão I (440-461) gabava-se
que São Pedro e São Paulo haviam “substituído
Rômulo e Remo como os padroeiros e protetores da
cidade [Roma]”.[17] Frend escreve que a Roma
cristã era a “legítima sucessora da Roma pagã...
Cristo havia triunfado [e] Roma estava pronta para
estender sua influência até aos próprios céus”.[18]

Releitura Desavergonhada
da História
Tal era a ambição da maioria dos que
almejavam o suposto trono de Pedro que eles muitas
vezes guerreavam uns contra os outros a fim de
conquistá-lo. Usando o nome de Cristo e fazendo
piedosamente o sinal da cruz, eles trabalhavam duro
para satisfazer sua ambição de poder, prazer e
riqueza. Não havia nas Escrituras, nem nos escritos
dos Pais da Igreja, justificativas para fazerem de si
mesmos governantes absolutos e infalíveis da Igreja,
muito menos do mundo. Por conseguinte, os papas
teriam de encontrar outra maneira de obter apoio
para isso. A solução encontrada foi escrever
novamente a história, manuseando documentos
supostamente históricos. A primeira destas ousadas
falsificações foi A Doação de Constantino, a qual já
mencionamos. Em seguida surgiram os falsos
Decretos de Isidoro, que eram decretos papais
supostamente compilados pelo arcebispo Isidoro
(560-636), mas que, na verdade, foram forjados no
século IX. Essas fraudes se tornaram o fundamento
da maior parte da “tradição” sobre a qual o papado
ainda hoje se apóia.
O historiador católico J. H. Ignaz von Dollinger
escreve que “até o surgimento dos Decretos de
Isidoro nenhuma tentativa séria havia sido feita, em
lugar algum, para se introduzir a nova teoria romana
da infalibilidade. Os papas nem sonhavam em exigir
tal privilégio”.[19] Ele prossegue explicando que
esses Decretos frau du len tos iriam
de forma gradual, mas de maneira inevitável, mudar a
constituição da Igreja. Seria difícil encontrar em toda a
história um outro exemplo de falsificação tão grosseira,
porém tão bem-sucedida.
Durante os três últimos séculos [ele escreveu em
1869] eles [os documentos forjados] têm sido
denunciados publicamente, mesmo assim os princípios
que eles introduziram acabaram tornando-se práticas
da Igreja. Tais idéias fixaram raízes tão profundas no
solo da Igreja, fazendo agora parte dela de tal
maneira, que mesmo a exposição da fraude acabou
por não produzir nada capaz de abalar o sistema
dominante.[20]

Os Decretos de Isidoro trazem cerca de 100


decretos inventados, que teriam sido promulgados
pelos primeiros papas, juntamente com falsos
escritos de supostas autoridades e sínodos da Igreja.
Essas fraudes foram exatamente o que Nicolau I
(858-867) precisava para justificar sua alegação de
que os papas “exerciam o papel de Deus na terra”,
com absoluta autoridade sobre os reis, incluindo até
o direito de “comandar massacres” dos que se
opunham a eles – tudo em nome de Cristo.
Os papas que sucederam Nicolau sentiram-se
satisfeitos e muito à vontade para copiar os seus
meios. Cada um deles usou as ações dos seus
predecessores para justificar as suas próprias,
construindo, assim, uma condição cada vez maior
para a infalibilidade, mas sobre um fundamento
fraudulento. Escrevendo no século XIX, o católico e
historiador da igreja R. W. Thompson, comenta:
Tempos como esses foram usados para a prática de
todo tipo de impostura e fraude que os papas e o clero
achavam necessárias para fortalecer a autoridade do
papado... O interesse pessoal e a ambição de
Inocêncio III levaram-no a preservar todas essas
falsificações com cuidado, uma vez que... a “piedosa
fraude” poderia ser santificada com o tempo... O
resultado que ele esperava e desejava foi alcançado...
[Estes] falsos Decretos, que são agora universalmente
considerados como ousadas e desavergonhadas
falsificações... constituem a pedra angular do enorme
sistema de erro e usurpação que desde então tem sido
construído pelo papado, para reavivar o que Pio IX
apresentou em sua Encíclica e no Syllabus [dos Erros].
[21]

Os devotos católicos ficariam chocados ao


saber que a maior parte da “tradição apostólica” que
lhes ensinaram ser o sustentáculo do catolicismo
romano (e que deve ser considerada no mesmo nível
da Escritura) era uma fraude, feita deliberadamente.
As doutrinas construídas sobre essas falsificações
tornaram-se tão interligadas ao catolicismo, que
mesmo depois que o engano foi exposto, os papas
relutaram em fazer as necessárias correções. Um
papa infalível após o outro endossou essa
falsificação. Tentar corrigir as mentiras acumuladas
durante séculos iria desestabilizar a farsa do
catolicismo romano.
Pio IX baseou-se na fraude para pressionar os
bispos requerendo que eles fizessem da infalibilidade
papal um dogma oficial no Vaticano I (embora ela já
fosse conhecida por três séculos). Ele obteve
sucesso, mas o testemunho da história
decididamente refuta tanto a sucessão apostólica,
quanto a infalibilidade papal.
CAPÍTULO 8

Linha Ininterrupta de
Sucessão Apostólica?
Esta é a única Igreja de Cristo, que no credo professamos ser
una, santa, católica e apostólica, a qual o nosso Salvador, após sua
ressurreição, confiou ao cuidado pastoral de Pedro, comissionando
a ele e aos outros apóstolos sua propagação e governo...
O pontífice romano, como sucessor de Pedro, é a fonte perpétua
e visível e o fundamento da unidade, tanto dos bispos como de
todos os fiéis.

– Vaticano II[1]

A afirmação de que os papas são os sucessores


do apóstolo Pedro é o fundamento sobre o qual se
baseia o catolicismo romano. Sem essa declaração a
Igreja perderia sua unicidade e não poderia
funcionar. Devemos, portanto, gastar mais tempo
para examinar tal afirmação cuidadosamente. Existe
realmente uma linha ininterrupta de 262 papas que
sucederam a Pedro?
Para que ocorresse, de fato, uma sucessão
apostólica, cada papa deveria escolher seu próprio
sucessor e impor as mãos sobre ele pessoalmente
para ordená-lo. Esse foi o procedimento adotado
quando Paulo e Barnabé foram enviados pela Igreja
de Antioquia em sua primeira viagem missionária
(Atos 13.3). A investidura de Timóteo para o
ministério também se deu pela imposição de mãos
dos presbíteros sobre ele (1 Timóteo 4.14). Paulo
agiu assim quando concedeu um dom espiritual
especial ao seu discípulo (2 Timóteo 1.6). Contudo,
esse procedimento bíblico jamais foi seguido com
relação aos sucessores dos bispos de Roma (ou
papas). Aquele que irá substituir o supremo
pontífice não é escolhido por ele, mas sim por
outros, após a sua morte. Isso freqüentemente
ocorre de um modo profano, conforme veremos.
Além do mais, não há registro algum de que
Pedro tenha sido bispo em Roma, portanto nenhum
bispo de Roma poderia ser o seu sucessor. Irineu,
bispo de Lyon (178-200), forneceu uma lista dos
primeiros 12 bispos da capital do império. Lino foi o
primeiro. O nome do “chefe dos apóstolos” não
aparece. Eusébio de Cesaréia, o pai da História da
Igreja, nunca o mencionou como bispo de Roma.
Ele diz simplesmente que Pedro esteve naquela
cidade “no fim de seus dias” e lá foi crucificado.
Paulo, ao escrever sua Epístola aos Romanos, saúda
muitas pessoas pelo nome, mas não menciona
Pedro. Essa seria uma estranha omissão se o líder
dos apóstolos estivesse vivendo em Roma e,
especialmente, se fosse seu bispo!

Existem Falhas na “Linha


Ininterrupta”
O Vaticano apresenta uma lista oficial de papas
que começa arbitrariamente com Pedro e continua
até o presente. Já surgiram muitas dessas listas, as
quais aparentemente foram consideradas corretas
durante um certo tempo, mas em seguida tiveram de
ser revisadas – portanto conflitam umas com as
outras. As listas mais antigas vieram do Liber
Pontificallis [Livro dos papas], tendo sido,
presumivelmente, elaboradas pelo papa Hormidus
(514-523), embora até mesmo a Catholic
Encyclopedia [Enciclopédia Católica] lance dúvidas
sobre a sua autenticidade e a maioria dos eruditos de
hoje concordem que ela mistura fatos com ficção.
Não podemos saber com certeza até hoje quem
foram os verdadeiros bispos de Roma. A própria
New Catholic Encyclopedia [Nova Enciclopédia
Católica], pu bli ca da pela Universidade Católica da
América, reconhece este fato:
Mas deve-se admitir francamente que lapsos ou
deficiências nas fontes tornam impossível, em certos
casos, determinar se os reivindicadores eram papas ou
antipapas.[2]

A verdade é que a própria Igreja Católica


Romana, mesmo com todos os seus arquivos, não
consegue elaborar uma lista exata e completa dos
papas. A suposta “linha ininterrupta de sucessão
desde Pedro” não passa de mera ficção. Qualquer
um que disponha de tempo para tentar verificar sua
exatidão, concluirá que a Igreja forjou uma lista
oficial a fim de justificar o papado e suas pretensões.
Verá também que o bispo de Roma só veio a ser
considerado o papa da Igreja universal cerca de
1000 anos após o Pentecostes!

Sucessão Apostólica?
Durante séculos os cidadãos de Roma se
consideraram no direito de eleger o bispo de Roma.
Este costume é uma prova de que ele tinha
jurisdição apenas sobre aquele território, pois se
pudesse comandar toda a Igreja, então todos os seus
membros estariam envolvidos em sua escolha.
Houve tempos em que o direito de eleger seus
próprios bispos lhes foi negado. Então os cidadãos
de Roma se revoltaram e impuseram sua vontade
sobre as autoridades civis e religiosas locais. Como
poderia tal pressão, baseada na violência, ser
chamada de sucessão apostólica, sob a direção do
Espírito Santo?
Os feudos eram governados pelas famílias
poderosas (Collona, Orsini, Annibaldi, Conti,
Caetani, e assim por diante), que por séculos
disputaram o papado. Por exemplo, Bonifácio VIII,
um Caetani, teve de lutar contra os Collona para
ficar no poder. No apogeu do seu governo
representantes de todo o cristianismo Ocidental
foram a Roma para o grande jubileu, em 1300.
Porém, três anos depois ele foi deposto por
emissários de Filipe, o Louro, da França. Assim
sendo, naquela época Roma tornou-se possessão
francesa. Como conseqüência, o papado foi
transferido para a França. Entre 1309 e 1137 todos
os papas eram franceses e residiram em Avignon.
Tais manobras políticas dificilmente poderiam
manter uma linha ininterrupta de sucessão!
Os papas eram tanto empossados quanto
depostos pelos exércitos imperiais ou pelas
multidões romanas. Alguns foram assassinados.
Mais de um foi executado por um marido ciumento
que o encontrou na cama com sua esposa – parece
que assim seria difícil haver uma sucessão
apostólica. Muitas vezes o dinheiro e/ou a violência
determinavam quem seria o “sucessor de Pedro”.
Não é de admirar que no Acordo de Worms (feita
entre o papa Calixto II e o Imperador Henrique V,
em 23 de setembro de 1122), o papa tenha sido
levado a jurar que a eleição dos bispos e abades
aconteceria “sem simonia e sem violência
alguma”[3], como era característico das decisões da
Igreja.
Houve tempos em que existiam vários rivais,
cada um afirmando ter sido legalmente votado num
conselho legítimo. Um dos exemplos mais antigos
de papas múltiplos foi criado pela eleição simultânea
de facções rivais dos papas Ursinus e Dâmaso.
Depois de usar de muita violência, os seguidores do
primeiro conseguiram colocá-lo como papa. Mais
tarde, após uma batalha de três dias, Dâmaso, com o
apoio do imperador, saiu vitorioso e continuou como
“vigário de Cristo” por 18 anos (366-384). Então a
“sucessão apostólica” numa “linha ininterrupta desde
Pedro” ocorreu através do uso da força armada!
Não é interessante?
Ironicamente foi Dâmaso, em 382, o primeiro a
usar a frase: “Tu és Pedro e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja”, para reivindicar
autoridade espiritual. Ele era um papa sanguinário,
rico, poderoso e excessivamente corrupto, cercado
de luxo tal que faria um imperador sentir inveja.
Não há meio de justificar qualquer conexão entre ele
e Cristo, embora esse papa permaneça como um dos
elos da suposta corrente de sucessão ininterrupta
desde Pedro.

Violência, Intriga e Simonia


Estêvão VII (896-897), que exumou o papa
Formoso e condenou o cadáver por heresia num
falso tribunal, logo depois foi estrangulado pelos
zelotes que se opunham a ele. Seu partido
prontamente elegeu um cardeal chamado Sérgio
para ser papa, mas ele foi expulso de Roma por uma
facção rival, a qual tinha elegido Romano como o
seu “vigário de Cristo”. Sobre a maneira estranha
como os papas sucederam uns aos outros, numa
“linha ininterrupta de sucessão apostólica desde
Pedro”, um historiador escreve:
Nos 12 meses seguintes, mais quatro papas subiram
ao sangrento trono [papal], mantendo-se
precariamente por algumas semanas – ou mesmo dias
– antes de serem lan ça dos nas suas sepulturas.
Sete papas e um antipapa surgiram durante um
período de pouco mais de seis anos quando... O
cardeal Sérgio reapareceu, após sete anos de exílio,
agora apoiado pelas espadas de um senhor feudal, o
qual via aquela oportunidade como um meio de ter
acesso a Roma. O papa reinante [Leão V, 903] foi para
a sepultura, os assassinatos na cidade atingiram seu
clímax, e o cardeal Sérgio apareceu como o papa
Sérgio [III, 904-911]. O único sobrevivente dos
reivindicadores era agora o sumo pontífice.[4]

Tentando dar estabilidade à seleção dos papas,


em 1059, Nicolau II (1059-1061) “definiu o papel
dos cardeais no processo de eleição do papa.
Durante o Terceiro Concílio de Latrão em 1179,
Alexandre III (1159-1181) restringiu as eleições
papais aos cardeais”.[5] Não houve melhora alguma.
Como um historiador do século XIX frisou: “Poucas
eleições papais, se é que houve alguma, foram
realizadas sem simonias [compra de favores]... a
invenção do Sacro Colégio [dos cardeais] foi, de
modo geral, talvez a fonte mais fértil de corrupção
na Igreja. Muitos cardeais chegavam a Roma para o
conclave junto com seus banqueiros”.[6]
Muitos indícios dessa corrupção podem ser
lidos nos diários de João Burchard. Ele foi o mestre
de cerimônias no conclave que elegeu Rodrigo
Bórgia (papa Alexandre VI – 1492-1503). Burchard
conclui que apenas cinco votos não foram
comprados na eleição. “O jovem cardeal Giovanni
de Médici, que se recusara a vender seu voto, achou
melhor abandonar Roma imediatamente”.[7]
Naqueles dias a posição de cardeal era vendida pelo
preço equivalente ao resgate de um rei; custava uma
fortuna entrar na corrompida linha de “sucessão
apostólica”. O dinheiro fluía de e por toda a Europa
para custear os candidatos favoritos. Bórgia
comprou o papado com “vilas, cidades e abadias”...
[e] quatro mulas carregadas de prata para que o seu
maior rival, o cardeal Sforza, fosse induzido a
renunciar”. Peter de Rosa observa jocosamente: “É
instrutivo ver, pelos diários de Burchard, como o
Espírito Santo agia ao escolher o sucessor de
Pedro”.[8]

Sexo e Sucessão
Alguns papas foram colocados no ofício por
suas amantes – seis deles por prostitutas (que eram
mãe e filha). Teodora de Roma (esposa de um
poderoso senador romano) teve muito sucesso
usando essa estratégia. Ela manipulava os políticos
de Roma, gabando-se do fato de sua filha Morósia
ser amante do papa Sérgio III. Conhecida como a
“amante de Roma”, Morósia não hesitava em
ordenar assassinatos para conseguir o que
ambicionava. A própria Teodora era amante de dois
eclesiásticos, os quais ela conseguiu, após a morte de
Sérgio III, levar em rápida sucessão ao “trono de
Pedro” – os papas Anastásio III (911-913) e Lando
(913-914). Quando apaixonou-se por um padre de
Ravena, ela também o conduziu ao trono papal.
As prostitutas determinavam quem seria o papa
na “sucessão apostólica”! Sobre essa mãe e filha
notáveis Edward Gibbon escreveu em seu livro
Decline and Fall of The Roman Empire [Declínio e
Queda do Império Romano]:
A influência das duas prostitutas, Morósia e Teodora,
era fundamentada em sua riqueza e beleza, em suas
intrigas políticas e amorosas. Os mais ardentes de seus
amantes foram recompensados com a mitra romana...
O filho bastardo, o neto e o bisneto de Morósia – uma
rara genealogia – sentaram-se no trono de São Pedro.
[9]

Alberico, outro filho de Morósia, com seus


asseclas armados, literalmente controlava Roma. Ele
fez os líderes romanos jurar que elegeriam seu filho
(neto de Morósia) Otaviano, não apenas como seu
sucessor ao trono imperial, como também, após a
morte do papa, ao supremo ofício religioso. E assim
aconteceu com Otaviano, que se auto-intitulou papa
João XII, enquanto que, ao mesmo tempo, reinava
como príncipe com o nome de Otaviano. Desse
modo, tanto o trono civil como o eclesiástico foram
reunidos sob um só homem.
João XII (955-963) era obcecado por sexo
ilícito, mais ainda quando estava no poder. Embora
tivesse muitas amantes regulares, elas não eram
suficientes. Não era seguro para mulher alguma
entrar nos seus domínios! O bispo Liudprand de
Cremona, observador papal e cronista da época,
conta que o papa “ficou tão cego de amor por uma
[amante] que a fez governadora de várias cidades –
e até mesmo deu a ela as cruzes e taças de ouro da
basílica de São Pedro”. As multidões romanas que o
haviam sustentado e que não se incomodavam com
seus casos amorosos, ficaram com raiva por causa
da perda das propriedades, as quais os romanos
consideravam parte de sua herança.
Rodeado pelas multidões, que agora ansiavam
por removê-lo e pressionado pelo novo rei da Itália,
com seus exércitos, Otaviano abandonou sua
posição como governante civil, mas não desistiu da
influência do papado, muito mais lucrativa, embora
não pretendesse ser um homem religioso e muito
menos um verdadeiro cristão. O papado ainda tinha
o poder de coroar imperadores. O papa convocou
Otto, rei da Alemanha e o mais poderoso monarca
da Europa, a Roma para ser coroado imperador do
Sacro Império Romano. Otto veio depressa com seu
exército, para auxiliar o pontífice que o convocara.
Após sua coroação por João XII, o rei Otto
tentou admoestar o jovem papa a abandonar sua
vida dissoluta. Ele fingiu obedecer às exortações,
mas depois que o rei alemão e seu exército partiram,
o papa, não querendo abdicar de suas façanhas
sexuais, ofereceu a coroa imperial a Berenger, o
mesmo inimigo cujos exércitos haviam pilhado o
norte da Itália, o que o havia levado a pedir ajuda a
Otto.
Mesmo tentado pelo prêmio que agora era
posto à sua frente, Berenger o declinou, pois sabia
que suas forças não podiam competir com o exército
de Otto. O papa enraivecido apelou para todos, dos
sarracenos aos hunos, para libertá-lo do homem que
ele acabara de coroar como imperador do Sacro
Império Romano, e com quem ele havia jurado
reatar a antiga aliança entre a coroa e o papado, que
havia funcionado tão bem entre Leão III e Carlos
Magno!

A Dança das Cadeiras dos


Papas
Quando Otto regressou com seus exércitos para
um acerto de contas, João XII fugiu de Roma para
Tivoli com todos os tesouros do Vaticano que
conseguia carregar. Otto abriu um sínodo para
decidir a sorte de João. O bispo Liudprand o
presidiu em nome do imperador e registrou os
procedimentos. Testemunhas foram chamadas e os
crimes do papa enumerados, indo desde fornicação
com numerosas mulheres, que tiveram os seus
nomes revelados, a ter cegado Benedito, seu pai
espiritual; além do assassinato do cardeal João e da
acusação de ter feito um brinde a Satanás no altar de
São Pedro. Mas antes que Otto pudesse executar
justiça, o papa João XII foi morto por um marido
que o encontrou na cama com sua esposa. Mesmo
assim, João XII consta da lista oficial dos pontífices,
todos eles conhecidos como “sua santidade, vigário
de Cristo”.
Não muito depois da morte de Otto na
Alemanha, o papado caiu sob o controle de uma
poderosa família de guerreiros dos montes
albaneses. O líder da clã, Gregório de Tusculum,
usando de sua riqueza e do poder da espada,
conseguiu colocar dois de seus três filhos e um neto
(um sucedendo o outro) no suposto trono de Pedro.
Os albericos de Tusculum puderam finalmente
gabar-se de ver 40 cardeais, três antipapas e 13
papas saindo da mesma família. Seria cômico
afirmar que a riqueza e o poder que esta notável
família de papas produziu tem algo a ver com a
sucessão apostólica.
Sobre este período Von Dollinger, um
historiador da Igreja e católico devoto, escreve:
... a Igreja Romana estava escravizada e degradada,
enquanto a Sé Apostólica tornava-se presa e
brinquedo de facções rivais de nobres, e por um longo
tempo de mulheres ambiciosas e depravadas. Ela foi
apenas renovada num curto intervalo (997-1003) por
Gregório V e Silvestre II, pela influência do imperador
saxônio.
Em seguida o papado mergulhou novamente em total
confusão e impotência moral; os condes toscanos
tornaram-no hereditário em sua família. Várias vezes
rapazes dissolutos como João XII (tinha 16 anos
quando se tornou papa) e Benedito IX (com 11 anos)
ocuparam e desgraçaram o trono apostólico, o qual
era comprado e vendido como mercadoria. Finalmente
três papas brigaram pela posição, até que o imperador
Henrique III pôs fim ao escândalo, elevando um bispo
germânico à Sé de Roma.[10]

Perseguido pelas multidões de Roma em 1045,


o papa Benedito IX (1032-44; 1045; 1047-48)
fugiu, buscando a proteção do seu tio, o conde
Gregório, cujo exército controlava os montes de
Tusculum. Em sua ausência, João, bispo do monte
Sabine, foi a Roma e se declarou papa, sob o nome
de Silvestre III (1045). Ele ocupou o “trono de
Pedro” por meros três meses, até que Benedito
regressou tempestivamente com mais espadas do
que Silvestre conseguia apresentar para se defender
e voltou a governar como papa. Mesmo assim
ambos constam da lista oficial do Vaticano como
dignos do título de “sua santidade e vigário de
Cristo”.
Cansado do fardo do seu ofício e ansioso por
dedicar-se inteiramente à sua amante favorita,
Benedito vendeu o papado por 750 quilos de ouro
ao seu padrinho Giovanni Gratiano, arcebispo da
igreja de São João, junto à Porta Latina. Giovanni
assumiu o papado em maio de 1045 com o nome de
Gregório VI (1045-1046). Mudando de idéia,
Benedito voltou a Roma em 1047 e se fez
novamente papa. Do mesmo modo agiu Silvestre III.
Agora havia três papas, cada um governando sobre a
parte de Roma que era controlada pelo seu exército
particular, cada um deles afirmando ser o “vigário de
Cristo” e possuidor das chaves do céu pela virtude
da sucessão apostólica.
Cansando-se daquela situação, os desiludidos e
zangados cidadãos de Roma apelaram para o
Imperador Henrique III, pedindo-lhe ajuda. Ele
marchou até Roma com seu exército e presidiu um
sínodo que depôs todos os três “papas” e instalou o
escolhido do imperador, que se auto-intitulou
Clemente II (1046-1047). Mas Benedito não seria
despachado assim tão facilmente. Tão logo o
exército do imperador se retirou, ele regressou a
Roma e, pela força das armas, conseguiu governar
como papa por mais oito meses (entre 1047 e 1048),
até que Henrique voltou e o perseguiu até os montes
da Albânia pela última vez.
Alguém pensaria que a Igreja Católica Romana
deveria ficar envergonhada de tais fiascos e apagar a
lembrança dos maus papas e de seus meios
fraudulentos, e até violentos de ganhar, perder e
recobrar o trono papal. Mas apesar de tais
rivalidades profanas e de terem seus papados
interrompidos (algumas vezes três pessoas
afirmaram ser o papa), todos esses adversários, que
reivindicavam o trono de Pedro, se encontram hoje
na lista oficial dos papas do Vaticano. (Para ler mais
sobre a história dos papas, veja o Apêndice D).
CAPÍTULO 9

Hereges Infalíveis?
Está claro que ele [o papa] pode errar, mesmo em assuntos
relativos à fé. Ele faz isso quando ensina heresias por seu próprio
julgamento ou decreto. Na verdade, muitos pontífices romanos
foram hereges.

– papa Adriano VI, 1523[1]

A grande importância do papado aumenta a


necessidade de uma investigação sobre sua
legitimidade. A afirmação de que os papas são
infalíveis quando falam sobre moral e dogma é algo
extremamente importante para a Igreja Católica. Se
eles não são infalíveis, a Igreja Católica Romana
perde sua liderança única e sua autoridade
apostólica. Mesmo assim, alguns papas (como
Adriano, que já mencionamos neste livro, e outros)
negaram que eles próprios, e os outros papas, eram
infalíveis. Por que não acreditar neles?
Essa declaração do papa Adriano VI vai ainda
mais longe. Se muitos papas foram hereges, então
temos outro motivo para afirmar que essa linha
contínua de “sucessão apostólica desde Pedro” é
inexistente. Para a teologia católica romana, afirmar
que o papa, sendo um ser humano, não é infalível é
uma heresia, o que seria um pecado mortal. Sua
conseqüência imediata é a excomunhão instantânea
e automática,[2] segundo afirma o Código de
Direito Canônico (uma compilação de cânones e
decretos dos concílios da Igreja Católica). Um
herege é todo aquele que negou a fé e, por isso, não
pode mais pertencer à Igreja.
Um papa herético não poderia continuar sendo
membro da Igreja, muito menos o seu líder.
Conseqüentemente, um herege, mesmo sendo papa,
não poderia transmitir essa autoridade apostólica ao
seu sucessor. Mesmo assim, a lista oficial da Igreja
Católica menciona muitos hereges que foram
denunciados como tais, por concílios e pelos outros
papas.
Não é de admirar que as teorias da sucessão
apostólica e da infalibilidade papal só tenham sido
propostas muitos séculos após a morte de Pedro!
Quando os papas buscaram alcançar mais poder e
começaram a querer dominar governantes e nações
inteiras, essa era a justificativa que precisavam para
perpetuar o seu imperialismo arrogante e opressivo.
Eles já haviam afirmado ser “Deus na terra” e
“vigários de Cristo”, mas isso ainda não era o
suficiente. Então sentiram-se obrigados também a
reivindicar sua própria infalibilidade.

As Raízes da Infalibilidade
Outros reis e imperadores já haviam afirmado
serem deuses, mas sua ambição se desvanecia à
medida que começavam a guerrear entre si e seus
súditos clamavam por mais liberdade. O que faltava
era uma representação infalível da divindade na
terra, a quem os governantes civis pudessem
recorrer em suas disputas. Os papas começaram a
atender essa necessidade e, por volta do século XIII,
já haviam se estabelecido como autoridade suprema
sobre toda a Europa. Um importante historiador
católico do século XIX descreveu como esse
monopólio do poder encorajou o despotismo:
...a Igreja Católica [desenvolveu] uma atitude suspeita
e hostil em relação aos princípios da liberdade política,
intelectual e religiosa, assim como da independência
de julgamento... [para que se alcançasse] o ideal da
Igreja [como] um império universal... de força e
opressão, onde a autoridade espiritual é auxiliada por
seu braço secular ao suprimir sumariamente qualquer
movimento que a desagrade.
...portanto não poderíamos deixar de salientar ...o lado
negro da história do papado.[3]

Muito do “lado negro da história do papado”,


envolvendo esse “império de força e opressão”,
resultou da reivindicação papal de infalibilidade. O
povo apoiou ardorosamente a idéia, apesar da
maldade dos papas. Afinal de contas, os deuses
pagãos também roubavam as mulheres uns dos
outros e viviam desregradamente; então, por que
aqueles governantes religiosos não poderiam fazer o
mesmo? Mas é incrível pensar que o papa, mesmo
quando se contradizia violentamente, podia se achar
infalível. Apesar de tudo, a fraude continuou.
Esse foi o caso, por exemplo, do papa
Clemente XI (1700-1721) que ungiu o rei Filipe V
da Espanha, e logo em seguida o rei Carlos III da
Alemanha, ambos com o mesmo título e privilégios,
inclusive a alta Insígnia da Bula da Cruzada. Como
resultado, Carlos guerreou contra Filipe para exigir a
coroa que o papa, aparentemente, lhe havia dado.
Clemente chegou até mesmo a confirmar para a
mesma diocese dois candidatos diferentes, cada um
apresentado por um senhor feudal distinto.
Até poderíamos imaginar que contradições tão
visíveis seriam prova suficiente de que o papa não
era infalível. Mesmo assim os bispos que
contestaram o caso de Carlos III, de acordo com um
observador contemporâneo, “confirmaram a
infalibilidade do papa, dizendo que todo cristão é
obrigado por sua consciência a aceitar a última
declaração do papa e obedecê-la cegamente, sem
indagar as razões que levaram o papa a fazê-la”.[4]
Essa é a ilógica e antibíblica, porém absoluta e
infalível autoridade papal, que há muito havia sido
exigida pelos papas e que se tornou um dogma
oficial do catolicismo romano no Concílio Vaticano
I. Esse Concílio foi controlado por Pio IX (1846-
1878), ao ponto de tornar a submissão ao papa um
requisito para a salvação:
Se, portanto, alguém disser que o bendito apóstolo
Pedro não foi nomeado o príncipe de todos os
apóstolos e o cabeça visível de toda a Igreja militante,
ou que o mesmo recebeu direta e imediatamente de
nosso Senhor Jesus Cristo apenas o primado de honra
e não de jurisdição verdadeira e própria [sobre toda a
Igreja], que seja anátema [excomungado e, portanto,
condenado]!

Cerca de 300 anos antes, em 1591, o cardeal


jesuíta Roberto Bellarmine, cuja lealdade ao papa
era absoluta, havia declarado que qualquer
mandamento do supremo pontífice deveria ser
aceito e obedecido, não importando o quão maligno
ou ridículo fosse. Obviamente ele não conseguiu
apresentar apoio algum, seja bíblico, lógico ou da
tradição, para uma visão tão extremista, que acabava
com a responsabilidade moral da pessoa diante de
Deus, tão claramente ensinada na Escritura e
reconhecida em cada consciência humana.
O padre franciscano Peter Olivi fez uma das
primeiras tentativas de estabelecer a infalibilidade
papal. Sua principal motivação foi o egoísmo. O
papa Nicolau III (1277-1280) tinha favorecido os
franciscanos ao declarar que “a renúncia comunitária
de propriedade era um possível caminho para a
salvação”.[5] (O catolicismo romano vinha há muito
ensinando a salvação pelas obras, como o faz ainda
hoje).
Desejando tornar incontestável a decisão do
papa em favor de si mesmo e de seus companheiros
franciscanos, Olivi propôs que os pronunciamentos
papais fossem considerados infalíveis. Um papa
poderia levar a vida mais dissoluta possível,
assassinando rivais, saqueando cidades, massacrando
seus habitantes (como fizeram muitos papas), e
negando a Cristo diariamente através de seus atos
abomináveis. Mesmo assim, se, e quando, ele fizesse
um pronunciamento à Igreja sobre fé e moral ,
estaria alegadamente sob a inspiração do Espírito
Santo, e desse modo tudo o que dissesse seria
considerado infalível.
A espantosa proposta de Olivi era um
afastamento total da tradição da Igreja. Até então
poucos papas haviam se atrevido a verem a si
mesmos como infalíveis, porém a tentação do ego
humano de abraçar tal tolice é grande, em especial
para os que são tão altamente reverenciados e
venerados. O teólogo católico Hans Küng escreve:
Com relação à origem da doutrina romana da
infalibilidade... [ela] não se “desenvolveu” ou
“desdobrou” vagarosamente, mas foi criada num passe
de mágica no final do século XIII [por] um excêntrico
franciscano, Peter Olivi (falecido em 1298),
repetidamente acusado de ser herético. A princípio
ninguém levou a sério aquela idéia de Olivi... Os
canonistas medievais... jamais haviam afirmado que a
Igreja precisasse de um cabeça infalível para preservar
sua fé... [E] o ataque da crítica moderna aos princípios
da infalibilidade têm o apoio da Escritura e do corpo da
tradição católica.[6]

“Uma Obra do Diabo”


A idéia do Olivi foi logo denunciada por um
pontífice, o qual decidiu executar uma terrível
vingança contra os franciscanos. O papa João XXII
(1316-1334) tinhas suas próprias razões para negar
a infalibilidade papal. Não fossem os franciscanos os
maiores egoístas, João teria aceitado a idéia como
útil aos seus propósitos. Entretanto, ele odiava os
franciscanos por causa do voto de pobreza que
faziam, o qual condenava o seu estilo de vida
extravagante. Ele havia amealhado uma imensa
fortuna “explorando os pobres, vendendo ofícios de
clérigos, indulgências e perdões divinos”.[7] João
XXII condenou veementemente como heresias,
tanto o modo franciscano de vida como a comenda
de Nicolau III
Para justificar o fato de estar contradizendo
outro papa, João escreveu sua bula Qui quorundam
(1324), uma afirmação dogmática de doutrina feita a
toda a Igreja e, portanto, infalível pelas regras de
hoje. Nela João XXII rejeitava a doutrina da
infalibilidade papal classificando-a de “uma obra do
diabo”.
Embora fosse seguidamente apontado como
um exemplo de um verdadeiro herege, João XXII
continuou no “santo ofício” por 18 anos, praticando
suas maldades e seu nome vergonhosamente
permanece até hoje na lista oficial dos “vigários de
Cristo” do Vaticano. Ele foi descrito por um
historiador católico como sendo “cheio de avareza,
mais mundano do que um cafetão e com um risada
que ressoava com uma comprovada malícia”.[8]
Mesmo assim, ele é um elo essencial na suposta
linha da sucessão apostólica desde Pedro, da qual o
representante legítimo atual é João Paulo II.
O Herege dos Hereges Papais
O predecessor de João XXII, Clemente V,
havia distribuído toda a fortuna da Igreja entre seus
parentes, deixando o tesouro vazio. Isso levou o
novo papa a buscar uma desforra. Ele fixou um
preço para tudo, incluindo absolvição de pecado e
salvação eterna. Assim, o cálice empunhado pela
mulher montada na besta foi novamente cheio com
lucro sujo adquirido por meios abomináveis,
exatamente como o apóstolo João previu em sua
notável visão.
João XXII publicou uma lista de crimes e
pecados graves, junto com o preço individual de
cada um, pecados esses de que somente ele – como
vigário de Cristo e cabeça da única Igreja verdadeira
– poderia absolver os transgressores. A lista não
deixava nada de fora, incluindo desde assassinato até
pirataria, incesto, adultério e sodomia. Quanto mais
rico alguém fosse, mais poderia pecar. E quanto
mais os católicos pecavam, mais rica a Igreja se
tornava.
Grande parte da riqueza adquirida desse modo
foi gasta com a paixão de João XXII pelas guerras.
Um dos seus contemporâneos escreveu: “O sangue
que ele derramou teria tingido de vermelho as águas
do lago Constança [que é extremamente grande], e,
se colocados lado a lado, os corpos dos assassinados
iriam de uma margem à outra”.[9]
A doutrina favorita de João XXII era igual à
que é mais popularmente pregada na maioria dos
programas de rádio e TV cristãos atuais: Jesus
Cristo e Seus apóstolos teriam sido homens de
grande riqueza. E foi isso que ele declarou na bula
papal Cum inter nonnullos (1323). Negar tal dogma
era uma heresia passível de morte. João exigia que
os dirigentes seculares queimassem na fogueira os
franciscanos que fizessem voto de pobreza. Os que
se negassem seriam excomungados. Durante seu
pontificado ele entregou mais de 114 franciscanos à
Inquisição, os quais foram consumidos pelas chamas
por causa da heresia de viverem propositadamente
na pobreza, como Cristo havia feito. Assim, tornou-
se um dogma católico romano oficial que Jesus e
Seus discípulos eram homens de considerável
riqueza e que todos os cristãos deveriam ser
igualmente ricos – um dogma que foi repudiado por
outros papas.
Tais heresias papais e as condenações mútuas
fazem parte da história do papado, a qual os
católicos devem encarar honestamente. E os
protestante também. Aqueles que admiram João
Paulo II devem se dar conta que a posição que ele
ocupa e a autoridade especial que reivindica são
resultado de uma longa sucessão de criminosos e
hereges, os quais ele e sua Igreja ainda honram
como os “vigários de Cristo” do passado.
O Herege Santo
Milhões de católicos, de quem a verdade
histórica tem sido ocultada, olham para João XXII
como um homem excepcionalmente santo. Não foi
ele favorecido sobre todos os papas por “N. S. do
Carmo” em uma de suas raras aparições? O papa
João jurou que a “virgem Maria” apareceu para lhe
fazer uma grande promessa: ela iria pessoalmente ao
purgatório, no primeiro sábado depois de alguém ter
falecido e levaria para o céu todos os que, tendo
cumprido certas condições, morressem usando o seu
escapulário marrom. Confiando nesse privilégio
sabático especial, o qual foi confirmado por outros
papas, um incontável número de católicos desde
então têm usado o escapulário de “N. S. do Carmo”
como uma espécie de “bilhete de entrada para o
céu”.
João XXII acabou sendo denunciado como
herege pelo imperador Luiz da Bavária, que o
depôs, colocando outro papa em seu lugar. Mas o
expurgo papal feito pelo imperador tornou-se algo
embaraçoso. Logo depois que o novo papa assumiu
o seu ofício, sua esposa apareceu. O imperador
então decidiu que João XXII não era tão mau assim.
Pois, como Peter de Rosa sarcasticamente observa,
embora João, como a maioria dos papas, tivesse
filhos ilegítimos, “ele jamais havia cometido o
pecado do matrimônio”. Tal sarcasmo, embora
vindo de um historiador católico, pode parecer
desagradável a princípio, mas é um fato totalmente
comprovado. O atual Código de Direito Canônico,
no cânon n.º 1394, refere-se ao casamento como
um “escândalo” para um padre, porém tais palavras
ásperas não são usadas para descrever pecados dos
quais os padres, mesmo hoje em dia, são
freqüentemente culpados, como: molestar crianças,
ter uma amante, ser homossexual, etc.
Reinstalado como papa, os pronunciamentos
heréticos de João XXII tornaram-se tão odiosos, que
somente a morte o salvou de ser novamente
removido do papado. Mesmo assim, ele ainda figura
na longa lista dos supostos sucessores de Pedro,
através da qual João Paulo II recebeu sua
autoridade.
Em 896, Estevão VII (896-897) mandou que o
cadáver do seu antecessor, Formoso (891-896),
fosse exumado depois de estar enterrado por oito
meses. Trajando suas antigas vestes papais e
colocado num trono, na câmara do concílio, o
cadáver foi “julgado” e culpado de ter coroado
como imperador um dos muitos descendentes
ilegítimos de Carlos Magno. De fato, houve muitos
casos de papas que eram, eles próprios, filhos
ilegítimos de pontífices anteriores. Eles eram,
portanto, reinvidicadores ilícitos ao trono de Pedro
e, por conseguinte, incapazes de transmitir aos seus
sucessores a autoridade apostólica.
Tendo sido condenado pela papa Estevão VII,
o cadáver do ex-papa Formoso foi estripado, os três
dedos da sua mão direita, usados para dar a bênção,
foram decepados e o resto entregue à multidão que
o arrastou pelas ruas e o atirou no rio Tibre. Os
pescadores deram-lhe um enterro decente. O papa
Estevão VII declarou, então, que todas as
ordenações de Formoso eram inválidas, criando um
problema que assombra a Igreja Católica ainda hoje.
Formoso havia ordenado muitos padres e
bispos, os quais, por sua vez, também ordenaram
multidões de outros, que, por sua vez, fizeram o
mesmo. Então uma questão permanece aberta e
insolúvel: quais os padres, bispos, arcebispos e
cardeais do presente que podem ser descendentes
daqueles ordenados por Formoso e portanto, não
têm autoridade apostólica genuína? E quanto
àqueles que foram ordenados pelos muitos outros
papas hereges? E o fato de Formoso também
permanecer naquela lista oficial do Vaticano dos
“vigários de Cristo”, assim como o papa que
exumou seu corpo e o denunciou mesmo depois de
morto?
O papa Sérgio III concordou com Estevão VII
ao declarar que todas as ordenações feitas por papas
hereges eram inválidas – o que, sem dúvida, seria
lógico tendo em vista a excomunhão automática,
que como já vimos antes, acompanha a heresia. Em
Cum ex Apostolatus officio, o papa Paulo IV
declarou “pela plenitude do poder papal” que todos
os atos dos papas hereges eram nulos e inválidos.
Essa declaração infalível deixa a “sucessão
apostólica” em ruínas.

Concílios Superiores aos


Papas
Virgílio, um inescrupuloso ex-oficial romano,
tornou-se uma pessoa ainda pior quando foi alçado
ao papado (537-555). Ele mudava de idéia sobre a
doutrina cada vez que o imperador exigia.
Finalmente acabou sendo declarado herege e
excomungado pelo Quinto Concílio Geral (553),
quando foi convocado pelo imperador Justiniano a
comparecer em Constantinopla. (Ninguém duvidava
que a autoridade do Concílio estava acima da
autoridade papal).
Exilado pelo imperador, Virgílio confessou seus
erros e alegou ter sido enganado pelo diabo. Mesmo
assim, o seu reinado assentado no suposto trono de
Pedro foi um dos mais longos da história do papado.
Mais de um papa foi condenado como herege pelo
concílio da Igreja. O Concílio de Constança (1414-
1418) depôs três papas, cada um deles afirmando
ser o único e legítimo “vigário de Cristo” e
excomungou os outros dois. (Veja o Apêndice D)
O papa Honório (625-638) foi condenado
como herege pelo Sexto Concílio Ecumênico (678-
687). Durante séculos cada novo papa que tomava o
posto era exigido a declarar, sob juramento, que
Honório havia sido um herege e que o Concílio agiu
corretamente ao condená-lo. Mesmo assim, ele
também permanece na lista oficial dos sucessores de
Pedro!
A ação do Sexto Concílio Ecumênico,
confirmada pelos papas subseqüentes, durante
séculos foi considerada como prova de que os papas
não eram infalíveis. Mesmo assim, um déspota
voluntarioso, Pio IX, através de ameaças e da
manipulação, engendrou uma confirmação da
infalibilidade papal retificada em 1870, pelo
Concílio Vaticano I.

Contradições, Contradições
Duas pessoas que sustentam opiniões contrárias
não podem estar ambas certas. Mesmo assim, os
papas têm quase transformado em sua ocupação
constante o hábito de contradizerem as declarações
importantes uns dos outros. Agapeto (535-536)
queimou o anátema que Bonifácio II (530-532)
havia solenemente emitido contra Dióscorus (530).
O último é apresentado como um antipapa, mas
Agapeto, que esteve do lado dele, é mostrado como
um papa verdadeiro. Adriano II (867-872) disse que
os casamentos civis eram válidos; Pio VII (1800-
1823) declarou-os inválidos. Ambos foram
declarados papas legítimos. Nicolau V (1447-1455)
anulou “documentos, processos, decretos e censuras
contra o Concílio [da Basiléia]” assinados por
Eugênio IV, que deviam “...ser considerados como
jamais existentes”.[10] Mesmo assim, ambos
permanecem na lista oficial dos papas até hoje.
No dia 21 de julho de 1773, o papa Clemente
XIV emitiu um decreto acabando com os jesuítas,
entretanto mais tarde, em 7 de agosto de 1814, um
decreto que os restaurava foi emitido pelo papa Pio
VII. Eugênio IV condenou Joana d’Arc (1412-
1431) a ser queimada na fogueira como bruxa e
herege, porém ela foi beatificada por Pio X (1903-
1914) em 1909 e canonizada por Benedito XV
(1914-1922) em 1920. Hoje, dentro da catedral de
Notre Dame, uma das imagens mais populares é a
da santa Joana d’Arc, a “heroína nacional da
França”, com uma grande quantidade de velas
sempre queimando diante de si. Como pôde um
“papa infalível” condenar uma santa à morte,
como bruxa e herege? Mesmo assim Eugênio
IV permanece na lista dos supostos infalíveis
“sucessores de Pedro”.
A história nega definitivamente tanto a
sucessão apostólica como a infalibilidade. E,
de fato, muitos papas também negaram a
própria infalibilidade, dentre eles Virgílio (537-
555), Clemente IV (1265-1268), Gregório XI
(1370-1378), Adriano VI (1522-1523), Paulo IV
(1555-1559) e até Inocêncio III (1198-1216),
que governou a Europa com mão de ferro.
Então, por que estava o papa Pio IX tão
determinado a imortalizar essa fraude tão
óbvia como um dogma oficial?
Por um motivo muito especial: a
infalibilidade foi a proposta final e desesperada
com a qual Pio IX esperava sustentar a
estrutura do domínio católico romano (sobre os
governantes do mundo e seus cidadãos), que
havia entrado em colapso. Para estabelecer
esse dogma de uma vez por todas, ele
convocou o Concílio Vaticano I, no dia 8 de
dezembro de 1869.
CAPÍTULO 10

Infalibilidade e Tirania
Essas opiniões falsas e perversas [de democracia e liberdade
individual] são por demais detestáveis pelo muito que elas...
obstruem e banem a influência salutar que a Igreja Católica, por
instituição e mandamento do seu divino Autor, deveria exercer
livremente, até a consumação do mundo, não apenas sobre os
indivíduos, mas [sobre] nações, povos, e soberanos.

– papa Pio IX em Quanta Cura (8/12/1864)

Venho proclamar... a mensagem da dignidade humana, com seus


direitos humanos inalienáveis... [como] um peregrino na causa da
justiça e da paz... como um amigo dos pobres... que esperam
encontrar... o profundo significado da vida, da liberdade e estando
em busca da felicidade.

– o papa João Paulo II, em Miami (10/9/1987), no discurso oficial


de sua “Segunda Visita Pastoral” aos Estados Unidos[1]
Em qual das declarações contraditórias dos dois
papas, transcritas na página anterior, devemos
acreditar? Pio IX está apenas reafirmando a
supressão dos direitos humanos básicos, algo que
seus predecessores reforçaram reiteradamente, com
o objetivo de trazer toda a humanidade sob a
absoluta autoridade da Igreja Católica Romana. João
Paulo II gostaria que acreditássemos que a sua Igreja
sempre foi, e continua sendo, a maior defensora das
liberdades básicas do ser humano. Ele parece tão
sincero. Mesmo assim, contradiz a consistente voz
do papado e os dogmas de sua Igreja através dos
séculos – dogmas que continuam vigorando
plenamente.
O regime de governo americano, que João
Paulo II elogiou freqüentemente durante sua viagem
aos Estados Unidos em 1987[2], foi muitas vezes
criticado pelos papas anteriores. Será que Roma
mudou? Ela se gaba de jamais mudar. Ao mesmo
tempo em que apregoa a liberdade, o papa atual
disse que para ser um bom católico “é necessário
seguir os ensinos de nosso Senhor expressos através
da Igreja”.[3] Ele está dizendo que os católicos
sinceros não podem aprender diretamente com as
próprias palavras de Cristo, porém devem aceitar a
explanação oficial da Igreja. É a mesma negação da
liberdade de consciência e responsabilidade moral de
um indivíduo diante de Deus que Roma tem
perpetuado através da história.
João Paulo II quer que acreditemos que ele e
sua Igreja são os maiores defensores da liberdade.
Mesmo assim, já citamos inúmeros exemplos que
demonstram como Roma tem se colocado
permanentemente contra os direitos humanos. Caso
haja uma mudança, será necessário que seja feito
um pedido claro de perdão pelos longos séculos de
supressão dos direitos humanos perpetuada pelos
papas anteriores e sua Igreja. Como pode o atual
papa posar de amigo dos oprimidos sem denunciar
como um terrível erro o assassinato de milhões de
pessoas simplesmente porque abraçaram a doutrina
da graça de Deus e por essa “heresia” foram
anatematizadas por Roma?

Registro Histórico de
Supressão
Em contraste ao seu elogio, feito diante das
audiências de maioria católica na América Latina, às
liberdades básicas na América do Norte, João Paulo
II rejeita os protestantes e a idéia de que os homens
devem ser livres para professar uma religião. A
opressão, a perseguição e talvez o martírio dos que
recusaram fidelidade a Roma tem sido a sua política.
Por exemplo a Concordata entre Pio IX e o
Equador, assinada em setembro de 1862, estabelecia
o catolicismo romano como a religião estatal e
proibia outras religiões naquele país. Toda a
educação devia ser “controlada rigidamente pela
Igreja”. Uma lei posterior declarava que “somente os
católicos poderiam ser vistos como cidadãos no
Equador”.[4]
Em 1863 a Colômbia tomou o rumo oposto,
estabelecendo a liberdade religiosa e reduzindo o
monopólio sobre a educação e os privilégios
usufruídos pelo catolicismo romano. O papa Pio IX
reagiu com raiva. No dia 17 de setembro daquele
ano, numa encíclica intitulada Incredibili
Afflictamur, ele ironizou as leis “nefastas e iníquas
demais” que a Colômbia havia posto em prática,
citando especialmente o mal de permitir “adoração
em seitas não-católicas”. A pena papal asseverou sua
autoridade sobre toda a nação, inclusive o direito de
anular as leis do país:
Nós, com autoridade apostólica, denunciamos e
condenamos todas essas leis e decretos com todas as
suas conseqüências e, pela mesma autoridade,
revogamos essas leis e as declaramos inteiramente
nulas e sem poder algum.

A Colômbia ignorou o papa naquela ocasião.


Porém, em 1948, um novo governo pró-católico
subiu ao poder. Sua Concordata com o Vaticano
instituiu a mesma supressão antes exigida por Pio
IX. Durante os dez anos seguintes, uma grande
quantidade de cristãos não-católicos foram
assassinados por causa de sua fé, centenas de igrejas
evangélicas foram derrubadas e queimadas, cerca de
200 escolas protestantes foram fechadas e o trabalho
evangelístico protestante foi proibido na maior parte
do país.[5] Ainda hoje os evangélicos continuam
sendo mortos por sua fé no México e outras partes
da América Latina. Lares e igrejas foram destruídos
e cerca de dez mil crentes indígenas foram expulsos
de suas vilas e campos apenas na região de Chiapas,
no México.
João Paulo II não está sendo honesto conosco.
A evidência histórica (e não somente do passado
distante) é abundante em testificar que o catolicismo
romano suprime as liberdades básicas quando, onde
e sempre que pode. A afirmação da infalibilidade
papal é usada como justificativa para essa tirania,
algo que os pontífices romanos têm expressado e
reforçado repetidamente em nome de Cristo,
alegando serem Seus vigários. Este é o testemunho
de Von Dollinger, um católico devoto:
A vida toda desse homem [o papa], a partir do
momento em que é colocado no altar para receber a
primeira homenagem no beija-pés, será marcada por
uma corrente contínua de adulações.
Tudo é expressamente calculado para fortalecê-lo na
crença de que entre ele e os outros mortais existe um
abismo intransponível e, quando envolvido na nuvem
de fumaça e incenso perpétuo, até mesmo o caráter
mais firme é levado a ceder a uma tentação que vai
além da capacidade humana de resistência.[6]

O Triunfo da Santa Sé e da Igreja Sobre os


Ataques dos Inovadores, es cri to pelo papa
Gregório XVI (1831-1846) é um desses exemplos,
entre muitos outros. Sua tese principal era que os
papas deviam ser infalíveis para assumir o ofício de
um verdadeiro monarca. Como senhores absolutos
sobre a Igreja e o Estado, Gregório rejeitou a
liberdade de consciência não apenas dentro da
Igreja, mas na sociedade como um todo, chamando-
a de “um conceito falso e absurdo”. A liberdade de
imprensa equivalia à loucura.
O sucessor de Gregório foi Pio IX, que
convocou o Vaticano I. Ele tinha o mesmo
pensamento com relação às mais elementares
liberdades humanas. Os papas haviam declarado
abertamente a oposição de Roma aos Estados
Unidos e à sua constituição, que garantia a liberdade
desde o momento do nascimento dessa nação. Pio
IX fez o mesmo. O periódico Catholic World
[Mundo Católico] expressou francamente o ponto
de vista católico romano sobre a forma de governo
dos Estados Unidos:
...não o aceitamos, nem o apoiamos como governo de
modo algum... Se a República Americana deve ser
sustentada e preservada, deve ser pela rejeição do
princípio da Reforma e aceitação do princípio católico.
[7]
Desprezo pela Vida Humana
É um registro histórico inquestionável que os
papas desprezavam a vida humana, assim como a
liberdade. O papa Gregório IX (1227-1241)
declarou ser dever de todo católico “perseguir os
hereges”. Um herege era todo aquele que não fosse
fiel à Igreja Católica Romana. Tais pessoas deveriam
ser torturadas, aprisionadas e assassinadas.
Deslealdade ao papa era o mesmo que traição, já
que a Igreja e o Estado estavam tão interligados.
Peter de Rosa escreve: “do século XIII em diante,
nenhum dentre os 80 papas seguintes desaprovou a
teologia e o aparato da Inquisição. Pelo contrário,
um após o outro, foram acrescentando seus próprios
toques de crueldade aos operadores dessa máquina
mortífera”.[8]
Não foi apenas a Inquisição que ceifou os
direitos e a vida das pessoas. De Rosa nos recorda
que mesmo antes dessa horrenda instituição,
“durante mais de seis séculos, o papado foi
ininterruptamente um inimigo declarado da justiça”.
Cerca de 400 anos antes da Inquisição ser iniciada
por Gregório IX, o papa Nicolau I (858-867)
encorajou o rei da Bulgária, um novo convertido ao
que ele imaginava ser “cristianismo”, a impor a
religião de Roma aos seus súditos:
Eu o glorifico por ter mantido sua autoridade ao
condenar à morte as ovelhas desgarradas que se
recusam a entrar no rebanho; e... o congratulo por ter
aberto o reino do céu para o povo submisso ao seu
governo.
Um rei não deve ter medo de ordenar massacres
quando estes mantêm seus súditos em obediência ou
os leva a submeter-se à fé em Cristo; Deus o
recompensará neste mundo, e na vida eterna, por tais
assassinatos.[9]

Tal declaração parece uma incrível relíquia da


Idade das Trevas, mas podemos citar muitas outras
parecidas feitas pelos papas. Lembrem-se que eles,
que toleraram e praticaram a perseguição, tortura e
massacre contra todos que se recusaram a prestar-
lhes fidelidade, eram os supostos sucessores
infalíveis de Pedro e antecessores do papa atual.
Eles são peças essenciais na longa linha de sucessão
papal, dos quais João Paulo II recebeu sua
autoridade e poder. Porém, em momento algum o
Vaticano reconheceu o mal praticado pelos papas do
passado ou se desculpou por isso.
No tempo de Pio IX a opinião pública estava se
voltando contra os papas em razão de seu exagerado
totalitarismo. As idéias revolucionárias de liberdade
de imprensa, de religião, de consciência e do direito
do povo de escolher seus governantes e a separação
entre a Igreja e Estado, que fora estabelecida pela
constituição dos Estados Unidos, também estavam
ganhando espaço em toda a Europa. Esse novo
“clima” de liberdade amedrontava Roma e precisava
ser sufocado em nome de Cristo. Pio IX estava
determinado a continuar com o governo autocrático
romano em parceria com os governos seculares
igualmente autoritários. Para proteger os poderes
ditatoriais de Roma, a infalibilidade papal precisou
ser estabelecida como uma doutrina oficial e aceita
universalmente.
Desprezo pela Verdade e
Liberdade
Em seu livro La Inquisición Española, Gerard
Dufour nos lembra que “o primeiro artigo do
primeiro título da constituição [espanhola]
proclamava que a religião Católica Apostólica
Romana, na Espanha e em todas as possessões
espanholas, deve ser a religião do rei e da nação e
nenhuma outra deverá ser permitida”.[10] O mesmo
aconteceu na América Latina. Comte Le Maistre,
em sua defesa da Inquisição espanhola, escreve que
num “país católico, um homem pode acalentar [em
sua mente] qualquer opinião que desejar, religiosa
ou não”, mas “deve guardá-las para si mesmo”, ou
então “será levado ao tribunal [da Inquisição]”.[11]
A constituição dos Estados Unidos foi
condenada pelo papado porque separou a Igreja do
Estado e proibiu o estabelecimento de qualquer
religião pelo governo. Os papas, por outro lado,
vinham há muito exigindo que os governos fizessem
do catolicismo romano a religião oficial e proibissem
a prática de qualquer outra crença. Em seu Syllabus
Errorum de 1864, o qual, para sermos justos, até
continha alguma verdade, Pio IX condenou
veementemente a crença de que “todo homem é
livre para professar a religião que ele considere
verdadeira...”[12] O Syllabus de cre tou a união da
Igreja com o Estado, dizendo que o catolicismo
romano deve ser a religião estatal em todos os
lugares e que ela deve usar a força para impor a
obediência, que não há esperança alguma de
salvação fora da Igreja Católica Romana, etc. Esse
documento jamais foi rejeitado ou alterado e
permanece até hoje como uma crença da Igreja
Católica Romana, embora não possa ser aplicado em
muitos países.
Tomemos um exemplo típico do modo como
era imposta a Constituição Espanhola, que foi
inspirada no catolicismo. Em abril de 1863, três
espanhóis, Matamoros, Trigo e Alhama foram
julgados e condenados por assistir a cultos
protestantes. A sentença foi severa: nove anos para
Alhama e Matamoros e sete anos para Trigo, que
deveriam ser cumpridos, sem descanso, nas galeras!
Esse é apenas um dos milhares de exemplos de
como a Igreja usou o seu “braço secular” para forçar
o cumprimento dos seus decretos na supressão do
direito humano de adorar a Deus de acordo com a
própria consciência. Para ser fiel aos seus dogmas
básicos e imutáveis, Roma ainda hoje forçaria uma
negação semelhante dos direitos civis em todo
mundo, se tivesse poder para fazê-lo.
A morte em vida nas galeras, onde ao menos
existia a esperança de haver algum livramento caso a
pessoa conseguisse sobreviver, não era a pior das
punições. Há muito que os papas haviam decretado
a pena de morte por “desviar-se da fé”, não apenas
através das inquisições sobre assuntos religiosos,
mas como parte do seu governo civil sobre os vastos
territórios conhecidos como Estados papais. Por
exemplo, Clemente XII (1730-1740) tinha
especificamente decretado a pena de morte para os
membros da maçonaria ou até mesmo por alguém
“oferecer ajuda, socorro, conselho ou abrigo a
qualquer um de seus membros”.[13]
Pretensões à Onipotência
A luta da Igreja Católica Romana contra os
protestantes envolvia mais do que simplesmente
razões religiosas. A Reforma ia espalhando em larga
escala o que havia sido suprimido com sucesso por
mais de 1000 anos: liberdade de consciência e os
direitos humanos básicos. O desejo de liberdade civil
entre o povo ia firmando suas raízes e se
expandindo por toda parte. Nada era mais odioso
para o Vaticano, pois a liberdade civil ameaçava os
seus fundamentos. Como escreveu um historiador
do século XIX sobre o papa Clemente XII (1730-
1740):
Tão logo se assentou no trono do apóstolo, assim
como seu predecessor [Benedito XII, 1724-1730], ele
declarou ser um inimigo das idéias democráticas, as
quais estavam se infiltrando em todas as classes
sociais, anunciando suas pretensões à onipotência e se
estabelecendo como um pontífice da Idade Média.[14]

Cerca de 50 anos depois, Thomas Jefferson


parabenizou os cidadãos americanos por terem
abolido a “intolerância religiosa sob a qual, durante
muito tempo, a humanidade havia sangrado e
sofrido”. Ele os desafiou dizendo que “a razão
pública, a liberdade de religião e a liberdade de
imprensa” deviam ser preservadas. Tais liberdades
eram fruto da Reforma. Aproximadamente 100 anos
depois de Jefferson, Pio IX ainda continuava
esperando que o oposto ocorresse: o crescimento do
catolicismo romano em solo americano, que poderia
acabar transformando os Estados Unidos num país
católico. Dessa maneira todos os seus cidadãos
poderiam beneficiar-se das bênçãos do governo
romano.[15]
O Segundo Concílio Nacional de Hierarquia
Católica Romana dos Estados Unidos foi realizado
em Baltimore, em outubro de 1866. Presidido pelo
arcebispo Spalding, de Baltimore, o “delegado
apostólico” que representava o papa, o Concílio
frisou a diferença entre o sistema de governo
protestante, como o dos Estados Unidos, e o
sistema católico, típico dos países da América
Latina. Foi dito que o primeiro devia sua direção e
poder ao voto do povo, enquanto o outro olhava
unicamente para o papa, em obediência à sua
direção e autoridade. Um comentarista observou:
Os dois sistemas estão em antagonismo direto. O
sistema protestante separou o Estado da Igreja; o
propósito papal é juntá-los novamente. O protestante
fundou suas instituições civis baseadas na vontade do
povo; os propósitos papais são reconstruí-las
fundamentado na vontade do papa. O protestante
assegura a liberdade religiosa; o papal exige que todo
homem entregue sua consciência à guarda dos
superiores eclesiásticos.[16]

O Concílio Nacional da Hierarquia Católica


Romana, embora composto por americanos
supostamente leais à sua nação, expressou
unanimemente sua preferência pela forma católica
de governo e sua absoluta submissão à autoridade
papal. Naquela ocasião foi enviado um telegrama a
Pio IX, desejando-lhe “vida longa, com a
preservação de todos os antigos e sagrados direitos
da Santa Sé”. O papa ficou tão grato com tal
expressão de lealdade da América, que o publicou
na Itália como um exemplo para que os seus súditos
rebeldes pensassem a respeito.[17] Apesar de Pio IX
ter planejado o Vaticano I e de sua declaração sobre
a infalibilidade papal, mesmo assim o império papal
na Itália estava desabando.
Ventos de Liberdade
Em 1861, o recém-formado reino da Itália,
tendo o rei Vittorio Emanuele II como seu líder, fez
de Roma sua capital, embora o papa e suas forças
militares ainda a controlassem e dirigissem. Foi a
primeira vez que a Itália, por tanto tempo refém dos
poderes europeus, se uniu sob um governante
italiano. Uma multidão juntou-se ao longo do Corso,
gritando: “Viva a Itália! Viva Vittorio Emanuele”! A
polícia papal imediatamente abriu fogo contra eles.
O poder absoluto havia corrompido totalmente
o papado, e o povo da Itália estava determinado a se
livrar daquele jugo. Um importante líder italiano
daquele tempo escreveu que o tribunal da Santa
Inquisição continuava em plena atividade e que “seu
poder secreto... foi sentido não apenas nas questões
religiosas, mas em todas as outras.... Sob tal sistema,
o homem que tivesse assassinado ou saqueado outro
nada teria a temer da justiça papal”, contanto que
não defendesse a liberdade humana “e fosse um
adepto fiel do poder temporal [do papa]”.[18] Em
1864, quando redigiu Quanta Cura, Pio IX
denunciou o que ele chamou de:
uma opinião errônea muito perniciosa para a Igreja
Católica e para a salvação das almas, chamada de
insanidade (deliramentum) pelo nosso antecessor,
Gregório XIV, ou seja: “a liberdade de consciência e de
adoração é o direito peculiar (ou inalienável) de todo
homem, a qual deveria ser proclamada por lei, e que
os cidadãos têm o direito de... expressar suas idéias
aberta e publicamente, seja por palavras, pela
imprensa ou por quaisquer outros meios”.[19]

Alguém poderia indagar como essa declaração,


feita por um predecessor de João Paulo II, poderia
ser conciliada com as afirmações atuais do papa,
afirmando que Roma é, e tem sido, a maior
defensora da liberdade humana. Em que buraco
negro de sua mente as pessoas escondem os fatos
óbvios, para poderem acreditar que a Igreja Católica
endossa os direitos humanos básicos? Quantos
católicos sinceros são enganados porque as
autoridades da Igreja parecem tão convincentes?
Quando um artigo do Catholic World creditou à
Igreja Católica o fato de ter dado à Inglaterra a
grande carta de direitos humanos, a Magna Carta,
quantos leitores sabiam que Roma havia em verdade
feito todo o possível para destruí-la?[20]

Resistindo à Ditadura
As revoluções francesa e americana no século
anterior haviam acendido uma centelha de
ressentimento contra os governantes autocratas, a
qual se transformou em chama através da Europa.
Nenhum monarca era mais ditatorial do que o
próprio papa. Pio IX ainda reinou como “rei de
Roma” e seus arredores, do mesmo modo que
tinham feito durante séculos sobre todos os Estados
papais. O anseio crescente pela democracia era uma
ameaça à autoridade papal, ameaça que o Vaticano I
poderia certamente derrubar com a sua dogmática
declaração da infalibilidade papal. Isso, segundo o
papa esperava, encerraria o assunto.
No ano anterior à encíclica de Pio IX (como
preparação ao Vaticano I), parcialmente mostrada
acima, o próprio Abraão Lincoln havia se referido
aos mesmos itens em Gettysburg. Não poderia haver
desacordo maior entre dois homens. As palavras de
Lincoln, que pretendia levar a nação a se unir
naquela crise, eram ao mesmo tempo uma
repreensão, embora provavelmente não intencional,
aos dogmas básicos existentes sob o catolicismo e a
tirania papal. Nem poderia Pio IX ter ignorado a
famosa Declaração de Gettysburg, de maneira que
suas palavras só poderiam ser observadas como uma
resposta dura à declaração de Lincoln:
que a partir dessas mortes honrosas possamos
aumentar a devoção pela causa à qual eles
demonstraram sua total dedicação – que possamos
entender que elas não foram em vão – e que este
país, sob a direção de Deus, verá o renascimento da
liberdade; que o governo do povo, pelo povo e para o
povo não venha a perecer sobre a terra.

O ideal de Lincoln era a antítese do catolicismo


romano. Muitos papas haviam procurado evitar tal
liberdade, mas nada poderia detê-la na América ou
em qualquer lugar. Também o povo italiano,
cansado dos monarcas tirânicos da França,
Alemanha e Áustria, estava lutando pela
independência. E apesar do seu fervor religioso, não
deixou de dar-se conta que havia sido o maior
inimigo da liberdade. Um herói militar na luta pela
independência apelou aos seus companheiros
italianos, dizendo:
Antes de lutar contra o inimigo externo [os franceses e
os austríacos], vocês têm inimigos internos para
combater; e eu lhes direi que o chefe deles é o papa...
Sou cristão como vocês sim, pertenço àquela religião
que quebrou as amarras da escravidão, e proclamou a
liberdade dos homens. O papa, que oprime os seus
súditos e é inimigo da independência italiana, não é
cristão; ele nega o verdadeiro princípio do cristianismo;
ele é o Anticristo.[21]

O povo da província de Roma, onde o papa


ainda governava, endossou este ponto de vista numa
estrondosa votação: 133.681 a favor (e somente
1.507 contra) de uma Itália independente, livre da
influência estrangeira e do controle papal. Pio IX
revidou violentamente, executou centenas de
italianos que sustentaram os pontos de vista
heréticos do governo civil livre da dominação
eclesiástica. Cerca de 8.000 foram confinados nas
prisões papais sob condições insuportáveis, “muitos
estavam acorrentados às paredes e não podiam nem
mesmo exercitar-se ou ir ao banheiro”. O
embaixador inglês chamou os calabouços de Pio IX
de “o opróbrio da Europa”.[22] Uma testemunha
descreveu esse monumento à infalibilidade papal:
Desde a aurora até o cair da noite, os miseráveis
prisioneiros debatiam-se contra as grades de ferro de
suas horrendas celas e clamavam continuamente aos
transeuntes por piedade em nome de Deus. Uma
prisão papal! Tremo ao escrever tais palavras... seres
humanos empilhados uns sobre os outros, cobertos
por trapos, vivendo em meio aos vermes.[23]

O palácio dos inquisidores de Roma ainda


permanece próximo ao Vaticano, e o quartel-general
dessa instituição infame é agora chamado de
Congregação para a Doutrina da Fé. A odiosa
estrutura teria sido queimada por uma multidão,
quando Pio IX foi deposto como “rei de Roma”,
não houvesse o novo governo persuadido o povo a
poupá-la, para “algum propósito de caridade”. Ele
foi aberto ao público para “permitir que os cidadãos
vissem com seus próprios olhos os mecanismos
secretos do sistema papal”. Uma testemunha
descreveu assim o horror dos que foram parar nessa
“casa aberta”:
Eles não precisavam de evidência alguma para saber
que o único crime realmente grave nos Estados papais
era o pensamento liberal [advogar as liberdades
básicas humanas] na religião e na política. Eles sabiam
muito bem que alguns de seus amigos e parentes
tinham sido dizimados e outros trancafiados na prisão.
Quando as portas das prisões foram abertas, esses
hereges que passaram por tantas privações, tinham
para contar uma história triste sobre os sofrimentos e
torturas engenhosas.[24]

Negando a História para


Construir uma Mentira
A queda da Roma papal aconteceria quase um
ano depois que Pio IX deu início ao Vaticano I, em
8 de dezembro de 1869. Mesmo assim, muito antes
do grandioso evento, a oposição à infalibilidade
papal (a qual todos sabiam seria imposta durante o
Concílio) tinha sido grandemente fomentada entre
os bispos e os leigos presentes. Não estávamos mais
na Idade Média, quando se usavam documentos
forjados para sustentar a autoridade papal. Os bispos
sabiam que a infalibilidade papal jamais havia sido
aceita pela Igreja Católica e que fora negada
repetidas vezes. Aceitá-la agora seria como ir contra
as Escrituras e séculos de tradições da Igreja.
Quando o Concílio começou, os favoráveis à
infalibilidade eram uma pequena minoria.
Entretanto, tinham um plano de ação que visava
controlar as posições-chave dentro do Concílio e dos
órgãos da mídia eclesiástica. Eles foram auxiliados
em seu intento “pelo papa, a maior parte da Cúria e
os jesuítas”. Para conseguir votos, esse grupo
exerceu grande pressão e “não hesitou em fazer
intrigas, promessas e ameaças”.[25]
Duas semanas antes que o Concílio se reunisse
oficialmente, Lord Acton escreveu ao primeiro-
ministro da Grã-Bretanha, William E. Gladstone, no
dia 24 de novembro de 1869: “Já está tudo pronto
para a proclamação da infalibilidade papal”. O
encarregado de negócios inglês na Santa Sé
comentou que as preparações para a aceitação da
infalibilidade tinham sido tão bem organizadas que:
...os bispos estrangeiros descobriram ser impossível
expressar livremente suas próprias opiniões. Eles
ficarão desagradavelmente surpresos ao descobrirem
que serão forçados a aprovar algo que, na realidade,
desejavam condenar.[26]

Muito do que conhecemos a respeito da intriga


sinistra que ocorreu nos bastidores e a conclusão
desonesta a que chegou o Vaticano I é devida ao
historiador e erudito suíço August Bernhard Hasler.
Durante os cinco anos que passou no Secretaria
Para a Unidade Cristã do Vaticano, Hasler teve
acesso aos arquivos secretos. O que ele sabia a
respeito do Concílio Vaticano I era tão perturbador
(“O negócio todo girou em torno de uma clara
manipulação do Concílio”), que ele sentiu-se
compelido a escrever um livro chamado How the
Pope Became Infallible [Como o Papa Tornou-se
Infalível].[27] Hasler morreu “de forma prematura”,
logo depois que o manuscrito foi terminado. Por ter
escrito a introdução do livro, o teólogo católico
Hans Küng foi “destituído dos seus privilégios
eclesiásticos de ensinar”.[28]

Nenhuma Discussão Era


Permitida
Os devotos católicos acreditam sinceramente na
falsa impressão dada por sua Igreja de que a
declaração do Vaticano I sobre a infalibilidade
representa o pensamento e o desejo dos bispos que
lá compareceram. Pelo contrário, muitos deles se
opuseram fortemente à afirmação da infalibilidade
papal, tanto no tocante às Escrituras quanto no
terreno da tradição. Alguns se retiraram em protesto
antes que a votação final ocorresse e só
concordaram com a resolução mais tarde, por causa
das ameaças do Vaticano e porque visavam
resguardar a unidade da Igreja. O bispo Lecourtier
ficou tão desgostoso com a fraude que “jogou seus
documentos conciliares dentro do Tibre e
abandonou Roma...” Por esse motivo foi removido
de sua diocese.[29]
Os bispos que compareceram eram
praticamente prisioneiros. Os vistos de saída eram
deliberadamente guardados, para evitar que alguém
se retirasse antes da hora. Entre os que fugiram de
Roma estavam dois bispos armênios e um deles,
Plácido Cassangian, era o abade-geral de todos os
abades antoninos armênios. Do outro lado da
fronteira romana, fora da jurisdição papal, ele
escreveu tanto ao papa quanto ao Concílio que “sob
ameaça constante de prisão e devido a uma séria
doença, temia por sua vida e achava que a única
saída era fugir”.[30]
Regras opressivas foram impostas para sufocar
a oposição, visando eliminar o livre debate dos
assuntos. “Não era permitido haver discussão em
pequenos grupos, os discursos do Concílio não
podiam ser impressos... [tornando] impossível que
os argumentos fossem estudados para que uma
resposta cuidadosa fosse dada aos mesmos... os
bispos foram proibidos, sob pena de pecado mortal,
de dizer qualquer coisa sobre o que havia acontecido
no grande salão onde o Concílio se reunia”.[31] O
controle sobre os participantes era semelhante aos
das seitas, de maneira tal que durante as sessões
aqueles que se atrevessem a usar a voz em oposição
eram interrompidos, “constantemente com a
explicação de que a ninguém era permitido falar tão
negativamente sobre a santa Sé”.[32]
Os católicos sinceros acreditam que a
infalibilidade papal desde Pedro vem sendo passada
aos seus sucessores. Mas, na verdade, ela foi
imposta à Igreja por uma corja inescrupulosa de
membros do Vaticano, os quais conspiraram para
evitar discussão, comandaram as eleições e
literalmente intimidaram os bispos a votar, por
medo, a favor de uma proposição contra a qual eles,
na verdade, se opunham. “As eleições são
desonestas”, escreveu o arcebispo Georges Darboy
em seu diário, no dia 20 de dezembro de 1869.
Outro bispo se queixou da “total invalidade” dessas
eleições”.[33]

Dando Licença aos Poderes


Ditatoriais
“A pressão era sentida, em especial, pelos
bispos que dependiam financeiramente do
Vaticano”, era a sincera reclamação de mais de um
dos membros do Concílio. Muitos sentiam como se
estivessem “com a faca no pescoço”, forçando-os a
aprovar o que a vasta maioria, na verdade, rejeitava.
Quando os bispos armênios, em face das
terríveis ameaças, permaneceram firmes em sua
recusa de sustentar a infalibilidade, o papa mandou
que seus líderes “executassem exercícios espirituais
compulsórios no Mosteiro”. Quando o bispo John
Stephanian recusou-se a concordar, a polícia papal o
prendeu quando caminhava pela rua. Sua resistência
provocou um tumulto na multidão, que acabou
resgatando-o da prisão.
Para auxiliar na intimidação dos bispos que
estavam presentes, a polícia papal fez buscas-
surpresa nas casas deles. “Monsenhor Lorenzo
Randi, ministro da polícia papal e mais tarde
cardeal, interceptava no correio [do Vaticano] todas
as cartas dos correspondentes dos jornais e suprimiu
a maioria das notícias negativas”.[34]
Quanto a J. H. Ignaz von Dollinger, um dos
mais eminentes historiadores e teólogos católicos do
seu tempo, a excomunhão acabou sendo a sua
recompensa por ensinar teologia e história católica
romana durante 47 anos. Seu crime foi mostrar que
as afirmações dos papas sobre a infalibilidade
careciam de suporte tanto das Escrituras quanto da
tradição da Igreja. Essa, sem dúvida, era a visão
predominante dos historiadores católicos e da
maioria dos bispos da Igreja de Roma naquele
tempo. O trabalho monumental de Von Dollinger,
The Pope and the Council [O Papa e o Concílio],
publicado logo antes do Vaticano I, foi
imediatamente colocado na lista dos livros proibidos.
Pio IX não podia permitir que os bispos lessem fatos
da história como estes:
Tertuliano, Cipriano, Latâncio, nada sabem da
prerrogativa especial do papa ou de qualquer outro
que tenha o direito mais elevado e supremo de decidir
em assuntos de doutrina. Nos escritos dos doutores
gregos, Eusébio, São Atanásio, São Basílio, o Grande,
os dois Gregórios e São Estefânio, não há uma palavra
sequer de quaisquer prerrogativas ao bispo de Roma.
O mais copioso dos pais gregos, São Crisóstomo,
silencia completamente sobre este assunto, e assim
acontece aos dois Cirilos. Igualmente ficaram calados
os latinos, Hilário, Paco e Zeno, Lúcifer, Suplício e São
Ambrósio...
Santo Agostinho escreveu mais sobre a Igreja, sua
unidade e autoridade do que todos os papas juntos...
Ele se utiliza de todo tipo de argumento para mostrar
que os donatistas são obrigados a voltar à Igreja, mas,
mesmo sendo um deles, nada sabe sobre o “trono
papal”.[36]

Nenhum Apoio Histórico


O bispo Joseph Hefele de Rottenburg, um ex-
professor de história da Igreja, dirigiu estas palavras
ao Concílio Vaticano I: “Perdoem se falo de modo
simples: estou bastante familiarizado com as fontes
de documentos antigos da história e ensino da Igreja,
com os escritos dos Pais e os atos dos Concílios, de
modo que posso asseverar... Eu os tive em minhas
mãos noite e dia. Mas jamais vi em um desses
documentos a doutrina [da infalibilidade papal de
fonte confiável]”. Hasler vai mais adiante em seu
argumento:
[O arcebispo] Thomas Connoly... de Halifax, Nova
Escócia [província do Canadá], viera a Roma como um
adepto convicto da infalibilidade. Depois de um estudo
profundo ele tornou-se um dos seus oponentes
declarados... Repetidas vezes desafiou os infalibilistas
no saguão do Concílio para que apresentassem textos
claros dos três primeiros séculos – sempre em vão. Ele
fez uma oferta particular de 1000 libras (hoje
equivalente a uns 30.000 dólares) a qualquer um que
pudesse fornecer o texto que ele desejava. Tudo que
conseguiu foi uma falsificação.[37]

Von Dollinger, uma das maiores autoridades


em História da Igreja naquele tempo, concordava
plenamente com Hefele. Seu livro (banido por
Roma) alertava contra o fato de Pio IX estar
impondo o dogma da infalibilidade e relembrava aos
bispos que iriam se reunir para tomar essa decisão
vital:
Nenhuma das antigas confissões de fé, nenhum
catecismo, nenhum dos escritos patrísticos compostos
para instruir o povo, contém uma sílaba sobre o papa,
muito menos uma sugestão de que toda declaração de
fé e doutrina dependa dele.
Durante os primeiros 1000 anos da História da Igreja
nenhuma questão de doutrina jamais foi decidida pelo
papa... Mesmo a controvérsia sobre Cristo levantada
por Paulo de Samosata, que ocupou toda a Igreja
Oriental por longo tempo, necessitando a promulgação
de vários Concílios, foi concluída sem que o papa
tomasse parte nela...
Em três controvérsias durante o primeiro período a
Igreja de Roma tomou parte ativa – a questão do
Oriente, o batismo herético e a disciplina da
penitência. Em todas estas três os papas foram
incapazes de dogmatizar sua própria vontade, visão e
prática, e as outras igrejas mantiveram suas práticas
diferentes... A tentativa do papa Vítor de pressionar as
igrejas da Ásia Menor a adotar a prática de Roma,
excluindo-os da comunhão, redundou em fracasso.
[38]

É fato histórico inegável que, durante muitos


séculos depois de Cristo, a Igreja não tinha noção
alguma de que o bispo de Roma tivesse a última
palavra em todas as disputas ou que ele fosse
infalível. Mormente quando os papas começavam a
alegar sua pretensa infalibilidade, conforme já
vimos, eles sempre a usavam perversamente. Além
do mais, conforme uma pesquisa feita pela revista
Time em 1987, 93% dos católicos pensavam que “é
possível discordar do papa e ainda assim continuar
sendo um bom católico”. Um belo exemplo de
infalibilidade! Não é de admirar que a Igreja tenha
existido por 1800 anos sem ela!

Uma Trágica Farsa


Não resta dúvida de que a afirmação da
infalibilidade encoraja o despotismo, que já se
tornou parte do papado. O despotismo, por sua vez,
leva ao desprezo da verdade, pois o poder do
déspota sobre os demais deve ser mantido a
qualquer custo. Essa falha de caráter em Pio IX se
tornou evidente a muitos observadores. Embora o
papa tenha aprovado pessoalmente um artigo em La
Civilta Cattolica, que em fevereiro de 1869 iniciou
sua campanha pela infalibilidade, ele negou qualquer
conhecimento da mesma em todas as audiências
com embaixadores estrangeiros. A fraude era
evidente, mas o papa parecia cego ao fato de que
qualquer um, em sã consciência, saberia que ele
estava mentindo.
O papa escreveu artigos usando um
pseudônimo e em seguida negou conhecê-los.
Quando os bispos Cliford, Ramadie e Place
protestaram contra a linguagem abusiva que Pio IX
havia usado publicamente para se referir a eles, “o
papa negou tudo”. Diante de muitas testemunhas, o
bispo Mallet, deão da Sorbonne em Paris, chamou
Pio IX de “falso e mentiroso”.
Pio IX sempre se valia de pressão e ameaças,
engendrando intrigas nos bastidores e usando termos
ferinos denunciava qualquer um que se opusesse à
infalibilidade. Contudo, até o fim ele insistia que
desejava “deixar a Igreja completamente livre”. “Os
fatos que provam o contrário são tão numerosos
quanto óbvios”, escreveu a Viena o conde
Trauttmansdorff em 22 de junho de 1870. Em vista
dessas evidências de marcante desonestidade, e de
muitas outras, o cardeal Gustavo de Hohenlohe
declarou: “Não preciso de nenhum outro argumento
[contra a infalibilidade papal] além desse: em toda a
minha vida jamais encontrei um homem que faltasse
tanto com a verdade quanto Pio IX”.[39]
Esse era o homem que usou o poder despótico
de seu ofício para forçar os bispos a aprovar um
dogma ao qual a maioria deles se opunha. O bispo
Dupanloup declarou, em 15 de abril de 1870, que
vários bispos lhe haviam dito: “Eu preferiria morrer
a presenciar isso”. Alguns dos bispos chegaram a
ficar “amargos de decepção e desespero, e sentiram-
se enojados”. Para muitos o Concílio parecia um
jogo degradante, uma farsa trágica. O bispo George
Strossmayer lamentou que o Vaticano I não teve a
“liberdade necessária de transformá-lo num
verdadeiro Concílio a fim de justificar as resoluções
aprovadas, cegando a consciência de todo o mundo
católico. A prova disto ficou bastante evidente”.[40]

Infalibilidade ou
Instabilidade Psíquica?
Como já mostramos, mais que apenas alguns
membros “abandonaram o Concílio antes que
terminasse”. No dia 17 de julho de 1870, antes da
votação, 55 bispos que se opunham declararam que
“fora de qualquer irreverência contra o ‘santo
padre’, eles não desejavam tomar parte [votar]. Em
seguida abandonaram Roma em protesto”.[41]
No dia 18 de julho de 1870, último dia do
Concílio, houve apenas 535 votos pelo “sim”,
menos da metade dos 1.084 membros originais
aptos a votar. Mesmo assim os jornais do Vaticano
escreveram muito sobre o assunto, como se tivesse
sido uma decisão unânime. Através das ameaças de
demissão, perda de emprego e outras pressões, o
papa finalmente conseguia a submissão dos que se
opunham a que infalibilidade papal se tornasse
dogma da Igreja Católica Romana. Infelizmente,
pouquíssimos católicos conhecem estes fatos.
O bispo Dupanloup escreveu em seu diário, em
28 de junho de 1870: “Nunca mais irei ao Concílio.
A violência, a falta de vergonha e muito mais a
falsidade, a vaidade e a contínua maneira de forçar a
mentira me obrigam a ficar longe”. Em 26 de agosto
de 1870, 14 teólogos alemães declararam: “Estar
livre de toda sorte de coerção moral e de influência
pelo uso de força superior é uma condição sine qua
non para todos os concílios ecumênicos. Tal
liberdade faltou nessa reunião católica...”[42]
Outros aspectos quanto ao caráter e
comportamento de Pio IX que Hasler, durante anos
de pesquisas, conseguiu nos arquivos secretos do
Vaticano e em outros documentos são trágicos e
reveladores:
O misticismo doentio, as explosões infantis, a
sensibilidade superficial, os devaneios intermitentes, a
linguagem que estranhamente era desapropriada,
mesmo em discursos estritamente oficiais, e a
obstinação senil, tudo indica a perda de um sólido
senso da realidade...
Além disso há exemplos de megalomania que ainda
são difíceis de avaliar. Em 1866... Pio IX aplicou a si
próprio o que Cristo disse: “Eu sou o caminho e a
verdade e a vida”... No dia 8 de abril de 1871 o conde
Harry von Armim-Suckow registrou para o conselheiro
imperial, o príncipe Otto von Bismarck, a tentativa de
Pio IX de realizar um milagre: “Quando passava pela
Igreja Trinita dei Monti, o papa encarou um aleijado
que estava em frente da mesma e falou: ‘levanta-te e
anda’. Mas a experiência falhou”.
O historiador Ferdinand Gregorovius havia escrito
antes disso em seu diário, no dia 17 de junho de
1870: “O papa ultimamente tem urgência de
experimentar a sua infalibilidade... Enquanto estava a
passeio, ordenou a um paralítico: ‘levanta-te e anda’. O
coitado tentou levantar-se e caiu, o que deixou o
substituto de Deus muito furioso. A anedota também
já foi mencionada nos jornais. Realmente creio que ele
está maluco”...
Pio IX dava a impressão de estar sofrendo de mania de
grandeza também de outras maneiras. Alguns, até
mesmo bispos, achavam que ele estava louco ou
falavam de sintomas patológicos. Franz Xaver Kraus,
historiador da Igreja Católica, anotou em seu diário: “A
propósito de Pio IX, Du Camp concorda com meu
ponto de vista de que desde 1848 o papa sofre de
uma doença mental e de malignidade”.[43]

O Fruto Amargo da Tirania


Papal
Enquanto Pio IX, vivendo em seu mundo
fantasioso de onipotência, impunha sobre a Igreja e
o mundo um conceito difícil de ser aceito (que a
magia de um ofício poderia tornar um homem
infalível), o povo italiano, pressionado pela
depravação e barbarismo do papa, planejava sua
queda. Acusando o papado de erigir “uma fortaleza
de poder usurpado sobre os cadáveres de gerações
passadas”, o patriota italiano Giuseppe Mazzini
denunciou eloqüentemente Pio IX e seus
predecessores:
O Evangelho prega amor e fraternidade universal, mas
vocês têm espalhado a discórdia e inspirado o ódio...
Vocês deveriam ter protegido os fracos contra os
opressores. Vocês, que deveriam ter encorajado a paz
entre os cidadãos, só contrataram assassinos
mercenários [da Espanha, França, Áustria, e Nápoles]
para cravar seus punhais sobre a pedra do altar,
enquanto admoestavam seus cidadãos escravos para
que “não se atrevessem a se levantar”.[44]

Em 1861 o parlamento do recém criado reino


da Itália declarou Roma como sua capital, mesmo
que o papa ainda fosse o seu tirano. Quando chegou
o tempo de reforçar esse veredito, os que lutavam
pela independência italiana ficaram sozinhos. Os
exércitos combinados do papa, França e Áustria não
puderam rechaçar as forças que lutavam pela
liberdade e unificação da Itália. No dia 20 de
setembro de 1870, quase dois meses após o
Vaticano I ter confirmado a infalibilidade papal, ele
foi finalmente deposto como governante da
província de Roma. Sobrepujando o exército papal,
as tropas do general Cadorna abriram caminho
através dos muros de Roma, próximo à Porta Pia. O
plebiscito, ao qual já nos referimos antes, confirmou
por votação esmagadora que Roma devia ser
anexada à Itália unida.
Pio IX confinou-se dentro do Vaticano em uma
prisão auto-imposta e a partir daquele santuário
despejou um considerável bombardeio de palavras
condenatórias sobre seus adversários. Sua
condenação do rei Vittorio Emannuele, “onde quer
que ele esteja, quer em casa, quer no campo... em
todas as faculdades do seu corpo... condenado seja
em sua boca, em seu peito, em seu coração... possa
o céu, com todos os poderes que o movem,
levantar-se contra ele, amaldiçoá-lo e condená-lo!” –
foi feita com mais de 130 palavras. Quanto ao
restante dos seus inimigos, os quais, conforme a
votação, tinham sido cerca de 99% da população
italiana, o papa trovejou: “Com a autoridade do
Deus Todo-Poderoso, dos santos apóstolos Pedro e
Paulo...
todos... os que perpetraram a invasão, usurpação e
ocupação das províncias de nosso domínio, desta
querida cidade [Roma]... incorreram na máxima
excomunhão e em todas as demais censuras e
penalidades eclesiásticas, cobertas pelos cânones
sagrados, constituições e decretos apostólicos, de
todos os concílios gerais, especificamente do Concílio
de Trento.[45]

Sem dúvida, os frustrados ataques do papa, ao


menos nessa ocasião, foram totalmente em vão. Os
italianos não se impressionaram com o novo dogma
da infalibilidade papal. Roma tem continuado sob o
controle do governo italiano até hoje. Como já
mencionamos, a Concordata com Mussolini em
1929 devolveria aos papas sua autonomia sobre a
Cidade-Estado, o Vaticano, que desde então tem
gozado do status de igualdade com as nações do
mundo.
O Vaticano não morreu e nem a Igreja Católica
Romana desistiu. Ela cresceu em todo o mundo e
atualmente conta com cerca de um bilhão de
membros. A influência do papa ao redor do globo,
mesmo exercida de modo mais sutil, é hoje maior do
que nunca. A visão de João ainda se mostra correta,
embora muita coisa ainda venha a se cumprir.
Pompa e Adulação
Pedro declarou que Cristo nos deixou um
exemplo para seguirmos os seus passos (1 Pedro
2.21). Ele escreveu que os líderes da igreja não
deveriam agir como “dominadores dos que vos
foram confiados”, mas como Cristo, deveriam ser
“modelos do rebanho” (1 Pedro 5.1-3). Que os
papas têm desobedecido tanto a Cristo como a
Pedro, que eles afirmam ter sido o primeiro papa,
fica absolutamente claro. Como poderia qualquer
membro comum do rebanho seguir o exemplo do
estilo de vida autocrático, luxuoso e altamente
privilegiado dos papas? Os bispos de Roma, em
desafio àquele que dizem ter sido o primeiro papa,
são literalmente “senhores” sobre todos os que estão
sob suas ordens. Esse fato tem sido manifesto
durante séculos pela sua conduta tirânica, a qual tem
se tornado mais ofensiva pelo fato da infalibilidade
ter se tornado um dogma católico.
A Doação de Constantino, embora fosse uma
fraude (conforme já vimos), e da qual os papas
afirmaram ter recebido sua autoridade e poder,
revela muito sobre a maneira como eles se vestiam,
viviam e agiam durante a Idade Média. Como diz
Peter de Rosa:
A partir da Doação, fica claro que os bispo de Roma
pareciam Constantino, viviam como ele, vestiam-se
como ele, habitavam seus palácios, governavam sobre
suas terras. Tinham exatamente a mesma visão
imperial. O papa também desejava governar sobre a
Igreja e o Estado.
Apenas 700 anos pós a morte de Pedro, os papas
haviam se tornado obcecados por poderes e
possessões. Os [supostos] sucessores de Pedro
[tornaram-se] não os servos mas os senhores do
mundo. Eles... vestiam-se de púrpura como Nero e
chamavam a si mesmos de Pontifex Maximus [sumo
pontífice].[46]

A natureza do ofício papal não é bíblica e dá ao


homem que o possui um poder maior do que o do
maior dos tiranos políticos. E tanto a oportunidade
como a tentação de abuso são elevadas a um nível
imensurável quando o homem é considerado
infalível – algo que hoje nenhum governante se
atreveria a dizer sobre si mesmo.
Para vermos o efeito devastador de atribuir-se
tal autoridade suprema a um mero homem, devemos
apenas observar a reação servil daqueles afortunados
o bastante para encontrarem-se pessoalmente com o
papa, apertar sua mão ou apenas tocá-lo.
Observemos o entusiasmo de dezenas de milhares
de pessoas que se reúnem quando o papa faz uma
aparição pública. Em seu lisonjeiro reconhecimento
de infalibilidade existe uma cabal identificação dos
fiéis católicos com o poder papal. É uma
identificação que produz, mesmo entre os membros
comuns da Igreja, um orgulho cego e destrutivo de
pertencer à “maior e mais antiga... a única Igreja
verdadeira, fora da qual não há salvação”. Tal
conceito faz que os devotos católicos fiquem
insensíveis ao que, de outra maneira, seria
identificado como as falhas de sua Igreja, e os
mantém presos ao seu poder.
A Igreja tornou-se salvadora no lugar de Cristo,
conduzindo à crença sedutora e atraente de que, não
importa o que aconteça, essa instituição, com os
bons serviços do papa, dos santos, e especialmente
de Maria, os levará ao céu, isso se os seus parentes
vivos pagarem por muitas missas rezadas em nome
deles. É uma ilusão mortal, promovida através do
catecismo ensinado a todos os católicos desde a
infância. Um engano destrutivo desse porte se
tornou plausível por causa do ensino de que embora
Cristo tenha pago pelos nossos pecados na cruz, a
Igreja é a dispensadora das “graças e méritos” que
Ele conquistou. Acrescente-se a isso o conceito
enganoso que tem sutilmente envolvido os membros
de uma Igreja cujo cabeça é “infalível”, então
teremos elementos para criar superstições
inadmissíveis, e, finalmente, a tragédia.
Mesmo assim, a Igreja Católica Romana tem
mudado de idéia muitas vezes sobre assuntos
importantes para demonstrar até a si mesma que não
é infalível. Costumava ser um pecado mortal comer
carne às sextas-feiras. Medalhas e estátuas de São
Cristóvão, padroeiro dos viajantes, eram colocados
não apenas nos painéis dos veículos, mas até mesmo
nos elevadores, como proteção. Mas este popular
santo católico foi declarado um mito. Os milhões de
católicos que durante séculos pensaram que ele os
protegia foram enganados, segundo a última
resolução da hierarquia católica. Como diz a ex-
freira Patrícia Nolan:
Qualquer instituição que possa, com a caneta
sacerdotal, remover a dor da punição eterna por
alguém ter consumido um cachorro-quente numa
sexta feira e retirar a imagem de São Cristóvão de
milhões de painéis de carros, pode seguramente
admitir que tenha errado sobre outros assuntos.[47]

É fácil concordar com isso, mas até hoje


Roma não admitiu seus erros no que se refere
à Inquisição, aos maus tratos e massacres de
dezenas de milhares de judeus, ao martírio de
milhões de cristãos, ao assassinato de um
milhão de sérvios durante a II Guerra Mundial
e à condução de dezenas de milhares de
criminosos de guerra nazistas para
esconderijos seguros.
CAPÍTULO 11

Sobre Esta Pedra?


“Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do
Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: ...tu és Pedro [petros] e
sobre esta pedra [petra] edificarei a minha igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela”.

– Mateus 16.16-18

“Apascenta os meus cordeiros... Pastoreia as minhas ovelhas...


Apascenta as minhas ovelhas”.

– João 21.15-17

Após a confissão de fé de Pedro, ele [Cristo] determinou que


sobre ele construiria a sua Igreja; a ele prometeu as chaves do
reino dos céus...

– Vaticano II [1]
Um papa infalível como sucessor de Pedro,
que tem as chaves do reino do céu, sendo o vigário
de Cristo? Antes foi a declaração arrogante de que a
pompa e os poderes foram herdados de Constantino.
Hoje afirma-se que a declaração de Cristo a Pedro,
citada na página anterior, fez dele o primeiro papa, a
pedra sobre a qual “a única Igreja verdadeira” foi
construída, e todos os que o seguiram nesse ofício
têm sido seus sucessores, não importa a violência e
as fraudes que usaram para consegui-lo, nem suas
atitudes malignas. A autoridade que o papa possui
hoje e a religião católica que ele lidera estão
ancoradas sobre essa afirmação.
O papa é a Igreja Católica. Sem ele a Igreja não
poderia funcionar e nem mesmo existir. Por isso é
importante estudarmos esse assunto mais a fundo.
Pouco importa o que o fiel católico comum pense
ou faça. Mas as doutrinas e os feitos da hierarquia e
principalmente dos papas continuam controlando a
Igreja. É aí que o nosso foco deve estar, não na
opinião de alguns católicos que dizem não acreditar
na metade do que a Igreja ensina. (Essas pessoas
não deveria se chamar “católicas”. Por que confiar
numa Igreja para obter a salvação eterna se ela nem
é digna de confiança em assuntos menos
importantes?)
E que dizer da declaração de Cristo a Pedro:
“sobre esta pedra edificarei a minha igreja?”
(Mateus 16.18). Os protestantes argumentam que
existe um jogo de palavras no verso chave acima.
No grego, “Pedro” é petros, uma pedrinha,
enquanto “pedra” no grego é uma petra, como a
rocha de Gibraltar, por exemplo. Uma petra tão
imensa obviamente só poderia ser o próprio Cristo e
a confissão de que Jesus é o Cristo, que Pedro
acabara de fazer.
Os apologistas católicos modernos respondem
que Cristo estava provavelmente falando em
aramaico, o que elimina o jogo de palavras e deixa
Pedro como a pedra sobre a qual a Igreja foi
edificada. Essa posição, contudo, certamente nega
uma das doutrinas básicas do catolicismo romano, a
profissão de fé tridentina. Ela exige que todos os
clérigos, a partir do papa Pio IV (1559-1565),
aceitem a interpretação das Sagradas Escrituras
somente de acordo com o consenso unânime dos
Pais [da Igreja].

O Testemunho dos Pais da


Igreja
Como os “Pais da Igreja” (líderes da Igreja até
o papa Gregório, o Grande, que morreu em 604)
interpretam esta passagem? Acontece que neste
assunto em particular eles são unânimes em
concordar com a posição dos protestantes. Nenhum
deles interpreta essa passagem como os católicos são
ensinados a entendê-la atualmente.
Para estar de acordo com o ensino unânime
dos Pais da Igreja, um católico teria de rejeitar o
dogma de que Pedro foi o primeiro papa, que ele era
infalível e que transmitiu sua autoridade a
sucessores. O historiador e católico devoto Von
Dollinger lembra fatos inegáveis:
De todos os Pais que interpretam estas passagens nos
Evangelhos (Mateus 16.18, João 21.17), nenhum as
aplica ao bispo de Roma como sucessor de Pedro.
Quantos Pais se ocuparam com estes textos, mas
nenhum daqueles cujos comentários possuímos –
Orígenes, Crisóstomo, Hilário, Agostinho, Cirilo,
Teodoro e aqueles cujas interpretações são coletadas
às centenas – têm sequer insinuado que o primado de
Roma é a conseqüência da comissão e promessa feita
a Pedro!
Nenhum deles explicou que a pedra ou fundamento
sobre o qual Cristo construiria a sua Igreja seria o
ofício dado a Pedro que devia ser transmitido aos seus
sucessores, mas entenderam que se tratava do próprio
Cristo ou da confissão de fé de Pedro sobre Cristo;
muitas vezes afirmando que eram as duas coisas
juntas.[2]

Em outras palavras, ao contrário do que a


maioria dos católicos tem aprendido, os Pais da
Igreja Católica Romana posicionaram-se
unanimemente contra a interpretação católica atual.
E é um católico devoto, uma autoridade da história
eclesiástica e que ama a sua Igreja, quem aponta
para esses fatos.
Outros historiadores católicos concordam com
Von Dollinger. Peter de Rosa, também católico
devoto, habilmente contesta a supremacia e a linha
contínua de sucessão papal desde Pedro:
Pode ser um choque para eles [católicos] saber que os
grandes Pais da Igreja não viam conexão alguma entre
a declaração [Mateus 16.18] e o papa. Nenhum deles
aplica “Tu és Pedro” a alguém mais senão a Pedro. Um
após outro, todos analisaram-na: Cipriano, Orígenes,
Cirilo, Hilário, Jerônimo, Ambrósio, Agostinho. E eles
não são protestantes.
Nenhum deles chama o bispo de Roma de “pedra” ou
aplica especificamente a ele a promessa das chaves do
reino. Isso é tão surpreendente para os católicos,
como se eles não pudessem encontrar menção alguma
dos Pais sobre o Espírito Santo e a ressurreição dos
mortos...
Para os Pais é a fé de Pedro – ou o Senhor em quem
Pedro deposita sua fé – que é chamado de “pedra” e
não Pedro. Todos os concílios da Igreja, de Nicéia, no
século IV, ao de Constância, no século XV, concordam
que o próprio Cristo é o único fundamento da Igreja,
isto é, a pedra sobre a qual a Igreja se sustém.
...nenhum dos Pais fala de uma transferência de poder
de Pedro aos que o sucederam ...Não há indicação
alguma de um ofício petrino permanente.
Então a Igreja primitiva não olhava para Pedro como
bispo de Roma, nem, por conseguinte, pensava que
todo bispo de Roma seria o seu sucessor... Os
evangelhos não criaram o papado; porém o papado
buscou apoio nos Evangelhos [mesmo que isso não
seja possível].[3]

O fato dos papas durante séculos terem se


baseado em documentos fraudulentos (A Doação de
Constantino e os Falsos Decretos) para justificar
sua pompa e poder, mesmo após terem sido
expostos como deliberadas falsificações, mostra
como esses “vigários de Cristo” não apreciavam a
verdade. Também nos mostram que naqueles dias os
papas não baseavam suas justificativas para a sua
autoridade papal e a suposta sucessão apostólica
desde Pedro em Mateus 16.18. Se isso ocorresse
eles não precisariam de documentos falsos para
autenticar sua posição. Tal aplicação para as palavras
“Tu és Pedro” foi inventada muito mais tarde.

Quem é a Pedra?
A verdade sobre o assunto não depende da
questionada interpretação de alguns versículos, mas
sim da totalidade das Escrituras. O próprio Deus é
claramente descrito como a “pedra” ou “rocha”
infalível de nossa salvação através de todo o Antigo
Testamento. (Deuteronômio 32.3,4; Salmo 62.1,2,
etc.). Na verdade a Bíblia declara que Deus é a
única pedra: “Pois quem é Deus, senão o
SENHOR? E quem é rochedo, senão o nosso
Deus?” (Salmo 18.31).
O Novo Testamento torna igualmente claro que
Jesus Cristo é a pedra sobre a qual a Igreja é
construída, e que Ele, sendo Deus e um com o Pai,
é, portanto, a Pedra. Cristo e Seus ensinamentos
(Mateus 7.24-29) são rocha onde o “homem
prudente edifica a sua casa”, e não Pedro. O próprio
apóstolo Pedro frisa que Cristo é a “pedra angular”
sobre a qual a Igreja é construída (1 Pedro 2.6-8). E
ele cita uma passagem do Antigo Testamento para
enfatizar isso.
Paulo, do mesmo modo, chama Cristo “a
pedra angular” da Igreja e declara que a Igreja
também é edificada “sobre o fundamento dos
[todos] apóstolos e profetas” (Efésios 2.20). Esta
declaração nega claramente que Pedro tenha uma
posição especial no fundamento da Igreja.

Pedro Não Recebeu


Promessa Alguma
Quando Cristo deu a Pedro “as chaves do
reino dos Céus” (Mateus 16.19), Ele explicou o que
aquilo significava: “o que ligares na terra terá sido
ligado nos céus; e o que desligares na terra terá
sido desligado nos céus”. A mesma promessa foi
renovada a todos os discípulos em Mateus 18.18,
assim como em João 20.23, com a especial
aplicação, neste contexto, ao perdão de pecados.
A chave para ligar e desligar e remir ou reter
pecados foi claramente dada a todos, não só a
Pedro. Portanto, não é certo afirmar que Pedro tinha
poder e autoridade especial sobre os demais
apóstolos. Tal conceito não se encontra em parte
alguma do Novo Testamento e era desconhecido
mesmo para a Igreja Católica Romana até alguns
séculos mais tarde. A Pedro foi dado o privilégio
especial de pregar o Evangelho, primeiro aos judeus
(Atos 2.14-41) e depois aos gentios (Atos 10.34-
48), mas ele não recebeu nenhuma autoridade
especial.
Os apologistas católicos alegam que as palavras
de Cristo a Pedro em João 21.15-47 (“apascenta
meus cordeiros”, “pastoreia as minhas ovelhas”)
deu-lhe autoridade única. Pelo contrário, o próprio
Pedro aplicou esse mandamento a todos os anciãos
(1 Pedro 5.2) do mesmo modo que Paulo fez (Atos
20.28). Novamente é Von Dollinger quem nos
informa:
Nenhuma das antigas confissões de fé, nenhum
catecismo, nenhum dos escritos patrísticos, que
visavam instruir o povo, contém uma sílaba sequer
sobre o papa, nem sequer uma indicação mínima
sobre o fato de toda certeza da fé e doutrina depender
dele...
Os Pais da Igreja nem ao menos puderam reconhecer
no poder das chaves, e no poder de ligar e desligar,
qualquer prerrogativa ou senhorio do bispo de Roma,
tanto mais que – o que à primeira vista fica óbvio para
qualquer um – eles não viram um poder dado
primeiramente a Pedro, e em seguida repetindo
precisamente as mesmas palavras a todos os
apóstolos, como algo que fosse peculiar a ele, ou uma
herança para a linhagem dos bispos de Roma, e eles
usavam o símbolo das chaves significando exatamente
o mesmo que a expressão figurada de ligar e desligar...
O poder das chaves ou de ligar e desligar, foi
universalmente reconhecido como pertencente a
outros bispos, tanto quanto ao bispo de Roma.[4]

Nenhum Poder Especial Foi


Dado a Pedro
A autoridade especial que tem sido alegada
pelos papas católicos romanos, que afirmam ser os
supostos sucessores de Pedro, jamais foi exercida
por Pedro. Em suas epístolas o apóstolo exorta seus
iguais; não dá ordens a subordinados. “Aos
presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como
eles...” (1 Pedro 5.1). Ele não oferece base em seus
escritos para nenhuma posição ou poder eclesiástico
oficial e exaltado. Pedro declara ser simplesmente
“testemunha dos sofrimentos de Cristo” (1 Pedro
5.1) junto com todos os apóstolos, que foram
“testemunhas oculares da sua majestade” (2 Pedro
1.16). Ele não faz uma única afirmação em seu
favor, simplesmente se coloca entre os outros
apóstolos.
A reunião de “apóstolos e anciãos” em
Jerusalém por volta de 45-60 d.C. descrita em Atos
15.4-29 foi organizada por iniciativa de Paulo, não
de Pedro. (Não foi “o primeiro Concílio da Igreja”,
como alguns afirmam. Não havia hierarquia na
Igreja, nenhuma delegação de fora, todos os
presentes residiam em Jerusalém.) Além do mais, foi
Tiago, e não Pedro, quem parece ter tomado a
liderança. Conquanto Pedro tenha feito uma
declaração importante, ela não foi doutrinária, sendo
apenas um resumo de sua experiência ao levar o
Evangelho primeiro aos gentios. Tiago, contudo,
discorreu sobre as Escrituras e argumentou sobre um
ponto de vista doutrinário. Além do mais, foi Tiago
quem disse: “Pelo que julgo eu... [meu veredito é]”
(Atos 15.19) e sua declaração tornou-se a base da
carta oficial enviada a Antioquia.
Não há evidências de que Pedro tenha
intimidado os outros, mas Tiago o intimidou. O
temor de Tiago e sua influência e liderança levaram
Pedro a se voltar à tradicional separação dos gentios.
Como resultado, Paulo, que escreveu muito mais do
Novo Testamento do que Pedro, e cujo ministério
foi muito mais abrangente, censurou Pedro
publicamente por seu erro (Gálatas 2.11-14).
Certamente Pedro não agia como papa, nem era
tratado assim pelos outros.

Os Verdadeiros Sucessores
dos Apóstolos
Cristo mandou que os apóstolos fizessem
discípulos através da pregação do Evangelho. Ele
acrescentou que cada pessoa que cresse no
Evangelho deveria ser ensinada a obedecer a todas
as coisas que Ele havia ensinado. A declaração:
“ensinando-os [aos discípulos que se converterão] a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”
(Mateus 28.20), não pode ser atribuída
exclusivamente a uma liderança hierárquica.
Esperava-se que todos aqueles que se tornaram
discípulos de Cristo através da pregação dos
discípulos originais obedecessem a tudo que Cristo
havia ordenado aos apóstolos. Para que pudessem
fazer tudo que os 11 foram comissionados, cada
discípulo comum precisava ter a mesma autoridade e
o mesmo poder procedentes de Cristo que os
apóstolos tinham.
Quaisquer que tenham sido os mandamentos e
poderes que os apóstolos receberam de Cristo, eles
foram passados a todos os que creram no Evangelho
(ou seja, seus próprios discípulos), os quais, por sua
vez, ensinaram esses mandamentos aos seus
conversos, e assim por diante, até o presente.
Portanto fica evidente que não somente uma classe
especial de bispos, arcebispos, cardeais, papas ou
um Magistério, são sucessores dos apóstolos, mas
todos os cristãos.
A história da Igreja primitiva apresentada no
Novo Testamento diz isso. Os apóstolos obedeceram
ao que Cristo mandou: fizeram discípulos aos
milhares e ensinaram a eles todos os mandamentos
de Cristo; e o próprio Cristo, do céu, capacitava seus
novos discípulos para desempenharem esta grande
comissão. Os cristãos se multiplicaram e as igrejas
foram estabelecidas em todo o Império Romano.
Não havia catedrais. A igreja local se reunia nas
casas. Sua liderança era um grupo de anciãos
piedosos, mais velhos e maduros na fé e que viviam
vidas exemplares. Não havia hierarquia, nem local
ou tampouco sobre um território maior, que tivesse
de ser obedecida por causa de seu ofício ou título.
Não havia classe seleta de sacerdotes que possuísse
autoridade especial para agir como intermediária
entre Deus e o povo. Isso se aplicava ao sacerdócio
judaico, que era uma sombra das coisas que
haveriam de vir (Hebreus 7.11-28; 10.1-22) mas
tornou-se terrivelmente corrupto e teve seu fim no
sacrifício feito na cruz.
Todos os crentes foram encorajados a orar e
profetizar nas reuniões da Igreja. Paulo deixou isto
bem claro: “Quando vos reunis [como Igreja], um
tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação,
aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação.
Seja tudo feito para edificação. No caso de alguém
falar em outra língua, que não sejam mais do que
dois, ou quando muito três, e isto sucessivamente, e
haja quem interprete... Tratando-se de profetas,
falem apenas dois ou três, e os outros julguem. Se,
porém, vier revelação a outrem que esteja
assentado, cale-se o primeiro [a fim de que o outro
fale]. Porque todos podereis profetizar um após
outro, para todos aprenderem e serem
consolados... Portanto, meus irmãos, procurai com
zelo o dom de profetizar e não proibais o falar em
outras línguas” (1 Coríntios 14.26-40).
Não Havia uma Classe de
Elite
Nenhuma das promessas de Cristo aos
apóstolos foi somente para eles ou para uma classe
de elite. Por exemplo: “Se dois dentre vós, sobre a
terra, concordarem a respeito de qualquer coisa,
que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por
meu Pai que está nos céus” (Mateus 18.19). “Tudo
quanto pedirdes em meu nome, isso farei...” (João
14.13) e novamente: “Se pedirdes alguma coisa ao
Pai, ele vo-la concederá em meu nome” (João
16.23). Todos os cristãos que crêem na Bíblia oram
em nome de Cristo, embora a promessa tenha sido
dada ao Seu círculo íntimo de apóstolos. Todos os
católicos tomam o pão e o vinho na missa, mesmo
que Cristo tenha dito a todos os apóstolos: “Fazei
isto em memória de mim” (Lucas 22.19).
Está claro que tudo o que Cristo determinou a
seus amigos mais chegados se aplicava a todos os
convertidos e a todos os cristãos de hoje. Isso quer
dizer que se dois cristãos concordarem sobre alguma
coisa em oração esta lhes será concedida, ou que
tudo o que um cristão pedir ao Pai, em nome de
Cristo, lhe será dado? Sim. Então, por que nem toda
oração é respondida? Todas elas são respondidas,
mas para algumas a resposta é “não” e para outras,
“mais tarde”. O “nome” de Cristo não é uma
fórmula mágica, que, se adicionada à oração,
assegura uma resposta automática positiva. Pedir em
Seu nome significa pedir como Ele pediria, para Sua
honra e glória, não para a nossa.
Nesse ponto a Igreja tem decepcionado
tremendamente os católicos sinceros. Cada oração
que um padre católico faz não é respondida
automaticamente mais do que aquelas feitas pelos
católicos comuns, ministros protestantes ou leigos.
Isso é obvio. Ainda assim diz-se que um membro do
clero católico tem um poder especial sobre qualquer
coisa que ele pronunciar usando o nome de Cristo –
o que for ligado ou desligado, ou o perdão de
pecados – ocorre automaticamente. Não é assim. É
desonesto dizer que o desligamento do pecado (que
não pode ser verificado) ocorre a cada vez que o
sacerdote o pronuncia, se desligar da doença ou do
débito (algo que pode ser verificado) raramente
acontece quando ele pronuncia o desligamento.
A implicação é clara: qualquer coisa que se
obtenha através da oração ao Pai em nome de
Cristo, ou qualquer graça obtida quando dois
cristãos concordam, ligar e desligar ou perdoar
pecados, não acontecem automaticamente, pela
mera expressão de uma fórmula, mas é feito
somente através de Cristo trabalhando por meio de
vasos escolhidos, quando, onde e como Lhe agrada.
Nenhuma dessas promessas era cumprida
automaticamente, sob a direção única de Pedro ou
qualquer um dos outros apóstolos. Nem são
concedidas instantaneamente a um membro da
Igreja Católica Romana ou de qualquer hierarquia
religiosa. Esses dogmas falsos têm posto aqueles que
acreditam neles sob o poder de Roma, levando-os a
procurar num sacerdote aquilo que é a herança de
todo discípulo verdadeiro de Cristo.

Os Tiranos do Passado
e o Magistério de Hoje
O grande apóstolo Paulo escreveu que desde
que os governantes civis não ordenem algo contrário
à vontade Deus, todo cristão, inclusive os próprios
apóstolos, devem obedecer suas ordens (Romanos
13.1-7). Devemos orar “pelos reis e por todos os
que estão investidos de autoridade” (1 Timóteo
2.1-3). Todos os cristãos devem estar sujeitos “aos
que governam, às autoridades...” (Tito 3.1).
Paulo escreveu aos cristãos: “Sujeitai-vos a
toda instituição humana por causa do Senhor, quer
seja ao rei como soberano, quer às autoridades
como enviadas por ele...” (1 Pedro 3.13-14). Os
papas ensinaram exatamente o contrário: que eles
eram os supremos soberanos e que somente suas leis
deveriam ser obedecidas, inclusive pelos reis. A
submissão total que Roma exige tem sido expressa
por muitos papas, mas nenhum deles as expressou
mais claramente do que Nicolau I (858-867):
É evidente que os papas não podem estar ligados nem
tampouco sujeitos aos poderes terrenos, nem mesmo
aos do apóstolo [Pedro], se ele voltasse à terra; desde
que Constantino, o Grande, reconheceu que os
pontífices representam o poder de Deus na terra, a
divindade não pode ser julgada por nenhum homem.
Somos, portanto, infalíveis, e quaisquer que sejam
nossos atos, não precisamos prestar contas deles a
ninguém mais do que a nós mesmos.[5]

Fica claro, tanto na história como nos dogmas


oficias da Igreja ainda vigentes, que Nicolau não
estava expressando apenas o seu fanatismo, mas a
visão de todos os papas, que acabou se tornando a
doutrina católica. Conforme o Vaticano II, a
ninguém é permitido sequer questionar o Magistério
em assuntos de fé e moral. Somente a hierarquia
pode interpretar a Bíblia, e os fiéis devem aceitar
essa interpretação como se fosse vinda do próprio
Deus. Todos devem obedecer ao papa, mesmo
quando ele não fala ex catedra. Tais exigências de fé
cega são vestígios atuais da atuação tirânica dos
papas através dos séculos.

O Fracasso do “Primeiro
Papa”
Se as palavras de Cristo a Pedro em Mateus
16.18 fizeram dele o primeiro papa infalível, então
temos outro problema sério. As palavras seguintes
na boca de Pedro negam o cerne do Evangelho
cristão ao declarar que Cristo não precisava ir até a
cruz: “...Tem compaixão de ti, Senhor; isso [a
morte na cruz] de modo algum te acontecerá”
(Mateus 16.22). Ao que o Senhor respondeu
imediatamente: “Arreda, Satanás! Tu és para mim
pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de
Deus, e sim das obras dos homens” (Mateus
16.23). Esta foi a primeira declaração ex catedra de
Pedro a toda a Igreja (conforme registra a Bíblia)
em matéria de fé e moral (ela tem a ver com o meio
de salvação) – e não era infalível, mas pura heresia!
No próximo capítulo Pedro comete um erro
sério, com outro pronunciamento herético. Ele
coloca Cristo no mesmo nível de Moisés e Elias:
“Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei
aqui três tendas; uma será tua, outra para Moisés,
outra para Elias” (Mateus 17.4). Desta vez é o
próprio Deus quem censura, do céu, o “novo papa”:
“Este é o meu Filho amado em quem me comprazo;
a ele ouvi” (v. 5).
Mais tarde, temendo por sua vida, Pedro nega,
pragueja e jura não conhecer Jesus – novamente
uma declaração de “fé e moral” a toda a Igreja que
nega o próprio Cristo. Mesmo se os papas fossem
seus sucessores, Pedro dificilmente poderia ter-lhes
passado uma infalibilidade que, obviamente, não
possuía.

Base Bíblica para a


Infalibilidade?
Hans Küng, teólogo católico contemporâneo,
disse: “A principal prova citada pelo Vaticano I para
a infalibilidade papal, Lucas 22.32 (“Eu, porém,
roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça”), ja
mais foi usada, nem mesmo pelos canonistas
medievais, para documentar esse dogma – o que é
correto. Nessa passagem Jesus não prometeu a
Pedro que este não erraria mais, porém deu-lhe a
graça de perseverar na fé até o fim”.[6] Von
Dollinger concorda plenamente:
Todos conhecem a clássica passagem da Escritura
sobre a qual o edifício da infalibilidade papal tem se
escorado “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça, tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus
irmãos” (Lucas 22.32). Essas palavras referem-se
especificamente a Pedro, à sua negação de Cristo e
sua conversão...
É totalmente contrário ao sentido original da
passagem... encontrar nela uma promessa de
infalibilidade futura a uma sucessão de papas... Até o
final do século XVII nenhum escritor sonharia com tal
interpretação; todos eles, sem exceção – num total de
18 – explicam-na apenas como uma oração de Cristo
para que o seu apóstolo não sucumbisse e perdesse
inteiramente a sua fé na prova que teria de enfrentar
em breve.[7]

Muitos outros eminentes historiadores e


teólogos católicos poderiam ser citados do mesmo
modo. Peter de Rosa acrescenta sua própria visão:
De acordo com os Pais [da Igreja], Pedro não tinha
sucessor algum. Eles viam todos os bispos como
sucessores dos apóstolos, não um bispo sucedendo um
apóstolo apenas, neste caso, Pedro. Logo, eles não
poderiam sequer ter aceito a alegação de que “o
sucessor de Pedro” deveria dirigir a Sé em Roma.
Também já vimos que todas as declarações de
doutrina, especialmente os credos, não vieram dos
papas, mas dos concílios. Nos primeiros séculos jamais
ocorreu aos bispos de Roma que eles pudessem definir
doutrinas para toda a Igreja.[8]

Pedras Instáveis
Depois de ter prometido a Cristo na última ceia
que preferia morrer a negá-lo, Pedro fez exatamente
o contrário. “Então, começou ele a praguejar e a
jurar: Não conheço esse homem!” (Mateus 26.74).
Essa é uma negação completa do próprio Cristo e do
cristianismo como um todo. Pedro era uma “pedra”
muito instável para Cristo ter construído sobre ele a
sua Igreja! Porém seus supostos sucessores foram
culpados de coisas ainda piores.
Já mencionamos uma porção deles.
Consideremos brevemente mais um exemplo: o papa
Júlio II (1503-1513), sifilítico e infame mulherengo,
pai de inúmeros bastardos. Ele comprou sua posição
no papado. Durante a Quaresma, enquanto os bons
católicos faziam dietas rigorosas, ele se deleitava
com ricas iguarias. Usando sua armadura, Júlio
muitas vezes conduziu pessoalmente seus exércitos
para a conquista de cidades e territórios, com o
objetivo de expandir os Estados papais. Como
poderia ser ele o vigário de Cristo, que afirmou que
o Seu reino não era deste mundo e que por isso os
Seus súditos não lutariam? Dizer tal coisa é zombar
de Cristo e de Seus ensinos.
Sucessores de Imperadores
Lembre-se que nos primeiros tempos da Igreja
a infalibilidade não era atribuída ao bispo de Roma,
mas ao seu superior, o imperador. O papa Leão I
(440-461), por exemplo, concedeu a um imperador
incrédulo a mesma infalibilidade que Pio IX
persuadiu os membros do Vaticano I a declararem
ter sido sempre o poder exclusivo dos papas. Leão I
disse: “Pela inspiração do Espírito Santo o
imperador não necessita de instrução humana e é
incapaz de cometer erros doutrinários”.[9]
O rasgado louvor que transcrevemos a seguir
soa como aquele que hoje é dado aos papas, mas
trata-se de um discurso de Eusébio, honrando o
imperador pagão Constantino depois que este
assumiu a liderança da Igreja:
Deixemos, então, que apenas o Imperador... seja
declarado digno... livre... estando acima da sede de
riquezas, superior ao desejo sexual... que dominou as
paixões que sobrecarregam o restante dos homens;
cujo caráter é formado conforme o original divino do
Supremo Soberano, e cuja mente reflete, como num
espelho, a radiação de Suas virtudes. Além disso, o
nosso imperador é perfeito em prudência, bondade,
justiça, coragem, piedade, devoção a Deus...”[10]

Esse louvor era apenas para o imperador, que


o colocava acima do bispo de Roma, o qual lhe era
subordinado. Assim, Constantino chamou a si
mesmo “bispo dos bispos”. Hoje os papas que
ostentam os títulos de Constantino e desfrutam de
suas regalias são seus legítimos sucessores e não os
sucessores de Pedro. O historiador Will Durant
mostra que “durante a duração de seu reinado, ele
[Constantino] tratava seus bispos como auxiliares
políticos; os convocava, presidia seus Concílios e
concordava em apoiar qualquer opinião que a sua
maioria formulasse”.[11]
A doutrina nada significava para Constantino –
apenas que os bispos deveriam concordar com ele
pelo bem da unidade imperial. Peter de Rosa cita um
bispo do século IV: “A Igreja [naquele tempo] fazia
parte do Estado”. Ele continua explicando:
Mesmo o bispo de Roma – que não foi chamado de
“papa” por muitos séculos – era, em comparação [com
Constantino], uma pessoa sem importância. Em
termos civis, era um vassalo do imperador; em termos
espirituais, quando comparado a Constantino, era um
bispo de segunda classe...
Não o papa, mas ele [Constantino], assim como Carlos
Magno mais tarde, era o cabeça da Igreja, sua fonte
de unidade, diante de quem o bispo de Roma tinha de
se prostrar e declarar lealdade. Todos os bispos
concordavam que ele [o Imperador] era o “oráculo
inspirado da sabedoria da Igreja”.
Portanto, era Constantino e não o bispo de Roma
quem ditava o tempo e o local dos sínodos da Igreja e
até mesmo estipulava como os votos seriam dados.
Sem a sua aprovação, eles não seriam legalizados; ele
era o único legislador do Império.[12]

A Herança Pagã do Papado


A idéia de um Concílio da Igreja foi inventada
por Constantino, o qual, apesar de sua professa
“conversão” a Cristo, continuou sendo pagão. Ele
jamais renunciou à sua lealdade aos deuses pagãos,
jamais aboliu o altar pagão de Vitória, no Senado,
nem o das virgens Vestais; e o deus-Sol, não Cristo,
continuou a ser honrado nas moedas imperiais. Ele
só foi batizado pouco antes de sua morte, e mesmo
assim, por Eusébio, um sacerdote ariano herege.
Durant nos revela que durante toda sua vida “cristã”
Constantino usava tanto os ritos pagãos como os
cristãos e continuava a confiar em “fórmulas
mágicas para proteger as colheitas e curar doenças”.
[13]
O fato de Constantino ter assassinado todos os
que pleiteavam o seu trono [notoriamente seu filho
Crispo, um sobrinho e um cunhado] é uma
evidência ainda maior que sua “conversão” ao
cristianismo era, como têm sugerido os
historiadores, uma astuta manobra política. O
historiador e padre católico Philip Hughes nos
lembra: “Em seus atos, ele [Constantino]
permaneceu sendo até o final de sua vida o mesmo
pagão de sempre. Seus ataques de fúria, a crueldade
que, uma vez despertada, não poupava nem a vida
de suas esposas e filhos, são... um desagradável
testemunho da imperfeição de sua conversão”.[14]
Os três filhos “cristãos” de Constantino
(Constantino II, Constâncio II e Constanço),
asseguraram, após a morte de seu pai, a posse de
suas regiões separadas do império depois de um
massacre implacável da família. Eles conseguiram
levar a “cristianização” do Império a um patamar
ainda maior. Foram eles, (e não Pedro) os
antecessores dos papas da atualidade.
Como já foi dito, Constantino convocou,
estabeleceu o que seria discutido, fez o discurso de
abertura e desempenhou um papel proeminente no
primeiro Concílio Ecumênico da Igreja, o Concílio
de Nicéia, e também em uma porção de concílios,
assim como faria Carlos Magno, 500 anos depois.
Tendo em vista que os imperadores convocavam os
concílios, não é de admirar que nenhum dos que
foram realizados nos primeiros 1000 anos tenha
reconhecido o bispo de Roma como cabeça da
Igreja.
Cristo exemplificou a humildade e serviço aos
outros. Ele disse aos Seus discípulos: “Os reis dos
povos dominam sobre eles, e os que exercem
autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não
sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja
como o menor; e aquele que dirige seja como o que
serve” (Lucas 22.25-26). Esquecendo essa
admoestação, os papas imitaram os imperadores
pagãos, de quem herdaram sua posição e poder.
Cristo também condenou a posição autoritária
exercida pelos rabinos em Seus dias. Suas palavras
aos líderes da religião judaica são deveras
apropriadas à hierarquia católica romana:
“Amam o primeiro lugar nos banquetes e as
primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações
nas praças e o serem chamados mestres pelos
homens. Vós, porém, não sereis chamados mestres,
porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois
irmãos. A ninguém sobre a terra chameis vosso
pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos
céus...
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas,
porque sois semelhantes aos sepulcros caiados,
que, por fora, se mostram belos, mas interiormente
estão cheios de ossos de mortos e de toda
imundícia... por dentro, estais cheios de hipocrisia
e de iniqüidade” (Mateus 23.6-9; 27-28).
CAPÍTULO 12

A Mãe Profana
“Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério:
BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E
ABOMINAÇÕES...”

– Apo ca lip se 17.5

A leitura da história do celibato é tão negra... Em grande parte é


a história da degradação das mulheres... Ivo de Chartres (1040-
1115) nos fala sobre conventos inteiros cheios de mulheres, que
eram freiras só no nome... [mas], na verdade, eram prostitutas.

– Peter de Rosa em Vicars of Christ [Vigários de Cristo]

As recentes revelações da grande incidência de conduta sexual


indevida por parte de certos membros do clero católico romano
não constituem surpresa alguma para a maioria de nós, que já
fomos padres ou freiras.

– a ex-freira Patrícia Nolan Savas, no jornal US Today[1]


Que não haja mal entendido: não estamos
sugerindo que os papas, sacerdotes e freiras
católicos tenham herdado uma tendência maior à
promiscuidade do que o resto da humanidade.
Nossos corações são todos iguais. Muitos deles, sem
dúvida, no início tinham altas aspirações morais e
espirituais e com essa disposição dedicaram-se ao
que eles realmente desejavam que fosse uma vida de
pureza e devoção a Cristo. Foi o sistema do
privilégio, poder e autoridade hierárquicos sobre o
laicato que os perverteu e destruiu.
Esse sistema, como vimos, foi se consolidando
através dos séculos pela luxúria e ganância dos
papas, cuja propensão natural para o mal (inato em
todos nós) manifestou-se através das oportunidades
incomuns que seu ofício lhes oferecia. Para
aumentar seu poder eles emitiram uma grande
quantidade de documentos falsos, que eram
supostos escritos dos Pais da Igreja e decretos de
sínodos antigos. Um dos temas egoístas dessas
falsificações era a alegação de que os papas haviam
herdado “a inocência e a santidade de Pedro” e não
podiam ser julgados por homem algum. Von
Dollinger escreve:
Um dito atribuído a Constantino, no Concílio de Nicéia,
numa lenda registrada por Rufino, foi amplificado até
se transformar numa verdadeira mina de pretensões e
ambições. Constantino, conforme essa fábula, quando
as acusações mútuas de bispos eram postas diante
dele, ateava fogo a elas, dizendo... que os bispos eram
deuses e ninguém podia se atrever a julgá-los.[2]

Se alguém está no mesmo nível dos deuses,


que privilégios essa pessoa deixaria de exigir? Os
deuses estão acima da lei. Portanto, não é de
admirar que os papas tenham começado a declarar
abertamente que tinham poder sobre os reis e seus
reinos, sobre todas as pessoas e que eram
suficientemente poderosos para se comportarem
como tiranos. Aliada a isso estava a pretensa
infalibilidade, o que só fez as coisas piorarem.
Todos os padres e freiras compartilham por
associação (embora em grau menor) desse mesmo
absolutismo corrupto e de superioridade sobre o
laicato. Adicione-se a essa pretensa autoridade
“quase divina” a regra antinatural do celibato (um
jugo intolerável que só uma pequena minoria
conseguia suportar) e fica tudo pronto para que
surja toda sorte de mal. Um historiador católico
sincero escreveu:
O fato é que o celibato dos padres poucas vezes deu
certo. Na visão de alguns historiadores, ele tem
causado mais prejuízos morais do que qualquer outra
instituição no Ocidente, incluindo a prostituição...
A prova dos danos causados pelo celibato não procede
de fontes anticatólicas fanáticas, pelo contrário, inclui
documentos papais e conciliares e cartas de santos
reformadores. Todos eles apontam numa direção:
longe de ser uma candeia acesa no mundo ímpio, o
celibato dos padres tem sido uma mancha no nome do
cristianismo.[3]

Raízes e Frutos do Celibato


Deve-se entender que o celibato forçado não é
ensinado na Bíblia e tampouco foi praticado pelos
apóstolos. Tal ensino acabou se desenvolvendo e
tornou-se parte integrante do sistema papal que
surgia e foi gradualmente tornando-se essencial ao
mesmo. O objetivo não foi a moralidade, pois o
celibato provou ser uma fonte incessante de
maldade. De fato, a regra do celibato não foi a
proibição do sexo, mas sim do casamento. O papa
Alexandre II (1061-1073), por exemplo, recusou-se
a disciplinar um padre que havia cometido adultério
com a segunda esposa de seu pai porque não havia
cometido o pecado do matrimônio. Es se era o
grande mal que precisava ser eliminado para que o
sacerdócio se devotasse totalmente à Igreja.
Em toda a história, não apenas sacerdotes e
prelados, mas também os papas, tiveram amantes e
se encontravam com prostitutas. Muitos eram
homossexuais. Jamais um membro do clero foi
excomungado por praticar sexo, mas milhares foram
expulsos do sacerdócio pelo escândalo de terem se
casado. Por que, então, a insistência sobre o
celibato, até o dia de hoje, se ele realmente não leva
à abstinência sexual? É porque o celibato tem um
resultado muito prático e lucrativo para a Igreja:
deixa os padres, e especialmente os bispos e papas
sem famílias a quem legar as propriedades, o que
empobreceria a Igreja. O clérigo não pode ter
herdeiros.
O papa Gregório VII, lamentando a dificuldade
em acabar com o casamento dos padres, declarou:
“A Igreja não pode escapar das garras do laicato a
não ser que primeiro os padres escapem das garras
de suas esposas”. Aqui está mais uma razão vital
para o celibato: criar um sacerdócio sem a
incumbência (e lealdade amorosa) de esposas e
filhos. Assim a fornicação e o adultério, embora
proibidos na teoria, eram preferíveis à relação
matrimonial. R. W. Thompson , historiador do
século XIX, explica:
Era considerado absolutamente necessário para o
perfeito funcionamento do sistema papal que fosse
organizado um compacto corpo de eclesiásticos,
destituídos de todas as generosas afinidades que
surgem na relação familiar, para que pudessem
dedicar-se melhor ao serviço dos papas...[4]

Embora naqueles primeiros tempos fosse


permitido aos homens casados o ingresso no
sacerdócio, exigia-se que levassem uma vida
celibatária. O papa Leão I (440-461) decretou que
os clérigos casados deveriam tratar suas esposas
“como irmãs”. Poucos, ou quase nenhum dos
católicos, se dão conta que até os idos do reinado do
papa Gregório VII (1073-1085) era aceito que os
padres fossem casados e vivessem supostamente em
celibato com suas esposas.
Tal exigência era tanto antinatural quanto
irrealista. Quem seria capaz de cumprir tais regras?
Por toda a Itália os clérigos possuíam abertamente
grandes famílias e nenhuma disciplina era imposta
sobre eles. Além do mais, muitos papas tinham
grandes famílias e muitas vezes nem faziam segredo
disso. Peter de Rosa comenta:
Essa confusão teológica numa era de depravação levou
o clero, em particular na Roma do século V, a tornar-se
um sinônimo de tudo que era obsceno e pervertido...
Quando o papa Sisto III (432-440) foi levado a
julgamento por seduzir uma freira, ele se defendeu
habilmente citando as palavras de Cristo: “Aquele que
dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe
atire pedra” [João 8.7].
...monges ambulantes tornavam-se uma ameaça social
...houve longos períodos em que muitos monastérios
nada mais eram do que casas de má fama... O
Segundo Concílio de Tours no ano de 567...admitiu
publicamente que dificilmente podia ser encontrado
algum clérigo que não tivesse uma esposa ou
amante...[5]

Um Sistema Feito Para a


Prostituição
Durante séculos o sacerdócio foi quase
totalmente hereditário. Muitos padres eram os filhos
de outros padres e bispos. Mais de um papa era filho
ilegítimo de um papa anterior, supostamente
celibatário. Por exemplo, o papa Silvério (536-537)
era filho do papa Hormisdas (514-523) e João XI
(931-935) era filho de Sérgio III (904-911) e de sua
amante favorita, Morósia, à qual já nos referimos
antes.
Entre os outros bastardos que dirigiram a Igreja
estavam os papas Bonifácio I (418-422), Gelásio
(492-496), Agapito (535-536) e Teodoro (642-649).
E havia outros. Adriano IV (1154-1159) era filho de
um padre. Não é de admirar que o papa Pio II
(1458-1464) tenha dito que Roma era a “única
cidade dirigida por bastardos”. O próprio Pio II
admitia ser o pai de pelo menos duas crianças
ilegítimas, com mulheres diferentes, uma das quais
era casada. A regra do celibato literalmente criou
prostitutas, tornando Roma “A Mãe das
Meretrizes”, como o apóstolo João previu
(Apocalipse 17.5).
Em seus sermões inflamados, Savonarola de
Florença (que logo seria martirizado), chamava
Roma de “uma prostituta pronta a vender os seus
serviços por uma moeda”[6] e acusou os padres de
trazerem “morte espiritual sobre todos... a piedade
deles consiste em passar as noites com prostitutas”.
Ele gritava: “mil, dez mil, quatorze mil prostitutas
são poucas em Roma, pois lá, tanto homens como
mulheres se entregam à prostituição”.[7]
O papa Alexandre VI ameaçou colocar a
cidade de Florença “sob interdição” caso Savonarola
não fosse silenciado. Os cidadãos florentinos
obedeceram, com medo de que, como resultado da
interdição, todos “os comerciantes florentinos de
Roma fossem atirados na prisão”.[8] O papa queria
que Savonarola fosse levado a Roma para
julgamento como herege, mas os senhores de
Florença queriam executá-lo pessoalmente. Depois
de assinar confissões que lhe foram arrancadas
através das torturas mais cruéis, Savonarola,
juntamente com dois frades amigos seus, foram
enforcados e queimados.[9] Mesmo assim, aquele
homem que pregou contra a imoralidade dos líderes
da Igreja e foi assassinado por católicos romanos
agora é homenageado pelo Vaticano como “um
gigante de nossa fé, martirizado no dia 23 de maio
de 1498”.[10] Que estranha revisão da história!
Visitando a Alemanha no século VIII, São
Bonifácio descobriu que nenhum dos clérigos
honrava os votos de celibato. Ele escreveu ao papa
Zacarias (741-752): “Jovens que passavam sua
juventude praticando estupros e adultério estavam
aumentando as fileiras do clero. Eles passavam as
noites na cama com quatro ou cinco mulheres, e de
manhã se levantavam... para celebrar a missa”. O
bispo Ratúrio lamentava que, se fossem
excomungados os padres que não mantiveram a
castidade, “não ficaria um só para administrar os
sacramentos, exceto os meninos. Se ele excluísse os
bastardos, como exigia a Lei Canônica, nem mesmo
os meninos [seriam deixados].[11]
Até mesmo os idealistas tornavam-se crápulas
sem princípios, porque o sacerdócio era uma das
maneiras mais seguras e rápidas de se conseguir
riqueza e poder, e oferecia oportunidades únicas
para os prazeres mais depravados. O papa João
Paulo II, em sua encíclica Veritatis Splendor
[Esplendor da Verdade], condena veementemente a
promiscuidade. Devia-se respeitar tal declaração, se
ele admitisse que os seus predecessores no papado
foram os piores ofensores; que os clérigos, por não
poderem casar, tornaram-se mais dissolutos em
matéria de relacionamentos do que os leigos; e que a
promiscuidade ainda continua espalhada entre o
clero católico romano. Caso contrário o Esplendor
da Verdade soa falso.

Vigários de Cristo?
João XII (955-964), a quem nos referimos
antes, tornou-se papa aos 16 anos de idade. Ele
mantinha um harém no palácio de Latrão, e viveu
uma vida de maldade que ultrapassa a imaginação,
chegando até mesmo a fazer um brinde ao Diabo
diante do altar de São Pedro. Líder espiritual da
Igreja durante oito anos, João XII dormia com sua
mãe e qualquer outra mulher que pudesse ter à mão.
As mulheres eram admoestadas a não se aproximar
da Igreja de São João de Latrão. Liutprand escreveu
sobre esse homem em seu diário:
O papa João é inimigo de todas as coisas... O palácio
de Latrão, que uma vez abrigava os santos e agora é
um bordel de prostitutas, jamais esquecerá sua união
com a dama de seu pai, irmã de Estefânia, outra
concubina...
Mulheres... temem vir orar nos altares dos santos
apóstolos, pois sabem que há pouco tempo atrás João
agarrou peregrinas e forçou esposas, viúvas e também
virgens a irem para a cama com ele...[12]

O registro de São Pedro Damião, feito no


século XI, sobre os males incríveis causados pela
exigência do celibato era uma leitura tão escandalosa
que o papa, com quem ele compartilhou seu texto,
simplesmente guardou-o nos arquivos papais. Esse
documento, na verdade, prova que “a depravação
entre o clero naquele tempo era universal. Após seis
séculos de esforços extenuantes para a imposição do
celibato, o clero tornou-se uma ameaça para as
esposas e mulheres jovens das paróquias para onde
eram enviados”.[13]
O papa Inocêncio IV (1243-1254), forçado a
abandonar Roma pelo Imperador Frederico II,
conseguiu refúgio com a sua Cúria em Lyon,
França. Com o regresso do papa a Roma, após a
morte de Frederico, o cardeal Hugo escreveu uma
carta agradecendo ao povo de Lyon. Ele os lembrou
de que também tinham um débito com o papa e sua
corte. Sua observação dá uma pequena revelação da
desavergonhada depravação que imperava na corte
papal:
Durante nossa estada em sua cidade nós [a Cúria
Romana] fomos de caridosa assistência com vocês. Em
nossa chegada encontramos apenas três ou quatro
irmãs das quais podíamos comprar o amor, enquanto
em nossa despedida, para assim dizer, deixamos à sua
disposição um bordel que se estende desde o portão
ocidental até o oriental.[14]

A Obrigação do Celibato
O celibato era praticamente desconhecido na
Inglaterra, até que finalmente acabou sendo imposto
por Inocêncio IV, por volta de 1250. Muitos padres
ingleses eram casados, uma prática há muito aceita
pela Igreja. Mas Roma determinou que teria de pôr
fim à devoção à família de todos os padres e freiras;
sua lealdade agora deveria ser somente à santa
Madre Igreja e ao papa. R. W. Thompson explica
porque o celibato tornou-se obrigatório na
Inglaterra:
Desde que foi introduzido, o celibato do clero romano
tem sido considerado um dos meios mais efetivos de
estabelecer a supremacia dos papas; por isso foi feita
a tentativa de introduzi-lo na Inglaterra, após a
conquista normanda.[15]

O papa Honório II (1124-1130) enviou o


cardeal João de Crema à Inglaterra para ver se o seu
decreto contra o casamento dos padres fora
obedecido. O cardeal juntou os clérigos mais antigos
e criticou-os veementemente por sua má conduta,
declarando que “era um crime acordar pela manhã
ao lado de uma prostituta, e em seguida segurar o
corpo consagrado de Cristo”. Entretanto, o clero a
quem ele estava pregando, acabou por surpreendê-lo
em seu quarto, tarde da noite, na cama com uma das
prostitutas locais.[16] Mas, pelo menos, o cardeal
não era casado.
No século XIII, São Boaventura, cardeal e
general dos franciscanos, havia dito que Roma era
igual à prostituta de Apocalipse, exatamente como
João havia previsto, e conforme veria Lutero, para
sua tristeza, três séculos mais tarde. O papa
Bonifácio VIII (1294-1303) não hesitava em ter
tanto a mãe como a filha como suas amantes ao
mesmo tempo. A visita que Lutero fez a Roma
completou sua crescente desilusão com a Igreja.
No século XIV a Igreja havia perdido toda a
credibilidade como exemplo de vida cristã. O
cinismo era rompante. Não era segredo que João
XXII (1316-1334) tinha um filho que chegou a ser
cardeal. Assim como Lutero, João Colet, da
Inglaterra, ficou chocado com a impiedade
desavergonhada do papa e dos cardeais quando
visitou Roma. Do púlpito da catedral de São Paulo
em Londres, da qual era o deão, Colet expressou
sua desaprovação:
Ó, a abominável impiedade destes padres miseráveis,
os quais esta época tem em abundância, eles não
temem sair do lado de alguma prostituta vulgar para
adentrar o templo da Igreja, para os altares de Cristo,
para os mistérios de Deus![17]
A Vida na Corte papal
Por muitos anos existiu um ditado popular que
dizia: “Roma tem mais prostitutas do que qualquer
outra cidade no mundo porque ela tem mais
celibatários”. O papa Sisto IV (1471-1484)
transformou esse fato em fonte de considerável
lucro, taxando os inúmeros bordéis com um imposto
para a Igreja. Dessa maneira ele conseguiu mais
riqueza ainda, impondo uma taxa sobre as amantes
mantidas pelos padres. Will Durant registra:
Havia 6.800 prostitutas registradas em Roma em
1490, sem contar as praticantes clandestinas, numa
população média de 90.000 habitantes. Em Veneza, o
censo de 1509 registrou 11.654 prostitutas numa
população média de 300.000 habitantes. Foi produzido
de forma rudimentar um “catálogo de todas as
principais e mais honradas cortesãs de Veneza, com
seus nomes, endereços e taxas”.[18]

Ao se tornar o papa Alexandre VI (1492-


1503), Rodrigo Bórgia, que havia cometido seu
primeiro assassinato aos 12 anos de idade, gritava
triunfantemente: “Eu sou papa, pontífice, vigário de
Cristo!” Gibbon o chama de “o Tibério da Roma
cristã”. Embora poucas vezes fingiu ser cristão, era,
como todos os papas, profundamente devotado a
Maria. Sobre ele um erudito importante de Florença
escreveu:
Sua maneira de viver era dissoluta. Ele não conhecia
vergonha nem sinceridade, nem fé, nem religião. Além
do mais, estava possuído de uma avareza insaciável,
uma ambição ostensiva e uma paixão abrasadora pelo
progresso de seus muitos filhos que, a fim de obedecer
a seus iníquos decretos, não hesitavam em empregar
os meios mais hediondos.[19]

Assim como seu antecessor, o papa Inocêncio


VIII (1484-1492), Bórgia, sendo um pai carinhoso,
reconhecia os que eram seus filhos, batizava-os
pessoalmente, dava-lhes a melhor educação e
oficiava orgulhosamente seus casamentos no
Vaticano. Tais cerimônias eram assistidas pelas
proeminentes famílias de Roma. Alexandre VI tinha
dez filhos ilegítimos reconhecidos, quatro deles
(incluindo os notórios César e Lucrécia), eram filhos
de Vanozza Catanei, sua amante favorita. Quando
Vanozza faleceu, Bórgia, então com 58 anos, tomou
Giulia Farnese, uma jovem recém-casada de 15 anos
de idade. Ela conseguiu que seu irmão fosse oficiado
cardeal (que ficou conhecido posteriormente como o
“cardeal de saias”). Este irmão de Giulia mais tarde
tornou-se o papa Paulo III (1534-1549) e convocou
o Concílio de Trento para enfrentar a Reforma.

O Registro na Arte e na
Arquitetura
A promiscuidade dos papas tem sido
imortalizada nas próprias estruturas e estátuas que
decoram o Vaticano, a basílica de São Pedro e
outras igrejas e basílicas famosas de Roma. A
magnífica capela Sistina, por exemplo, foi
construída e depois nomeada em homenagem a
Sisto IV, que taxava os outros por manterem
amantes, mas nada pagava pelas suas. É nesse local
que os cardeais se reúnem para eleger o próximo
papa. Cerca de 200 metros acima deles, o imenso
teto exibe o incrível trabalho artístico de
Miquelangelo.
Os visitantes, que se admiram ao vê-la, não
sabem que aquela hoje considerada a maior obra de
arte do mundo, foi encomendada por Júlio II (1503-
1513), que comprou o papado por uma fortuna e
nem mesmo fingia ser religioso, muito menos
cristão. Ele era um notório mulherengo, pai de uma
porção de bastardos e estava tão carcomido pela
sífilis que não podia expor seus pés para serem
beijados. Assim, a capela Sistina permanece como
um dos muitos monumentos de Roma que
demonstram que a Igreja Católica possui e exibe
orgulhosamente o título de “Mãe das Meretrizes”,
como João havia profetizado.
Conhecida como a mais importante igreja cristã
ocidental dedicada a Maria, Santa Maria Maggiore é
o fruto de esforços combinados de uma porção de
papas promíscuos. Sisto III (432-440), outro notório
mulherengo, construiu a estrutura principal. O “teto
de madeira dourada sobre a nave ficou sob os
cuidados do papa Alexandre VI, o Bórgia (1492-
1503)”[20], que pagou por ela com ouro procedente
da América, recebido como um presente de
Fernando e Isabel da Espanha, a quem ele havia
entregado o Novo Mundo. A incrível maldade de
Bórgia, inclusive seu apreço pela tortura, suas
amantes e seus filhos ilegítimos, foram mencionados
abreviadamente. Ele “desencadeou a primeira
censura aos livros impressos... o Index, que [durou]
mais de 400 anos”.[21]
No interior da Basílica de São Pedro o
monumento sepulcral do papa Paulo III (1534-1549)
é adornado com figuras femininas reclinadas. Uma
figura, representando a Justiça, permaneceu despida
por 300 anos, até que Pio IX mandou pintar roupas
sobre ela. Quem lhe serviu de modelo foi a irmã de
Paulo II, Giulia, a amante de Alexandre VI. Desse
modo foi imortalizada a promiscuidade dos papas
“celibatários”.

A Tolerância Antibíblica
Atual
A grande imoralidade entre os clérigos católicos
romanos não está confinada ao passado, mas ainda
hoje continua ocorrendo em grande escala. Nos dias
dos apóstolos, tal maldade era rara e podia ser causa
para excomunhão. Os fiéis não deviam sequer
associar-se aos fornicadores (1 Coríntios 5.8,9) que
afirmassem ser cristãos, de modo que o mundo
soubesse que tal conduta era condenada pela Igreja e
por todos os discípulos de Cristo. Sobre um homem
promíscuo em Corinto, Paulo escreveu à Igreja:
“...Expulsai [excomungai], pois, de entre vós, o
malfeitor” (v. 13).
Mesmo assim, inúmeros papas, cardeais, bispos
e padres têm sido habituais fornicadores, adúlteros,
homossexuais e genocidas – injustos e depravados
vilões que continuaram seus estilos de vida
degenerados, imunes à disciplina. Longe de serem
excomungados, esses papas figuram orgulhosamente
na lista dos papas do passado, os “vigários de
Cristo”. Hoje, um padre que se envolve em conduta
sexual indevida raramente é destituído do sacerdócio
ou excomungado da Igreja. Em vez disso é
transferido para outro lugar e talvez receba
aconselhamento psicológico. Os padres considerados
curados por esses centros de tratamento (...) têm
sido transferidos para outras paróquias, apenas para
abusar de novas vítimas.[22]
Enquanto Roma condena oficialmente a
fornicação, milhares de seus sacerdotes praticam
sexo fora do casamento. Um jornal católico
americano registrou: “Sete mulheres francesas...
companheiras de padres que... são forçadas a viver a
vida inteira ‘de forma clandestina’ o amor que elas
compartilham com um padre [e que] representam
milhares de mulheres em relacionamentos
semelhantes... chegaram ao Vaticano no dia 20 de
agosto de 1994. Elas pediram que o papa... levasse
em conta a realidade enfrentada pelas companheiras
de ‘milhares de padres’ que vivem escondidas,
muitas vezes com a aprovação dos superiores da
Igreja, e pelos filhos que... são criados apenas por
suas mães sozinhas ou são abandonados”.[23]
A fraude e a hipocrisia persistem. A ex-freira
Patricia Nolan Savas, autora de Gus: a Nun’s Story
[Gus: a História de Uma Freira] escreve:
Durante meus dez anos como irmã Augusta...
testemunhei situações que iam de comprometedoras a
aberrantes... Na teoria, pelas regras éramos proibidas
de sequer tocar noutra pessoa, homem ou mulher.
“Amizades particulares”, consideradas uma séria
violação ao voto de castidade, deviam ser evitadas a
todo custo. E o custo da sexualidade imposta e da
negação do corpo era sempre alto e muitas vezes
trágico.
Com exceção de alguns seletos eunucos, muitos dos
padres e freiras que conheci acabavam rejeitando essa
carga intolerável e, ou abandonavam a vida religiosa
juntos, ou estabeleciam suas ligações com
companheiros de clero ou com estranhos.
Havia algumas valorosas, que prosseguiam em suas
tentativas sérias de matar a carne e, muitas vezes,
caíam vítimas de sérias desordens psicogênicas.
Algumas continuam seriamente prejudicadas na mente
e no corpo, seqüestradas em instituições referidas
como “retiros” ou outro eufemismo qualquer. Um
trágico número tornou-se alcoólatra e em silêncio
beberam até morrer.
A causa principal desse absurdo desperdício de vidas?
O celibato – um estado virtuoso quando aceito
livremente, mas um peso esmagador quando imposto
como dogma sobre todo o clero, como foi pela Igreja
Católica Romana, nove séculos atrás.[24]

Nos idos de 1994, “Terence German, de 51


anos, [um ex-sacerdote jesuíta] deu entrada na
Suprema Corte do estado de Nova Iorque em um
processo, no valor 120 milhões de dólares, contra a
Igreja, o papa João Paulo II e o cardeal John
O’Connor”. Ele os acusava de “fechar os olhos aos
seus repetidos apelos sobre a má conduta sexual de
outros padres e o uso indevido dos fundos da
Igreja”. A queixa formal de German explica que:
Ele desistira de todos os seus ”bens terrenos” quando
fez seus votos em 1964, em troca da promessa de que
a Igreja cuidaria dele até a morte. A subliminar
condição era de que “vivesse guiado pelos princípios
estabelecidos... pela Igreja Católica Romana... A Igreja
– por concordar com má conduta sexual e financeira –
descumpriu sua parte nos princípios estabelecidos... a
Igreja não estava impondo suas próprias regras, de
modo que [eu não] podia viver conforme as regras da
Igreja... com gente roubando e tendo relações sexuais
com garotos”.[25]

Hoje os fornicadores “celibatários”, pedófilos e


pervertidos são quase sempre transferidos em
silêncio. Em suas novas paróquias eles continuam a
celebrar missas e a desempenhar funções
sacerdotais. Se cometessem o pecado muito mais
sério, que é casar, seriam proibidos de continuar
sendo sacerdotes.
Finalmente Expostos
A má conduta dos clérigos católicos romanos
do século XX, encoberta durante décadas, agora
está sendo exposta. Um crescente número de vítimas
está agora processando a Igreja. Uma quantia
estimada em um bilhão de dólares já foi paga pela
Igreja até agora, nos Estados Unidos, em acordos
fora dos tribunais. A arquidiocese de Santa Fé,
Novo México, está à beira da bancarrota por causa
de aproximadamente 50 processos contra os quais
agora está se defendendo. “Acredita-se que mais de
45 padres cometeram abuso [sexual] contra 200
pessoas, num período de 30 anos”.[26] E Santa Fé
não é a única área onde a Igreja enfrenta esse tipo
de processos. Em 1994, a arquidiocese de Chicago
provavelmente pagou mais do que os 2,8 milhões de
dólares gastos em acordos no ano anterior. O
problema está se espalhando.
O Seminário Franciscano em Santa Bárbara,
Califórnia, foi fechado por causa de envolvimento
sexual da maioria de seus padres com estudantes.
Em todos os Estados Unidos as mulheres que
entraram com processos de paternidade têm sustento
pago pela Igreja “em troca de manterem silêncio
sobre a paternidade”.[27] Nos casos da arquidiocese
de Santa Fé, as 12 companhias de seguros da qual
ela tinha apólices, inclusive a Lloyds de Londres,
recusaram-se a pagar pelas queixas. Elas
argumentam que “não deveriam pagar porque os
responsáveis da diocese continuam a dar cargos
paroquiais a padres com história de abuso sexual”.
[28]
Organizações com mais de 15 anos de
existência, como a Good Tidings, que auxiliam
padres e mulheres que estão envolvidos
sexualmente, têm se expandido por todo o mundo.
A Good Tidings, com sede em Canadensis,
Pensilvânia, tem ramificações no Canadá, Austrália
e Inglaterra. Ela está “desenvolvendo laços com
organizações congêneres em outros países,
esperando criar uma federação que apresente uma
frente unida à Igreja de Roma, que tem tratado as
ligações sexuais entre padres e mulheres como um
problema meramente americano”. Muitos padres
“apresentam padrões de repetidos envolvimentos
com mulheres”. Algumas das suas amantes
consideram-se casadas “de coração, se não
legalmente” e alguns relacionamentos chegam a ser
“matrimônios conforme a lei...” Mas, “quando
chega a responsabilidade de um filho, o sacerdote
desaparece”.[29]
Hipocrisia Desavergonhada
A insistência da Igreja na exigência antinatural e
impraticável do celibato tem conduzido a um
sacerdócio de hipócritas que professam uma coisa e
vivem outra. De acordo com o National Catholic
Reporter, cerca de “10 % dos padres confirmam a
aproximação sexual de outro padre enquanto
estavam em treinamento... os diretores espirituais,
mestres de noviços, professores de seminários
seguidamente introduzem o contato sexual em seu
ofício espiritual”.[30]
Os bispos do Canadá Ocidental, visitando
Roma em setembro de 1993, pediram ao papa,
numa série de encontros, para “conceder uma
exceção nos campos culturais e permitir padres
casados entre os povos Inuit e Dene, do norte do
Canadá”. O papa foi educado, mas inflexível. Esses
15 séculos de “infalibilidade” não podem ser
mudados tão facilmente![31]
Nos dias 12 e 13 de agosto de 1993, a abadia
de São João em Collegeville, Minnesota, foi a cena
de uma conferência que marcou época. O tema era
“O Trauma Sexual e a Igreja”, promovida por dois
beneditinos, o abade Timothy Kelly e padre Dietrich
Reinhart, reitor da Universidade Saint John. Alguns
protestantes também se envolveram. Dominados
pela pesquisa em busca de soluções psicológicas ao
invés das espirituais, os participantes incluíam
psicólogos e psiquiatras, tais como o padre jesuíta
James Gill, psiquiatra e editor do periódico Human
Development [Desenvolvimento Humano].
Os conferencistas observaram que os números
precisos de casos de abuso sexual não se encontram
disponíveis devido à completa supressão dessas
informações por parte da Igreja. Um advogado
canônico, padre Thomas Doyle, co-autor do
relatório sobre o abuso sexual entre o clero
conhecido como “Doyle-Moulton-Peterson”,
publicado em 1985, estimou que em 1990, dos 50
mil padres americanos, três mil estariam “envolvidos
sexualmente com menores”. O relatório estima que
“o número de padres que se envolvem sexualmente
com mulheres era quatro vezes maior que os
sacerdotes que se envolvem com homens e duas
vezes maior dos que estão envolvidos com
crianças”.[32] A situação está fora de controle,
como já ocorre há séculos. Ao deixar o sacerdócio,
no século XIX, William Hogan escreveu sobre os
seus companheiros de clero:
Lamento dizer que, pelo que conheço deles, desde a
minha infância até o momento presente, não existe
um grupo de homens mais corruptos e libertinos em
todo o mundo.[35]

No Vaticano II, Paulo VI usou o dogma da


infalibilidade papal para tirar do Concílio itens
críticos como o celibato e o controle da natalidade,
sobre os quais ele emitiu sua própria opinião. Exigiu
que todos os padres renovassem os seus votos de
castidade, na “quinta-feira santa” de 1970. Roma
não pode mudar sua posição sobre o celibato se não
admitir que os seus papas infalíveis têm estado
errados por insistirem durante séculos neste ponto,
sem terem respaldo das Escrituras e do Espírito
Santo, enquanto os protestantes estavam certos o
tempo todo.
A hipocrisia de Roma é monumental. Ela
continua a discursar para o resto do mundo sobre
assuntos morais e a posar como árbitro e paradigma
da virtude, enquanto dezenas de milhares de seus
clérigos violam toda a moralidade que ela proclama.
Considerem as 179 páginas da Veritatis Splendor
[Esplendor da Verdade], produzida durante mais de
seis anos por João Paulo II e publicada em 1993.
Esse enorme tratado teológico condena a
contracepção, o sexo ilícito e a homossexualidade,
considerando-os “intrinsecamente maus”. Contudo,
conspícua pela sua ausência, não há nela qualquer
admissão de que uma alta porcentagem do clero
católico romano pratica todos os três.
Triste Prova de Fracasso
O teólogo católico Hans Küng ecoa a crença da
maioria dos católicos, quando considera duro demais
o pontificado de João Paulo II sobre moralidade
sexual e sugere que tal severidade, em vez de
prevenir a má conduta sexual, tem, na verdade,
contribuído para aumentá-la. Küng, que continua
recebendo a desaprovação do Vaticano, chama a
Veritatis Splendor (a qual os líderes da Igreja
saudaram como “um chamado à santificação”) de “o
testemunho do seu fracasso [de João Paulo II]. O
ponto de vista de Wojtyla [o sobrenome verdadeiro
do papa], depois de ter sido ouvido em centenas de
discursos pelo mundo inteiro, ressoou em ouvidos
que estavam surdos. Este é fracasso que coroa seus
15 anos de pontificado”.[34]
Na ação judicial de 120 milhões de dólares
contra a Igreja, o ex-padre jesuíta Terence German,
que foi um mediador do Vaticano entre 1978 e
1981, no quartel-general dos jesuítas em Roma,
afirma que “o papa fez-se de surdo às suas queixas
de impropriedades sexuais”. E quando os fatos já
não mais podiam ser negados, o papa tentou dizer
que tais coisas só aconteciam nos Estados Unidos.
“Mas isso é sujeira”, diz German. “A mesma coisa
está acontecendo em Roma e ele sabe disso muito
bem”.[35]
O cardeal Joseph Bernardin, de Chicago, gaba-
se de que a Veritatis Splendor “reafirma a visão
moral que tem sustentado a comunidade católica
desde o tempo de Cristo”.[36] Será que ele é tão
ignorante assim da história e da condição atual de
sua Igreja?
Roma é sem dúvida a “Mãe das Meretrizes” de
Apocalipse 17. Essa “mãe” deu origem a
literalmente milhões de prostitutas em todo o
mundo, durante toda história. Não há outra cidade
na terra que possa nem de perto rivalizar com ela
nesse sentido.
CAPÍTULO 13

Sedutora de Almas
“Na sua fronte, achava-se escrito... A MÃE DAS
...ABOMINAÇÕES DA TERRA”

– Apocalipse 17.5

A Igreja... ensina e ordena que o uso de indulgências – algo


muito benéfico aos cristãos e aprovado pelas autoridades dos
sagrados concílios – deve ser conservado na Igreja; e ela condena
com anátema os que dizem que as indulgências nada valem ou que
a Igreja não tem o poder de concedê-las.

– Vaticano II[1]

Desde os primeiros dias da Igreja tem havido uma tradição pela


qual as imagens de nosso Senhor, de Sua santa mãe e dos santos
são colocadas nas igrejas para a veneração dos fiéis. A prática de
colocar imagens sagradas nas igrejas de forma que elas sejam
veneradas pelos fiéis deve ser mantida.

– Vaticano II[2]
“Olhem para o fruto da Reforma: as muitas
divisões e denominações dos protestantes”, é o
clamor freqüente dos apologistas católicos. “Como
pode tal confusão vir de Deus?” A implicação é que
somente os protestantes têm diferenças doutrinárias
entre si, enquanto a Igreja Católica Romana é uma
unidade de cerca de um bilhão de fiéis unidos, todos
crendo e praticando a mesma coisa. Isso, é claro,
está muito longe da verdade. O catolicismo dá uma
falsa impressão de unidade porque grandes
desacordos de doutrina e prática ficam escondidos
debaixo de seu largo manto. Como explica E.
Michael Jones, um importante escritor católico e
editor do periódico Fidelity [Fidelidade], os fiéis
[não abandonam] a Igreja Católica... [porque] ela é o
único barco de Cristo... não importa quais ondas de
heresia a rodeiem, nunca se justifica que alguém pule
fora do navio, nem mesmo durante as piores
tempestades.[3]

Sérias Divisões
Como já vimos, os papas discordavam e se
excomungavam uns aos outros como hereges
(mesmo assim os excomungados permanecem na
lista dos papas até hoje). Os concílios discordavam
entre si e havia sérias diferenças de opinião dentro
do mesmo concílio. Havia muitos dissidentes no
Concílio de Trento – que mesmo não representando
o pensamento de toda a Igreja, permanece até hoje
como a maior fonte de dogmas oficiais da Igreja
Católica. No Vaticano I muitos bispos se opunham à
infalibilidade papal e somente mais tarde
confirmaram o voto para se pouparem da ira do
papa. Aconteceu o mesmo no Vaticano II, com o
papa Paulo VI sufocando a oposição.
A versão inglesa do novo Catecismo Universal
foi postergada por mais de um ano, devido a sérias
dificuldades entre os bispos. Algumas dessas
dificuldades foram ventiladas na Conferência
Nacional dos Bispos Católicos, em Washington, nos
dias 15 a 18 de novembro de 1993. Muitos bispos
expressaram resistências doutrinárias. O arcebispo
Rembert Weakland, de Milwaukee, disse na
Conferência: “Existe uma enorme inquietude e
desconforto quanto à liturgia atual”.[4]
As numerosas divisões dentro da Igreja
Católica Romana englobam de tudo, desde o
arquiconservadorismo às crenças e práticas de
padres e freiras profundamente envolvidos no
hinduísmo e no budismo, ao liberalismo de Hans
Küng. Este último está tão longe da linha partidária
oficial de Roma que, em 1979, o Vaticano revogou
sua condição de teólogo. Mesmo assim, ele continua
sendo uma poderosa influência dentro da Igreja
Católica. Ou tomemos o padre Mathew Fox, por
exemplo, silenciado por um ano pelo Vaticano, mas
que acabou fazendo declarações de pontos de vista
que somente podem ser chamadas de pagãos e da
Nova Era. Expulso da ordem dos dominicanos por
insubordinação, porém não excomungado da Igreja
por suas heresias obscenas, Fox tornou-se desde
então membro da Igreja Episcopal. Muitos outros
teólogos e clérigos permanecem na Igreja, desde os
padres e freiras da ordem de Maryknoll que
advogam o marxismo e a teologia da libertação, até
os zelotes da Sociedade de São Pio X, que estão
escandalizados com o ecumenismo de João Paulo II.
O Grande Cisma
Houve tantas divisões entre os católicos
romanos através dos séculos como entre os
protestantes e elas continuam acontecendo ainda
hoje. Alguns desses desacordos resultaram em
guerras. Considerem, por exemplo, o Grande
Cisma, quando a França e a Itália se engalfinhavam
pela posse do lucrativo papado. Urbano VI, um
napolitano, tornou-se papa em 1378. Tentando
efetuar algumas reformas muito necessárias, Urbano
excomungou os cardeais que haviam comprado seus
benefícios. Foi um movimento bem intencionado,
mas politicamente era uma tolice. Como Von
Dollinger explica:
A simonia havia sido por muito tempo o pão diário da
Cúria Romana e o seu fôlego de vida; sem a simonia é
inevitável que a máquina pare e comece
instantaneamente a se desmontar. Os cardeais tinham,
segundo seu próprio ponto de vista, um amplo
território para insistirem na impossibilidade de subsistir
sem a simonia. Firmando um acordo, revoltaram-se
contra Urbano e elegeram Clemente VII, um homem
que os agradava.
Foi assim que de 1378 a 1409 a cristandade ocidental
esteve dividida entre duas obediências.[5]

Em 1409, Pisa foi o cenário de um sínodo de


toda a Europa, convocado para sanar a disputa. Foi
a primeira vez em 300 anos que os participantes de
tal ajuntamento se atreveram a falar e votar
abertamente. Houve uma sensação de alívio e até
mesmo de triunfo quando os dois papas reinantes,
Gregório X e Benedito III, foram depostos como
hereges e um terceiro papa, Alexandre V, foi eleito.
É claro que nenhum dos dois “papas” se submeteu à
decisão do sínodo. Agora havia três “vigários de
Cristo” em vez de apenas dois, exatamente como
ocorrera 350 anos antes. A situação durou de 1409
até 1415.[6]
Pode ser que uma das “abominações” à qual a
mulher da visão de João deu à luz fosse a de um
homem afirmando ser “vigário de Cristo” e, pior
ainda, três homens, todos afirmando ser o
verdadeiro e único representante de Cristo na terra,
cada um amaldiçoando quem seguisse um dos
outros dois? Catarina de Siena, que persuadiu
Gregório XI, o sétimo dos papas de Avignon, a
retornar a Roma, hoje é reconhecida como uma
santa católica. Ela foi um sustentáculo forte de
Urbano VI, mas ele está presente na lista dos
antipapas.

As Piores Abominações
Pouco antes de morrer, Catarina, que tinha
longos transes nos quais supostamente via o céu, o
purgatório e o inferno, recebeu permissão de Deus
(assim ela afirmava) “para suportar o castigo de
todos os pecados da humanidade...”[7] Mesmo que
a morte de Cristo já tenha pago toda a penalidade do
pecado, ela foi excomungada como herege por tal
blasfêmia? Pelo contrário, tão admirada se tornou
por seu “sacrifício” que a Igreja Católica Romana
declarou-a santa.
A Igreja, 500 anos mais tarde, aceitaria a
afirmação de que os sofrimentos (evidência por
estigma sangrento nas mãos, pés e lado onde Cristo
foi perfurado) suportados durante 50 anos[8] pelo
monge chamado Padre Pio também eram
pagamento pelos pecados do mundo. Pio afirmava
que mais espíritos de mortos costumavam visitá-lo
em sua cela no mosteiro do que pessoas vivas. Tais
espíritos vinham agradecer-lhe por pagar os seus
pecados com os seus sofrimentos, para assim
poderem ser libertados do purgatório e ir para o céu.
Outros monges testificaram escutar muitas vozes
conversando com o padre Pio à noite.[9]
A Bíblia, entretanto, repetidamente nos
assegura que Cristo sofreu a total penalidade do
pecado: “No qual temos a redenção, pelo seu
sangue, a remissão dos pecados, segundo a
riqueza da sua graça...” (Efésios 1.7, cf.
Colossenses 1.14). Nada restou que os pecadores
tenham que fazer para receber o perdão oferecido
pela graça de Deus. O débito foi totalmente pago:
“Está consumado!”, gritou Cristo em triunfo pouco
antes de morrer na cruz (João 19.30). Sugerir outro
meio é a mais séria heresia.
João Batista saudou Jesus como “o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29).
To dos os outros (inclusive Pio e os demais) sendo
pecadores (“todos pecaram...” [Romanos 3.23]) te
riam de morrer por seus próprios pecados e,
portanto, não poderiam pagar pelos pecados de
outra pessoa. Pedro declarou que “também Cristo
morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo [sem
pecado] pelos injustos [nós], para conduzir-vos a
Deus (1 Pedro 3.18).
Mesmo assim, Catarina de Siena, Padre Pio e
outros “santos sofredores” são reverenciados e
recebem as orações de milhões de católicos,
inclusive do papa atual, por terem sofrido pelos
pecados dos outros. Eles são maiores do que Cristo
no sentido de que o sofrimento de Cristo ainda deixa
os bons católicos no purgatório, de onde o
sofrimento de Padre Pio liberta multidões e as leva
para o céu. O Vaticano II declara que os devotos
têm sempre “carregado suas cruzes para fazer
expiação por seus próprios pecados e os pecados
dos outros... para ajudar os seus irmãos a obter a
salvação de Deus...”[10]
Tal blasfêmia é uma das abominações a que a
Igreja Católica tem dado à luz e que ainda hoje ela
ensina. Poderá existir maior abominação do que
ensinar que pecadores, pelos quais Cristo pagou a
penalidade total do pecado, ainda “fazem expiação
por seus próprios pecados e os pecados dos outros?”

Abominações de Todos os
Teus Ídolos
Na Bíblia a palavra “abominação” é um termo
espiritual associado à idolatria. Deus condenou Israel
pelas “abominações de todos os teus ídolos”
(Ezequiel 16.36). Práticas ocultistas também são
chamadas abominações, junto com sexo ilícito e
pervertido. Uma vez que a mulher cavalgando a
besta é “a Mãe das Meretrizes e Abominações”,
parece claro que estas práticas más, com raízes na
Babilônia, caracterizarão a religião mundial sob o
Anticristo, que essa mulher representa. Ela é
chamada a “Mãe” destas coisas porque as têm
promovido e encorajado. A descrição se encaixa
perfeitamente tanto na história quanto na prática
atual da Igreja Católica Romana.
A proibição bíblica da fabricação de imagens
para fins religiosos e de se dobrar diante delas (e o
ódio de Deus contra esta prática pagã) está
claramente determinada no segundo dos Dez
Mandamentos e em numerosas outras passagens da
Escritura. Por exemplo: “Não fareis para vós outros
ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura...
para vos inclinardes a ela... Maldito o homem que
fizer imagem de escultura ou de fundição,
abominável ao Senhor...” (Levítico 26.1;
Deuteronômio 27.15). Mesmo assim o Vaticano II
recomenda as imagens nas igrejas e diz que elas
devem ser “veneradas pelos fiéis”. Nas igrejas e
catedrais católicas ao redor do mundo podem-se ver
os fiéis de joelhos dobrados em frente às imagens
deste ou daquele “santo” e, mais freqüentemente,
diante de “Maria”.
O segundo dos Dez Mandamentos que Deus
deu a Israel declara: “Não farás para ti imagem de
escultura, nem semelhança alguma do que há em
cima nos céus, nem embaixo na terra... Não as
adorarás, nem lhes darás culto... (Êxodo 20.4,5;
cf. Deuteronômio 5.8,9). Como pode a Igreja
Católica Romana desobedecer esta clara proibição?
Ela faz algo pior do que ignorá-la; ela a esconde do
povo.
Os “Dez Mandamentos” relacionados no
catecismo católico deixam fora o segundo
mandamento, proibindo imagens, e dividem o
último, proibindo a cobiça, em dois. É uma flagrante
rejeição de um claro mandamento de Deus. Além do
mais, esta rejeição é desonestamente encoberta pela
pretensão de que o mandamento não existe. É uma
fraude deliberada praticada contra os membros da
Igreja, a maioria dos quais nada sabe da Bíblia,
exceto aquilo que o clero lhes diz.
Quando o imperador Leão III publicou o Édito
de Constantinopla exigindo o batismo forçado dos
judeus, ele foi louvado. Mas em 726, quando
determinou que todas as imagens deveriam ser
quebradas, houve um grande alarido por parte dos
cidadãos e do clero. O papa Gregório II afirmava
que as imagens não eram adoradas, mas
reverenciadas. A verdade, contudo, escapou em sua
carta ao imperador: “Mas quanto à própria estátua
de São Pedro, a qual todos os reinos do Ocidente
estimam como um deus na terra, o Ocidente tomaria
uma grande vingança [se ela fosse destruída]”.[11]
Uma guerra sangrenta ocorreu em Ravena por causa
deste assunto e um sínodo em Roma excomungava
todos os que se atrevessem a atacar as imagens.
Os cristãos não tinham usado imagens até que
Constantino se tornou, de fato, o cabeça da Igreja. A
porta que foi aberta ao paganismo naquele tempo
jamais foi fechada. A Igreja tentou se acomodar aos
pagãos, juntando-se a eles e mantendo os seus
ídolos, porém agora com nomes cristãos. Esta
prática ainda hoje faz parte da santeria [culto espírita
de países latinos], vodu, etc.
Os apologistas católicos insistem que a
veneração não é à imagem, mas ao “santo” que ela
representa. Mesmo assim, João Paulo II promove
abertamente a crença pagã de que as imagens têm
poder. Certa vez o papa declarou na basílica de São
Pedro:
Uma misteriosa “presença” do protótipo transcendente
parece ser transferida para a imagem sagrada... A
contemplação devota de tal imagem parece então um
pacto tão real e concreto de purificação da alma do
fiel... Porque a própria imagem abençoada pelo
padre... pode de certo modo, por analogia com os
sacramentos, realmente ser considerada um canal
divino de graça.[12]

A Bíblia condena repetidamente tal idolatria


como adultério ou fornicação espiritual! Nesse
sentido, Roma é a “Mãe das Meretrizes” e também
tem levado milhões à idolatria.

Salvação à Venda
A Igreja Católica Romana fez da venda da
salvação aos ingênuos um grande negócio, com a
maior parte de sua grande riqueza acumulada a
partir desta fonte. Ela faz isso em nome de Cristo,
que oferece a salvação como um dom gratuito! Ele
disse aos Seus discípulos: “De graça recebestes, de
graça dai” (Mateus 10.8). Não poderia haver
abominação maior do que vender a salvação, mas
mesmo assim Roma não tem se arrependido deste
mal e continua a praticá-lo hoje em dia.
Sob o papa Leão X (1513-1521) – que
amaldiçoou e excomungou Martim Lutero – foram
divulgados pela chancelaria romana preços
específicos a serem pagos à Igreja pela absolvição de
cada crime possível de ser imaginado. Até mesmo o
assassinato tinha seu preço estabelecido. Por
exemplo, um diácono culpado de assassinato poderia
ser absolvido por vinte coroas. Os “malfeitores
ungidos”, como eram chamados, uma vez
perdoados pela Igreja neste sentido, não poderiam
ser processado pelas autoridades civis.
A venda de salvação por Leão não era
novidade. João XXII (1316-1334), havia feito o
mesmo 200 anos antes, estabelecendo um preço
para cada crime, desde assassinato até incesto e
sodomia. Quanto mais os católicos pecavam, mais
rica ficava a Igreja. Um esquema semelhante a esse
tem funcionado na Igreja durante muitos anos.
Inocêncio VIII (1484-1492), por exemplo,
havia concedido uma indulgência chamada de
Butterbriefe que era válida por 20 anos. Por uma
certa soma podia-se comprar o privilégio de comer
os pratos favoritos durante a Quaresma e outros
tempos de jejum. Era a maneira de receber o crédito
pelo jejum, enquanto era possível deleitar-se com os
mais saborosos alimentos. Além do mais, não eram
os vigários de Cristo que ligavam e desligavam tudo
na terra e ligavam e desligavam tudo no céu? Os
lucros deste esquema geraram a renda para a
construção da ponte sobre o Elba. Júlio III (1550-
1559) renovou essa indulgência (por uma taxa
atraente) por mais 20 anos, após ter se tornado o
novo papa.
Leão X pôs abaixo a basílica de Constantino e
construiu a de São Pedro, usando em grande parte o
dinheiro pago pelas pessoas que pensavam estar
assim recebendo o perdão de seus pecados e uma
entrada para o céu. Essa estrutura magnífica
representa uma evidência de que Roma é a “Mãe
das Abominações”.
Assim como Giovanni de Médici, Leão X
tornou-se abade com apenas sete anos, por ocasião
de sua primeira comunhão, e foi ordenado cardeal
quando tinha apenas 13. Mesmo sendo o mais
jovem cardeal daquele tempo, o papa Benedito IX
subiu ao trono de Pedro com 11 anos de idade.
Imagine um menino de 11 anos pronunciando
solenemente perdão de pecados como único
representante de Cristo na terra! Foi Leão X quem
comissionou o frade Tetzel a vender indulgências,
que prometiam livrar as almas do purgatório ou
livrar o comprador, caso fossem compradas em seu
próprio nome, de passar qualquer tempo naquele
lugar de tormento intermediário.
O slogan das vendas infames de Tetzel era:
“Tão logo a moeda tilinta no cofre, uma alma salta
do purgatório!” Como poderia alguém ser tão tolo
para acreditar que o perdão de pecados, pelos quais
Jesus precisou enfrentar na cruz a ira de Deus,
poderia ser conseguido com dinheiro? O “Deus” do
Catolicismo, que age em resposta a tais
regulamentos inventados por uma Igreja corrupta,
claramente não é o Deus da Bíblia. (Foi essa
abominação da venda de salvação que escandalizou
Martim Lutero e desencadeou a Reforma).
Os protestantes bem-intencionados, querendo
acreditar no melhor, imaginam que o catolicismo
romano tem se livrado das abominações do passado,
incluindo as indulgências. O livro de Charles
Colson, The Body [O Corpo], contém exemplos
dessas informações incorretas. Embora o livro fale
de forma eloqüente sobre muitas verdades,
apresenta o catolicismo romano erroneamente como
sendo o cristianismo bíblico e apela para uma união
dos evangélicos com ele. Colson escreve: “Os
reformadores, por exemplo, atacavam as práticas
corruptas das indulgências; hoje elas [indulgências]
já não existem (modernamente temos as práticas
equivalentes de alguns mercadores televisivos
inescrupulosos, ironicamente, na sua maioria
protestantes, que prometem curas e bênçãos em
troca de contribuições).”[13]
Nós endossamos sua condenação aos
“mercadores televisivos inescrupulosos”, mas
admiramo-nos de sua interpretação incorreta de
Roma. Um dos principais documentos do Vaticano
II dedica 17 páginas a explanar as indulgências e
como consegui-las e excomunga e amaldiçoa
qualquer um que negue que a Igreja tem o direito de
conceder indulgências para a salvação hoje.[14] As
regras são tão complexas e ridículas quanto
abomináveis. Tente imaginar Deus honrando
regulamentos como conceder certas indulgências
“apenas em dias fixados pela Santa Sé” ou uma
“indulgência plenária, aplicável somente aos mortos,
que pode ser obtida em todas as igrejas... no dia dois
de novembro”[15], etc. Todo o ensino sobre
indulgências nega a suficiência do sacrifício redentor
de Cristo feito na cruz pelos pecados. (Veja o
Apêndice B para mais detalhes).
Algumas indulgências antigas permanecem em
vigor ainda hoje. Uma notícia publicada no
periódico Inside The Vatican [Por Dentro do
Vaticano] relembra aos católicos que nos dias 28 e
29 de agosto de 1994 houve uma oportunidade fora
do comum para obter uma indulgência especial:
O papa Celestino V doou uma “porta santa” à catedral
de Maria Collemaggio em sua bula de 29 de setembro
de 1294. Para obter esta indulgência “perdonanza” é
necessário estar na catedral entre 18 horas do dia 28
e 18 horas de 29 de agosto para se arrepender
sinceramente dos pecados, confessar-se e ir à missa e
à comunhão dentro de oito dias da visita. A “porta
santa” está aberta todo ano, mas em 1994 é o 700o
aniversário da Bula de Perdão. Vá lá![16]

Cuidado: Aí Vem a
Reforma!
Na porta da igreja do castelo de Wittenberg, a
mesma onde Martim Lutero afixou suas 95 teses,
estavam relíquias (inclusive um suposto cacho de
cabelo da virgem Maria) oferecendo dois milhões de
anos em indulgências aos que as venerassem
segundo as regras prescritas. Nunca a Igreja Católica
Romana desculpou-se por ter levado multidões a se
perder dessa maneira. E como se desculpar às almas
agora no inferno por ter-lhes vendido uma falsa
“passagem para o céu”?
Tanto pela infâmia como pela astúcia, nenhum
esquema para arrecadar dinheiro no passado, nem o
dos mercadores televisivos inescrupulosos, sequer se
aproxima da venda de indulgências. Ela proveu
muito dinheiro para os papas no tempo da Reforma.
No ano 593, o papa Gregório I propôs pela primeira
vez o conceito antibíblico (mas muito proveitoso) de
que havia um lugar chamado “purgatório”, no qual
os espíritos dos mortos sofriam, para assim serem
purgados de seus pecados e totalmente liberados do
“débito da punição eterna”. Esta invenção foi
declarada como dogma da Igreja no Concílio de
Florença em 1439 e permanece como parte
importante do catolicismo romano ainda hoje.
Não foram essas heresias abomináveis,
entretanto, que dividiram os católicos. Todos
pareciam contentes com a promessa de que a Igreja
de algum modo os levaria para o céu, não
importando quão repugnantes ao bom senso e à
justiça fossem os métodos. Como disse
Chamberlain, “a visão da fé estava cega às
discrepâncias”.[17] Foi a divisão causada pelos
papas rivais, cada um afirmando estar encarregado
da máquina da salvação, que moveu a Igreja à ação.
Quando os três rivais depuseram, cada um
afirmando ser o “vigário de Cristo”, e em seguida foi
nomeado um novo papa, Martinho V, o Concílio de
Constança (1414-1418) reunificou a Igreja (Veja
Apêndice D para mais detalhes). Muitos bispos
estavam convencidos de que uma reforma era
desesperadamente necessária. Para mover o Concílio
em direção à reforma, Constança declarou que
deveria haver outro concílio ecumênico a cada dez
anos. O papa Martinho V respeitosamente
convocou o Concílio em 1423 para o encontro,
primeiro em Pávia, depois em Siena. Mas no momento
em que o mínimo sinal de uma tentativa de reforma se
manifestava, ele o dissolvia “por causa do pequeno
número de presentes”. Contudo, pouco antes de sua
morte ele convocou o novo Concílio para se encontrar
na Basiléia.
O sucessor de Martinho V, Eugênio IV, não pôde deixar
de cumprir com o dever que havia herdado de seu
predecessor, com o qual ele já havia solenemente se
comprometido no conclave.[18]
A Luta Pela Supremacia
Usando de um pretexto qualquer, Eugênio
ordenou que o Concílio debandasse imediatamente,
mas a assembléia se recusou e começou uma
contestação ao papa, no início com a garantia da
população da Europa e do rei Sigismundo. Em vão
o papa excomungou os prelados envolvidos. O
suporte para a reforma brotou do apoio dos reis,
príncipes, bispos, prelados e universidades. Sob
pressão, o papa foi obrigado a dar ao Concílio sua
completa sanção, um reconhecimento uma vez mais
da superioridade do concílio sobre o papa (que Pio
IX ameaçaria reverter no Vaticano I).
O Concílio depôs Eugênio, chamando-o de
“um notório perturbador da paz e da unidade da
Igreja de Deus, simoníaco, perjuro, homem
incorrigível, cismático, um apóstata da fé, um
obstinado herege, que desperdiçava os direitos e as
propriedades da Igreja, era incompetente e
prejudicial à administração do pontificado
romano...”[19] (Mesmo assim seu nome permanece
na lista oficial dos vigários de Cristo). Com grande
coragem, o Concílio decretou:
Todas as anotações eclesiásticas devem estar de
acordo com os cânones da Igreja, toda simonia deve
cessar ...todos os padres, quer sejam das mais altas
ou mais baixas posições, devem se afastar de suas
concubinas e quem, dentro de dois meses deste
decreto, negligenciar estas exigências será privado do
seu ofício, mesmo que seja o bispo de Roma ...os
papas não devem exigir nem receber quaisquer taxas
por ofícios eclesiásticos. De agora em diante, um papa
não deveria pensar nos seus tesouros na terra, mas
nos seus tesouros do mundo vindouro.

Esse remédio se mostrou amargo demais e as


opiniões se voltaram contra o Concílio.[20] O povo
queria uma reforma, mas não tão grande; e a última
coisa que o papa e a Cúria desejavam era a
exigência de viverem como verdadeiros cristãos,
com um Concílio controlando o que eles faziam. O
papa Eugênio convocou seu próprio Concílio em
Florença, depôs e anatematizou os que se reuniram
na Basiléia: “fique Basiléia sob interdição, seja
excomungado o concílio municipal e exigido que
cada um pilhe os comerciantes que estavam
trazendo suas mercadorias para a cidade, porque
está escrito: ‘o justo espoliou o injusto’.”[21] Então
o papa presenteou o rei Frederico com 100.000
florins “junto com a coroa imperial, concedeu-lhe
dízimos de todos os benefícios germânicos e... deu
plenos poderes ao seu confessor para lhe dar duas
vezes absolvição plenária de todos os pecados”. Essa
é a maneira abominável pela qual os papas
distribuem seus favores, incluindo o perdão de
pecados.
O Concílio da Basiléia não podia competir com
o poder e a riqueza do papa. Eugênio agora tinha a
garantia de que precisava. Von Dollinger comenta:
“A vitória de Eugênio foi completa. Enquanto em
seu leito mortuário ele recebia a homenagem dos
embaixadores alemães, o evento era celebrado em
Roma (no dia 7 de fevereiro de 1447) com repiques
de sinos e fogueiras. Como conseqüência, até
mesmo as leves concessões feitas pelo papa aos
alemães foram devolvidas em bulas secretas”. Em
1443 um católico germânico anônimo, de luto por
sua Igreja, parece ter confirmado a visão dada por
Deus a João em Apocalipse 17:
A meretriz romana embriagou tantos amantes com o
vinho de sua fornicação, que a Noiva de Cristo, a
Igreja, e o Concílio representando-a, dificilmente
recebe a devoção leal de um entre cada mil.[22]

Quando faleceu, tendo triunfado sobre o


Concílio e a Alemanha, Eugênio gritava em
desespero de consciência: “Como seria melhor para
a salvação de sua alma se você jamais tivesse se
tornado um cardeal ou papa!”[23] O próximo papa,
Nicolau V (1447-1455), anulou os decretos de
Eugênio contra o Concílio da Basiléia (ainda assim,
ambos permanecem na lista oficial dos papas hoje).
Era a última chance de reforma para o papa, mas ela
não ocorreu. Logo em seguida, os diligentes
falsificadores da Cúria estavam trabalhando
novamente na produção de mais documentos falsos
para sustentar a infalibilidade e o domínio dos papas
sobre todos.

A Corrupção Daquele Tempo


O domínio de Roma sobre a Igreja e o mundo
por mais de 1000 anos utilizando-se de
excomunhão, tortura e morte tinha levado a
corrupção a proporções tais que até mesmo a
sociedade secular ficou tomada de vergonha e
horror. O clamor que ecoava no seio do
Cristianismo era por uma reforma na Igreja.
Contudo, todos sabiam que isso seria impossível,
enquanto a corte de Roma permanecesse sendo o
que era, pois “lá, toda conduta duvidosa é permitida
e protegida, e a partir dela se espalha, por isso, a não
ser por milagre, não há esperança de reforma”.[24]
Entre os papas que sucederam Nicolau no
suposto trono de Pedro houve alguns cuja maldade
estava além da imaginação. Von Dollinger fala sobre
Paulo II, Sisto IV, Inocêncio III e Alexandre VI,
alegando que cada um deles “excedeu os vícios do
seu predecessor”. Um contemporâneo disse que
Paulo II havia “transformado a cadeira papal num
esgoto de suas corrupções”.[25] Peregrinos que iam
a Roma com grandes esperanças voltavam
desiludidos, como Martim Lutero, ao declarar que
“na metrópole da cristandade, e no coração da
grande mãe e amante de todas as Igrejas, o clero,
com raras exceções, mantém concubinas”.[26] E a
Igreja ainda conseguia tirar proveito dessa situação.
Sisto IV (1471-1484), que havia licenciado os
prostíbulos de Roma por uma taxa anual e taxava os
clérigos por suas amantes, criou um método ainda
mais engenhoso de encher os cofres da Igreja. Algo
que seria bastante proveitoso para os papas que o
sucederam. Sisto decidiu que ele, como vigário de
Cristo, poderia aplicar indulgências aos mortos, bem
como aos vivos. Era uma idéia nova, algo em que
ninguém havia pensado antes e acabou se
transformando numa fantástica fonte de renda.
Que parente vivo poderia recusar-se a comprar
o livramento de pais, tios ou filhos falecidos das
torturas do purgatório? E, sem dúvida, quanto mais
ricos fossem os parentes vivos, invariavelmente
maior era o custo para transferir o morto do
purgatório para o céu. É de admirar que ninguém
falasse uma palavra contra um papa tão cruel, mas
Sisto não era pior do que muitos outros, e além do
mais, mau ou não, ele era o vigário de Cristo e o
sucessor de Pedro, não era? Mais uma vez
Chamberlin expressa isso muito bem: “Nenhum
monarca em exercício, não importa quão poderoso e
virtuoso fosse, poderia esperar atrair para si mesmo
tão profunda e instintiva reverência dos homens
como o sucessor de Pedro, não importa quão
indigno fosse...”[27] As poucas almas ousadas, tais
como Savonarola de Florença, que se atreveram a
criticar as abominações de Roma, foram condenadas
às chamas por causa de seu zelo.

O Concílio de Trento
Esse era o estado da Igreja Católica Romana no
tempo da Reforma. Lembrem-se que Lutero e
Calvino eram católicos devotos. Não havia
protestantes. Esta palavra ainda não havia sido
inventada. Multidões estavam clamando por reforma
durante pelo menos 200 anos. Contudo ninguém,
nem mesmo Lutero e Calvino, queria deixar a Igreja.
Eles desejavam vê-la reformada desde o seu interior.
Furiosos com a oposição ao seu poder, os
papas condenaram Lutero e Calvino às chamas, mas
incapazes de colocar suas mãos sobre eles por causa
da proteção de alguns príncipes alemães, a
hierarquia católica os excluiu sumariamente da
Igreja. Fartas do arrogante despotismo do papado,
com sua opressão e o extermínio de qualquer um
que não se dobrasse às suas exigências imperiosas,
multidões seguiram Lutero, Calvino e outros líderes
da Reforma, abandonando a Igreja Católica,
entusiasmadas com os primeiros sinais da liberdade
religiosa com que sempre haviam sonhado.
Repentinamente o protestantismo, este
rompante clamor de “heresia”, estava crescendo e
avançava em toda parte. O papa Paulo III viu seu
império afundando e sua influência sobre os reis
chegando ao fim. Paulo III, um papa déspota da
Renascença, que havia “concedido a mitra vermelha
aos seus sobrinhos de 14 e 17 anos, e os promovido,
apesar de sua notória imoralidade”[28], agiu
decisivamente em duas frentes. Ele convocou o
Concílio de Trento (cidade no norte da Itália), que
condenaria teologicamente a Reforma, e trabalhou
nos bastidores para organizar uma guerra santa com
a qual pretendia varrer, pelo uso das armas, o
protestantismo da face da terra, em nome de Cristo.
A popularidade de Roma estava em baixa
quando o Concílio teve início em 1545 para dar sua
resposta ao perigo do protestantismo, que ameaçava
a Igreja em grande parte da Europa. Havia ainda
muitos clérigos dentro da Igreja Católica que
entendiam a necessidade de uma reforma e
esperavam que Trento a trouxesse à tona, fazendo
assim com que fosse possível receber de volta os
que haviam deixado a Igreja. O papa e sua Cúria,
porém, tinham outros planos.
O discurso de abertura do Concílio, feito pelo
bispo Coriolano Martorano, até encorajou os que
tinham esperanças de reforma. Infelizmente, poucos
dos que partilhavam dessa idéia estavam presentes,
pois o papa havia enchido o plenário com seus
próprios homens. Von Dollinger descreve aquele
agitado discurso:
O quadro que ele [Coriolano] pintou dos cardeais e
bispos, sua sanguinolenta crueldade, sua avareza, seu
orgulho e a devastação que haviam feito na Igreja era
por demais chocante. Um escritor desconhecido, que
descreveu esta primeira sessão numa carta a um
amigo, acha que nem o próprio Lutero havia falado tão
severamente.[29]

Na verdade, este grito solitário pedindo o


retorno ao cristianismo genuíno foi seguido de um
coro de aprovação ao mal que Martorano havia
exposto. O Concílio de Trento, controlado pelos
italianos, estava provando ser incapaz de enfrentar
os fatos. Certa vez, quando um outro delegado, que
não era italiano, atreveu-se a trazer mais denúncias
que refletiam negativamente sobre o papado, os
bispos italianos protestaram, bateram os pés e
gritaram que esta “maldita criatura miserável não
pode falar, ele deve ser levado a julgamento”.[30] A
“liberdade de expressão” em Trento era similar ao
que aconteceria 325 mais tarde em Roma, no
Vaticano I.
Uma famosa testemunha ocular escreveu logo
depois da abertura do Concílio que nenhuma
medida benéfica poderia ser esperada dos
“monstruosos bispos” que lá estavam; “nada havia
de episcopal neles, exceto os longos hábitos... [eles]
haviam se tornado bispos graças a favores reais,
através de solicitações, comprados em Roma através
de feitos criminosos, ou após longos anos vivendo
na Cúria”. Eles “devem ser depostos” se Trento
quiser produzir algo digno, mas isso era impossível.
[31] Outro contemporâneo, Pallavicini, escreveu:
Os bispos italianos não tinham outro objetivo senão
manter a Sé Apostólica e sua grandeza. Eles achavam
que por trabalharem por seus próprios interesses,
demostravam ser bons italianos e bons cristãos.[32]

As Guerras Entre Católicos e


Protestantes
Não satisfeito em ter amaldiçoado os
protestantes teologicamente (os cânones e decretos
do Concílio de Trento contêm mais de 100 anátemas
contra as crenças protestantes), o papa Paulo II
queria destruí-los fisicamente. Ele ofereceu ao sacro
imperador romano Carlos V da Espanha “1.100.000
ducados, 12.000 soldados da infantaria e 500
cavalos, se ele usasse de sua força total contra os
hereges”. O imperador católico estava extremamente
feliz por ter uma razão para levar à sujeição os
príncipes alemães protestantes, seus rivais, e em
“esmagar o protestantismo e dar ao seu reino uma fé
católica unificada que, segundo pensava, iria
fortalecer e facilitar o seu governo”.[33]
A guerra travada em toda a Europa durou cerca
de dez anos. Paulo III “emitiu uma bula de
excomunhão a todos quantos resistissem a Carlos V
e ofereceu indulgências liberais a todos que o
ajudassem”. Depois de grandes perdas de ambos os
lados e muitas traições entre os governantes rivais,
os protestantes permaneceram fortes o bastante para
forçar o imperador a um compromisso. Will Durant
explica o acordo que criou as igrejas estatais que
ainda hoje existem na Europa:
A fim de permitir a paz entre e dentro dos Estados,
cada príncipe devia escolher entre o catolicismo
romano e o luteranismo; todos os seus súditos tinham
de aceitar “a religião do reino” ao qual pertenciam; os
que não quisessem obedecer deviam emigrar. Não
havia pretensão de tolerância de nenhum dos lados; o
princípio que a Reforma sustentara desde o início de
sua rebelião – o direito de escolha pessoal – seria
rejeitado completamente tanto pelos líderes
protestantes quanto pelos líderes católicos...
Os protestantes agora concordavam com Carlos V e os
papas de que a unidade na crença religiosa era
indispensável à ordem e à paz... Os príncipes
[deveriam] banir os dissidentes ao invés de queimá-
los... A vitória real não era a liberdade de adoração,
mas a liberdade dos príncipes. Cada um deles tornou-
se, como Henrique VIII da Inglaterra, o chefe
supremo da Igreja (católica ou protestante) em seu
território, com o direito exclusivo de nomear o clero e
os homens que definiriam a fé obrigatória.
O princípio “Erastiano” – de que o Estado deveria
dirigir a Igreja – foi definitivamente estabelecido. Já
que os príncipes, e não os teólogos, haviam levado o
protestantismo ao triunfo, naturalmente eles colheram
os frutos da vitória – sua supremacia territorial sobre o
imperador, sua supremacia eclesiástica sobre a Igreja.
De fato, o Sacro Império Romano não acabou em
1806, mas já em 1555.[34]

A história da Reforma já foi contada em outros


livros. Houve males perpetrados de ambos os lados,
mas nos falta espaço para relembrá-los. Neste livro
estamos em busca de um objetivo: identificar a
mulher montada na besta que é descrita em
Apocalipse 17. Neste capítulo estamos
demonstrando o fato de que “Mãe das
Abominações” estava inscrito em sua fronte.
Passemos agora do passado para o presente.
“Abominação” é um termo espiritual. Não
existe abominação maior do que rejeitar o sacrifício
de Cristo na cruz por nossos pecados – exceto guiar
outros pelo mesmo caminho. Essa abominação
continua de várias maneiras no catolicismo romano
até hoje. Outro dos grandes enganos de Roma se
relaciona ao casamento e ao divórcio.

Outro Nome Para o Divórcio


A Igreja Católica Romana é conhecida pela sua
posição obstinada contra o divórcio. Mesmo que ela
seja uma verdadeira fábrica de divórcios, acaba
escondendo esse fato por usar enganosamente outro
nome para descrevê-los. Nos Estados Unidos todo
ano a Igreja concede o que ela chama de
“anulações” às dezenas de milhares.[35] O seu uso
da psicologia é especialmente perverso. Muitas
anulações são concedidas mediante razões
“psicológicas”, tais como ter crescido numa família
“desajustada” ou estar “psicologicamente
despreparado” para um casamento que aconteceu
décadas antes e produziu numerosos filhos. É o
máximo em matéria de hipocrisia e cinismo, uma
das abominações que Roma tem produzido.
Aqui temos o excerto de uma carta típica de
uma diocese católica apresentando a uma mulher
perturbada a anulação do seu casamento, concedida
ao homem que fora seu marido durante 30 anos
(todos os cinco filhos, o marido e a mulher eram
católicos):
A investigação feita pela corte da Igreja Católica
determina se um elemento do sacramento do
matrimônio esteve faltando na ocasião em que foi
dado entrada no contrato de casamento. Caso uma
investigação cuidadosa determine que tal elemento,
conforme entende a Igreja, estivesse faltando, então o
seu casamento não une você ou o Sr_________ no
que diz respeito à Igreja Católica. A decisão não tem
implicações civis e não torna seus filhos ilegítimos.

É claro que não existem “implicações civis”.


Mesmo que muitas vezes os tribunais sejam injustos,
os juizes civis ainda não estão preparados para fazer
de conta que um casamento não aconteceu de
verdade, porque uma das partes afirma que não
estava psicologicamente preparada na época ou tinha
reservas quanto ao fato da relação “dar certo”.
Infelizmente, alguns católicos americanos quando
casam, deixam agora cartas secretas com seus
advogados, expressando dúvidas caso desejem uma
anulação mais tarde. O bom-senso diria que, se
existem dúvidas, então os votos não deveriam ser
feitos; e uma vez que a promessa de fidelidade é
feita “até que a morte os separe”, então ela deveria
ser cumprida. Se os casais podem fazer votos de
fidelidade e mais tarde quebrá-los sem penalidade e
com as bênçãos da Igreja, então todas as relações
interpessoais se rompem, sejam comerciais ou
particulares. Ninguém mais merece confiança ao
fazer uma promessa.
O programa Prime Time, da TV americana,
exibido em 6 de janeiro de 1994, tratou das
anulações católicas. Um padre católico lembrou ter
ouvido um advogado canônico da Igreja lhe dizer:
“Charlie, não existe casamento católico na Igreja nos
Estados Unidos que não possamos anular”. Várias
das mulheres convidadas falaram que seus ex-
maridos, após o divórcio pediram a anulação para
poderem casar novamente na Igreja Católica.
Estavam presentes, por exemplo: Bárbara
Zimmerman, casada por 27 anos e mãe de cinco
filhos; Pat Cadigan, casada por 23 anos; Sheila
Rauch Kennedy, casada com o deputado Joseph P.
Kennedy II, o filho mais velho de Bobby Kennedy,
casada por 12 anos e mãe de filhos gêmeos.
O sacerdote católico que estava no programa,
padre Patrick Cogan, explicou que são concedidas
anulações, mesmo que a Igreja não creia em
divórcio, porque “a Igreja Católica crê que isso deve
ser sujeito a um princípio superior”. Verdade? Ele
explicou que uma anulação significa que “desde o
início nunca houve um casamento”. A senhora
Kennedy respondeu com raiva: “dizer que um
casamento que durou... quase 13 anos... que foi
realizado depois de nove anos de relacionamento
prévio e uma relação que gerou duas crianças
maravilhosas nunca aconteceu, para mim, é
absurdo”. O ex-marido, Joseph Kennedy, havia
explicado a ela: “você deve entender que ninguém
acredita nisso mesmo – é apenas uma manobra
católica. Essa é a maneira que a Igreja deseja que
você diga tais coisas, portanto não as leve tão a
sério”.[36]
Enquanto afirma lutar pela santidade, Roma
corrompe seus seguidores. Durante a exibição do
Prime Time, Barbara Zimmerman declarou: “Em
minha opinião, o fato da Igreja dizer algo como:
‘bem, você sabe, você não pode obter o divórcio,
mas eu anularei o casamento e vou cuidar disso’ – é
algo nojento. É suspeito. É desonesto. É o mesmo
que dizer: ‘Vamos ignorar nossas próprias regras’.”
As implicações para a eternidade são muito
sérias. Se a Igreja Católica não merece confiança
para dizer a verdade sobre casamento e divórcio,
então como pode requerer confiança no tocante à
salvação? Ser enganado nesta vida já é difícil, mas
ser enganado para a eternidade é uma perda que
jamais será reconquistada.
O cálice de ouro segurado pela mulher
montada na besta estava transbordante “de
abominações e com as imundícias da sua
prostituição” (Apocalipse 17.4). Não há, nem
jamais houve, uma cidade na terra, a não ser a
Roma “cristã”, que se encaixe tão
perfeitamente nesta descrição. Ela tem sido a
sedutora de almas, levando milhões à
abominação da idolatria, à imoralidade sexual,
à negação da suficiência da obra redentora de
Cristo na cruz e à enganosa venda de
salvação em seu lugar – e tem feito isso
enquanto posa como a única Igreja verdadeira
agindo em nome de Cristo.
CAPÍTULO 14

Uma Metamorfose
Incrível
“Então, vi a mulher... e, quando a vi, admirei-me com grande
espanto”

– Apocalipse 17.6

O homem que entra [numa Igreja do século IV] é obrigado a ver


bêbados, miseráveis, trapaceiros, jogadores, adúlteros,
fornicadores, pessoas usando amuletos, assíduos freqüentadores
de feiticeiros, astrólogos...
Ele deve ser alertado para o fato de que a mesma multidão que
se acumula nas igrejas durante as festividades cristãs, também
enche os teatros nos feriados pagãos.

– Santo Agostinho[1]
Era realmente algo assustador que uma mulher
vestida de maneira deslumbrante fosse vista
segurando as rédeas e montada sobre uma terrível
besta devoradora de mundos. Entretanto, o apóstolo
João parece ter ficado estupefato por algo mais do
que esse fato – ou seja, pela própria mulher
(“Quando a vi, admirei-me com grande
espanto”(Apocalipse 17.6)). Por quê? Será porque a
mulher era uma figura religiosa? Provavelmente
não.
Nos dias de João era um fato universal que a
religião exercia grande autoridade. A Igreja e o
Estado eram um, com a religião desempenhando o
papel dominante. Se a mulher representasse apenas
a religião pagã mundial, João dificilmente ficaria
surpreso. O que poderia haver com essa mulher que
tanto o espantou? Será que ele já a conhecia e ficou
chocado com sua incrível transformação?
Sob a luxuosa vestimenta, as jóias de valor
incalculável, a pesada maquiagem e o olhar
desavergonhado e impudente mostravam haver nela
uma familiaridade perturbadora. Não era possível!
Como poderia a casta Noiva de Cristo ter-se
transformado nessa prostituta descarada? Que
mudança diabólica havia transformado o pequeno e
desprezado rebanho de seguidores do Cordeiro
nessa notória prostituta brindando a Satanás com o
sangue dos mártires num cálice de ouro?! Como
poderia a Igreja, odiada e perseguida pelo mundo –
como Cristo disse que seria – ter se transformado
nessa poderosa instituição mundial que reinava sobre
os reis da terra?
João estava perplexo. O que lhe estava sendo
mostrado parecia impossível: os pertencentes a
Cristo estavam numa falsa igreja, uma prostituta.
Não havia possibilidade de reformá-la desde o seu
íntimo. O grito viria do próprio Senhor no céu:
“Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes
cúmplices em seus pecados” (Apocalipse 18.4).
A história confirma a visão de João. Tem-se
tornado muito claro que a religião mundial sob o
Anticristo não será o ateísmo, o hinduísmo, o
islamismo, o budismo e nem mesmo a Nova Era.
Será o cristianismo, mas de forma paganizada –
exatamente como foi sob o governo de Constantino
e seus sucessores, os papas. A futura religião
mundial terá seu quartel-general em Roma.

A Perseguição da Igreja
Primitiva
Por mais de dois séculos, como disse
Tertuliano, o sangue dos mártires foi a semente da
Igreja, consciente do céu e sem ambição terrena,
uma Igreja cujos membros tinham atingido cerca de
dez por cento do Império Romano. A Igreja que
Cristo estabelecera parecia florescer sob a
perseguição. O desprezo do mundo a mantinha
pura, desligada dos desejos mundanos e ansiando
por estar com Cristo no céu. Os cristãos eram
completamente diferentes dos pagãos: eram párias,
desprezados e culpados por qualquer desastre, pois
sua recusa em adorar ídolos havia supostamente
desencadeado a ira dos deuses. No início do terceiro
século, Tertuliano escreve:
Se o Tibre atinge os muros, se o Nilo não enche para
regar os campos, se o firmamento não se movimenta
ou se a terra o faz, se há fome, se há pragas, logo vem
o grito: “Joguem os cristãos aos leões!”[2]
Tertuliano, um renomado advogado cristão
romano, convertido do estoicismo ao cristianismo,
foi um dos primeiros e mais proeminentes teólogos e
apologistas da Igreja. Ele atacava abertamente todas
as facetas da cultura e religião pagã. Alfinetando os
pagãos que debatiam com ele, Tertuliano declarava:
“Dia a dia vós vos lamentais sobre o progressivo
aumento dos cristãos. Vosso grito constante é que o
estado em que vos encontrais é responsabilidade
nossa, que os cristãos estão em toda parte”.[3] Um
líder da Igreja primitiva descrevia os cristãos com
estas palavras:
Mas ao mesmo tempo em que eles habitam em
cidades gregas ou bárbaras, conforme cada porção de
homens tem sido espalhada, e seguem os costumes da
terra no vestir, no comer e em outros aspectos da vida
diária, mesmo assim as condições de cidadania que
eles exibem é maravilhosa e comprovadamente
estranha.
Moram em seus países, mas simplesmente como
forasteiros... suportando a sorte dos estrangeiros...
Existem na carne, mas não vivem segundo a carne.
Passam a existência na terra, mas sua cidadania está
no céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas vivem
acima do padrão estabelecido por elas. Amam a todos
os homens e por eles são perseguidos.[4]
As perseguições do século III eram muito mais
severas do que as dos séculos anteriores. Clemente
registra “mortes em fogueiras, na estaca e
decapitações” dos cristãos em Alexandria do Egito
antes de ter abandonado aquela cidade no ano 203.
[5] As perseguições vinham em “ondas”, pontuadas
por períodos de relativa tolerância e tranqüilidade. O
sistema totalitário dos césares trouxe a visão pagã do
imperador como divindade (ele tinha o controle
absoluto sobre a vida e a morte) tornando admissível
tudo o que fizesse. A lealdade aos cultos pagãos
tradicionais, encabeçada pelo imperador como
“Sumo Pontífice” era uma forma de patriotismo. A
rejeição cristã aos deuses pagãos e à adoração ao
imperador era vista como traição e acirrava o ódio
popular contra a minoria considerada “não-patriota”.
Junte-se a isso o fato de que os “templos
pagãos começaram a ser abandonados e as igrejas
cristãs a ficarem lotadas”.[6] Nos idos de 250, o
imperador Décio martirizou milhares de pessoas,
inclusive os bispos de Roma, Antioquia e Jerusalém
bem como um grande número dos próprios soldados
do imperador que se recusavam a sacrificar aos
ídolos.[7] “Nem uma cidade, nem uma vila do
Império escapou”, informa o historiador Philip
Hughes que acrescenta um dado importante: “a
intenção do imperador não era tanto o massacre de
cristãos, mas que voltassem à antiga religião...
[através] de longos julgamentos... repetidos
interrogatórios e extenso uso de torturas, na
esperança de quebrar-lhes gradualmente a
resistência”.[8] Chadwick explica ainda:
[Décio exigia] que cada um apresentasse diante de
um comissário especial um certificado (libelo) de que
havia sacrificado aos deuses... Eles [os certificados]
eram uma tentativa deliberada de apanhar as pessoas
e foram o mais grave ataque até então sofrido pela
Igreja.
O número de apóstatas [os que negavam a fé para
salvar suas vidas e posses] era enorme, especialmente
entre os proprietários de terras.[9]

Isso parece uma prévia do que acontecerá


quando o Império Romano renascer sob o
Anticristo. Depois de um breve intervalo, a
perseguição dirigida pelo imperador Valeriano (253-
260) proibiu toda adoração cristã e focalizou
especificamente a execução de líderes da Igreja. Mas
também eram inúmeros os mártires entre os cristãos
comuns. O pior, contudo, ainda estava por vir.
A “Grande Perseguição”, como veio a ser
conhecida, começou em 303 sob o imperador
Diocleciano e seu co-imperador Galério. Todas as
Bíblias deveriam ser entregues às autoridades, todas
as igrejas destruídas, toda adoração cristã proibida,
todos os clérigos aprisionados e todos os cidadãos
do império deviam sacrificar aos deuses pagãos sob
pena de morte. Em muitos lugares houve um banho
de sangue. Por exemplo, na Frígia, “onde toda a
população era cristã, foi dizimada uma cidade
inteira”.[10]

Montando o Palco para a


Apostasia
No ápice da mais devastadora perseguição, o
livramento veio de uma maneira surpreendente: na
forma de um novo imperador, Constantino. Sendo
um brilhante comandante militar, ele tomou o
controle do império no Ocidente, enquanto seu
aliado Licínio conquistou o Oriente. Juntos
assinaram o Édito de Milão em 313, restaurando aos
cristãos os plenos direitos de cidadãos.
O fim da perseguição parecia um presente de
Deus. Infelizmente, esse acontecimento serviu para
armar o palco para uma apostasia que envolveria o
cristianismo por mais de um milênio. A Noiva de
Cristo havia se casado com o paganismo. Não é de
admirar que João ficasse tão chocado!
O único cristianismo que João conhecia era o
“pequeno rebanho” (Lucas 12.32) formado por
aqueles que, odiados pelo mundo, seguiam o
caminho de Cristo, repleto de rejeição e sofrimento.
O Senhor havia prometido: “Se vós fôsseis do
mundo, o mundo amaria o que era seu; como,
todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele
vos escolhi... Se me perseguiram a mim, também
perseguirão a vós outros...” (João 15.19-20). E foi
assim que aconteceu.
Que esse pequeno e desprezado bando,
perseguido pelo mundo por causa de sua santidade e
fidelidade a Cristo, pudesse se transformar numa
instituição maligna, montada no assento do poder
mundial e governando sobre os reis e reinos da terra,
parecia algo impossível para João, mas ela estava
presente na visão que teve sobre o futuro.
Com o consentimento e a participação dos
bispos, que a princípio foi relutante mas depois
tornou-se cada vez mais progressiva e entusiástica, a
Igreja entrou numa apostasia que a conduziu ao
catolicismo romano e que tem perdurado até os dias
de hoje. Na verdade agora está chegando o
momento do julgamento final de Deus contra a
grande meretriz. Will Durant, um historiador
secular, sem ligação alguma com a religião, comenta
sobre o casamento do cristianismo com o
paganismo, que ocorreu graças à pretensa
“conversão” de Constantino e sua assunção à
liderança da Igreja:
O paganismo sobreviveu... na forma de antigos ritos e
costumes tolerados, ou aceitos e transformados por
uma Igreja muitas vezes indulgente. Uma adoração
íntima e confiante dos santos substituiu o culto aos
deuses pagãos. Estátuas de Ísis e Horus foram
renomeadas como Maria e Jesus. A “Lupercália”
romana e a “Festa da Purificação” de Ísis
transformaram-se na “Festa da Natividade”; a
“Saturnália” foi substituída pela celebração do Natal...
Um antigo festival dos mortos passou a ser
denominado “Dia de Todos os Santos”, dedicado agora
aos heróis cristãos; incenso, luzes, flores, procissões,
vestimentas, hinos que haviam agradado o povo em
cultos mais antigos foram domesticados e purificados
nos rituais da Igreja... logo o povo e os sacerdotes
usariam o sinal da cruz como uma fórmula mágica
para afugentar ou expelir demônios...
[O paganismo] foi transmitido como o sangue materno
à nova religião e a Roma que antes era cativa capturou
seu conquistador... o mundo converteu o
cristianismo...[11]
De Perseguida a
Perseguidora
Referindo-se ao desenvolvimento que se deu
após Constantino, Peter Brown escreve: “Longe de
ser uma fonte de melhoramento, esta aliança [com o
Estado] foi uma fonte de ‘maior perigo e tentação’
[do que havia sido a perseguição]... A difusão do
cristianismo na África, enchendo
indiscriminadamente as igrejas, havia simplesmente
atirado para longe as claras distinções morais que
separavam a ‘Igreja’ do ‘mundo’.”[12]
Considerações políticas começaram subitamente a
influenciar a vida e a doutrina cristã (exatamente
como hoje), porque o que era melhor para o Estado
parecia melhor para os assuntos eclesiásticos e o
imperador agora tomava conta de ambos. Com a
queda do Império Romano, os papas assumiriam o
papel do imperador e o casamento com o mundo
estaria completo.
Em seu novo papel como a favorecida (e
eventualmente oficial) religião do império, o
“cristianismo” ficou poluído por sua ávida demanda
pelo poder secular. A pureza e o poder espiritual da
Igreja primitiva tinham sido tão admiráveis que os
incrédulos não se atreviam a se juntar a ela (Atos
5.13). Em contraste, Peter de Rosa descreve
eloqüentemente aquilo em que a Igreja se
transformaria após Constantino:
Não passou muito tempo [após Constantino] até que
os [supostos] sucessores de Pedro deixassem de ser os
servos, passando a ser os donos do mundo. Eles se
vestiriam de púrpura como Nero e chamariam a si
mesmos de pontifex maximus. Eles se refeririam ao
pescador como “o primeiro papa” e apelariam não para
a autoridade do amor, mas do poder nele investido
para agirem como Nero.
Contrariando os ensinos de Jesus, os cristãos faziam
aos outros o mesmo que foi feito com eles e coisas
ainda piores. A religião que se orgulhava de ter
triunfado sobre a perseguição mediante o sofrimento
tornar-se-ia a fé mais perseguidora que o mundo já
viu...
Ela ordenava, em nome de Cristo, que todos aqueles
que discordassem fossem torturados e, às vezes,
crucificados e queimados. Ela faria uma aliança entre o
trono e o altar; insistindo que o trono é o guardião do
altar e o defensor da fé.
Sua idéia seria que o trono (o Estado) devia impor a
religião cristã a todos os seus súditos. Não a
perturbava o fato de Pedro ter lutado contra tal aliança
e morrido por causa disso.[13]

De perseguida a Igreja tornou-se a principal


perseguidora, não apenas da fé religiosa, como já
vimos, mas de toda for ma de liberdade de
consciência. Hasler explica como a metamorfose
ocorreu: “Uma vez que o cristianismo se tornou a
religião estatal, os desvios da ortodoxia ameaçavam
tanto a unidade do império como a da Igreja. E era o
imperador quem tinha o maior interesse em resolver
as disputas doutrinárias. Ele convocava concílios
ecumênicos e ditava os seus resultados”.[14] Os
papas, contudo, tinham um trunfo escondido – as
chaves do céu – e o usavam para intimidar reis e
imperadores para se tornarem o braço secular que
era a sua extensão, especialmente durante as
inquisições.
Em 1864 o Syllabus Errorum de Pio IX
condenou “toda a visão existente dos direitos de
consciência e fé e também de profissão religiosa”. O
Syllabus declarava que era “um erro terrível admitir
que os protestantes tivessem direitos iguais aos
católicos, ou permitir que imigrantes protestantes
celebrassem seu culto livremente; pelo contrário,
coagir e suprimi-los seria um dever sagrado, quando
isso fosse possível... a Igreja, sem dúvida, agirá com
a maior prudência no uso do seu poder temporal e
físico, conforme as diversas cir cuns tân cias...”[15]
A Bíblia era o livro mais perigoso do mundo e
tinha de ficar fora do alcance do povo. O clero daria
a eles trechos selecionados e diria o que
significavam. A visão protestante de que qualquer
um era capaz de ler e entender a Bíblia destruiria o
catolicismo. A constituição Unigenitus do papa
Clemente XI (1713) denunciou as seguintes
proposições jansenistas apresentadas por Pasquier
Quesnel:
“Os cristãos devem santificar o Dia do Senhor ao ler
livros piedosos, em especial as Sagradas Escrituras”. O
julgamento de Clemente: “CONDENADO”!
“Tirar o Novo Testamento das mãos dos cristãos é
fechar a boca de Cristo contra eles”. CONDENADO!”
“Proibir os cristãos de ler as Sagradas Escrituras e
especialmente os evangelhos é proibir o uso da luz aos
filhos da luz e puni-los com uma espécie de
excomunhão”. “CONDENADO!”
Liberdade – Ao Estilo de
Roma
O Vaticano já não pode hoje impor seus éditos
da maneira totalitária que fazia antigamente. Por isso
professa agora defender a liberdade de religião e de
consciência porque deseja que o seu próprio povo
tenha esses direitos onde os católicos são minoria. O
Vaticano II tem uma seção inteira intitulada
“Declaração da Liberdade Religiosa”, a qual contém
declarações como: “o ser humano tem direito à
liberdade religiosa”.[16] O que ele promove,
contudo, é a independência de qualquer
interferência do governo ou discriminação contra a
sua religião. Uma impressão desonesta de que
Roma advoga a total liberdade de religião acaba
sendo transmitida. Não há menção, e muito menos
arrependimento, dos milhões de pessoas que foram
martirizados e massacrados século após século,
simplesmente porque não aceitaram as
interpretações católicas romanas da Bíblia.
O Concílio Vaticano II também não concede
genuína liberdade de consciência. Sim, ele diz que
todos são livres para procurar a verdade. Mas
declara que a verdade existe apenas dentro da Igreja
Católica Romana. E tampouco o Concílio aponta
para a Bíblia, a Palavra de Deus, como a fonte da
verdade, a ser lida e entendida por todos. Assim
como fazia na Idade Média, ele diz que apenas a
Igreja pode interpretar a Bíblia e somente ela tem os
sacramentos e os meios de salvação. A Igreja possui
a verdade, é sua guardiã e sua única despenseira em
toda a história.
Assim sendo, apesar de todos os argumentos
sobre liberdade de religião e consciência, nesta seção
do documento oficial do Vaticano II não existe uma
liberdade verdadeira porque esse mesmo documento
deixa claro que a verdade só pode ser conhecida e a
alma salva através da submissão cega e total a
Roma. Considere essas palavras transcritas da seção
sobre a “Liberdade Religiosa”:
Cremos que a única religião verdadeira continua a
existir na Igreja Católica, à qual o Senhor Jesus
confiou a tarefa de difundi-la entre todos os homens...
Assim, uma vez que a liberdade religiosa que os
homens procuram para preencher sua obrigação de
adorar a Deus tem a ver com a liberdade de coerção
na sociedade civil, deixa intacto o ensino católico
tradicional sobre o dever moral dos indivíduos e das
sociedades no tocante à verdadeira religião e à única
Igreja de Cristo...
Através dos tempos, ela [a Igreja Católica Romana]
tem preservado e entregue a doutrina que recebeu do
Mestre e dos apóstolos... ao formarem suas
consciências, os fiéis devem prestar muita atenção ao
ensino correto e sagrado da Igreja. Pois a Igreja
Católica é, segundo a vontade de Cristo, a mestra da
verdade. É seu dever proclamar e ensinar com
autoridade a verdade que é Cristo e, ao mesmo
tempo, declarar e confirmar por sua autoridade os
princípios de ordem moral que brotam da própria
natureza humana.

Portanto, enquanto na teoria há liberdade, na


prática ela não existe. A pessoa é livre para procurar
a verdade, mas a verdade não existe na Bíblia de
uma maneira que possa ser reconhecida pela
consciência e estar disponível para toda a
humanidade, mas reside somente dentro da Igreja
Católica Romana e somente os seus prelados podem
reconhecê-la e dispensá-la. Ninguém deve julgar sua
“verdade” pela consciência ou pela Palavra de Deus,
mas seus dogmas devem ser cegamente aceitos
porque ela é a única Igreja verdadeira fundada por
Cristo sobre Pedro, e seus papas são os sucessores
de Pedro.
O próprio Anticristo vai reconhecer essa
declaração fantástica (a mulher cavalgará a besta),
mas não com mais sinceridade do que o fez
Constantino. Será uma manobra a fim de usar a
Igreja para os seus próprios fins, até que ele
finalmente coloque sua imagem no templo e exija
que o adorem como “Deus”. Naquele momento a
besta se voltará contra a mulher e irá devorá-la
(Apocalipse 17.16).
Pastores Enganando Ovelhas
Lembrem-se, foi o sistema papal totalitário que,
antes de tudo, destruiu os homens que se tornaram
parte dele e por meio deles destruiu a Igreja. Os
pastores se corromperam com a ambição de poder
levando em seguida a corrupção para todo o clero, o
qual, por sua vez, corrompeu o povo. O cardeal
Sadolet, falando sobre Clemente VII, disse que o
conhecia intimamente e que antes de sua eleição ele
estudava constantemente a Bíblia, mas
posteriormente seu caráter acabou se deteriorando e
seu pontificado foi “uma série de erros, um eterna
tentativa de evadir o Concílio que ele odiava e
temia”. Antes de se tornar papa, Paulo IV favorecia
a reforma da Igreja, mas em seguida passou a buscar
avidamente os seus interesses egoístas e o progresso
e enriquecimento de seus sobrinhos. Um
contemporâneo descreve Pio IV antes do seu
pontificado como “humano, tolerante, beneficente,
gentil e altruísta”, mas que agia de maneira
completamente oposta após se tornar papa. Ele “se
entregou à sensualidade e desejos vulgares, comia e
bebia imoderadamente, tornou-se imperioso e
trapaceiro” e até mesmo parou de freqüentar o
“serviço divino na capela”. O mesmo ocorreu com
Inocêncio X, Alexandre VII e muitos outros.[17]
Com sua clareza usual, Peter de Rosa nos dá
mais uma revelação a respeito do assunto: “No
século X, com todos os seus papas adolescentes,
adúlteros e assassinos, o papado era um fenômeno
local. O cabeça de uma poderosa família romana
colocava o seu acarinhado filho adolescente no
trono; o rapaz fazia o que bem queria durante
poucos meses ou anos e acabava sendo vítima de
uma emboscada dos membros de uma família rival,
cuja hora havia chegado. Mas a partir do século XI,
Gregório VII colocou seu selo sobre o papado. Sua
estrutura e prestígio cresceram; sendo capaz de
controlar a Igreja inteira, desde o simples cura
campestre ao mais poderoso arcebispado. O que
emergiu foi a corrupção mais terrível que os cristãos
já haviam visto, ou provavelmente verão. Começou
no alto. O papado foi leiloado em conclaves pelo
mais alto preço, independentemente do valor do
candidato”.[18] Von Dollinger estendeu a censura à
Cúria inteira:
Quando os cardeais disseram, na carta endereçada ao
seu papa, Gregório XII, em 1408, que a Igreja estava
doente desde a planta dos pés até o alto da cabeça,
deveriam ter acrescentado, se quisessem dizer toda a
verdade: “somos nós e nossos colegas, e vossos
predecessores, a Cúria, que saturamos o corpo da
Igreja com veneno moral, e, portanto, ela está agora
tão gravemente enferma”.[19]

São Boaventura declarou que em Roma “os


cargos da Igreja eram comprados e vendidos, assim
faziam os príncipes e governantes da assembléia da
Igreja, desonrando Deus por sua incontinência,
seguidores de Satanás e saqueadores do rebanho de
Cristo... os prelados, corrompidos por Roma,
infestavam o clero com seus vícios; e o clero, com
seu terrível exemplo de avareza e depravação,
envenenava e levava à perdição todo o povo
cristão”. Outros “disseram que a Cúria era a ‘igreja
carnal’ totalmente corrompida...” Os que ainda
tinham alguma esperança de reforma da Igreja,
escreve Dollinger, “previram uma grande renovação
e purificação através de um papa santo, o papa
Angelicus, há tanto esperado, mas que nunca
apareceu”.[20]
Petrarca, observador atento da Cúria Ro ma na
durante muitos anos, chegou à conclusão de que
Roma era o cumprimento da visão de João em
Apocalipse 17. Ela era “a mulher apocalíptica
embriagada com sangue, sedutora de cristãos e
praga da raça humana”. Von Dollinger afirma que as
descrições de Petrarca do papado e da Cúria “são
tão atemorizantes que se poderia supor serem
exageros de ódio, se não fossem confirmadas por
todos os seus contemporâneos. Um frade
agostiniano de Florença, Luigi Marsigli, disse que a
corte papal não mais governava com hipocrisia –
exibindo seus vícios tão abertamente – mas apenas
através do horror inspirado por suas interdições e
excomunhões”.[21]
Os papas haviam sobrecarregado São
Boaventura de honrarias. Como cardeal e general de
sua ordem, ele era ligado a Roma pelos laços mais
fortes. Mesmo assim, em seu comentário do
Apocalipse, ele declara que Roma é “a meretriz que
embriaga os reis e nações com o vinho de sua
prostituição”. Dante também aplicou aos papas a
profecia apocalíptica da meretriz sobre os sete
montes, que está embriagada com o sangue dos
homens e seduz príncipes e povos.[22] João achava
ser difícil de acreditar que algum dia tal
metamorfose ocorresse – mas ela tem se cumprido,
exatamente como Cristo revelou.
Alguns Contrastes a
Ponderar
Para o católico comum, a Igreja Católica
mantém uma posição que é inteiramente diferente da
relação entre um evangélico e a denominação a que
ele pertence. Para os evangélicos, o cristianismo
envolve uma relação pessoal entre o crente, Deus e
Jesus Cristo. Muitos protestantes não têm essa
relação pessoal e, portanto, não são cristãos
verdadeiros. Contudo, a perda dessa relação pessoal
não ocorre porque eles tenham sido ensinados a
procurar a salvação numa igreja batista, metodista,
presbiteriana ou de qualquer outra denominação; ao
menos esse não é o ensino comum das igrejas
protestantes.
Em contraste, um mórmon aprende que a
salvação vem ao pertencer ou permanecer firme na
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
O mesmo acontece com as testemunhas de Jeová, os
membros da Ciência Cristã ou de outras seitas,
mesmo sendo elas “cristãs”, hindus ou budistas.
Roma também decreta que a pessoa só recebe “os
méritos e graças de Cristo” através da Igreja. A
essencial relação pessoal com Jesus Cristo, à parte
de qualquer instituição, e a segurança de estar com
Ele no momento da morte é negada aos católicos.
Sua esperança está na Igreja: eles esperam que seus
contínuos esforços, mesmo após sua morte,
eventualmente os levarão para o céu.
Enquanto a Bíblia ensina a submissão aos
líderes da Igreja, também insiste em que a submissão
vai somente até onde os líderes estiverem seguindo o
próprio Cristo. Pau lo escreveu: “Sede meus
imitadores, como também eu sou de Cristo” (1
Coríntios 11.1). Ele não quis dizer que todos os
cristãos deveriam segui-lo por causa de sua posição
de destaque, mas apenas porque ele era fiel a Cristo
e Sua Palavra. É obvio que, para fazer tal
julgamento, a pessoa deve conhecer por si mesma a
Cristo e Sua Palavra.
Paulo diz que todo crente, e não apenas uma
classe especial de clérigos, é livre para apresentar a
verdade de Deus à Igreja, e quando os líderes falam
à Igreja os ouvintes devem julgar por si mesmos a
validade do que está sendo dito (1 Coríntios 14.29-
32). Em contraste, o Código de Direito Canônico do
catolicismo declara: “A Primeira Sé (o papado) por
ninguém é julgada”.[23] O Vaticano II declara que
os pronunciamentos dos papas sobre fé e moral são
infalíveis, irreformáveis, “de modo algum necessitam
da aprovação dos outros, e nem admitem que se
apele a qualquer tribunal”.[24] O mesmo é dito
sobre “o colegiado dos bispos quando, juntos com o
sucessor de Pedro [o papa], exercerem o supremo
ofício do magistério”.[25]
João diz que todos os verdadeiros crentes têm a
unção do Espírito Santo, por isso não devem seguir
cegamente a ninguém
(1 João 2.20-27), mas precisam discernir se uma
doutrina é bíblica, seguindo a orientação de Deus
através de sua Palavra e do Espírito Santo. De que
outra forma poderíamos julgar se os que pregam
estão ensinando a verdade de Deus, como Paulo diz
que devemos fazer? No catolicismo, contudo, é
explicitamente declarado que ninguém pode ter uma
opinião pessoal concernente à verdade bíblica, mas
deve aceitar tudo que a hierarquia da Igreja ensinar.

Grande Responsabilidade,
Grande Privilégio
Como já vimos, na linguagem de Mateus
28.19-20, (“ensinando-os a guardar todas as coisas
que vos tenho ordenado”), várias conclusões são
óbvias: 1) Uma linha contínua de mandamentos flui
de nosso Senhor através de sucessivas gerações de
discípulos pela história do cristianismo; 2) Todo
cristão comum tem de obedecer a todo mandamento
que Cristo deu aos Seus discípulos originais,
cumprindo o que Ele os treinou e mandou fazer,
inclusive pregar o Evangelho a todas as nações e
fazer discípulos; 3) Cada cristão recebeu do Senhor
alguns dos privilégios, responsabilidades, autoridade
e poder dados aos apóstolos originais. De outro
modo, como poderia cada geração de novos
discípulos obedecer a todos os mandamentos que
Cristo deu aos Seus apóstolos?
Os primeiros cristãos obedeceram essas
instruções. Nem mesmo o conhecimento de que
poderiam ser mortos pôde detê-los. Após a morte de
Estevão eles foram dispersos, e somos informados
de que em toda parte onde iam, pregavam o
Evangelho (Atos 8.4). Devemos fazer o mesmo.
Encarregado da Grande Comissão de pregar o
Evangelho “a toda criatura”, todo discípulo, a todo
momento na história, é um soldado da cruz e
embaixador do Rei dos reis. Que espantosa
responsabilidade – mas que grande privilégio!
Infelizmente muitos cristãos não desejam
assumir tal responsabilidade. Eles querem deixá-la
para uma classe especial de profissionais, muitos dos
quais estão muito ansiosos para assenhorear-se do
rebanho. Todo cristão tem autoridade de resistir ao
diabo e vê-lo fugir, de “ligar e desligar” como Cristo
capacitou os primeiros discípulos, e de ser Seu
embaixador à humanidade. Na metamorfose dos
séculos após Constantino, a hierarquia romana
exigiu para si o direito exclusivo de fazer o que
Cristo intencionava que fosse a tarefa de Seus
discípulos.
Distinções Importantíssimas
Cristo fez uma clara distinção entre César e
Deus: “Dai a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus” (Marcos 12.17). Is so é algo
fundamental. A Igreja Católica casou Deus com
César. Igreja e Estado se tornaram um, com a Igreja
no controle e o Estado obedecendo-lhe, algo que
continua acontecendo nos países católicos.
Cristo fez uma clara distinção entre o Seu
reino, que não é deste mundo, e os reinos do mundo
(João 18.36) Em desobediência a Cristo, a quem
dizem representar, os papas construíram um reino
que é muitíssimo deste mundo, embora eles afirmem
ser o Reino de Deus. E eles o construíram através
de alianças profanas com governantes seculares.
Cristo fez uma clara distinção entre Sua Igreja
(a qual Ele retirou do mundo) e o mundo (cf. João
17.18-20). João declarou: “Não ameis o mundo
nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o
mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João
2.15).
As distinções que Cristo fez devem ser
obedecidas por aqueles que pertencem a Ele: “Se
alguém me ama, guardará a minha palavra...
Quem não me ama não guarda as minhas
palavras” (João 14.23-24); “Por que me chamais
Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos mando?”
(Lucas 6.46).
CAPÍTULO 15

Alianças Profanas
“Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se
acha sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os
reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se
embebedaram os que habitam na terra”

– Apocalipse 17.1-2

Vós [papa Pio IX] tendes sido condescendente com a união da


fornicação política e o governo civil de todos e quaisquer países
despóticos; vós tendes prostituído a cruz, o símbolo do sacrifício e
salvação, e feito dela um símbolo da tirania e da ruína.

Os que se intitulam vigários de Deus na terra têm se tornado


vigários do gênio do mal.

– Giuseppe Mazzini – um italiano patriota, 1863[1]


Uma cidade construída sobre sete montes é
acusada de cometer fornicação com os reis da terra!
Já vimos que o termo “fornicação” é sempre usado
na Bíblia no sentido espiritual, significando
infidelidade a Deus. Ezequiel 16 é totalmente
dedicado a denunciar Jerusalém por sua infidelidade
a Deus, comparando a cidade a uma “mulher
adúltera, que, em lugar de seu marido, recebe os
estranhos” (v. 32). Jerusalém havia violado sua
relação espiritual com Deus através da idolatria e
alianças com nações pagãs. Algo que fica claro em
muitas passagens da Escritura.
Entretanto, Jerusalém não pode ser a mulher
porque, como já vimos, não está edificada sobre sete
montes e não preenche nenhum dos outros critérios.
Então é óbvio que essa cidade, que a mulher
representa, deve alegar possuir uma relação com
Deus semelhante a de Jerusalém. De fato, Roma
afirma ter substituído Jerusalém na afeição de Deus.
E tem violado esta relação ao fazer alianças profanas
com reis incrédulos da terra. Somente Roma
preenche este e muitos outros critérios especificados
por João.
A história está repleta de registros de alianças
profanas entre o Vaticano e os governos seculares.
Muitas evidências ainda estão presentes hoje em
igrejas e monumentos de Roma. Por exemplo, o
museu do Vaticano está repleto de pinturas antigas
de valor incalculável, esculturas, tapeçarias, ouro e
jóias anteriormente usadas ou entesouradas por
governantes déspotas. A maioria delas foi doada aos
papas pelos reis, rainhas ou governos, como
lembrança de sua associação com essas figuras
mundanas – relacionamentos que a Bíblia condena e
que seriam impensáveis para a verdadeira Noiva de
Cristo.

O Testemunho da História
Expulso de Roma por um levante popular
contra o seu reinado opressivo, o papa Leão III
fugiu para a corte de Carlos Magno, a fim de
conseguir ali ajuda para reconquistar os territórios
sobre os quais os papas haviam reinado. Os
exércitos sedentos de sangue recapturaram Roma e,
em nome de Cristo, devolveram Leão ao trono
papal. Quando Carlos Magno se ajoelhou durante a
missa na Basílica de São Pedro, no dia de Natal do
ano 800, o papa colocou uma coroa sobre sua
cabeça e o proclamou imperador do Ocidente. O
título acabou sendo reconhecido tanto pelo
imperador oriental em Constantinopla, como pelo
califa de Bagdá. Como nos relembra Maurice Keen:
“A restauração do domínio mundial de Roma era o
sonho não apenas dos papas e imperadores
medievais, mas também de todos os seus súditos e
criados”.[2] Esse sonho será finalmente cumprido
no governo do Anticristo.
A manobra do papa foi astuta. O poder de
Carlos Magno havia ameaçado ofuscar a autoridade
do papado. Contudo, após sua coração pelo papa na
basílica de São Pedro, Carlos Magno, em firme
associação com o papado, “trabalhou durante cerca
de 40 anos a fim de criar um Estado cristão,
conforme Santo Agostinho havia determinado
anteriormente”.[3] As brutais campanhas militares
do imperador na porção norte da Europa eram
acompanhadas pela conversão forçada dos pagãos.
Carlos Magno era o braço secular do papa para a
cristianização dos pagãos pela espada e, dessa
forma, alargava o domínio católico romano como os
conquistadores espanhóis iriam fazer mais tarde na
América Latina.
Como já foi mencionado aqui, Pepino, o pai de
Carlos Magno, baseado num documento fraudulento
chamado A Doação de Constantino, havia
subdividido e devolvido aos papas os imensos
territórios mais tarde conhecidos como Estados
papais e governados pelo papa. Porém Carlos
Magno também foi enganado por esta fraude.
Baseado na Doação, ele elaborou formalmente uma
carta que reconhecia o papado como governante
espiritual e temporal de “todas as regiões da Itália e
do Ocidente”. Assim sendo, Carlos Magno agiu
como protetor e sócio dos papas, do mesmo modo
que Constantino havia feito logo no início do
desenvolvimento da coalizão Igreja-Estado. Tal
arranjo, totalmente contrário aos ensinos de Cristo, é
apenas um exemplo da fornicação espiritual em que
a mulher se envolveria, exatamente como João
previu em sua visão.
Finalmente a Igreja e o Estado ficaram ligados
tão estreitamente, que dificilmente podia ser vista
uma distinção entre eles. Os imperadores
convocavam e presidiam os grandes concílios da
Igreja e consideravam o papa e o resto da hierarquia
da Igreja como seus sócios no governo das massas.
Essas alianças papais profanas, que logo seriam
comuns, teriam sido anatemizadas pela Igreja
primitiva; elas zombavam da rejeição e da
crucificação de Cristo pelo mundo. Vejamos outro
excerto do discurso vergonhosamente bajulador feito
por Eusébio (uma porção diferente da que foi
previamente mostrada) em louvor a Constantino. Ele
atribuía ao imperador pagão as muitas qualidades
espirituais e autoridade e funções eclesiásticas
exigidas pelos papas hoje em dia:
Nosso imperador, Seu amigo [de Cristo], agindo como
intérprete da Palavra de Deus, almeja reconduzir toda
a raça humana ao conhecimento de Deus;
proclamando claramente aos ouvidos de todos e
declarando com voz poderosa as leis da verdade e da
santidade a todos os habitantes da terra... investido
da semelhança da soberania celestial como ele está...
molda o seu governo terreno conforme o padrão divino
original... a monarquia de Deus”.[4]

Não resta dúvida alguma quanto à incrível


exatidão da visão de João de uma cidade que afirma
pertencer a Cristo e, mesmo assim, se prostitui com
os reis da terra. Ter os governantes terrenos
impondo o “cristianismo”, através do poderio
militar, sobre um império papal sempre em
crescimento foi uma paródia blasfema da verdade
que Cristo ensinou. Era uma interpretação
equivocada do Evangelho tão grosseira e uma
identificação tão confusa do Estado com a Igreja,
que Cristo acabou sendo considerado o verdadeiro
governante de Bizâncio! Moedas eram forjadas
retratando Jesus com uma coroa imperial sobre a
cabeça e ícones representavam-nO usando as vestes
do imperador. O próprio trono do imperador
permanecia próximo ao outro, vazio, exceto por
uma cópia dos evangelhos, indicando ser Cristo o
co-imperador de Bizâncio. Esse era o espírito
reinante naqueles tempos e que prevalecia também
no Ocidente.
Como já mencionamos antes, o papa Inocêncio
III acabou por abolir o Senado Romano e colocou a
administração de Roma diretamente sob o seu
controle com um único senador como seu
representante. Em 1266 Clemente IV deu essa
função a Carlos d’Anjou, o qual fundou a
Universidade de Roma. O papado continuava
participando ativamente de quase todas as intrigas
políticas e seus exércitos estavam aliados às forças
militares de muitos reis nas guerras continentais que
se espalhavam pela Europa.
No Novo Mundo a Igreja era a companheira
dos conquistadores espanhóis e dos portugueses na
África. No início dos anos 90, ativistas indígenas
dos Estados Unidos clamaram ao papa João Paulo II
para revogar formalmente a bula papal Inter Cetera,
promulgada em 1493. Ela declarava que “as nações
bárbaras descobertas e ainda a serem descobertas
deveriam ser subjugadas à fé católica, a fim de
propagar o império cristão”.[5] Exemplos da
“fornicação com os reis da terra” na história antiga
poderiam ser multiplicados, mas precisamos voltar
aos tempos modernos.

A Concordata de 1929 Com


Mussolini
Já citamos que a independência da Itália foi
declarada em 1870, e o que sobrou dos Estados
papais foi absorvido pela nova nação unida.
Também dissemos que o povo italiano votou
expressivamente contra o governo do papa e por
uma nova independência. Os poderes temporais dos
papas chegaram ao fim, incluindo o prestígio e as
alianças com regimes mundanos. A autoridade civil
dos papas ficara limitada ao Vaticano, onde eles
permaneceram num exílio auto-imposto por cerca de
60 anos, até que Mussolini e o papa Pio XI
assinaram o Tratado de Latrão, em 1929.
Por força da lei, essa Concordata tornou
novamente o catolicismo romano a “única religião”
da Itália. Certamente nem Pedro, nem Paulo e
tampouco Cristo jamais teriam entrado em tal
acordo com um governo, muito menos com uma
ditadura fascista. O Vaticano, que afirmava ser a
única e verdadeira Igreja, a Noiva de Cristo (que
disse que o Seu reino não era deste mundo), foi
novamente reconhecido como um Estado soberano,
com o status de nação, capaz de enviar e receber
embaixadores políticos.
Por ter-se apropriado dos territórios papais em
1870, a Itália pagou à Santa Sé 750 milhões de liras
em dinheiro e um bilhão de liras em bônus do
Estado. Parte desses fundos foi usado para abrir o
Banco do Vaticano, que ficou famoso por sua
corrupção. Outra parcela do dinheiro recebido
acabou sendo destinada a estranhos investimentos
feitos pela Santa Madre Igreja, tais como “uma
fábrica de armas de fogo italiana e um laboratório
farmacêutico canadense, que fabricava
anticoncepcionais”.[6]
Não restam dúvidas de que foi a Igreja Católica
Romana quem colocou Mussolini no poder. Para
obter o Tratado de Latrão, o papa exigiu que os
católicos se isentassem de participação política
(muitos haviam sido socialistas que se opunham
fortemente a Mussolini e seu Partido Fascista) e deu
apoio ao “Duce”. O papa fez fortes declarações
públicas de apoio a Mussolini, como, por exemplo:
“Mussolini é o homem enviado pela Providência
Divina” – de modo que os católicos não tiveram
outra escolha, a não ser apoiar o futuro ditador
fascista. Sem essa ajuda Mussolini não teria
recebido votos e a história teria sido muito diferente.
Quid Pro Quo
Mussolini, por seu lado, após ter sido assinada
a Concordata, declarou: “Reconhecemos o lugar de
preeminência da Igreja Católica na vida religiosa do
povo italiano – o que é perfeitamente natural num
país católico como o nosso e sob um regime como o
fascismo”. Todos os cardeais em Roma, em um
discurso dirigido ao papa, exaltaram Mussolini como
“o eminente estadista [que governa a Itália] por um
decreto da Providência Divina”. Ao fazermos uma
retrospectiva, ficamos admirados em ver como os
homens que se dizem emissários do Espírito Santo
pudessem estar tão errados. Contudo, havia uma
razão egoísta para tudo aquilo.
Era um quid pro quo [acordo com vantagens
mútuas], que prometia muito para ambas as partes.
Mussolini precisava da Igreja para estabelecer seu
domínio na Itália e, por seu lado, a Igreja estava
disposta a apoiá-lo em troca da restauração ao
menos de um pouco de seu prestígio e poder
anteriores. Com o maciço apoio da Igreja, Mussolini
se firmou como ditador. E graças ao Tratado, o
pontífice romano mais uma vez alcançou o status de
braço direito do imperador, uma posição que os
papas outrora haviam desfrutado, começando com
Constantino e continuando com os seus sucessores.
A “fornicação com reis”, após breve interrupção,
havia começado novamente.
A Igreja permaneceu, durante toda a II Guerra
Mundial, como sócia leal de uma ditadura opressiva,
que também havia ficado feliz em dar ao papa o que
ele desejava: a supressão dos direitos humanos
básicos. Com o catolicismo agora sendo a religião
estatal, a educação religiosa tornou-se obrigatória
nas escolas; professores e livros textos tinham de ser
aprovados pela Igreja, o casamento religioso tornou-
se obrigatório e o divórcio foi proibido. Críticas ao
catolicismo, quer orais ou na imprensa,
caracterizavam uma ofensa penal.
Como Avro Manhattan menciona em seu livro
The Vatican and World Politics [O Vaticano e a
Política Mundial]: “Assim a Igreja tornou-se a arma
religiosa do Estado fascista, enquanto o Estado
fascista se tornou o braço secular da Igreja”.
Nenhum arranjo desse tipo com qualquer governo
secular poderia ser admitido por outra Igreja
evangélica (batista, metodista, luterana, etc.), mesmo
que ele assim o desejasse. Somente a Cidade do
Vaticano é capaz de fornicação espiritual, e
certamente suas Concordatas com Mussolini, e
posteriormente com Hitler e uma variedade de
outros governos, representam exatamente isso. Não
há como equivocar-se quanto à identidade dessa
mulher.
No dia 3 de junho de 1985 o Vaticano e a Itália
assinaram uma nova Concordata, na qual acabaram
“muitos privilégios que a Igreja Católica tinha na
Itália, inclusive o status de Igreja estatal... o novo
tratado garante liberdade religiosa para os que não
são católicos e termina o status de Roma como
“cidade sagrada”, [mas] ainda reconhece o
significado especial de Roma para o catolicismo
romano”.[7]

A Concordata de 1933 com


Hitler
Uma das figuras mais importantes da
negociação da Concordata de 1929 com Mussolini
foi o procurador Francesco Pacelli, irmão do cardeal
Eugênio Pacelli, que mais tarde se tornou o papa Pio
XII. O último, como secretário de Estado do
Vaticano, desempenharia um papel importante na
negociação da lucrativa (para a Igreja) Concordata
de 1933 com Hitler. Um dos benefícios da
Concordata foram as centenas de milhões de dólares
que entraram na Igreja Católica Romana através da
Kirchensteuer (imposto eclesiástico) durante toda a
guerra. Pio XII , por sua vez, jamais excomungaria
Hitler da Igreja Católica nem levantaria sua voz de
protesto contra o assassinato de seis milhões de
judeus.
Prelados e teólogos católicos importantes
ficaram estáticos durante a assinatura da Concordata
de 1933. O teólogo católico Michael Schmaus
escreveu em louvor ao autoritarismo do regime
nazista e comparando-o ao da Igreja: “A forte ênfase
da autoridade no novo governo é algo
essencialmente familiar aos católicos.Ela é a
contrapartida, a nível natural, da autoridade da
Igreja no âmbito sobrenatural. Em parte alguma o
valor e o sentido da autoridade são tão evidentes
como em nossa santa Igreja Católica”. É claro que
isso era verdade. O papado havia trabalhado durante
séculos em estreita associação com os reis e
imperadores autocráticos na supressão dos direitos
humanos básicos.
Os católicos de hoje precisam encarar o fato de
que o totalitarismo de sua Igreja foi um fator
preponderante na preparação dos católicos alemães
para aceitarem o regime nazista. O professor de
História da Igreja Católica, Joseph Lortz, “jamais
cansou de falar da ‘familiaridade fundamental entre
o Nacional-Socialismo e o catolicismo, uma
familiaridade que ocorre a um nível
impressionantemente profundo...’.” No mesmo ano
(1933), um renomado prelado de Colônia, Robert
Grosche, escreveu no Die Schildgenossen:
Quando a infalibilidade papal foi definida em 1870, a
Igreja estava antecipando, em um nível mais alto, a
decisão histórica que agora foi tomada em nível
político: uma decisão a favor da autoridade e contra a
discussão, a favor do papa e contra a soberania do
Concílio, a favor do Führer e contra o Parlamento.[8]

Baseado em anos de estudos de documentos


secretos nos arquivos do Vaticano, seu curador por
alguns anos, August Bernhard Hasler, escreveu:
“Tanto na Itália, como na Alemanha, a Cúria
aproveitou a oportunidade para obter de um regime
ditatorial o que parecia impossível sob um governo
parlamentarista, ou seja, uma Concordata”. Ele
então cita o líder católico alemão Ludwig Kaas: “o
‘Estado autoritário’ necessariamente compreendia os
princípios básicos da ‘Igreja autoritária’ mais do que
outros”. Na verdade eles eram sócios feitos um para
o outro. Hitler recebeu a seguinte nota calorosa de
congratulações do cardeal Michael Faulhaber, seis
meses depois de ter assumido o poder:
O que os outros parlamentos e partidos fracassaram
em conseguir durante 60 anos, vossa ampla visão de
estadista tornou realidade na história mundial em
apenas seis meses. Essa aliança com o papado, a
maior força moral na história do mundo, é uma
poderosa façanha, cheia de imensas bênçãos e
aumento de prestígio alemão no Oriente e Ocidente, à
vista do mundo inteiro.[9]

John Toland, jornalista que ganhou o prêmio


Pulitzer, chama nossa atenção para o fato dos líderes
da Igreja Católica Romana estarem ansiosos para
conseguir a simpatia de Hitler. Após uma audiência
com o papa Pio XI, mesmo já tendo Hitler acabado
com o Partido Católico, seu líder, monsenhor
Ludwig Kaas (com palavras que obviamente
visavam impressionar o Führer), disse à imprensa:
“Hitler sabe como conduzir o navio. Mesmo antes
de se tornar chanceler, eu me encontrava
freqüentemente com ele e ficava bastante
impressionado com os seus pensamentos claros,
com o seu modo de encarar a realidade, enquanto
mantinha seus ideais, que são nobres”. Toland
prossegue, explicando:
O Vaticano ficou tão agradecido por ser reconhecido
como sócio ativo que pediu que Deus abençoasse o
Reich. Em um nível mais prático, ordenou que os
bispos alemães jurassem lealdade ao regime Nacional-
Socialista. O novo pacto concluía com essas palavras
importantes: “no desempenho do meu ofício espiritual
e em minha solicitude pelo bem-estar e interesse do
Reich alemão, esforço-me para evitar quaisquer atos
prejudiciais que possam deixá-lo em perigo”.[10]
Atraído Para o Redemoinho
Quando Hitler, apesar das objeções de
Mussolini, anunciou que a Alemanha estava se
retirando da Liga das Nações, veio logo um
telegrama da Ação Católica que prometia seu apoio.
Astutamente, Hitler fez com que essa decisão fosse
sujeita à votação popular, em seguida pressionou o
povo para que o apoiasse. A Igreja Católica o apoiou
com entusiasmo e deixou claro aos católicos que
deveriam votar a favor da decisão de Hitler. O
cardeal Faulhaber, com a aprovação de todos os
bispos da Bavária, declarou que, votando sim, os
católicos “professariam novamente sua lealdade ao
povo e à pátria, e o seu acordo com o porvir e
poderosos esforços do Führer para livrar o povo
alemão do terror da guerra e dos horrores do
bolchevismo, para assegurar a ordem pública e criar
empregos para os desempregados”.
Quando Hitler dirigiu suas tropas à Áustria,
após suas promessas habituais de que não o faria,
ficou espantado com o entusiasmo das multidões de
austríacos, quase todos católicos, que o saudavam.
Depois de ter falado a uma multidão de cerca de
200.000 na Haldenplatz, ele liderou uma parada,
passou pelo palácio de inverno com os generais
austríacos que, montados a cavalo, o seguiam. Mais
tarde o cardeal Innitzer saudou Hitler “com o sinal
da cruz e assegurou-lhe que enquanto a Igreja
[Católica Romana] mantivesse suas liberdades, os
católicos austríacos se tornariam “os verdadeiros
filhos do grande Reich, a cujos braços eles tinham
sido trazidos neste dia tão importante”. O Führer
apertou a mão do cardeal calorosamente e
“prometeu-lhe tudo”.[11]
No dia do 50º aniversário de Hitler, “missas
especiais em seu favor foram celebradas em todas as
igrejas [católicas] alemãs ‘para implorar a bênção de
Deus sobre o Führer e o povo’. O bispo de Mainz
(Mogúncia) ordenou que todos os fiéis em sua
diocese rezassem especificamente pelo ‘Führer e
chanceler, o inspirador, ampliador e protetor do
Reich’.” Nem mesmo o papa deixou de enviar suas
congratulações.[12]
De forma quase unânime, a imprensa católica
de toda a Alemanha declarou que o livramento do
atentando contra sua vida em 1939 se deu pela
miraculosa proteção de Deus. O cardeal Faulhaber
mandou que fosse cantado o Te Deum na catedral
de Munique “para agradecer em nome da
arquidiocese à Providência Divina pelo Führer ter
afortunadamente escapado”. Mesmo tendo deixado
de condenar a aniquilação da Polônia por parte da
Alemanha, o papa não deixou de mandar suas
felicitações pessoais a Hitler, pela sua miraculosa
sobrevivência em uma tentativa de assassinato.
Mesmo quando a maldade de Hitler havia sido
plenamente revelada, a Igreja Católica continuou a
apoiá-lo. Quando as tropas alemãs desencadearam
sua ofensiva contra a União Soviética, o papa
novamente deixou claro que apoiava a luta nazista
contra o bolchevismo, descrevendo-a como “uma
magnânima bravura em defesa dos fundamentos da
cultura cristã’. Como era esperado, muitos bispos
alemães apoiaram o ataque abertamente. Um deles o
chamou de ‘uma cruzada européia’, uma missão
semelhante àquela dos cavaleiro teutônicos. O papa
exortou todos os católicos a lutarem por ‘uma vitória
que fará a Europa respirar livremente outra vez e
prometerá um novo futuro a todas as nações”.
Poderíamos continuar citando páginas e mais
páginas de documentos. Entretanto, isso deveria ser
suficiente para mostrar que o papa, seus bispos e
demais subalternos, incluindo a maioria dos
católicos, sentiam uma empatia por Hitler e
decidiram apoiá-lo, mesmo depois que suas injustas
ambições expansionistas e crimes contra a
humanidade tornaram-se bem conhecidos. Aliança
profana? Fornicação espiritual? Não resta dúvida!

As Alianças Continuam Até


Hoje
A capa da revista Time, em 24 de fevereiro de
1992, trazia o retrato do ex-presidente Ronald
Reagan e do papa João Paulo II juntos, com uma
manchete surpreendente: “ALIANÇA SAGRADA:
Como Reagan e o papa conspiraram para apoiar o
movimento Solidariedade da Polônia e apressar a
queda do comunismo”. A tendenciosa história dizia
como Reagan “acreditou fervorosamente tanto nos
benefícios como nas aplicações práticas da relação
de Washington com o Vaticano. Um dos seus
primeiros objetivos como presidente, diz Reagan, foi
reconhecer o Vaticano como Estado e ‘fazer dele
um aliado’.”
Eles tornaram-se aliados numa das mais
incríveis conspirações da história. Derrubaram o
Muro de Berlim, acabaram com a Guerra Fria e
desestabilizaram totalmente o comunismo soviético.
Foi uma história de intriga e cooperação entre a CIA
e os agentes do Vaticano, que aparentemente eram
ainda mais eficientes. Reagan e João Paulo II,
ambos sobreviventes de tentativas de assassinato,
compartilhavam de “uma visão espiritual comum e a
mesma perspectiva sobre o Império Soviético: no
plano divino, o direito e a justiça prevaleceriam no
final”.
Uma estratégia, dividida em cinco partes,
surgiu durante o primeiro semestre de 1982: ela
“tinha como objetivo causar um colapso na
economia soviética, desgastando os laços que
ligavam, pelo Pacto de Varsóvia, a União Soviética
aos seus Estados clientes e forçando uma reforma
dentro do império soviético”. No desenvolvimento
do plano, o ex-secretário de Estado Alexander Haig
reconheceu que “em todos os sentidos as
informações do Vaticano eram muito mais rápidas e
melhores do que as nossas. [O] elo de ligação do
Vaticano com a Casa Branca, o arcebispo Pio
Laughi, estava sempre lembrando aos oficiais
americanos: “Ouçam o Santo Padre. Temos 2.000
anos de experiência nesses assuntos”.[13]
Tanto Reagan, como posteriormente
Gorbachev, admitiram francamente que o papa
desempenhou um papel importante. Um artigo foi
publicado num dos maiores jornais dos Estados
Unidos três semanas depois que a história da Time
foi divulgada: “‘o papa João Paulo II desempenhou
um papel político importante no colapso do
comunismo na Europa Oriental’, disse Michail
Gorbachev, ex-líder da União Soviética. Gorbachev
predisse que o papa continuará a desempenhar ‘um
grande papel político’ na transição atual e delicada
que está ocorrendo na Europa... Os eventos na
Europa Oriental ‘não teriam sido possíveis sem a
presença desse papa, sem o importante papel –
incluindo o aspecto político – que ele soube
desempenhar na cena mundial’, disse Gorbachev”.
[14]
Neste ponto, deixaremos que o leitor considere
o que motivou o Vaticano a fazer uma intervenção
política tão pesada. O fato é que tal papel na cena
mundial, com suas alianças profanas, intrigas
políticas e objetivos terrenos, seriam anátema para a
verdadeira Noiva de Cristo.
O Vaticano há muito tem se envolvido com
muitas nações em atividades clandestinas visando
seu benefício próprio. De acordo com a revista dos
Cavaleiros de Colombo, “a história dos laços
diplomáticos entre os Estados Unidos e a Santa Sé
remonta a mais de 200 anos”. O artigo trazia uma
foto do então embaixador no Vaticano, Thomas
Melady, e de sua esposa Margaret, com o papa e
citava uma declaração dada por Melady:
O papa João Paulo II está numa elevada posição de
respeito como um líder mundial... Nosso governo está
cooperando como normalmente um país faz com
outros, nesse caso com o governo da Santa Sé. É uma
grande honra para mim estar lá, representando o
nosso governo na Santa Sé, neste período tão
importante da história mundial.

Aparentemente Cristo, cujo Reino, no início,


“não era deste mundo”, mudou de idéia. Ele, que
comissionou os Seus discípulos a chamar os
convertidos para fora do mundo e a receberem a
cidadania celestial, com o Seu Evangelho da graça
redentora, aparentemente decidiu trabalhar em
acordo com as nações deste mundo visando criar um
paraíso aqui mesmo. O artigo da revista dos
Cavaleiros de Colombo continuou exultando pelo
fato de que:
as relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a
Santa Sé começaram no século XVIII, quando os
Estados papais (antes de sua absorção pela Itália)
concordaram em abrir vários portos no Mediterrâneo
para os embarques dos Estados Unidos. Em 1797 João
B. Sartori, um italiano, foi nomeado cônsul
americano...
Em 1847, a pedido do presidente James K. Folk, o
Senado dos Estados Unidos estabeleceu um posto
diplomático nos Estados papais... até 1867, quando
americanos anticatólicos conseguiram que essa missão
diplomática fosse eliminada.
Relações informais foram reatadas em 1939, quando o
presidente Franklin D. Roosevelt nomeou Myron C.
Taylor como seu “enviado especial” à Santa Sé...
Em 1981, o presidente Reagan nomeou William A.
Wilson, um católico, para o posto. Wilson serviu até
1984, quando o Vaticano e os Estados Unidos
iniciaram relações diplomáticas plenas e Wilson foi
feito o primeiro embaixador dos Estados Unidos na
Santa Sé.[15]

Reflitam sobre o seguinte, transcrito de um


folheto que anunciava “O Evento Católico do Ano”:
“O papa Leão XIII comparou a relação apropriada
entre Igreja e Estado com a ‘união da alma e do
corpo no homem’. Imaginem uma nação sem alma.
Os eventos que ocorreram no início dos anos 90
acabaram confirmando, com clareza espantosa, que
os EUA de hoje são uma nação assim. Quem
descobriu a América foi um católico [Cristóvão
Colombo], que exigiu aquela terra para Cristo, o
Rei. Se os EUA estão para serem redescobertos e
reclamados por nosso Rei – se eles precisam
encontrar sua alma – são os católicos que devem
agir, e agora”.[16]
Roma não mudou. Suas ambições continuam
sendo as deste mundo. Sem dúvida, é em nome de
Cristo que ela deseja estabelecer seu “reino sobre os
reis da terra”. É para “o bem da humanidade e da
glória de Cristo”, como ela alega: a “Igreja Católica
procura, de maneira incessante e eficaz, o retorno de
toda a humanidade e de todos os seus bens”.[17] O
Vaticano II não poderia ser mais claro a este
respeito.
CAPÍTULO 16

Domínio Sobre Reis


Temei, então, nossa ira e os trovões de nossa vingança; pois
Jesus Cristo, com sua própria boca nos nomeou [os papas], juízes
absolutos de todos os homens e até mesmo os reis submetem-se à
nossa autoridade.

– papa Nicolau I (1858-1867)[1]

Os italianos são exaltados acima de todas as nações pela graça


especial de Deus, que no papa lhes dá um monarca espiritual, o
qual tem destronado grandes reis e também os mais poderosos
imperadores, colocando outros em seus lugares, a quem os
grandes reinos, há muito têm pago tributos, como não fazem a
nenhum outro e que distribui riquezas tais aos seus cortesãos, que
nenhum rei ou imperador jamais possuiu para dar.

– Carrerio, diretor e professor de Pádua, 1626[2]

É ofício do papado ter sob os pés reis e imperadores.

– J. H. Ignaz von Dollinger[3]


A última característica de identificação que foi
dada a João concernente à mulher montada na besta
é que ela era uma cidade “que dominava sobre os
reis da terra” (Apocalipse 17.18). Poderia haver
uma cidade que verdadeiramente domina sobre os
governantes do mundo? A história sustenta que
realmente houve apenas uma cidade assim: Roma.
Isso ocorreu, mais especificamente, logo após seus
bispos começarem a chamar a si mesmos de “papas”
e, afirmando ser os sucessores dos césares, tomaram
para si os poderes imperiais da soberania mundial.
Consideremos, por exemplo, o arrogante
imperialismo do papa Alexandre III (1159-1181).
Declarando que “o poder dos papas é superior ao
dos príncipes”, Alexandre excomungou Frederico I,
imperador do Sacro Império Romano, rei da
Alemanha e da Itália. Quando tentou castigar o
papa, as forças de Frederico foram derrotadas pelo
exército papal. O imperador vencido foi até Veneza
pedir perdão e absolvição, prometendo “submeter-se
para sempre à Igreja Romana”. Imaginem uma
Igreja governando o mundo através da força militar!
Fortunatus Ulmas, historiador católico, descreveu a
cena com entusiasmo:
Quando o imperador chegou à presença do papa,
deixou de lado o seu manto imperial e ajoelhou-se,
pondo o rosto em terra. Alexandre avançou e colocou
seu pé sobre o pescoço dele, enquanto os cardeais
vociferavam em voz alta: “Pisarás o leão e a áspide,
calcarás aos pés o leãozinho e a serpente”...
No dia seguinte, Frederico Barba Roxa... beijou os pés
de Alexandre, e voltou da missa solene a pé,
conduzindo seu cavalo pelas rédeas, até o palácio
pontifício...
O papado agora havia chegado a uma posição de
grandeza e poder que jamais havia alcançado antes. A
espada de Pedro havia conquistado a espada de
César![4]

Como espadachim, Pedro havia se mostrado


totalmente incapaz: desejando decapitar um servo do
sumo sacerdote, conseguiu apenas cortar uma orelha
(veja João 18.10). Cristo censurou Seu discípulo,
que agiu erradamente, curou a orelha e em seguida
permitiu que aquela turba armada O levasse
prisioneiro em Sua jornada até a cruz. A Igreja
primitiva sabia muito bem que os cristãos não
deveriam empunhar espada ou punhal em defesa de
Cristo. Seu reino “não é deste mundo”, necessitando
ser primeiramente estabelecido nos corações dos que
crêem nEle como o Salvador que morreu por seus
pecados. Esses são os verdadeiros discípulos, que
seguem o Seu caminho de rejeição, sofrimento e
morte. Como podem, então, os que chamam a si
mesmos “vigários de Cristo” alcançar tal posição de
domínio mundial, a ponto de darem ordens a
imperadores, derrotar seus exércitos com a espada e
colocar o pé sobre o pescoço de um soberano
vencido?

A Trilha Para a Glória


Terrena
Alguns anos após Constantino ter transferido
os quartéis-generais imperiais para o Oriente, o
Império Romano no Ocidente dividiu-se. O vácuo
criado pela ausência de uma autoridade central em
Roma foi preenchida pela Igreja, a única instituição
romana capaz de fazê-lo. A Igreja desempenhou um
papel muito importante na educação e na caridade.
Entretanto, gradualmente os papas se apossaram do
governo civil de Roma e seus arredores; em seguida,
utilizando-se de fraudes (como já vimos), anexaram
os grandes territórios dos Estados papais aos seus
domínios. À medida que suas ambições
aumentavam, os novos pontífices romanos tomavam
para si os títulos e muito da aparência e da função
do imperador.
Os papas, alguns deles líderes militares
excepcionalmente capazes, possuíam exércitos e
navios ao seu comando para alargar e assegurar seus
territórios. Contudo, eles ostentavam um poder bem
maior do que a força dos exércitos, pois “as chaves
do céu” eram suas. Os governantes temporais eram
forçados, não importa o quanto estivessem
contrariados, a dobrar os joelhos diante dos papas.
Somente os “hereges” (os verdadeiros cristãos)
duvidavam que a Igreja pudesse determinar quem
entraria no céu e que ela pudesse fechar o portão
celestial àqueles que se opusessem a ela.[5] Os
governantes civis mais poderosos tremiam quando
eram ameaçados de excomunhão, pois era uma
crença quase universal que fora da Igreja não havia
salvação. O historiador Walter James escreve:
O papado controlava os portões de entrada do céu no
qual todos os fiéis, inclusive os governantes,
ansiosamente esperavam entrar. Naqueles dias poucos
duvidavam dessa verdade e isso deu ao papa uma
autoridade moral que até então jamais tinha sido
conseguida.[6]

A fraudulenta Doação de Constantino


mencionada anteriormente foi seguida de uma
verdadeira biblioteca de documentos forjados.
Foram esses falsos decretos que traçaram a
autoridade papal retroativamente até os primeiros
bispos de Roma e, através deles, chegando a Pedro.
Até mesmo Tomás de Aquino, o maior teólogo da
Igreja Romana, foi enganado por estas asserções
fraudulentas, a ponto de crer que “não havia
diferença entre Cristo e o papa...” Aquino ficou tão
cego pela pompa e poder dos papas que “fez os Pais
[da Igreja] dizerem que, de fato, os governantes do
mundo deveriam obedecer ao papa como se ele
fosse Cristo”.[7]
Pelo contrário, Cristo nada teve a ver com os
governantes deste mundo, pois os poderosos deste
século, longe de obedecer-Lhe, foram os que
crucificaram o Senhor da glória (veja 1 Coríntios
2.8). Mesmo assim, a heresia católica prevaleceu e
tornou-se o princípio central dos papas, e cumprindo
a visão de João, literalmente dominou sobre os reis
da terra.

O Domínio Papal Sobre


a Inglaterra e a Irlanda
Durante a Idade Média o espantoso poder
alcançado pelos papas sobre os reis da terra
continuou crescendo. Gregório VI (1045-1046)
havia declarado que o papa exigia obediência cega a
cada uma de suas palavras, até mesmo dos
soberanos. Alexandre II (1061-1073), a conselho do
grande Hildebrando (mais tarde chamado de
Gregório VII), proclamou um decreto afirmando
que Haroldo, o rei legítimo da Inglaterra, era um
usurpador e excomungou seus seguidores. O papa
decretou que Guilherme, duque da Normandia, era
o detentor legal da coroa inglesa.
Com a bênção do papa, Guilherme o
Conquistador matou Haroldo durante a batalha,
tomou a Inglaterra e foi coroado em Londres no dia
de Natal de 1066. Guilherme aceitou a coroa “em
nome da Santa Sé de Roma”. Essa foi um nova
vitória para o papado e aumentou grandemente a
influência católica romana na Inglaterra. Freeman,
em seu livro The Norman Conquest [A Conquista
Normanda], explica o acordo:
Guilherme foi autorizado [pelo papa] a avançar como
um vingador do céu. A ele foi exigido que ensinasse ao
povo inglês a “devida obediência ao vigário de Cristo”
e, o que o papado nunca esquece: “assegurasse um
pagamento mais pontual das obrigações temporais ao
seu apóstolo”.[8]

Em 1155 o papa Adriano IV deu a coroa da


Irlanda ao rei da Inglaterra. Assim, por sua
autoridade como “vigário de Cristo”, ele sujeitou a
Irlanda ao governo inglês e entregou “o povo
pacífico e cristão da Irlanda às implacáveis
crueldades de Henrique II, sob a alegação de que
aquela terra era uma porção do “patrimônio de São
Pedro e da Santa Igreja Católica Romana”.[9] Os
papas seguintes confirmaram esse decreto.
Durante o tempo em que a Inglaterra
permaneceu católica o arranjo foi tolerável. Mas
quando a Inglaterra tornou-se protestante, seu
controle contínuo da Irlanda católica e a perseguição
dos católicos pelos protestantes plantaram as
sementes de um problema que persiste até hoje.
Ainda que a Irlanda católica tenha muitos problemas
legítimos (complexos demais para serem relatados
aqui), ela precisa lembrar que, acima de tudo, foram
os papas católicos romanos que deram a Irlanda para
a Inglaterra.
Na verdade, os papas também eram os
responsáveis por muitos dos problemas e tribulações
da Inglaterra. Os pontífices romanos tratavam “os
seus reis [como] vassalos, e seu povo como quem
não tinha direito algum, sempre que estivesse em
conflito com as exigências do papado... O clero
católico, como emissário do papa, governava a
Inglaterra, desobedecendo as leis daquele reino,
como se os papas fossem os soberanos do país. As
cortes civis não tinham jurisdição sobre os
sacerdotes”. Thompson explica:
Seria impossível enumerar... os ultrajes e excessos
praticados na Inglaterra pelos reis e papas durante
esse período sombrio. Eles consideravam a asserção de
qualquer direito popular dos cidadãos como se fosse
um crime que Deus lhes havia determinado punir. Mais
de 100 assassinatos foram cometidos por eclesiásticos
durante o reinado de Henrique II, pelos quais os
responsáveis sequer foram castigados...
O clero tinha poder absoluto sobre os seus corpos e
não era permitido apelo algum de suas decisões. Um
leigo perdia sua vida pelo crime de homicídio, mas um
eclesiástico ficava impune. Essa era chamada de uma
das imunidades do clero! [Quando o rei tentou mudar
a lei para controlar o clero] o papa recusou sua sanção
e a denunciou como “prejudicial à Igreja e destrutiva
aos seus privilégios”![10]

O Papa Gregório VII (1073-


1085)
Antes de se tornar papa, como o famoso
Hildebrando, Gregório VII foi o gênio manipulador
por trás de outros cinco papas, incluindo Alexandre
II. Gregório iniciou seu pontificado “asseverando o
direito de dispor dos reinos, imitando o exemplo
seguido pelo papa Gregório I [o Grande] cerca de
400 anos antes”. Ele declarou que o poder de “ligar
e desligar” concedido por Cristo a Pedro dera aos
papas “o direito de constituir e depor reis, construir
e reconstruir governos, livrar-se de todos os que
desobedecessem em todo o território sob seu
domínio e outorgá-lo aos que se sujeitassem à
autoridade papal”. Será que ele não leu Apocalipse
17.18?
Gregório foi o primeiro papa que literalmente
destronou reis. Se decidisse depor o imperador
alemão, Gregório diria simplesmente “a mim é dado
o poder de ligar e desligar na terra e no céu”. Se
desejasse alguma propriedade pertencente a outros,
Gregório declarava simplesmente, como o fez em
seu Sínodo Romano de 1080: “Desejamos mostrar
ao mundo que podemos dar ou tirar, à vontade,
reinados, ducados, condados, em uma palavra, a
possessão de todos os homens; porque podemos
ligar e desligar”.[11]
Imaginemos, por exemplo, em 1077, o
humilhado Henrique IV, chefe supremo do Sacro
Império Romano e herdeiro de Carlos Magno (a
quem o papa Leão III havia coroado imperador no
ano 800), cruzando os Alpes e, como penitência,
sendo forçado a esperar fora do castelo de Canossa,
na neve, de pés descalços e vestido apenas com
roupas de peles, para fazer a paz com Gregório VII!
Afirmando ser o “rei dos reis”, Gregório, em razão
da disputa com Henrique, havia declarado: “Da
parte de Deus Onipotente, proíbo Henrique de
governar os reinos da Itália e Alemanha. Absolvo
todos os súditos de todos os pactos que tenham feito
e excomungo cada um que o servir como rei”.
Henrique não tinha como se defender dessa
“superarma” dos papas.
Desse modo foi estabelecida a magnífica
“meretriz” descrita por João em Apocalipse 17 –
com seu quartel-general localizado na cidade
edificada sobre sete montes (v. 9) e na qual ela
“domina sobre os reis da terra” (v. 18). Um
historiador do século XVIII contabilizou 95 papas
que afirmaram ter o poder divino para depor os reis.
[12] Não existe outra cidade que preencha esses
critérios da descrição feita por João. Sua visão tem
demonstrado ser incrivelmente precisa.

O Pontífice Mais
Sanguinário
A respeito de Inocêncio III (1198-1216), sobre
quem se diz “ter enchido a cristandade de terror...
por quase 20 anos”, Peter de Rosa escreve: “Ele
coroou e depôs soberanos, colocou nações sob
interdição, virtualmente criando os Estados papais
que atravessavam a Itália Central, desde o
Mediterrâneo até o Adriático. Ele não perdeu uma
batalha sequer e, perseguindo seus objetivos,
derramou mais sangue do que qualquer outro
pontífice”.[13] Desejando colocar Otto da Saxônia
no trono alemão, Inocêncio escreveu:
Pela autoridade que por Deus nos foi dada através da
pessoa de São Pedro, nós vos declaramos rei e
ordenamos que o povo se renda a vós nessa condição,
homenagem e obediência. Contudo, esperamos que
vos submetais a todos os nossos desejos como uma
recompensa pela coroa imperial.[14]

O espírito orgulhoso de Inocêncio III estava


insuflado pelo pensamento de que nenhum
potentado da terra poderia se igualar a ele. Portanto,
exigia que “todas as disputas entre os príncipes”
fossem levadas ao seu conhecimento e se uma parte
se recusasse a obedecer à sentença de Roma, seria
excomungada e deposta; igual penalidade seria
imposta sobre os que se recusassem a atacar
qualquer ‘delinqüente contumaz’, conforme ele
assim declarasse.[15] Como nos relembram Ehler e
Morrall, “o papado tornou-se não apenas a maior
autoridade quanto à jurisdição internacional, estando
capacitada a julgar reis e príncipes, mas também os
potentados seculares buscavam a sanção papal para
mudanças importantes de sua posição internacional,
tais como aquisição de novos territórios e títulos”.
[16]
João Sem Terra, rei da Inglaterra, cometeu o
erro de ter uma violenta disputa com o papa
Inocêncio III. “Após ter tentado resistir, ele
submeteu-se completamente a Roma, entregando
sua coroa real ao papa Inocêncio III, para recebê-la
de volta, mas agora como um vassalo da Santa Sé”.
[17] O documento, datado de 15 de maio de 1213, é
conhecido como “A insurreição do rei João Sem
Terra contra Inocêncio III”.[18] (Ver Apêndice C).
R. W. Thompson acrescenta sua perspectiva:
Confiscos, interdições, excomunhões e todo tipo de
censura e punição eclesiástica aconteciam quase
diariamente. Mesmo assim, alguns monarcas como
Filipe Augusto e Henrique IV rastejavam diante dele
[Inocêncio III] e Pedro II de Aragão, assim como João
da Inglaterra, consentiram ignominiosamente em
converter seus reinos em feudos espirituais e mantê-
los subordinados ao papa, sob a condição de lhe pagar
um tributo anual.[19]

Mais Evidências
Gregório IX (1227-1241), que estabeleceu a
Inquisição e a entrega dos hereges ao poder secular
para execução, esbravejava que o papa era senhor e
mestre de tudo e de todos. Inocêncio IV (1243-
1254) concordava porque, segundo ele, os papas
não haviam conseguido o seu domínio meramente
por causa da Doação de Constantino, mas o
receberam de Deus. Bonifácio VIII foi muito além
e, em sua bula Unam Sanctam, em 1302, na qual
ele exigia autoridade sobre os poderes temporais,
tornou como condição de salvação a total obediência
ao papa.
Quando morreu o imperador romano Frederico
Barba Roxa (sobre cujo pescoço Alexandre III havia
colocado o pé), já havia ficado estabelecido que
“ninguém poderia recebê-la [a coroa imperial] sem
que a coroação fosse feita pelo papa”.[20] O
imperador Carlos IV assegurou a paz e completa
harmonia com o papado ao renunciar a qualquer
atividade imperial no território italiano [deixando
que os papas lá governassem] e esta auto-restrição
foi observada até o fim da Idade Média pelos
imperadores que o sucederam.[21]
O papa Júlio II (1503-1513), furioso porque
Luiz XII da França não o apoiaria em suas
campanhas militares, emitiu uma bula papal na qual
destituía o rei e entregava o reino a Henrique VIII da
Inglaterra, contanto que este provasse sua piedade
apoiando o papa em suas guerras. Júlio faleceu antes
da bula ser publicada. A paixão do papa em travar
“guerras santas”, com o objetivo de estender os
territórios papais, inspirou Michelangelo (a quem ele
havia contratado para pintar o teto da capela
Sistina), a escrever as famosas frases, tão
apropriadas para Júlio e muitos outros papas:
Dos cálices eles fazem escudo e espada
E vendem, aos baldes, o sangue do Senhor.

Num artigo publicado por um jornal católico


no início dos anos 90, um padre confessou: “A
Igreja... foi transformada pelas ambições de homens
como Gregório VII, Inocêncio III e Bonifácio VII
numa instituição político-eclesiástica, sustentando o
poder totalitário tanto no âmbito sagrado como no
secular”.[22] Ele esqueceu de mencionar que os
dogmas e as declarações de Roma continuam os
mesmos de sempre. A Igreja não mudou, mas as
circunstâncias forçaram-na a mudar suas táticas.
As agressões e ameaças feitas publicamente por
uma pessoa como Gregório VII não seriam bem
sucedidas no mundo moderno. Mesmo assim,
apesar de lutar de modo mais sutil, o poder do
Vaticano não se tornou menos eficaz do que sempre
foi. Um autor que dedicou a vida inteira a analisar o
Vaticano e a escrever sobre ele, concluiu:
O Vaticano é... a maior superpotência de nossos
tempos. Seus adeptos... que somam quase um bilhão,
podem ser levados a agir em todos os cantos do
mundo... Devido à importância [para os governos] em
terem o papa como aliado na busca de qualquer
política mundial... A política do Vaticano é dirigida pelo
papa... não há nenhum Parlamento, Congresso ou
Senado, ou qualquer outra organização democrática...
capaz de limitar suas decisões, poderes ou política...
Ele é um dirigente absoluto e um autocrata, no mais
estrito senso da palavra.[23]

Com um Cálice de Ouro na


Mão
Os reis habitam em palácios, são servidos por
servos e, devido ao seu controle total sobre os
súditos, acabam acumulando grande riqueza.
Portanto, seria de se esperar que uma cidade que
domina sobre os reis da terra fosse a mais rica de
todas. É o que acontece com a mulher montada na
besta. Isso pode ser comprovado por ela estar
adornada “de ouro, de pedras preciosas e de
pérolas”, bem como por ter na mão “um cálice de
ouro” (Apocalipse 17.4).
O cálice “transbordante de abominações e
com as imundícias da sua prostituição”, in di ca
que sua riqueza foi adquirida de maneiras
abomináveis. O cardeal Baronius, embora seja um
defensor do papado, confessou que na cadeira de
São Pedro sentaram-se monstros, “cheios de desejos
carnais e astúcia, com todas as formas de maldade
[tendo] prostituído o trono de São Pedro em favor
de suas mulheres favoritas e amantes”. No século
XVI ele escreveu em sua obra, Ecclesiastical
Annals [Anais Eclesiásticos]:
A Igreja Romana estava... coberta de sedas e de
pedras preciosas e prostituiu-se publicamente pelo
ouro... Nunca os padres, e especialmente os papas,
cometeram tantos adultérios, estupros, incestos,
roubos e assassinatos... [como na Idade Média].[24]

Petrarca, poeta laureado do império, descreveu


sarcasticamente a corte papal de Avignon como “a
vergonha da humanidade, um poço de vícios, uma
fossa onde se juntam todas as sujeiras do mundo. Lá
Deus é olhado com desprezo, somente o dinheiro é
adorado e as leis de Deus e dos homens são
desprezadas. Naquele lugar tudo está infectado pela
mentira: o ar, a terra, as casas e, sobretudo, os
quartos”. Referindo-se a Avignon como a Babilônia
do Ocidente, Petrarca declarou:
Aqui reinam os sucessores dos pobres pescadores da
Galiléia... cheios de ouro e vestidos de púrpura,
gabando-se de ter espoliado príncipes e nações. Em
vez de santa solidariedade encontramos um anfitrião
criminoso... em vez de sobriedade, banquetes
licenciosos... em vez dos pés descalços dos apóstolos...
cavalos eram adornados com ouro, sua comida era
colocada sobre peças de ouro, em seguida serão
calçados com ouro, se o Senhor não acabar com essa
luxúria escravista.[25]

Sobre a riqueza de Roma na Idade Média,


Peter de Rosa diz: “Os cardeais possuíam palácios
imensos com inúmeros criados. Um adido papal
declarou jamais ter visto um cardeal que não
estivesse contando suas moedas de ouro. A Cúria
era formada por homens que haviam comprado seus
ofícios e estavam desesperados para reaver seus
enormes investimentos... Para cada benefício de sé,
abadia ou paróquia e para toda indulgência havia
uma taxa fixa. O pálio, manto de lã com cinco
centímetros de espessura e que tinha cruzes
bordadas... pelo qual todo bispo pagava... atraiu...
centenas de milhões de florins em ouro aos cofres
papais... O Concílio da Basiléia, em 1432, o chamou
de ‘o maior artigo de contravenção já inventado...’”.
De Rosa acrescenta:
As dispensas eram outra fonte de renda papal. Leis
extremamente severas, ou até mesmo impossíveis de
serem cumpridas, eram proclamadas para que a Cúria
pudesse enriquecer vendendo dispensas... [tais como]
a do jejum durante a Quaresma... O casamento, de
forma especial, era uma rica fonte de renda.
Consangüinidade era a alegação usada para separar
casais que jamais imaginaram ser parentes. As
dispensas de consangüinidade para fins de casamento
eram taxadas em até um milhão de florins de ouro por
ano.[26]

O Relatório de uma
Testemunha Ocular na
Espanha
D. Antonio Gavin, autor de Master Key to
Popery [A Chave-Mestra do Papado], nasceu e se
criou na Espanha no final do século XVI. Como
sacerdote católico romano havia se desiludido
completamente pelo mal em que se achava
envolvido. Fugindo da Inquisição, usando como
disfarce o uniforme de um oficial, Gavin conseguiu
chegar em segurança até a Inglaterra. Seu livro faz
uma descrição detalhada do catolicismo romano em
seus dias e tem muito a dizer sobre sua incrível
riqueza e o papel que ela desempenhou na prática
do cristianismo paganizado de Roma:
Na catedral de S. Salvador [em Saragoza], existem
300 quilos de prata, em placas usadas para adornar os
dois cantos do altar nos grandes festivais [e uma]...
abundância de ricos ornamentos para sacerdotes, de
valor incalculável. Também há 84 cálices, 20 de ouro
maciço, e 64 de prata com seu interior revestido de
ouro; e o rico cálice que somente o arcebispo pode
tomar usando suas vestes pontifícias.
Tudo isso é bagatela em comparação com a grande
custódia que eles utilizam para levar a grande hóstia
pelas ruas, durante os festejos de Corpus Christi... [ela
é feita de ouro maciço, incrustado de diamantes,
esmeraldas e outras pedras preciosas] pesando cerca
de 250 quilos... Vários joalheiros tentaram avaliar essa
peça, mas nenhum conseguiu estimar o seu valor
exato.[27]

A igreja mais famosa em Saragoza é a de N. S.


do Pilar, em razão de uma suposta aparição da
virgem naquele lugar. Gavin descreve a coroa da
imagem da virgem: “pesa 12 quilos, é toda cravejada
de grandes diamantes, para que assim não se possa
ver o ouro e todos pensem que é feita só de
diamantes. Além dessa, existem seis outras coroas,
feitas de ouro maciço, cravejadas de diamantes e
esmeraldas...” Ele continua, dizendo:
As rosas de diamantes e outras pedras preciosas que
ela tem para adornar o seu manto são incontáveis;
pois embora [a imagem da “virgem”] seja vestida com
a cor do festival da Igreja e nunca use duas vezes
[durante o ano] o mesmo manto, que é feito do
melhor tecido e bordado com ouro. Ela tem rosas de
pedras preciosas novas para cada dia, podendo ser
usadas por três anos seguidos. Tem também 365
colares de pérolas e diamantes e seis correntes de
ouro incrustadas de diamantes, as quais são colocadas
sobre o seu manto nos grandes festivais de Cristo.[28]

Qualquer um que visite Saragoza hoje pode


entrar na sala do tesouro para ver um pouco dessa
riqueza. A virgem tem uma túnica diferente para
cada dia do ano, todas são bordadas com ouro e
incrustadas de diamantes e outras pedras preciosas.
Existe também outra imagem, com cerca de 1,5
metro de altura, feita de prata e toda incrustada de
pedras preciosas, que usa coroa de ouro puro e
diamantes. No início do século XVI, o “honorável
Lord Stanhope, então general das forças armadas
inglesas”, foi apresentado ao tesouro. Gavin estava
presente e ouviu o general exclamar: “Se todos os
reis da Europa pudessem colocar juntos os seus
tesouros de ouro e pedras preciosas, não poderiam
comprar a metade da riqueza deste tesouro”. Tal era
a riqueza que havia numa única catedral, numa
pequena cidade da Espanha, há 280 anos atrás!
As inacreditáveis riquezas do Vaticano têm sido
acumuladas às custas do povo dos países mais
pobres. No tempo da guerra civil mexicana, a Igreja
Católica Romana possuía “de um terço a metade de
todas as propriedades do país [e cerca de metade da
Cidade do México]. A renda obtida com dízimos,
missas e a venda de artigos devocionais, como
estátuas, medalhas, rosários e coisas similares
arrecadam de seis a oito milhões de dólares anuais,
enquanto sua renda total alcança a soma
astronômica de 20 milhões de dólares... Esse tipo de
arrecadação em um país pobre como o México era
igual às despesas operacionais do governo dos
Estados Unidos durante o mesmo período”.[29]
Vamos chegar ao final deste relatório
lastimável. Não pode haver dúvida alguma de que a
marcante visão de João já se cumpriu. Uma cidade
sentada sobre sete montes, cheia de riqueza, que
afirma ter uma relação espiritual com Deus e Cristo,
literalmente dominou os reis da terra. Quanto aos
demais critérios de identificação que João nos
fornece, existe apenas uma cidade na história (e
apenas uma hoje) que passa neste teste. Peter de
Rosa nos relembra o que deve ter deixado João
chocado:
Jesus renunciou às riquezas. Ele sempre ensinou “vai,
vende os teus bens, dá aos pobres... depois, vem e segue-
me” (Mateus 19.21). Ele chamou de loucos os ricos e
poderosos... Os vigários de Cristo vivem rodeados de
tesouros, alguns de origem pagã. Qualquer insinuação
feita para que o papa venda o que tem e o dê aos
pobres é recebida como sendo ridícula e impraticável.
O relato do Evangelho sobre o moço rico diz que ele
reagiu da mesma maneira.
Durante toda a sua vida, Jesus viveu de maneira
simples, morreu nu, oferecendo como sacrifício a Sua
vida na cruz.
Quando o papa renova esse sacrifício durante a missa
solene, não poderia existir maior contraste. Sem
nenhum senso de ironia, o vigário de Cristo se veste
de ouro e sedas finíssimas.
...o papa tem uma dúzia de títulos honoríficos,
inclusive “soberano de Estado”. Os adidos do papa
também têm títulos, de certo modo algo impensável à
luz o Sermão do Monte: excelência, eminência, sua
graça, meu senhor, ilustre, reverendíssimo, e por aí a
fora... Pedro, que sempre viveu sem riquezas, ficaria
intrigado ao saber que, de acordo com o Cânon
1518... seu sucessor é “o administrador supremo de
todas as propriedades da Igreja” e que o Vaticano
possui o seu próprio banco...[30]

O Vaticano tem acumulado sua incalculável


fortuna utilizando-se dos meios mais abomináveis:
vendendo entradas falsas para o céu. Nino Lo Bello,
ex-correspondente em Roma da revista Business
Week, chama o Vaticano de “o magnata do Tibre”,
por causa de sua inacreditável riqueza e de suas
empresas espalhadas por todo o mundo. Sua
pesquisa indica que ele possui um terço dos imóveis
de Roma e é provavelmente o maior detentor de
ações do mundo, para não mencionar que tem
indústrias, que fabricam desde produtos eletrônicos
até plásticos, de companhias aéreas até indústrias
químicas e de engenharia.[31]
Durante sua viagem pelos países bálticos em
setembro de 1993, “o papa mostrou ser um rígido
crítico do capitalismo desenfreado. Num discurso no
qual indicava que no futuro haveria mais críticas, o
papa disse que a ideologia capitalista é a responsável
por ‘graves injustiças sociais’ e o ‘grão de verdade’
do Marxismo está em ver os defeitos do
capitalismo”.[32] É assombrosa a hipocrisia dessas
declarações vindas do cabeça da Igreja que é a
maior capitalista deste mundo! Lo Bello sugere que
a Igreja “dispa seu manto de piedade; e o Vaticano
então exponha a extensão total dos seus interesses
financeiros”.[33]
A mulher montada na besta usava sua riqueza e
poder para subjugar reis e reinos e assassinar
milhões que, embora sujeitos à autoridade civil, não
podiam aceitar suas heresias. Até hoje esse cálice de
ouro transborda com o sangue daqueles que, por
causa de sua consciência, foram martirizados pela
fé.
CAPÍTULO 17

Sangue dos Mártires


A horrenda conduta deste Santo Ofício [Inquisição] enfraqueceu
o poder e diminuiu a população da Espanha ao impedir o
desenvolvimento das artes, ciências, indústria e comércio e por
compelir multidões de famílias a abandonarem o reino; instigando
a expulsão dos judeus e dos mouros, e imolando mais de 300.000
vítimas em seus açougues flamejantes.

– Jean Antoine Llorente, secretário da Inquisição Espanhola, 1790-


1792[1]

A Inquisição é, em sua natureza, boa, gentil e preservadora. É o


caráter universal, indelével de toda instituição eclesiástica; vós a
vedes em Roma e podeis vê-la em qualquer lugar onde a
verdadeira Igreja tenha poder.

– conde Le Maistre, 1815[2]

É melhor ser ateu do que acreditar no Deus da Inquisição.

– um católico anônimo[3]
As citações na página anterior apresentam dois
pontos de vista opostos, ambos expressos por
católicos. Somente um está certo. Aprendemos a
verdade na visão de João e na História. A mulher
montada na besta está “embriagada com o sangue
dos santos e com o sangue das testemunhas de
Jesus” (Apocalipse 17.6). Essa é uma imagem
horrível, mas a História a autentica cabalmente
como sendo somente Roma e nenhuma outra
cidade.
Exigia-se que cada cidadão do império fosse
católico romano. Deixar de demonstrar fidelidade
total ao papa era considerado uma traição contra o
Estado, passível de morte. Esse foi o argumento
usado para justificar o assassinato de milhões de
pessoas. Um cristianismo paganizado foi imposto
sobre toda a população da Europa, sob ameaça de
tortura e morte, do mesmo modo como seria feito
pelo islamismo alguns séculos mais tarde.
O catolicismo tornou-se “a fé mais
perseguidora que o mundo já havia visto...
[dominando] o trono a fim de impor a religião cristã
[católica] a todos os seus súditos. Inocêncio III
assassinou muito mais cristãos em uma tarde... do
que qualquer imperador romano tenha conseguido
fazer em todo o seu reinado”.[4] Will Durant
escreve com franqueza:
Comparada com a perseguição da heresia na Europa,
entre 1227 e 1492, a perseguição dos cristãos pelos
romanos nos primeiros três séculos depois de Cristo foi
um procedimento moderado e humano.
Fazendo todas as concessões requeridas de um
historiador e permitidas a um cristão, devemos colocar
a Inquisição, juntamente com as guerras e
perseguições de nosso tempo, como uma das manchas
mais negras na história da humanidade, revelando
uma ferocidade desconhecida por qualquer besta
selvagem.[5]

É claro que nem todos os dissidentes


declaravam abertamente sua deslealdade a Roma.
Havia hereges secretos que tinham de ser
procurados diligentemente. O método encontrado
foi a Inquisição, na opinião do autor egípcio Rollo
Ahmed, “a instituição mais impiedosa e feroz que o
mundo já conheceu” em sua destruição de vidas,
propriedades, moral e direitos humanos. Lord
Acton, um católico, chamou a Inquisição de
“assassina” e declarou que os papas “não eram
apenas assassinos em grande estilo, mas tornaram o
assassinato a base legal da Igreja Cristã e da
condição para a salvação”.[6]

Não há Absolvição Para


Roma
Os apologistas católicos romanos tentam
enganosamente absolver a sua Igreja de qualquer
responsabilidade pela queima dos hereges. Eles
afirmam que a Inquisição era obra do Estado. Pelo
contrário, “a força ligada às leis contra os hereges
não repousava sobre os príncipes seculares, mas no
domínio soberano dos papas como representantes de
Deus na terra, conforme declara expressamente
Inocêncio III”.[7]
As penalidades eram executadas pelas
autoridades civis, que apenas agiam como o braço
secular da Igreja. Inocêncio ordenou ao arcebispo de
Auch, em Gascony: “Damo-vos uma ordem estrita
para, usando de todos os meios possíveis, destruir
todas as heresias... Vós podeis levar os príncipes e o
povo a suprimí-las usando da espada”. O papa
ofereceu indulgência plenária ao rei e aos nobres da
França pela ajuda em extinguir a heresia Catarista. A
Filipe Augusto, em troca dessa ajuda, o papa
ofereceu as terras de todos os que deixassem de se
juntar à Cruzada contra os albigenses”.[8]
O conde Le Maistre, em sua carta escrita em
1815 para justificar a Inquisição Espanhola, declara
que ela existiu “pela virtude da bula do soberano
pontífice” e que o Grande Inquisidor “é sempre um
arcebispo ou um bispo”.[9] Caso as autoridades se
recusassem a executar um condenado, elas mesmas
deviam ser trazidas diante do Tribunal e lançadas às
chamas.
Foram os próprios papas que inventaram a
Inquisição e garantiram que ela pudesse continuar.
“Em 1233, Gregório IX transferiu o ofício [da
Inquisição] aos dominicanos, mas sempre para ser
exercido em nome e na autoridade do papa”.[10]
Como já vimos, “dos 80 papas existentes a partir do
século XIII, nenhum desaprovou a teologia e os
meios usados pela Inquisição. Pelo contrário, um
após o outro, todos acrescentaram seus toques
pessoais de crueldade aos trabalhos de sua máquina
mortífera”.[11] Não estamos citando escritores
protestantes, nem mesmo ex-católicos, mas
historiadores católicos. Veja o que diz um
importante professor católico de História da Igreja
do século XIX:
Através da influência de Graciano... e incansável
atividade dos papas e seus delegados desde 1183, a
visão da igreja tinha sido... [que] cada departamento
de ensino da Igreja e cada oposição importante a
qualquer ordem eclesiástica devia ser punida com a
morte, e do tipo mais cruel: pelo fogo...
Inocêncio III declarou ser uma heresia digna de morte
a mera recusa em fazer juramentos e a opinião de que
os votos eram ilegais, e ordenou que todos que
discordassem de qualquer aspecto do modo comum de
viver da multidão deveriam ser tratados como hereges.
Tanto o início como a execução desse novo princípio
devem ser atribuídos somente aos papas... Foram os
papas que compeliram os bispos e padres a condenar
os heterodoxos à tortura, confiscar os seus bens, seu
aprisionamento e morte, e, sob pena de excomunhão,
impor às autoridades civis a execução dessa sentença.
De 1200 a 1500, a longa série de ordenanças papais
sobre a Inquisição, de severidade e crueldade sempre
crescentes, e toda sua política contra a heresia,
continuou sem interrupção. É um sistema rígido e
consistente de legislação; cada papa confirma e
aumenta os instrumentos do predecessor. Tudo é
dirigido a um só fim: arrancar definitivamente as raízes
de qualquer divergência de crença...
Somente a ditadura absoluta dos papas, e a noção de
sua infalibilidade em todas as questões de moral cristã,
que fizeram o mundo cristão... [aceitar] a Inquisição, o
que contradizia os mais simples princípios da justiça
cristã e do amor ao próximo, algo que teria sido
rejeitado com horror na Igreja antiga.[12]

Longe de serem suas iniciadoras, as autoridades


civis muitas vezes tentaram se opor à Inquisição,
mas não puderam. Forçados a cumprir a sentença,
os executores algumas vezes “estrangulavam o
condenado antes de atirá-lo às chamas”.[13] Tais
atos de misericórdia deficiente eram, infelizmente,
raras exceções. Algumas vozes misericordiosas
levantavam-se dentro da Igreja: “São Bernardo disse
que Cristo havia proibido expressamente a linha de
conduta prescrita posteriormente pelos papas e que
ela só podia multiplicar os hipócritas e confirmar o
aumento do ódio da humanidade contra uma Igreja
e um clero sanguinários e perseguidores”.[14] Mas a
maioria dos clérigos concordava com os papas.
Decretos Papais
Seguidamente ficamos sabendo da resistência
secular através dos decretos papais que tentavam
corrigi-la. Will Durant nos informa que Leão X
proclamou a bula Honestis (em 1521), a qual
“ordenava a excomunhão de todos os oficiais, e a
suspensão dos serviços religiosos em qualquer
comunidade que se recusasse a executar, sem exame
ou revisão, as sentenças dos inquisidores”[15].
Consideremos a repreensão de Clemente V a
Eduardo II:
Soubemos que vós proibistes a tortura por ser
contrária às leis de vossa terra. Mas nenhuma lei
estadual pode sobrepujar nossa lei, a lei canônica [da
Igreja]. Portanto, ordeno-vos imediatamente que
submetais esses homens à tortura.[16]

O papa Urbano II (1088-1099), inspirador da


Primeira Cruzada, decretou que todos os hereges
deviam ser torturados e mortos. Isso tornou-se um
dogma da Igreja. Até mesmo Tomás de Aquino,
conhecido como o “Doutor Angélico”, ensinou que
os não-católicos, ou hereges, podiam, depois de uma
segunda admoestação, ser legitimamente mortos.
Suas palavras exatas são: “eles mereceram ser
excluídos da terra pela morte”.[17]
Em 1429, o papa Martinho V (1417-1431)
ordenou que o rei da Polônia exterminasse os
hussitas (simpatizantes do mártir João Huss), que
haviam lutado e derrotado o exército papal. O trecho
a seguir, retirado da carta escrita pelo papa ao rei,
reforça o que já conhecíamos da maldade do
totalitarismo papal e nos diz porque os papas
odiavam os hussitas, e outros cristãos independentes,
e desejavam destruí-los:
Sabei que os interesses da Santa Sé, e os de vossa
coroa, tornam um dever o extermínio dos hussitas.
Lembrai-vos de que essas pessoas ímpias atrevem-se a
proclamar princípios de igualdade; afirmam que todos
os cristãos são irmãos, e que Deus não deu a homens
privilegiados o direito de governar as nações. Eles
sustentam que Cristo veio à terra a fim de abolir a
escravidão; conclamam o povo à liberdade, isto é, à
aniquilação dos reis e sacerdotes.
Portanto, enquanto ainda há tempo, dirigi vossas
forças contra a Boêmia, queimai, massacrai, fazei
desertos em toda parte, pois nada poderia ser mais
agradável a Deus ou mais útil à causa dos reis do que
o extermínio dos hussitas.[18]

Os próprios papas eram a autoridade por trás


da Inquisição. Eles detinham o poder de vida e de
morte até sobre os imperadores. Caso algum papa
tivesse se oposto à Inquisição, ele poderia tê-la
interrompido, ao menos durante o seu papado. Onde
lemos que os papas emitiam anátemas contra as
autoridades seculares que impunham tantas e tais
mortes repulsivas às suas vítimas? Em lugar algum!
Os magistrados civis teriam desistido desses
indesejáveis assassinatos a fim de salvarem suas
almas, mas as ordens papais suspendendo as
inquisições jamais chegaram.
Pelo contrário, os pontífices romanos, que
iniciaram e dirigiram as inquisições, ameaçavam
com excomunhão quem deixasse de executar os
decretos dos inquisidores.
Hoje os apologistas católicos negam os fatos
históricos e acusam os que apresentam a verdade de
“não serem eruditos”. D. Antonio Gavin, padre
católico e testemunha ocular da Inquisição
Espanhola, nos conta:
Os católicos romanos acreditam que existe um
purgatório e que as almas sofrem mais dores lá do que
no inferno. Mas acho que a Inquisição é o único
purgatório na terra e os santos padres [padres/papas]
são seus juízes e executores. Pelo que já foi dito o
leitor deve ter uma idéia assombrosa da barbaridade
daquele tribunal, mas tenho certeza de que jamais
chegará a imaginar como realmente é, pois ultrapassa
toda a compreensão...[19]
Os Dogmas Permanecem
Ainda Hoje
Se Roma tivesse confessado a maldade do seu
feroz extermínio de milhões daqueles que ela
chamava de hereges e tivesse renunciado a séculos
de pilhagem, assassinato, e tivesse varrido essas
doutrinas de seus livros, então poderíamos esquecer
aquele horror. Entretanto, como ela não o fez,
devemos admitir os fatos históricos, não importa
quão desagradáveis eles sejam. Longe de expressar
vergonha pela execução dos hereges, um semanário
católico norte-americano declarou em 1938:
A heresia é um crime horrível contra Deus, e os que
começam uma heresia são mais culpados do que os
traidores do governo civil. Se o Estado tem o direito de
punir a traição com a morte, o princípio é o mesmo
que concede à autoridade espiritual [Igreja Católica
Romana] o poder de vida e morte sobre os
arquitraidores [hereges].[20]

A infalibilidade jamais poderá admitir que


estava errada. Como John Fox nos lembra em seu
Book of Martyrs [Livro dos Mártires]: “uma Igreja
que se faz passar por infalível sempre irá procurar a
destruição dos que dela discordam...”[21] Peter de
Rosa afirma que o papa João Paulo II
sabe que a Igreja foi a responsável pela perseguição
aos judeus, pela Inquisição, pelo extermínio dos
hereges aos milhares, pela reintrodução da tortura na
Europa como parte do processo judicial. Mas ele
precisa ser cuidadoso. As doutrinas responsáveis por
essas coisas terríveis ainda sustentam a sua posição.
[22]

A desobediência ao papa tornou-se a maior de


todas as heresias. Os que eram culpados disso
perdiam imediatamente seus direitos humanos e
eram sumariamente levados à morte. Consideremos
a bula In Coena Domini, promulgada por Urbano
VIII em 1627. Gregório XI foi o primeiro a publicá-
la, em 1372, e Gregório XII a reiterou em 1411,
assim como o fez Pio V em 1568 (ele disse que ela
devia permanecer como uma lei eterna na
Cristandade). Cada papa adicionou novos toques,
até que se tornou impossível que existisse na Europa
alguém que não fosse católico, algo muito
semelhante ao que acontecerá àqueles que não se
submeterem totalmente ao Anticristo quando ele
estiver governado o mundo. A bula “excomunga e
amaldiçoa todos os hereges e cismáticos, bem como
todos os que os favorecem e defendem, [inclusive]
todos os príncipes e magistrados...”[23]
Essa bula continua em vigor até hoje. E não
poderia ser de outro modo, com o pronunciamento
ex catedra de quatro papas infalíveis para apoiá-la.
O absolutismo permanece, mesmo que no momento
Roma não seja capaz de externá-lo com ousadia. O
Código de Direito Canônico, cânon 333, parágrafo
3, declara: “não há apelação ou recurso contra uma
sentença ou decreto do pontífice romano”. O
Vaticano II, é claro, diz o mesmo.
A mulher está montada na besta e domina
sobre os reis da terra! Parece incrível, mas é
verdade. Aos olhos da Igreja, a heresia era tratada
como uma traição contra a coroa. A Igreja
procurava os hereges, considerava-os culpados e os
entregava às autoridades civis para a execução.
Como o seu braço secular, o Estado fazia o que a
Igreja ordenava na execução dos hereges, no
confisco de suas propriedades e no reforço dos
decretos da Igreja contra eles e seus herdeiros.
O Uso da Tortura
Lembrem-se, não é que as mãos da mulher
estejam sujas de sangue, mas ela está embriagada
com o sangue dos mártires. Essa descrição revela
que a Igreja não apenas mata, mas tortura suas
vítimas que sofrem durante dias e até mesmo
semanas. Os inquisidores pareciam estar drogados e
terem perdido a sensibilidade, a ponto de sua
percepção de horror ter ficado adormecida. Na
verdade, ser capaz de impor a mais extrema tortura,
sem um resquício de consciência ou pensamento de
compaixão, tornou-se uma marca de santidade e
fidelidade à Igreja.
Tente se imaginar sendo preso repentinamente,
no meio da noite, e levado para um lugar
desconhecido, impedido de ver sua família e seus
amigos. Não se revela quais são as acusações contra
você, nem a identidade de seus acusadores, os quais
permanecem anônimos e, por isso, imunes de
qualquer exame para descobrir se estão dizendo a
verdade. Qualquer que seja a acusação, será aceita
como um fato e você será declarado culpado, sem
direito a um julgamento. O único julgamento será a
mais dolorosa tortura, que continuará até que você
confesse aquele crime de heresia do qual foi
acusado. Imagine o tormento de ter suas juntas
deslocadas, sua carne rasgada e retalhada, uma
hemorragia interna, ossos quebrados na mesa de
tortura e reparados pelo médico, a fim de serem
novamente partidos em pedaços durante uma nova
sessão de tortura. Você inevitavelmente iria
confessar qualquer coisa para acabar com o
tormento, mas independentemente do que possa
confessar, será algo que jamais se encaixará na
acusação secreta. Portanto, a tortura continuará até
que você finalmente morra, como conseqüência do
trauma insuportável.
Foi isso que aconteceu com milhões de
pessoas. Seres humanos de verdade: mães, pais,
irmãos, irmãs, filhos e filhas – todos eles tinham
sonhos e esperanças, paixões e sentimentos, muitos
com uma fé que não podia ser rompida pela tortura
nem pelo fogo. Lembre-se que esse terror, essas
maldades de proporção tal que seriam inimagináveis
nos dias de hoje, foram executadas durante séculos
em nome de Cristo, a mando dos que afirmavam ser
os Seus vigários. Eles ainda são honrados com esse
título por essa Igreja, que jamais admitiu que as
inquisições fossem erradas. Ela não se arrependeu
nem se desculpou e ainda hoje atreve-se a posar
como a mestra suprema e um exemplo da moral e
da verdade. Lembre-se também que as doutrinas
que deram apoio à Inquisição continuam, até hoje,
em pleno vigor dentro da Igreja Católica Romana.
Com o uso da tortura, não havia limite para o
que o acusado poderia acabar confessando. Ao
menos uma pobre criatura disse que admitiria até
mesmo ter matado Deus, caso seus inquisidores
parassem de torturá-lo. Mulheres acusadas de serem
bruxas confessaram, sob tortura, terem praticado
sexo com Satanás e até mesmo dado à luz a filhos
dele, que permaneciam invisíveis, sendo portanto a
maior ameaça para os católicos. O papa Inocêncio
VIII fez de tal histeria sem sentido um dogma oficial
em 1484, com a bula Summis desiderantes
affectibus:
Homens e mulheres afastados da fé católica
entregaram-se aos demônios, in cu bi e succubi
[parceiros sexuais demoníacos, machos e fêmeas] e
através de seus encantamentos, feitiços,
conjurações... têm assassinado crianças ainda no
ventre materno, bem como as crias do rebanho,
destruindo também o produto da terra...[24].

A tortura era considerada como essencial


porque a Igreja sentia-se no dever de identificar
pelos lábios das próprias vítimas qualquer desvio da
sã doutrina. Provavelmente quanto mais excruciante
fosse a tortura, mais pareceria que a verdade fora
arrancada dos lábios relutantes. Os inquisidores
estavam convencidos de que seria “melhor que uma
centena de pessoas inocentes perecesse do que um
único herege ficasse livre”. Essa doutrina horrenda
foi mantida sob as ordens de cada um dos papas,
durante os três séculos seguintes. Durant acrescenta
que:
Os inquisidores pareciam crer sinceramente que a
tortura era um favor para um acusado que já fora
taxado como culpado, uma vez que poderia creditar-
lhe, pela confissão, uma pena mais branda; então, de
qualquer maneira, como após a confissão, ele seria
condenado à morte, teria direito à absolvição
sacerdotal para se salvar do inferno.[25]
Outro autor, Gerard Dufour, cita um livro
escrito em 1552 por Simancas, declarando que “os
inquisidores deviam ser mais inclinados ao uso da
tortura do que a julgamentos regulares, porque o
crime de heresia é secreto e muito difícil de ser
provado”. O propósito da tortura declarado
abertamente era “causar a mais intensa dor ao
prisioneiro. Por isso os inquisidores compartilhavam
entre si as receitas [técnicas de tortura]”. Outras
autoridades daquele tempo são citadas dizendo que
não era esperado que a tortura absolvesse o acusado
de sua heresia, uma vez que o seu propósito
principal era aterrorizar as massas[26], o que
realmente acabou acontecendo.
Os apologistas católicos se apressam em
afirmar que o papa Sisto IV tentou parar com a
Inquisição. Isso não é verdade. Ele emitiu uma bula
em 1482, declarando que os inquisidores na região
de Aragão, na Espanha, pareciam mais interessados
em enriquecer do que defender a fé, acusando-os de
aprisionar, torturar e banir católicos fiéis, baseados
em falsas acusações de seus inimigos e escravos. Ele
decretou que o representante do bispo local sempre
deveria estar presente, que os acusados deveriam
saber o nome dos acusadores e que seriam
permitidos apelos à Santa Sé.
Esta bula, contudo, foi só para Aragão e
quando o rei Fernando desafiou-a, Sisto retrocedeu
e seis meses depois a suspendeu. Enquanto isso ele
estava recebendo dinheiro por garantir grandes
dispensas e absolvições (que os inquisidores nunca
honraram) das sentenças da Inquisição em Aragão.
Mas ele não as devolveu. Se o papa estivesse
realmente mais interessado em justiça do que no
dinheiro, ele teria forçado o rei a concordar e faria
com que a bula fosse válida em toda parte e não
apenas em Aragão.[27]
O Modus Operandi
Quando os inquisidores entravam em uma
cidade, era promulgado um “Édito de Fé”, exigindo
que cada pessoa revelasse qualquer heresia de que
tivesse conhecimento. Os que escondiam um herege
eram amaldiçoados pela ira da Igreja e dos
inquisidores. Os informantes aproximavam-se dos
alojamentos dos inquisidores na calada noite e eram
recompensados pelas informações. Nenhum preso
jamais foi libertado.
Os “hereges” eram condenados às chamas
porque os papas criam que a Bíblia proibia os
cristãos de derramarem sangue. As vítimas dos
inquisidores excediam em centenas de milhares o
número de cristãos e judeus que haviam padecido
sob os imperadores romanos.
A Inquisição, estabelecida e repetidamente
abençoada pelos papas, foi um ataque ostensivo à
verdade, à justiça e aos direitos humanos básicos.
Foi também a perfeita estratégia para os fanáticos,
vilões, inimigos e malucos com uma imaginação
exacerbada no que diz respeito a procurarem
vingança, livrar-se de rivais ou conseguir satisfação
pessoal por terem se tornado importantes para a
Igreja. Peter de Rosa escreve:
Sempre que um dos Estados papais caía sob o exército
da nova Itália e as prisões eram abertas, revelava-se
que as condições dos prisioneiros eram indescritíveis...
durante mais de seis séculos, ininterruptamente, o
papado foi o inimigo figadal da justiça mais básica.[28]

As propriedades dos hereges eram confiscadas


e divididas entre os inquisidores e os papas. O fato
do cadáver do papa Formoso ter sido desenterrado
duas vezes, condenado e excomungado, acabou se
tornando um exemplo disso. Em 680, o Sexto
Concílio Geral decretou que mesmo os hereges
mortos deveriam ser julgados e condenados.
Cadáveres que estavam em suas sepulturas por
décadas eram exumados, julgados e condenados. A
essa altura, os bens do falecido eram confiscados,
fazendo com que os herdeiros perdessem tudo,
inclusive, em muitos casos, seus direitos civis.
Os apologistas católicos romanos apresentam as
inquisições como uma necessidade de conservar a
Igreja doutrinariamente pura. Eles sugerem que
quaisquer excessos foram obra de espanhóis
superpatriotas, que estavam a par de que muitos
mouros e judeus “convertidos” não eram realmente
fiéis à Igreja. Igualmente esquecida é a “crueldade
bárbara de alguns padres piedosos inquisidores na
Itália, França, Alemanha, Países Baixos, Inglaterra e
terras escandinavas”. Além da Inquisição Espanhola
houve também a Inquisição Romana e as Inquisições
Medievais. Emmet McLoughlin, que passou muitos
anos pesquisando arquivos históricos relevantes no
Novo Mundo, escreve:
Não havia mouros e apenas uns poucos judeus no
Peru, onde vi a Sala da Inquisição, os calabouços de
aprisionamentos e a bela porta entalhada que tinha...
um buraco feito à altura da boca, para que as
testemunhas pudessem testificar contra o herege
acusado sem serem vistas ou identificadas....[29]

Como uma testemunha ocular que viveu no


princípio do século XVIII na Espanha, Gavin nos
conta: “Este tribunal é composto de três
inquisidores, que são juízes absolutos... do seu
julgamento não há apelação... o primeiro inquisidor
é um divino, o segundo, um casuísta e o terceiro,
um civil. O primeiro e o segundo são sempre
sacerdotes... O terceiro, algumas vezes, não o é...
Os inquisidores têm um poder despótico de mandar
em qualquer alma vivente; e nenhuma desculpa
pode ser dada, nem contradição ser feita às suas
ordens...[30]
A Igreja Peregrina
Os apologistas católicos admitem que a Igreja
“cometeu alguns erros”, mas insistem em dizer que
Roma não poderia ser o lugar descrito em
Apocalipse 17. Por quê? Porque Cristo prometeu
que as portas do inferno não prevalecerão contra a
Igreja (Mateus 16.18) e o catolicismo romano é a
Igreja. Até mesmo muitos evangélicos são
enganados por esse argumento.
A verdade é que o catolicismo romano não
representava Cristo e nem era a Sua Igreja.
Durante pelo menos 1000 anos antes da Reforma a
verdadeira Igreja de Cristo era formada de milhares
de cristãos simples que não faziam parte do
sistema romano. É um fato histórico que tais crentes
existiam, recusavam-se a ser chamados de
“católicos” e faziam sua adoração
independentemente da hierarquia romana. Eles
realmente eram perseguidos, aprisionados e mortos,
desde o final do século IV. Dentre as evidências dos
antigos registros está o “Édito dos Imperadores
Graciano, Valentino II e Teodósio I”, de 27 de
fevereiro de 380, o qual estabeleceu o catolicismo
romano como a religião estatal. Em parte ele dizia:
Ordenamos que aqueles que seguem esta doutrina
recebam o título de cristãos católicos, mas os demais
julgamos serem loucos e irracionais, e passíveis de
incorrer na desgraça do ensino herético, as suas
assembléias nem devem receber o nome de igrejas.
Eles devem ser punidos, não apenas pela retribuição
divina mas também por nossas próprias medidas, as
quais decidimos conforme a inspiração divina.[31]

Estes católicos não-cristãos haviam se


separado, pela sua consciência diante de Deus e em
obediência à Sua Palavra, daquela que já naqueles
dias eles sinceramente chamavam de “a meretriz da
Babilônia”. O bispo Alvaro Pelayo, oficial da Cúria
de Avignon, escreveu sobre eles de má vontade:
“Considerando que a corte papal tem enchido a
Igreja de simonia e da conseqüente corrupção da
religião, é natural que os hereges chamem a Igreja
de prostituta”.[32] E. H. Broabent chama os cristãos
que criam na Bíblia de “Igreja Peregrina” em seu
livro que tem este mesmo título.
Nos vales alpinos de Piemonte durante quatro séculos
houve congregações de crentes que chamavam a si
mesmos de irmãos, os quais mais tarde ficaram
conhecidos como valdenses ou valdois... [por causa de
Pedro Valdo, seu líder – NT]. No Sul da França... as
congregações de crentes que se reuniam fora da igreja
católica eram numerosas e cresciam cada vez mais.
Eles eram chamados às vezes de albigenses [e] tinham
íntimas ligações com os irmãos – quer fossem
chamados valdenses, Homens Pobres de Lyon,
Bogomils ou de outros nomes – nos países vizinhos,
onde as igrejas se espalhavam entre vários povoados.
Em 1209 [o papa Inocêncio III] proclamou uma
Cruzada contra [eles]. Indulgências iguais às que
haviam sido concedidas aos cruzados [da Terra
Santa]... eram agora oferecidas a todos os que
tomassem parte nesta tarefa bem mais fácil, destruir
as províncias mais produtivas da França. Isto e o
prospecto de benefício e licença de toda espécie
atraíram centenas de milhares de homens. Sob a
presidência de altos dignitários eclesiásticos e
conduzidos por Simon de Monfort, um líder militar de
grande habilidade... a parte mais bonita e cultivada da
Europa naquele tempo foi devastada...[33]

Esses crentes simples foram queimados na


estaca ou assassinados à espada (e a maior parte de
seus registros foi destruída) quando suas cidades e
vilas foram exterminadas pelos exércitos papais. Os
apologistas católicos os acusam falsamente de
heresias e práticas abomináveis, que eles negavam.
Os relatos que temos de seus julgamentos revelam
que eles tinham crenças semelhantes às dos
evangélicos de hoje. Embora algumas das piores
histórias sejam narradas sobre os Catari, podemos
apenas concordar com suas crenças, conforme
descritas por Durant:
[Eles] negavam que a Igreja [Católica Romana] fosse
a Igreja de Cristo; [declaravam que] São Pedro jamais
havia estado em Roma, não fundou o papado; [e que]
os papas eram os sucessores dos imperadores, não
dos apóstolos. [Eles ensinavam que] Cristo não tinha
onde reclinar a cabeça, mas o papa vivia num palácio;
Cristo não tinha propriedades nem dinheiro, mas os
prelados cristãos eram ricos; certamente... estes
abastados arcebispos e bispos, estes padres
mundanos, estes monges gordos, eram os fariseus da
antigüidade renascidos! Eles estavam certos que a
Igreja Católica Romana, era a Meretriz da Babilônia, o
clero era a sinagoga de Satanás e o papa era o
Anticristo. Eles denunciavam os propagadores das
Cruzadas como assassinos... riam das indulgências e
relíquias... chamavam as igrejas de “covis de ladrões”
e os padres católicos lhes pareciam “traidores,
mentirosos e hipócritas”.[34]

Du Pin, autor católico do século XIX, escreve:


“o papa [Inocêncio III] e os prelados eram da
opinião que o uso da força era lícito para descobrir
se aqueles que não estavam certos da sua salvação
poderiam fazê-lo por medo das punições e até
mesmo da morte temporal”. Quase todo mundo
sabe que as Cruzadas eram formadas por dezenas de
milhares de cavaleiros e soldados de infantaria e
visavam a retomada de Jerusalém do controle dos
muçulmanos. Poucas pessoas ouviram falar que
Cruzadas similares, envolvendo imensos exércitos,
foram travadas contra os cristãos que não podiam,
por sua consciência, submeter-se a Roma. Mesmo
assim, elas ocorreram e tiveram início sob o governo
do papa Inocêncio III.[35]
O maior crime daqueles cristãos foi crerem na
liberdade de consciência e adoração – conceitos
bíblicos que os papas odiavam, pois essas crenças
acabariam com o poder de Roma. Embora não
estejam disponíveis os números exatos, o assassinato
desses cristãos pelos papas provavelmente atingiu
milhões durante os 1000 anos que antecederam a
Reforma. Somente na cidade de Beziers cerca de
60.000 homens, mulheres e crianças foram
dizimados numa única Cruzada.[36] Inocêncio III
considerava a aniquilação destes hereges o maior
feito do seu papado! Broadbent escreve:
Quando a cidade de Beziers foi obrigada a render-se,
seus moradores católicos juntaram-se aos dissidentes
em sua recusa... A cidade foi tomada, e das dezenas
de milhares que lá haviam procurado refúgio, nenhum
foi poupado.[37]

Apesar dos massacres periódicos, grupos de


cristãos independentes estavam crescendo, muito
antes de Martim Lutero ter nascido. Aparentemente
eles eram exterminados em um local, mas apareciam
em outro. Como Ulrico Zwínglio diria mais tarde,
em 1552, numa carta que escreveu aos seus irmãos,
que temiam ser queimados na fogueira:
Ó, meus amados irmãos, o Evangelho procede do
sangue de Cristo, essa maravilhosa propriedade, que
as mais cruéis perseguições, longe de diminuir o seu
progresso acabam por acelerar o seu triunfo![38]

A mão de ferro de Roma não poderia permitir


que houvesse independência. Assim os valdenses
franceses incorreram na ira do papa Inocêncio VIII
(1484-1492) “por se atreverem a manter sua própria
religião em detrimento à de Roma”. Em 1487 o
papa iniciou uma Cruzada contra eles, na qual
prometeu “a remissão de todos os pecados a
qualquer um que assassinasse um herege”,[39] e
ordenou a remoção de todo bispo que negligenciasse
a limpeza de sua diocese dos hereges. Não é de
admirar que esses cristãos consideravam os papas
como anticristos, pois o que eles sofriam era muito
pior do que os imperadores romanos haviam
infligido à igreja primitiva, sendo muito semelhante à
perseguição que será promovida pelo Anticristo,
como foi profetizado em Apocalipse 13.
Em 1838 George Stanley Faber escreveu An
Inquiry Into the History and Theology of the
Ancient Valdenses and Albigenses [Uma
Investigação Sobre a História e Teologia dos Antigos
Valdenses e Albigenses]. Cerca de 200 anos antes,
em 1684, Samuel Morland havia publicado sua
History of the Evengelical Churchs of Piedmont
[História das Igrejas Evangélicas de Piemonte]
(região da França habitada pelos albigenses e outros
“hereges”). As investigações de ambos os autores
basearem-se numa grande quantidade de outras
obras, retrocedendo até o século XIII. Dos
testemunhos escritos e públicos de seus julgamentos,
fica bem claro que os valdois, albigenses, valdenses
e outros grupos semelhantes eram hereges apenas
para Roma. Na verdade, suas crenças eram muito
parecidas com a dos reformadores, dos quais eles
foram, de certa forma, os predecessores. Martim
Lutero reconheceu o seu débito com eles quando
escreveu:
Não somos os primeiros a declarar que o papado é o
reino do Anticristo, uma vez que durante muitos anos
antes de nós, tantos e tão grandiosos homens (que
são numerosos e cuja memória é eterna) decidiram
expressar a mesma coisa de forma tão simples e clara.
[40]
Os Menonitas
Aos olhos de Roma uma das piores heresias era
rejeitar o batismo infantil. Este rito supostamente
removia a mancha do pecado original, fazia da
criança um filho de Deus e membro da Igreja, e
iniciava o processo da salvação, que consistia em
obedecer as ordenanças de Roma e participar dos
seus sacramentos. Aqueles que conseguiam uma
cópia da Bíblia (que Roma fazia todo o possível
para esconder do povo) descobriam que ela
contradizia as doutrinas de Roma. A salvação não
vinha pelo batismo, mas pela fé em Cristo. O
batismo era para os que já criam nEle como seu
Salvador. Nenhuma criança era capaz de possuir tal
compreensão e fé.
Os que criam no Evangelho encontrado na
Bíblia desejavam ser batizados como crentes. O
padre holandês Menno Simons relata a confusão
que ele próprio experimentou antes de se tornar
cristão:
No dia 20 de março de 1521, um certo alfaiate
chamado Sicke Freerks Snijder foi executado [em
Leeuwarden] pelo estranho motivo de ter sido batizado
pela segunda vez. “Soou estranho aos meus ouvidos”,
diz Menno, que “se falasse de um segundo batismo”.
Mais estranho ainda pareceu a Menno quando ele
soube que Freerks era homem piedoso e temente a
Deus, que não cria que as Escrituras ensinavam que as
crianças deviam ser batizadas, mas sim que o batismo
deveria ser administrado somente aos adultos que
confessassem ter uma fé pessoal.[41]

Muitos que pertenciam ao crescente grupo dos


protestantes, tais como os luteranos, continuaram a
batizar crianças e ainda hoje o fazem – um dos
vários elementos do catolicismo dos quais os
reformadores foram incapazes de se libertar. Assim,
os protestantes também começaram a perseguir e,
em alguns casos, a executar os que haviam se
batizado pela segunda vez. Esses “hereges”
passaram a ser conhecidos como anabatistas.
A Inquisição Católica na Holanda, onde se
encontrava a maioria dos anabatistas, queimou
dezenas de milhares na fogueira por defenderem o
batismo de adultos que haviam aceitado Cristo como
Salvador. Os que davam ajuda e refúgio aos hereges
compartilhavam do mesmo destino. A maioria dos
anabatistas seguia os ensinos de Menno Simmons e
eles passaram a ser conhecidos como menonitas.
Menno escreve:
[Por volta de 1539] um homem muito piedoso e
temente a Deus, Tjard Reynders, foi preso no lugar
onde eu me encontrava, por haver recebido em sua
casa, embora secretamente, um homem como eu, sem
lar, sem compaixão e sem amor... ele foi, após uma
livre confissão de fé [somente em Cristo], torturado na
roda e executado como um valente soldado de Cristo,
conforme o exemplo do seu Senhor, embora tivesse o
testemunho até mesmo dos seus inimigos, de ser um
homem piedoso e irrepreensível.[42]

As histórias dos mártires que, por terem


colocado sua fé somente em Cristo e se devotado a
Ele, foram torturados e assassinados, muitos nas
chamas, apresentam um quadro quase inacreditável,
tamanha é sua tragédia e expressão patética. Através
das cartas que eles escreveram enquanto
aguardavam a execução ficamos sabendo tanto de
sua fé quanto do terror que eles encararam com
bravura enquanto estavam nas mãos dos que
proclamavam estar servindo a Cristo. Veja este breve
excerto de uma carta que Hans Van Munstdorp
escreveu a sua esposa quando estavam ambos na
prisão em Antuérpia:
Saúdo-te com afeto, minha amada esposa, a quem
amo de coração... e devo agora abandonar pela
verdade [pela qual] devemos ter como perda todas as
coisas e amá-lO acima de tudo... minha mente ainda
está determinada em aderir à verdade eterna.
[Espero] pela graça de nosso Senhor que seja este
também o propósito de tua mente, pelo que eu me
alegraria em saber. Eu aqui te exorto, minha adorável
ovelha, com o apóstolo: “Como recebestes Cristo
Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e
edificados, e confirmados na fé, tal como fostes
instruídos, crescendo em ações de graças”.[43]

No dia 19 de setembro de 1573, após a morte


de seu marido, ao dar à luz na prisão, Janneken
Munstdorp escreveu uma carta de despedida à sua
filha, que ainda era um bebê. Era uma extensa
exortação para que ela vivesse por Cristo, cheia de
referências da Escritura e ensinos da Palavra de
Deus, para guiar sua filha, quando esta crescesse.
Um curto excerto da carta revela o amor e a fé de
uma jovem mãe:
Que o verdadeiro amor de Deus e a sabedoria do Pai
te fortaleçam na virtude, minha queridíssima filha... Eu
te entrego ao Todo-Poderoso, grande e terrível Deus,
pois somente Ele é sábio, para que te guardar e te
deixar crescer em Seu temor... tu que és tão jovem e a
quem devo deixar aqui neste mundo mau e perverso...
Uma vez que tu és agora privada de pai e mãe, eu te
entrego ao Senhor; deixe que Ele faça na tua vida a
Sua santa vontade...
Minha querida ovelhinha, eu que estou aprisionada...
não posso te ajudar de modo algum; tive de
abandonar o teu pai por amor ao Senhor... [nós] fomos
presos... [e] eles o afastaram de mim... E agora que
eu... te guardei dentro do meu coração, com grande
tristeza durante nove meses, e te dei à luz aqui na
prisão, com muitas dores, eles te tomaram de mim...
Agora que estou sendo entregue à morte, e devo te
deixar sozinha aqui, através destas linhas devo levar-te
à lembrança de que quando tiveres obtido consciência,
te empenhes em temer a Deus e examinar porquê e
por cujo nome ambos morremos e não te
envergonhes... de nós; é a maneira como os profetas
se foram e o caminho estreito que conduz à vida
eterna...[44]

Talvez a maior tragédia desses mártires tenha


sido o fato de que eles foram esquecidos. Ou, pior
ainda, sua fidelidade a Cristo, na tortura e na morte,
hoje é motivo de zombaria da parte dos líderes
evangélicos, os quais afirmam que as verdades pelas
quais eles deram suas vidas não eram tão
importantes. Eles morreram para levar o Evangelho
de Cristo às almas perdidas, porque o evangelho de
Roma estava enviando multidões para o inferno.
Mas muito embora o evangelho de Roma jamais
tenha mudado, muitos líderes evangélicos de hoje
estão dizendo que os católicos que servem a Roma
são salvos, e agora eles estão olhando para a Igreja
Católica Romana, (a qual queimou pessoas na estaca
para que abandonassem as Escrituras!) como
parceira na evangelização do mundo para Cristo. Os
mártires certamente chorariam no céu – não por si
mesmos, mas pelos perdidos – se Cristo lhes
permitisse saber da tremenda traição à fé pela qual
eles morreram.

A Inquisição Atual
A Inquisição medieval havia florescido durante
séculos, quando o papa Paulo III, em 1542, lhe deu
o status de primeira das sagradas congregações de
Roma, a santa, católica e apostólica Inquisição.
Chamada mais recentemente de Santo Ofício, seu
nome foi mudado em 1967 para Congregação para a
Doutrina da Fé – algo muito apropriado,
principalmente porque as fogueiras públicas eram
conhecidas como “autos-da-fé” ou “atos de fé”. A
perseguição, tortura e matança dos hereges jamais
foi repudiada pela Igreja Católica Romana e
continua nos tempos modernos, conforme veremos.
Roma deve fazer uma clara escolha: ou seu
zelo na tortura e assassinato de tantas vítimas
inocentes é algo de que ela deve se orgulhar ou algo
para se envergonhar. Sem dúvida Roma não se
arrepende de seus pecados e nem abre mão de sua
infalibilidade. Por conseguinte, não é surpresa que o
Ofício da Inquisição ainda ocupe o Palácio dos
Inquisidores anexo ao Vaticano, embora sob o novo
nome de Congregação para a Doutrina da Fé. O seu
atual Grande Inquisidor, que presta contas
diretamente para o papa, é o ex-arcebispo de
Munique, o cardeal Joseph Ratzinger, a quem a
revista Time chamou de “o cardeal mais poderoso do
mundo [e] principal fortalecedor dos dogmas da
Igreja Católica...”[45] Essa imposição pode ser
brutalmente direta, ou tratada com muito cuidado
por meio de outra pessoa, como foi o caso, no final
de 1993, do amordaçamento do padre Joseph Breen
pelo bispo de Nashville, Edward Kmiec. Numa carta
aos bispos americanos, Breen ressaltava “a vasta
diferença entre o que Roma diz e o que realmente
acontece” e se declarava a favor de um “celibato
opcional”. Ele foi forçado a assinar uma solene
declaração de que “não falaria à imprensa... [e] não
criticaria o que os bispos fizessem”.[46]
Embora não mais imole suas vítimas, a
Congregação ainda tenta manter o controle do
Vaticano sectarista sobre o pensamento de seu clero
e dos membros da Igreja. Por exemplo, no dia 9 de
junho de 1993, Ratzinger publicou “Instruções...
Promovendo a Doutrina da Fé”. O documento exige
que seja “requerida uma autorização prévia... para o
que for escrito pelo clero e membros de instituições
religiosas para os jornais, revistas e periódicos que
estejam habituados a atacar abertamente a religião
católica ou os bons costumes. A instrução ainda
adverte as editoras católicas a se conformarem às
leis da Igreja. E os bispos são obrigados a evitar a
venda e exposição em suas igrejas de publicações
sobre religião e moral sem o aval da Igreja...”[47] É
a reaparição do “Índice dos Livros Proibidos”.
Uma Hipocrisia Monumental
A Igreja Católica Romana tem sido a maior
perseguidora, tanto de judeus como de cristãos, que
o mundo já conheceu. Ela tem martirizado mais
cristãos do que a Roma pagã e o islamismo juntos.
Excedendo até mesmo Mao e Stalin, os quais, no
entanto, nunca afirmaram estar agindo em nome de
Cristo. A Roma católica não possui rival entre as
instituições religiosas no que diz respeito a ser
qualificada como a mulher que está “embriagada
com o sangue dos santos e com o sangue das
testemunhas de Jesus” (Apocalipse 17.6).
Ainda que João Paulo II, em seu tratado
Veritatis Splendor, tenha tido a audácia de falar
sobre os santos católicos “que deram testemunho e
defenderam a verdade moral a ponto de suportarem
o martírio...”[48], o que dizer então dos milhões que
a Igreja a qual ele pertence massacrou, por sua
consciência moral e do entendimento de que a
Palavra de Deus não coincidia com a pregação de
Roma! O silêncio do Vaticano com respeito aos seus
infames e incontáveis crimes contra Deus e a
humanidade ressoa em ouvidos surdos. Muito pior é
a hipocrisia que permite que essa mulher assassina
pose como a grande mestra e um exemplo de
obediência a Cristo.
“‘Bem-aventurados os perseguidos por causa
da justiça, porque deles é o reino dos céus (Mateus
5.10).’ Foi assim que João Paulo II iniciou, em 10
de outubro de 1993, a missa solene para beatificação
de 11 mártires [católicos] da Guerra Civil Espanhola
e dois religiosos italianos”.[49] Foi assim que a
influente revista Inside the Vatican registrou o
evento: Como sempre, enquanto os mártires
católicos são louvados, não há desculpa alguma,
nem apologia, aos milhões de cristãos e judeus que
foram martirizados pela Igreja Católica Romana. A
hipocrisia é monumental!
CAPÍTULO 18

Pano de Fundo do
Holocausto
A santa providência divina decretou que numa hora decisiva ele
[Hitler] fosse encarregado da liderança do povo alemão.

– (de um artigo no Klerusblatt, órgão da Associação Diocesana de


Padres da Bavária, honrando Hitler no dia do seu 50º aniversário
em 20 de abril de 1939)[1]

O movimento [nazista], por estar livrando o mundo dos judeus,


é um movimento do renascimento da dignidade humana. O
Onisciente e Todo-Poderoso Deus está por trás desse movimento.

– padre Franjo Kralik, em um jornal católico de Zagreb (Croácia),


1941[2]

A aprovação de Hitler pelos prelados católicos


e suas declarações sobre como “libertar o mundo
dos judeus” parecem chocantes. Mesmo assim elas
refletiam apenas o tratamento histórico que o
catolicismo sempre dispensara aos judeus. Hitler
justificou sua “solução final” salientando que a
Igreja tinha oprimido e assassinado os judeus
durante séculos. É de admirar que aqueles que
afirmavam ser os sucessores de Cristo e de Pedro
pudessem “perseguir a raça da qual Pedro – e Jesus
– haviam descendido”.[3] Contudo, eles o faziam
em nome de Cristo e assim se sentiam justificados.
Aos católicos romanos foi ensinado que eles
haviam sucedido os judeus como povo escolhido de
Deus. A terra de Israel, prometida por Deus aos
descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, pertencia
agora à Roma “cristã”. Ela se tornara a “nova Sião”,
a “Cidade Eterna” e a “Cidade Santa”, títulos que
Deus havia dado exclusivamente a Jerusalém. Os
exércitos papais lutaram para expandir o “Reino de
Deus”. Como nos lembra um historiador do século
XIX: “o território sob o domínio imediato do papa
era expandido sempre que uma guerra ou tratado
podia aumentá-lo; e os seus habitantes pagavam as
taxas mais exorbitantes possíveis”.[4]
Uma Grande Vergonha para
Cristo
Os que se auto-intitulam vigários de Cristo
acarretaram grande vergonha para o nome de Cristo
pelo seu tratamento contra os judeus. E o pior é que
geralmente o catolicismo é visto como cristianismo.
Os judeus que foram perseguidos através dos
séculos pela Igreja Católica Romana jamais se deram
conta de que havia milhões de cristãos fora dessa
Igreja – cristãos que não perseguiam o povo
escolhido de Deus e eles mesmos eram perseguidos
e mortos pelos católicos em número bem maior do
que os judeus.
Consideremos a menção do “cristianismo” num
tratado rabínico erudito sobre o Holocausto.
Notemos que o catolicismo romano é criticado, não
o cristianismo evangélico, que o autor e os leitores
judeus nem mesmo sabem que existe. A citação é do
capítulo intitulado “O Papel Cristão [no
Holocausto]”:
...sem o cristianismo o sucesso do nazismo não teria
sido possível... Não fosse pelo fato de dezenas de
gerações na Europa terem sido imbuídas de ódio
religioso, o crescimento do ódio racista contra os
judeus nos tempos modernos não teria lugar.
Além do mais, durante o Holocausto, o Vaticano
esquivou-se de protestar contra o assassinato, ficando
à parte, resgatando apenas alguns judeus. Até hoje o
Vaticano nega aos estudiosos o completo acesso aos
documentos desse período. Entretanto, ficou
comprovado que o Vaticano estava entre os primeiros
do mundo a saber sobre o genocídio, e nada fez para
liberar as informações (ver The Terrible Secret [O
Terrível Segredo], de Walter Laquer)...
É difícil evitar a conclusão de que a inércia do papa
tenha significado sua aprovação... Mesmo que a Igreja
tenha se envolvido em atividades isoladas de resgate,
o motivo parece ter sido levar os judeus resgatados ao
seio do cristianismo. Milhares de crianças judias foram
levadas aos mosteiros e, após a guerra, muitas não
foram devolvidas ao seu povo e à sua fé, mesmo após
os seus pais terem implorado pela devolução delas.
Com um cinismo inigualável, muitos cristãos ainda
vêem o Holocausto como um castigo pesado pela
recusa dos judeus em aceitar o cristianismo.[5]

O rabino continua analisando o cristianismo


como ele o vê (tudo que ele conhece é o catolicismo
romano), na tentativa de entender a razão do seu
fracasso moral em relação ao Holocausto. Suas
observações e argumentos são devastadores, mesmo
não sabendo que existem milhões de cristãos
verdadeiros que concordariam com suas críticas à
falsa religião de Roma. Poder-se-ia pensar que ele
jamais ouviu falar da Reforma e dos protestantes,
que não possuem “monges” e cujos ministros são
casados:
Os padres do cristianismo [catolicismo] são proibidos
de casar, e seus monges, levando vidas de aflição,
isolam-se da sociedade. Essa religião não é fácil de ser
posta em prática... A idéia de que isso seja possível
leva a incomparável hipocrisia... Durante anos o
cristianismo [catolicismo] deu origem a uma
quantidade de seitas místicas, algumas das quais se
distinguem pela sua afinidade com as formas mais
baixas de abominação moral. O processo cristão
[católico] de arrependimento também conduz à
prática de coisas graves. Quando a reparação
automática é franqueada aos que se confessam a um
padre, a tentação de pecar aumenta
consideravelmente...
Enquanto o assassinato, o roubo e o rapto eram
totalmente desconhecidos entre as comunidades
judaicas na Era Medieval, esses atos eram
generalizados na Europa cristã [católica] devota. A
salvação espiritual prometida pelo cristianismo não
teve expressão concreta.[6]
Anti-Semitismo em Ação
As críticas do rabino ao catolicismo são
realmente verdadeiras. A tragédia é que ele imagina
estar tratando do cristianismo. A partir do tempo em
que os papas dirigiram Roma, as perseguições aos
judeus – em nome do judeu Jesus Cristo – foram
muito mais graves do que jamais haviam sido nas
mãos dos governantes pagãos. Os pagãos haviam
acusado os cristãos de qualquer calamidade. Agora a
Igreja Católica Romana culpava os judeus de tudo.
Acusados de causar a peste negra, os judeus foram
sitiados e enforcados, queimados e afogados aos
milhões, por vingança.
Raramente esse ou aquele papa procurou
melhorar a situação dos judeus. Gregório I “proibiu
as conversões compulsórias dos judeus e manteve os
seus direitos de cidadania romana nas terras sob o
seu domínio..”. Ao bispo de Nápoles ele escreveu:
“não permita que os judeus sejam molestados no
exercício de seus serviços [religiosos]”. Alexandre
III foi “amistoso com os judeus e empregou um
deles para cuidar de suas finanças”. Inocêncio III
“conduziu o 4º Concílio de Latrão em sua demanda
por um distintivo judaico e estabeleceu o princípio
de que eles seriam destinados à servidão perpétua
por terem crucificado Jesus”. Entretanto, ele retirou
as injunções papais contra as conversões forçadas e
acrescentou: “nenhum cristão pode causar qualquer
injúria pessoal aos judeus... ou privá-los de suas
posses...” (Contudo, ele massacrou dezenas de
milhares de cristãos). Gregório IX, embora tenha
sido o criador da Inquisição, “isentou os judeus de
sua operação ou jurisdição, exceto quando
tentassem judaizar os cristãos ou atacassem o
cristianismo, ou revertessem ao judaísmo após terem
se convertido. Em 1235, ele proclamou uma bula
denunciando a violência do populacho contra os
judeus”. Inocêncio IV “repudiou a lenda do
assassinato de crianças cristãs pelos judeus”.[7]
Apesar das exceções acima, o quadro geral era
de perseguição aos judeus pela Igreja. Numerosos
concílios e bulas papais trataram desse assunto,
conforme será ilustrado a seguir:
O Concílio de Viena (1311) proibiu qualquer transação
entre cristãos e judeus. O Concílio de Zamora (1313)
decretou que eles fossem reduzidos à estrita sujeição e
servilismo. O Concílio de Basiléia (1431-33) renovou os
decretos canônicos proibindo os cristãos de se
associarem aos judeus e instruiu as autoridades
seculares a confinarem os judeus em quarteirões
separados, compelindo-os a usarem um distintivo e
assegurarem que tais decretos fossem cumpridos.
O papa Eugênio IV (1431-1447) acrescentou que os
judeus deviam ser inelegíveis para qualquer cargo
público, não poderiam herdar propriedades dos
cristãos, nem podiam construir mais sinagogas e
deveriam permanecer em casa, por trás das portas e
janelas fechadas na Semana Santa (uma sábia
provisão contra a violência cristã)... Numa bula
anterior, Eugênio havia ordenado que qualquer judeu
italiano que fosse achado lendo literatura talmúdica
deveria sofrer o confisco de suas propriedades. O papa
Nicolau V comissionou S. João Capistrano (1447) a
fazer com que qualquer cláusula desta repressiva
legislação fosse obrigatória, e o autorizou a confiscar a
propriedade de qualquer médico judeu que tratasse de
um cristão.[8]

Mais de 100 documentos anti-semitas foram


publicados pela Igreja Católica Romana entre os
séculos VI e XX. O anti-semitismo se tornou sua
doutrina oficial. A racionalização era de que os
“crucificadores de Cristo” não tinham direito algum
ao Reino Santo de Deus, a terra de Israel não mais
lhes pertencia, mas pertencia aos cristãos, e a Igreja
tinha de tomar à força as terras e possessões dos
árabes e judeus.
A Igreja Católica Romana não tem
compreensão alguma das profecias bíblicas
concernentes ao retorno dos judeus a Israel e do
Messias voltando para reinar sobre o Trono de Davi,
Seu pai. Roma se auto-proclamou como a Nova
Jerusalém; a Jerusalém antiga e os judeus já não
fazem mais parte do plano de Deus. Em 1862, La
Civilta, a voz semi-oficial do Vaticano, fez eco à
crença mantida durante séculos ao declarar: “Como
antes os judeus foram o povo de Deus, assim são os
católicos [romanos] sob a Nova Aliança”.[9] Era
natural que este ensino norteasse e mantivesse o
anti-semitismo.

O Registro Histórico
Ao levantar um exército para a Primeira
Cruzada, o papa Urbano II prometia entrada
automática no céu, sem passar pelo purgatório, a
todos os que se engajassem na grande causa. Os
cavaleiros e os maus elementos que responderam
com entusiasmo a essa enganosa promessa deixaram
um rastro de desordem, pilhagem e assassinato em
seu caminho até Jerusalém, onde massacraram todos
os árabes e judeus. Um dos primeiros atos dessa
entrada triunfal em Jerusalém foi reunir os judeus
dentro de uma sinagoga e incendiar todos eles. Em
seu caminho para a Terra Santa, os cruzados davam
aos judeus a opção entre o batismo ou a morte.
Peter de Rosa nos conta:
No ano de 1096, metade dos judeus de Worms foram
dizimados, enquanto os cruzados atravessavam a
cidade. O restante fugiu para a residência do
arcebispo pedindo proteção. Ele concordou em salvá-
los, contanto que solicitassem o batismo. Os judeus se
retiraram para considerar sua decisão. Quando as
portas da Câmara de Audiência foram abertas, todos
os 800 judeus dentro da mesma estavam mortos.
Alguns foram decapitados; pais haviam matado seus
filhos antes de usar suas facas contra as esposas e
eles próprios. Um noivo assassinou sua noiva. A
tragédia do século I em Masada foi repetida em toda
parte na Alemanha e mais tarde por toda a França.
[10]

Durante o breve pontificado do papa Paulo IV


(1555-1559), a população de Roma foi dizimada em
quase a metade, sendo os judeus as principais
vítimas. Trezentos anos antes, a Igreja havia
confinado os judeus em guetos “e os obrigara a usar
no peito, para sua vergonha, um círculo de pano
amarelo”[11], porém a observância desse édito tinha
sido relaxada. O papa Paulo IV proclamou, em 17
de julho de 1555, uma bula anti-semita que foi um
marco – Cum nimis absurdum. Ela devolvia os
judeus aos guetos, forçava-os a vender suas
propriedades com enormes prejuízos e os reduzia à
condição de escravos e comerciantes de retalhos.
O casamento entre um cristão e um judeu era
punido com a morte. Apenas uma sinagoga era
permitida em cada cidade. As demais foram
destruídas, sete em cada oito em Roma sofreram
esta sorte. Quando ainda era cardeal, Paulo IV havia
queimado livros judaicos, inclusive o Talmude, e
nenhuma substituição foi permitida. Estas são
apenas algumas das indignidades e crimes que os
judeus sofreram com esta bula, que foi um padrão
mantido por mais de três séculos.
O papa Gregório XIII declarou que a culpa dos
judeus por crucificarem Cristo “apenas se torna mais
profunda com as sucessivas gerações, estabelecendo
sua perpétua escravidão”. Os papas subseqüentes
continuaram a perseguição:
Sucessivos papas reforçaram os antigos preconceitos
contra os judeus, tratando-os como leprosos indignos
da proteção da lei. A Pio VII seguiram-se Leão XII, Pio
VIII, Gregório XVI, Pio IX, todos eles bons discípulos
de Paulo IV.
Onze dias após a queda de Roma, em 2 de outubro de
1870, os judeus, por decreto real, receberam a
liberdade que o papado lhes havia negado durante
mais de 500 anos. O último gueto na Europa [nesse
tempo] foi desmantelado.[12]

Conversões Forçadas
A doutrina do catolicismo sobre o batismo
infantil anulou a verdade de que alguém se torna
cristão, não através de obras ou rituais, mas
aceitando a oferta da graça de Deus através da fé
pessoal em Cristo. Uma vez que o batismo salva
automaticamente, o papa Leão III decretou o
batismo forçado dos judeus. Às vezes lhes era dada
a opção de professar a crença em Cristo ou morrer –
e, em alguns casos, de serem presos ou expulsos da
região. O famoso rabino, filósofo e médico
Maimônides fugiu da Espanha para o Marrocos, a
fim de escapar deste édito, e em seguida foi para o
Egito em 1135. Hoje os visitantes dos antigos
quarteirões dos judeus na Espanha recebem
panfletos contando algumas das trágicas histórias,
como por exemplo, esta da cidade de Girona:
No dia 31 de março de 1492, Fernando e Isabel de
Castela e Aragão, conhecidos como os reis católicos,
proclamaram o édito expulsando os judeus do território
espanhol... [eles não tinham] nenhuma escolha a não
ser renunciar à sua crença religiosa ou a expatriação
compulsória. Os que aceitaram converter-se ao
cristianismo, a fim de evitar a expulsão, tiveram de
enfrentar a dura Inquisição, a qual já havia começado
a julgar os hereges de Girona em 1490... Algumas
famílias judias foram completamente exterminadas nas
mãos dos inquisidores.

Batizar um infiel significava a entrada de


alguém no céu. As crianças judias eram aspergidas à
força com água e declaradas “cristãs” por aqueles
que imaginavam com isso garantir sua morada no
céu. Benedito XIV (1740-58) apoiou esse terror
declarando que uma criança, mesmo batizada contra
a vontade dela e dos pais, tornava-se católica
romana. Se esses convertidos à força negassem a
sua nova “fé”, tornavam-se hereges, com as
horríveis conseqüências daí resultantes.
Crimes semelhantes perduraram por séculos.
Por exemplo, em 1858, Pio IX ordenou que a
polícia papal arrancasse o filho de sete anos de um
casal de judeus ricos e o colocasse num colégio
interno católico. Uma ama católica tinha, sem o
conhecimento ou consentimento dos pais, batizado o
garoto, Edgar Mortara, logo após o seu nascimento,
tornando-o assim, supostamente, um membro da
Igreja Católica Romana.
Quando os pais reclamaram a devolução do seu
filho ao papa, ele replicou, na típica maneira papal
(referindo-se à publicidade adversa que o caso havia
provocado nos jornais): “não me importo a mínima
pelo mundo todo!” Hasler continua a história:
O papa tratou o jovem secretário da comunidade
judaica, Sabatino Scazzochio, com uma crueldade
particular e o humilhou de tal maneira que ele sofreu
um prolongado esgotamento nervoso.
Dois anos mais tarde Pio IX exibiu Edgar Mortara, já
vestindo o hábito de seminarista, aos judeus de Roma.
[13]
Fundamento para o
Holocausto
Certamente os autores de Shoah, os rabinos
Schwartz e Goldstein, estão corretos quando
afirmam que as perseguições contra os judeus ao
longo dos séculos por parte do catolicismo romano
(embora achem que ele é o cristianismo)
estabeleceram o fundamento para o que ainda iria
acontecer, o Holocausto nazista. A Igreja Católica
tem uma grande responsabilidade por esse horrendo
crime. Muitos dos supervisores dos massacres dos
judeus eram católicos. A duradoura perseguição e o
extermínio dos judeus pela Igreja, sem dúvida,
motivaram os perseguidores a justificar os seus atos.
O espanto se espalhou pela mídia internacional
no dia 26 de maio de 1994, quando esta manchete
apareceu nos terminais da Associated Press: “O
VATICANO ASSUMIRÁ CULPA PELO
HOLOCAUSTO”. O surpreendente artigo,
procedente de Jerusalém, declarava: “A Igreja
Católica Romana está preparando um documento,
reconhecendo que a Igreja promoveu séculos de
anti-semitismo e fracassou em deter o Holocausto.
Um relato liberado na quarta-feira dizia: ...O rabino
David Rosen, negociador israelita com o Vaticano,
informou Israel sobre a elaboração do documento
durante conversações realizadas nesta semana em
Jerusalém... ‘Ele não é apenas importante’, disse
Rosen: ‘é espantoso.’ ...O relato também diz que o
documento vai declarar que ‘a tradição anti-judaica
da teologia e da Igreja foi um elemento importante
em direção ao Holocausto’”.[14]
No dia seguinte veio uma negativa do Vaticano
lembrando ao mundo que, ao mesmo tempo em que
“o papa João Paulo II havia repetidamente
denunciado o anti-semitismo... ele sempre havia
defendido os papas anteriores das acusações de que
haviam silenciado sobre o Holocausto”. O porta-voz
do Vaticano, Joaquim Navarro, explicou que o texto
referido nos noticiários do dia anterior “não era de
modo algum o esboço de um documento preparado
pela Santa Sé, mas talvez pelas Conferências
Episcopais Polonesa e Alemã”.[15] Desse modo, o
Vaticano continua negando o que o resto do mundo
já sabe que é verdade.
Inúmeros exemplos poderiam ser dados
mostrando que o catolicismo preparou o caminho
para o Holocausto, mas vamos nos referir a apenas
alguns. Uma Igreja Católica em Deggendorf, na
Bavária (Alemanha), havia exibido durante séculos
uma pintura comemorando o histórico assassinato
dos judeus daquela cidade “no legítimo zelo de
agradar a Deus”. Na inscrição sob a pintura lia-se:
“Deus queira que a nossa pátria fique para sempre
livre dessa escória infernal”.[16] Essa exibição não
ofendia o povo nem os prelados, sendo consistente
com o tratamento dado aos judeus pelo catolicismo
romano. Um erudito judeu francês concluiu que a
Igreja realmente preparou os católicos romanos para
Hitler:
Sem os séculos de catequese cristã [católica romana]
pregando o vitupério, os ensinos hitleristas, a
propaganda e o vitupério não teriam se tornado
possíveis.[17]

A Subida de Hitler ao Poder


No início a Igreja se opunha a Hitler. “Após a
esmagadora vitória dos nazistas na eleição de 1930,
representantes de todas as organizações católicas se
encontraram... para discutir meios de deter os
ameaçadores camisas-marrons”.[18]
Mas depois das eleições do Reichstag, em julho
de 1932, durante as quais “os nacional-socialistas
conseguiram 37,4% dos votos populares e elegeram
230 deputados... tornando-os o maior partido
independente do Reichstag”, as críticas dos bispos
católicos começaram a diminuir.
Apesar de “todas as dioceses haverem
declarado que a filiação ao Partido Nazista era
inadmissível”, centenas de milhares de católicos se
filiaram e provavelmente vários milhões estavam
apoiando-o com os seus votos. Por que afugentar
esses bons católicos da Igreja? Além do mais o papa
e os cardeais na Itália louvaram e apoiaram o Partido
Fascista de Mussolini; então, por que não na
Alemanha?
No dia 13 de março de 1933, numa
conferência dos bispos da Bavária, o cardeal
Faulhaber, regressando diretamente de Roma,
registrou que “o Santo Padre Pio XI havia louvado
publicamente o chanceler Adolf Hitler pela posição
que ele havia tomado contra o comunismo...
Rumores estavam circulando novamente de que o
Vaticano estava ansioso por uma cooperação
amigável dos católicos alemães com o governo de
Hitler...”
Em 23 de março, Hitler anunciou que “o
governo do Reich, [o qual] havia se referido ao
cristianismo [catolicismo] como o fundamento
inabalável dos costumes e código moral da nação,
atribui o maior valor às relações amistosas com a
Santa Sé e [está] se esforçando para desenvolvê-
las”. Cinco dias depois, os bispos alemães retiraram
publicamente sua prévia oposição ao Partido
Nazista.[19] A estratégia que Hitler havia delineado
antes para Rauschning estava funcionado:
Nós apanharemos os padres pela sua notória ambição
e auto-indulgência. Então poderemos estabelecer tudo
com eles na mais perfeita paz e harmonia... Por que
iremos brigar? Eles vão engolir qualquer coisa para
conseguir vantagens materiais.[20]
A Igreja e o Terceiro Reich
Os católicos, em número cada vez maior,
correram para apoiar o Terceiro Reich de Hitler.
Organizações como Kreuz und Adler [Cruz e Águia]
foram formadas com eminentes professores
católicos de Teologia, tais como Otto Schilling e
Theodor Brauer, jornalistas como Emil Ritter e
Eugene Kogon, e outros líderes católicos se
engajaram no apoio ao novo regime nazista.[21]
Hitler garantiu à Igreja que ela nada teria a
temer do Nacional-Socialismo, enquanto cooperasse
totalmente. Os bispos “apelaram para o apoio ao
programa do governo de ‘rejuvenescimento
espiritual, moral e econômico’.”[22]
Como Hitler era um católico nas boas graças da
Igreja, isso deu crédito às suas promessas de
parceria pacífica com ela. Ele havia crescido numa
família católica tradicional, assistia regularmente à
missa, havia servido como coroinha e até sonhado
em certo tempo tornar-se padre, e havia freqüentado
a escola, quando garoto, num mosteiro beneditino
em Lambach (Áustria). O abade era profundamente
envolvido com misticismo ocultista oriental, e foi
nesse mosteiro que Hitler descobriu a suástica
hinduísta que mais tarde adotaria. Depois que subiu
ao poder, tampouco Hitler deixou de assistir os
serviços da Igreja Católica de tempos em tempos.
G. S. Graber, especialista em história da SS,
informa-nos que “o catolicismo de Himmler era
muito importante para ele. Freqüentava
assiduamente a igreja, recebia a comunhão,
confessava-se e rezava”.[23] No início do diário de
Himmler do dia 15 de dezembro de 1939 lia-se:
“Aconteça o que acontecer, eu sempre amarei a
Deus, rezarei para ele, permanecerei fiel à Igreja
Católica e defendê-la-ei”.[24]
Após a guerra, escapar era o objetivo mais
importante dos membros da SS, dos quais cerca de
um quarto era católico.[25] Muitos teriam sucesso
em iludir a justiça Aliada e em alcançar refúgios,
principalmente na América do Sul. Dezenas de
milhares dos piores criminosos de guerra nazistas –
na maioria católicos – viajaram por rotas de fuga
secretas, em busca de uma nova vida. O principal
agente dessas fugas foi o Vaticano.
Himmler era capaz de compartimentalizar sua
vida de maneira que, como chefe da infame SS,
podia supervisionar o assassinato de milhões de
pessoas com apenas uma penada de sua caneta ou
através de ordens verbais aos seus soldados e
subordinados dessa vasta organização, mas não
conseguia ele mesmo puxar o gatilho. Queria
eliminar os judeus ou quaisquer outros elementos da
sociedade que ele considerasse indesejáveis.
Contudo, “não queria ver [com os próprios olhos] o
sangue jorrar, porque isso o induziria a um exame
de consciência, para não mencionar náuseas do
estômago”.[26]
Uma cópia gravada e datilografada, com notas
caligráficas autenticadas, do discurso de Himmler
em 4 de outubro de 1943 em Posen, Polônia, feito
diante de 100 generais da polícia secreta alemã, foi
recentemente descoberta e está exposta no novo
Museu do Holocausto em Washington (EUA). Nele,
Himmler dizia:
Eu também quero falar com vocês, muito francamente,
sobre um assunto muito grave. Entre nós, ele deveria
ser mencionado com muita franqueza, mas jamais
falaremos dele publicamente.
Quero dizer... o extermínio da raça judaica. Essa é uma
página de glória em nossa história, a qual jamais foi e
nem jamais será escrita.[27]

O coronel da SS Rudolf Hoess, comandante de


Auschwitz, e um dos maiores assassinos de massa
da história, também cresceu numa devota família
católica, que esperava vê-lo tornar-se padre. Ele era
dedicado à família, gostava de animais e era um
fanático adepto da religião nazista de Hitler. Em sua
autobiografia ele disse: “deixem o público continuar
a me observar como a besta sedenta de sangue, o
sádico mais cruel... [eles] não poderiam entender
como o [comandante de Auschwitz] tinha coração e
não era tão mau”.[28]
A SS em muitos aspectos foi modelada
segundo a Ordem Jesuíta, que Himmler havia
estudado e admirado. Incrivelmente o juramento da
SS terminava [com as palavras]: “Assim Deus me
ajude”. Seu catecismo “consistia de uma série de
perguntas e respostas semelhantes a esta: – Pergunta:
Por que vocês acreditam na Alemanha e no Führer?
Resposta: Porque cremos em Deus, cremos na
Alemanha que Ele criou em Seu mundo, e no
Führer Adolf Hitler que ele nos enviou”.
Os judeus podiam ser exterminados em nome
de Deus pelos bons católicos, porque durante
séculos a sua Igreja havia demonstrado ser essa a
vontade de Deus, através de sua implacável
perseguição e assassinatos desses desprezíveis
“rejeitadores de Cristo”.
Desde o princípio Hitler, que estava a par do
longo histórico anti-judaico da Igreja Católica[29],
não fez segredo algum de seus planos com relação
aos judeus. Encontrando-se com os representantes
da Igreja, bispo Berning e monsenhor Steinmann,
em 26 de abril de 1933, “ele relembrou aos seus
visitantes que a Igreja [Católica] durante 1.500 anos
tinha considerado os judeus como parasitas,
havendo-os banido para os guetos e proibido os
cristãos de trabalharem para eles... Ele, Hitler,
apenas pretendia fazer mais efetivamente o que a
Igreja havia tentado consumar durante tanto tempo”.
[30]
Não há indício de que os dois prelados
católicos tenham discordado dele. Como poderiam
fazê-lo sem denunciar os inúmeros papas infalíveis e
sua Igreja infalível?
CAPÍTULO 19

O Vaticano, os Nazistas
e os Judeus
Antes de tudo, tenho aprendido com os jesuítas. E Lenin
também fez o mesmo, até onde me recordo. O mundo jamais
conheceu coisa assim tão esplêndida como a estrutura hierárquica
da Igreja Católica. Há realmente algumas coisas dos jesuítas das
quais eu simplesmente me apropriei para o nosso Partido.

– Adolf Hitler[1]

Soldados que regressavam do front oriental contaram histórias


horríveis, de como os civis judeus na Rússia ocupada – homens,
mulheres e crianças – estavam sendo enfileirados e fuzilados aos
milhares.
...Na primavera de 1942, os folhetos da “Rosa Branca”,
composta por um grupo de estudantes e um professor de filosofia
da Universidade de Munique, informavam sobre o assassinato de
300.000 judeus na Polônia, indagando por que o povo alemão [do
qual 43% eram católicos] permanecia tão apático em face desses
crimes revoltantes.[2]
A intenção de Hitler exterminar os judeus já era
conhecida pelo Vaticano antes da Concordata ser
assinada. Contudo, o Holocausto nunca se tornou
um fator crítico nas subseqüentes negociações da
Igreja com o Führer. No dia 1º de abril de 1933,
cerca de quatro meses antes do Vaticano assinar a
Concordata com ele, Hitler iniciou seu programa
sistemático com um boicote contra os judeus. Ele o
justificou com estas palavras: “Creio que ajo agora
conforme o propósito do Criador Todo-Poderoso.
Ao combater os judeus, eu travo uma batalha pelo
Senhor”. Quando o embaixador italiano, falando em
nome de Mussolini, solicitou que Hitler
reconsiderasse a sua atitude dura contra os judeus,
Hitler predisse “com absoluta convicção” que dentro
de 500 ou 600 anos o nome de Hitler seria honrado
em todos os países “como o homem que de uma vez
por todas exterminou a peste judaica do mundo”.[3]
Hitler tinha o apoio de muitos psiquiatras
alemães, os quais mais tarde iriam declarar que
Himmler, Hess e outros assassinos de massa nazistas
eram perfeitamente “normais”. E quanto aos
sentimentos dos psiquiatras em relação aos judeus,
Carl Jung expressou a opinião de muitos quando,
como presidente da Nova Sociedade Alemã de
Psicoterapia, escreveu:
O inconsciente ariano tem um potencial maior do que
o judeu... Freud [um judeu]... conhecia tão pouco a
alma alemã quanto os admiradores de seu trabalho.
Será que eles aprenderam algo do poderoso
surgimento do Nacional-Socialismo, para o qual o
mundo olha deslumbrado?[4]

Para Adolf Eichmann, tenente-coronel da SS,


seu papel como dirigente do extermínio dos judeus
em toda a Europa ocupada pelos nazistas era apenas
um trabalho e nada tinha a ver com Deus ou com
religião. Ao contrário dos católicos, ele não
apresentava desavença alguma com os judeus. Até
mesmo Simon Wiesenthal, que devotou sua vida a
localizar os criminosos de guerra nazistas, disse que
Eichmann não “tinha motivo algum nem odiava
[particularmente os judeus]... Ele teria feito o
mesmo serviço se lhe tivessem ordenado que
matasse todos os homens cujos nomes começassem
por P, ou B ou todos os que tivessem cabelos
ruivos”.[5]
Para Hitler, contudo, o Holocausto era uma
obra altamente espiritual. De acordo com as suas
convicções de estar agradando a Deus ao exterminar
os judeus, Hitler ordenava que a “solução final”
fosse executada [de forma] “tão humana quanto
possível”. Apesar da perseguição à Igreja sempre
que percebia que ela atravessava o seu caminho,
Hitler insistiu até o fim: “Eu sou agora, como era
antes, um católico, e sempre o continuarei sendo”.
Ele estava convencido de que o plano que havia
concebido como um bom católico iria completar o
massacre “daqueles assassinos de Cristo”, que a
Igreja Católica havia iniciado durante a Idade Média
mas havia levado a cabo tão mediocremente. John
Toland explica:
O extermínio, portanto, poderia ser feito sem dor na
consciência, uma vez que ele estava apenas agindo
como a mão vingadora de Deus – contanto que fosse
feito de maneira impessoal e sem crueldade. Himmler
foi instado a assassinar com misericórdia. Ele ordenou
que técnicos especializados construíssem câmaras de
gás que eliminassem massas de judeus eficiente e
“humanamente”. As vítimas eram amontoadas dentro
de vagões de carga e enviadas para o Leste a fim de
ficarem em guetos até que os centros de matança na
Polônia ficassem prontos.[6]
O Apoio da Igreja ao Anti-
Semitismo Nazista
Em sua missão de elaborar a Concordata,
Hermann Goering e Franz von Papen foram
cordialmente recebidos no Vaticano. A atitude
amistosa de Roma para com o regime nazista se
tornou clara. Ninguém havia lido Mein Kampf
(Minha Luta)? Claro que sim, mas Roma e Berlim
tinham muito em comum, inclusive a perseguição e
a matança dos judeus. Não faltavam líderes católicos
que apoiavam abertamente o expurgo dos judeus.
Durante os anos de 1933 a 1939, os escritos de
católicos influentes, “todos publicados em jornais e
editados por padres ou em livros ostentando o
Imprimatur”, apresentavam idéias como as
seguintes:
Os judeus exerceram “uma influência desmoralizadora
sobre a religiosidade e o caráter nacional... [Eles]
trouxeram ao povo alemão mais danos do que
benefícios”. Os judeus teriam exibido “um ódio mortal
por Jesus, enquanto Pôncio Pilatos, um ariano, tê-lo-ia
de bom grado deixado livre”... Os judeus... “em seu
ódio sem fronteiras pelo Cristianismo continuavam na
vanguarda dos que tentavam destruir a Igreja”.[7]

O cura Roth, que se tornara funcionário do


Ministério Nazista de Assuntos Eclesiásticos e um
dos primeiros adeptos de Hitler, chamava os judeus
de “uma raça moralmente inferior, que deveria ser
eliminada da vida pública”. O Dr. Haeuser, em um
livro com o Imprimatur da diocese de Regensburg,
chamava os judeus de “a cruz da Alemanha, um
povo rejeitado por Deus e sob a sua própria
maldição [que] detém a maior parte da culpa no fato
dos alemães terem perdido a [Primeira] Guerra
Mundial...” O padre Senn chamava Hitler de “o
instrumento de Deus, convocado para eliminar o
judaísmo”. O nacional-socialismo, dizia ele, oferecia
“a última grande oportunidade para se livrar do jugo
judaico”.[8]
A Igreja cooperou plenamente com os nazistas
no sentido de “selecionar as pessoas de origem
judaica...” Um padre escreveu no Klerusblatt:
“Também neste ministério pelo povo cooperaremos
da melhor forma possível”. A Igreja prosseguiu com
essa diabólica “cooperação” durante toda a guerra,
mesmo quando ser judeu significava “deportação e
completa destruição física”.[9] A Igreja estava bem a
par da tenebrosa sorte dos judeus. Num discurso em
30 de janeiro de 1939, apenas alguns meses antes
que seu ataque à Polônia desse início à guerra, Hitler
declarou que se a guerra estourasse, o resultado seria
o extermínio da raça judaica.[10]
O totalitarismo de Hitler foi aprovado pela
Igreja enquanto ela pôde fazer parceria com ele. A
extensa análise de documentos relevantes de todo o
período nazista feita por Guenter Lewy indica que
“a Santa Sé não se opunha às doutrinas políticas
centrais do nazismo mais do que os próprios bispos
alemães”.[11] O cardeal Faulhaber “chegou ao
extremo de declarar que não se preocupava em
defender os seus contemporâneos judeus”. Ele disse
que alguém tinha de distinguir entre os judeus antes
da crucificação de Cristo e depois dela. Em 1939, o
arcebispo Grober declarou que:
Jesus Cristo... foi fundamentalmente diferente dos
judeus do seu tempo, de tal maneira que eles O
odiaram e exigiram a Sua crucificação, e o “seu ódio
assassino continuou pelos séculos afora”.
Jesus foi um judeu, admitia o bispo Hilfrich, de
Limburg... em 1939, mas “a religião cristã teve... de se
impor contra esse povo”.
O teólogo Karl Adam defendia a posição de que o povo
alemão tinha de manter puro o seu sangue. Isso seria
necessário para sua autopreservação, pois “justamente
pelo sangue o mito alemão, sua cultura e sua história
receberam suas formas”.
Um artigo sobre a Revolução de 1918 no jornal dos
padres da Bavária descrevia o papel dos judeus nesta
“punhalada pelas costas” do invencível exército alemão
[e nesse estilo prosseguia continuamente].[12]

O cardeal Bertram, chefe da província


eclesiástica oriental da Alemanha, e o arcebispo
Grober, chefe da província da Alta Renânia, junto
com outros bispos expressaram preocupação pela
demissão de servidores civis católicos pelo novo
governo. Ao mesmo tempo, contudo, os bispos
recusaram os relatos sobre as brutalidades nos novos
campos de concentração. Grober até mesmo tornou-
se um “membro promotor” da SS e manteve suas
contribuições financeiras até o mais amargo fim.

O Que o Vaticano e os Bispos


Alemães Sabiam
Os líderes católicos se opunham ao nazismo
somente quando ele entrava em conflito com os
“assuntos e interesses da Igreja”. Assim, enquanto
permanecia muda em relação ao Holocausto, a
Igreja defendia e tentava proteger os judeus
convertidos ao catolicismo. Esse fato torna sua falta
de oposição ao extermínio dos judeus pelos nazistas
tanto mais repreensível.[13] “Havia 30 milhões de
católicos na Alemanha. Embora os judeus fossem
auxiliados secretamente [por algumas pessoas
católicas], a Igreja jamais reconheceu publicamente
que defender os judeus era um dever cristão”.[14] O
Vaticano bania rigorosamente outros livros, porém
jamais colocou Mein Kampf ou as obras venenosas
anti-semitas de inúmeros líderes da Igreja [Católica]
no Index de livros proibidos.[15]
Joseph Müller, oficial da inteligência militar e
confidente do cardeal Faulhaber, “mantinha o
episcopado bem informado sobre as atrocidades
sistemáticas cometidas na Polônia”. Assim também
fazia Hans Globke, um católico que era alto
funcionário do Ministério do Interior, “encarregado
de tratar dos assuntos raciais”. O Vaticano e os
bispos alemães, bem como a maioria da população
alemã, sabiam muito bem que os judeus estavam
sendo encurralados e exterminados. Viereck nos
recorda:
O especialista de Hitler para o extermínio, Rudolf Höss,
escreveu em Commandant of Auschwitz [Comandante
de Auschwitz]: “quando soprava um vento forte, o
cheiro de carne queimada era levado a muitas milhas e
fazia a vizinhança inteira comentar sobre a queima dos
judeus”. Ele observa também, a respeito de outro
campo, que sempre que um furgão passava carregado
de vítimas, até mesmo as crianças alemãs gritavam
nas ruas: “Aí vem o furgão assassino outra vez!”[16]

A Igreja sabia muito bem o que estava


acontecendo, mas fechava seus olhos e seus lábios.
Kurt Gernstein, um membro clandestino da
oposição evangélica a Hitler, tornou-se oficial da SS
a fim de descobrir pessoalmente o segredo dos
campos de extermínio e revelá-lo ao mundo. Ele
levou o seu relato ao representante do papa em
Berlim, o qual se recusou a recebê-lo quando soube
o conteúdo de sua mensagem.
“Havia dezenas de milhares de padres em
cidades, vilas e aldeias por toda a Europa. Eles
viram as casas esvaziadas e os seus vizinhos
deportados; eles ouviram confissões. Eles eram
extraordinariamente bem informados”. Soldados
católicos regressavam periodicamente do front russo
com relatos dos massacres em grande escala. “O
Vaticano estava entre os primeiros a saber dos
programas de genocídio. Informações confiáveis
sobre a matança foram enviadas ao Vaticano pelos
seus próprios diplomatas, em março de 1942”.[17]
Hitler costumava alardear ao mundo suas
intenções e seus feitos malévolos. O Vaticano, por
um lado, não tinha desculpa alguma por sua parceria
com o nazismo nem pelos seus contínuos elogios a
Hitler e, por outro lado, pelo seu silêncio ostensivo
em relação ao problema dos judeus. Quando o mal
se agigantava, a Igreja Católica continuava a
cooperar com o Führer e até mesmo a exaltá-lo.
Mesmo depois das tropas de Hitler, apesar das
promessas em contrário, entrarem e ocuparem a
desmilitarizada Renânia, os líderes católicos de toda
a Alemanha o elogiavam, dentre eles o cardeal
Schulte na catedral de Colônia.[18]
A Concordata com Hitler não foi novidade. Os
papas haviam sido parceiros de governantes
malvados durante séculos. Será que Jesus teria feito
algum trato com Pilatos ou o apóstolo Pedro com
Nero? Mesmo assim, os que se proclamam
sucessores de Pedro fizeram alianças profanas com
imperadores pagãos, a começar por Constantino, e
mantiveram a aliança com Hitler até o fim da guerra,
colhendo centenas de milhões de dólares em
pagamentos do governo nazista ao Vaticano.

O Fracasso Moral do
Silêncio
Pio XII era conhecido pelos seus francos
sermões admoestando os fiéis contra “o abuso aos
direitos humanos”.[19] Mesmo assim ficou em
silêncio sobre o Holocausto o tempo todo. Ele
jamais pronunciou publicamente uma palavra sequer
contra o sistemático extermínio dos judeus por
Hitler, porque fazer isso seria condenar a sua própria
Igreja por seus feitos semelhantes. Tal silêncio,
concordam os historiadores, encorajava Hitler e
contribuía para o indescritível genocídio.
O papa se gabava de ser o guardião da moral
no mundo, mas mesmo assim nada disse em relação
ao pior crime da história humana. Em sua primeira
encíclica, editada em outubro de 1939, Pio XII
declarou que o seu ofício como vigário de Cristo
exigia que ele “testificasse da verdade com firmeza
apostólica”. E prosseguia explicando:
Esse dever engloba necessariamente a exposição e
refutação de erros e falhas humanas, que devem ser
conhecidos de antemão para serem tratados e
curados...
No cumprimento desse nosso dever não nos
deixaremos influenciar por considerações terrenas nem
impedir por desconfianças ou oposição, por objeções
ou falta de apreciação de nossas palavras, nem ainda
pelo medo de incompreensões ou falsas
interpretações.[20]

Essas são palavras proféticas, mas provaram ser


absolutamente ocas e vazias. No dia exato em que
Pio XII iniciou o seu pontificado, Mussolini
expulsava da Itália 69.000 judeus e o papa ficou
calado. Algumas semanas mais tarde, a Itália invadiu
a Albânia. O papa protestou, “não por causa do país
ter sido vergonhosamente atacado, mas pela
agressão ter sido levada a cabo numa sexta-feira
santa”.[21] Seria este o “vigário” de Cristo?
Como o seu papa, os bispos alemães também
prometiam sempre “combater destemidamente as
injustiças”. Em 1936, o cardeal Faulhaber declarou
que um bispo não podia ser servo de Deus “se ele
falasse para agradar a homens ou permanecesse
calado por temer os homens”. Em julho de 1941, o
bispo Galen afirmava ser o “defensor dos direitos e
liberdades básicos” dados ao homem por Deus e que
o seu dever era “corajosamente... denunciar, como
uma injustiça que clamava aos céus, a condenação
dos inocentes indefesos”. Retórica semelhantemente
vazia era bradada dos púlpitos por outros bispos,
todos eles mantendo-se em silêncio enquanto 6
milhões de judeus eram sistematicamente
exterminados como se fossem apenas vermes. Essa
hipocrisia sem fim é uma grande prova de que esta
não é a Igreja verdadeira.
O cardeal Joseph Ratzinger (atual papa Bento
XVI), que por muitos anos foi chefe do equivalente
atual da Santa Inquisição, serviu como militar na
Alemanha durante a guerra, embora não tenha
participado de combates. Ele admite que estava a
par do Holocausto. Nenhum alemão poderia estar
completamente desinformado. “O abismo do
hitlerismo não podia ser ignorado”, Ratzinger
confessou[22]. Mesmo assim ele o ignorou quando
isso poderia lhe custar algo se falasse contra o
mesmo.
Certamente, como o guardião da ortodoxia e o
mais antigo e poderoso servidor do Vaticano,
Ratzinger poderia ter realizado correções, tanto
acerca de seu próprio silêncio como do [silêncio] de
sua Igreja durante todo o Holocausto. Por que não
demonstrar genuíno arrependimento e pedir
contristadas desculpas aos judeus? Mas Ratzinger
continua no mesmo silêncio obstinado de Pio XII. E
como poderia se desculpar sem admitir que os seus
papas e a sua Igreja pecaram gravemente contra os
irmãos naturais de Cristo, e que, portanto, a própria
alegação de infalibilidade e de ser a única Igreja
verdadeira não passa de uma fraude?

Impossível Fugir da Culpa


Tem-se argumentado que, se o papa tivesse
protestado como muitos lhe pediam, as coisas teriam
ficado ainda piores para os judeus. Elas poderiam ter
sido piores? Por acaso o silêncio do Vaticano salvou
alguém? Obviamente que não. De Rosa coloca isso
muito bem: “Havia apenas um homem no mundo
cujo testemunho Hitler temia, uma vez que muitos
no seu exército eram católicos. Esse homem não se
pronunciou. Em face do que Winston Churchill iria
chamar de “provavelmente o maior e mais terrível
de todos os crimes jamais cometidos em toda a
história mundial”, ele preferiu ficar neutro”.[23]
A Igreja não economizou palavras de oposição
ao programa de eutanásia do nazismo e obteve
sucesso, conseguindo interrompê-lo. Os bispos
levantavam a voz contra os maus tratos aos judeus
que haviam se tornado católicos e contra a
classificação como católicos judeus dos que eram
apenas meio-judeus. A Igreja se opôs ao divórcio
forçado de judeus casados com católicos e à
subseqüente deportação dos cônjuges judeus. Mas
nunca falou contra a destruição dos judeus. Como
afirma Guenter Lewy:
Quando milhares de alemães antinazistas foram
torturados até a morte nos campos de concentração
de Hitler, quando a elite intelectual polonesa foi
dizimada, quando centenas de milhares de russos
morreram como resultado de serem tratados como
eslavos Untermenschen [subumanos], e quando seis
milhões de seres humanos foram assassinados por
serem “não-arianos”, os representantes da Igreja
Católica na Alemanha apoiavam o regime que
perpetrava esses crimes. O papa em Roma, líder
espiritual e instância moral suprema da Igreja Católica
Romana, manteve-se em silêncio.
Em face desta que foi uma das maiores depravações
morais que a humanidade já foi forçada a presenciar
nos séculos recentes, os ensinos morais da Igreja,
[supostamente] dedicados ao amor e à caridade, não
se fizeram ouvir a não ser como vagas generalizações.
[24]

Quando a Gestapo, em fevereiro de 1943, no


processo de deportação dos últimos judeus alemães
para o Leste a fim de serem mortos, “aprisionou
vários milhares de cristãos não-arianos de
casamentos mistos [cerca de 6.000 somente em
Berlim]..., algo inesperado e sem igual aconteceu.
Suas esposas arianas os acompanharam aos locais de
detenção temporária e lá ficaram durante horas,
implorando e chorando pelos seus maridos. Com o
sigilo de todo o mecanismo de destruição ameaçado,
a Gestapo recuou e os maridos não-arianos foram
libertados. Aqui está um exemplo do que uma
consciência exaltada poderia fazer, mesmo contra a
máquina de terror de Hitler”.[25]
Quando Edoardo Senatro, correspondente do
L’Osservatore Romano em Berlim, “indagou de Pio
XII o porquê dele não protestar contra o extermínio
dos judeus, o papa respondeu claramente: “Querido
amigo, não se esqueça de que milhões de católicos
servem no exército alemão. Deveria eu levá-los a um
conflito de consciência?”. Guenter Lewy resume:
O papa sabia que os católicos alemães não estavam
preparados para sofrer o martírio pela sua Igreja;
muito menos estavam desejosos de incorrer na ira dos
governantes nazistas por amor aos judeus, os quais
seus próprios bispos, durante anos, haviam criticado
como sendo uma influência perniciosa na vida alemã.
Numa análise final... o silêncio do Vaticano apenas
refletia o sentimento profundamente arraigado nas
massas católicas da Europa – da Alemanha e da
Europa oriental em particular. A falha do papa foi um
reflexo do fracasso da Igreja em converter o seu
evangelho de amor fraternal e dignidade humana
numa realidade viva.[26]
Enquanto o Mundo Virava
as Costas
O silêncio do papa Pio XII concernente ao
Holocausto foi primeiramente perdoado e
encorajado pelos Estados Unidos (o presidente
americano Roosevelt também se calou), pela
Inglaterra e pela Suíça “neutra”. Esses países
literalmente devolviam os judeus fugitivos aos
nazistas e à morte certa. Nos meses cruciais, quando
ainda havia chance de muitos judeus saírem da
Alemanha, o Departamento de Estado dos EUA
bloqueava deliberadamente a imigração de judeus e
atrasava a expedição de documentos válidos até que
os solicitantes fossem levados aos campos de
extermínio nazistas.
Esses eram os frutos do anti-semitismo feroz
nas décadas de 1920 e 1930 por toda a América.
Essa foi uma das páginas mais negras da história
americana. Os fatos horríveis de cumplicidade da
América no Holocausto, nos mais altos escalões do
governo, foram parcialmente apresentados na TV no
dia 6 de abril de 1994, pela rede Public
Broadcasting System:
[Senadores e Congressistas] abertamente cuspiram o
veneno anti-semita nos próprios salões da capital da
nação... Havia campanhas anti-semitas orquestradas
por mais de 100 organizações através da América... O
padre católico Charles Coughlin era o porta-voz anti-
semita mais influente do país. Seu programa de rádio
alcançava mais de três milhões de pessoas.[27]

Documentos descobertos recentemente provam


que tanto os Estados Unidos como a Inglaterra não
estavam dispostos a receber os judeus e obstruíram
sua imigração. Longe de pressionarem Hitler para
acabar com as matanças, a Inglaterra e a América
temiam que o Führer, indevidamente pressionado,
pudesse jogar milhares de judeus sobre os
americanos e os ingleses. Essa era a última coisa que
esses governos hipócritas desejavam, apesar de suas
denúncias públicas das atrocidades nazistas. As
potências ocidentais, de forma semelhante ao
Vaticano, e em parceria com ele, foram realmente
cúmplices no Holocausto. A verdade é quase terrível
demais para ser encarada.
Não menos significativo é o fato de que a
Igreja jamais tenha excomungado Hitler, Mussolini,
Himmler ou qualquer um dos demais personagens-
chave do Holocausto. Eles continuaram católicos até
o fim, sob a égide da Igreja-Mãe. Mais que isso, a
Igreja tem mentido deliberadamente sobre o seu
próprio papel, espalhando “uma lenda de resistência
da igreja alemã aos nazistas, que precisa ser
historicamente corrigida”.[28] Exceto em casos
raros de alguns indivíduos, houve colaboração e não
resistência. Além do mais, os que cooperavam com
os nazistas, longe de serem repreendidos, foram
condecorados por Roma. Guenter Lewy nos oferece
alguns exemplos:
Essa dissimulação [da verdade acerca da cooperação
da Igreja] foi tão audaciosa e tão bem sucedida que
na Alemanha... nem um bispo sequer teve de
renunciar à sua função [por cooperar com os nazistas].
Muito pelo contrário, o bispo Berning, que havia
servido até a queda de Hitler no Conselho de Estado
Prussiano de Goering, recebeu em 1949 o título
honorífico de arcebispo. “Herr” von Papen [que ajudou
na negociação da Concordata em 1933] foi nomeado
camareiro privado do papa em 1959.
Tais recompensas a homens profundamente envolvidos
com o regime nazista representam uma zombaria das
figuras heróicas... que morreram combatendo Hitler.
[29]
Pio XII afirmava que suas encíclicas tinham
para a Igreja a mesma validade como declarações
ex-catedra.[30] Por conseguinte, se ele houvesse
dado orientação aos membros de sua Igreja, desde o
início teria havido chances de que ele pudesse
derrubar Hitler. A seqüência dos eventos, com a
Igreja Católica Romana literalmente colocando
Hitler no poder, e apoiando-o em seguida, invalida a
alegação dos papas de que eles são os vigários de
Cristo e dirigidos pelo Espírito Santo.

Anti-Semitismo em
Crescimento
A memória é curta e enganosa, e a consciência
mundial facilmente endurece, tornando necessário
um anúncio por parte do “United Jewish Appeal”
publicado há algum tempo na maior parte das
revistas [americanas]. Ele apresentava a foto de uma
unidade militar não-oficial de camisas-negras na
Rússia (aparentemente relacionada com o aumento
de poder do fanático fascista Wladimir Jirinovsky),
fazendo a saudação fascista do braço erguido. Seu
título foi: “PARA OS JUDEUS NA ANTIGA
UNIÃO SOVIÉTICA, OS SINAIS DA SAÍDA
ESTÃO CLARAMENTE INDICADOS”. O apelo
continuava:
Os sinais são familiares demais. A marcha de camisas-
negras fascistas. Sinagogas são misteriosamente
incendiadas. O extremista de direita Wladimir
Jirinovsky estrilando contra os judeus e a “conspiração
sionista”... Mais uma vez os oportunistas atribuem as
terríveis condições em que vivem aos seus bodes
expiatórios tradicionais, os judeus.
E para os judeus, o anti-semitismo é um fator que se
acrescenta à miséria da vida na antiga União Soviética:
tremenda penúria econômica, instabilidade política,
deprimente falta de oportunidades na educação e de
uma vida melhor.

As ex-Repúblicas Soviéticas não são os únicos


lugares onde existe uma óbvia e constante ameaça
contra a vida e a cultura judaicas. O anti-semitismo
está recrudescendo em toda parte, inclusive nos
Estados Unidos. Há algum tempo a Associated
Press informou:
Ataques anti-semitas, ameaças e molestações
aumentaram em 23% nos Estados Unidos... A LAD
(Liga Antidifamatória) registrou 1.867 ações anti-
semitas em 1993, o segundo maior número registrado
nos últimos 15 anos. O mais alto número foi de 1.879
casos em 1991. Em 1992, o total foi de 1.730...
Alan Swartz, diretor de pesquisa da LAD, citou
também renovados esforços de um revisionista do
Holocausto que colocou anúncios em jornais
universitários declarando que o Holocausto jamais
aconteceu.[31]

Os profetas hebreus predisseram esse ódio e


abuso contra o povo escolhido de Deus e que
(exceto por breves períodos de refrigério) não
terminariam até que Jesus Cristo voltasse à terra
para libertar o Seu povo (Zacarias 12.10). Por trás
de muita propaganda e violência anti-semita no
mundo inteiro, é apenas lógico suspeitar das
maquinações anti-semitas dos criminosos de guerra,
aos quais o Vaticano deu nova oportunidade de
continuar a sua obra maligna quando os transferiu
clandestinamente para a América do Sul.
A obstinada indiferença ao Holocausto quando
este estava em andamento e o desejo de vê-lo cair
no esquecimento do passado é o que se poderia
esperar dos que não conhecem a Deus. O Vaticano,
contudo, afirma representar Cristo e estabelecer o
modelo moral do mundo. O papa vive pregando paz
e amor e repreende os outros por seus fracassos
morais, mas as mãos de sua Igreja estão manchadas
com o sangue de milhões de vítimas inocentes.
A Duplicidade Continua
Em 1986, João Paulo II foi a uma sinagoga de
Roma, não muito longe do seu palácio. Em seu
discurso ele deplorou os crimes do passado
cometidos contra os judeus “por quem quer que
fosse”. Quando ele repetiu essa última frase, os
aplausos explodiram espontaneamente. O papa e o
rabino-mor [italiano] Elio Toaff se abraçaram.
Contudo, o lamento velado pelo abuso contra os
judeus por sua Igreja foi uma manobra fraca. O que
se necessitava era de uma admissão específica do
que a Igreja havia feito exatamente aos judeus,
desde o confinamento em guetos e o assassinato
deles ao longo da história até a parceria com o
nazismo no Holocausto. Sem essa admissão de
culpa e um pedido integral de desculpas, todos os
demais gestos de cortesia são enganosos.
No dia 30 de dezembro de 1993, após 18
meses de intensas negociações, o monsenhor
Claudio Maria Celli, subsecretário para Assuntos
Exteriores da Secretaria de Estado papal, e o Dr.
Yossi Beilin, vice-ministro do Exterior de Israel,
assinaram um “Acordo Fundamental” de 14 artigos,
estabelecendo relações diplomáticas plenas entre o
Vaticano e Israel. Seu preâmbulo refere-se “à
natureza única das relações entre a Igreja Católica e
o povo judeu”, bem como ao “processo histórico de
reconciliação” e ao “crescimento da mútua
compreensão e amizade entre católicos e judeus”.
[32]
A “natureza peculiar do relacionamento entre a
Igreja Católica e o povo judeu” tem sido a de
perseguidora e perseguido, de assassina e
assassinado. Quanto ao “processo histórico de
reconciliação”, o arrependimento de Roma para
iniciar tal processo ainda está faltando. Como pode-
se dar uma reconciliação significativa sem que a
parte que tem abusado tão terrivelmente da outra
faça uma confissão completa, peça sinceras
desculpas e proceda a uma séria reparação?
Desde o estabelecimento do Estado judeu em
1948, durante quase 46 anos, Roma recusou-se a
reconhecer a existência de Israel. Mesmo agora ela
insiste que Jerusalém deve ser uma cidade
internacional não governada por Israel. Por quê,
então, o “acordo” atual? Com as fronteiras de Israel
e as relações com a OLP sendo redefinidas, o
Vaticano sabia que, para poder dizer algo sobre o
futuro de Israel, tinha que estabelecer relações
diplomáticas com ele. E o Vaticano desejava essa
influência.
Os atuais líderes israelenses aparentemente
esqueceram que foi preciso a ajuda do exército
italiano para libertar os judeus dos guetos que
haviam sido impostos pelo Vaticano em Roma.
Esquecida deve ter sido também a declaração de Pio
X que Golda Meir citou em sua Autobiografia:
“Não podemos impedir os judeus de ir a Jerusalém,
mas jamais aprovaríamos tal coisa... os judeus não
reconheceram o nosso Senhor; não podemos
reconhecer os judeus”. É perigoso confiar naqueles
cujas palavras ditas no passado e atitudes durante
séculos consistiram em revelar a falsidade do
“acordo” agora alcançado.
No acordo, o Vaticano exige que Israel se
garanta a “observar o direito humano à liberdade de
religião e consciência”. Que rematado atrevimento!
Roma jamais esteve disposta a conceder tais direitos
aos outros sempre que esteve no controle. Já
documentamos fartamente que o catolicismo
romano é o inimigo jurado das liberdades de
expressão, religião e imprensa, e que os papas têm
consistentemente suprimido essas liberdades sempre
que tiveram o poder de fazê-lo.
O acordo, além disso, encarrega Israel e o
Vaticano de trabalharem juntos contra o anti-
semitismo. De que vale tal acordo sem Roma
admitir que tem praticado o mais maligno anti-
semitismo durante séculos, e sem suas desculpas
sinceras por ter agido assim? Para Israel, sem esse
gesto mínimo o acordo é razão de tristeza ao invés
de alegria.

A História Ainda Clama aos


Céus
A tentativa enganosa de Roma de encobrir seu
anti-semitismo também se encontra no Concílio
Vaticano II. Nele os judeus, embora não citados
nominalmente, são mencionados como aqueles “de
quem Cristo descendeu na carne” e chamados
“muito amados por causa dos patriarcas...”[33] Essa
declaração dificilmente combina com a maneira com
que Roma tem tratado o povo escolhido de Deus
através da história. Pode-se perder a esperança de
ouvir a verdade de tal fonte. O próximo parágrafo
mostra uma mentira não menos vergonhosa:
Mas o plano de salvação também inclui os que
reconhecem o Criador, em primeiro lugar dentre eles
os muçulmanos que professam manter a fé de Abraão,
e juntamente conosco adoram o único, misericordioso
Deus, juiz da humanidade no último dia.[34]

Que blasfêmia é chamar o Alá do islamismo de


Criador, identificando a antiga divindade pagã que
era a principal da Caaba (o deus da tribo quraish, de
Maomé) com Jeová, o Deus da Bíblia. O islamismo
nega especificamente que Alá seja um pai ou que
tenha um filho e que seja um ser triúno (Pai, Filho e
Espírito Santo). O islamismo, portanto, não tem
explicação para Gênesis 1.26: “Fa ça mos o homem
à nos sa imagem, conforme a nos sa semelhança”.
Alá é misericordioso somente para aqueles que
praticam o bem e odeia os pecadores, enquanto o
Deus verdadeiro é amor e ama a todos. Alá é um
deus distante com quem é impossível ter uma
relação pessoal, visto não possuir os atributos de
santidade, graça e amor, e ser o criador do mal. Alá
é a antítese perfeita do Deus de Abraão, Isaque e
Jacó.
Quanto a manter “a fé de Abraão”, esse
patriarca contemplava a futura vinda de Cristo como
o Cordeiro de Deus que morreria pelos nossos
pecados (Gênesis 22.8; João 1.29; 8.56) – uma
verdade que os muçulmanos rejeitam
inexoravelmente. O islamismo nega que Jesus é
Deus ou o Filho de Deus; nega que Ele tenha
morrido na cruz por nossos pecados (supostamente,
outro morreu em seu lugar) e, é claro, nega a Sua
ressurreição. Mesmo assim, esta parte do Vaticano II
sugere que os muçulmanos estão incluídos no “plano
de salvação”.
Será que Alá é Yahweh e o islamismo é a “fé
de Abraão”? Roma está sendo tão generosa com os
muçulmanos a fim de conseguir o seu favor?
Realmente, esta parte do Vaticano II sugere que
todos, mesmo os idólatras, no final estarão sob o
controle salvador da Igreja Católica Romana –
todos, menos os evangélicos. Há limites para a
generosidade de Roma, embora o seu punho de
ferro esteja vestido agora com luva de pelica. Israel
está sendo cortejado no momento, mas o senso
comum nos diz que esses motivos não são nada
puros. A história ainda clama aos céus pela nossa
atenção.
Jerusalém tem o seu Yad Vashem (Museu do
Holocausto) para trazer sempre à consciência
mundial a lembrança dos 6 milhões de judeus
assassinados por Hitler. Em contraste, não existe
memorial algum para os incontáveis milhões, tanto
de judeus como de cristãos, assassinados pela Santa
Madre Igreja. As palavras enganosamente suaves
provindas do Vaticano não conseguem eliminar a
indagação persistente da história recente que
Guenter Lewy nos apresenta:
Quando Hitler lançou sua campanha assassina contra
os judeus europeus, a verdade e a justiça encontraram
poucos defensores. O representante [vigário] de Cristo
e o episcopado [católico] alemão não estavam entre
eles. Seu papel dá uma relevância especial à pergunta
que uma jovem faz ao seu sacerdote no livro de Max
Frisch, Andorra: “Onde é que o senhor estava, padre
Benedito, quando levaram o nosso irmão como um
animal para o matadouro, onde estava o senhor?”
Esta pergunta ainda aguarda uma resposta.[35]
CAPÍTULO 20

O Massacre dos Sérvios


Um bom ustachi[*] é um ustachi que sabe usar uma faca para
arrancar um filho do ventre da mãe.

– Ante Pavelic, o Führer Croata[1]

Ante Pavelic, como poglavnic (Führer) da nação croata, e


Stejpan Hefer como governador-geral do Condado de Baranja,
entraram para a História pisando sobre os corpos mutilados de
quase um milhão de vítimas...
Ambos eram católicos de meia-idade, membros do Parlamento
[e] participaram do genocídio de seus patrícios, em assassinatos
executados com tal sadismo que chocariam até mesmo seus aliados
nazistas [e] ambos escaparam [depois da guerra] para a Argentina
[através das rotas de fuga do Vaticano] a fim de no exílio
ressuscitarem seu movimento.

– Scott e Jon Lee Anderson em Inside The League [Por Dentro da


Liga]

* Os terroristas croatas liderados por Ante Pavelic são


conhecidos por “ustachis” e membros da organização fascista
Ustacha.

O apoio do Vaticano a Hitler e Mussolini e ao


regime servil nazista na França, durante a Segunda
Guerra Mundial, coincidiu com o seu desejo de
reavivar o Sacro Império Romano, com os líderes
seculares obedecendo às ordens de Roma. Há muito
esse era, e continua sendo, o sonho do Vaticano. A
França (que Pio XI chamava de “a primogênita da
grande família católica”), juntamente com a Itália e a
Alemanha, eram os principais países católicos da
Europa, onde a Igreja exercia um grande poder.
Seus governos estavam dispostos a trabalhar com a
Igreja e até mesmo a estabelecer relações formais
com ela através de concordatas.
O ateísmo agressivo do comunismo soviético e
sua impiedosa destruição de igrejas fez dele o maior
inimigo que o catolicismo já havia encontrado em
sua longa existência. As democracias capitalistas,
com a sua inclinação pela liberdade de consciência,
religião e imprensa, também eram incompatíveis
com o catolicismo romano. Desse modo, nas
décadas de 20 e 30, o fascismo parecia dar à Europa
uma esperança maior de união católica, pois
apresentava-se como um baluarte contra a crescente
corrente vermelha do comunismo mundial e a
ameaça cada vez maior representada pelos países
democráticos.
O Vaticano reconheceu que estava numa guerra
de morte contra o marxismo-leninismo. A ele
parecia essencial aliar-se com as forças emergentes
do fascismo na Europa Ocidental. A concordata de
1929 com Mussolini e a de 1939 com Hitler foram
parte dessa política. Essas importantes alianças
refletiram a hábil diplomacia de Eugênio Maria
Giuseppe Giovanni Pacelli, que era o secretário de
Estado do Vaticano, em sua trajetória para suceder
Pio XI. Eugênio tornou-se o novo papa em 1939,
pouco antes de estourar a Segunda Guerra Mundial,
e adotou o nome de Pio XII. Tanto Mussolini como
Hitler eram católicos e sua liderança deveria
fortalecer o catolicismo europeu. O imperialismo do
Vaticano poderia crescer lado a lado com o da Itália
e da Alemanha.
O Intermarium
Nos últimos anos da Primeira Guerra Mundial,
Pacelli, que já era uma estrela ascendente aos olhos
do Vaticano, era o núncio papal em Munique. Ele
havia negociado secretamente, em nome do
Vaticano, com os poderes centrais a fim de salvar a
Alemanha e o Império Austro-Húngaro da derrota.
Esses países católicos eram vitais aos interesses do
Vaticano na Europa. Sua divisão em Estados
menores significaria a formação de países onde o
catolicismo seria minoria e, desse modo, a Igreja
perderia sua posição de domínio, tão importante às
suas ambições.
O presidente americano Woodrow Wilson
estava determinado a conceder independência aos
eslavos do sul. Assim nasceram os Estados
independentes da Checoslováquia e Iugoslávia.
Repentinamente, os croatas católicos tornaram-se
minoria em um novo país controlado pela Igreja
Ortodoxa. Para reverter essa situação infeliz, o
Vaticano deu início a uma campanha que tinha
como objetivo destruir a ortodoxia na Iugoslávia e,
ao mesmo tempo, conter a crescente ameaça do
comunismo naqueles países.
Buscando atingir esses dois objetivos, na
década de 20 o Vaticano fez contato com um grupo
da espionagem russa “branca”, que havia fugido da
ocupação bolchevista, e estava determinado a
regressar ao seu país para derrotar os “vermelhos”.
Quando esse círculo da inteligência cresceu, ficou
sendo conhecido como “Intermarium” – um comitê
secreto internacional que visava libertar e unir os
povos da região chamada “intermare”, banhada
pelos mares Báltico, Negro, Egeu, Jônio e Adriático.
Essa zona-tampão, que abrangia mais de 12 países,
teoricamente manteria os comunistas do Leste
afastados de uma nova Europa católica, que estaria
unida. Quando cresceu o potencial do
“Intermarium”, também cresceu o apoio do
Vaticano, muito embora nos anos 30 ele fosse
claramente um grupo fascista envolvido em
terrorismo internacional. Dentre os seus líderes mais
sádicos e depravados estava um homem chamado
Ante Pavelic, destinado a ser de grande ajuda tanto
para Hitler quanto para o Vaticano, servindo na
Iugoslávia como chefe de um regime servil ao
nazismo conhecido como Ustacha.
O comunismo mundial foi uma forma
inimaginável de maldade, responsável pelo massacre
de incontáveis milhões de vítimas, além das prisões e
torturas ilegais de tantos outros grupos de pessoas.
Infelizmente, muitos dos que se opuseram ao
comunismo durante toda a sua vida eram igualmente
selvagens. Após a Segunda Guerra Mundial, a Liga
Mundial Anticomunista foi infiltrada por “terroristas,
nazistas e esquadrões da morte latino-americanos
[ex-ustachis]”.[2] A formação da Ustacha é algo
importante e deve ser analisada.

Ante Pavelic e o Catolicismo


Croata Clandestino
Os líderes legais da Croácia, embora sendo
católicos, desconfiavam das ambições políticas do
Vaticano e, com justiça, hesitavam em colaborar
com os esforços da Igreja Católica. Assim, foi
preciso que eles formassem um exército ilegal de
terroristas pró-Vaticano. Esse grupo de ustachis foi
encabeçado pelo líder da Intermare, Ante Pavelic,
em parceria com o arcebispo croata Aloysius
Stepinac. Estes dois arquicriminosos foram
responsáveis por muitos assassinatos, inclusive o do
rei iugoslavo Alexandre e do ministro do Exterior
francês, Louis Barthou (em 1934), bem como do
líder do Partido Camponês Croata, Radich (em
1928). (Radich havia alertado e se oposto às
maquinações do Vaticano e, por esse motivo,
precisou ser eliminado).
Como mentor dos assassinatos de Alexandre e
Barthou, na França, Pavelic foi condenado à morte
pelos franceses, mas conseguiu escapar. Cinco anos
antes, mesmo sem estar presente ao julgamento, ele
já havia sido condenado à morte pelo governo
iugoslavo. Mussolini, em lealdade ao Vaticano,
concedeu asilo a Pavelic na Itália e recusou os
pedidos para a sua extradição, tanto da França como
da Iugoslávia.
Por toda a Europa, sob a liderança de Pavelic,
os ustachis foram responsáveis por assassinatos,
explosões de bombas em lugares públicos,
chantagem, ameaças e outros atos terroristas que
visavam atingir a ordem vigente na Iugoslávia e
formar um Estado católico croata independente. A
diplomacia do Vaticano fez sua parte, visando atingir
o mesmo objetivo. Apoiado com fundos, vindos
tanto de Mussolini como do Vaticano, os ustachis
cresceram em número e força, tanto que, quando
Hitler entrou na Iugoslávia, eles estavam prontos
para comandar um regime servil nazista encabeçado
por Pavelic.
Ante Pavelic e seus ustachis dispunham de uma
máquina de propaganda que divulgava o
revisionismo histórico e incitava o ódio racial
nacionalista croata, apelando ao mais baixo nível de
preconceito e superstição. A população da Croácia
no final da década de 20 era composta de cerca de
três milhões de católicos romanos, cerca de dois
milhões de sérvios ortodoxos, um milhão de
muçulmanos e cerca de 50.000 judeus. Os ustachis
propuseram uma solução atrativa para os que
desejavam ver os croatas no controle do país: todos
os não-católicos e não-croatas deveriam ser
eliminados através de deportação ou extermínio.
Para alcançar esse objetivo, a Croácia tinha de
conseguir a sua independência da Iugoslávia. Para
isso, Pavelic já havia estabelecido na Hungria e na
Itália, em 1929, campos de treinamento de suas
guerrilhas ustachis. A partir dessas bases, os ustachis
se deslocavam para praticar seus atos de terrorismo
contra o governo iugoslavo. As guerrilhas ustachis
eram treinadas pela milícia fascista italiana, usavam
seus uniformes negros, imitavam os passos de ganso
e usavam a saudação feita com o braço estendido,
aguardando ansiosamente o dia em que poderiam
“libertar” seu país. Esse momento chegou quando o
exército alemão entrou em Zagreb, a capital da
Croácia, e convocou Pavelic que estava na Itália.
Os nazistas, cumprindo o desejo do Vaticano,
declararam a Croácia uma nação independente e
colocaram Pavelic como chefe desse governo servil.
Pavelic imediatamente começou a executar o seu
programa de extermínio. Seu amigo Stejpan Hefer
tornou-se governador-geral do condado de Baranja,
onde impôs zelosamente a doutrina ustachi: “Isso
significava que o massacre dos sérvios e a
deportação dos judeus [para os campos de
extermínio nazistas] era a política oficial do Estado,
executada por esquadrões terroristas croatas, que
vasculhavam os montes e vales em busca de famílias
não-católicas”.[3]
Pavelic criticava Hitler por ser muito clemente
em seu tratamento com os judeus e se gabava de
que na Croácia ele havia resolvido completamente o
“problema judaico”. Os quase 50.000 judeus croatas
tinham sido deportados ou rapidamente enviados aos
campos nazistas de extermínio, principalmente para
Auschwitz.

A Conexão Católica
A maior parte do clero católico da Croácia
continuou apoiando fanaticamente Pavelic e seu
regime incrivelmente maligno. Até mesmo medalhas
foram concedidas por Pavelic a freiras e padres, o
que acabou revelando publicamente o fato de que
muitos deles desempenhavam papéis importantes ao
lado dos militantes ustachis. Frades franciscanos
foram os que mais se juntaram aos batalhões da
Ustacha. No que se refere às relações de Pavelic
com o alto clero, dois historiadores investigativos
escreveram:
Quando os alemães entregaram Zagreb aos ustachis, o
arcebispo Stepinac da Croácia imediatamente ofereceu
seus cumprimentos ao poglavnik e organizou um
banquete para celebrar a fundação da nova nação.
[Sendo o líder dos bispos croatas] ele ordenou que no
domingo de Páscoa fosse pregada em todos os
púlpitos das igrejas católicas da Croácia a proclamação
do Estado independente e conseguiu que Pavelic fosse
recebido pelo papa Pio XII [em Roma].[4]

O arcebispo Stepinac disse: “Deus, que dirige


os destinos das nações e controla os corações dos
reis, nos deu Ante Pavelic e fez Adolf Hitler, líder
de um povo amistoso e nosso aliado, usar suas
tropas vitoriosas a fim de expulsar os nossos
opressores... Glórias a Deus, nossa gratidão a Adolf
Hitler e lealdade ao nosso poglavnik, Ante Pavelic”.
[5]
Era uma parceria oficial entre Igreja e Estado,
algo que o Vaticano tanto gostava e não
experimentava há 300 anos. O aniversário de Pavelic
foi ocasião de cerimônias especiais em sua honra,
realizadas em todas as igrejas católicas. O ex-
comentarista da rede BBC, Avro Manhattan,
especialista em política do Vaticano, escreveu:
...aqui a Igreja Católica [construiu] um Estado em
completo acordo com todos os seus fundamentos. O
resultado foi um monstro edificado sobre o poderio
armado de dois totalitarismos iguais: o de um regime
de um Estado fascista impiedoso e também o do
totalitarismo católico...
O que dá a essa criatura da diplomacia do Vaticano
sua importância peculiar é que aqui temos um
exemplo da Igreja Católica implementando todos os
seus princípios sem enfrentar qualquer oposição e sem
medo da opinião mundial.
A peculiaridade do Estado Católico Independente da
Croácia repousa precisamente sobre isto: ele
representava um modelo em miniatura do que a Igreja
Católica gostaria de ver no Ocidente e, sem dúvida,
em toda parte, se tivesse o poder para tanto. E como
tal... isso deveria ser cuidadosamente examinado. Por
seu significado... ela é da maior importância para
todos os povos do mundo que amam a liberdade.[6]

Logo que Pavelic assumiu o poder, o arcebispo


Stepinac emitiu uma Carta Pastoral ordenando que o
clero croata apoiasse o novo Estado Ustacha. Está
bem documentado o envolvimento do clero católico
tanto na participação ativa como abençoando o
Holocausto perpetrado pelos ustachis. Miroslav
Filipovic, um monge franciscano, liderou o campo
de concentração de Jasenovac durante dois anos,
período em que ordenou o extermínio de nada
menos do que 100.000 vítimas, em sua maioria
sérvios ortodoxos. O arcebispo Stepinac liderou o
comitê responsável pelas “conversões forçadas” ao
catolicismo, feitas sob a ameaça de morte. Ele
também era o Supremo Capelão Militar Apostólico
do Exército Ustacha, que exterminava os que não se
convertiam. Stepinac era conhecido como o “padre
confessor” dos ustachis e continuamente outorgava
as bênçãos da Santa Madre Igreja a eles e às suas
atividades.
Após a abertura do Parlamento Ustacha,
Pavelic visitou a catedral de Zagreb, onde o
arcebispo Stepinac fez orações especiais em favor
do seu bom amigo e ordenou que se cantasse um
solene Te Deum dando graças a Deus pelo
estabelecimento do novo regime. A única reação do
bispo católico Mostar ao subseqüente extermínio
dos sérvios e judeus não foi lamentar que centenas
de pessoas inocentes fossem torturadas e
massacradas sadicamente, mas que elas não haviam
se convertido ao catolicismo: “Se o Senhor tivesse
dado às autoridades mais compreensão para
coordenar as conversões ao catolicismo com
habilidade e inteligência... o número de católicos
teria crescido em pelo menos 500.000 ou 600.000”.
[7]
Entre os clérigos mais infames da Igreja, além
do cardeal Stepinac, estavam o padre Vilim Cecelja
(mais tarde figura-chave na rota de fuga dos
criminosos de guerra nazistas), que, como sacerdote,
presidiu a cerimônia de consagração de Pavelic, e o
bispo Gregório Rozman (de Lubljana) e Ivan Saric
(de Sarajevo). Cecelja servia como vice-capelão da
milícia ustachi, onde ocupou a patente de tenente-
coronel. Conhecido na Bósnia e Herzegovina como
o “carrasco dos sérvios”, Saric declarava que o Deus
Todo-Poderoso estava por trás do movimento dos
ustachis e que Sua bênção estava especificamente
sobre sua determinação de livrar o mundo dos
judeus.
Como recompensa por seu trabalho para o
Vaticano, Stepinac posteriormente foi eleito cardeal.
Embora seus crimes fossem bastante conhecidos,
Pavelic foi recebido no Vaticano e abençoado pelo
papa Pio XII. “Quando o ministro britânico
designado para o Vaticano, em audiência particular
se aventurou a chamar a atenção do papa sobre os
acontecimentos na Croácia, ele [Pio XII] referiu-se a
Pavelic como “um homem muito caluniado”.[8]

O Massacre dos Sérvios


Ao contrário dos alemães, que estavam
interessados apenas no mais rápido e eficiente meio
de extermínio em massa, os ustachis católicos e seus
aliados, os padres e bispos que participavam e
davam suas bênçãos, sentiam grande prazer em
“torturar antes de matar. A maioria de suas vítimas
não eram fuziladas, mas sim estranguladas,
afogadas, queimadas ou esfaqueadas até a morte. Os
sérvios eram encurralados pela Ustacha nas igrejas
ortodoxas [como os cruzados haviam feito com os
judeus em épocas passadas], cujas portas eram então
fechadas e, em seguida, incendiadas. Uma foto
dessa época mostra os ustachis sorrindo para a
câmera, sentados diante de uma mesa onde estava o
corpo de um comerciante sérvio que eles haviam
castrado, estripado, perfurado com facas e
queimado até ficar irreconhecível”.[9]
As estimativas do número de vítimas excedem
a um milhão, e esse deve ser um número realista. A
Iugoslávia, em seus julgamentos de crimes de guerra
calculou que entre 700.000 e 900.000 vítimas foram
“torturadas e assassinadas... [nas] duas dúzias de
campos de concentração” existentes na Croácia
[10], e dezenas de milhares de pessoas jamais
alcançaram os campos. Dentre elas, havia muitos
judeus, mas em sua maioria eram sérvios ortodoxos,
a quem era dada a escolha entre a conversão ao
catolicismo romano ou a morte.
Tanto na Iugoslávia quanto na Ucrânia, os
padres, bispos e cardeais católicos romanos, com o
pleno conhecimento do Vaticano, participaram e
deram suas bênçãos a alguns dos mais sangrentos e
bárbaros massacres da guerra, visando entregar ao
catolicismo romano o controle sobre aquelas regiões.
Fitzroy Maclean, que era o elo militar de ligação
entre o exército britânico e os membros do Partido
Antiustachi, escreveu em um relatório:
Os massacres começaram com força no final de junho
[de 1941] e continuaram durante todo o verão,
aumentando em abrangência e intensidade, até que
em agosto o terror atingiu o seu ápice. O sangue
corria por toda a Bósnia. Bandos de ustachis andavam
pelo interior do país com facas, porretes e
metralhadoras assassinando homens, mulheres e
crianças sérvios, profanando as igrejas, matando os
sacerdotes sérvios, assolando as vilas sérvias,
torturando, raptando, queimando e afogando. Matar
tornou-se uma espécie de culto, uma obsessão.
Os ustachis competiam entre si para ver quem
conseguia matar mais “inimigos”. A fim de impressionar
o poglavnik – Pavelic – e serem promovidos ou
elogiados por seu “heroísmo”, os bandos posavam para
fotos juntamente com suas vítimas. Algumas dessas
fotografias foram apreendidas – mas são horrendas
demais para serem reproduzidas – e mostravam
ustachis degolando um sérvio com um machado,
serrando o pescoço de outro, carregando uma cabeça
pelas ruas de Zagreb. Em todas elas os ustachis estão
sorrindo e se espremendo para aparecer na foto, como
se quisessem provar seu papel nas atrocidades. Alguns
ustachis colecionavam os olhos dos sérvios que haviam
matado, enviando-os, quando tinham o suficiente, ao
poglavnik, para sua inspeção ou exibiam-nos
orgulhosamente, junto com outros órgãos humanos,
nos cafés de Zagreb.[11]

Até mesmo os nazistas acabaram ficando


enojados com as atrocidades dos ustachis e
intervieram na ocasião, resgatando as vítimas e até
mesmo desbaratando um regimento ustachi em 1942
para evitar mais atrocidades. Algumas tropas
italianas esconderam judeus e sérvios dos bandos
ustachis. Stejpan Hefer, contudo, sendo o
governador-geral de uma grande área, pôde facilitar
as contínuas matanças.

Fugas e Desinformação no
Período Pós-Guerra
Após a guerra, o arcebispo Aloysius Stepinac
foi preso pelo governo da Iugoslávia e sentenciado a
17 anos de prisão por crimes de guerra. A máquina
de propaganda do Vaticano retratava Stepinac como
uma vítima corajosa da perseguição comunista –
imagem que ainda hoje é veiculada na mídia secular,
inclusive por revistas como a Newsweek.[12] O papa
Pio XII elevou Stepinac ao cardinalato após a
guerra. Nas comunidades croatas ao redor do
mundo foram criadas “Associações Cardeal
Stepinac” com o objetivo de fazer campanhas para a
libertação desse “mártir sofredor”. Essas pressões
conseguiram fazer com que Stepinac fosse libertado
depois de apenas alguns anos de prisão.
Andrija Artukovic, reconhecido ministro do
Interior da Ustacha e posteriormente ministro da
Justiça no governo de Ante Pavelic [13], ficou
encarregado das políticas genocidas do governo
croata, supervisionando seus campos de extermínio.
Em 1986 ele foi descrito como “provavelmente o
mais importante criminoso de guerra ainda vivo e
sem castigo até hoje”[14]. Mesmo assim ele foi
liberto por engano pela espionagem britânica na
Áustria em 1945, e acabou entrando ilegalmente nos
Estados Unidos, usando o nome de Alois Anich. Ele
viveu tranqüilamente no sul da Califórnia, usando o
seu próprio nome até sua prisão e deportação em
1984. Artukovic foi defendido por seus
companheiros católicos, como por exemplo o padre
croata F. R. Cuturic, citado por um jornal de
Chicago:
E o que estão tentando fazer a um dos nossos
verdadeiros líderes, Andrija Artukovic (croata e
católico), que está sendo defendido pelos legítimos
heróis da liberdade, justiça e verdade diante dos
judeus sem Deus, dos ortodoxos, comunistas e
protestantes em toda parte? Eles chamam o nosso
líder Andrija Artukovic de “assassino”. Não, nós
ustachis devemos preservar nossa dignidade.[15]

Finalmente, ao retornar à Iugoslávia em 1985,


Artukovic foi julgado e considerado culpado de
muitos crimes de guerra, inclusive por “ordenar a
matança de toda a população da cidade de Vrgin
Most e de vilas adjacentes...”[16] Condenado à
morte por fuzilamento, ele morreu em 16 de janeiro
de 1988, aos 88 anos de idade, antes que a sentença
fosse executada. Até o fim, seus defensores
retratavam Artukovic como vítima inocente da
propaganda e perseguição comunista.
A partir da década de 90, nomes como Bósnia-
Herzegovina e Sarajevo tornaram-se conhecidos no
mundo todo. Os sérvios estavam sendo devidamente
castigados por suas agressões e atrocidades; mesmo
assim os noticiários nunca mencionaram os
massacres das cidades sérvias pelos ustachis
católicos entre 1941 e 1943, pelos quais os sérvios
agora procuravam se vingar. Um artigo da revista
Reader’s Digest [Seleções], escrito por um jornalista
que é uma autoridade em Iugoslávia, menciona os
ustachis, porém sem falar uma palavra sobre o
massacre impetrado por eles aos sérvios. O artigo se
refere aos “croatas e sérvios cristãos”[17], mas
ignora o fato de que os croatas são católicos e os
sérvios são ortodoxos, e que existe um arraigado
ódio entre eles.
Pouco antes dessa nova guerra, os sérvios
começaram a temer que houvesse outra limpeza
étnica dentro da Croácia. “A etnia sérvia, cerca de
12% dos 4,75 milhões de pessoas da Croácia,
acusou a administração nacionalista de fazer
ressurgir o espírito e a política ustachi”.[18] Em
janeiro de 1993, o jornal Slobodna Dalmacija ficou
sob estrita censura por ter afirmado que “no novo
Estado da Croácia é proibido não ser [católico]
croata”.[19]
Compartilhamos do pesar do arcebispo Vinko
Puljic pela destruição deliberada das igrejas católicas
e a matança de católicos feita pelos sérvios, fato a
que ele deu publicidade durante sua viagem de três
semanas aos Estados Unidos em abril de 1994.[20]
Contudo, é uma desonestidade sua não ter
mencionado os antigos massacres de quase um
milhão de sérvios feitos pelos ustachis católicos.
Ambas as partes devem admitir os seus pecados e se
arrepender para que possa haver paz.
O Vaticano, que desempenhou um papel
importante nos massacres dos sérvios pelos ustachis
e depois contrabandeou clandestinamente a maioria
dos genocidas para a liberdade, nega que haja
sangue em suas mãos e tenta ficar ensinando paz e
moralidade ao mundo. Em janeiro de 1993, durante
o seu “discurso sobre o estado do mundo”, o papa
falou que “a guerra na Bósnia-Herzegovina está
humilhando a Europa, e a comunidade internacional
tem o dever de desarmar o agressor se os outros
meios falharem”. Embora ele não mencionasse
diretamente os sérvios, deixou implícito serem eles
os agressores a quem estava se referindo.[21] Fica
claro que a hipocrisia do Vaticano não tem limites!
Nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial,
quando as tropas soviéticas se aproximavam, Pavelic
conseguiu escapar. Disfarçado de padre católico, o
governante servil de Hitler iludiu tanto as equipes de
busca dos Serviços de Inteligência soviéticos como
as dos aliados, alcançando Roma, onde foi
escondido pelo Vaticano. Ali ele se encontrou muitas
vezes com Montini, então subsecretário de Estado
de Pio XII que mais tarde viria a ser o papa Paulo
VI. Há anos Montini sabia o que os ustachis vinham
fazendo. Em setembro de 1941 um iugoslavo
chamado Branko Bokun já havia entregue a Montini
um enorme arquivo com evidências, inclusive as
repugnantes fotos e narrativas de testemunhas
oculares das atrocidades da Ustacha. O Vaticano,
porém, não viu motivo algum para mudar a sua
política e continuou a apoiar seu representante na
Croácia, bem como o regime e as atividades dos
ustachis.
Depois que os representantes oficiais do
Vaticano ficaram sabendo tudo o que Pavelic pôde
contar-lhes sobre o comunismo soviético, o
arquiinimigo do catolicismo, ele foi enviado para a
Argentina através das suas rotas de fuga. Lá esse
sádico assassino de massas reapareceu, dessa vez
como conselheiro de segurança de Juan Perón, o
ditador católico que deu as boas-vindas ao criminoso
de guerra católico em nome da Madre Igreja.
CAPÍTULO 21

As Rotas de Fuga do
Vaticano
Suponho que... algum acordo tenha sido feito entre o Vaticano e
a Argentina... para proteger não apenas os colaboradores mas
também [aqueles]... que são culpados dos terríveis crimes
cometidos na Iugoslávia. Entendo que devemos proteger nossos
agentes, mesmo que isso me desagrade... estamos montando um
esquema com o Vaticano, e também com a Argentina, para levar
pessoas culpadas a um esconderijo naquele país.

– John Moors Cabot, embaixador americano em Belgrado em


junho de 1947.[1]

As rotas de fuga do Vaticano provavelmente ficarão ocultas para


sempre. Mas, sob a pacata cidade de Suitland, em Maryland,
existem 20 câmaras subterrâneas, cada uma medindo um acre,
repletas de... documentos secretos... escondidos dos olhos do
público. À medida que as décadas foram se passando, os
sucessores dos guardiões originais nem tinham idéia dos terríveis
segredos enterrados ali... até que eles foram erguendo peça após
peça, o véu do segredo do Vaticano.
Quando os responsáveis pelos segredos lerem este livro, será
tarde demais... As rotas de fuga do Vaticano terão deixado de ser
segredo para entrar para a história. É um repugnante legado de
espiões, escândalos e contrabando de nazistas.

– Do prefácio de Unholy Trinity: The Vatican, The Nazis and


Soviet Intelligence [Trindade Profana: o Vaticano, os Nazistas e a
Inteligência Soviética].[2]

Com o colapso da resistência alemã no final da


Segunda Guerra Mundial, o grande temor dos povos
que viviam na Europa Oriental era que o avanço das
tropas soviéticas não os libertasse, mas os
escravizasse. Países inteiros se tornariam parte dos
despojos de guerra com que Roosevelt recompensou
Stalin. A liberdade estaria perdida e os cidadãos,
antes acostumados a viajar de um país para o outro,
acabaram por tornar-se virtualmente prisioneiros dos
regimes comunistas, atrás das fronteiras fechadas.
Caso fosse possível, escapar do regime
comunista era algo que devia ser feito
imediatamente. Com essa constatação, multidões de
refugiados começaram a dirigir-se para o Ocidente,
afastando-se do Exército Vermelho que se
aproximava. Misturados com esses fugitivos, e
esperando esconder suas identidades em meio à
confusão, estavam dezenas de milhares de
criminosos de guerra da Ucrânia, Hungria,
Romênia, Iugoslávia, Checoslováquia e Alemanha.
Ironicamente muitos deles receberiam ajuda melhor
e mais rapidamente do que os verdadeiros
refugiados, alguns dos quais eles haviam aprisionado
e torturado.
Os defensores de Pio XII insistem que durante
a guerra o seu silêncio diante do Holocausto foi
ditado pela necessidade da Igreja de permanecer
neutra. Porém, quando a guerra se aproximava de
seu final o papa estava longe de estar neutro. Ele
pediu que as Forças Aliadas fossem brandas tanto
com Mussolini quanto com Hitler. Disse que seus
países precisavam continuar como fortes baluartes
contra o comunismo soviético. Os aliados, é claro,
ignoraram essa surpreendente intercessão em favor
dos genocidas.
Depois de falhar em fazer algo significativo
para resgatar os judeus, o papa decidiu fazer um
grande esforço para salvar os seus assassinos. Seu
raciocínio era que os fascistas, que haviam
combatido o comunismo, deveriam ser liberados dos
processos que enfrentavam como criminosos de
guerra para poderem continuar lutando em outros
países católicos. Embora fosse incapaz de salvar
Hitler e Mussolini, o papa fez com que ficasse claro
nos campos de concentração que “o Vaticano
protegeria os fugitivos fascistas”.[3]

A Grande Fuga Para o


Ocidente
É quase sinistra a velocidade com que essas
informações alcançaram as “pessoas certas”,
enquanto as demais nada sabiam delas. Uma
torrente constante de nazistas criminosos de guerra
começou a se utilizar de rotas subterrâneas
rapidamente organizadas pelo Vaticano. Essa rede de
operação seria conhecida como “Rota de Fuga”. Os
repórteres investigativos Mark Aarons e John
Loftus, após terem examinado cuidadosamente
milhões de documentos até então secretos,
escreveram em seu admirável livro Unholy Trinity
[Trindade Profana]:
Sob a direção de Pio XII, autoridades do Vaticano
como monsenhor Giovanni Montini (que mais tarde
passou a ser o papa Paulo VI), supervisionaram uma
das maiores obstruções à justiça na História
moderna... facilitando a fuga de dezenas de milhares
de nazistas [criminosos de guerra] para o Ocidente,
onde eles deveriam ser treinados como “lutadores da
liberdade”... [bem como] os [criminosos de guerra]
fascistas da Europa Central, vindos da Rússia,
Bielorússia e Ucrânia.[4]

A maioria dos católicos ficariam chocados se


soubessem o que o Vaticano andava fazendo em
secreto – acima de tudo que entre os criminosos de
guerra fugitivos estava um grande número de
clérigos, de padres a arcebispos. O Vaticano também
não ignorava os seus crimes, mas, na verdade, até
mesmo havia dado a eles a sua bênção, tendo pleno
conhecimento dos terríveis fatos. É trágico que um
esforço semelhante não tivesse sido posto em prática
para salvar milhões de judeus da máquina de morte
nazista!
Milhares de ustachis bateram em retirada com
as tropas nazistas diante do avanço russo e tentaram
render-se às forças britânicas na fronteira da Áustria,
mas não foram aceitos. Então fez-se necessário que
atravessassem em secreto as linhas britânicas. Para
fazê-lo tiveram a ajuda do padre Vilim Cecelja, que
também era membro da Ustacha. Como tenente-
coronel da milícia ustachi, “falava com orgulho do
seu papel relevante no recrutamento de 800
camponeses para lutarem junto com os invasores
nazistas” na Iugoslávia. Ele havia feito parte do
grupo que acompanhou Pavelic quando este foi
abençoado por Pio XII em Roma em 17 de maio de
1941.
Antecipando a derrota nazista, Cecelja foi a
Viena em maio de 1944 “para preparar a conexão
austríaca da rede de fuga” e para “fundar a sucursal
austríaca da Cruz Vermelha Croata, que daria a
cobertura ideal para o seu trabalho ilegal”.[5]
Quanto ao próprio Pavelic, os registros da
Inteligência ocidental indicam:
Ante Pavelic depilou parte de suas denunciadoras e
espessas sobrancelhas, colocou barba postiça e, com
passaporte argentino, escapou até a Áustria usando o
nome de “Ramirez”. Escondeu-se no convento de São
Gilgino até ser capturado pelas forças de ocupação
britânicas. [Devido a um arranjo com o Vaticano] ele
foi libertado e só voltou a aparecer dois anos mais
tarde, na Itália, vestido de padre e escondido em
outro convento... [até] ir de navio para Buenos Aires
em 1948.[6]

As Primeiras Operações das


Rotas de Fuga
Uma das primeiras figuras-chave a coordenar
as fugas dos criminosos de guerra nazistas
(especialmente a dos clérigos católicos) foi o bispo
Alois Hudal, reitor em Roma de um seminário de
padres alemães e amigo íntimo tanto de monsenhor
Giovanni Montini (que mais tarde tornou-se o papa
Paulo VI) quanto de Alcide de Gasperi
(posteriormente premier italiano). Ele também foi
confidente de Eugênio Pacelli tanto antes como
depois dele se tornar o papa Pio XII. Hudal era tão
fanático em seu apoio a Hitler e sua política nazista
quanto em seu ódio a tudo o que se relacionasse ao
comunismo. Um anti-semita convicto até a morte,
Hudal cooperou estreitamente com Roma no Santo
Ofício (sucessor da Inquisição) como guardião da
doutrina católica.
O bispo Alois Hudal não via conflito algum
entre o seu amado catolicismo romano e o nazismo,
que apreciava da mesma maneira. Durante a guerra,
ele orgulhosamente andava por toda Roma exibindo
em seu carro a bandeira da “Grande Alemanha”.
Quando a vitória aliada tornou-se inevitável, ele
rapidamente removeu a bandeira.
Os discursos pró-nazistas de Hudal em Roma e
seu livro The Fundations of National Socialism [Os
Fundamentos do Nacional-Socialismo] longe de
serem censurados pelo Vaticano, parecem ter
recebido sua firme aprovação. Tanto é assim que o
livro tinha o imprimatur de Theodore Innitzer,
primaz da Igreja Católica da Áustria, o mesmo que
recepcionou Hitler entusiasticamente quando o
Führer invadiu esse país. Hudal também era
colaborador do secretário de Estado do Vaticano, o
cardeal Eugênio Maria Pacelli (que veio a ser o papa
Pio XII em 2 de março de 1939). Foi o próprio
Pacelli quem presidiu pessoalmente a cerimônia que
elevou Hudal ao cargo de bispo titular em 1936;
igualmente favorecido pelos nazistas, Hudal exibia
um distintivo dourado do Partido Nazista.
Entre os criminosos de guerra que Hudal
ajudou a fugir havia figuras importantes como Franz
Stangl, comandante do infame campo de extermínio
de Treblinka (sendo responsável pelo assassinato de
cerca de 900.000 prisioneiros, em sua maioria
judeus). Após sua “fuga” arranjada, de campo de
prisioneiros na Áustria, Stangl usou as rotas de fuga
para ir até Roma juntamente com dezenas de
milhares de outros. “Hudal” era o nome que todos
cochichavam e a senha para abrir a porta de
santuários secretos. Como contou Stangl, logo após
ter chegado a uma propriedade do Vaticano em
Roma onde ficaria escondido, o bispo Hudal “entrou
na sala onde eu estava esperando, estendeu as duas
mãos e disse: você deve ser Franz Stangl. Estava lhe
esperando”.[7]
Stangl foi finalmente localizado e recapturado
no Brasil, em 1967 pelos caçadores de nazistas
liderados por Simon Wiesenthal, que sabiam das
rotas de fuga. Esta rede subterrânea de serviço de
escritórios, seminários, mosteiros, conventos e
residências de católicos proporcionou, não apenas os
esconderijos nas rotas de fuga, mas também as
identidades falsas e as passagens para a América do
Sul e outros portos seguros. O mais infame genocida
de todos, Adolf Eichmann, líder ateu do
Departamento de Assuntos Judaicos da SS, que,
depois de Hitler, foi o maior responsável pelo
Holocausto, estava entre as dezenas de milhares de
pessoas que foram conduzidas incógnitas, através
das rotas de fuga, pelos oficiais católicos e com as
bênçãos do Vaticano.
O Serviço de Inteligência de Israel acabou
seguindo o rastro de Eichmann e o raptou na
Argentina. Ele foi julgado em Jerusalém e executado
em 1962. Os israelenses não viram essa notável
façanha como uma vingança, mas como um triunfo
da verdade e da justiça. Eichmann poderia ter sido
assassinado em Buenos Aires pelos agentes
israelenses. Mas ao invés disso, com grande risco e
esforço, ele foi levado a julgamento onde suas
vítimas poderiam encará-lo em tribunal aberto e o
mundo inteiro ouviria falar das evidências do
Holocausto. Os “judeus errantes”, sem uma nação,
os quais Eichmann sistematicamente levou à morte
aos milhões, estavam agora em sua própria terra e
puderam ouvir o seu depoimento. Após a confissão
do próprio Eichmann (embora ele se justificasse
alegando obediência ao seu “deus”, Hitler), os
jurados pesaram as evidências, deram o seu
veredicto e o condenaram à forca.
Contudo, em sua grande maioria, os criminosos
de guerra nazistas puderam se misturar com as
comunidades alemãs na América Latina. Mesmo
tendo escapado do braço da justiça humana, eles
enfrentarão um Tribunal Superior (divino), como
todos nós faremos algum dia. Com certeza lá a
justiça perfeita será estabelecida, apesar da
corrupção daqueles que afirmam representar esse
Tribunal aqui na terra.

Uma Incrível Obsessão


As rotas de fuga foram iniciadas através da
pressão diplomática feita por Pio XII, visando
permitir que os seus representantes visitassem os
campos dos prisioneiros de guerra, para “ministrar
religiosamente aos católicos”. O propósito real era
identificar e tirar de lá em secreto os criminosos de
guerra nazistas. Dificilmente foi uma coincidência
que Pio XII escolheu para liderar essa violenta
obstrução da justiça internacional seu conselheiro
íntimo, o bispo Hudal, a quem quase toda Roma
conhecia como um fanático anti-semita e pró-
nazista. O próprio Hudal admitiria mais tarde:
Agradeço a Deus que ele tenha [me permitido]
visitar... os prisioneiros e os campos de concentração e
[ajudar os prisioneiros] a fugir com documentos de
identidade falsos... Após 1945 senti-me no dever de
devotar toda minha obra de caridade principalmente
aos ex-adeptos do Nacional-Socialismo [nazistas] e
fascistas, de maneira especial aos que foram
chamados “criminosos de guerra”.[8]

Que descaramento! Não devemos esquecer que


Hudal era um bispo católico, amigo íntimo e
confidente de mais de um papa. Ele dedicou sua
vida a servir à Santa Madre Igreja, em obediência ao
seu líder espiritual, que ele acreditava ser o vigário
de Cristo. Ele não teria feito coisa alguma que fosse
contrária às ordens daquele a quem ele chamava de
“santo padre”. E foi recompensado por seu serviço
fiel com promoções e títulos.
Lembremo-nos também que a guerra havia
terminado. A maldade de Hitler, com suas horrendas
conseqüências, visíveis em cidades destruídas e nos
milhões de vidas ceifadas, era um fato histórico
inegável. O massacre de seis milhões de judeus era
um registro público fartamente documentado. A
criminalidade do regime de Hitler indignou o mundo
de tal maneira que um tribunal internacional foi
estabelecido em Nüremberg a fim de julgar os
responsáveis pelos “crimes de guerra”. Mesmo
assim, o bispo Hudal, conhecendo os fatos, afirmou
ter a convicção de ser um homem que acreditava ter
servido a Deus e que sua “obra de caridade” se
resumia basicamente a resgatar os “criminosos de
guerra” da justiça que o resto do mundo desejava
aplicar-lhes.
Hudal agiu sozinho? Claro que não! Ele
desempenhou fielmente uma missão secreta a
serviço do papa e de sua bem-amada Igreja.
Posteriormente ele foi substituído, mas as operações
continuaram sob o patrocínio do Vaticano. Os
homens que o sucederam eram muito piores do que
Hudal. Assim como ele, também eram clérigos
católicos que acreditavam estar servindo a Deus e
sabiam que teriam a bênção do papa. Desse modo,
as inacreditáveis palavras de Hudal sobre “obra de
caridade” resgatando “criminosos de guerra” são, na
verdade, os termos usados pelo Vaticano, que estava
por trás dessa operação.

Tudo Para a Glória de Deus?


Provavelmente a ajuda mais valiosa que Hudal
recebeu para estabelecer as suas infames rotas de
fuga veio de um velho amigo, Walter Rauff, que
também era um criminoso de guerra nazista e um
genocida de judeus. Essa complicada rede de
maldades envolvia outras potências com quem o
Vaticano trabalhava secretamente, inclusive os
Estados Unidos. A OSS (antecessora da CIA)
“pediu Rauff emprestado” ao Vaticano por tempo
suficiente para interrogar esse ex-chefe da
Inteligência da SS a respeito de tudo o que ele sabia
sobre os agentes comunistas que operavam no
Ocidente; depois permitiu que ele regressasse ao seu
apartamento em Milão, de onde coordenava a
conexão norte das rotas de fuga.
Para ajudar a financiar a rede de fugas montada
pelo Vaticano, Rauff recrutou seu ex-colega da SS,
Frederico Schwendt, um dos mais talentosos
falsificadores de todos os tempos. Sua genialidade
trouxe lucros para o Vaticano durante os primeiros
dias das rotas de fuga. Mais tarde as operações
passaram a ser sustentadas em grande escala através
da venda de alguns tesouros que os nazistas haviam
saqueado ilegalmente, inclusive centenas de libras
em ouro contrabandeadas para o Ocidente e
“lavadas” pelos prelados católicos.
Até mesmo a Cruz Vermelha Internacional,
especialmente o seu escritório em Roma, foi
ludibriada para ajudar a operação ao fornecer
documentos de identidade falsos, que possibilitaram
a milhares de criminosos de guerra embarcarem em
navios na cidade de Gênova que rumavam para a
América do Sul. Aquela parte da operação era
supervisionada pelo bispo croata Siri, que escondeu
em um mosteiro monstros cruéis como Eichmann
quando fugiam da justiça.[9] Quanto ao velho amigo
de Pavelic, da Intermarium, e um dos maiores
assassinos de sérvios e judeus, na Croácia, Stejpan
Hefer, os registros indicam:
Stejpan Hefer também fugiu para a Áustria. Ele estava
lá em 19 de agosto de 1946, quando o governo
iugoslavo emitiu documentos exigindo o seu retorno à
Iugoslávia, para enfrentar o julgamento por crimes de
guerra, [mas] zarpou em um navio para encontrar-se
com seu poglavnic na Argentina.
Hefer foi ajudado a sair da Europa através da rota de
fuga mais importante da Croácia, que era operada a
partir do Instituto de São Gerônimo, na rua Tomaselli
132, em Roma. Essa fundação católica [financiada
pelo Vaticano] dirigida pelos padres Draganovic e
Levasic, facilitou a fuga de milhares de ustachis para a
América do Sul...
Em Buenos Aires, os refugiados podiam receber
assistência de um grupo de monges católicos croatas
exilados. Desse modo, cerca de 500 ustachis
conseguiam escapar mensalmente.[10]

Mas, por que motivo esses torturadores e


genocidas eram protegidos para não serem
condenados pela justiça? As evidências que temos
indicam que só o que interessava era ser pró-católico
e anticomunista. Nessas condições, a absolvição era
possível para qualquer crime. Além do mais, matar
hereges e judeus havia sido uma prática estabelecida
durante séculos pela Igreja e confirmada por
numerosos papas como um ato de fé realizado para
a glória de Deus. Quando se observa a história do
Vaticano, é bastante compreensível o resgate dos
criminosos de guerra que eram católicos, pois eles
haviam apenas seguido o exemplo de sua Madre
Igreja.
Apoiar a Igreja Católica Romana em sua luta
contra os arquiinimigos (comunismo e
protestantismo) e propagar a fé católica no mundo
inteiro eram vistos como o cumprimento da vontade
de Deus. Portanto, esse alvo deveria ser atingido
usando qualquer meio, a qualquer custo e com
quaisquer parceiros. A determinação do Vaticano de
ver a Europa tornar-se novamente uma federação de
Estados católicos em oposição ao comunismo de
Stalin era o fator predominante com o qual todos os
outros deviam se alinhar. Os aliados ocidentais
desejavam ser parceiros limitados nesse
empreendimento até o ponto em que ele servisse aos
seus próprios interesses. Era novamente uma aliança
muito profana (“fornicação com reis”), da qual a
mulher, que João tinha visto cavalgando a besta,
seria culpada durante toda a História.
Os países católicos, por dever, eram obrigados
a fazer a sua parte para satisfazer os interesses do
Vaticano. Parte de sua obrigação incluía
providenciar refúgio seguro para aqueles filhos da
“Madre Igreja” que ela desejasse proteger durante a
implementação da sua grande missão: estabelecer o
reino de Deus na terra. Os que se encontravam na
distante América Latina estavam estrategicamente
posicionados a fim de executar da melhor forma
possível esse serviço, e assim o fizeram.

Um Novo Diretor Para as


Rotas de Fuga
A adesão pública de Hudal ao nazismo, sua
declarada admiração por Hitler e seu anti-semitismo
desavergonhado continuaram, mesmo após o
término da Guerra e o imensurável mal do
Holocausto ter sido revelado a um mundo
horrorizado. Como resultado, esse bispo acabou se
tornando um embaraço para o Vaticano. Ele estava
chamando a atenção do público, ameaçando expor
as rotas de fuga. Conseqüentemente, seus superiores
fizeram pressão para que Hudal saísse de cena.
Embora relutante, ele se aposentou de suas funções
eclesiásticas e acabou no ostracismo.
Logo em seguida, a supervisão das rotas de
fuga passou para o controle de um capacitado padre
croata, Krunoslav Draganovic. Na Croácia ele havia
sido um assessor do bispo Saric, de Sarajevo, um
renomado anti-semita conhecido como o “carrasco
dos sérvios”. Em agosto de 1943, as autoridades da
Igreja haviam chamado Draganovic a Roma, onde
ele se tornou o contato mais influente da
Intermarium no Vaticano. Suas manobras para
tornar-se representante da Cruz Vermelha em Roma
foram de valiosa ajuda após a Segunda Guerra, pois
assim podia fornecer documentação falsa para os
fugitivos.
Draganovic era diretor da Fraternidade Croata
São Girolamo, fundada em Roma pelo papa Nicolau
V, em 1453. O interior do mosteiro, localizado na
Rua Tomaselli, era cheio de labirintos e logo passou
a esconder muitos fugitivos da justiça internacional.
Na verdade, São Girolamo tornou-se o centro
nevrálgico do contínuo contrabando de criminosos
de guerra nazistas para a América do Sul e para
outras partes. Muitos dos antigos aliados de
Draganovic na Ustacha, inclusive muitos sacerdotes
católicos, tais como o padre Vilim Cecelja (alistado
como “criminoso de guerra nº 7.103” pelo governo
de Tito e procurado, sem sucesso, para ser
extraditado), foram figuras-chave na operação das
rotas de fuga. Cecelja, o responsável pela conexão
das rotas de fuga na Áustria, “havia servido como
capelão militar e concedia absolvição às forças
ustachis durante o ápice dos massacres dos sérvios e
judeus”.[11]
Imediatamente após o fim da Segunda Guerra,
o padre Cecelja, pelas mais puras razões
humanitárias, mas sem qualquer filiação ou
aprovação da Cruz Vermelha Internacional, fundou
a Cruz Vermelha Croata, um movimento que se
revelaria estrategicamente útil às rotas de fuga.[12]
Recebendo permissão temporária para estabelecer o
seu “campo de refugiados” na Áustria até que a
Cruz Vermelha Internacional pudesse estabelecer a
sua própria filial autorizada, Cecelja conseguiu
acesso aos cartões de identificação da Cruz
Vermelha. A partir daí ficou habilitado a fornecer os
falsos documentos de identidade autenticados pela
Cruz Vermelha[13] aos seus companheiros ustachis,
que fugiram pela Áustria e chegaram através das
rotas do Vaticano até Roma e Gênova, partindo de
lá para a liberdade na América do Sul. Esse padre
católico seguidamente se gabava de sua iniciação na
Ustacha através de um ritual secreto que envolvia
velas, um crucifixo, um punhal cruzado e um
revólver.

Um Inconcebível Desprezo
Pela Verdade
Quando começaram a circular os rumores
sobre essas operações de envio clandestino de
pessoas, tanto o Vaticano como Draganovic
desmentiram qualquer envolvimento com as rotas de
fuga. Tais desmentidos pela hierarquia católica
romana ainda continuam sendo feitos, geralmente
originados na cidade do Vaticano e depois
publicados nos principais jornais do mundo. Aqui
temos um recente protesto de inocência:
Rebatendo uma antiga acusação, ontem o Vaticano
refutou... alegações de ter auxiliado os criminosos de
guerra nazistas a fugirem da Europa para a América
do Sul após a Segunda Guerra Mundial.
Essa acusação... originou-se das denúncias de
repórteres da Argentina de que arquivos recentemente
abertos ao público mostravam que os oficiais nazistas
chegaram a Buenos Aires após a Guerra com
passaportes expedidos pelo Vaticano, pela Cruz
Vermelha e pela Espanha...
Os arquivos do Vaticano referentes a esse período
estão lacrados, apesar das solicitações de grupos
judeus para terem acesso a eles...
O assessor de imprensa do Vaticano, Joaquim Navarro,
porta-voz do papa João Paulo II... disse: “A idéia de
que a Santa Sé... tenha ajudado criminosos de guerra
perseguidores de judeus a fugirem da Europa... é
historicamente falsa”.[14]
[Um artigo posterior declara]:
Quase dois anos depois que o presidente Carlos Raúl
Mennem anunciou que abriria os “arquivos nazistas”
da Argentina, historiadores locais disseram que...
provavelmente conseguiram abrir um dos mais
completos arquivos existentes documentando o
movimento dos nazistas após a Guerra...
Os documentos mostram, por exemplo, que Ante
Pavelic... entrou na Argentina após a Guerra
acompanhado de oito auxiliares croatas... mas até
então não era conhecida a entrada de aliados de
Pavelic acusados de crimes de guerra, incluindo...
[segue-se uma lista de nomes].[15]

Tais desabafos periódicos de indignação


autojustificativa apenas denotam o desprezo do
Vaticano pela verdade. Os fatos, ocultados durante
décadas em câmaras secretas, já não podem mais ser
negados. Alguns dos registros que Aarons e Loftus
descobriram, que revelam com certeza absoluta o
envolvimento ativo do Vaticano, foram
originalmente conseguidos por meio de “uma ousada
invasão do escritório de Draganovic, que pegou
fotos de muitos registros secretos de Draganovic”.
Esses documentos fornecem provas definitivas de
que Girolamo era “o centro das operações de
transporte e contrabando de criminosos do
Vaticano”.[16]
Fotocópias de documentos oriundos da invasão
do escritório de Draganovic também confirmam que
o próprio Pavelic morou dentro do Vaticano ao lado
de outros procurados criminosos de guerra”.[17]
Naqueles dias, o ex-Führer croata se disfarçava de
padre católico. Enquanto se escondia no Vaticano,
Pavelic tornou-se grande amigo de monsenhor
Giovanni Batista Montini, o secretário de Estado do
Vaticano. Montini veio a ser o papa Paulo VI em
1963, na metade do Concílio Vaticano II. Como já
mencionamos, Paulo VI tomou o controle e impôs
sua vontade no Vaticano II mais do que Pio IX havia
feito no Concílio Vaticano I em 1870.
O patrocínio do Vaticano às rotas de fuga
também foi plenamente comprovado através da
constante vigilância realizada pelas equipes do
Serviço Secreto dos Aliados.[18] Veja este breve
excerto de um registro do agente Robert Mudd, do
Serviço de Contra-Inteligência:
Esses croatas (criminosos de guerra) entravam e saíam
do Vaticano várias vezes por semana, em carro com
motorista, com placa de licença apresentando as
iniciais CD, de “Corpo Diplomático”. Ele saía do
Vaticano e descarregava seus passageiros no mosteiro
de São Gerônimo [ou São Girolamo]. Por estarem
sujeitos à imunidade diplomática, era impossível
pararmos seu carro...
O apoio de Draganovic a esses traidores croatas liga-o
definitivamente aos planos do Vaticano para abrigar
esses nacionalistas ex-ustachis até que eles fossem
capazes de preparar os documentos apropriados que
lhes possibilitaria fugir para a América do Sul.[19]
A Inteligência Ocidental foi espetacularmente
ineficaz em sua oposição às “tão bem sucedidas
rotas de fuga, organizadas e dirigidas pelo padre
Krunoslav Draganovic e um grupo de clérigos
croatas”. Um dos raros momentos de triunfo veio
quando “os britânicos prepararam uma emboscada
no próprio San Girolamo, prendendo cerca de 100
homens que saíam de uma reunião”.[20] Uma das
razões para a falta de sucesso foi o fato de que tanto
“Washington como Londres haviam feito arranjos
com a Santa Sé para ajudar muitos colaboradores
nazistas a emigrarem através do sistema de envio
ilegal liderado por Draganovic”.[21]

Envolvimento Americano e
Britânico
Os frustrados agentes americanos e britânicos
que estavam tentando capturar os ilustres criminosos
de guerra não sabiam que Draganovic estava sendo
informado por pessoas de dentro das suas próprias
agências. Assim sendo, o “bondoso pai” continuava
a retirar os seus companheiros da Ustacha dos
campos de refugiados pouco antes de serem presos.
Esse foi, por exemplo, o caso de Ljubo Milos, um
dos principais oficiais do campo de concentração de
Jasenovac, onde foram mortas cerca de 300.000
pessoas. Milos havia se deliciado com a “morte ritual
de judeus” cortando gargantas, desarticulando
costelas e rasgando ventres com uma faca especial,
mandando arremessar prisioneiros vivos na fornalha
da olaria ou simplesmente espancando-os até a
morte.[22] Informado de que Milos estava para ser
detido, Draganovic conseguiu fazê-lo desaparecer
bem debaixo do nariz de seus pretensos captores
despachando-o para um local seguro.
Outro sacerdote católico, membro da Ustacha e
criminoso de guerra que trabalhou nos subterrâneos
das rotas de fuga foi o padre Dragutin Kamber. O
genocida Dragutin havia até mesmo organizado e
comandado um campo de concentração para sérvios
e judeus, que na sua opinião deviam ser
exterminados por serem prejudiciais ao Estado
Ustacha. Ele trabalhou diligentemente para ajudar
seus companheiros da Ustacha e criminosos de
guerra a escapar do Serviço de Inteligência Soviética
e Aliada, abrindo-lhes caminho para a liberdade,
onde o movimento Ustacha poderia recomeçar. Até
a OSS cooperou com essa tentativa, pois esperava
que os patriotas croatas se tornassem grandes
oponentes do comunista Tito, que havia se tornado
presidente da Iugoslávia.
O Serviço de Contra-Inteligência estava na
verdade trabalhando contra si mesmo. Enquanto
uma seção, sob as ordens de Washington, procurava
prender os criminosos de guerra, outra recebia
ordens secretas de Washington para escondê-los e
usá-los para os seus próprios objetivos. Tomemos
como exemplo o infame Klaus Barbie, chefe da
Gestapo em Lyon, França. O 66º Quartel-General
do Serviço de Contra-Inteligência dos Estados
Unidos em Stuttgart, Alemanha, escondeu Barbie e
sua família durante mais de cinco anos enquanto o
usavam como informante, e depois ajudaram-no a
fugir. Muitos dos dados sobre Barbie foram
removidos dos arquivos do Departamento de
Estado, mas “parece que o Escritório do Alto
Comissariado muniu a Barbie com documentos de
viagem do Controle Aliado e o despachou pelas
rotas de fuga do Vaticano”. Aarons e Loftus
continuam:
Draganovic imediatamente o embarcou [Barbie e a sua
família] para a América do Sul sob o nome de Klaus
Altmann. Na Bolívia, Barbie foi recebido pelo
representante local de Draganovic, o padre Rocque
Romac, outro sacerdote croata fascista e procurado
criminoso de guerra, cuja identidade real era padre
Stejpan Osvaldi-toth...
Um cuidadoso exame dos documentos grosseiramente
falsificados de Barbie revela que o Departamento de
Estado coordenou sua passagem pelas rotas de fuga.
Na verdade, quase todos aqueles que passaram
primeiro por essas rotas americanas foram enviados
pelo Escritório de Coordenação de Política do
Departamento de Estado, através do seu contato em
Roma.
Na realidade, muitos dos falsos papéis de saída de
Draganovic foram conseguidos através de Robert
Bishop, um ex-agente americano da OSS, que na
época estava encarregado do escritório da
Organização Internacional de Refugiados em Roma,
conforme os registros do Serviço de Contra-
Espionagem.[23]

Portanto, as infames rotas de fuga do Vaticano


eram operadas, até certo ponto, através de alianças
ímpias com as agências da Inteligência ocidental. Ao
mesmo tempo em que a Inteligência Aliada estava
ajudando Draganovic a contrabandear ilegalmente
certos criminosos de guerra, pelas suas costas estava
resgatando outros milhares. Recentemente,
documentos secretos vieram a público revelando
uma rede de intriga e maldade quase inacreditável –
propinas, traições, assassinatos – o que acabou
envolvendo chefes da CIA, como Allen Dulles e
William Casey, bem como presidentes dos Estados
Unidos, estabelecendo precedentes para escândalos
posteriores, como Watergate e o caso Irã-Contras.
Infames criminosos de guerra, que deveriam ter sido
julgados em Nüremberg, chegaram a ser levados
para o Pentágono como consultores especiais na
preparação do que parecia ser a inevitável guerra
contra a União Soviética. Ironicamente, essa política
abria as portas a agentes soviéticos, que se
infiltraram no sistema das rotas de fuga e nas
agências de inteligência ocidentais – mas essa é outra
história.
O Vaticano não só salvou da justiça dezenas de
milhares de criminosos de guerra, mas também
contribuiu para que continuassem o seu terrorismo
após a guerra. Era a volta da Intermarium, um novo
começo para a construção de uma Europa Católica
que se oporia ao comunismo soviético. Por exemplo,
Draganovic escondeu no mosteiro de São Girolamo
Vilko Pecnikar, o “organizador dos grupos terroristas
de Pavelic antes da guerra e um general entre os
guarda-costas de Pavelic”, que também comandava
a “brutal Gendarmeria, que operava em íntima
colaboração com a Gestapo”. Tanto a Grã-Bretanha
como os EUA haviam concordado em entregá-lo ao
governo iugoslavo de Tito, para ser julgado como
um grande criminoso de guerra. Mas Draganovic
resgatou Pecnikar e lhe deu acesso ao “tesouro que
havia juntado com a sua rota de fuga”, e que devia
“ser usado na reorganização do movimento Ustacha
[no exterior]”.[24]
A Morte de Ante Pavelic
No tempo certo, quando já havia dado à
Inteligência do Vaticano e do Ocidente todas as
informações que possuía, Pavelic foi enviado em
segurança à rota de fuga sob o nome de Pablo
Aranyos. Os documentos de identidade de Aranyos
foram fornecidos por outro sacerdote católico
croata, o padre Josip Buzanovic, mais um criminoso
de guerra procurado, que posteriormente fugiria
para a Austrália.
Pavelic foi bem recebido na Argentina por Juan
Perón, ditador que havia sido condecorado com a
Grande Cruz de Honra e Devoção dos Cavaleiros de
Malta, uma secreta ordem católica romana. Por lei,
ainda se exige que o chefe de Estado da Argentina
seja católico. Ante Pavelic recebeu garantias de que
Perón já havia aprovado a continuação do
movimento ustachi, tendo na Argentina a sua nova
base. O arranjo fora negociado pelo representante
do Vaticano, Daniel Crljen, outro padre que também
havia desempenhado um importante papel no
massacre dos sérvios.
Aguardando Pavelic em Buenos Aires estava
um grande número de seus antigos ministros,
policiais e militares, muitos deles procurados como
criminosos de guerra. Praticamente toda a liderança
da Ustacha havia escapado ilesa e havia precedido
em segurança o seu poglavnic escapando da justiça
pelas rotas de fuga. Seu velho amigo Stejpan Hefer
também estava lá, junto ao Führer croata, para dar
ao movimento um novo início em novos locais ao
redor do mundo.[25]
Os membros exilados da Ustacha conseguiram
fazer-se passar por vítimas do terrorismo comunista,
fingindo que estavam fugindo da perseguição
movida contra eles por serem patriotas croatas que
se opunham ao regime comunista de Tito. Eles
diziam que após terem experimentado o mal do
comunismo, agora desejavam alertar o mundo e
estavam se dedicando a lutar contra esse monstro
movidos pelo propósito de libertar os oprimidos.
Portanto eles afirmavam merecer o apoio do povo
que amava a liberdade. Grupos de frentes
anticomunistas foram organizados, tais como o
Movimento de Libertação da Croácia, fundado por
Ante Pavelic, que tinha o seu quartel-general em
Buenos Aires. Stejpan Hefer foi nomeado seu
conselheiro supremo.
Mas não existe honra entre os assassinos, e não
demorou para que croatas rivais tentassem assassinar
Pavelic, e o poglavnic teve de se refugiar na
Espanha. Viveu tranqüilo e recluso em Madri até
morrer de causas naturais em dezembro de 1959.
Então, João XXIII pronunciou sua bênção pessoal
sobre esse genocida sádico e atroz!
Pavelic está sepultado em um túmulo secreto
nas cercanias de Madri. “Com a morte de Pavelic, a
liderança do Movimento de Libertação da Croácia
passou para Stejpan Hefer”.[26] O arcebispo Saric
morreu um ano depois, em 1960, também na
Espanha.

As Lamentáveis Negações
Ao traçar a história do Vaticano e dos papas,
temos encontrado consistentes evidências de
supressão dos direitos humanos mais básicos,
inclusive com o uso da tortura e do genocídio. Tal
comportamento, sustentado por pronunciamentos
infalíveis e dogmas imutáveis, não ficou restrito à
Idade Média, mas continua em uso até hoje, quando
as circunstâncias o permitem. A operação das rotas
de fuga, que já resumimos brevemente, fornece uma
prova adicional de que Roma não mudou.
Também vimos que há uma consistente
negação dos fatos, o que demonstra um ostensivo
desprezo pela verdade. Nem mesmo o inegável
registro histórico é capaz de tornar confiáveis os
pedidos de paz e boa vontade feitos atualmente por
Roma, quer seja em favor dos judeus ou dos
evangélicos. Recentes artigos de jornais revelam que
ainda existem clérigos católicos que apoiariam o
Holocausto e estariam dispostos a dirigir as rotas de
fuga:
Um dos mais notórios colaboradores nazistas da
França foi detido quarta-feira [24 de maio de 1989],
num mosteiro católico, acusado de crimes contra a
humanidade depois de estar foragido por mais de
quatro décadas. O fugitivo de 74 anos, Paul Touvier,
era o chefe da espionagem de uma milícia pró-nazista
de Lyon...
A proteção que recebeu de antigos membros da
hierarquia católica durante o início do período pós-
guerra tem sido amplamente documentada...[27]
A hierarquia da Igreja Católica Romana na França
apoiou o governo pró-nazista de Vichy... Apesar de
atos de bravura e heroísmo individuais [de católicos],
grande parte da hierarquia eclesiástica colaborou
espontaneamente... durante décadas, cardeais,
monges e freiras católicos franceses ajudaram... Paul
Touvier a escapar da justiça.[28]

No dia 5 de maio de 1994, o programa de


televisão americano Prime Time Live, apresentado
por Sam Donaldson, exibiu um documentário
intitulado The Last Refuge [O Último Refúgio]. O
programa, com locações tanto na Argentina como
em Roma, apresentava algumas das informações que
já relatamos aqui. A entrada de criminosos de guerra
nazistas na Argentina, vindos através das rotas de
fuga do Vaticano, foi documentada com base nos
arquivos recentemente liberados em Buenos Aires,
por exemplo a entrada de Joseph Mengele
(conhecido como o “anjo da morte” de Auschwitz).
Foi mostrado que o governo da Argentina, que era
pró-católico e pró-nazista, conhecia a verdadeira
identidade e o paradeiro de Mengele, e o protegeu
apesar dos pedidos de extradição. Ele morreu
afogado no Brasil em 1979.
A parte mais fascinante do programa de Sam
Donaldson foram seus encontros na rua com
criminosos de guerra nazistas sobreviventes, já
idosos, que eram entrevistados pela primeira vez
diante de uma câmera. As negativas iniciais eram
seguidas de relutantes admissões da identidade,
depois que Donaldson apresentava cópias de
documentos que mostravam serem eles membros da
SS e exibia fotos daqueles homens vestindo o
uniforme da SS. Eles reconheceram o seu
envolvimento nas atrocidades, mas usaram a
desculpa de estarem “apenas cumprindo ordens”.
Um ex-nazista reconheceu que havia exercido um
cargo no Vaticano.
Também foram entrevistados agentes secretos
militares, que confirmaram que o Vaticano operava
as rotas de fuga. Donaldson também foi até Roma
para entrevistar o padre Robert Graham, historiador
da igreja católica especialista no período pós-guerra,
conforme indicam os arquivos do Vaticano. Diante
de evidências impressionantes e fortes, sabemos
agora que o Vaticano dirigia as rotas de fuga. Era tão
cômico quanto absurdo ouvir as lamentáveis
negações de Graham de qualquer envolvimento do
Vaticano. Ele reconheceu que o Vaticano facilitou a
passagem de milhares dos que ele qualificava de
“meros refugiados” da Itália para a América do Sul e
talvez, “um ou dois criminosos de guerra”, que
teriam escapado sem serem reconhecidos.
“Um ou dois?”, exclamou Donaldson,
surpreso. “Foram milhares!”
“Oh, por favor!”, redargüiu desafiadoramente
Graham, “não seja ridículo. Mil? Isso é um
absurdo!”
Quando Donaldson insistiu, apresentando mais
evidências, Graham, visivelmente transtornado,
respondeu: “Por favor, vocês são todos assim tão
simplistas e inocentes a ponto de acreditarem nesse
absurdo? Por favor! Sejam um pouco mais
inteligentes. Dêem um voto de confiança ao papa...”
Porém a evidência é inegável e as negativas do
Vaticano apenas servem para demonstrar mais uma
vez o seu desprezo pela verdade. Enquanto muitos
católicos demonstraram compaixão e preocupação,
arriscando suas próprias vidas para resgatar judeus,
a Igreja, como entidade, nada fez. Somente cabe
dizer que Aarons e Loftus concluíram
acertadamente seu livro com esta comovente
acusação à mais alta hierarquia da Igreja Católica
Romana:
Em vez de levar judeus sem pátria para a Argentina,
as rotas de fuga contrabandearam Eichmann, Pavelic e
Stangl, entre muitos outros. Ao invés de denunciar o
bispo Hudal, o Vaticano o substituiu por um que era
menos suspeito, porém muito mais eficiente nas
operações, que era o padre Draganovic. Em vez da
justiça internacional, houve a Intermarium e uma
multidão de emigrantes dos fronts nazistas...
O que o Vaticano fez após a Segunda Guerra Mundial
foi um crime. A evidência é inequívoca: a Santa Sé
ajudou na fuga de pessoas procuradas pela justiça
internacional. As rotas de fuga foram criadas com a
intenção de auxiliar e garantir as fugas dos criminosos
de guerra procurados...
Não pode ser alegada ignorância: Pio XII estava
plenamente consciente dos crimes de Ante Pavelic. E
aquele não era um caso isolado. As rotas de fuga
operavam com uma incrível inobservância dos crimes
cometidos pelos fugitivos contra a humanidade. Se o
papa quisesse conhecer os seus nomes verdadeiros, só
precisaria indagar ao padre Draganovic. A pessoa que
invadiu seu escritório revelou que ele mantinha listas
das identidades verdadeiras e falsas dos fugitivos.
As mensagens diplomáticas do papa sempre revelam
evidências de proteção e intercessão pelos criminosos
de guerra... o Vaticano sabia que estava escondendo
nazistas.
Não pode ser alegado que havia uma conduta não-
autorizada: as rotas de fuga eram uma extensão oficial
da proteção diplomática do Vaticano... Houve uma
concordância, praticamente unânime entre as
testemunhas sobreviventes, de que Dragonovic
operava com a maior das sanções oficiais... Os
arquivos dos serviços de Inteligência de vários países
confirmam que os maiores líderes do Vaticano
autorizaram e coordenaram a saída ilegal de
criminosos de guerra fugitivos.[29]

Não importa quanta evidência haja e quão


convincente ela seja, ainda assim Roma persiste em
negar a sua culpa. A autoridade absoluta, infalível e
imutável do pontífice romano deve ser mantida a
qualquer preço.
CAPÍTULO 22

Só a Escritura?
“De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu
caminho? Observando-o segundo a tua palavra... Lâmpada para
os meus pés é a tua palavra e luz, para os meus caminhos”.

– Salmo 119.9,105

“...desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem


tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus”.

– 2 Timóteo 3.15

A experiência ensina que as Sagradas Escrituras, quando


circulam em linguagem popular, têm provocado mais prejuízo do
que benefício [parafraseando Trento] [1] ...Deliberamos sobre as
medidas próprias a serem adotadas, pela nossa autoridade
pontifícia, a fim de remediar e abolir esta pestilência... este desvio
da fé tão eminentemente perigoso às almas.

– papa Pio VII em sua encíclica de 1816, dirigida ao primado da


Polônia.

Se eu for atirado na prisão... será mais fácil arrancar uma rocha


de nossos Alpes do que me afastar um palmo sequer da Palavra de
Jesus Cristo.

– Ulrico Zwínglio em 3 de agosto de 1522. [2]

O bem conhecido axioma: “o poder corrompe


e o poder absoluto corrompe absolutamente” é tão
válido na religião quanto na política. Na verdade, o
poder religioso é ainda mais corruptor do que o
poder político. O absolutismo alcança seu ápice de
abuso quando afirma agir em nome de Deus. O
Vaticano II exige “leal submissão da vontade e do
intelecto” ao pontífice romano, “mesmo quando ele
não fala ex-catedra”...[3] Um católico não pode
alegar que obedece diretamente a Deus e à Sua
Palavra, mas deve prestar essa obediência absoluta à
Igreja, que age em lugar de Deus e, portanto, se
coloca entre o indivíduo e Deus.
A corrupção do poder atinge o seu ponto mais
alto com a ousada afirmação do catolicismo de que
seus membros não podem entender a Bíblia
sozinhos, mas devem aceitar, sem questionamentos,
a interpretação da Igreja: “A tarefa de dar uma
interpretação autêntica à Palavra de Deus... foi
confiada ao ofício de ensino somente da Igreja”.[4]
Com esse édito, a Palavra de Deus, o único
repositório da verdade e liberdade capaz de destruir
o despotismo, fica presa, sob o controle da Igreja e
envolta em mistério. Isso deixa os católicos devotos
à mercê do seu clero, um clero que, conforme
vimos, é facilmente corrompido.

Aceitação Cega
Para escapar dessa escravidão destrutiva, os
reformadores clamavam pela submissão à pura
Palavra de Deus como a autoridade final, em lugar
da Igreja e do papa. A questão principal que
originou a Reforma (e que permanece sendo a
mesma até hoje) foi: as pessoas devem continuar em
cega submissão aos dogmas de Roma, mesmo que
eles contradigam a Bíblia, ou elas devem submeter-
se somente à Palavra de Deus como autoridade
final? O biógrafo de Menno Simons relata o conflito
que ele enfrentou:
O verdadeiro problema veio quando Menno, ousando
abrir as páginas da Bíblia, descobriu que ela nada
continha do ensino tradicional da Igreja sobre a missa.
Com essa descoberta, seu conflito interior atingiu o
clímax, pois ele estava tendo de decidir qual das duas
autoridades deveria ser suprema em sua vida, a Igreja
ou as Sagradas Escrituras.[5]

Os reformadores fizeram essa escolha em favor


da Escritura e o seu lema central se tornou Sola
Scriptura!* Essa verdade libertadora foi rejeitada no
Concílio de Trento pelos bispos que não queriam
abdicar do controle que exerciam sobre o povo.
Chegaram até a considerar prejudicial que o povo
possuísse a Bíblia em sua própria língua, pois
poderia interpretá-la literalmente, algo que Roma
continua dizendo ser errado. Do ponto de vista da
Igreja Católica, só uma elite especialmente treinada
pode entender a Bíblia:
O intérprete deve... voltar-se completamente em
espírito a esses séculos remotos... com o auxílio da
história, da arqueologia, da etnologia e de outras
ciências, para poder determinar exatamente quais os
métodos de escrita que os autores daquele período
antigo parecem usar e, de fato, usaram.[6]

A visão de Trento de que a autoridade para o


católico é a Igreja, e não a Bíblia, permanece em
vigor até hoje. Somente os eruditos da Escritura
treinados no Instituto Bíblico Pontifício de Roma,
com “uma graduação em Teologia [e] que dominam
seis ou sete línguas (incluindo hebraico, aramaico e
grego...)” são capazes de entender a Bíblia. Só
depois de “uma Licenciatura em Sagrada Escritura...
eles obtêm a licença da Igreja Católica para ensinar
as Escrituras”[7], e só eles têm direito de ensinar a
Bíblia. Nenhum leigo é qualificado. O Vaticano II
insiste:
Pertence aos líderes da Igreja, com quem está a
doutrina apostólica, a adequada competência de
instruir os fiéis a eles confiados no uso correto do...
Novo Testamento... dando-lhes a tradução dos textos
sagrados, acrescidos das explicações necessárias e
realmente suficientes.[8]

O Que a Bíblia Diz


A Bíblia foi dada por Deus a toda a
humanidade, não apenas a um grupo de elite que
deve explicá-la aos outros. Ela deve ser uma
lâmpada para o caminho (Salmo 119.105) de todos
os que a observam. Moisés proclamou que o
homem não deve viver só de pão, mas de toda a
palavra que procede da boca de Deus
(Deuteronômio 8.3) – mas nada disse sobre essa
palavra ser interpretada por uma hierarquia seleta. O
Salmo 1 fala do homem bem-aventurado que medita
na Palavra de Deus (também chamada de lei,
estatutos, julgamento, mandamentos, etc.) de dia e
de noite. O termo “homem” refere-se também
implicitamente à mulher, mas não pode ser
interpretado apenas como uma classe especial de
especialistas com educação superior.
Ao lermos as cartas de Paulo, temos a
impressão que ele esperava que os seus destinatários
as entendessem. As epístolas não são endereçadas a
um grupo seleto de líderes, mas a todos os cristãos
de Corinto, Éfeso, etc. Através do Espírito Santo
que habita em cada cristão, os crentes recebem um
entendimento das palavras que esse mesmo Espírito
inspirou os “homens santos de Deus” a escreverem
(2 Pedro 1.21).
Espera-se que até mesmo um jovem possa ser
capaz de “observar” a Palavra de Deus (Salmos
119.9). Mais uma vez, nenhuma instrução é dada
sobre a necessidade dela ser explicada por um
escriba ou mestre. Cristo, citando Moisés, afirmou
que o homem deve alimentar-se da Bíblia para viver
(Deuteronômio 8.3; Mateus 4.4). Jó considerava a
Palavra de Deus como algo vital para a vida:
“escondi no meu íntimo as palavras da sua boca”
(Jó 23.12). Jamais é mencionada uma só palavra
sobre consultar uma hierarquia para descobrir a
interpretação da Palavra de Deus.

Confiando na Igreja em Vez


da Bíblia
No dia 15 de agosto de 1993, o papa declarou
num discurso aos representantes da comunidade
vietnamita em Denver: “O desafio diante de vocês é
manter pura e vívida a sua identidade católica...”[9]
Raramente podemos ouvir (se é que alguma vez já
foi dito) os líderes católicos exortando o rebanho a
serem fiéis apenas a Cristo ou à Palavra de Deus,
porém sempre se afirma a necessidade de fidelidade
à Igreja. A encíclica Veritatis Splendor, escrita por
João Paulo II em 1993, é um tratado sobre a moral,
e se refere à verdade ensinada por Cristo e mediada
pela Igreja. Sem essa mediação, o católico não pode
conhecer a vontade de Deus simplesmente pela
leitura da Bíblia. Somente com essa doutrina é que
Roma conserva seus membros seguindo cegamente
seus ensinamentos corruptos e antibíblicos.
O então cardeal Ratzinger (atual papa Bento
XVI), guardião da ortodoxia, exemplifica essa fé
cega no catolicismo. Ele fala sobre um professor de
Teologia que admitiu que a assunção de Maria,
declarada pelo papa Pio XII como um dogma
católico romano em 1950, não estava embasada na
Escritura, mas mesmo assim decidiu crer no dogma
por acreditar que “a Igreja é mais sábia” do que ele.
Infelizmente ele está reconhecendo que sua Igreja é
mais sábia do que a Bíblia e, portanto, capaz de
contradizê-la! Ratzinger possui essa mesma e
justificada confiança total no catolicismo, está
comprometido com ela e afirma “seguir a fé católica
e não as próprias opiniões”.[10] Por isso ele guarda
a “fé”, não por ter certeza de que o que é ensinado
nos seminários, universidades e púlpitos católicos ao
redor do mundo está de acordo com a Palavra de
Deus, mas que esteja de acordo com a tradição
ensinada pelos papas, concílios e Pais da Igreja – a
maior parte baseada em decretos falsos. O Vaticano
II diz que “tanto a Escritura como a tradição devem
ser aceitas e honradas com os mesmos sentimentos
de devoção e reverência”.[11] O novo Catecismo da
Igreja Católica, recentemente publicado pelo
Vaticano, declara:
A Igreja, a quem é confiada a transmissão e a
tradução da revelação, não retira somente das
Sagradas Escrituras a sua certeza sobre todos os
pontos da revelação [mas também da tradição e do
Magistério]...[12]

A Igreja Permanece
Obstruindo a Verdade
Cristo declara: “Se vós permanecerdes na
minha palavra, sois verdadeiramente meus
discípulos; e conhecereis a verdade...” [não há
menção sobre outra fonte de verdade] (João 8. 31-
32). Ele não fez essa declaração aos 12 apóstolos,
mas às pessoas comuns que simplesmente “creram
nele” (v. 30). Ele nada disse sobre Sua verdade
precisar ser interpretada pelos escribas e, claro, pela
hierarquia Católica Romana, que nem sequer existia.
A Palavra de Deus estava disponível e devia ser
entendida, crida e obedecida, mesmo pelos
convertidos mais recentes. Isso era tudo que Cristo
esperava de Seus seguidores, e Ele espera o mesmo
de nós hoje.
Roma impede o acesso de seus fiéis à verdade.
O católico não pode aprender diretamente das
palavras de Cristo, mas somente a partir da
interpretação dada pela Igreja. Cristo disse: “Vinde
a mim... e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28). Roma
não permite que pessoa alguma chegue diretamente
até Cristo, pois tem se colocado como canal
intermediário da graça de Deus, que é necessária
para conhecer a verdade de Deus e para a salvação.
Nesse ponto Roma é inflexível. De outra maneira,
ela perderia o controle que exerce sobre as pessoas,
que então não precisariam mais dela.
Inspiraria Deus as infalíveis Escrituras para, em
seguida, negar a todos, exceto a uma pequena elite,
a capacidade de entendê-las, exigindo que bilhões de
pessoas entreguem o seu entendimento a uma
hierarquia, aceitando cegamente a sua interpretação
da Palavra de Deus? Se o Espírito Santo pode
convencer o mundo “do pecado, da justiça e do
juízo” (João 16.8), então certamente pode ensinar
todos aqueles em quem Ele habita. João disse que os
cristãos a quem ele escrevia não precisavam
depender de uma classe especial de homens pois “...
a sua unção [do Espírito Santo] vos ensina a
respeito de todas as coisas” (1 João 2.27).
Se todos os cristãos são guiados pelo Espírito
de Deus (Romanos 8.14), então certamente todos
eles devem ser capazes de entender as Escrituras que
o Espírito Santo inspirou. Nós, os cristãos,
recebemos “o Espírito que vem de Deus, para que
conheçamos o que por Deus nos foi dado
gratuitamente” (1 Coríntios 2.12). Não há menção
de que um grupo de clérigos deva interpretar as
Escrituras para os outros. E por que deveriam?
Todos os cristãos têm “a mente de Cristo” (v. 16).
Roma não se atreve a reconhecer essa verdade, pois
se o fizesse todos os que estão subordinados a ela
seriam libertos.
Roma ainda está procurando a verdade fora da
Palavra de Deus. Pensemos sobre a Pontifícia
Universidade de Tomás de Aquino (em Roma),
onde o papa João Paulo II se formou. Seus 1.200
estudantes, provenientes de 135 países, fazem da
“busca pela verdade” em milhares de volumes de
teologia e filosofia de sua biblioteca e também em
outras fontes seu “objetivo de vida”.[13]
Contrastemos a declaração de Cristo que diz que, se
obedecermos à Sua Palavra conheceremos a
verdade, com a complexidade da “busca da
verdade” feita pelos eruditos católicos. Não é
possível que ambos estejam certos.

Servidão Espiritual Fatal


Os crentes de Beréia, que eram pessoas
simples, conferiam os ensinos de Paulo não com as
opiniões de uma hierarquia em Roma, que ainda
nem mesmo existia, mas com a Bíblia (Atos 17.11).
Essa prática foi recomendada a outros, e até hoje
continua sendo responsabilidade individual conhecer
a Palavra de Deus e testar com ela qualquer líder
espiritual, não importa quem seja. Isso é o que a
Bíblia diz.
Entretanto, os católicos romanos (assim como
os mórmons, testemunhas de Jeová e membros de
outras seitas) são obrigados a aceitar e não a
examinar os ensinos da sua Igreja. A Bíblia, que é o
único livro capaz de trazer vida, luz e liberdade às
pessoas e às nações, é mantido espiritualmente longe
do alcance das pessoas, assim como já foi
literalmente acorrentado às igrejas no passado,
impedindo que o fiel tenha acesso a seu conteúdo.
Sem dúvida, privar o leigo do conhecimento da
verdade da Palavra de Deus coincide com a
persistente supressão das liberdades básicas de
consciência, religião e imprensa feita pelo
catolicismo.
Entre os crimes pelos quais os crentes foram
condenados às chamas durante a Inquisição
Espanhola estavam a distribuição e a leitura da
Bíblia. Contrabandear Bíblias para países
comunistas ou muçulmanos, como a China ou Irã, é
algo compreensível, mas imaginem ter de
contrabandear Bíblias para dentro de um país
“cristão” como a Espanha e ser executado por causa
disso! Contudo, em um Auto de Fé na cidade de
Sevilha, em 22 de dezembro de 1560, Julian
Hernandez, um dos que foram queimados naquela
ocasião, foi declarado ser um arqui-herege, porque
através de seus grandes esforços e incompreensível
perfídia, introduziu na Espanha livros proibidos [Bíblias
e Novos Testamentos] que trazia de lugares distantes
[Alemanha], onde os ímpios [protestantes] são
protegidos... Ele crê firmemente que Deus, por meio
das Escrituras, comunica-se com leigos da mesma
forma como se comunica com sacerdotes.[14]

Crer que Jesus poderia comunicar a Sua


verdade através da Bíblia, não apenas ao clero mas
aos crentes comuns, era um crime passível de morte!
Roma não mudou, embora a Bíblia já não seja mais
banida abertamente como no passado. Fazer isso
hoje seria uma tática errada, que resultaria numa
reação contrária ao desejo de Roma. Há um meio
melhor: deixe o povo ter a Bíblia nas mãos, e até
mesmo encoraje-o a lê-la, mas mantenham-na
afastada de seus corações, reiterando que somente a
Igreja pode interpretá-la.
Ao mesmo tempo, a confiança na Escritura é
minada pelo ensino de Roma de que a Bíblia não
merece confiança em seus registros a respeito de
história e ciência. O catolicismo dá um significado
simbólico ao livro de Jonas dizendo que ele fala da
“universalidade da salvação” e nega que existiu
literalmente um profeta chamado Jonas que foi
engolido por um peixe real.[15] Os primeiros
capítulos de Gênesis também são vistos mais como
simbólicos do que relatos da verdadeira criação do
mundo e do homem, abrindo as portas à evolução.
Até mesmo o Arrebatamento é visto como algo
simbólico e não como os cristãos sendo literalmente
levados ao céu, idéia que os católicos consideram ser
ilusão.[16] A instrução da Comissão Bíblica, de
1964, declarou que a visão literal da Bíblia adotada
pelos fundamentalistas “na verdade convida as
pessoas a uma espécie de suicídio intelectual”.[17]

A Igreja Católica Nos Deu a


Bíblia?
A Igreja Católica afirma ser a única capaz de
interpretar a Bíblia por ter sido ela que nos deu as
Escrituras. Seria o mesmo que dizer que, por ter
sido Paulo quem escreveu suas epístolas, precisemos
dele para interpretá-las. Além disso, não foi a Igreja
que nos deu a Bíblia – principalmente o Antigo
Testamento, pois não existia Igreja naquele tempo. E
se a Igreja Católica Romana não foi necessária para
nos dar o Antigo Testamento, tampouco foi
necessária para nos dar o Novo.
Uma das perguntas favoritas dos apologistas
católicos é: “Como você sabe que Lucas escreveu o
evangelho de Lucas ou que Mateus escreveu o
evangelho de Mateus?” Eles afirmam que a tradição
católica romana contém essa informação. Contudo,
nenhuma tradição prova quem escreveu Hebreus,
Jó, Ester ou vários Salmos. Mas isso nem é algo
importante. O que conta é que os autores foram
inspirados pelo Espírito Santo. Essa inspiração
testifica aos leitores, que também receberam o
mesmo Espírito Santo que inspirou os escritores da
Bíblia.
A afirmação do catolicismo de que o Novo
Testamento procede da Igreja, por decisão dos
concílios, é falsa. Nenhum dos primeiros concílios
decidiu quais livros da Bíblia eram canônicos ou
não; embora nesses concílios, para sustentar seus
argumentos, ambos os lados citavam o Novo
Testamento, que obviamente já fora aceito por
consenso geral sem nenhuma decisão conciliar do
cânon. O Sínodo de Antioquia em 266 rejeitou a
doutrina de Paulo de Samosata como sendo
“estranha ao cânon eclesiástico”. O Concílio de
Nicéia de 325 refere-se “ao cânon”; e o Concílio de
Laodicéia, de 363, exortava que “somente os livros
canônicos, tanto do Antigo como do Novo
Testamento, deveriam ser lidos na Igreja”. Contudo,
nenhum desses concílios achou necessário fazer uma
lista dos livros canônicos, indicando com isso que
eles já eram bem conhecidos e aceitos pelo consenso
dos cristãos nos quais o Espírito Santo habitava.
Somente no Terceiro Concílio de Cartago (em
397), é que tivemos a primeira decisão conciliar
sobre o cânon.[18] Mas essa seria uma data muito
avançada para pensarmos que até então os cristãos
ainda não sabiam quais livros compunham o Novo
Testamento e, por isso, não poderiam usá-los, como
Roma continua afirmando! A História prova que os
livros do Novo Testamento eram conhecidos e
aceitos pelos cristãos e estavam em uma lista de
grande circulação e uso, pelo menos 300 anos antes
do Concílio de Cartago. O historiador W.H.C. Frend
escreve:
Os evangelhos e epístolas estavam circulando pela
Ásia, Síria e Alexandria (e com menor probabilidade
em Roma) e sendo lidos e discutidos nas sinagogas
cristãs por volta do ano 100. Na breve epístola escrita
por Policarpo há uma espantosa quantidade de
citações diretas e indiretas do Novo Testamento:
Mateus, Lucas e João, Atos, as epístolas aos Gálatas,
Tessalonicenses, Coríntios, Efésios, Filipenses,
Colossenses, Romanos, as Pastorais, especialmente 1
Pedro e 1 e 2 João, são todas usadas...
As Escrituras cristãs eram citadas tão familiarmente
que sugerem estar em uso regular há muito tempo.
[19]

Nenhum grupo de escribas decidiu sobre o


cânon do Antigo Testamento. Esse cânon era
reconhecido por Israel e ia sendo disponibilizado à
medida em que era escrito. Daniel, cativo na
Babilônia, tinha uma cópia de Jeremias escrita
apenas alguns anos antes e a estudava como parte da
Escritura (Daniel 9.2). Temos certeza de que o
Antigo Testamento inteiro era bastante conhecido
quando Cristo estava na terra e, sem dúvida,
também o era bem antes, pois exigia-se que cada
israelita meditasse nele de dia e de noite.

A Palavra de Deus Fala


Diretamente a Todos
Nos tempos do Antigo Testamento esperava-se
que o povo comum conhecesse a Palavra de Deus,
não através de interpretações dos escribas, mas fosse
capaz de conhecê-la por seu próprio estudo. Esse
fato, bem como sua disponibilidade a todos, está
muito claro na censura de Cristo aos dois discípulos
de Emaús: “Ó néscios e tardos de coração para
crer tudo o que os profetas disseram!” (Lucas
24.25). Ele não teria usado essa linguagem áspera
para criticar duas pessoas, responsabilizando-as por
sua ignorância das profecias, se todas as Escrituras
do Antigo Testamento não estivessem facilmente
disponíveis e não fossem familiares e
compreensíveis aos judeus comuns. Ele, então,
explicou-lhes todas as Escrituras (que já deviam ser
conhecidas por eles), “o que a seu respeito
constava” (Lucas 24.25-27). Todas as Escrituras
também estavam disponíveis até para os distantes
bereanos, que viviam no norte da Grécia, os quais,
como já vimos, examinavam “as Escrituras todos
os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim”
(Atos 17.11).
A mesma evidência é encontrada no fato de
Timóteo conhecer o Antigo Testamento desde a
infância (2 Timóteo 3.15) e que lhe fora ensinado
não pelos rabinos nas sinagogas, mas em casa por
sua mãe e avó, ambas mulheres de fé (2 Timóteo
1.5). É claro que nos tempos do Antigo Testamento
ninguém procurava por alguma hierarquia religiosa
para obter uma interpretação oficial da Escritura.
Nem o fazia a Igreja primitiva. Tampouco nós
deveríamos fazê-lo hoje.
As claras palavras da Bíblia, sem a
interpretação tendenciosa de Roma, denunciam
como mentirosos a estrutura hierárquica da Igreja
Católica Romana e o autoritarismo do seu clero.
Áquila e Priscila eram um casal comum, que
trabalhava diariamente na fabricação de tendas (Atos
18.2-3). Mesmo assim, se reuniam com a igreja “em
sua casa” (1 Coríntios 16.19) e eram professores da
Palavra de Deus capazes, que instruíram até mesmo
um homem tão eloqüente como Apolo (Atos 18.26).
Paulo se refere a eles como “meus cooperadores
em Cristo Jesus” (Romanos 16.3). Eles nunca
haviam ido a um seminário, nem faziam parte de
uma hierarquia clerical (que não existia), mas
conheciam a Deus e Sua Palavra pelo Espírito Santo
que neles habitava. Assim deveriam ser todos os
cristãos de hoje.
De acordo com Paulo, os cristãos comuns
devem julgar se um pregador está falando a verdade
de Deus. Paulo submeteu seus escritos aos mesmos
critérios, convidando os seus leitores a julgarem pelo
Espírito Santo, que neles habitava, se as suas
epístolas provinham de Deus ou não: “Se alguém se
considera profeta ou espiritual, reconheça ser
mandamento do Senhor o que vos escrevo” (1
Coríntios 14.37). Foi pelo mesmo testemunho do
Espírito Santo dentro de cada crente que a Igreja do
primeiro século decidiu quais livros eram canônicos.
Exatamente do mesmo modo, hoje em dia os
cristãos reconhecem a Bíblia como a Palavra
inspirada por Deus.

As Tristes Conseqüências
Infelizmente os católicos têm sido ensinados a
buscar a hierarquia da Igreja em vez da instrução
que o Espírito Santo deseja dar diretamente aos
crentes. Para Roma, sugerir que o Espírito Santo
fala diretamente às pessoas através da Bíblia é
motivo de excomunhão. Karl Keating, um dos
principais apologistas católicos leigos, escreve:
O católico crê na interpretação porque a Igreja assim
ensina – para ser bem franco – e essa mesma Igreja
tem a autoridade para interpretar o texto inspirado. Os
fundamentalistas não dispõem de outra autoridade
para interpretar, além deles mesmos.[20]

É verdade, pois os “fundamentalistas” contam


com a direção do Espírito Santo. O catolicismo
também afirma ter essa direção, mas somente para
sua hierarquia, a única que pode ser dirigida pelo
Espírito Santo para compreender a Bíblia. Isso
acontece mesmo que a Bíblia afirme que todo
cristão nascido de novo é habitado, capacitado e
dirigido pelo Espírito Santo. Na verdade, alguém
nem pode ser chamado de cristão sem esse
testemunho interior e sem a direção do Espírito
Santo:
“E, se alguém não tem o Espírito de Cristo,
esse tal não é dele... Pois todos os que são guiados
pelo Espírito de Deus são filhos de Deus... O
próprio Espírito testifica com o nosso espírito que
somos filhos de Deus” (Romanos 8.9,14,16).
“Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito;
porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até
mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos
homens sabe as coisas do homem, senão o seu
próprio espírito, que nele está? Assim, também as
coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o
Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o
espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de
Deus, para que conheçamos o que por Deus nos
foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não
em palavras ensinadas pela sabedoria humana,
mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas
espirituais com coisas espirituais” (1 Coríntios
2.10-13).
Tendo se convencido de que não pode entender
a Bíblia por si mesmo, o devoto católico fica à
mercê de sua Igreja e deve crer em tudo o que ela
ensina. O Catecismo do Convertido da Igreja
Católica declara rudemente:
O homem pode chegar ao conhecimento da Palavra de
Deus [somente] através da Igreja Católica e através
dos seus canais devidamente constituídos.
Uma vez que se assenhorou desse princípio da
autoridade divina [que reside na Igreja], o
investigador está preparado para aceitar o que a
divina Igreja ensina sobre fé, moral e os meios de
obter a graça.[21]

Vemos aqui novamente, declarado com toda


franqueza, o princípio por trás de toda seita: “Deixe
seu cérebro na porta e creia em tudo que o grupo, a
igreja, o guru, ou o profeta que está na liderança
disser”. A idéia agrada aos que acham que, por
entregarem suas mentes a uma autoridade infalível,
podem fugir de sua responsabilidade moral
individual diante de Deus. Outros têm medo de
pensar por si mesmos, porque ao fazê-lo excluiriam
a si mesmos da Igreja, fora da qual “não há
salvação”.[22] Por tais meios, a Palavra de Deus,
que deveria falar poderosamente a cada indivíduo, é
posta pela Igreja Católica bem longe do alcance dos
seus fiéis.

Quando Foi Estabelecido o


Cânon do
Novo Testamento?
Que o cânon do Novo Testamento, assim como
o do Antigo Testamento, foi aceito e reconhecido
pelo consenso dos crentes quando ainda estava
sendo escrito, é uma clara evidência histórica, que já
fornecemos anteriormente. O testemunho de Pedro
nos dá provas adicionais quando diz: “tende por
salvação a longanimidade de nosso Senhor, como
igualmente o nosso amado irmão Paulo vos
escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao
falar acerca destes assuntos, como, de fato,
costuma fazer em todas as suas epístolas, nas
quais há certas coisas difíceis de entender, que os
ignorantes e instáveis deturpam, como também
deturpam as demais Escrituras, para a própria
destruição deles” (2 Pedro 3.15-16).
Pedro reconhece portanto os escritos de Paulo
como “Escritura”, pelo visto como faziam todos os
crentes de seu tempo. “As outras Escrituras” naquela
época incluíam a maior parte do Novo Testamento.
Além disso, esses livros estavam disponíveis e eram
tão conhecidos naquele período (por volta do ano
66), que Pedro nem sequer precisava mencionar
seus nomes. Os cristãos sabiam quais eram os
escritos inspirados por Deus, do mesmo modo que
hoje um índio na floresta sabe que o Evangelho é
verdadeiro pelo poder de convencimento do Espírito
Santo.
Tragicamente o catolicismo não apenas ensina
que somente a hierarquia da Igreja pode interpretar a
Bíblia, mas também que ninguém pode crer nela
sem que a Igreja ateste a sua autenticidade.
Keating sugere que nem o próprio Evangelho tem
poder sem esse endosso. Ele citou Agostinho
quando disse: “Eu não creria no Evangelho se a
autenticidade da Igreja não me levasse a fazê-lo”.
[23] Se isso é verdade, então ninguém antes do
Terceiro Concílio de Cartago em 397, poderia ter
crido ou pregado o Evangelho!
Mesmo assim, o Evangelho foi pregado desde
o início. Paulo transtornou o mundo com o
Evangelho (Atos 17.6). Durante os dois primeiros
séculos, cerca de 10% das pessoas do Império
Romano tornaram-se cristãs. Elas estudavam,
meditavam, criam e eram dirigidas tanto pelas
Escrituras do Antigo como do Novo Testamento, as
mesmas que possuímos hoje. Se aquelas pessoas
eram capazes de saber quais livros eram inspirados,
e podiam ser guiadas por eles sem o selo de
autenticidade da Igreja Católica Romana (que nem
sequer existia ainda), então nós hoje também
podemos.
A idéia absurda e destrutiva de que a Palavra de
Deus precisa da confirmação de Roma torna-se
facilmente verificável. É uma negação blasfema,
segundo a Igreja Católica, dizer que o Evangelho
tem poder em si mesmo para salvar e que o Espírito
Santo pode usar a Bíblia para falar diretamente aos
corações dos que o escutam. Segundo essa
perspectiva, primeiramente deve-se provar que a
Igreja Católica Romana é a Igreja verdadeira e
infalível, a qual afirma que a Bíblia é verdadeira e
que, portanto, a Bíblia e o Evangelho devem ser
cridos. Somente então o Evangelho pode ser
pregado. Que absurdo! Para um católico essa visão
faz bastante sentido, já que a Igreja é o veículo da
salvação. O destino eterno de uma pessoa não
depende de sua relação com Cristo, algo que é
revelado em Sua Palavra, mas da sua relação com
essa Igreja e da participação em seus sacramentos.
Essa teoria é claramente refutada pela própria
Bíblia. Cristo e Seus discípulos pregaram o
Evangelho antes de qualquer igreja ser estabelecida.
Logo no início do Seu ministério, sem ter ainda dito
qualquer coisa sobre o estabelecimento de Sua
Igreja, Cristo enviou os discípulos, que “percorriam
todas as aldeias, anunciando o evangelho” (Lucas
9.6). Onze vezes nos quatro evangelhos é
mencionado que Cristo e Seus discípulos estavam
engajados na pregação do Evangelho, que “é o
poder de Deus para a salvação” (Romanos 1.16).
Isso ocorria mesmo que naquela época não houvesse
ainda uma Igreja Católica Romana para verificar se
o Evangelho era verdadeiro. Tampouco a pregação
de hoje precisa do endosso de Roma, tanto quanto
não necessitava no princípio.
No dia de Pentecostes, 3.000 almas foram
salvas sem que Pedro dissesse uma palavra sequer
sobre uma Igreja infalível que aprovava o que ele
estava pregando. Mesmo após o Pentecostes, não
encontramos tentativa alguma dos cristãos, que
“iam por toda parte pregando a palavra” (Atos
8.4), de provar que uma Igreja infalível existia e
endossava o Evangelho. Lemos a respeito da
pregação de Filipe em Samaria e de Paulo em outros
lugares, onde multidões criam; contudo nenhuma só
vez o Evangelho é embasado na declaração de que
Cristo estabelecera uma Igreja infalível e que os
bispos dessa Igreja haviam colocado o seu selo
oficial de aprovação sobre o que estava sendo
pregado. Se naquela época a confirmação da Igreja
Católica Romana não era necessária, do mesmo
modo ela é dispensável agora, pois “a palavra de
Deus é viva, e eficaz... para discernir os
pensamentos e propósitos do coração” (Hebreus
4.12).

A Suficiência da Escritura
O desafio superficial lançado pelos apologistas
católicos é: “Mostre-nos um só verso da Escritura
que declara claramente Sola Scriptura, ou seja, que
a Bíblia é suficiente em si mesma”.
Como comparação, podemos procurar pelo
menos “um verso que declare Deus como um ser
triúno: Pai, Filho e Espírito Santo”. Nenhum
versículo diz isso, mas, mesmo assim, a doutrina da
Trindade é aceita por católicos e protestantes como
sendo bíblica. Também não há um único versículo
dizendo: “a Bíblia é suficiente”. Contudo, quando
reunimos muitos versículos da Bíblia sobre esse
tópico, fica claro que a Bíblia ensina sua auto-
suficiência tanto para autenticar a si mesma para o
leitor, como para levar à maturidade espiritual e à
realização todos os que são habitados pelo Espírito
Santo e a lêem com o coração aberto.
Paulo declarou que a Escritura foi dada “para
o ensino, para a repreensão, para a correção, para
a educação na justiça” (2 Timóteo 3.16). E também
que a própria Bíblia faz o homem ou a mulher de
Deus “perfeito [maduro, completo, cumpridor dos
propósitos de Deus] e perfeitamente habilitado
[capacitado] para toda boa obra” (2 Timóteo 3.17).
Em outras palavras, a Bíblia contém todo ensino,
correção e educação na justiça necessários àqueles
que a observam, para assim tornarem-se perfeitos
em Cristo.
Os apologistas católicos citam John Henry
Newman, um cardeal do século XIX para
contradizerem isso. Pois, se esses versículos
embasariam o que foi dito anteriormente, estariam
provando “demais”, ou seja, que o “Antigo
Testamento sozinho já seria suficiente como regra
de fé, tornando desnecessário o Novo Testamento”,
porque tudo que Timóteo tinha era o Antigo
Testamento.[24] Esse argumento é falacioso por
várias razões:
Em primeiro lugar, Timóteo tinha em mãos
mais do que o Antigo Testamento. Essa é a segunda
epístola de Paulo escrita para ele. Portanto ele tinha
pelo menos duas epístolas, além do Antigo
Testamento. Paulo continua a carta dizendo que está
para ser martirizado (2 Timóteo 4.6-8), o que faz
dessa a última epístola escrita por ele. Dessa forma,
Timóteo tinha, obviamente, todas as epístolas de
Paulo. Provavelmente a data é cerca do ano 66;
assim sendo, ele tinha os três primeiros evangelhos e
a maior parte do restante do Novo Testamento.
Além disso, quando Paulo diz “toda a
Escritura” (2 Tm 3.16), está claro que ele está se
referindo à Bíblia inteira, não meramente àquilo que
havia sido escrito até aquele tempo. Expressões
semelhantes são usadas freqüentemente na Escritura,
mas elas nunca se referem apenas à Bíblia escrita
naquele tempo. Quando Jesus disse: “...a própria
palavra que tenho proferido, essa o julgará no
último dia” (João 12.48), Ele não estava se
referindo somente ao que Ele havia dito até aquele
tempo. Do mesmo modo, quando disse: “a tua
palavra é a verdade” (João 17.17), Ele obviamente
quis dizer toda a Palavra de Deus, embora ela não
tivesse ainda sido compilada em sua versão final.
Quando o autor de Hebreus diz: “Porque a
palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do
que qualquer espada de dois gumes” (4.12), ele
não estava pensando apenas na porção da Palavra de
Deus que havia sido escrita até aquele momento.
Assim como Paulo, ao dizer “toda Escritura”, não
estava se referindo somente ao que havia sido escrito
até então. Ele claramente queria dizer toda a
Escritura. Portanto, o cardeal Newman foi
ingenuamente superficial e estava errado. Mesmo
assim, os apologistas católicos citam com convicção
sua declaração equivocada para desaprovar a
suficiência da Escritura.
“Para que o homem de Deus seja perfeito”
quer dizer simplesmente que a Palavra de Deus é
tudo que alguém precisa para ser “perfeito”, no
sentido de tornar-se maduro e ser como Deus quer
que o cristão seja. Os apologistas católicos referem-
se aos outros versos onde a palavra “perfeito” é
usada, como: “Se queres ser perfeito, vai, vende os
teus bens, dá aos pobres” (Mateus 19.21) ou “a
perseverança deve ter ação completa, para que
sejais perfeitos e íntegros” (Tiago 1.4), etc. E por
isso os católicos afirmam que, se é possível deduzir-
se por 2 Timóteo 3.17 que a Bíblia é suficiente para
aperfeiçoar os crentes, logo vender tudo que se tem
e dar aos pobres ou ser paciente também seria
suficiente para tornar alguém perfeito.
Mais uma vez esse argumento é falho. Suponha
que um treinador ofereça a um atleta uma dieta
perfeita, com todos os ingredientes necessários para
que ele tenha um corpo perfeito. Isso não significa
que outras coisas, como exercícios físicos, não
sejam necessárias. Paulo está dizendo que ensino,
repreensão, correção e educação na justiça contidos
na Escritura são suficientes para fazer com que o
homem (ou mulher) de Deus seja tudo aquilo que
Deus deseja dele. O que não significa que seja
desnecessário exercitar paciência, fé, obediência,
caridade, etc., como é ensinado pela Escritura. O
real significado é: na área de ensino, repreensão,
correção e educação na justiça, a Bíblia não precisa
do complemento de alguma tradição extra-bíblica ou
de qualquer outra fonte.
Além do mais, Paulo prossegue dizendo que o
homem (ou a mulher) de Deus é, pelas próprias
Escrituras, “perfeitamente habilitado para toda boa
obra” (2 Timóteo 3.17). A Bíblia nunca faz tal
declaração sobre a paciência, o amor, a caridade, a
tradição ou qualquer outra coisa. Paulo ensina
claramente: “Só a Escritura”. Essa doutrina não foi
inventada pelos reformadores; eles a retiraram da
Escritura.

A Questão Central
Quando Thomas Howard, irmão de Elizabeth
Elliot (esposa do missionário martirizado, Jim
Elliot), tornou-se católico, a Faculdade Gordon
removeu-o de seu corpo docente. Entre as razões
alegadas estava o fato de que a declaração de fé que
todos os professores deviam assinar, afirmando que
a Bíblia é a “única infalível regra de fé e prática”,
não podia ser endossada por um católico. Howard
reconheceu que “a autoridade única das Escrituras é
princípio exclusivo do protestantismo e que ele,
como católico, não poderia subscrevê-lo”.[25]
Sola Scriptura permanece sendo a questão
central da Reforma. Deve-se escolher entre
submeter-se à autoridade da Bíblia ou à da Igreja
Católica Romana. Não se pode optar por ambas por
causa do claro conflito existente entre as duas.
A escolha a ser feita é óbvia. Apenas a
submissão cega a qualquer hierarquia já contradiz a
Bíblia. Além do mais, fornecemos evidências
históricas mais do que suficientes para mostrar que a
Igreja Católica Romana, a começar pelo próprio
papa, já perdeu o direito a qualquer pretensão que já
possa ter tido de merecer confiança.
A mais trágica conseqüência da fé cega em sua
Igreja como a única intérprete da Palavra de Deus
para a humanidade, é que centenas de milhões de
católicos confiam nela para o seu destino eterno.
Portanto, a questão da salvação é um assunto
fundamental, que obrigatoriamente separa católicos
e evangélicos.
CAPÍTULO 23

Uma Questão de
Salvação
“Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos
pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja
anátema. ...o homem não é justificado por obras da lei, e sim
mediante a fé em Cristo Jesus... por obras da lei, ninguém será
justificado”.

– Gálatas 1.8; 2.16

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem
de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se
glorie”.

– Efésios 2.8-9

Se alguém diz que os sacramentos da Nova Lei [da Igreja


Católica Romana] não são necessários à salvação mas supérfluos...
que sem eles... os homens obtêm de Deus a graça da justificação,
através somente da fé... que seja anátema.

– Concílio de Trento, 7, Geral, 4.[1]


Igualmente, na Igreja, desde os tempos mais remotos, as boas
obras também foram oferecidas a Deus para a salvação dos
pecadores... [pelas] orações e boas obras das pessoas santas... o
penitente era lavado, limpo e redimido...
Seguindo os passos de Cristo, os que nEle crêem têm sempre...
carregado suas cruzes para fazer a expiação de seus próprios
pecados e dos pecados dos outros... [para] ajudar seus irmãos a
obterem a salvação de Deus.

– Vaticano II, Constituição Apostólica Sobre a Revisão de


Indulgência II 5, III 6.[2]

“A sagrada Tradição e a Escritura sagrada


formam um só depósito sagrado da Palavra de
Deus”, diz o Vaticano II.[3] Quando a sua tradição e
a Bíblia entram em conflito, Roma opta pela
tradição. Assim nasceu a maior diferença entre os
protestantes e os católicos: a questão da salvação.
Esse vasto abismo divisor, reconhecido durante 400
anos tanto pelos protestantes como pelos católicos (e
nenhum dos dois têm mudado suas crenças básicas),
agora é negado por evangélicos influentes. Charles
Colson, por exemplo, em resposta a perguntas sobre
sua aceitação dos católicos como cristãos, diz:
Temos diferenças, mas nos credos antigos e crenças
centrais do cristianismo estamos juntos.[4]
Não é bem assim. Concordância nos credos,
sim, mas os credos nada dizem sobre como alguém
é salvo. A salvação é a crença mais importante do
cristianismo. Nesse ponto a diferença entre
evangélicos e católicos é tão grande como a
diferença entre a vida eterna e o juízo eterno.

Os “Salvos” e os “Não-
Salvos”
A Bíblia diz que há duas categorias de pessoas:
as salvas e as não-salvas, ou perdidas. O próprio
Cristo declarou que a Sua missão era salvar as
pessoas perdidas do mundo: “o Filho do Homem
veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19.10);
“...eu não vim para julgar o mundo, e sim para
salvá-lo” (João 12.47). Deus enviou Jesus “para
que o mundo fosse salvo por ele” (João 3.17).
Paulo testificou: “Cristo Jesus veio ao mundo para
salvar os pecadores” (1 Timóteo 1.15). Salvá-los
do quê? Do juízo divino, que os separará
eternamente da presença de Deus por causa do
pecado.
“Por isso, quem crê no Filho tem a vida
eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o
Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a
ira de Deus” (João 3.36).
“...em chama de fogo, tomando vingança
contra os que não conhecem a Deus e contra os
que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor
Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna
destruição, banidos da face do Senhor... a fim de
serem julgados todos quantos não deram crédito à
verdade” (2 Tessalonicenses 1.8-9; 2.12).
“E, se alguém não foi achado inscrito no
Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago
de fogo” (Apocalipse 20.15).
O Evangelho declara: “Cristo morreu pelos
nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi
sepultado e ressuscitou ao terceiro dia” (1
Coríntios 15.3-4). Os evangélicos crêem no
Evangelho, não apenas como um fato histórico, mas
como algo que lhes oferece perdão de seus pecados
e a vida eterna como um dom gratuito da graça de
Deus. Paulo diz que este é o Evangelho “pelo qual
também somos salvos” (veja 1 Coríntios 15.2).
Baseado nisso é que o evangélico sabe que está
salvo.
Uma pessoa “é salva” no momento em que crê
no Evangelho. Ao grito desesperado: “...que devo
fazer para que seja salvo?” (Atos 16.30), Paulo
respondeu: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo” (v.
31). É simples assim. No momento em que deposita
sua fé em Cristo, a pessoa é salva e jamais se
perderá novamente. “Mas passou da morte para a
vida” (João 5.24) e não está mais sob o julgamento
de Deus. O céu agora é o seu lar e a morte significa
“deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2
Coríntios 5.8). A Bíblia diz: “Porque Deus amou
ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo o que nele crê não pereça,
mas tenha a vi da eterna” (João 3.16); “Eu sou a
porta [disse Jesus]. Se alguém entrar por mim, se
rá salvo” (João 10.9); “as minhas ovelhas ouvem
a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu
lhes dou a vi da eterna; jamais perecerão” (João
10.27-28); “...para nós, que somos sal vos” (1
Coríntios 1.18); “...aprouve a Deus sal var os que
crêem pela loucura da pregação” (1 Coríntios
1.21); “...por ele também sois sal vos” (1 Coríntios
15.2); “pela graça sois sal vos...” (Efésios 2.8);
“... o qual deseja que todos os homens sejam sal
vos...” (1 Timóteo 2.4); “[Deus] que nos sal vou”
(2 Timóteo 1.9); “...segundo sua misericórdia, ele
nos sal vou” (Tito 3.5), etc.
O evangélico crê que, depois de aceitar a oferta
de Cristo de perdão e vida eterna, ele se torna um
cristão, nascido do Espírito Santo e membro da
família de Deus. Ele tem a certeza de que, como
filho de Deus, jamais perecerá eternamente (João
10.28), nem “entra em juízo” (João 5.24). Sua
salvação está segura porque, pela maravilhosa graça
de Deus, a morte de Cristo pagou a penalidade dos
seus pecados. Assim diz a Palavra de Deus: “Aquele
que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho
[a garantia dada pelo Espírito Santo ao seu coração].
Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso,
porque não crê no testemunho que Deus dá acerca
do seu Filho. E o testemunho é este: que Deus nos
deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho.
Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não
tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas
vos escrevi, a fim de sa ber des que ten des a vida
eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho
de Deus” (1 João 5.10-13).

O Objetivo do Evangélico:
a Salvação dos Pecadores Se
uma pessoa é criada em um
lar e numa igreja
evangélicos, é capaz de
compreender
intelectualmente o
Evangelho desde a infância.
Porém, mesmo assim pode
perceber que ainda não é
salva. A mera concordância
mental com tudo que a
Bíblia diz não pode salvar; é
preciso que se aceite
pessoalmente a Cristo como
seu Salvador. É através desse
ato de fé que ocorre a
salvação, “porque pela graça
sois salvos, mediante a fé”
(Efésios 2.8). Tudo agora é
diferente, ela tornou-se
“nova criatura” em Cristo;
“as coisas antigas já
passaram; eis que se fizeram
novas” (2 Coríntios 5.17).
Quem toma essa atitude agora está “salvo” e é
parte da Igreja mundial de Cristo – não pelo fato de
congregar numa igreja batista, luterana, metodista,
católica ou de outra denominação, mas pelo Espírito
de Deus que o colocou no corpo de Cristo:
“acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam
sendo salvos” (Atos 2.47). “Pois, em um só
Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo,
quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer
livres...” (1 Coríntios 12.13). Essa é a “boa nova”
do Evangelho.
Cristo disse aos Seus discípulos: “Ide por todo
o mundo e pregai o evangelho...” (Marcos 16.15),
e assim Sua missão de salvar os pecadores seria
continuada. O objetivo principal dos evangélicos é
pregar o Evangelho aos perdidos, para que eles
possam ser salvos. Pedro disse: “importa que
sejamos salvos” (Atos 4.12) através de Jesus, já que
não há outro meio de salvação. A prioridade de
Paulo em relação aos seus patrícios judeus era: “que
sejam salvos” (Romanos 10.1). Este é o desejo do
evangélico para toda a humanidade: “...que vos
reconcilieis com Deus” (2 Co 5.20).

Os Católicos Não Estão


“Salvos”,
Eles Estão “Perdidos”
Os reformadores eram padres católicos que
reconheceram que não estavam salvos, mas sim
perdidos, uma vez que o catolicismo não pregava o
evangelho bíblico salvador, mas um evangelho falso.
As pessoas não estavam sendo levadas a ter uma
relação pessoal com Cristo como Salvador, mas a
uma escravidão à Igreja, esperando que esta pudesse
levá-las para o céu algum dia se obedecessem suas
regras. No catolicismo a salvação não é um fato
consumado, resultante da fé em Cristo, mas um
processo contínuo de obras e ritos em obediência à
Igreja.
Ao crerem no Evangelho bíblico, os
reformadores sabiam que estavam salvos,
regozijavam-se com isso e pregavam as boas novas
do “evangelho da graça de Deus” (Atos 20.24) aos
seus companheiros católicos, esperando reformar a
Igreja a partir de dentro. Por isso foram
excomungados e perseguidos, e multidões deles
levados à morte.
O Concílio de Trento foi convocado para
confrontar os assuntos levantados pela Reforma. A
hierarquia católica rejeitou tudo pelo que os
reformadores lutavam, desde a autoridade da
Palavra de Deus até a salvação pela graça e o
sacerdócio de todos os crentes. E amaldiçoou com
mais de 100 anátemas qualquer um que aceitasse as
doutrinas que os evangélicos pregavam. Até hoje,
nenhum desses anátemas foi revogado.
Esses são fatos históricos. Nada mudou nas
crenças dos evangélicos, nem dos católicos.
Estranhamente, os evangélicos que tentam mostrar
os erros do catolicismo, por amor aos católicos
desejando que eles sejam salvos, são acusados de
“agredir os católicos”. O que dizer então dos mais
de 100 anátemas que condenam os protestantes?
Não é essa uma verdadeira “agressão”?
É comumente aceito que o Vaticano II mudou
muita coisa na Igreja Católica. Na verdade, apenas
algumas mudanças superficiais foram feitas, como
por exemplo permitir que a missa fosse rezada na
língua do povo em vez do latim. Porém, nenhuma
das doutrinas centrais de Roma foi mudada. O
Vaticano II mencionava seguidamente o Concílio de
Trento e outros concílios, apenas para reafirmar e
estabelecer os antigos dogmas católicos. Para tornar
isso bem claro, o Vaticano II declara: Este venerável
Concílio aceita lealmente a venerável fé de nossos
ancestrais na comunhão viva existente entre nós e
nossos irmãos que estão na glória do céu, ou que
ainda estão sendo purificados [no purgatório] após
sua morte; e propõe novamente os decretos do
Segundo Concílio de Nicéia [787], do Concílio de
Florença [1438-1442] e do Concílio de Trento
[1545-1563].[5]

A “Salvação” no Catolicismo
Sim, a Igreja Católica prega
a salvação, mas em direta
oposição à Escritura e àquilo
que crêem os evangélicos.
Para eles a salvação ocorre
pela obediência à Igreja e
não está baseada na obra
consumada por Cristo na
cruz. Nenhum católico
poderia afirmar que está
salvo e que sabe com certeza
que após sua morte irá para
o céu. Dizer isso seria trazer-
lhe automática excomunhão
e a condenação de Roma: Se
alguém diz que para obter a
remissão dos pecados é
necessário... crer com certeza
e sem hesitação alguma...
que seus pecados lhe são
perdoados, seja anátema!
(Concílio de Trento, 6, XVI,
13).
Se alguém diz que, com certeza, ...receberá esse
grande dom da perseverança até o fim [ou seja, saber
que está salvo, como a Bíblia promete]... seja anátema
(Concílio de Trento, 6, XVI, 16).[6]

A Igreja Católica Romana é inflexível ao insistir


em que a obra necessária à nossa salvação não foi
consumada por Cristo na cruz e que o pecador não
pode ser salvo pela simples fé nEle. Ela insiste em
que a salvação é um processo contínuo de obras,
rituais e penitências decretados pela Igreja, que
continuam por toda a vida e que depois dela ainda se
sofra no purgatório: Se alguém diz que, após o
recebimento da graça da justificação, a culpa fica
remida e o débito do castigo eterno será cancelado a
todo pecador arrependido, que nenhum débito de
castigo temporal permanece para ser expiado neste
mundo ou no purgatório antes que sejam abertos os
portões dos céus, seja anátema.[7]
É desse modo que o Concílio de Trento afirma
que um “pecador arrependido” é justificado pela
“graça”. Isso parece ser bíblico e engana a muitos.
Embora as palavras sejam as mesmas que os
evangélicos usam, o significado para os católicos é
totalmente diferente. Trento insiste que um “pecador
arrependido”, justificado pela “graça”, ainda deve
sofrer para ser “purgado” de seus pecados, seja aqui
ou no purgatório, e, com maior probabilidade, nos
dois lugares. Esse dogma nega a plena suficiência do
sofrimento de Cristo na cruz pelos pecados. É um
falso evangelho, o qual Paulo amaldiçoou (Gálatas
1.8).
A Bíblia declara repetidamente que a salvação
não vem pelas boas obras e nem pelas obras da lei.
Mesmo assim, Roma insiste que a salvação vem
pelas obras, em obediência à sua “Nova Lei”. O
Vaticano II declara que “pregar o Evangelho” (tarefa
dos bispos) é ajudar todos os homens a “obterem a
salvação pela fé, batismo e observância dos
mandamentos”[8] (ênfase acrescentada). Em vez de
salvação somente pela fé, como a Bíblia ensina, o
Vaticano II declara: “que o próprio Deus fez saber à
raça humana como os homens podem ser salvos:
servindo-O”.[9] (ênfase acrescentada).

Redenção: Processo
Contínuo
ou Fato Consumado?
A parte mais importante do “servindo-O” e
“observância dos mandamentos” para a salvação
envolve a participação nos sacramentos,
principalmente o batismo e a missa. A longa obra de
salvação tem início pelo batismo e continua por toda
a vida através da participação em outros
sacramentos, através da prática de boas obras e
penitências. O católico nunca tem certeza do
resultado ou quanto tempo levará para alcançar o
alvo. Eles esperam não morrer em pecado mortal, o
qual não remeteria a alma para o purgatório, mas
para o inferno, de onde não há escapatória. Mais
uma vez citamos o Vaticano II: Pois é através da
liturgia, especialmente no divino sacrifício da
Eucaristia, que a obra de nossa redenção é
completada...[10]
Mas Ele [Deus] também desejava que a obra da
salvação que eles [os apóstolos] pregavam fosse
completada através do sacrifício e dos sacramentos, ao
redor dos quais toda a vida litúrgica está centrada... A
liturgia é... a fonte da qual flui todo o seu poder [da
Madre Igreja]. [11]

Segundo a Palavra de Deus, a redenção (ou


salvação) foi completada por Cristo em Seu
sacrifício na cruz e é recebida pela fé: “no qual
temos a redenção, pelo seu sangue” (Efésios 1.7;
Colossenses 1.14); “pelo seu próprio sangue,
entrou no Santo dos Santos [céu], uma vez por
todas, tendo obtido eter na redenção” (Hebreus
9.12). Rejeitando a Palavra de Deus, Roma insiste
que a redenção ainda deve ser completada pela
liturgia da Igreja. Nesse ponto a contradição do
catolicismo à Escritura é explícita e fatal.
No Evangelho da graça de Deus pregado pelos
apóstolos de Cristo para a salvação das almas nada
há sobre liturgia, muito menos que ela seja o meio
de completar a redenção ou a “fonte” da qual “flui
todo o poder da Igreja”. Essas idéias foram
formuladas mais tarde, como parte da “tradição
apostólica” de Roma, sendo que nenhuma delas
pode ser rastreada até os apóstolos (ver Apêndice
F).
Os líderes evangélicos que aceitam os católicos
como cristãos muitas vezes dizem: “Eu descobri que
tinha mais em comum com os católicos do que com
os protestantes liberais”. É verdade, e seria possível
ter-se muito em comum, política e eticamente, até
mesmo com os conservadores ateus ou com budistas
do que com os protestantes liberais. Mas a salvação
nada tem a ver com política, ética ou ação social.
Um católico pode ser bastante moralista e/ou
politicamente conservador, mas quando se trata de
salvação, os dogmas de sua Igreja são verdadeiras
antíteses do que a Bíblia ensina.
Um ex-católico, isolado pela família (que não
quis nem discutir suas razões) explica no que os
católicos confiam para a salvação: Estou tão triste
pelo que a Igreja Católica está fazendo com os
membros de minha própria família. Está mandando
a minha mãe para o inferno. Ela não acha que seja
necessário conhecer Jesus como Salvador pessoal ou
ler a Bíblia por crer que, enquanto estiver andando
de acordo com a Igreja, é o que importa.
Além de tudo, por obrigação, ela assiste à missa todo
domingo e nos dias santos. Ela sempre se confessa e
faz as penitências, realiza regularmente as obras de
misericórdia e reza muitas vezes aos santos e à Maria
para obter indulgências.
Suas boas obras e a administração dos chamados
sacramentos serão o seu passaporte para entrar pelos
portões de pérolas, depois que ela passar o tempo
determinado queimando no purgatório, para pagar
pelos pecados que restarem. E o próprio Pedro tem
nas mãos as chaves para lhe abrir as portas do céu.
Ele entregou essas chaves aos papas, portanto ela
acha que teria alcançado o alvo.[12]

Salvação: Pela Graça ou


Pelas Obras?
No Evangelho que Paulo pregou não
encontramos nada sobre a “obra da salvação” ser
“alcançada” através da liturgia católica, como o
Vaticano II declara. A salvação é em sua totalidade
uma obra de Deus e de Cristo, completada de uma
vez por todas na cruz, não restando nada para o
homem fazer, pois nada há que ele possa fazer.
“...desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor” (Filipenses 2.12) não pode significar que
devemos trabalhar pela nossa salvação (um conceito
fortemente condenado na Escritura); só pode
significar que, uma vez salvos, temos agora de viver
a obra total da salvação como pessoas que foram
criadas “em Cristo Jesus para boas obras, as quais
Deus de antemão preparou para que andássemos
nelas” (Efésios 2.10).
Um pecador (o que todos nós somos) não pode
salvar a si mesmo, assim como um cadáver não
pode fazer uma transfusão de sangue em si mesmo.
Por natureza estamos mortos em nossos “delitos e
pecados” (Efésios 2.1; cf. Colossenses 2.13). No
catolicismo, entretanto, o homem foi apenas “ferido
pelo pecado” [13], mas não está morto nele. Assim
pode trabalhar pela sua salvação: O homem recebe
[de Deus] essa dignidade quando, livrando-se de
toda a escravidão das paixões, prossegue para
alcançar o seu objetivo ao escolher livremente o que
é bom e, por sua diligência e habilidade, assegura
efetivamente para si mesmo os meios apropriados
para tal fim.[14]
Ao contrário, a Bíblia ensina que mesmo a
“justiça” de um pecador não passa de “trapo da
imundícia” aos olhos de Deus (Isaías 64.6).
Somente após sermos salvos é que podemos, no
poder do Espírito Santo, praticar boas obras – não
para ganhar a nossa salvação, mas porque amamos
Aquele que nos salvou. Para ser salvo, o homem
deve reconhecer sua própria culpa e inabilidade de
salvar a si mesmo e deve crer na obra de Cristo,
aceitando o Seu pagamento substitutivo pela
penalidade do pecado. A Bíblia declara repetidas
vezes que a salvação vem pela graça através da fé e
não de obras. “Mas cremos que fomos salvos pela
graça do Senhor Jesus...” (Atos 15.11); “... pela
graça sois salvos” (Efésios 2.5); “a graça de Deus
se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito
2.11).
A graça não pode ser concedida baseada em
uma mera contabilidade para entrar no céu, mas
porque o débito foi pago totalmente por Cristo:
“sendo justificados gratuitamente, por sua graça,
mediante a redenção que há em Cristo Jesus”
(Romanos 3.24). O evangelho católico da salvação
pelas obras e rituais é a mais absoluta oposição à
graça de Deus. Ele é, na verdade, uma rejeição da
oferta da salvação de Deus, pela graça, baseada na
fé na obra de Cristo, pois exige que o sacrifício de
Cristo seja completado por nossas obras e/ou
sofrimentos.
O Evangelho em que devemos crer para ser
sermos salvos é chamado de “o evangelho da graça
de Deus” (Atos 20.24), porque “pela graça” é que
somos salvos. A graça, por sua própria natureza,
exclui as obras. Paulo argumenta: “se é pela graça,
já não é pelas obras; do contrário, a graça já não
é graça...” (Romanos 11.6). Ninguém pode ganhar,
merecer ou pagar por ela, ou então não seria graça.
A salvação só pode ser recebida de Deus, como um
dom gracioso, pelos que admitem que não merecem
nem podem fazer coisa alguma para ganhar ou
merecê-la.
O Vaticano II repetidamente ensina a salvação
pelas obras. Todo católico praticante pensa que está
ganhando a sua salvação. Alguns padres e freiras até
hoje colocam pedras dentro dos sapatos, usam
camisas de pêlos e se flagelam para ganhar a
salvação. Caso se visite qualquer país católico nos
feriados da Igreja Católica [dias santos], será
possível ver os penitentes se açoitando, peregrinos
andando de joelhos em direção a algum santuário de
Maria, outros carregando pesadas cruzes e um
terceiro grupo esperando melhorar suas chances de
salvação ao comprar velas, que serão acesas diante
de uma imagem de “Nossa Senhora” disso ou
daquilo ou de algum outro “santo”. Em alguns
lugares, como nas Filipinas, alguns zelosos chegam a
pedir que os crucifiquem, ficando pendurados em
agonia durante algum tempo a fim de pagarem parte
do preço pela sua própria salvação e a de outros.
Longe de censurar tais esforços, Roma os encoraja.
A salvação pelas obras é ensinada de maneira tão
clara nos dogmas de Roma e praticada de forma tão
ampla pelos fiéis que não pode ser negada.
Lembram de Julian Hernandez, queimado na
estaca em 22 de dezembro de 1560 em Sevilha,
Espanha, por levar para dentro desse país Bíblias
impressas na Alemanha? Ele também foi imolado
por acreditar que “qualquer um que tem fé em Jesus
e confia somente nos méritos de Jesus tem a garantia
que irá para o céu...”[15] Imaginem só, ser
condenado às chamas por crer no Evangelho da
graça de Deus! Mesmo assim, centenas de milhares
de outros crentes foram assassinados por Roma por
esse mesmo motivo.

O Evangelho Segundo Roma


Devemos definir
cuidadosamente os termos
quando discutimos com os
católicos. O catolicismo
emprega muitas expressões
bíblicas (graça, redenção,
salvação, etc.), mas com
significados que não estão de
acordo com a Bíblia. Os
católicos afirmam que Cristo
é o Unigênito Filho de Deus,
que é um com o Pai, que
morreu por nossos pecados,
ressuscitou ao terceiro dia e
voltará à terra para reinar.
Entretanto, a essas verdades
eles acrescentam dogmas que
desfiguram o Evangelho.
Ignorando tais adições,
muitos evangélicos acham
que os católicos são cristãos e
esse engano acaba
influenciando aos outros.
Defensores dos católicos, tais como Peter
Kreeft, autor da InterVarsity, encoraja esse tipo de
confusão ao insistir que os católicos “são salvos pela
livre graça de Deus, não por tentarem conquistar sua
entrada no céu pelas obras”.[16] Mesmo assim, o
catolicismo está baseado na “conquista da entrada
no céu”. Kreeft esconde que, para o católico, ser
“salvo pela livre graça de Deus” significa que o
pecado original é lavado pelo batismo e que agora
aquela pessoa passa a conquistar a entrada no céu
através de boas obras, da penitência, por comer o
corpo de Cristo e beber o Seu sangue na eucaristia,
por fazer orações a Maria e aos santos, adquirindo
indulgências e uma série de outros meios. Além
disso, a “graça” não pode ser obtida pelos católicos
diretamente de Cristo ou Deus, mas é dispensada
pela Igreja e seus sacramentos, especialmente
através de Maria, chamada por eles de a
“dispensadora da graça”.
A Igreja Católica há muito tem ensinado que
“toda graça é passada de Deus para Jesus, de Jesus
para Maria e de Maria para nós. A graça de Deus, a
cura de nossos males, chega até nós através de
Maria, como a água vem através de um aqueduto”.
[17] São Bernardo disse: Todos os dons, todas as
virtudes e todas as graças são dispensados pelas
mãos de Maria para quem, quando e como ela
desejar. Ó senhora, uma vez que vós sois a
dispensadora de todas as graças e uma vez que a
graça da salvação só pode vir através de suas mãos,
nossa salvação depende de vós.[18]

O Papel de Maria na
Salvação Maria exerce o
papel principal na salvação.
São Bernardo também disse:
“Todos os homens, do
passado, do presente e do
porvir devem depender de
Maria como meio e a
negociadora da
salvação...”[19] Aqui está um
resumo do que os principais
santos católicos declararam
sobre o papel de Maria na
salvação: São Boaventura
diz: “Os portões do céu se
abrirão para todos os que
confiarem na proteção de
Maria”. São Efraim chama a
devoção à divina mãe de
“abertura dos portões da
Jerusalém celestial”. Blósio
também diz: “A vós, ó
Virgem, estão confiadas as
chaves e os tesouros do reino
do céu”. Portanto,
deveríamos rezar
constantemente a ela,
repetindo as palavras de
Santo Ambrósio: “Abri para
nós, ó Maria, os portões do
paraíso, já que sois vós que
tendes as chaves”. E a Igreja
acrescenta: “Vós sois os
portões”.
Declarou São Fulgêncio: “Pois foi por Maria que o Deus
do céu desceu ao mundo, e por ela deve o homem
subir da terra para o céu”. “E vós, ó Virgem”, disse
Santo Atanásio, “que fostes cheia de graça, então
podeis ser o caminho de nossa salvação e o meio de
atingirmos o reino celestial...”
“Abençoados são os que vos conheceis, ó mãe de
Deus” disse São Boaventura, “pois o conhecimento de
vós é a estrada para a vida eterna e a proclamação de
vossas virtudes é o caminho da salvação eterna”. Em
suma, diz Ricardo de São Lourenço: “Maria é a rainha
do céu, pois lá ela comanda conforme deseja e
permite a entrada de quem ela quer”.
... Portanto, disse o abade Guerric: “Aquele que serve
a Maria, e por quem ela intercede, está tão seguro do
céu como se já estivesse lá... [e] os que não servem a
Maria não serão salvos...” São Boaventura exclama:
“Dai ouvidos, ó vós nações, e todos vós que desejais o
céu, servi e honrai a Maria e certamente encontrareis
vida eterna”.
“É suficiente, senhora”, disse São Anselmo, “que o
desejeis, e nossa salvação é certa”. E Santo Antonino
diz que “as almas protegidas por Maria e, por quem
ela vela, são, com certeza, justificadas e salvas”.[20]

Um autor mais recente também cita os santos


do passado: “A Igreja e os santos saúdam-na assim:
“Vós, ó Maria, junto com Jesus Cristo nos
redimistes... Ó Maria, nossa salvação está em vossas
mãos... Ela é co-redentora da raça humana, porque,
juntamente com Jesus Cristo, resgatou a
humanidade do poder de Satanás. Jesus nos redimiu
com o sangue do Seu corpo, Maria com as agonias
do seu coração... sofrendo em seu coração tudo que
faltou na paixão de Cristo”.[21]
Um folheto católico muito popular, intitulado
“O Céu se Abre ao Rezarmos TRÊS AVE-
MARIAS”, promete: Um dos maiores meios de
salvação e um dos sinais mais seguros de
predestinação é inquestionavelmente a consagração
à bendita Virgem. Todos os santos pais da Igreja são
unânimes em concordar com Santo Afonso de
Ligório: “um servo devoto de Maria jamais
perecerá...”
Consagro a vós [Maria] meu coração, com todas as
afeições, e vos imploro que da Santíssima Trindade
obtenhais para mim todas as graças necessárias à
salvação.[22]

“Graças” ou Graça?
Não se pode negar que Maria é aquela a quem
primeiramente os católicos procuram em busca das
“graças necessárias à salvação”. Esse fato é
transmitido pelos defensores da igreja romana como
sendo a prática do catolicismo simples, dos que não
conhecem outro modo de pensar. Pelo contrário, as
citações que reproduzimos acima são de santos
católicos. Ligório foi uma das grandes autoridades
da Igreja Católica, um cardeal e santo. A mariolatria
não é censurada pela hierarquia da Igreja, é até
encorajada por ela. Os próprios bispos, cardeais e
papas têm sido alguns dos maiores devotos de
Maria, embora nenhum deles superou o papa João
Paulo II.
Segundo dizem, “Nossa Senhora do Carmo”
teria dado uma grande promessa a São Simão Stock
em 1251: “Todos os que morrerem revestidos deste
escapulário não padecerão o fogo eterno”. Seu
suposto aparecimento ao papa João XXII ocorreu
em 1322, ratificando o privilégio sabatino (do
sábado) para os que usarem o escapulário. Ela teria
dito: “Eu, a mãe da graça, descerei no sábado após
sua morte e libertarei a quem porventura se
encontrar no purgatório”.[23] Confirmada pelos
papas Alexandre V, Clemente VII, Pio V, Gregório
XIII e Paulo V,[24] desde então incontáveis milhões
de católicos usuários do escapulário têm confiado
nessa promessa. Ligório acrescenta: [O papa Paulo
V] numa bula em 1613, disse que “o povo cristão
[que usa o escapulário] deve crer piamente que,
após a morte, a bendita virgem o ajudará pela sua
contínua intercessão, seus méritos e proteção
especial...”
Por que não deveríamos esperar pelas mesmas
graças... dessa mãe bondosa? E se a servimos com um
amor muito especial, por que não podemos esperar ir
imediatamente para o céu após a morte, sem precisar
passar pelo purgatório? [25]

Muitos católicos recitam a oração de São


Simão Stock rezando à “Nossa Senhora do Carmo”:
“Padroeira de todos os que usam o escapulário,
rogai por nós! Esperança de todos os que usam o
escapulário, rogai por nós! Ó doce Coração de
Maria, sede a nossa salvação!”[26] Veja que para
eles a salvação se dá através de Maria! O catolicismo
fala de “graças”, não de somente uma “graça”. Diz-
se que a missa é o meio de “aplicar” e “conferir”,
gradual e continuamente, as “graças necessárias à
salvação”, as quais Cristo ganhou na cruz.[27]
“Graças”? O plural de graça não é mencionado em
lugar algum na Escritura.
A Bíblia diz que somos “salvos pela graça”. O
perdão de pecados e vida eterna são outorgados pela
graça a todos os que crêem na promessa de Deus
registrada no Evangelho. A idéia católica de “graças”
indica que a salvação não pode ser recebida de uma
vez só, mas apenas em pequenas prestações, um
pouco de cada vez, principalmente através da
participação nos sacramentos, os quais literalmente
concedem as graças. Desse modo, nunca se recebe o
perdão e a vida eterna de uma única vez. Existem
sempre mais “graças” a serem conquistadas na
estrada que leva à salvação. Sim, conquistadas. A
graça bíblica não pode ser merecida pelo homem,
enquanto que os católicos precisam conquistar as
“graças”.
No catolicismo muito deve ser cumprido para
que as “graças” sejam recebidas. Em contraste, a
Bíblia afirma que, para recebermos a graça de Deus,
basta crermos na oferta feita por Ele no Evangelho e
aceitá-la como um dom gratuito de perdão e de vida
eterna. Contudo, para se obter as “graças” há muitas
regras a seguir, muitos meios pelos quais elas podem
ser acumuladas.
Cerca de 600 anos mais tarde, dizem que
“Nossa Senhora de Fátima” apareceu em Portugal e
prometeu “assistir, na hora da morte, com todas as
graças necessárias para a salvação” a todos os que
seguissem certas regras prescritas, por cinco meses
consecutivos (o que explicaremos com detalhes mais
tarde). Não resta dúvida alguma de que o
catolicismo ensina a salvação através das obras e que
Maria desempenha o papel principal nessa salvação.
O Vaticano II diz que “para ganhar indulgências a
obra prescrita deve ser feita”. [28]
Podemos ver claramente a grande diferença
entre o catolicismo e o Evangelho bíblico da graça
de Deus. Para o primeiro, as graças vêm de Deus
(através da mediação de Maria), em resposta ao que
o devoto católico faz; enquanto para o outro a graça
vem de Deus, em resposta ao que Cristo fez. É um
insulto à justiça de Deus sugerir que Ele possa
perdoar pecados porque alguém reza o rosário, vai à
missa ou faz alguma outra coisa que a Igreja
prescreve. Deus só pode perdoar pecados e salvar
a alma do pecador baseado no pagamento, feito
por Cristo, da penalidade completa exigida pela
justiça de Deus. Uma vez feito isso, Deus pode
então ser “justo e [ao mesmo tempo] o justificador
daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3.26).

Um Mal-Entendido
Semântico?
Em seu livro de apologética, Peter Kreeft
declara absurdamente que aquilo que Lutero
redescobriu sobre a justificação pela fé era uma
doutrina católica que há muito fora ensinada e ainda
o é por Roma.[29] Certamente Kreeft sabe que a
doutrina católica da “justificação pela fé” é
inteiramente diferente daquela em que Lutero
passou a crer depois de ler as Escrituras e daquela
em que os evangélicos crêem hoje. Caso contrário,
Lutero e outros reformadores deveriam ser
verdadeiramente deficientes mentais. E então os
inquisidores foram muito mais cruéis do que
imaginamos, pois não disseram às pobres almas que
eles condenavam às chamas que tudo não passava
de um mal-entendido semântico, que Roma ensinava
a “heresia” pela qual estavam morrendo – e até fora
a sua originadora.
Keith Fournier, em seu livro Evangelical
Catholics [Católicos Evangélicos], equipara o
catolicismo ao Evangelho bíblico da graça de Deus.
Para tentar provar que eles possuem uma fé bíblica,
ele alega que alguns católicos usam o material do
Evangelismo Explosivo de D. James Kennedy.
Entretanto, quando foi indagado sobre isso, Fournier
respondeu: ...havia algumas coisas no método [de
evangelismo] de James Kennedy que nós, como
católicos, não podíamos aceitar, pois não eram
ensinos católicos. Exemplos óbvios são: o ensino da
segurança total da salvação... e também que a
salvação ocorre somente pela fé.
Para os católicos, nós somos salvos pela fé e também
pela obediência a Cristo... existem atos de obediência
e cooperação no Espírito de Deus que estão
conectados à salvação.[30]

Paulo escreveu: “Mas, ainda que nós ou


mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho
que vá além do que vos temos pregado, seja
anátema” (Gálatas 1.8). Ele se referia àqueles que
no seu tempo queriam “perverter o evangelho de
Cristo” (v. 7). Aqueles “judaizantes” legalistas, ao
mesmo tempo que pregavam apenas parcialmente o
verdadeiro Evangelho, também declaravam que,
além dele, era necessária a circuncisão e a guarda da
lei (Atos 15.24). Esse adendo perverteu o Evangelho
e trouxe a condenação de Paulo sobre eles. Durante
mais de quinze séculos o catolicismo vem anexando
ao Evangelho coisas que os judaizantes nem sequer
imaginavam. Também por isso merece a condenação
de Paulo.

Contraste Com o Evangelho


Bíblico Paulo deixou bem
claro que a salvação resulta
da fé no Evangelho. “Pois
não me envergonho do
evangelho, porque é o poder
de Deus para a salvação de
todo aquele que crê”
(Romanos 1.16). Como se vê,
a salvação é tão simples e
nada tem a ver com as
opiniões de um pontífice
romano e de seus colegas de
hierarquia, que só passaram
a existir vários séculos depois
do Evangelho ter sido
pregado e milhões de pessoas
terem sido salvas.
Paulo não disse ao carcereiro desesperado
[Atos 16.31]: “Crê em Jesus e isso lhe conduzirá a
um longo caminho de boas obras, filiação à Igreja,
sacramentos, orações aos santos, etc. Se fizer isso,
eventualmente depois de excruciante sofrimento no
purgatório, depois de muitas missas e rosários
rezados em seu favor, os portões do céu finalmente
serão abertos para você”. Justamente esse é o
evangelho de Roma. Todas essas idéias foram
inventadas posteriormente para darem a Roma um
poder incrível sobre os que dependem dela para a
sua salvação. É bastante preocupante que centenas
de milhões de pessoas ainda estejam sendo levadas à
perdição por esse sistema.
A salvação católica romana não é a mesma
ensinada pela Bíblia. Cristo disse: “Vinde a mim”
(Mateus 11.28); Roma diz: “vinde à Madre Igreja”.
Os católicos não podem chegar diretamente a Cristo,
mas devem fazê-lo através da sua Igreja, a qual,
além da obra completa de Cristo, oferece para a
salvação: os méritos dos santos como um crédito a
mais pela sua própria penitência e boas obras, o
sofrimento dos outros em seu favor e a submissão
aos papas, a obediência aos decretos da Igreja, etc.
O Vaticano II diz muito claramente que a Igreja
Católica “é necessária à salvação”.[31] Esse dogma
é declarado em numerosos decretos papais, como o
do papa Bonifácio VIII: Existe apenas uma Igreja
Católica santa e apostólica, fora da qual não há
salvação nem perdão dos pecados... também é
necessário que todas as criaturas estejam sujeitas ao
sumo pontífice romano.[32]
Para os católicos, a Igreja é a chave da
salvação, pois através dela os fiéis são mantidos num
labirinto de esforços próprios direcionados pelas
regras de Roma. O novo Catechism of the Catholic
Church [Catecismo Universal da Igreja Católica]
refere-se a “todos os meios de salvação” que a Igreja
administra [33] e declara que a “salvação acontece
através da Igreja, que é Seu corpo, vindo de Cristo,
a Cabeça... [que é] necessário à salvação”.[34] O
Vaticano II afirma que existem muitos “meios de
salvação” dispensados pela Igreja: Estão totalmente
incorporados à Igreja aqueles que, possuindo o
espírito de Cristo, aceitam todos os meios de
salvação dados à Igreja juntamente com toda a sua
organização, e que – pelos laços constituídos pela
profissão de fé, os sacramentos, o governo
eclesiástico e a comunhão – são acrescentados à
estrutura visível da Igreja de Cristo, que a governa
através do supremo pontífice e dos bispos.[35]
Em vez de confiar somente em Jesus e ter uma
relação pessoal com Ele, o católico romano depende
da Igreja Católica e, para ser salvo, precisa estar
numa relação correta com ela quando morrer. Isso é
ensinado ao católico desde a infância, está em todos
os catecismos e é recitado na crisma. Veja o que diz
o Vaticano II: “Baseando-nos na Escritura e na
tradição, ensinamos que a Igreja, agora uma
peregrina na terra, é necessária para a salvação... Ele
[Cristo] mesmo declarou explicitamente... a
necessidade da Igreja, na qual os homens entram
pelo batismo, como que por uma porta”.[36] O
novo catecismo do Vaticano declara explicitamente
que a salvação flui de Cristo através da Igreja.[37]
O Cânon 992 chama a Igreja Católica Romana de
“ministra da redenção”.[38]
Defensores da doutrina católica argumentariam
que não é preciso estar numa Igreja para ser salvo,
podendo inclusive citar o Vaticano II para mostrar
que até mesmo os idólatras podem ser salvos,
mesmo sem pertencer à Igreja: Deus não é estranho
aos que procuram nas sombras e nas imagens o
Deus desconhecido, uma vez que... o Salvador
deseja que todos os homens sejam salvos. Aqueles
que, não por culpa própria, desconhecem o
Evangelho de Cristo ou Sua Igreja, mas que, mesmo
assim, buscam a Deus com um coração sincero, e
movidos pela graça, tentam em suas ações fazer a
Sua vontade como a conhecem, através dos ditames
de sua consciência – esses também podem alcançar
a salvação eterna.[39]
As seções precedentes, contudo, declaram
explicitamente que “em diferentes formas a ela
pertencem [à Igreja Católica Romana] ou estão
relacionados: os fiéis católicos, outros que crêem em
Cristo e, também todas as pessoas, chamadas pela
graça de Deus à salvação”.[40] Além disso, o
parágrafo seguinte declara que a salvação é negada
“àqueles que, sabendo que a Igreja Católica foi
fundada por Deus através de Cristo por ser
necessária, recusam-se a entrar e permanecer nela”.
[41] Em outras palavras, os idólatras pagãos de
algum modo estão na Igreja, mesmo sem saber
disso, e através dela serão salvos, mas os
protestantes e especialmente os ex-católicos são
anatemizados.

O Que há de Errado Com as


Boas Obras?
Uma distinção crítica deve ser feita entre boas
obras para merecer a salvação (uma tarefa
impossível) e as boas obras (chamadas de “fruto do
Espírito” em Gálatas 5.22-23), as quais resultam do
novo nascimento pelo Espírito Santo. Um pecador
não pode tornar-se santo por praticar boas obras,
tanto quanto uma macieira estéril não poderia vir a
ser uma árvore que produz bons frutos somente
porque alguém pendurou em seus ramos maçãs
deliciosas. Os frutos resultam da natureza da árvore.
Somente depois que um pecador é salvo pela graça
e, em seguida, miraculosamente transformado por
Deus em um santo, dele podem resultar boas obras
aceitáveis a Ele. “...não por obras de justiça
praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia,
ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo” (Tito 3.5).
Além do mais, o que para nós aparenta ser
“bom”, pode parecer terrivelmente imperfeito aos
olhos de Deus. Jesus disse que “ninguém é bom
senão um, que é Deus” (Marcos 10.18). Pelo
padrão perfeito de Deus, “não há quem faça o bem,
não há nem um sequer” (Romanos 3.10; cf. Salmos
14.1,3); “todos pecaram e carecem da glória de
Deus” (Romanos 3.23). Assim sendo, aquilo que
nos parece ser uma “boa obra”, é algo inaceitável
para Deus.
Quanto a guardar a lei, “...ninguém será
justificado diante dele por obras da lei...”
(Romanos 3. 20). Imagine uma pessoa que é detida
por excesso de velocidade e pensa que pode escapar
da multa alegando que já dirigiu naquela estrada
dentro do limite de velocidade mais vezes do que o
ultrapassou. Essa desculpa jamais seria aceita por
um tribunal! Mesmo assim, multidões esperam que
suas boas obras anularão as suas más e, portanto,
poderão merecer o céu. Suponhamos que essa
pessoa diga ao juiz: “Livreme dessa vez e prometo
nunca mais desrespeitar a lei”. O juiz replica: “Se
você nunca mais desobedecer a lei, estará apenas
cumprindo o que a lei determina. Portanto, você não
merece um crédito extra apenas por cumpri-la”.
Assim sendo, viver uma vida perfeita hoje (mesmo
que isso fosse possível) não mudaria o fato de
termos cometido pelo menos um pecado
anteriormente.
Além disso, a salvação é uma dádiva, um dom:
“o dom gratuito de Deus é a vida eterna”
(Romanos 6.23). “Deus nos deu a vida eterna; e
esta vida está no seu Filho” (1 João 5.11). Não se
pode ganhar, merecer ou pagar por um presente. Ele
deve ser recebido gratuitamente ou então não é
presente. Jesus disse: “Eu lhes dou a vida eterna”
(João 10.28). A salvação e a vida eterna que a
acompanha devem ser recebidas como uma dádiva
de Deus. Qualquer tentativa de oferecer-Lhe obras é
rejeitar essa dádiva.
Não há espaço para as boas obras? Certamente
que sim. As boas obras resultam da salvação como
o fruto é produzido pela natureza e a luz surge com
o nascer do sol. Os cristãos são exortados a serem
“ricos de boas obras” (1 Timóteo 6.18) e “solícitos
na prática de boas obras” (Tito 3.8). Os cristãos
são “nova criatura” (2 Coríntios 5.17) “criados
em Cristo Jesus para boas obras” (Efésios 2.10)
das quais devemos ser zelosos (Tito 2.14).

Alguns Católicos São Salvos?


“Mas é claro que alguns católicos são salvos!”,
é sempre a resposta ouvida quando se fala a verdade
sobre o catolicismo. Sou mais caridoso do que
Roma, que anatemiza aqueles que dizem ser salvos.
Sim, alguns católicos podem ser salvos, mas
somente se crerem no mesmo Evangelho pelo qual
outras almas perdidas são salvas. Ninguém pode crer
simultaneamente em duas idéias contraditórias. Não
se pode crer que Cristo obteve a redenção pelo Seu
sangue e, ao mesmo tempo, acreditar que a
redenção deve ser completada com boas obras,
penitências, rituais e indulgências. Não se pode crer
que a salvação é pela fé e “não por obras” e
simultaneamente acreditar que as boas obras
conquistam a salvação.
Para defendê-la, sempre é dito que a Igreja
Católica Romana professa os credos ortodoxos e,
portanto, todos os católicos são cristãos. Os antigos
credos, entretanto, não contêm o Evangelho. (Com
certeza nem o Credo Apostólico, nem o de Nicéia o
revelam.) Eles declaram a divindade de Cristo, seu
nascimento virginal e que Ele “padeceu sob Pôncio
Pilatos”, mas não especificam que Ele morreu pelos
nossos pecados e que temos a vida eterna através da
fé nEle. Então é uma falácia sugerir que a Igreja
Católica Romana é evangélica porque autentica os
“antigos credos da Igreja”.
Numa pesquisa feita no início dos anos 90 em
2.000 lares na Espanha, apenas duas pessoas sabiam
claramente o que era o Evangelho (e essas eram
protestantes). As outras 1.998 eram católicas, que
pensavam que as boas obras, a freqüência à igreja,
etc. as levariam ao céu. Tenho amigos que são
missionários na Espanha, e durante 15 anos de
evangelização naquele país jamais encontraram um
católico que fosse salvo, ou que soubesse o que era
preciso fazer para ser salvo. Ter conhecimento que
os católicos estão perdidos deve fazer com que os
evangélicos trabalhem incessantemente para levar-
lhes o Evangelho.
Já me encontrei com uma multidão de católicos
que foram salvos e abandonaram a Igreja de Roma.
Nenhum deles jamais tinha ouvido o verdadeiro
Evangelho ser pregado por sua igreja. Todos foram
salvos quando creram num Evangelho que é
anátema para o catolicismo. O motivo de escrever
um livro como este é o amor e a compaixão que
temos pelos católicos e, principalmente, para que
eles possam ser salvos.
CAPÍTULO 24

O “Sacrifício” da Missa
“Fazei isto em memória de mim... Porque, todas as vezes que
comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do
Senhor, até que ele venha”.

– 1 Coríntios 11.24,26

Não deveria haver dúvida alguma na mente das pessoas de que


“todo fiel deveria prestar a este santíssimo sacramento [a hóstia
como suposto corpo de Cristo], a adoração que é devida ao Deus
verdadeiro, como sempre foi o costume da Igreja Católica. Nem
deve ser adorado um pouco menos, pois foi instituído pelo próprio
Cristo para ser ingerido”. [Citando Trento]... Ele próprio deve ser
adorado porque está substancialmente [fisicamente] presente...
total e inteiro, Deus e homem... permanentemente... através da
conversão do pão e do vinho, a qual, como o Concílio de Trento
nos diz, é mais apropriadamente chamada de transubstanciação.
...na eucaristia tornamo-nos co-participantes do corpo e do
sangue do unigênito Filho de Deus... [e] a co-participação no
corpo e sangue de Cristo não tem menos efeito do que nos
transformar naquilo que recebemos.
– Vaticano II[1]

Chegamos ao coração do catolicismo, o


aspecto único que o distingue de todas as outras
religiões e, de modo especial, do cristianismo
evangélico: o sacrifício da missa. É na missa que o
“sacrifício da cruz é perpetuado. [Ela é] a fonte e o
ponto alto de toda a adoração e da vida cristã”.[2]
Através do milagre da transubstanciação (que
somente o sacerdote católico pode executar),
declara-se que o “verdadeiro corpo e sangue de
Jesus Cristo estão presentes sobre o altar, manifestos
de forma real e substancialmente sob a aparência de
pão e vinho, para oferecer a Si mesmo no sacrifício
da missa e ser recebido como alimento espiritual na
sagrada comunhão”.[3]
Ao morrer, Cristo bradou na cruz: “Está
consumado” (João 19.30), mas para o catolicismo
ainda não está totalmente consumado. O sacrifício
de Cristo continua sendo realizado e repetido vezes
sem fim nos altares católicos até hoje. “Cada vez
que a missa é oferecida, o sacrifício de Cristo é
repetido... não é oferecido um novo sacrifício, mas,
pelo poder divino, o mesmo sacrifício único é
repetido... na missa, Cristo continua a Se oferecer
ao Pai, como fez na cruz”[4], porém de “uma
maneira incruenta, na forma de pão e vinho”.[5]
No Calvário muito sangue foi derramado. A
Igreja Católica, porém, não explica como pode
haver uma repetição sem a presença de sangue.
Além disso, a Bíblia diz claramente que “sem
derramamento de sangue, não há remissão [de
pecados]” (Hebreus 9.22). Contudo, à missa
“incruenta” é atribuído o poder de remissão dos
pecados – uma remissão que não é necessária, pois
Cristo já a realizou na cruz. A Bíblia diz: “A seguir
[Jesus], tomou um cálice e, tendo dado graças, o
deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos;
porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova]
aliança, derramado em favor de muitos, para
remissão de pecados” (Mateus 26.27-28). “Dele
todos os profetas dão testemunho de que, por meio
de seu nome, todo aquele que nele crê recebe
remissão de pecados” (Atos 10.43).
Muitos Sacrifícios ou
Somente Um?
A missa é chamada de “sacrifício propiciatório
no qual o próprio Cristo se oferece (perpetuamente)
pela salvação do mundo inteiro... [e] a obra de nossa
redenção é completada”.[6] Em contraste, a Bíblia
enfatiza repetidamente que a pena total do pecado
foi paga na cruz e foi baseado nisso que Cristo,
ressurreto “entrou no Santo dos Santos, uma vez
por todas, tendo obtido eterna redenção” (Hebreus
9.12). Lá Ele se assentou à destra do Pai, como
nosso Sumo Sacerdote (Hebreus 4.14),
representando aqueles que Ele remiu e, onde está,
vive eternamente para interceder pelos que redimiu.
Jesus “não tem necessidade, como os sumos
sacerdotes [do Antigo Testamento], de oferecer
todos os dias sacrifícios... porque fez isto uma vez
por todas, quando a si mesmo se ofereceu [na
cruz]” (Hebreus 7.27).
O contraste entre a doutrina católica e o que a
Bíblia ensina não poderia ficar mais evidente do que
neste suposto “sacrifício” da missa. Essa diferença é
exposta com absoluta clareza na distinção que a
Bíblia faz entre o sacrifício único que o próprio
Cristo fez e os contínuos sacrifícios do Antigo
Testamento, que precisavam ser repetidos
diariamente. A Carta aos Hebreus diz que a
repetição dessas ofertas prova que elas não podiam
pagar a penalidade do pecado; mas o fato de Cristo
ter sido oferecido uma única vez é a prova de que o
Seu sacrifício foi suficiente e jamais precisará ser
repetido. A necessidade de repetição da missa prova
sua ineficácia. Se uma missa não é suficiente, então
não seriam também suas milhares de repetições;
nem mesmo Roma é capaz de dizer quantas missas
são necessárias para libertar alguém do purgatório.
Os numerosos sacrifícios de animais do Antigo
Testamento eram tipos que antecipavam o sacrifício
único de Cristo sobre a cruz, o qual completaria o
que os outros não conseguiam. A Bíblia não permite
mal-entendido algum:
“...nem ainda para se oferecer a si mesmo
muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano
entra no Santo dos Santos... Doutra sorte, não
teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que
prestam culto, tendo sido purificados uma vez por
todas, não mais teriam consciência de pecados?
Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um
único sacrifício pelos pecados, assentou-se à
destra de Deus, aguardando, daí em diante, até
que os seus inimigos sejam postos por estrado dos
seus pés. Porque, com uma única oferta,
aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo
santificados. E disto nos dá testemunho também o
Espírito Santo; porquanto, após ter dito: Esta é a
aliança que farei com eles, depois daqueles dias,
diz o Senhor: Porei no seu coração as minhas leis
e sobre a sua mente as inscreverei, acrescenta:
Também de nenhum modo me lembrarei dos seus
pecados e das suas iniqüidades, para sempre. Ora,
onde há remissão destes, já não há oferta pelo
pecado” (Hebreus 9.25-10.2; 10.12-18).
A Escritura não poderia ser mais clara. O
sacrifício de Cristo foi realizado uma vez para
sempre sobre a cruz e jamais precisa ser repetido,
porque Ele pagou por completo a penalidade do
pecado. A doutrina central do catolicismo é que a
missa é o sacrifício de Cristo repetido continuamente
sobre os altares católicos. A repetição da missa é a
maior esperança do católico para um eventual
livramento final do purgatório. Essa doutrina está em
contradição direta com a Bíblia. O Concílio
Vaticano II declara: “No sacrifício da missa... o
corpo dado por nós e o sangue derramado para a
remissão de pecados são oferecidos a Deus pela
Igreja para a salvação do mundo inteiro”.[7] Se isso
é verdade, então a morte de Cristo sobre a cruz não
foi suficiente, mas era apenas um pagamento parcial
do pecado. Entretanto a Bíblia assegura que Ele
pagou a pena total pelos nossos pecados.
A Impossibilidade
Aquilo que é afirmado sobre o “sacrifício da
missa” (quer seja chamado de renovação, repetição,
reatamento ou reapresentação) é algo impossível. O
sacrifício de Cristo na cruz aconteceu num tempo
específico e cumpriu o seu propósito. Esse evento
histórico talvez possa ser lembrado e honrado, mas
jamais ser “perpetuado”, repetido ou
“reapresentado”. O mesmo ocorre com o que foi
notícia ontem ou com qualquer outro fato do
passado. E por que deveria ser, se por uma única
oferta Ele aperfeiçoou de uma vez por todas “os que
são santificados” (Hebreus 2.11)?
A fé do cristão verdadeiro está no sacrifício de
Cristo sobre a cruz. A fé do católico é depositada
sobre a suposta capacidade de repetir-se o sacrifício
em seus altares. Contudo nem mesmo o papa pode
dizer quantas repetições são necessárias. Desse
modo, em seus testamentos muitos católicos
designam grandes somas à igreja para que, depois de
sua morte, centenas ou mesmo milhares de missas
sejam rezadas em seu favor. Essa doutrina traz
incerteza em vez da total segurança que Cristo
oferece nas Escrituras. O Catholic Pocket
Dictionary [Dicionário Católico de Bolso] declara:
“... quanto mais freqüentemente o sacrifício da
missa é oferecido, mais benefício é concedido”.
Quanto “benefício” em cada missa? Ninguém sabe.
[8]
Além disso, Cristo agora tem um corpo
ressurreto, glorificado e imortal, está sentado à
destra do Pai, e jamais morrerá outra vez. Ele não
pode ser “sacrificado” na missa. Cristo declarou:
“estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos
dos séculos...” (Apocalipse 1.18). Além do mais,
seu corpo que agora vive “segundo o poder de vida
indissolúvel” (Hebreus 7.16) não contém mais
sangue algum, que é a vida da carne mortal. Seu
corpo ressurreto é imortal.

“Carne e Ossos” – Um
Corpo
Ressurreto Sem Sangue
Na noite da ressurreição, quando Cristo veio
pela primeira vez aos Seus discípulos, eles julgavam
estar vendo um espírito. Para provar que estava
vivo, Ele disse: “Vede as minhas mãos e os meus
pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai,
porque um espírito não tem carne nem ossos, como
vedes que eu tenho” (Lucas 24.39).
O incrédulo Tomé, que estava ausente na
ocasião, declarou ceticamente: “Se eu não vir nas
suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o
dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo
algum acreditarei” (João 20.25).
Uma semana mais tarde, quando Cristo voltou
a aparecer, convidou Tomé a fazer aquilo que
desejava. Jesus disse: “Põe aqui o dedo e vê as
minhas mãos; chega também a mão e põe-na no
meu lado; não sejas incrédulo, mas crente” (João
20.27). Claramente as feridas de Cristo ainda não
haviam sido “saradas”, mas permaneciam como um
memorial. A ferida aberta no lado de Cristo, na qual
Tomé pôde colocar sua mão inteira, é a maior
evidência de que não havia sangue em Seu corpo.
O sangue é a vida da carne mortal e o sangue
de Cristo foi derramado na cruz por nossos pecados:
“Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo
tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela
vossa alma, porquanto é o sangue que fará
expiação em virtude da vida” (Levítico 17.11).
Mesmo assim é dito que o vinho se transforma no
sangue de Cristo nos altares católicos – o sangue de
Seu corpo antes da crucificação, que ressuscitou
para a imortalidade.
Para repetir ou perpetuar o sacrifício de Cristo,
o Seu corpo antigo precisaria ser reconstituído. A
Igreja Católica afirma que essa espantosa façanha é
supostamente conseguida através do “milagre” da
transubstanciação, quando pão e vinho são
transformados no corpo e no sangue de Cristo.
Portanto, “o sacerdote é indispensável, visto como
somente ele com seus poderes pode mudar os
elementos do pão e do vinho no corpo e sangue de
Cristo”...[9]
O Papel Vital da
Transubstanciação
Devido ao suposto milagre da
transubstanciação, a hóstia [ou pão] que é ingerida
na missa, é adorada como o próprio Cristo. A
mesma devoção é dirigida às hóstias adicionais que
são consagradas e guardadas num tabernáculo
(pequeno receptáculo em forma de caixa, coberto
com um véu e próximo a uma luz perpetuamente
acesa). O devoto chega e reza diante das hóstias ali
guardadas como se ao próprio Cristo, crendo estar
em Sua presença. Madre Teresa expressou assim a
sua crença:
É tão bonito ver a humildade de Cristo... em Seu
permanente estado de humildade no tabernáculo,
onde Ele reduziu a Si mesmo a um pedaço tão
pequeno de pão que o sacerdote pode segurar entre
dois dedos.[10]

Uma grande hóstia é exposta para adoração,


num Ostensório – vaso de ouro ou prata com um
centro transparente para exibir a hóstia. Ver o
sacramento “estimula a fé, numa conscientização da
presença de Cristo e é um convite a uma comunhão
espiritual com Ele. Trata-se, portanto, de um
excelente encorajamento para oferecer-lhe (na
hóstia), em espírito e em verdade, a adoração que
lhe é devida”[11] Um ex-católico escreve:
[os católicos] se ajoelham diante de uma hóstia que
está num “tabernáculo” sobre um altar e crêem que
ela é realmente o próprio Cristo... Por isso, quando eu
era criança fui ensinado a fazer o sinal da cruz sempre
que passava na frente de uma igreja católica.

Nos Estados Unidos há um reavivamento da


“perpétua adoração ao Bendito Sacramento”.
Famílias paroquiais vigiam por uma hora ou mais
por semana, de modo que alguns devotos estão
fazendo todos os dias “companhia ao Cristo”, pela
adoração da hóstia durante quase todas as horas do
relógio. “O papa João Paulo II aprovou
entusiasticamente a adoração perpétua... fazendo
exposição do Santíssimo Sacramento na catedral de
São Pedro em 1981 com a finalidade de ser
adorado”. Ele disse:
Como é grande o valor do diálogo com Cristo, no
Bendito Sacramento. Não existe nada mais consolador
na terra, nada mais poderoso, para seguir em frente
na estrada da santificação.[12]
Espetáculo Pagão Para
Honrar a Cristo?
Guardada num Ostensório, a hóstia também é
carregada em procissões. Em festas especiais é
espantoso vermos a hóstia sendo carregada pelas
ruas, como um extravagante espetáculo pagão. Uma
testemunha ocular que viveu no século XVIII e
participava da grande procissão de Saragoza,
Espanha, na festa anual de Corpus Christi, escreveu:
O deão da catedral convoca todas as comunidades de
monges, todo o clero das igrejas paroquiais, o vice-rei,
governador e magistrados, os juízes dos conselhos civil
e criminal, com o chefe dos lordes do reino e todas as
fraternidades, irmandades ou corporações da cidade,
para se juntarem... na catedral metropolitana de São
Salvador, com todos os estandartes, trombetas,
gigantes [imagens de madeira com cerca de 5 metros,
vestidos com roupagens coloridas], em seus
respectivos hábitos de ofício. Além disso, reúnem-se
também todo o clero das igrejas da paróquia e monges
dos conventos para carregarem em procissão, num
andor, todos os santos de prata que estão em seus
altares e conventos. Os habitantes devem limpar as
ruas por onde passará o sacramento, cobrir o chão de
ramos e flores e colocar os melhores enfeites nas
sacadas e janelas.
O vice-rei com grande pompa vai encontrar o
arcebispo em seu palácio andando ao lado do
governador, dos juízes, de magistrados e oficiais, que
acompanham sua graça até a igreja, onde todas as
comunidades de monges, o clero e as corporações
estão aguardando... Depois do arcebispo ter feito uma
oração diante do grande altar, começa a música...
enquanto o arcebispo retira a hóstia do tabernáculo
sobre seu rico cálice [de ouro maciço] e a coloca na
grande custódia sobre a mesa do altar.
O arcebispo oficia em seu hábito pontificial... Sua
graça concede a bênção ao povo com o sacramento
nas mãos. Em seguida, com o auxílio do deão, do
arquidiácono e um cantor, ele coloca a custódia sobre
um pedestal dourado, adornado de flores e jóias de
várias damas da nobreza, que é carregado sobre os
ombros de 12 sacerdotes vestidos com os mesmas
roupas com que celebram a missa. Depois disso, a
procissão começa a deixar a igreja na seguinte ordem:
Primeiro de tudo vinha a gaita de foles e os grandes e
pequenos gigantes [figuras coloridas], dançando pelas
ruas [seguidos pela] grande cruz de prata da
catedral... [em seguida vêm 30 guildas de
comerciantes de, no mínimo, 30 pessoas cada], em
seguida os rapazes e moças do internato, com o
professor, a professora e o capelão... [em seguida
todas as ordens religiosas conduzidas pelos
franciscanos, porque eles são os mais jovens, em cerca
de 70 ordens], vestidos com os paramentos usados no
altar... há 20 conventos de frades, cerca de 2.000
deles presentes nessa ocasião solene. E 16 conventos
de freiras...[cerca] de 1.500... [mais os 1.200 padres
da paróquia]... 4.700 eclesiásticos [ao todo e] os
habitantes com quase 15.000 famílias.
[Em seguida vêm] o clero das catedrais de São
Salvador e N. S. do Pilar, com todos os seus
ornamentos sacerdotais, e os músicos das duas
catedrais, que vão adiante da custódia ou sacramento,
cantando o tempo inteiro. Em seguida, os 12
sacerdotes que carregam o pequeno toldo que vai
sobre o sacramento... O arcebispo em seu hábito
pontifício anda à direita do subdiácono, o vice-rei à
direita do arcebispo, e o diácono e subdiácono, um à
direita, outro à esquerda, todos sob o toldo.
Seis padres com incensários, de ambos os lados da
custódia, vão colocando sem parar incenso sobre o
sacramento, enquanto um se ajoelha diante da grande
hóstia e a incensa três vezes, o outro põe mais incenso
no incensário... eles fazem isso desde o início da
procissão até voltarem à catedral.
O grande chanceler, presidentes e conselheiros
seguem atrás, com toda a nobreza, homens e
mulheres, carregando velas acesas. A procissão dura
quatro horas do momento em que sai da igreja até
voltar novamente a ela. Todos os sinos dos conventos e
paróquias dos arredores tocam todo esse tempo...
A riqueza dessa procissão é inacreditável... Com toda
essa magnificência eles carregam o sacramento
através das principais ruas da cidade e todas as
pessoas que estão nas sacadas e janelas jogam rosas
e outras flores sobre o toldo que cobre o sacramento
quando ele passa.[13]

Se a hóstia é o corpo literal de Jesus Cristo


antes da crucificação, que é oferecido sobre os
altares católicos em todo o mundo, então esse
espetáculo pomposo é demasiado. Ou será que não?
Como pode aquele único corpo tornar-se um milhão
de corpos e cada um tomar a forma de uma pequena
hóstia, sendo que todas elas são literal e fisicamente
Jesus Cristo, completo e inteiro? Como pode a
ensangüentada “rude cruz, como emblema de
vergonha e dor”, transformar-se em ouro e ser
cravejada de diamantes? E como podem os bispos,
em suas vestes de finas sedas ricamente bordadas,
representar Aquele que pendia desnudo sobre a cruz
e cujo corpo inerte e moído, vestido de trajes
fúnebres, foi colocado num túmulo? Será que a
perpetuação da morte de Cristo se transformou
nessa farsa absurda?
O que esse espetáculo pagão, pomposo e cheio
de ouro e jóias tem a ver com o Calvário? Como é
blasfema essa exibição diante do mundo, do poder
arrogante de uma Igreja que segura em suas mãos o
corpo mortal de Cristo e o oferece repetidamente
sobre os seus altares!
Este dogma resulta em fanatismo, não em fé. O
assassinato dos judeus em Deggendorf, ao qual já
nos referimos, foi vingança por eles supostamente
terem roubado e “torturado” uma hóstia consagrada.
[14] Aqueles que conseguem crer que o vinho se
transforma no sangue de Cristo seriam capazes de
acreditar também no mito criado por Hitler sobre a
superioridade racial.

Realidade ou Fraude?
Este suposto poder do sacerdote de recriar
sobre os altares católicos o corpo literal de Cristo
para, em seguida, oferecê-lo a Deus “no sacrifício
da missa, [no qual] nosso Senhor é imolado... [e]
Cristo perpetua de maneira incruenta o sacrifício
oferecido na cruz”[15] é a marca registrada do
catolicismo romano. Por isso, conforme já vimos,
ele está separado por um abismo intransponível de
todas as demais religiões, especialmente do
cristianismo bíblico. O que temos aqui é a realidade
mais vital e miraculosa de todas ou a mais diabólica
fraude. Não há meio-termo.
Os católicos não podem negar que a defesa da
transubstanciação parece um equívoco já à primeira
vista. Não é possível detectar mudança alguma na
hóstia e no vinho após eles terem se transformado
no suposto corpo e sangue literais de Cristo pelo
poder único dos sacerdotes. Como, então, pode-se
ter a certeza de que esse “milagre” tenha ocorrido?
Assim como tudo mais no catolicismo, essa certeza
somente pode vir de uma fé cega naquilo que a
Igreja diz.
Sim, alguns versículos bíblicos são
apresentados como sustentação a esse dogma, mas o
católico tem de aceitar a interpretação da Igreja,
mesmo que o bom senso e uma exegese correta a
rejeitem. Há duas passagens principais das quais a
doutrina da transubstanciação é derivada: João 6.51-
57 e Mateus 26.26-28 (compare com Lucas 22.19-
20 e 1 Coríntios 11.24-25). Vamos analisá-las mais
de perto:
Literalismo ou Simbolismo?
Referindo-se à Sua crucificação, que deveria
ocorrer em breve, Cristo disse aos judeus em João
6: “...o pão que eu darei pela vida do mundo é a
minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si,
dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua
própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade,
em verdade vos digo: se não comerdes a carne do
Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não
tendes vida em vós mesmos” (vv. 51-53). O
catolicismo usa essas palavras literalmente e
recrimina o protestantismo por tomá-las
simbolicamente. Cristo também disse: “Eu sou o
pão da vida” (v. 35). Por que não tomar essa
passagem também literalmente e transformá-lo num
pão material? É uma tolice muito maior dizer que
Cristo é um pão do que dizer que um pedaço de pão
é Cristo? A Bíblia deve ser interpretada literalmente
quando se propõe a isso – mas não quando existe
uma analogia ou um simbolismo, ou então quando o
literalismo viola a lógica ou desfigura os
mandamentos de Deus.
O salmista disse: “[Deus] Cobrir-te-á com as
suas penas, e, sob suas asas, estarás seguro”
(Salmo 91.4). Por causa disso podemos dizer que
Deus é um grande pássaro? Jesus chorou sobre
Jerusalém: “Quantas vezes quis eu reunir teus filhos
como a galinha ajunta os do seu próprio ninho
debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Lucas
13.34). Claro que Jesus não falava literalmente,
embora estivesse se identificando com o “Eu Sou”
sobre quem Moisés escreveu o Salmo 91.
Jesus convocou a humanidade a crer nEle. Ele
disse a Nicodemos que todo aquele que nEle “crer
não [perecerá], mas [terá] a vida eterna” (João
3.16), e que crer nEle significa um novo
nascimento. Contudo, Jesus não se referia a um
nascimento físico, mas a um nascimento espiritual,
algo que todo católico reconhece. Ele prometeu à
mulher samaritana a “água viva” e uma “fonte”
que jorraria de dentro dela (João 4.10-14), mas
certamente Ele não estava se referindo a água física.
Ele disse aos judeus que todo aquele que nEle cresse
“do seu interior fluirão rios de água viva” (João
7.38), mas Ele não queria dizer rios físicos.
Em João 6 Jesus disse: “Eu sou o pão da vida;
o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em
mim jamais terá sede” (v. 35). Está claro que Ele
não intencionava dizer que era pão literal e físico, ou
que aqueles que nEle cressem não precisariam mais
de alimento físico ou de bebida, mas que jamais
teriam fome e sede espiritualmente. É óbvio que Ele
estava falando de assuntos espirituais, e ilustrava
Suas idéias com analogias de coisas familiares a
todos. Então, por que deveríamos tomar literalmente
as palavras de Cristo, quando alguns momentos
depois Ele diz que devemos “comer” o Seu corpo e
“beber” o Seu sangue?
Baseado nesse crucial erro de interpretação, os
católicos insistem que o pão e o vinho são,
literalmente, Cristo. Vamos seguir esta lógica: se
Cristo estivesse falando sobre o Seu corpo literal,
então deveria fazer o mesmo quando disse: “Eu sou
o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome;
e o que crê em mim jamais terá sede” (v. 35). Uma
vez que os católicos comem o corpo literal de
Cristo, eles jamais deveriam sentir fome e sede
físicas – mas está claro que eles sentem. Assim, se
“fome e sede” são termos espirituais, então assim
devem ser o comer o Seu corpo e beber o Seu
sangue. É lógico que Cristo está dizendo que aqueles
que nEle crêem recebem a vida eterna e não
precisam mais vir vez após vez até Ele para receber
outra “parcela”.
O catolicismo insiste que o fiel deve comer o
corpo e beber o sangue de Cristo com freqüência.
Quanto mais missas forem rezadas, melhor; mesmo
assim pessoa alguma pode estar segura de que vai
para o céu sem sofrer no purgatório. O Código de
Direito Canônico, cânon 904, diz: “Para lembrar
que a obra da redenção é continuamente
complementada com o mistério do Sacrifício
Eucarístico, os padres a celebram com freqüência;
de fato, a celebração diária é muito recomendada”...
[16] Contudo, a Bíblia nos garante em inúmeros
versículos, já citados neste livro, que a obra da
redenção foi consumada de uma vez por todas na
cruz e o sacrifício de Cristo não precisa ser repetido.
Cristo disse: “De fato, a vontade de meu Pai é
que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a
vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”
(João 6.40). Esse “crer em Cristo” (que Ele
equipara a comê-lO) é claramente um ato definitivo,
feito de uma vez por todas. Ele não disse que
deveria ser feito 20 ou 1.000 vezes, uma vez por dia
ou uma vez por semana. No momento em que a
pessoa crê em Cristo, ela recebe o perdão dos
pecados e a vida eterna como um dom gratuito da
graça de Deus. Fica claro que uma pessoa que
recebeu a vida eterna por seu ato único de
crer/comer não precisa repetir essa ação nunca mais.
Caso contrário, a vida eterna estaria sendo chamada
erroneamente de “eterna”, uma vez que algo eterno
precisa durar para sempre sem precisar ser renovado
ou reforçado. Analisemos novamente as palavras de
Cristo, nesse mesmo capítulo: “Em verdade, em
verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida
eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram
o maná no deserto e morreram. Este é o pão que
desce do céu, para que todo o que dele comer não
pereça. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se
alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão
que eu darei pela vida do mundo é a minha carne”
(João 6.47-51).
Onde Cristo deu a sua carne? Não foi na santa
ceia, como o catolicismo ensina, mas na cruz. Esse
erro de interpretação novamente demonstra ser
extremamente fatal. Pois, se quando Cristo disse
“Isto é o meu corpo... isto é o meu sangue” na
santa ceia referia-se a uma verdade literal, então na
realidade Ele estaria sacrificando a Si mesmo antes
de chegar à cruz! De fato, este é o estranho ensino
do catolicismo: “Nosso Salvador, na Última Ceia, na
noite em que foi traído, instituiu o sacrifício
eucarístico do Seu corpo e sangue, de modo que
pudesse perpetuar o sacrifício da cruz através dos
séculos até Sua volta”.[17]
Repetimos: se Cristo está falando de Seu corpo
e sangue físicos em João 6, então aqueles que dele
se alimentam jamais morrerão fisicamente. Mas
todos os apóstolos morreram. Se Ele não
intencionava dizer que comer o Seu corpo evitaria a
morte física, então Ele também não se referia a
comer fisicamente o Seu corpo. Jesus está
obviamente falando num sentido espiritual em todo
o capítulo, como em muitas outras passagens da
Bíblia.
É trágico perceber que os católicos são
privados de receber a vida eterna espiritual que
Cristo oferece, por serem levados a crer em um
dogma que afirma que Ele estava falando em termos
físicos. Roma afirma controlar “os méritos de
Cristo” e assim poder dispensar outra “parcela” cada
vez que um católico (assim se imagina) ingere
fisicamente o corpo e o sangue literal de Cristo. A
missa precisa ser repetida por vezes sem fim.

Parábolas Para as Multidões


Nem mesmo os católicos tomam literalmente a
passagem onde Jesus diz: “Eu sou a porta. Se
alguém entrar por mim, será salvo” (João 10.9).
Eles não dizem que Cristo é uma porta física,
através da qual deve-se passar literalmente, com o
corpo físico, para ser salvo. Ele está usando essa
analogia para ilustrar que, ao crer nEle, a pessoa
entra por uma porta que possibilita-lhe viver um
novo estado espiritual, o estado da vida eterna.
Quando Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo; quem
me segue não andará nas trevas” (João 8.12), Ele
não estava falando de luz natural mas da luz
espiritual que recebem todos aqueles que crêem
nEle. Essa idéia está em contraste com a escuridão
espiritual em que jaz este mundo.
Exemplos adicionais poderiam ser dados, mas
seriam supérfluos. Jesus continuamente convocava a
humanidade a crer nEle. Qualquer assunto que
Jesus tratasse em Suas mensagens, quer seja o novo
nascimento, a água, a ovelha, o pastor, a semente, o
semeador, as plantas, os frutos, a videira, os ramos,
o pão ou uma porta, sempre estavam acompanhados
de uma verdade espiritual. Ele falava usando
figuras de objetos físicos, as quais não deviam ser
tomadas em sua forma literal. Sabemos que,
especialmente quando Jesus falava às multidões, Ele
sempre se utilizava de parábolas. “Todas estas
coisas disse Jesus às multidões por parábolas e
sem parábolas nada lhes dizia” (Mateus 13.34).
Em João 6 Jesus também falava às multidões.
Sabemos, portanto, que Ele estava, como sempre,
falando-lhes por parábolas e usando uma linguagem
figurada espiritual, em vez da linguagem literal e
física. Há, é claro, outros motivos para afirmarmos
isso.
Mais Argumentos
Conclusivos
Era e continua sendo contra a lei dos judeus
consumir sangue (Levítico 7.26-27; 17.10-11 etc.),
e sob a inspiração do Espírito Santo os apóstolos
também admoestaram os crentes gentios, dizendo
que era “necessário” que eles se abstivessem “de
sangue” (Atos 15.28-29).
Por esse motivo, certamente, Cristo não iria
exigir que o cristão ou o judeu bebessem Seu sangue
físico e literal, nem comessem Seu corpo físico
numa cerimônia de canibalismo, algo que Ele não
aprovaria, muito menos advogaria. Está claro que
Jesus estava se referindo a crer nEle, e ilustrou isso
com símbolos de comida e bebida: “...Eu sou o pão
da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o
que crê em mim jamais terá sede. Porém... embora
me tenhais visto, não credes... quem crê em mim
tem a vida eterna... Eu sou o pão vivo... o pão que
eu darei pela vida do mundo é a minha carne... se
não comerdes a carne do Filho do Homem e não
beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós
mesmos. Quem comer a minha carne e beber o
meu sangue tem a vida eterna” (João 6.35-36, 47-
48, 51,53-54).
Será que Jesus realmente está dizendo que,
para receber a vida eterna devemos comer e beber
literalmente Seu corpo e Seu sangue? Ou Ele está
dizendo que devemos crer nEle e usa a analogia de
comer e beber para ilustrar essa verdade? Cristo
disse claramente que o crer dá a vida eterna. Mesmo
assim, afirmou que apenas quando comemos é que
podemos obter a vida eterna. Essa é uma
contradição irreconciliável, a não ser, é claro, que
comer seja sinônimo de crer.
Existe uma razão óbvia pela qual Cristo usou o
símbolo de comer. No Antigo Testamento os
sacerdotes comiam o sacrifício: “O sacerdote que a
oferecer [a oferta] pelo pecado a comerá; no lugar
santo, se comerá, no pátio da tenda da
congregação. Tudo o que tocar a carne da oferta
será santo; se aspergir alguém do seu sangue
sobre a sua veste, lavarás aquilo sobre que caiu, no
lugar santo” (Levítico 6.26-27; cf. 6.16,18; 7.6,15,
etc.).
Logo, conclui-se que Cristo estava dizendo aos
judeus que Ele era o cumprimento dos sacrifícios do
Antigo Testamento e que Seu corpo e Seu sangue
seriam entregues pelos pecados do mundo. Ele
também estava instituindo aí o sacerdócio de todos
os crentes. Enquanto estavam debaixo da lei,
somente os sacerdotes podiam comer dos sacrifícios,
mas agora todos podem compartilhar dele pela fé,
ao receber o dom da vida eterna, concedido pela
graça de Deus. Todos devem crer que o Filho de
Deus tornou-se um homem de carne e sangue
literais para morrer pela humanidade.
Existem inúmeras outras razões pelas quais
Cristo não intencionava dizer que deveríamos comer
e beber literalmente Seu corpo e Seu sangue. O Seu
sacrifício pelo pecado aconteceu apenas uma única
vez. Se fosse preciso que alguém O comesse
fisicamente, isso deveria ter acontecido naquela
hora. O corpo que foi sacrificado e deixado no
túmulo, como já vimos, ressuscitou glorificado. O
novo corpo de Cristo, no qual Ele agora vive no céu,
sentado à destra do Pai, não tem sangue e nem pode
morrer. Seu antigo corpo, cuja vida estava no
sangue, já não existe mais. Paulo disse: “Assim que,
nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos
segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo
segundo a carne, já agora não o conhecemos deste
modo” (2 Coríntios 5.16). Sugerir que o corpo de
Cristo é recriado nos altares católicos para ser
novamente oferecido pelo pecado contradiz
claramente tanto a Escritura quanto a lógica.
Os Limites da Realidade
Os católicos refutam toda essa argumentação
afirmando que crêem literalmente no que Jesus diz.
Contudo, não é o literalismo, mas sim a fantasia que
sugere que cada uma das milhões de hóstias
consumidas diariamente é a completa, inteira e total
crucificação física do corpo de Cristo. Dizem ainda
que, ao mesmo tempo, Cristo está no céu em Seu
corpo ressurreto. Quando questionados, sua resposta
normalmente é: “Mas Deus é onipresente”.
Isso é verdade, e porque Cristo é Deus, Ele está
em todo os lugares ao mesmo tempo, em Espírito.
Mas quando Cristo tornou-se homem, Ele se
sujeitou voluntariamente a certas limitações. Um
corpo físico ocupa lugar no espaço e,
conseqüentemente, só pode estar num lugar de cada
vez. Nunca será encontrada na Bíblia alguma
indicação de que Cristo estivesse corporalmente em
mais de um lugar ao mesmo tempo.
É verdade que Cristo disse: “onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no
meio deles” (Mateus 18.20). Os cristãos crêem
nessa promessa, mas ninguém imagina que Cristo
esteja ao mesmo tempo presente fisicamente num
único lugar e no meio de milhões de crentes ao
redor do mundo. Na verdade nenhum deles imagina
ser possível que Ele esteja presente fisicamente, pois
isto significaria que Ele poderia ser visto, o que não
acontece. Sugerir que milhões de hóstias sejam cada
uma individualmente o corpo físico de Cristo,
completo e inteiro, é sair da realidade e partir para a
fantasia.
Tampouco a linguagem de Cristo na Última
Ceia sustenta a transubstanciação: “[Ele] tomou o
pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o
meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em
memória de mim. Por semelhante modo, depois de
haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este
cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto,
todas as vezes que o beberdes, em memória de
mim” (1 Coríntios 11.23-25). Jesus deseja que os
cristãos relembrem a Sua morte na cruz e tomem o
pão e o vinho em Sua memória. Suas palavras não
indicam que deve haver uma repetição do Seu
sacrifício na cruz.
Notemos Suas palavras: “Isto é o meu corpo”.
Ele não disse que algum dia pedaços de pão se
tornariam o Seu corpo através do miraculoso poder
da transubstanciação e seriam manuseados pelos
sacerdotes católicos, mas que o pão, naquele
momento, era o Seu corpo. Ninguém pode tomar
essa declaração ao pé da letra, pois Ele ainda estava
em Seu corpo físico e, ao mesmo tempo, segurando
o pão em Suas mãos. Obviamente o pão era
simbólico.
Podemos ter a certeza de que nenhum dos
discípulos de Cristo imaginou que o pão que Ele
segurava fosse o Seu corpo literal. Era impossível
que aquilo pudesse ser o Seu corpo literal e, ao
mesmo tempo, Cristo estar presente em Seu corpo
físico. Essa fantasia não passava pela cabeça dos que
estavam presentes e somente veio a ser criada
muitos anos mais tarde. Essa idéia certamente não
foi ensinada por Cristo, nem temos razão alguma
para crer que os discípulos tenham extraído tal
significado das palavras de Jesus. Foi o papa
Inocêncio III quem transformou a missa como
“sacrifício” em dogma oficial no ano 1215.

Visão Idêntica no
Luteranismo
Martim Lutero foi incapaz de se libertar de
muitos elementos de seu catolicismo romano, como
o batismo infantil, etc., e muitas dessas idéias
permanecem até hoje dentro da Igreja que leva o seu
nome. Mesmo negando que ensinem a
transubstanciação, os luteranos declaram:
O verdadeiro e real corpo e sangue está de alguma
forma, de uma forma única, presente no, com e entre
o pão e o vinho, que são separados, consagrados e
consumidos na Santa Ceia. Esse é o sentido evidente
[?] da Escritura (Mateus 26.26-28; 1 Coríntios 10.16;
11.23-32)...
A doutrina luterana é que o pão e o vinho durante a
Santa Ceia se transformam no corpo e sangue de
Cristo. Como isso ocorre, não sabemos e não
compreendemos. Mas... Cristo... disse que o pão é o
Seu corpo e que o vinho é o Seu sangue. Nós
simplesmente repetimos Suas palavras...
Os que não crêem nas palavras de Cristo sobre este
sacramento não discernem nem reconhecem o seu
corpo – ou o seu sangue – na Santa Ceia e, portanto,
não podem receber o sacramento, a não ser de
maneira indigna...[18]

Não é uma questão de crer ou não nas palavras


de Cristo, mas de como essas palavras devem ser
entendidas. Não podemos tomar de maneira mais
literal quando Ele disse: “Isto é o meu corpo”, do
que quando Ele disse: “Eu sou a porta”. Tomá-las
literalmente é violar o bom senso e consentir que a
Lei de Deus seja quebrada pela prática de
canibalismo e pela ingestão de sangue, e conduz à
insensata heresia que diz que, apesar de Cristo estar
no céu em um corpo imortal e glorificado, o Seu
corpo de carne e sangue mortais, que Ele possuía
antes da crucificação, estariam sendo ingeridos
continuamente por católicos e luteranos. Isso
igualmente conduz à idéia fantasiosa de que cada
um dos milhões de hóstias ou pedaços de pão
podem ser – cada um deles – o corpo físico
completo de Cristo.
Pelo menos Lutero não ensinou que o sacrifício
de Cristo estava sendo repetido indefinidamente e
que o perdão de pecados e a vida eterna são
recebidos a prestação ingerindo o pão e o vinho.
Essa ilusão acalentada pela transubstanciação
impede que os católicos creiam em Cristo. A
eucaristia é o cerne do falso evangelho das obras
pregado pelo catolicismo.
Infelizmente, o católico devoto tem sido
afastado da fé simples em Cristo como seu Salvador
através do ritual que ele imagina ser o comer físico
do corpo e sangue de Cristo. Desse modo, a
salvação não vem através da fé, mas das obras, não
pelo crer, mas pelo comer. Não é de admirar que
para um católico seja tão difícil aceitar o Evangelho
bíblico! Ele tem sido ensinado que toda vez que
ingere o suposto corpo e sangue de Cristo, dá mais
um passo em direção à salvação e ao céu.
Obviamente essa pessoa acha difícil aceitar que
através de um ato de fé, recebendo Cristo pela fé em
seu coração, está salva eternamente e no instante da
morte entra imediatamente na presença de Cristo e
não no purgatório.
O Evangelho da graça de Deus é negado pelo
ensino de que os “méritos e graças” ganhos por
Cristo são dispensados aos fiéis através da liturgia,
especialmente através da missa. O suposto poder do
sacerdote de transformar a pequena hóstia e o vinho
no corpo e sangue literais de Cristo é o âmago da
mentira. Assim o católico, ignorante do ensino
bíblico de que um único sacrifício é suficiente e que
“já não há oferta pelo pecado” (Hebreus 10.18),
foi convencido pela sua Igreja de que os sacrifícios
de Cristo repetidos sobre os altares católicos estão
pagando pelos seus pecados:
A missa é o verdadeiro sacrifício propiciatório [pelo
qual] o Senhor é apaziguado [e] perdoa o que fizemos
de errado e os pecados...[19]

Um “Milagre”?
Os que rejeitam a fantasia da transubstanciação
são acusados de não crerem em milagres. Sim,
“para Deus tudo é possível” (Mateus 19.26;
Marcos 10.27). Contudo, para entender essa
expressão devemos considerar a natureza de Deus e
a realidade. Deus não pode se transformar em
demônio ou Satanás e também não pode mentir
(Tito 1.2). Deus também não pode tornar-se o
universo, pois pela Sua própria natureza Ele é um
Ser separado e distinto do universo e, portanto, o
panteísmo é uma concepção impossível.
Do mesmo modo, um milagre deve acontecer
dentro dos limites verificáveis da realidade. Uma
hóstia que se “transformou” no corpo e sangue de
Cristo e ainda retém todas as qualidades e
características originais exclui aquilo que é essencial
para um milagre: a sua constatação para que possa
trazer glória a Deus. Considerando que a hóstia e o
vinho permanecem como eram, o suposto milagre
continua encoberto. Para que seja aceito como tal,
um milagre precisa ser reconhecível (o paralítico
andar, o cego ver, a tempestade ser logo acalmada, o
morto ressuscitar, etc.), ou então ninguém pode
saber se ele realmente aconteceu e ninguém pode
dar glória a Deus por isso.
Claro que Deus poderia transformar uma hóstia
em carne humana. João Batista disse que Deus
poderia “...destas pedras... suscitar filhos a
Abraão” (Mateus 3.9 e Lucas 3.8). Mas se Ele o
fizesse, as pedras que haviam sido transformadas em
seres humanos não continuariam com a aparência e
com as características das pedras. Para os católicos,
transformar hóstia em carne e sangue humanos não
seria negar nem a natureza de Deus nem a realidade.
Mas a transubstanciação não é esse milagre, pois a
hóstia [supostamente] se transforma no corpo de
Cristo “sob a aparência de hóstia”.
Não existe esse tipo de milagre na Bíblia. A
abertura do mar Vermelho para que os israelitas o
atravessassem pisando em terra seca foi um feito
real, tanto para eles como para os egípcios que o
presenciaram. Ambos entenderam que aquilo era um
milagre realizado pelo poder de Deus. Suponhamos
que ele tivesse sido uma espécie de
transubstanciação – o mar Vermelho “aberto”, sob a
aparência de estar fechado, e os israelitas “andando
na terra seca”, sob a aparência de “estar
nadando” para atravessá-lo. Suponhamos que
Cristo curou um cego que continuava “com a
aparência de cego” ou ressuscitou um morto “que
ainda tinha a aparência de continuar morto”. Não
seriam suposições ridículas? Pois é exatamente o
que ocorre no “milagre da transubstanciação”!
Tomemos o milagre das bodas de Caná,
quando a água foi transformada em vinho: “Tendo o
mestre-sala provado a água transformada em
vinho... chamou o noivo e lhe disse.... guardaste o
bom vinho até agora” (João 2.9-10). Suponhamos
que, em vez disso, ele tivesse dito: “Não, isto não é
vinho, é água!” Então os criados responderiam:
“Não, senhor, é vinho!” A voz do mestre-sala se
alteraria e num tom zangado diria: “Não zombem de
mim! Parece água, tem gosto de água, portanto é
água!” Mas os criados insistem: “Senhor, é vinho.
Jesus miraculosamente transformou água em vinho
sob a aparência de água”. Não existe esse tipo de
“milagre” na Bíblia, e quando Roma faz tal
afirmação, não passa de uma tentativa óbvia de
encobrir uma fraude.

Medo, Condenação e Morte


Consideremos apenas mais uma razão pela qual
a transubstanciação não passa de uma fraude. O
salmista declarou (e Pedro citou essa profecia em
seu sermão no Pentecostes, como o fez Paulo, mais
tarde): “nem permitirás que o teu Santo veja
corrupção” (Salmo 16.10, cf. Atos 2.27; 13.35). O
corpo de Cristo não entrou em corrupção no
túmulo. Ainda assim, a hóstia consagrada e
transubstanciada, que é reservada para ministrar aos
enfermos ou exposta à adoração do público, pode se
encher de carunchos e mofo se não for consumida
rapidamente. Se ela realmente fosse o corpo de
Cristo jamais poderia se corromper.
Tragicamente, a missa se transforma num
motivo de condenação para os católicos que “são
obrigados, sob pena de cometer pecado mortal, a
assistir a missa aos domingos e dias santos”...[20]
De acordo com uma pesquisa feita no início dos
anos 90, apenas 33% dos católicos americanos
assistiam à missa “em alguns domingos”[21] e um
número bem menor participava todos os domingos,
como é exigido pela Igreja Católica. Apenas 12%
dos católicos na França (que é 90% católica) podem
ser encontrados na missa aos domingos. Isso sem
mencionar uma grande porcentagem de católicos
que vivem cometendo pecados mortais e estão,
assim, privados da “graça santificadora” e, portanto,
do “direito ao céu”.[22]
Esse dogma da transubstanciação é tão
importante para Roma que as milhares de pessoas
que não o aceitaram foram queimadas na estaca
durante a Idade Média. Foi por essa razão que a
maior parte dos 288 mártires ingleses foi mandada
para as fogueiras durante o reinado de cinco anos da
sanguinária rainha Maria, que levou o catolicismo de
volta à Inglaterra após um breve período de tênue
libertação da tirania papal.
Muitos católicos romanos devotos e sinceros
desejavam “salvar” a Inglaterra para sua amada
madre Igreja e se regozijaram quando a Reforma foi
neutralizada. Hoje são os líderes evangélicos que
estão ansiosos por anular a Reforma e, com isso,
negar a Cristo e o Seu Evangelho. E nesse processo
eles zombam daqueles que, no passado, não
consideraram preciosa a sua vida para que pudessem
preservar o Evangelho para nós.
CAPÍTULO 25

A Reforma Traída
A queima dos mártires durante o governo da rainha Maria foi
um ato que a Igreja de Roma nunca repudiou... Tampouco ela se
arrependeu do tratamento dado aos valdenses e aos albigenses*,
dos assassinatos em grande escala executados pela Inquisição
Espanhola... nem da queima dos reformadores ingleses.
Deveríamos pensar seriamente nesses fatos e deixá-los bem
vivos nos recônditos de nossas mentes. Roma nunca muda.

– J. C. Ryle, bispo anglicano, em 1885.

A Igreja Católica Romana é uma farsa... do pior e mais diabólico


tipo... uma forma de Anticristo... que deve ser rejeitada e
denunciada.

– D. Martin Lloyd Jones

Não conheço pessoas mais dedicadas às grandes doutrinas


fundamentais do cristianismo do que os católicos.

– W. A Criswell, ex-presidente da Convenção Batista do Sul dos


Estados Unidos.[1]
Descobri que minhas crenças são essencialmente as mesmas dos
católicos romanos ortodoxos.

– Billy Graham[2]

* Os albingenses, valdenses e huguenotes eram grupos de


cristãos que se opuseram à Igreja Católica durante a Idade
Média. Tinham líderes distintos, mas todos pregavam a volta
ao cristianismo bíblico.

Existe uma tendência crescente entre os atuais


evangélicos de abraçar e promover uma visão
“bondosa” do romanismo, contradizendo as
convicções mantidas pelos protestantes por mais de
400 anos. A Reforma, quando ainda é lembrada,
tem sido retratada como uma separação
desnecessária de uma Igreja que seria bíblica e
evangélica. Declarações de vários evangélicos de
hoje rejeitam a fé e as convicções dos milhões de
mártires que preferiram morrer a ter de aceitar a
transubstanciação, o purgatório, as indulgências, a
adoração aos santos e as demais doutrinas do
evangelho falso e destrutivo de rituais e obras da
Igreja Católica. Se o catolicismo permanece firme
“nas doutrinas fundamentais do cristianismo”, então
para que serviu a Reforma?
Se a visão sustentada atualmente por muitos
evangélicos está correta, então os milhões de pessoas
que foram condenadas à morte por Roma, através
dos séculos, não morreram por sua fé, mas por um
mal-entendido semântico. Isso é trágico! Se as
doutrinas católicas e evangélicas são “essencialmente
as mesmas”, então a Reforma estava baseada num
erro inacreditável, que somente agora, depois de
mais de quatro séculos, está sendo reconhecido. Mas
se não é esse o caso, e se no tempo da Reforma
protestante havia realmente diferenças claras e vitais
entre a visão católica e as grandes doutrinas
fundamentais do cristianismo, por que hoje essas
diferenças não existem mais? Por acaso o
catolicismo mudou?
Vimos que os dogmas do catolicismo, com os
quais os mártires não podiam concordar, não
mudaram. Tampouco os evangélicos, como um
todo, optaram por um Evangelho que difere da
salvação pela graça, somente através da fé, como foi
pregado pelos reformadores. Certamente homens
como Billy Graham e W. A. Criswell têm
demonstrado através de suas vidas dedicadas ao
serviço de Cristo, ganhando milhares para Ele, que
não comprometeriam intencionalmente o Evangelho
da graça de Deus revelada através de Jesus Cristo.
Por isso fica ainda mais difícil entender como eles e
outros líderes evangélicos pregam que devemos ser
um corpo comum de fé com o catolicismo romano,
algo que estaria fora de cogitação para os
protestantes das gerações passadas.
Uma das principais razões deste livro é
esclarecer os grandes mal-entendidos existentes
sobre o catolicismo. Roma encobre propositalmente
suas reais intenções com palavras amigas e esconde
seu verdadeiro caráter por trás de belas obras de arte
e comoventes manifestações de piedade. Muito do
que temos revelado até agora, assuntos relacionados
com questões políticas e históricas, a promiscuidade
sexual dos padres disseminada mundialmente e as
dezenas de milhares de casamentos anulados todos
os anos – provavelmente chocaram ou, quem sabe,
até ofenderam muitos leitores. Talvez seja através do
poder que exerce sobre a mídia que Roma consegue
projetar uma imagem que torna difícil acreditar na
verdade.
Uma vez tendo se unido em movimentos
políticos e sociais, por que católicos e protestantes
não poderiam evangelizar o mundo juntos? Afinal,
muitos deles assinaram uma declaração conjunta de
fé e compartilham da mesma moral. Quaisquer
“sutis diferenças de doutrina” não teriam grande
importância e não deveriam separar os cristãos. Esse
é o pensamento que certos líderes evangélicos, e
seus seguidores com as mesmas concepções
equivocadas, aceitam alegremente.

História Esquecida, Verdade


Suprimida
A Reforma parece ter se desvanecido no tempo
de tal maneira que seus motivos foram sendo
esquecidos. Precisamos ser lembrados de todos os
fatos, não importa quão desagradáveis sejam, para
podermos banir os mal-entendidos que embasam e
acabam promovendo o novo ecumenismo. A
maioria dos protestantes tem apenas uma vaga idéia
contra o que se “protestava” há tanto tempo atrás e
entendem menos ainda qual a sua relevância nos
dias de hoje. Mesmo assim, a nova postura de Roma
parece ter conseguido silenciar um evangelista
inabalável como Billy Graham, bem como muitos
outros evangélicos importantes. Ele visitou João
Paulo II três vezes. Pelo visto, baseado nesses
encontros, Graham o chamou de “o maior
evangelista do mundo”[3] e diz que as poucas
diferenças entre suas teologias “não são importantes
no tocante à salvação pessoal”.[4] Pelo que temos
visto, fica claro que o papa não tem sido honesto
com Graham a respeito daquilo que, conforme
vimos, é a doutrina oficial de Roma, sobre a qual
tantos evangélicos parecem estar muito mal-
informados.
Muitos evangélicos americanos parecem estar
tão ansiosos por trabalhar com os católicos que, sem
checar os fatos, aceitam a conveniente “revisão da
História” proposta por Roma. Eles pensam:
“Certamente as conclamações de Roma à paz, ao
amor e à fraternidade em Cristo são sinceras; então
vamos perdoar e esquecer o passado”.
Até mesmo as organizações evangélicas mais
importantes e alguns de seus líderes têm, vez ou
outra, encoberto os fatos a fim de não ofender os
católicos que eles esperam evangelizar. Wilson Ewin
dá um exemplo clássico de como isso ocorre:
A Associação Evangelística Billy Graham adquiriu os
direitos autorais [para uma edição especial] do clássico
comentário da Bíblia de Henry H. Halley intitulado
Pocket Bible Handbook [Pequeno Manual Bíblico] [onde
o autor] descrevia o martírio [por Roma] de milhões de
pessoas... [na sua edição para a Cruzada Billy Graham
de 1962] a Associação... removeu todas essas
páginas...[5]

Esse mesmo tipo de omissão consciente foi


feita nas edições especiais para as cruzadas de 1964
e 1969. Como resultado, os leitores não tiveram
acesso a dúzias de páginas que continham fatos
históricos vitais. Essas páginas relatavam as
maldades de alguns dos papas, como as
perseguições e assassinatos de cristãos efetuados por
Roma durante séculos já antes da Reforma. O que
reproduziremos a seguir é um exemplo dos fatos
cuidadosamente relatados por Halley em seu livro e
que podem ser encontrados nas cópias atualmente
vendidas em livrarias, mas que foram retirados das
edições especiais da Cruzada:
[Os albigenses] pregavam contra a imoralidade dos
sacerdotes [católicos], contra as peregrinações,
adoração de santos e imagens... se opunham às
reivindicações da Igreja de Roma; faziam grande uso
das Escrituras... Por volta de 1167 eles provavelmente
já haviam alcançado a maioria da população do sul da
França... Em 1208 uma Cruzada foi organizada pelo
papa Inocêncio III que resultou numa sangrenta
guerra de extermínio, quase sem paralelo na História,
quando cidade após cidade foi tomada pela espada e
seus habitantes foram assassinados sem distinção de
idade ou sexo... depois de 100 anos os albigenses já
estavam quase totalmente exterminados.
[Dois séculos mais tarde] entre 1540 e 1570, cerca de
900.000 protestantes foram condenados à morte na
guerra papal que visava o extermínio dos valdenses.
Pensem sobre os monges e padres que dirigiram com
impiedosa crueldade e desumana brutalidade o
trabalho de torturar e queimar vivos homens e
mulheres inocentes. Eles faziam isso em nome de
Cristo, por ordem direta do “vigário de Cristo”!
...Na noite de 24 de agosto de 1572, 70.000
huguenotes, inclusive a maioria de seus líderes, foram
massacrados [na famosa Noite de São Bartolomeu].
[Mais] uns 200.000 pereceram como mártires...[e]
500.000 fugiram para os países protestantes.[6]
Por Que Ocorreu a
Reforma?
Vimos que durante muitos séculos antes da
Reforma, grupos simples de cristãos já existiam fora
da Igreja Católica. Estes crentes rejeitavam as
heresias e a hipocrisia de Roma e recusavam-se a
honrar o papa. Por causa disso centenas de milhares
foram entregues aos piores tipos de morte. Cruzadas
para exterminar esses “hereges” foram organizadas
pelos papas exatamente como ocorreram contra os
judeus e muçulmanos da Terra Santa. Lembrem-se,
num só dia Inocêncio III massacrou 60.000 pessoas
no “maior feito do seu papado”.
Através do testemunho desses cristãos
perseguidos e pelas Bíblias que distribuíram entre o
povo, homens como John Wycliffe (1329-1384),
John Huss (1373-1415) e Johannes Geiler von
Kaysersberg (1445-1510) creram no Evangelho e
começaram a pregar aos seus companheiros
católicos. Multidões creram e mesmo nas fogueiras
permaneceram firmes em sua fé. Eram os
precursores da Reforma.
Embora hoje em dia no mundo ocidental a
pena de morte não possa ser legalmente decretada
contra os hereges, ainda assim é difícil ser um crente
evangélico em algumas partes da América Latina e
nas fortalezas católicas da Europa. Nesses lugares a
verdade é suprimida e, enquanto viver, o católico
comum provavelmente nunca terá acesso ao
Evangelho bíblico. Ao visitar essas regiões, logo
chama a atenção o antagonismo de Roma contra o
Evangelho, e assim conseguimos entender melhor o
que deve ter ocorrido nos tempos da Reforma.
Falando com alguns conhecidos na Espanha,
perguntei-lhes como tinha sido sua vida quando
eram católicos romanos, no que eles acreditavam e
como se tornaram cristãos. Suas histórias fariam
qualquer um chorar! Eles costumavam fazer suas
confissões ao padre e iam à missa, rezavam para as
imagens de Maria e dos santos, acendiam velas,
flagelavam-se freqüentemente e esperavam que a
Igreja Católica, de algum modo, os levasse para o
céu. Sua única esperança era que, após sua morte,
amigos e parentes continuariam mandando rezar
missas para retirá-los do purgatório.
Um desses homens ouviu o Evangelho num
cemitério, onde os católicos vão no Dia de Finados
para rezar aos santos e por seus ancestrais.
Conhecendo esse hábito pagão, um pequeno grupo
de evangélicos, desprezados na região, havia ido até
lá para distribuir literatura. Um dos jovens conheceu
o Evangelho através de um folheto que um amigo
tinha rasgado com raiva e jogado ao chão. Aquele
ex-devoto católico estava tão faminto pela verdade
que, laboriosamente, juntou os pedaços do folheto
para poder lê-lo, e foi salvo.
Em países católicos como a Espanha, a Itália
ou em grandes áreas da Europa que permaneceram
fanaticamente católicas durante muito tempo depois
que a Reforma havia se expandido, tornar-se cristão
podia custar a própria vida.
Tendo tratado principalmente da Europa em
capítulos anteriores, voltaremos nossa atenção para a
Inglaterra para ver como a Reforma chegou àquele
país e como é desonrada hoje.
Na Inglaterra as coisas aconteceram de modo
distinto do resto da Europa. O país inteiro acabou
ficando sob o controle dos protestantes. Portanto,
acabou se tornando um refúgio para os que
conseguiam fugir para lá. No início do século XVIII,
D. Antonio Gavin, padre católico espanhol, que
fugiu para a Inglaterra após tornar-se cristão,
escreveu:
[Quando] aprouve a Deus por Sua graça derrubar as
minhas idéias... que eram favoráveis a essa corrupta
Igreja, na qual eu havia nascido... [tive de] deixar
imediatamente a Espanha, onde todas as pessoas que
não professavam publicamente a religião de Roma
eram condenadas à morte.[7]

Henrique VIII, o Novo


“Papa” da Inglaterra
Mesmo antes que Martim Lutero se levantasse,
a Inglaterra teve os seus próprios reformadores, que
chamavam a hóstia consagrada de “apenas pão”,
negavam que “os sacerdotes tivessem poder especial
para absolver pecados”, não criam que “os
sacramentos fossem necessários à salvação” e não
criam que as “peregrinações, santuários consagrados
e oração pelos mortos” tivessem qualquer valor. Eles
testificavam que “uma pessoa pode ser salva
somente pela fé... [e que] a Bíblia deve ser a única
norma de fé e não a Igreja.” Por terem se desviado
do catolicismo, muitos desses “hereges” foram
condenados à fogueira, antes mesmo que a Reforma
começasse na Alemanha em 1517.[8]
Em contraste com a vida santa desses mártires,
a corrupção do clero católico inglês e de sua Igreja
era por demais óbvia ao povo comum. Até mesmo
alguns líderes da Igreja Católica falavam contra a
imoralidade dominante. Em 1489, o arcebispo
Morton denunciou que os abades viviam em suas
abadias “de forma pública e contínua com
prostitutas e amantes” e acusava monges de viveram
“uma vida lasciva... e violar os lugares sagrados, até
mesmo as verdadeiras igrejas de Deus, tendo
relacionamentos sexuais ilícitos com as freiras...”[9]
A Igreja era odiada por causa das taxas que cobrava
e de sua grande riqueza às custas do
empobrecimento do povo. Perto de 1500, a Igreja
Católica, supostamente “celestialmente
intencionada”, era, sem dúvida, a maior latifundiária
da Europa e possuía cerca de 1/5 das propriedades
na Inglaterra.[10]
Por isso, Henrique VIII caiu nas graças do
povo quando confrontou o papa sobre o assunto do
divórcio de sua consorte espanhola. Católico
declarado, Henrique VIII havia sido honrado pelo
papa com o título de “Defensor da Fé” (algo que
ainda é estranhamente mantido pelos monarcas
protestantes da Inglaterra) por sua fervorosa
polêmica intitulada “Asserção dos Sete
Sacramentos contra Martim Lutero”. Na ocasião, o
rei inglês queria a anulação do seu casamento com
Catarina de Aragão para poder se casar com Ana
Bolena, que era mais jovem, mais bela e lhe dava
esperança de ser mais fértil. Recentemente Roma
havia concedido uma anulação de casamento à irmã
de Henrique, Margarete, rainha da Escócia. Porém o
papa Clemente VII foi influenciado e pressionado
pelo sobrinho de Catarina, o imperador Carlos V, e
recusou-se a atender o desejo de Henrique. Então
Henrique VIII rompeu relações com Roma e
declarou-se o cabeça da Igreja Católica da
Inglaterra.
Para apoiar o rei, a Câmara dos Comuns [o
parlamento da época] pronunciou numerosas
acusações válidas contra a hierarquia romana: “o
clero cobrava pagamento pela administração dos
sacramentos, os bispos davam benefícios a ‘certos
jovens [seus filhos bastardos], chamando-os de
sobrinhos’... as cortes episcopais exploravam com
voracidade o seu direito de cobrar taxas de guerra e
multas; essas cortes detiveram pessoas e as
aprisionaram sem declarar quais eram as acusações
contra elas [etc.]”. O documento terminava
“pedindo ao rei uma ‘reforma’ [de modo algum
protestante] desses males”.[11]
O Parlamento acabou votando o Estatuto da
Supremacia (em 11 de novembro de 1534), que
efetivamente colocou Henrique VIII, que ainda era
católico dos pés à cabeça, no lugar do papa como
chefe da Igreja da Inglaterra. Ironicamente, os
monarcas protestantes ingleses ainda mantêm essa
posição. Will Durant escreve:
Henrique era agora o supremo juiz daquilo que, em
matéria de religião e política, o povo inglês deveria
crer. Uma vez que a sua teologia ainda era
completamente católica a respeito de tudo, exceto em
relação ao poder papal, por princípio e sem receios
começou a perseguir tanto os protestantes que
criticavam os dogmas católicos como os católicos que
criticavam sua supremacia eclesiástica...
As fogueiras teológicas continuaram até o fim do seu
reinado... Uma delas [levou à morte] uma jovem
mulher chamada Anne Askew, que sustentou sua
“heresia” durante cinco horas de interrogatório.
“Isso que vocês chamam seu Deus”, disse ela durante
o julgamento, “é um pedaço de pão, pois está provado
que, se ficar dentro de uma caixa durante três meses,
ficará mofado”.
Ela foi torturada quase até morrer para que dissesse o
nome de outros hereges, mas ela permaneceu calada
em sua agonia, e ao seguir para a morte, disse: “sou
tão feliz como alguém que está sendo enviado ao céu”.
[12]

Para queimar os hereges protestantes o bispo


de Lincoln ofereceu até “uma indulgência de 40 dias
aos bons cristãos que levassem um feixe de gravetos
para alimentar o fogo”.[13] O governo do papa real
da Inglaterra tornou-se um regime de terror. Os
súditos de Henrique nunca sabiam qual cabeça iria
rolar em seguida, se católica ou protestante.
Católicos (como o bispo John Fischer e Thomas
More) foram executados por se oporem ao rei como
chefe da Igreja da Inglaterra. Mais tarde protestantes
também se oporiam aos monarcas protestantes por
essa mesma razão, mas nenhum desses reis
protestantes executaria um súdito baseado nisso.

Preparação Para um Papel


Único
O governo tirânico de Henrique preparou a
Inglaterra para desempenhar um papel singular. Sua
religião, daí em diante, seria a do seu monarca.
Quando a Reforma protestante chegou finalmente à
Inglaterra, em breve tornou-se a religião do país
inteiro, fazendo com que aquela ilha se tornasse um
refúgio para os que fugiam da perseguição religiosa
católica em outros lugares. Os huguenotes, fugindo
da França católica onde estavam sendo massacrados,
transformaram a indústria da Inglaterra e trouxeram
grande prosperidade. Os missionários evangélicos
enviados das costas inglesas levaram o Evangelho a
todos os cantos da terra. Durant resume bem o que
ocorreu nessa época:
[Henrique] pensou em substituir o papa, ao mesmo
tempo em que preservaria imutável a antiga fé... mas
o seu bem sucedido desafio ao papado, a rápida
dispersão de monges juntamente com suas relíquias, a
repetida humilhação ao clero, a desapropriação das
propriedades da Igreja e a secularização do governo
acabaram enfraquecendo de tal forma o prestígio e a
autoridade eclesiástica que as mudanças teológicas
que se seguiram durante os reinados de Eduardo e
Elizabeth aconteceram quase automaticamente...
O fato do papado ter sido excluído dos assuntos
ingleses, durante algum tempo deixou o povo à mercê
do Estado, mas com o passar do tempo compeliu-o a
confiar em si mesmo para vigiar seus governantes, e
década após década alcançou mais liberdade e
autonomia... talvez Elizabeth e Shakespeare não
teriam surgido se a Inglaterra não tivesse se livrado do
seu pior e mais forte rei.[14]

A preparação principal para a Reforma na


Inglaterra, entretanto, se deu através da propagação
da Escritura. Mesmo durante o reinado de Henrique
VIII, cópias do Novo Testamento traduzido para o
inglês por William Tyndale foram importadas
clandestinamente da Alemanha, onde eram
impressas. O bispo de Londres confiscava todas as
cópias que conseguia e as queimava publicamente na
Praça da Cruz de São Paulo. Entretanto nada, nem
mesmo a ameaça governamental de excomungar
quem praticasse a “importação e possessão de obras
heréticas” pôde deter a propagação da Escritura ou a
chama da redenção e liberdade que a verdade bíblica
acendia nos corações famintos.
Quando foi reprovado por um católico
fervoroso ao manifestar seu desejo de traduzir a
Bíblia para o inglês, Tyndale replicou com
veemência: “Se Deus poupar a minha vida, em
poucos anos farei com que o jovem que conduz o
arado conheça mais da Escritura do que você”. Sua
oração foi respondida, e as brasas fumegantes da
verdade na Inglaterra foram reavivadas e resultaram
num incêndio que nada conseguiria extinguir.
Tyndale foi queimado na estaca em 1536.
Henrique VIII ainda estava no trono. As últimas
palavras do mártir foram: “Senhor, abre os olhos do
rei da Inglaterra”. Henrique morreu em 1547, de
olhos ainda fechados. Ele “deixou uma grande soma
para pagar missas pelo repouso de sua alma”.[15]

Os Mártires da Reforma na
Inglaterra
A morte de Henrique VIII abriu a porta a um
protestantismo fraco. Seu filho Eduardo VI era
apenas um garoto de 10 anos quando sucedeu seu
pai no trono. Tornou-se mero instrumento nas mãos
de conselheiros inescrupulosos, um joguete na luta
entre os senhores egoístas de terras e nobres ainda
no poder contra os arrendatários de terras e
camponeses que estavam sendo levados à pobreza.
A verdadeira liberdade na política e na religião ainda
era um sonho.
Doente desde a infância, Eduardo morreu com
apenas 15 anos de idade, jovem demais para ser
culpado por seu reinado infeliz. Em 1553, Lady
Jane Gray, uma protestante devota, foi forçada a
subir ao trono mesmo contra sua vontade, mas foi
removida cinco dias depois, quando a opinião
popular virou e colocou a herdeira legal, Maria
Tudor, no poder. Uma fervorosa fé católica tinha
sustentado Maria durante anos de doenças e exílio.
Em pouco tempo ela ganhou o nome pelo qual a
história ainda se lembra dela: “Bloody Mary”, Maria
a Sanguinária.
Por lei o catolicismo tornou-se novamente a
religião oficial. “O protestantismo e outras ‘heresias’
foram declarados ilegais e todas as pregações ou
publicações protestantes foram proibidas”.[16] Uma
das primeiras vítimas infelizes foi Jane Gray, a qual,
antes de colocar a cabeça para ser cortada, testificou
à multidão que estava presente:
Eu não espero ser salva por nenhum outro meio, mas
somente pela misericórdia de Deus no sangue do Seu
Filho unigênito, Jesus Cristo. Confesso que quando
conheci a Palavra de Deus, a negligenciei, amei a mim
mesma e ao mundo... mesmo assim agradeço a Deus
que, pela Sua bondade, permitiu que eu tivesse tempo
para me arrepender... Senhor, em Tuas mãos entrego o
meu espírito.[17]

No princípio boa parte da Inglaterra favoreceu


o retorno ao catolicismo (a maioria das pessoas não
entendia as questões envolvidas). Ironicamente, a
perseguição aos dissidentes durante o reinado de
cinco anos de Maria fez com que a verdade fosse
conhecida. “Os sofredores encaravam seus
julgamentos e execuções como formas ordenadas
pela Providência para testemunharem o Evangelho”.
[18] O historiador da Igreja R. Tudor Jones escreve:
A maioria dos mártires eram pessoas comuns,
incluindo muitas mulheres... os registros dos longos
interrogatórios de muitas dessas pessoas foram
preservados e se concentravam em certos tópicos
quanto às suas crenças na Bíblia e sua autoridade, à
transubstanciação, à sua atitude em relação a certas
práticas e doutrinas católicas romanas como o culto
aos santos, as orações pelos mortos e o purgatório.
Qualquer um fica impressionado com o vigor e a
habilidade com que aquelas pessoas [simples]... se
defendiam, e também com a coragem imensa das
vítimas diante de sua agonia indescritível.[19]

John Foxe foi uma testemunha ocular e um


vibrante historiador dessa violenta perseguição. O
seu Book of Martyrs [Livro dos Mártires] traz
registros detalhados de muitos julgamentos e
execuções públicas. Depois que a rainha Maria foi
deposta, uma cópia desse clássico foi colocada em
cada púlpito da Inglaterra para estar disponível a
todos. Foxe relata como, enquanto estava preso, o
arcebispo Thomas Cranmer, tomado pelo medo,
assinou sua submissão a Roma e reconheceu a
transubstanciação. No dia 21 de março de 1556, ele
foi levado diante da uma grande multidão que estava
na Igreja de Santa Maria, em Oxford, para se
retratar publicamente de suas “heresias”. Reunindo a
coragem que lhe havia faltado antes, Cranmer
surpreendeu os seus opressores quando declarou:
E agora que já estou chegando ao fim de minha vida...
vejo diante de meus olhos o céu pronto a me receber
ou o inferno pronto a me engolir; portanto declaro
diante de vós a minha verdadeira fé, segundo creio...
E agora chego ao grande assunto que tanto me
perturbava a consciência, mais do que qualquer outra
coisa que tenha feito em toda a minha vida: a
publicação de um escrito contrário à verdade, ao qual
agora revogo... porque foi escrito por medo da
morte...
E porquanto a minha mão ofendeu, escrevendo em
contrário ao que estava em meu coração, então esta
minha mão deve ser punida primeiro. Quando eu
entrar nas chamas, ela será queimada primeiro.
Quanto ao papa, eu o rejeito como inimigo de Cristo e
Anticristo, com toda a sua falsa doutrina.[20]

Os papistas ficaram chocados, gritaram ofensas


contra ele e o entregaram à execução do lado de
fora do Balliol College, da Universidade de Oxford,
no mesmo local em que os bispos Hugh Latimer e
Nicholas Ridley haviam sido queimados seis meses
antes. Foxe relata que Cranmer reforçou a sua
petição: “estendendo sua mão direita, ele a colocou
no fogo sem tremer, até que ficou carbonizada
mesmo antes que o seu corpo fosse ferido,
exclamando continuamente enquanto sua voz podia
agüentar: “esta mão indigna!”... entremeada com as
palavras de Estêvão: “Senhor Jesus, recebe o meu
espírito”, [até] que no ardor das chamas ele
expirou”.[21]
Em frente ao Balliol College, em Oxford, há
uma cruz de pedra erguida na rua de paralelepípedos
e uma pequena placa sobre a parede do prédio em
frente. Ela marca o lugar onde Cranmer, Ridley e
Latimer foram queimados por rejeitar a
transubstanciação. Perto da esquina, numa avenida
mais ampla, um monumento castigado tem
permanecido como um testemunho mudo há mais
de 150 anos. Ele dificilmente é notado ou visitado
hoje em dia. Os poucos que param lêem estas
palavras:
PARA A GLÓRIA DE DEUS E GRATA
COMEMORAÇÃO DE SEUS SERVOS,
THOMAS CRANMER, NICHOLAS RIDLEY E
HUGH LATIMER, PRELADOS DA IGREJA DA
INGLATERRA, QUE, PRÓXIMO A ESTE
LOCAL, ENTREGARAM SEUS CORPOS PARA
SEREM QUEIMADOS, SUSTENTANDO O
TESTEMUNHO DAS VERDADES SAGRADAS,
QUE ELES CONFIRMARAM E MANTIVERAM,
CONTRA OS ERROS DA IGREJA DE ROMA, E
REGOZIJANDO-SE POR TER SIDO DADO A
ELES NÃO APENAS O PRIVILÉGIO DE CRER
EM CRISTO, MAS TAMBÉM DE SOFRER POR
ELE. ESTE MONUMENTO FOI ERIGIDO POR
SUBSCRIÇÃO PÚBLICA, NO ANO DO NOSSO
SENHOR DE 1841.
Durant escreve que “à medida que o
holocausto avançava, ficou claro que havia sido um
erro. O protestantismo ganhava força com os seus
mártires, assim como ocorreu com o cristianismo
primitivo, e pelos sofrimentos e firmeza de suas
vítimas muitos católicos foram abalados em sua fé e
envergonhados de sua rainha”. Quanto a Maria, a
Sanguinária, ela “mostrou a uma Inglaterra ainda
católica a pior face da Igreja à qual servia. Quando
ela faleceu, a Inglaterra estava mais pronta do que
nunca para aceitar a nova fé que Maria havia
tentado destruir”.[22]
Reescrevendo a História
Maria foi sucedida no trono por sua meia-irmã
Elizabeth, que levou a Inglaterra de volta ao
protestantismo, terminando com o poder papal em
solo inglês. Uma refrescante brisa de liberdade
começava a soprar naquela terra, e precisava ser
detida. O papa mostrou sua fúria desde Roma,
confiante de que o seu vasto exército de súditos
leais, reforçado com indulgências plenárias, aderiria
a ele.
Como já foi mencionado, em fevereiro de 1570
o papa Pio V pronunciou a rainha Elizabeth como
herege, destronou-a de seu reino, proibiu os seus
súditos de lhe obedecerem e excomungou todos que
permanecessem leais a ela.[23] Porém Elizabeth, e a
maioria da Inglaterra, simplesmente ignorou as
declarações enraivecidas do papa. Muitos dos
fanáticos zelotes de Roma, contudo, foram
insuflados a tentar depor a rainha.
A conspiração foi descoberta, os conspiradores
foram presos e cerca de 120 padres e 60 leigos
foram executados. Estes não eram crentes
perseguidos, martirizados por sua fé, mas
revolucionários executados por traição. Ironicamente
esses traidores são honrados todo ano como os
“mártires ingleses”, enquanto as centenas de pessoas
que, sob o domínio dos monarcas católicos, foram
consumidas pelas fogueiras por causa de sua fé em
Cristo, são esquecidas.
Mencionar os evangélicos martirizados pela sua
fé ofenderia os católicos e ameaçaria o diálogo
ecumênico com Roma. Por isso a História está
sendo reescrita. Os mártires da Reforma estão, na
verdade, sendo zombados pelos líderes evangélicos
que agora aderem a Roma num espírito de
confiança e cooperação mútua. Da Inglaterra,
Michael de Semlyen escreve com ardor:
Muitos de nós fomos levados a crer que os mártires de
nossa fé foram aqueles que morreram no fogo, não
desejando e sendo incapazes de querer comprometer
sua confiança nas Escrituras... Mas em novembro de
1987, de um modo pouco comum, os jornais sérios, a
TV e o rádio passavam a dar uma cobertura incomum
à celebração em “honra aos mártires ingleses”.
Então [nós ficamos] apavorados ao descobrir que eles
se referiam aos 85 católicos romanos “heróis da
resistência à Reforma protestante”. Esses homens
foram beatificados pelo papa em Roma na presença do
bispo anglicano de Birmingham, Mark Santer.[24]

De Semlyen nos informa que “em 1987, por


ocasião da extensa cobertura da imprensa sobre a
beatificação dos 85 ‘mártires ingleses’, o Concílio
Protestante sediado em Londres” enviou o bem
fundamentado documento a todos os jornais ingleses
de circulação nacional, embora nenhum deles tenha
reproduzido parte alguma dele:
Ninguém que se preocupa com a verdade histórica
pode ficar satisfeito com as declarações feitas pela
Igreja de Roma de que os 85 súditos ingleses que
foram “beatificados” pelo papa eram mártires que
sofreram apenas pela sua fé. Os 288 mártires que
foram condenados à morte nos cinco anos de reinado
de Maria I sofreram unicamente por sua fé. Eles foram
condenados por acusações puramente religiosas,
sendo a principal delas a rejeição da doutrina da
transubstanciação... Eles jamais negaram que Maria
fosse a rainha legal da Inglaterra, nem incitaram
qualquer um dos inimigos declarados da coroa ou
estrangeiros, nem tentaram rebelião alguma ou guerra
civil. Eles não promoveram sedições em lugares
públicos nem impediram a obediência dos súditos...
Contudo, tais acusações de traição foram
legitimamente levantadas contra os católicos romanos,
que foram levados à morte no reinado de Elizabeth e
monarcas sucessores, e cujos nomes estão incluídos
na lista dessas recentes “beatificações” realizadas pelo
papa em Roma...
Nenhum católico romano foi executado nos primeiros
11 anos do reinado de Elizabeth I, ou seja, antes do
papa Pio V ter incitado os católicos romanos à rebelião,
ordenando que eles não obedecessem à rainha sob
pena de excomunhão. É um fato imutável que nenhum
católico romano foi executado apenas em razão de
suas crenças religiosas. A verdade é que a maior parte
desses leigos agora “beatificados” foi condenada à
morte por apoiar os “sacerdotes de seminário” que
desejavam derrubar o trono; 63 dos 85 “mártires
ingleses” eram “sacerdotes de seminário”, treinados no
exterior e enviados de volta para apressar as
conspirações do papa e enfraquecer o trono inglês.
Esses complôs se intensificaram após o papa Gregório
XIII ter sancionado o assassinato de Elizabeth em
1580, e após a organização da invasão [da Inglaterra,
pela Armada Espanhola] em 1588...
Tendo esse pano de fundo em mente é impossível
concordar que esses homens fossem mártires no
sentido verdadeiro do termo. Pelo contrário, o que a
Igreja de Roma está preocupada em fazer é glorificar
traidores, espiões e conspiradores.[25]

A Reforma Traída
Parece inexplicável que, dentre todos os povos,
sejam os ingleses os que evitam cuidadosamente
qualquer menção aos mártires genuínos e preferem
honrar traidores sediciosos. Quando George Carey
foi declarado arcebispo de Cantuária em abril de
1991, voltou atrás no tempo anterior à Reforma,
nomeando elogiosamente alguns arcebispos católicos
de Cantuária. Ao fazer isso, ele deliberadamente
passou por cima de muitos dos seus antecessores
nesse ofício, que haviam permanecido firmes contra
Roma. O que ficou mais saliente, por sua ausência,
foi qualquer menção ao primeiro arcebispo
protestante da Cantuária, Thomas Cranmer,
martirizado pela própria fé que Carey jurava
defender.
A história é sacrificada no altar do ecumenismo
como uma oblação a Roma. Nenhum sacrifício é
grande demais para fortificar o movimento
“unificador” que está empurrando a Igreja não-
católica de volta sob o poder papal. Recentemente a
duquesa de Kent, sete bispos anglicanos e mais de
700 clérigos ingleses converteram-se ao catolicismo.
[26] O mesmo revisionismo histórico está sendo
praticado pelos líderes evangélicos americanos que
desonram a memória daqueles que derramaram seu
sangue para preservarem o Evangelho.
Os defensores da fé católica norte-americanos
promovem o mesmo revisionismo. Peter Kreeft
escreve sobre os nobres “mártires católicos”, mas
sem explicar que eles foram executados por traição
ao Estado e não por sua fé. E ele jamais menciona o
número muito maior de mártires assassinados pelos
católicos – uma omissão totalmente indesculpável,
principalmente por se encontrar num livro cujo autor
se propõe a defender a verdade.[27] Pela
desinformação que a caracteriza, essa omissão talvez
só seja conhecida por um em cada mil protestantes,
e mesmo assim é propagada como verdade pelos
líderes evangélicos.
Enquanto Roma faz de conta que mudou e
assim pode enganar os evangélicos, os apologistas
católicos como Karl Keating, Jerry Mataties, Scott
Hahn, Thomas Howard e outros, estão promovendo
esforços para educar os católicos contra o que eles
atrevidamente proclamam ser os erros do Evangelho
dos evangélicos. O próprio papa está à frente da
denúncia contra a fé evangélica nas audiências
católicas [28] enquanto fala aos “irmãos separados”
do seu amor e do seu anseio de união com eles.

Amor e Diálogo?
Somos ensinados a amar uns aos outros como
Cristo nos amou. A psicologia popular trivializa esse
mandamento, igualando-o a uma atitude “positiva”.
Mas esquece o primeiro dever do amor: falar a
verdade (veja Efésios 4.15). O verdadeiro amor não
lisonjeia nem ameniza as coisas quando a correção é
necessária, mas aponta o erro que está cegando e
prejudicando a quem se ama. Cristo disse: “Eu
repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois,
zeloso e arrepende-te” (Apocalipse 3.19). Ao invés
disso, a idéia hoje corrente é que o amor exclui a
censura, ignora a verdade e procura a unidade a
qualquer preço. Com essa atitude, o único resultado
será o desastre.
Eugene Daniels, o conselheiro principal para as
relações eclesiásticas da Visão Mundial
Internacional, declarou: “Descobrimos que podemos
trabalhar com a Igreja Católica em termos das
necessidades espirituais dos povos, de modo muito
semelhante como temos tradicionalmente trabalhado
com as Igrejas protestantes”.[29] Outros famosos
ministérios evangélicos americanos que têm
trabalhado com os católicos como se fossem
igualmente cristãos são a Associação Evangelística
Billy Graham, a Prision Fellowship de Charles
Colson, Aliança Bíblica Universitária, Cruzada
Estudantil e Profissional para Cristo, Associação dos
Homens de Negócio do Evangelho Pleno, Jovens
com uma Missão, Tradutores da Bíblia de Wycliffe e
outros.[30] Obviamente essa situação relativamente
recente, peculiar à nossa geração, é extremamente
significativa e avança na proporção em que Roma
intensifica seus esforços para se apresentar como
sendo “evangélica”.
Um cristão que tem o amor de Cristo em seu
coração gostaria de perdoar os acontecimentos do
passado, mesmo que este seja repleto de opressão,
torturas e morte. Mas a Igreja Católica não pediu
perdão nem admitiu erro algum. Até o presente
momento, os dogmas de Roma não mudaram e o
seu falso evangelho continua enviando milhões de
almas para o juízo eterno. A salvação das almas é a
grande questão: como o homem pode ser perdoado
e ter a certeza da eternidade no céu? Tudo mais é
secundário. O catolicismo é um evangelho
falsificado. Nenhuma quantidade de diálogo é capaz
de mudar esse fato; apenas prepara o palco para o
comprometimento.
“Diálogo” é uma tolice popular que não era
ouvida nos dias dos mártires. Diálogo? Era dobrar-
se à autoridade imperiosa de Roma e aceitar o seu
falso evangelho sem questionar ou então morrer nas
mãos dela. Roma não modificou seus dogmas,
apenas mudou suas táticas. O Vaticano II diz
claramente que os ensinos de Roma são
“irreformáveis”.[31] Nesses “diálogos”, seus agentes
insistem que, em última análise, a Igreja Católica
Romana é a única Igreja verdadeira, que detém os
sacramentos que conduzem à salvação e jamais
dividirá essa distinção com outros.[32]
O propósito do diálogo é trazer os “irmãos
separados” outra vez para estarem debaixo do poder
papal, e infelizmente muitos evangélicos têm
começado a trilhar esse caminho em todo o mundo.
Nos Estados Unidos, em janeiro de 1986, a Igreja
Católica Romana e outras 29 denominações
protestantes anunciaram planos para um esforço
evangelístico de âmbito nacional chamado
“Congresso 88”. O comitê de liderança incluía
membros de muitas denominações protestantes.[33]
Teria o apóstolo Paulo se juntado aos judaizantes
para fazer evangelismo? Em 1992 um grupo
ecumênico formado por 19 líderes religiosos dos
Estados Unidos encontrou-se com João Paulo II
“para explorar possibilidades de um esforço
internacional interconfessional para combater a
pornografia, inclusive infantil”.[34] Teriam Lutero e
Calvino se juntado aos papistas para lutar contra a
imoralidade? Claro que não, porque a moral e a
solução dos males sociais não podem ser dissociadas
do Evangelho.
Dois artigos principais, de 13 páginas, no
Bookstore Journal de fevereiro de 1992, a
“publicação oficial da Associação dos Livreiros
Cristãos Americanos” convidou seus membros a
considerar os clientes católicos como “irmãos e
irmãs em Cristo”. Tragicamente, isso impedirá que
os católicos possam ouvir o Evangelho de que tanto
precisam. Até mesmo alguns grupos de líderes
evangélicos que, de certo modo, fazem um trabalho
recomendável de advertir a Igreja contra as falsas
doutrinas e seitas, diminuem suas críticas quando se
trata do catolicismo romano, e a mídia cristã está se
tornando a principal promotora desse
comprometimento.
Numa transmissão da Trinity Broadcasting
Network, a maior rede de TV evangélica americana,
o seu fundador, Paul Crouch e o popular
televangelista da cura pela fé, Benny Hinn,
declararam que a doutrina católica romana não os
preocupa, pois, afinal de contas, os católicos “amam
Jesus”. O mesmo fez Ghandi e também fazem
muitos muçulmanos, sem falar dos mórmons e
testemunhas de Jeová. Mas qual “Jesus” eles
“amam”? A Bíblia adverte sobre “um outro Jesus” e
“outro evangelho” (2 Coríntios 11. 4 e Gálatas 1.6-
7) e Roma certamente tem os dois. Crouch disse a
dois padres e uma leiga católica influente que eram
convidados em outro programa:
Na essência, nossa teologia é basicamente a mesma:
algumas dessas “diferenças doutrinárias”... são
simplesmente questões de semântica. Um dos
aspectos que nos têm dividido [referindo-se à
transubstanciação] durante todos esses anos não
precisava existir... na verdade, estávamos querendo
dizer a mesma coisa, apenas expressa de maneira
diferente...
Isto eu digo aos críticos e teólogos escrupulosos: “Vão
embora, em nome de Jesus! Andemos de mãos dadas
[com Roma] em espírito de amor e unidade...
[aplausos da audiência]”.[35]

Até mesmo evangélicos renomados como J. I.


Packer e Os Guiness abraçaram o catolicismo
romano como sendo basicamente cristão e advogam
o trabalho conjunto com os católicos para a
evangelização do mundo, como ficou evidenciado
quando assinaram o documento chamado
“Evangélicos e Católicos Unidos”. Um dos mais
conceituados apologistas evangélicos, Norman L.
Geisler, declarou que os católicos “crêem na
justificação pela graça” e que as diferenças entre
católicos e evangélicos “não são tão grandes como
geralmente se pensava e não são cruciais... [nem]
representam heresia... todos os aspectos centrais da
teologia cristã histórica são comuns aos dois”.[36]
Mas como já demonstramos, não é esse o caso.

A Questão Imutável:
Salvação de Almas
Alguns evangelistas, inclusive Billy Graham e
Luis Palau, há muito têm prometido não tentar
converter [para outra religião] os católicos, que
“geralmente constituem-se no maior grupo
denominacional” durante as cruzadas evangelísticas
de Graham.[37] Certamente isso faz sentido caso os
católicos forem considerados agora como cristãos.
Os nomes dos católicos que vêm à frente quando é
feito o apelo são enviados de volta às suas igrejas
católicas para serem aconselhados e discipulados.
Nos Estados Unidos, os bispos católicos anunciam
que essas cruzadas são o melhor meio que
conhecem para trazer de volta à Igreja Católica os
católicos relapsos.[38] Disse Graham: “Estamos
encantados porque a Igreja Católica Romana agora
coopera conosco aonde formos”.[39] Essa
cooperação envolveu cerca de 400 “conselheiros”
católicos na cruzada ocorrida em setembro de 1990
no Coliseu Nassau em Long Island. O escritório
local de Renovação Carismática Católica anunciou
que a cruzada “representa uma oportunidade para os
católicos que a assistirem de serem reagregados às
suas paróquias através do estudo da Bíblia católica”.
[40] A cruzada de Saint Louis, ocorrida em 1991,
foi co-patrocinada pela arquidiocese de Saint Louis
e envolveu de 300 a 400 “voluntários da paróquia”.
[41]
Após receber um doutorado honorífico na
Abadia de Belmon (uma faculdade jesuíta) Graham
disse: “O evangelho que construiu esta escola e o
Evangelho que me traz aqui nesta noite permanece
sendo o caminho para a salvação”.[42] Certamente
tanto os que foram martirizados quanto aqueles que
os atiraram às chamas estavam convencidos de que
havia uma grande diferença entre católicos e
protestantes no tocante à salvação.
Charles Dullea, um jesuíta e oficial do Vaticano
assegurou aos católicos que assistiram as cruzadas
de Graham: “um católico não ouvirá nada que
desrespeite a autoridade do ensino da Igreja, nem
das prerrogativas papais ou episcopais, nenhuma
palavra contra a missa e os sacramentos ou práticas
católicas”.[43] (Apesar disso, o papa e os seus
apologistas se opõem ao fundamentalismo e à
mensagem evangélica. O Vaticano financiou a
construção do rádio-transmissor mais potente da
América do Sul que seria usado especialmente para
combater os evangélicos.) Outros evangelistas têm
adotado a mesma atitude em relação a Roma. Um
jornal do Sul da Califórnia trouxe a seguinte notícia:
O evangelista natural de Porto Rico, Dr. Raimundo
Jimenez, está de volta à TV em Los Angeles com um
singular Evangelho multilingüe de alcance tanto das
comunidades que falam espanhol quanto das que
falam inglês e vivem nas imediações dessa imensa
área, cerca de 17 milhões de pessoas.
A emissora afirma ter verificado que a maior parte dos
hispânicos são católicos romanos nominais. “De fato,
acredita-se que no Sul da Califórnia, entre cada seis
milhões de hispânicos existem menos de 200.000
[cerca de 3%] evangélicos”, diz Jimenez. “Contudo,
não permitimos quaisquer ataques contra a Igreja
Católica... Somente apresentamos o positivo Evangelho
de Jesus Cristo”.[44]

O catolicismo é uma imitação de cristianismo,


em alguns aspectos tão semelhante à verdade que, a
não ser que haja uma clara distinção, quem tenta
apresentar o “verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo”
trabalha em vão. Um dos maiores problemas é que
os católicos crêem no Evangelho e ao mesmo tempo
acreditam no que é acrescentado a ele pela Igreja
Católica, o que anula a verdade. Paulo “dissertava
na sinagoga entre os judeus e os gentios piedosos;
também na praça, todos os dias, entre os que se
encontravam ali” (Atos 17.17). Em seus dias, Jesus
corrigiu firmemente os escribas e aqueles que eram
iludidos por eles. Não deveríamos fazer o mesmo?
Não é gentileza alguma com os católicos deixá-los
ser condenados por seus erros.

Mais Que um Mal-


Entendido
Muito pior do que não apontar os erros do
catolicismo é simplesmente aceitar candidamente
que os católicos são cristãos, negando que eles
precisam do Evangelho. Esse é o grave erro da
declaração conjunta intitulada “Evangélicos e
Católicos Juntos: A Missão Cristã no Terceiro
Milênio”, à qual nos referimos no Volume 1 deste
livro. Esse documento histórico, assinado por
diversos líderes evangélicos, deixa implícito que os
reformadores deviam estar enganados, que todos os
católicos ativos de então, conforme hoje se presume,
eram salvos mas não sabiam disso, e que o
evangelho de Roma acerca da transubstanciação,
dos ritos sacramentais, das orações aos santos, das
boas obras, das indulgências e do purgatório salva as
almas.
Se isso é verdade, então os mártires estavam
enganados ao se opor àquele evangelho que,
segundo sua convicção, vinha do inferno. Porém
agora os católicos querem nos assegurar que, na
verdade, ele provinha do céu. As dezenas de
milhões de católicos que desde a Reforma já
receberam a Cristo pela fé e abandonaram a Igreja
Católica também foram enganados. Então toda a
Igreja evangélica de hoje está igualmente iludida
sobre o significado de ser cristão. Então Roma
esteve correta o tempo todo e devemos nos unir ao
seu evangelismo. Mesmo assim, o apologista
católico Peter Kreeft admite:
Durante os últimos 25 anos tenho feito esta pergunta
a centenas de estudantes de colégios católicos: se
você morresse esta noite e Deus lhe perguntasse
porque Ele deveria deixá-lo entrar no céu, qual seria a
sua resposta? A grande maioria simplesmente não
sabia qual a resposta correta à mais importante de
todas as perguntas, que é a própria essência do
cristianismo. Geralmente eles nem sequer mencionam
Jesus.[45]

Aqui temos uma admissão de que a Igreja


Católica não ensina a “salvação pela graça e pela fé”
de um modo que a maioria dos católicos consiga
entendê-la. Lutero, Calvino e outros reformadores
não chegaram a conhecer o Evangelho bíblico
durante os muitos anos que viveram como católicos
devotos. Na verdade, eles afirmavam que Roma não
ensinava esta verdade e apelaram à Igreja que o
fizesse. A resposta ouvida foi: “Não!”
No mesmo livro, Kreeft afirma que Roma
ensinou, e continua ensinando, o verdadeiro
evangelho e que a Reforma foi baseada num infeliz
mal-entendido. Mesmo assim, esse “mal-entendido”,
segundo ele mesmo admite, persiste ainda hoje,
mesmo na mente dos estudantes inteligentes que
cresceram na Igreja Católica. Por quê? Porque não
se trata simplesmente de um mal-entendido: Roma
tem acrescentado à justificação pela fé um
complexo sistema religioso fazendo com que os
católicos abracem um evangelho falso. Essa é a
legítima perversão condenada por Paulo em Gálatas
1.6-9. Um missionário, amigo deste autor, que
passou anos fazendo evangelismo de porta em porta
e nas ruas da Espanha, relatou tristemente:
Por aqui ainda não encontrei um único católico que
pudesse explicar o que é o Evangelho ou o que ele
deve fazer para ser salvo... todos ficam incrédulos
quando lhes explico que tenho certeza de ir para o céu
após a morte, porque as Escrituras dizem isso e Deus
não mente. Nenhum deles diria que, para ser salvo, é
suficiente apenas crer em Jesus e que só o sangue de
Jesus é, em si mesmo, o preço suficiente que foi pago
para redimi-los da maldição do pecado. Quanto mais
envolvidos eles estão no catolicismo romano, parece
que mais firmemente mantêm a necessidade das boas
obras acrescentadas à “fé”.

Uma Tênue Centelha da


Verdade
Se realmente amamos os perdidos como a nós
mesmos, não importa qual seja sua filiação religiosa,
aumentaremos nossos esforços para entregar-lhes a
verdade do Evangelho antes que seja tarde demais.
Essa era a paixão do bispo Hugh Latimer, o mais
poderoso pregador inglês do seu tempo. Ele havia
ousado expor os erros da transubstanciação e do
falso evangelho de Roma, mesmo durante o reinado
de Henrique VIII. Por esse motivo foi aprisionado
na Torre de Londres. Quando Eduardo chegou ao
poder, Latimer foi libertado e continuou sua
apaixonada pregação do Evangelho da salvação pela
graça e fé na obra perfeita de Cristo até que, no
reinado de Maria a Sanguinária, ele foi aprisionado
novamente e queimado no Balliol College, no dia 16
de outubro de 1555.
Atado com correntes de ferro na mesma estaca
que o bispo Nicholas Ridley, Latimer foi ouvido
quando gritava ao seu companheiro de martírio, à
medida em que as chamas os envolviam:
Tenha coragem, senhor Ridley, e seja homem. Nós
hoje, pela graça de Deus, acendemos uma tal chama
na Inglaterra que, estou certo, jamais se apagará![46]
Essa é a herança do protestantismo atual, que
os líderes evangélicos desonram e até mesmo
repudiam. Os líderes cristãos, que também jamais
teriam conhecido o Evangelho se não fosse por
causa dos mártires que bravamente se levantaram
contra Roma, estão agora se aliando, em uma
associação profana, com a mesma instituição que
derramou o sangue dos mártires!
Sim, a mulher cavalga a besta, e faz parte de
sua jornada uma aliança profana com aqueles que
deveriam saber quem ela realmente é.
Permaneçamos firmes contra as trevas que
aumentam, como a chama acesa pelos corpos
imolados de incontáveis mártires, que brilha
timidamente e está cada vez mais fraca em nossos
dias.
CAPÍTULO 26

Apostasia e
Ecumenismo
É dever sagrado de todo cristão orar contra o Anticristo, e
nenhum homem são deve levantar qualquer dúvida quanto à
identidade dele. Se não for o papado na Igreja de Roma, então não
há nada no mundo que possa ser chamado por esse nome.
Ele fere a Cristo porque rouba Sua glória, põe a eficácia
sacramental no lugar de Sua expiação e levanta um pedaço de pão
no lugar do Salvador...
Se lutamos em oração contra o papado porque ele está contra o
Senhor, devemos amar as pessoas embora reprovemos seus erros;
amemos suas almas, embora abominemos e detestemos seus
dogmas.

– Charles Haddon Spurgeon[1]

Estou erradicando a palavra protestante até mesmo do meu


vocabulário... Não estou protestando contra coisa alguma... [está
na hora] de católicos e não-católicos se unirem em um só no
Espírito e serem um no Senhor.
– Paul Crouch na rede evangélica americana TBN[2]

É tempo dos protestantes irem ao pastor [o papa] e dizerem:


“Que precisamos fazer para voltar ao lar?”

– Robert Schuller[3]

As declarações que apresentamos no início


deste e do capítulo anterior indicam a dramática
mudança de pensamento dos líderes cristãos em
relação ao catolicismo romano ocorrida desde os
dias de Spurgeon (1834-1892) até o presente.
Durante 350 anos a maioria dos credos protestantes
identificava o papado como o sistema do Anticristo.
Essa identificação está agora caindo por terra. O
mais importante dos evangelistas com alcance
mundial chamou certa vez João Paulo II de “o maior
líder religioso do mundo moderno...”.[4] Um dos
maiores “especialistas em família” dos Estados
Unidos considera o papa como “o mais eminente
líder religioso que usa o nome de Jesus Cristo”.[5]
Estamos sempre ouvindo a respeito de líderes
evangélicos que, após visitarem o papa, voltam
convencidos de que ele é “nascido de novo”. Se isso
é verdade, como ele pode continuar exercendo o
ofício fraudulento de ser líder desse corrupto
sistema religioso, com o seu falso evangelho de
obras e rituais que tem enviado multidões para a
condenação eterna?
Em todo o mundo um crescente número de
evangélicos está aceitando os católicos como cristãos
e parecem não ter problema algum em se unirem
com eles para a evangelização do mundo. Esse fato
tornou-se claro pelo título da histórica declaração
conjunta [que analisamos no Volume 1] assinada por
líderes católicos e evangélicos: Evangélicos e
Católicos Unidos: Missão Cristã do Terceiro
Milênio. Os dois grupos declararam sua parceria
total na missão cristã de levar o Evangelho ao
mundo e concordaram em não mais evangelizar uns
aos outros. “Não é teologicamente legítimo e nem
prudente que uma comunidade cristã [evangélicos]
use seus recursos para fazer proselitismo entre os
membros ativos de outra comunidade cristã
[católicos]”.[6] Alguns importantes evangelistas
protestantes agora estão realizando cruzadas em
parceria com os católicos. Entretanto, D. Martyn
Loyd-Jones explica por que não poderia tolerar tais
cruzadas na Inglaterra:
Quero lembrá-los que os reformadores protestantes
não eram simplesmente fanáticos zelosos ou tolos.
Seus olhos foram abertos pelo Espírito Santo... Eles
viram essa horrenda monstruosidade descrita na Bíblia
e alertaram a todos a seu respeito. Chegando a
arriscar suas próprias vidas, eles se levantaram e
protestaram...
Um cristianismo que prega simplesmente “Venha a
Cristo!” ou “Venha a Jesus!” não pode concorrer com
Roma. Provavelmente, ele fará apenas aumentar o
número dos que pertencem a Roma. Pessoas que
fazem campanhas evangelísticas e dizem: “Você é
católico romano? Então volte para a sua Igreja”,
negam os ensinos do Novo Testamento. Precisamos
alertar as pessoas!

Já mostramos que a besta de Apocalipse 13 e


17 representa tanto o Império Romano revivido
quanto o Anticristo. A falsa Igreja, sediada em
Roma, é a mulher montada na besta. Mas essa
identificação da mulher, que durante séculos foi
quase unânime entre os protestantes, agora é aceita
somente por alguns líderes evangélicos. Um novo
espírito de ecumenismo está tomando conta do
mundo cristão. Pense a respeito deste texto, extraído
do editorial da revista Cristianity Today
[Cristianismo Contemporâneo]:
À medida que [católicos e evangélicos] discutíamos o
significado do Evangelho e o que Cristo representa
para nós, tornou-se claramente evidente que
compartilhávamos uma fé comum... Os católicos
romanos tradicionais aceitam a doutrina da salvação
somente pela graça... Eles [católicos e evangélicos]
compartilham a promessa do Pai de que foram por Ele
aceitos, e assim seria melhor que eles, Seus filhos, se
aceitassem mutuamente.[7]

Nada poderia estar mais longe da verdade,


como já demonstramos exaustivamente. A visão de
graça, fé e salvação para os católicos não é, de
modo algum, igual ao que a Bíblia ensina. Contudo,
a desinformação sobre o catolicismo continua. Por
exemplo Tom Huston, o então diretor executivo do
Comitê Para a Evangelização Mundial de Lausanne,
disse numa sessão plenária durante o Lausanne II,
que ocorreu em Manila em 1989:
Há seis [sic] atos da salvação de Deus em Jesus
Cristo... a encarnação... a cruz... a expiação... a
ressurreição... a ascensão... o Pentecostes... a
Segunda Vinda de Cristo. Bem, todas essas Igrejas
(Anglicanas, Católicas Romanas, Luteranas,
Evangélicas, Ortodoxas, Pentecostais) crêem em todos
esses seis [sic] atos de salvação... Façamos como
nosso imutável objetivo permanecermos juntos...
conforme foi refletido no Pacto de Lausanne.[8]

Dessa forma, aprendemos com o próprio


diretor citado, que desde o princípio o Pacto de
Lausanne pretendia incluir também católicos e
ortodoxos! Essa revelação foi um choque aos
participantes que conheciam as heresias de Roma,
algo que Huston negou em seu discurso. Delegados
da América Latina, que conhecem tão bem o
catolicismo, recusaram-se terminantemente a aceitar
os católicos como cristãos. Seu protesto foi
temporariamente respeitado, mas tudo indica que a
tendência à cooperação plena com os católicos é
irreversível.

Uma Via de Mão Única


Os evangélicos que imaginam uma parceria
igualitária com Roma parecem estar cegos diante do
que é óbvio. O termo “irmãos separados”, conforme
foi usado no Vaticano II e desde então aparece nos
documentos ecumênicos católicos, indica
inequivocamente que a “unidade” só poderá ser
obtida se os não-católicos se juntarem à Igreja
Católica. Esse fato também foi declarado em
numerosos pronunciamentos papais aos fiéis
católicos ainda antes do Vaticano II. O exemplo a
seguir é típico de Pio XII:
Não devemos calar ou esconder com termos ambíguos
a verdade do ensino católico... que a união verdadeira
só será possível mediante o retorno dos cristãos
separados à única Igreja verdadeira de Cristo.[9]
Pois aos que não pertencem ao corpo visível da
Igreja... ninguém pode dar garantia da salvação
eterna, porque... eles ainda estão privados dos auxílios
e favores celestiais que só se encontram dentro da
Igreja Católica.[10]

Aqui podemos ver novamente Roma ensinando


que uma pessoa não pode simplesmente vir a Cristo
e ser salva através da fé no Seu sacrifício todo-
suficiente pelo pecado. Existem outros “auxílios e
favores celestiais” necessários para que alguém seja
salvo, e eles são encontrados apenas dentro da
Igreja Católica Romana. Felizmente já se foi o
tempo em que esse dogma tinha de ser aceito sob
pena de morte. Contudo, aquele tempo voltará,
talvez bem mais cedo do que se imagina.
O ecumenismo não é uma parceria igualitária
mas uma via de mão única em direção a Roma.
Pode-se observar um esforço muito grande da parte
dos defensores do catolicismo em refutar os erros e
inadequações dos evangélicos. O livro de Thomas
Howard que descreve sua viagem a Roma recebeu o
título de Evangelical Is Not Enough [Evangélico
Não é o Bastante].[11] Fitas e livros desse tipo são
oferecidos gratuitamente por distribuidores cristãos e
vendidos sem objeção em muitas livrarias cristãs.
Mesmo assim, muitos desses mesmos distribuidores
e livreiros que manejam material católico recusam-se
a estocar livros e fitas que, de alguma forma,
critiquem o catolicismo, mesmo que essas críticas
mostrem a verdade.[12]

A Nova Estratégia:
Ecumenismo
Tendo perdido o status de Igreja oficial na
maior parte dos países do mundo e não mais
podendo impor a pena de morte para quem
discordar de seus dogmas, Roma resolveu adotar
novas táticas. Foi por sua iniciativa, logo após a
publicação da Dignitatis Humanae (Declaração da
Liberdade Religiosa) do Vaticano II, que as
concordatas, nos poucos países onde somente o
catolicismo era permitido, foram mudadas para
conceder a liberdade de religião. Isso ocorreu na
Colômbia em 1973, abrindo a porta a todas as
religiões e separando a Igreja do Estado. A mesma
ação foi levada a efeito em 1974 no Cantão de
Valais, na Suíça, seguida em 1975 pela anulação do
Artigo 24 da concordata com Portugal, de 1940. A
liberdade religiosa foi concedida à Espanha em
1976, pela revisão da concordata para prover a
separação entre Igreja e Estado, seguida pela mesma
ação no Peru em 1980 e na Itália em 1984.
Finalmente, em julho de 1992, leis garantindo
liberdade de religião para não-católicos entraram em
vigor no México (embora ainda persista a
perseguição e até a morte de evangélicos por
católicos). Esses movimentos não refletem
generosidade da parte de Roma, mas uma esperta
estratégia de tomar a iniciativa de efetuar o que seria
inevitável no mundo de hoje.
O catolicismo se tornou o líder ecumênico num
movimento de união não apenas entre os “irmãos
separados” do protestantismo, mas de todas as
religiões mundiais numa nova Igreja Mundial. À
grande audiência hindu que se reuniu na Índia em
1986, João Paulo II declarou: “A missão da Índia...
é crucial, por causa de sua intuição da natureza
espiritual do homem. De fato, a maior contribuição
da Índia ao mundo é poder oferecer uma visão
espiritual do homem. E o mundo faz bem em
atender de bom grado a essa sabedoria antiga e nela
encontrar o enriquecimento da vida humana”.[13]
Que admirável recomendação do hinduísmo!
Um dos mais influentes líderes hindus, Sri
Chinmoy, conhecido como “o guru das Nações
Unidas” (onde faz reuniões de meditação duas vezes
por semana com os funcionários), foi elogiado por
mais de um papa. Os mais de 80 centros de
meditação que Chinmoy mantém ao redor do
mundo têm levado milhões de pessoas às trevas do
hinduísmo, mas mesmo assim João Paulo II
considera-o um amigo e cooperador e o tem
saudado com estas palavras: “Bênçãos especiais para
você... [e] para os seus membros. Devemos
continuar unidos”. O papa Paulo VI disse a
Chinmoy: “A vida hindu e a vida cristã devem seguir
juntas. Sua mensagem e a minha são a mesma”. E
agora os líderes evangélicos estão dizendo que o seu
evangelho e o evangelho de Roma são o mesmo!
Roma obviamente será o quartel-general da
nova religião mundial, e a hierarquia católica estará
no comando. Ela já está fazendo preparativos nesse
sentido emitindo simpáticas declarações de aceitação
a qualquer coisa, desde o vodu até o
evangelicalismo, enquanto ataca os evangélicos.
Durante a viagem que fez à África em 1993, o papa
“procurou similaridades com os seguidores do
vodu... sugerindo que eles não trairiam sua fé
tradicional ao se converter ao cristianismo”.[14]
Explicando que “a Igreja Católica... deseja
estabelecer relações positivas e cooperativas com...
várias crenças, tendo em vista um enriquecimento
mútuo”, João Paulo II declarou que “o Concílio
Vaticano II... reconheceu que em [todas] as diversas
tradições religiosas existe algo bom e verdadeiro, as
sementes da Palavra. Ele encorajou os discípulos de
Cristo a descobrir ‘as riquezas que um Deus
generoso distribuiu entre as nações’”.[15]
Tentem imaginar Moisés sugerindo a Israel
“descobrir as riquezas” que poderiam ser
encontradas nas religiões que cultuavam ídolos
pagãos ao seu redor, ou Paulo sugerindo aos cristãos
em Éfeso “descobrir as riquezas” da adoração pagã
no templo de Diana! Então, o que os líderes
evangélicos estão fazendo ao querer se tornar
parceiros de Roma?

Abraçando Todas as
Religiões
Assim como madre Teresa fazia, João Paulo II
também fez ao elogiar todas as religiões. Existem
centenas de exemplos, mas temos espaço para citar
apenas alguns. Em 1985, falando para os
muçulmanos em Bruxelas, Bélgica, o papa disse:
“Cristãos e muçulmanos, nos encontramos uns aos
outros na fé em um único Deus... [e] nos
esforçamos para pôr em prática... o ensinamento de
nossos respectivos livros sagrados”.[16] O Alá do
islamismo não é o Deus da Bíblia, tampouco poderia
cristão algum recomendar os ensinos do Corão. Em
1993, quando se encontrou com líderes
muçulmanos na África Ocidental, o papa “convocou
cristãos, muçulmanos e animistas... a respeitarem as
crenças religiosas uns dos outros...” [17] Como
pode alguém respeitar crenças que levam as pessoas
para o inferno? Longe de nós pedirmos para que se
“respeitem” as crenças pagãs; afinal, a Bíblia as
condena.
Em 1981, num encontro com xintoístas e
budistas em Tóquio, João Paulo II louvou a
sabedoria de suas antigas religiões que os teria
inspirado “a ver a presença divina em cada ser
humano... [como vigário de Cristo] expresso minha
alegria de que Deus tenha distribuído esses dons
[religiosos] entre vocês”.[18] Essa é uma declaração
inaceitável, tendo em vista os erros do xintoísmo e
do budismo! Em 1985, em Togo, o papa exultou por
ter “orado pela primeira vez com animistas”.[19]
Um conservador católico, criticando o espantoso
ecumenismo de sua Igreja, escreve:
Originalmente, o ecumenismo dizia respeito à união
entre os cristãos. Mas agora está procurando, de
maneira assustadora, ...a união de todas as religiões,
cristãs e não-cristãs. No dia 19 de maio de 1964, Paulo
VI instituiu oficialmente um secretariado para não-
cristãos... [que] desempenhou um papel importante
durante as duas últimas sessões do Concílio [Vaticano
II]... Alguns meses mais tarde, o mensageiro Wojtyla
[que se tornou papa João Paulo II] declarou:
A nostalgia pela unidade dos cristãos anda lado a lado
com o desejo de união entre toda a raça humana...
Isso estimula a atitude da Igreja para se aproximar
das outras religiões, aproximação baseada no
reconhecimento conjunto dos seus valores espirituais,
humanos e cristãos. Alcançando assim religiões como o
islamismo, o budismo, o hinduísmo... [20]

As ambições unificadoras do papa de juntar


todas as religiões choca os católicos conservadores,
mas são realmente consistentes com a História. Isso
acontece desde o princípio, com Constantino,
quando estátuas de Ísis e Horus passaram a ser
renomeadas de Maria e Jesus. O papa Leão I [440-
461] orgulhava-se de que São Pedro e São Paulo
haviam “substituído Rômulo e Remo como
padroeiros protetores [de Roma]”.[21] O
catolicismo romano sempre tem se acomodado às
religiões pagãs dos povos que “cristianizou”.
Durante a visita que fez em 1984 à Nova Guiné, o
papa João Paulo II presidiu uma celebração campal
da “Nova Missa” para os nativos. A missa incluía
“dançarinos que pulavam até o altar na procissão do
ofertório, lançando para cima nuvens de fumaça
alaranjada e amarela, um costume pagão para
afugentar os maus espíritos... [enquanto] uma
estudante de 18 anos lia uma passagem da Escritura
no altar papal usando suas roupas tradicionais [nua
da cintura para cima]”. O New York Times afirmou
que a missa foi um indício
dos esforços da Igreja Católica Romana de tornar seus
cultos mais universais, integrando em sua liturgia e
cerimônias elementos das culturas dos povos a quem
os missionários ocidentais levaram sua religião.[22]

Essa integração é tão antiga quanto o


catolicismo. No Haiti todo ritual vodu começa com
orações católicas. Há um ditado que diz que o Haiti
é 85% católico e 110% vodu.
O assustador culto espírita chamado santeria
que tem se espalhado nas Américas também é uma
mistura de paganismo africano com catolicismo,
envolvendo “deuses” herdados dos santos católicos
que servem de fachada para os demônios. Ao visitar
os cemitérios no Rio de Janeiro em qualquer feriado
religioso, pode-se encontrar fiéis católicos fazendo
petições às almas dos seus ancestrais e aos santos
católicos. No Brasil e em Cuba o espiritismo e as
religiões relacionadas com todos os tipos de cultos
africanos misturam-se com o catolicismo, e em toda
a América Latina as superstições nativas são
preservadas pelos católicos. O uso de imagens, água
benta e muitos dos ritos que agora fazem parte do
catolicismo foram adaptados do paganismo.

Paganismo Dentro da Igreja


Católica
Todas as nuances da Nova Era, do ocultismo e
de crenças místicas são encontradas dentro da Igreja
Católica. O periódico Catholic World [Mundo
Católico] dedicou uma edição inteira em apoio ao
movimento da Nova Era sem expressar uma palavra
sequer de condenação ou correção.[23] Milhares de
padres e freiras praticam a yoga e outras formas de
misticismo hindu ou budista. As escolas católicas,
antes consideradas bastiões da boa educação, estão
tão permeadas com os métodos do ocultismo e da
Nova Era quanto as escolas públicas. Uma edição
especial do Spirituality of The Catholic Educator
[Espiritualidade do Educador Católico] apresenta
um exemplo da educação católica atual:
Na área de Nova Jersey/Nova York as escolas católicas
utilizam um programa intitulado “Energética para a
Vida: Um Programa de Expansão do Aperfeiçoamento
para Educação e Paz” desenvolvido pelas irmãs Vergilla
Jim, OSF, e Claire Langie, OSU. Seu propósito é “nada
menos do que a transformação da criança a partir de
dentro” através do contato com a “energia” criativa
encontrada “no centro do seu ser”, conduzindo a uma
experiência “da interconectividade e interdependência
de todas as criaturas vivas...” O contato com o “centro
sagrado” da criança é efetuado através da “prática
regular da meditação, visualização, técnicas de
relaxamento e respiração, etc.”.
Elas adotaram a saudação hindu “namaste”, que
significa “o deus em mim saúda o deus em você!”
Uma vez que o estudante tenha reconhecido que ele e
tudo o mais é Deus, “quem cometeria uma violência
contra Deus ou qualquer uma de suas criaturas?”,
pergunta Loretta Carey, RDC, da Universidade
Fordham.
A irmã Mary L. O’Hara, CSJ, professora de Filosofia da
Faculdade Santa Maria, Omaha, se especializou em
propagar técnicas budistas e hindus para fortalecer a
educação nas escolas católicas.[24]

Os centros de retiros católicos ao redor do


mundo misturam “cristianismo” com hinduísmo,
budismo e todos os tipos de crenças e práticas da
Nova Era. Um exemplo típico é o Ashram Ya Azim,
um Centro das Irmãs Franciscanas para Meditação,
localizado em Willard, Wisconsin, onde se procura
atingir a “consciência de Cristo” através de várias
técnicas da Nova Era. Em sua defesa, Virginia
Barta, presidente das irmãs franciscanas nos Estados
Unidos, explica: “Podemos ser católicas e, ao
mesmo tempo, estar abertas... para reconhecer a
verdade mística em todas as religiões”.[25]
No início de sua primeira viagem aos Estados
Unidos, o Dalai Lama, que afirma ser deus e a 14ª
reencarnação do Dalai Lama original, foi recebido
com festas na Catedral de St. Patrick em Nova York.
A revista Time classificou o ocorrido de “um
extraordinário festival inter-religioso” coordenado
pelo cardeal Cooke. Declarando que “todas as
religiões importantes do mundo são basicamente a
mesma”, o Dalai Lama recebeu uma ovação da
multidão que aplaudiu de pé.[26] O cardeal Cooke
chamou o evento de “um dos mais dramáticos
movimentos do espírito em nosso tempo”.[27]
Certamente não do Espírito Santo!
A edição inteira do Catholic World de
maio/junho de 1990 foi devotada ao budismo.
Todos os artigos eram simpáticos ao assunto,
incluindo citações favoráveis do papa. Um dos
artigos chegou a ser intitulado “Buda reverenciado
como um santo cristão”! João Paulo II tinha uma
visão liberal do budismo e de todas as demais
religiões. Ele considerava a Yoga Divina budista-
tibetana de seu bom amigo o Dalai Lama, junto com
as orações de curandeiros, espíritas e qualquer outra
religião, “grandes energias espirituais” que estariam
criando “um novo clima de paz”.[28] Exemplos
similares poderiam ser multiplicados. Conforme uma
notícia veiculada no Los Angeles Times:
O papa João Paulo II tirou seus sapatos para sentar-se
quieta e solenemente junto do supremo patriarca dos
budistas da Tailândia, num mosteiro budista em
Bangcoc... O pontífice da Igreja Católica Romana, em
seguida, elogiou “a antiga e venerável sabedoria” da
religião asiática.[29]

Tentemos imaginar o apóstolo Pedro assistindo


a um ritual em um templo budista e enaltecendo a
sabedoria do budismo! Ou então Paulo falando às
audiências hindus, como fez João Paulo II, durante
sua visita à Índia, declarando que não havia ido lá
para ensinar-lhes coisa alguma, mas para “aprender
com a rica herança espiritual [deles]” e que o mundo
precisa observar atentamente a “visão espiritual do
homem” a partir da perspectiva hindu.[30] Os
cristãos primitivos jamais teriam sido martirizados se
tivessem usado um enfoque ecumênico semelhante
em relação às práticas pagãs de Roma.

Por que os Papas


Ecumênicos São Populares
João Paulo II, o ecumenista mais ousado e
efetivo, seguiu apenas as pegadas dos seus
antecessores, e o seu sucessor continuará na mesma
trilha. O papa João XXIII [que abriu o Vaticano II],
e o papa Paulo VI [que o encerrou], juntaram-se a
homens notáveis como o Dalai Lama, Anwar el-
Sadat [muçulmano, ex-líder egípcio assassinado], e
o secretário-geral das Nações Unidas, U. Thant [um
budista], para edificar o Templo da Compreensão,
conhecido como as Nações Unidas da religião.
Desde então, a liderança dessa importante
organização empenhada em promover a religião
universal esteve majoritariamente em mãos de
católicos.
Como prova adicional das ambições
ecumênicas dos predecessores de João Paulo II,
Paulo VI deu sua bênção à Segunda Conferência
Mundial de Religião e Paz em Louvain, Bélgica, em
1974. Sob liderança católica, a Declaração de
Louvain dizia:
Budistas, cristãos, confucionistas, hindus, jainistas,
judeus, muçulmanos, xintoístas, sikhs, zoroastristas e
todos os outros, reunimo-nos aqui para escutar o
espírito de todas as variadas e veneráveis tradições
religiosas... Temos tentado encontrar da maneira mais
elevada o que nossas sociedades devem resolver para
que se faça a paz...
Alegramo-nos que... a longa era de isolamento
orgulhoso e até preconceituoso das religiões da
humanidade, esperamos, agora tenha desaparecido
para sempre.[31]

É interessante que a grande maioria dos


católicos, embora se recuse a seguir os dogmas
católicos em muitas questões, se mostra
extremamente ansiosa para abraçar o ecumenismo
do papa. E por que não? A alta porcentagem dos
católicos que rejeitam os ensinos básicos da Igreja
sempre aponta para um “cristianismo” mais aberto.
Uma pesquisa feita em 1989 revelou que 25% dos
católicos na América não crêem na vida após a
morte, outros 46% afirmaram que realmente não
sabem, e 55% crêem não poder discordar dos
ensinos oficiais da Igreja enquanto permanecerem
católicos. Numa pesquisa feita em 1990, 67% dos
católicos se mostravam favoráveis à ordenação de
mulheres, 52% aceitavam o aborto, 75% disseram
que os padres deveriam se casar e 87% disseram que
os casais deveriam tomar suas próprias decisões
sobre o controle da natalidade.[32] Numa pesquisa
feita em abril de 1994, “um número inferior a 29%
dos que tinham menos de 45 anos concordaram que
o pão e o vinho se transformam no corpo e sangue
de Cristo”.[33]
Na França e na Itália a situação é ainda mais
impressionante: 49% dos católicos franceses não
crêem na ressurreição de Cristo, 60% não crêem na
existência do céu, 77% não crêem no inferno, e
75% não crêem no purgatório nem no diabo.[34] De
fato, “2/3 dos teólogos católicos [expressam]
descrença... na existência de Satanás...”.[35]
Enquanto 90% dos italianos declaram-se católicos,
apenas cerca de 30% assistem à missa dominical, e
plebiscitos nacionais na Itália realizados na década
passada legalizaram tanto o divórcio como o aborto,
apesar da pressão contrária feita pela Igreja.[36]
Os católicos não estão sozinhos na apostasia.
Uma pesquisa feita no início de 1994 indicava que
“quatro entre dez [americanos] que se diziam
evangélicos não crêem em algo que seja uma
verdade absoluta. [Os termos “evangélico” bem
como “novo nascimento” estão se tornando algo
sem significado?]. Entre os adultos nos Estados
Unidos, 71% afirmam não existir algo que possa ser
chamado de verdade absoluta”.[37] O relativismo e
o ecumenismo andam de mãos dadas. Os que têm
uma “mente aberta” podem ser facilmente
persuadidos a se juntarem com qualquer um, desde
que a causa seja atrativa. John W. Robbins escreveu
a respeito do livro Rome Sweet Home [Roma Doce
Lar] (a história da conversão de Scott e Kimberley
Hahn ao catolicismo]:
A apostasia de Hahn [Scott] é um entre muitos casos
semelhantes. Ela está acontecendo não porque Roma
seja uma Igreja verdadeira, mas por causa da
apostasia do “protestantismo”... No momento em que
a pregação do Evangelho se faz mais urgente e
necessária, ela é raramente ouvida nos púlpitos
“protestantes”... Somente a graça de Deus pode nos
salvar de outra Idade Média e da igreja que Lutero
classificou como açougue de almas.[38]

Unindo Todos na “Oração”


Desde que assumiu o posto, em 1978, o papa
João Paulo II conduziu o ecumenismo a passos
largos em direção à religião mundial. Uma das
principais táticas usadas para conseguir a unidade foi
juntar líderes religiosos em oração. Ele desejava
realizar neste novo milênio, no monte Sinai do
Egito, um dia de oração sem precedentes, reunindo
muçulmanos e judeus, conforme carta publicada
pelo Vaticano.[39]
Um dos feitos mais interessantes de João Paulo
II foi reunir em Assis, Itália, em 1986, 130 líderes
das doze principais religiões mundiais a fim de
orarem pela paz. Estavam juntos em oração
adoradores do fogo, encantadores de serpentes,
espíritas, animistas, curandeiros norte-americanos,
budistas, muçulmanos e hindus bem como “cristãos”
e católicos. O papa declarou que todos estavam
“orando ao mesmo Deus”. Naquela ocasião, o papa
deu permissão ao seu bom amigo Dalai Lama para
substituir a cruz por uma imagem de Buda no altar
da Catedral de São Pedro, em Assis, e que ele e seus
monges efetuassem ali a adoração budista.
As duas causas mais urgentes que
desempenharão papel importante na união mundial
serão a ecologia e a paz. Acredita-se, cada dia mais,
que a “paz” será alcançada pela oração a um poder
superior e que “qualquer deus serve”, conforme diz
a maçonaria.[40] Inspirados pelo exemplo do papa
em Assis, os “Concílios Inter-religiosos” estão
brotando nos Estados Unidos, onde os cristãos se
reúnem em oração e praticam ação social junto com
seguidores de todas as religiões. O que ocorreu em
um dos encontros foi descrito por um dos
participantes:
Swami Bhaskarananda, um hindu, dirigiu em voz alta
sua oração a Deus... Ismail Ahmed, um muçulmano,
recitou uma curta oração a Deus... diante de um altar
adornado com quadros de Sri Ramakrishna, Jesus
Cristo e Buda.[41]

A oração tem conseguido unir todas as religiões


do mundo, até mesmo as que estão sob a liderança
de evangélicos. No Café da Manhã de Oração
Nacional em 1993 em Washington D.C., o senador
Kerry leu João 3.1-21, [deixando de lado o
versículo mais importante, o 16], sugerindo que
Cristo estava falando de uma “renovação espiritual”
e que “no Espírito de Cristo, hindus, budistas,
muçulmanos, judeus, cristãos” estavam se reunindo
para esse propósito. O ex-vice-presidente americano
Al Gore disse: “A fé em Deus, a confiança num
poder superior, qualquer que seja o seu nome, em
minha opinião, é essencial”.
Deus disse: “se o meu povo, que se chama
pelo meu nome... orar... eu ouvirei dos céus...” (2
Crônicas 7.14). Esse não foi um convite aos
adoradores de Baal, Astarote e outros deuses para se
juntarem a Israel em oração. O que teria sido uma
abominação! Mesmo assim, os evangélicos estão se
juntando a uma multidão de diferentes crenças para
orar, trabalhar pela justiça e pela paz social.

Adquirindo um Impulso de
Escala Mundial
É interessante como os que se chamam a si
mesmos de cristãos podem justificar, em nome da
paz e da ecologia, sua participação em práticas
religiosas em conjunto com os adeptos de todas as
religiões. Existe um grande movimento na América
do Sul chamado “Primeira Assembléia do Povo de
Deus da América Latina e Caribe” [APD], que está
atraindo uma verdadeira multidão de católicos
ecumênicos, protestantes e pagãos, sob as bênçãos
da Igreja Católica. A frase “Povo de Deus” vem do
Vaticano II e o movimento proclama ter “trazido à
vida o modelo de igreja pluralista orientada ao
serviço, delineada nos ensinos do Vaticano II”. O
National Catholic Reporter elogiou uma convenção
realizada no Brasil:
Um [líder] segurou um cetro de prata do candomblé,
religião de adoração aos deuses africanos... Outro, um
ministro batista, apresentou um desenho do mundo
atravessado por um crucifixo... Ao lado dele, um
sacerdote vodu do Haiti ergueu um pote de incenso,
espalhando boa energia sobre a multidão. E o pastor
da Igreja Presbiteriana Unida leu parte da carta de
Paulo aos gálatas.
Os celebrantes rodearam um irmão católico brasileiro,
que ergueu uma estola sacerdotal. Cada um deles
beijou parte da peça de roupa colorida.[42]

Uma reunião idêntica, mas bem maior, o


Parlamento das Religiões Mundiais, foi realizada em
Chicago em setembro de 1993 e assistida por cerca
de 6.000 representantes das principais crenças
mundiais. Um dos preletores do plenário, o Dalai
Lama, apelou para um “despertamento espiritual”
mundial, com o devido apoio de todas as religiões.
[43] Um acontecimento importante do Parlamento
foi a entrega a Charles Colson do Prêmio Templeton
para o Progresso na Religião,[44] a comenda
ecumênica mais prestigiada e lucrativa [valor
monetário, cerca de 1,2 milhões de dólares]. Esse
prêmio é concedido especificamente para “encorajar
a compreensão da riqueza de bênçãos de cada uma
das grandes religiões”. [Imaginem Elias aceitando
uma recompensa por “encorajar os benefícios da
adoração a Baal” ou então Paulo, no Areópago,
“encorajando a compreensão dos benefícios do
paganismo”].
Como sempre acontece nesses eventos
ecumênicos, a liderança católica ficou em bastante
evidência, incluindo o cardeal Joseph Bernadin e o
padre Thomas A. Baima, ambos de Chicago; o
último era diretor do escritório da arquidiocese para
Assuntos Ecumênicos e Inter-Religiosos. O teólogo
católico Hans Küng foi o principal “redator da Ética
Global... que promove a cooperação inter-religiosa”,
documento elaborado pelo Parlamento e assinado
pela maioria dos líderes presentes, inclusive o
reverendo Wesley Ariarajah, deputado e secretário-
geral do Concílio Mundial de Igrejas.[45] Foi “a
primeira vez na História que representantes de todas
as religiões do mundo – budismo, cristianismo,
hinduísmo, islamismo, judaísmo e 120 outros
grupos religiosos – chegaram a um entendimento
comum sobre o comportamento ético...
Representantes do Vaticano e da Conferência
Nacional dos Bispos Católicos estiveram presentes”
e reagiram favoravelmente. O Los Angeles Times
registrou:
Sacerdotes com colarinhos romanos falavam com
monges budistas vestidos com mantos cor de açafrão,
e rastafáris se engajavam em animadas discussões
com os sikhs com seus turbantes... Em uma noite,
seguidores da religião neopagã chamada wicca
[bruxaria] realizaram um ritual de lua cheia...[46]

O catolicismo romano está provando ser a


ponte que une todas as crenças. Esse fato não
surpreende, mas causa-nos admiração ver cristãos
evangélicos subindo nessa ponte enquanto hindus,
budistas e pagãos de todos os tipos vêm da outra
direção. Se estamos realmente nos últimos dias,
então não demorará muito até que os dois lados se
encontrem no meio dela.

Campanha de Aproximação
No dia 16 de setembro de 1980, João Paulo II
declarou aos católicos reunidos em Osnabrüch,
Alemanha: “Encorajem de modo caridoso seus
irmãos evangélicos [luteranos] a testemunhar a sua
fé no caminho do amor ao próximo, a aprofundar
em Cristo sua forma de vida religiosa”.[47] Será que
o papa está apenas incitando os protestantes ou está
realmente fazendo concessões, como a maioria dos
católicos teme? No dia 6 de fevereiro de 1983, ele
falou em ir “além dos desentendimentos... para
encontrar uma vez mais o que é comum a todos os
cristãos...”[48] Tais expressões de ecumenismo têm
sido comuns e têm atraído pesadas críticas de
conservadores de dentro da Igreja.
Não resta dúvida de que João Paulo II quebrou
algumas regras em busca da “unidade”. Ele se
ajoelhou diante de Robert Runcie, então bispo de
Cantuária, no altar da catedral anglicana da
Cantuária, e os dois líderes se abraçaram. Em 1981
o papa “convidou o metropolita Damaschino para
falar em seu lugar. Pela primeira vez desde o Cisma
[1054], um prelado ortodoxo se sentava na cadeira
da basílica”.[49] Os anátemas mútuos entre Roma e
Constantinopla foram suspensos já em 1965. No dia
2 de agosto de 1982, o papa reatou relações
diplomáticas com três países escandinavos que não
eram reconhecidos pelo Vaticano desde o
rompimento com Roma por ocasião da Reforma.
No dia 11 de dezembro de 1983, João Paulo II
tornou-se o primeiro papa da História a entrar numa
igreja luterana. Ele fez isso em Roma, onde tomou
parte no culto e declarou:
Estou aqui porque o Espírito do Senhor nos empurra
para um diálogo ecumênico, a fim de encontrarmos a
plena unidade entre os cristãos.

Em 1987, o patriarca Dimitrios I foi


recepcionado na Basílica de São Pedro por João
Paulo II, que o apresentou como “sua santidade,
Dimitrios I, nosso amado irmão em Cristo” e
exortou a congregação a “ouvir as palavras do
principal Patriarca...”. No final da missa, Dimitrios
voltou ao altar “para abençoar os fiéis”.[50] Em
resposta, o papa declarou que “à Igreja Católica e à
Ortodoxa foi concedida a graça de reconhecerem
uma à outra como igrejas irmãs e a andarem juntas
em completa comunhão”.[51] No dia 7 de
dezembro de 1987, o Patriarca Dimitrios I e João
Paulo II assinaram uma declaração semelhante ao
acordo conjunto feito por católicos e evangélicos
nos Estados Unidos: “Cada uma de nossas Igrejas
recebeu os mesmos sacramentos, que celebra
solenemente, [e] ...rejeitamos todas as formas de
proselitismo...”[52]
Estranhos Parceiros
No dia 31 de janeiro de 1994, o ex-premiê da
China, Li Peng, assinou os Documentos 144
[Regulamentos e Gerenciamento da Atividade
Religiosa de Estrangeiros Dentro das Fronteiras
Chinesas] e 145 [Gerenciamentos de Locais de
Permissão de Atividade Religiosa] transformando-os
em lei. Como admitiu Wen Wei Po, o jornal mais
importante pró-Pequim de Hong Kong, essas
regulamentações eram para prevenir o
“proselitismo” praticado por estrangeiros. O governo
chinês reconheceu o perigo para o comunismo se os
evangélicos tiverem permissão de obedecer ao
mandamento de Cristo de pregar o Evangelho a toda
criatura sobre a terra.[53]
Uma proibição semelhante de fazer
“proselitismo”, aceita voluntariamente, é o elemento-
chave para acelerar o movimento ecumênico. A
World Mission 95 [Missão Mundial 95] de Billy
Graham envolvia uma promessa nesses termos feita
em nome das igrejas participantes. As instruções de
participação nessa cruzada, que alcançaria o mundo
inteiro via satélite, eram claras para a França, por
exemplo: “Todas as denominações [católica,
ortodoxa, etc.] devem ser avisadas e a cooperação
deve ser mútua entre todas... apesar das diferenças
teológicas”, e não deve haver absolutamente
“qualquer proselitismo entre igrejas”.[54]
Ironicamente, o quartel-general da Missão na França
é na cidade de Beziers, a qual, conforme recordam
os leitores, foi destruída pelo papa Inocêncio III com
a perda de 60.000 vidas, o que foi considerado o
“maior feito” do seu papado.
Uma das mostras mais interessantes desse
comprometimento “antiproselitista”, por parte dos
evangélicos, abrindo mão de cumprir o mandamento
de Cristo de pregar o Evangelho a toda criatura em
todo o mundo (Marcos 16.15) aconteceu no
Colorado. Na década de 90 a cidade de Colorado
Springs viu numerosos ministérios evangélicos
estabelecerem ali seus escritórios. Os estudantes
evangélicos estavam ganhando seus colegas de
classe católicos e judeus para Cristo, o que gerou
queixas dos líderes tanto católicos como judeus. A
fim de restabelecer a paz na comunidade, os líderes
evangélicos, entre eles James Dobson, o diretor de
Navigators Terry Taylor, o diretor de Young Life
Terry P. McGonigal e os pastores evangélicos
assinaram um “Acordo de Respeito Mútuo” com o
bispo católico, com o rabino e outros líderes
religiosos locais. O acordo foi reproduzido em 22 de
abril de 1993 na edição da Gazette Telegraph de
Colorado Springs sob o título “Uma Mensagem ao
Povo de Colorado Springs”. Ele reconhecia a
“herança judaico-cristã” comum a todas as crenças
representadas por aqueles que assinaram o acordo e,
basicamente, clama que se “aprenda um com o
outro, em espírito de boa vontade e respeito mútuo”
em vez de evangelizar. Um jornal católico registrou
triunfalmente:
Os esforços evangelísticos de algumas comunidades
estavam criando uma atmosfera de animosidade, disse
o bispo Richard Hanifen, da diocese de Colorado
Springs. Cerca de um ano atrás, o rabino Howard
Hirsch do Templo Shalom e o bispo Hanifen,
constataram que as juventudes católica e judaica
estavam sendo evangelizadas nas escolas por
estudantes de outras crenças. Terry McGonigal, diretor
do Instituto de Ministérios para a Vida dos Jovens,
concordou que outros jovens cristãos também estavam
sendo evangelizados nas escolas...
Para evitar um mal-entendido e fomentar a
compreensão, os líderes religiosos das igrejas e
organizações da comunidade começaram a se
encontrar informalmente para discutir a situação... Os
líderes da juventude compareceram ao primeiro
encontro, no dia 26 de junho de 1992, a fim de
discutir se os esforços evangelísticos eram um
problema, e chegaram à conclusão que eram...
O bispo Hanifen disse esperar que, no futuro, o grupo
explore todos os tipos de assuntos para aprender
sobre os valores das várias crenças e como elas vêem
a Escritura. ‘Em vez de tentar convencer um ao outro
em certas questões, esperamos entender como
resolveremos essas questões’, ele disse. ‘Acho que,
com a ajuda de Deus, isto preparará o palco para o
futuro, a fim de ver como nossas diferentes tradições
se conduzirão, o que, em minha opinião, é muito bom
para Colorado Springs’.[55]

A Ponte Carismática Para


Roma
Estranhamente, ao mesmo tempo em que
Roma se queixa ao ver os católicos sendo
evangelizados, há algum tempo ela estava engajada
no maior programa de evangelização da História. A
“Evangelização 2000” era dirigida a partir do
Vaticano pelo padre Tom Forrest, sobre quem já
falamos. Ele organizou o Retiro Mundial dos
Padres, que ocorreu na cidade do Vaticano em
setembro de 1990, dando início a uma década de
evangelização [1990-2000]. É interessante notar que
o principal propósito do retiro [segundo disse
Forrest] era evangelizar os padres: cerca de 1.000
dos 6.000 padres presentes atenderam ao chamado
para “receber Cristo como Salvador e serem cheios
do Espírito Santo”.[56] Por que motivo seria
necessário fazer esse apelo, especialmente aos
padres, se os católicos são salvos? E como poderiam
aquelas 1.000 pessoas receber “Cristo como
Salvador”, no sentido bíblico da frase, sem negar a
maior parte do catolicismo que eles têm sido
treinados a perpetuar? O fato de Tom Forrest ser um
padre católico romano que celebra missa, crê no
purgatório e nas indulgências mas não se atreve a
dizer que está eternamente salvo, indica que ele
jamais aceitou o Evangelho bíblico. Mesmo assim,
os evangélicos o aceitam como parceiro no
Evangelho.
Forrest é um carismático. Muito da
responsabilidade pela crescente adesão ao
catolicismo repousa sobre certos líderes do
movimento carismático. Os carismáticos foram os
primeiros a fazer em conjunto as Conferências
Protestante-Católicas e a se aceitarem mutuamente
como cristãos. Cerca de 10 milhões de católicos
americanos e 72 milhões, em 163 países de todo o
mundo, agora falam “línguas estranhas”.[57] Essa
suposta “habilidade” foi usada pelos carismáticos
como prova de que os católicos são nascidos de
novo. A importância colocada sobre tal experiência
resultou que até mesmo as mais drásticas diferenças
na doutrina fossem minimizadas. O movimento
carismático tornou-se a mais importante ponte para
Roma.
Que existe um “espírito” espúrio operando é
evidente. Uma das primeiras afirmações proféticas
do movimento carismático católico [que começou
nos meados de 1960 nas universidades de Duquesne
e Notredame], foi que “o que Maria prometeu em
Fátima vai realmente se cumprir”.[58] Eles
ignoravam, entretanto, que a aparição de “Maria”
em Fátima tenha sido demoníaca, conforme
documentaremos nos próximos capítulos. O “dom
de línguas” foi espontaneamente recebido por
muitos católicos quando eles estavam orando a
Maria: “Com Tom N. aconteceu quando ele estava
acabando de rezar o rosário... com a irmã M.
quando ela se ajoelhou fazendo uma prece silenciosa
à bendita virgem”.[59] O efeito geral do “batismo no
Espírito” sobre os católicos foi que ele aumentou a
devoção a Maria e despertou um maior zelo pelos
muitos dogmas heréticos do romanismo.[60] O
espírito que confirma essa heresia sempre
confirmará o Anticristo.
Nos dias 2 a 4 de março de 1990, Robert
Schuller realizou em sua Catedral de Cristal a “6ª
Conferência da Costa Ocidental Sobre o Espírito
Santo”, patrocinada por católicos carismáticos. A
maior parte da audiência era formada de católicos
romanos, assim como cerca de 50% dos
palestrantes. A platéia predominantemente católica
ficou deliciada ao ouvir Schuller declarar:
Quando sonhei com esta catedral, não quis construí-la
sem a bênção do santo padre. Então fiz uma viagem
até Roma e me encontrei com o papa... Levei uma
planta da Catedral e contei a ele que a estava
construindo e que [também desejava] receber suas
orações de bênçãos. Claro que tiramos uma foto
juntos, que está pendurada no 12º andar... Então, no
30º aniversário do meu ministério neste local, recebi
uma bela foto, totalmente colorida, do Santo Padre
dando sua bênção apostólica sobre o meu santo
ministério, com uma maravilhosa mensagem pessoal
manuscrita... [61]

A profecia bíblica está sendo cumprida diante


de nossos olhos. Cristo avisou que próximo à Sua
volta para arrebatar Sua Noiva para o lar celestial
haveria aumento de engano religioso como este
mundo jamais conheceu (Mateus 24.4-5,11,24).
Esse seria tão grande que até mesmo os escolhidos
correriam o perigo de serem enganados. Homens
seriam aceitos como líderes cristãos, até mesmo
como operadores de sinais e maravilhas, mas estes
não seriam cristãos de modo algum (Mateus 7.22-
23). Paulo alertou-nos sobre esse mesmo engano,
que seria a preparação decisiva para o Anticristo (2
Tessalonicenses 2.3-4), uma preparação que,
obviamente, tem se acelerado em nossos dias.
Defendendo-se por ter assinado a histórica
declaração conjunta de evangélicos e católicos, um
líder batista rejubilou-se porque, finalmente, havia
sido concedido aos evangélicos o reconhecimento
por parte dos católicos de ser um legítimo grupo
religioso. Os reformadores dificilmente se sentiriam
lisonjeados por tal “reconhecimento”,
principalmente porque esse mesmo status tem sido
concedido por Roma a todas as religiões. Cerca de
30 anos antes, o papa Paulo VI havia dito:
A Igreja tem a seguinte exortação para seus filhos e
filhas: prudente e amorosamente, através do diálogo e
da colaboração com os seguidores de outras religiões,
e em testemunho de fé e vida cristã, reconheçam,
preservem e promovam os bens espirituais e morais
encontrados entre esses povos...[62]

Esse é o catolicismo romano, um “cristianismo”


capaz de acomodar-se numa parceria com todas as
crenças e práticas religiosas do mundo. O
fundamento já está posto para que o quartel-general
da religião mundial seja estabelecido em Roma.
CAPÍTULO 27

Qual o Papel de Maria?


Não existe ninguém, ó Maria santíssima... que venha a ser salvo
ou redimido, a não ser através de ti.

– São Germano[1]

Assim como temos acesso ao Pai Eterno somente através de


Jesus Cristo, também só é possível chegar até Jesus Cristo por
intermédio de Maria. Temos acesso ao Filho por ela, a bendita
doadora da graça, portadora da vida, e mãe da salvação...

– São Bernardo[2]

Em tuas mãos entrego minha salvação eterna e a ti confio a


minh’alma... Pois, se me proteges, querida mãe, nada temerei; nem
os meus pecados, pois tu obterás para mim o perdão; nem os
demônios, porque és mais poderosa do que todo o inferno
reunido; nem mesmo a Jesus, meu Juiz, porque por uma oração
tua, ele será apaziguado. Mas uma coisa eu temo: que na hora da
tentação eu possa deixar de te invocar e, então, perecer
miseravelmente. Obtém, pois, para mim, o perdão de meus
pecados...
– Uma das muitas orações contidas no popular livrete: “Devoções
em Honra de Nossa Mãe do Perpétuo Socorro”.[3]

“E lhe comunicaram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e


querem ver-te. Ele, porém, lhes respondeu: Minha mãe e meus
irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam”.

– Lucas 8.20-21

“Ora, aconteceu que... uma mulher... exclamou e disse-lhe:


Bem-aventurada aquela que te concebeu, e os seios que te
amamentaram! Ele [Jesus], porém, respondeu: Antes, bem-
aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam”.

– Lucas 11.27-28

Já identificamos a mulher montada na besta


como a cidade do Vaticano e como a falsa Igreja
Mundial, que acabará estabelecendo naquele local o
seu quartel-general. Mas por que a mulher montada
na besta não é representada por um homem? Por
que essa falsa Igreja Mundial é vista como uma
mulher? Novamente esse aspecto, como todos os
demais em Apocalipse 17, se encaixa perfeitamente
com o Vaticano. A mais proeminente figura no
catolicismo é, sem dúvida, uma mulher. Ela
obscurece todas as demais, inclusive o próprio Deus.
Mais orações são feitas pelo catolicismo a Maria e
mais atenção e honra são dispensadas a ela do que a
Cristo e ao Pai juntos. Existem milhares de
santuários dedicados a Maria em todo o mundo,
visitados por inúmeros fiéis anualmente (e centenas
de santuários dedicados a outros “santos”), mas
certamente não existe mais do que um punhado de
santuários dedicados ao próprio Cristo.
Alguns líderes católicos de hoje até se gloriam
disso. Ao propagar “a deusa consciência” e a
“liberação da mulher”, a Igreja Católica harmoniza
de maneira exata com a época em que vive. Uma
mulher ocupa a posição de maior honra e poder. No
catolicismo é através de uma mulher que fluem
todas as graças, dons, bênçãos e poder. Essa mulher,
conforme veremos, tem um espantoso potencial para
unir o mundo inteiro, inclusive os muçulmanos,
numa religião única. A “virgem perpétua”, contudo,
não passa de uma ficção que nada tem a ver com a
verdadeira Maria da Bíblia, a amada esposa de José
que deu à luz ao Senhor Jesus.
Maria Sempre Virgem?
A Bíblia ensina que Maria foi virgem somente
até o nascimento de Jesus. Depois ela teve outros
filhos com José, seu marido. Esse fato pode ser
comprovado claramente pelo fato de Jesus ter sido o
seu “filho primogênito” e que José “não a conheceu”
até Cristo ter nascido (veja Mateus 1.25). Existem
repetidas referências aos irmãos e irmãs de Jesus,
alguns inclusive mencionados por seus nomes. As
pessoas que conheceram Jesus enquanto Ele crescia
em Nazaré “se maravilhavam e diziam: Donde lhe
vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos?”
Em seguida, continuaram argumentando: “Não é
este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe
Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas?
Não vivem entre nós todas as suas irmãs? De onde
lhe vem, pois, tudo isto?” (Mateus 13.54-56, cf.
Marcos 6.3).
Os apologistas católicos, como Karl Keating,
insistem em que esses irmãos e irmãs eram, na
verdade, primos de Cristo e que Mateus e Marcos
precisaram usar as palavras “irmão” e “irmã” porque
nem o aramaico nem o hebraico possuíam a palavra
“primo”. Porém, não existe fundamento algum para
essa suposição antibíblica. Além do mais, os
evangelhos de Mateus e Marcos foram escritos em
grego. Keating insiste que, embora houvesse no
grego uma palavra para designar primos (anepsios),
era comum os judeus escreverem em grego para
prosseguirem com a prática judaica de referir-se aos
parentes como irmãos/irmãs (adelphos). Ele cita
exemplos de trechos da Septuaginta*, mas nenhum
do Novo Testamento, pois não existem. Até porque
o termo anepsios é usado em Colossenses 4.10 para
referir-se ao primo de Barnabé. Além disso, os
irmãos de Jesus são geralmente mencionados
estando aos cuidados de Maria e também eram seus
filhos, já adultos, que cuidavam dela e viajavam com
ela, pois eram sua família mais próxima.
* Versão em grego do Velho Testamento que circulava
no tempo de Cristo (N. do T.).

O argumento católico alega ainda que caso


Cristo nascesse de um ventre que mais tarde
concebesse e desse à luz outros filhos, isso, de certo
modo, O contaminaria. Esse argumento não apenas
carece de respaldo bíblico como também ignora a
humilhação sofrida por Cristo ao se tornar homem.
O católico Peter de Rosa nos dá algumas
informações interessantes porque Roma não pode
aceitar que Maria teve relações sexuais, mesmo
depois de haver dado à luz a Cristo:
Notamos que os sacerdotes, especialmente os papas,
têm desenvolvido um culto à virgem Maria. Para os
celibatários, a mulher ideal é um ser assexuado que
deu à luz a um filho. Maria teve um filho, mas nunca
teve uma relação sexual. Isso representa a perfeição.
[4]

Contudo, se Maria realmente tivesse feito um


voto de virgindade, e fosse isso o que ela quisesse
dizer em sua resposta a Gabriel, então (como foi
mostrado por Martim Lutero), ao permitir que José
a desposasse, ela teria cometido traição e desprezado
a sagrada instituição do matrimônio. A própria Igreja
Católica não permite que uma esposa faça voto de
castidade a seu bel-prazer, e a Bíblia também é
contra isso, dizendo que a relação matrimonial é
desejo de Deus para os casais legalmente casados
(Gênesis 1.28; 2.21-24; 1 Coríntios 7.3-5), e que o
matrimônio é digno de honra entre todos (Hebreus
13.4).
As palavras de Maria a Gabriel, “Como será
isto, pois não tenho relação com homem algum?”
(Lucas 1.34), referiam-se claramente apenas à sua
situação naquele momento. Não foi uma declaração
de que ela já tivesse feito um voto de celibato. Se o
tivesse feito, não se comprometeria com José (v.
27). Portanto, se a sua virgindade perpétua não é
verdadeira, também não o são as outras fantasias
sobre Maria que o catolicismo tem inventado (sua
imaculada concepção, sua assunção corpórea ao
céu, etc.).

Maria, “Mãe de Deus”


O livro católico mais respeitado acerca da
“virgindade” de Maria foi escrito pelo cardeal Santo
Afonso de Ligorio e intitulado “As Glórias de
Maria”. Trata-se de um compêndio que reúne o que
os grandes santos da Igreja Católica Romana
disseram a respeito de Maria no decorrer dos
séculos. Os títulos dos capítulos são
impressionantes, creditando a Maria atributos,
habilidades, títulos e funções que pertencem
somente a Cristo. Veja estes exemplos: “Maria,
Nossa Vida, Nossa Doçura”, “Maria, Nossa
Esperança”, “Maria, Nosso Auxílio”, “Maria, Nossa
Advogada”, “Maria, Nossa Guardiã” e “Maria,
Nossa Salvação”. Aqui estão algumas das citações
de Ligorio do que os santos católicos disseram sobre
o papel de Maria na salvação:
Os pecadores recebem o perdão somente através de...
Maria. Está caído e fica perdido aquele que não
recorre a ela. Maria é chamada de... portão do céu,
pois ninguém pode entrar naquele reino abençoado
sem passar por ela. O caminho da salvação não pode
ser aberto a pessoa alguma, a não ser através de
Maria... A salvação de todos depende de serem
favorecidos e protegidos por Maria. Aquele que é
protegido por Maria será salvo; o que não é, será
condenado... Nossa salvação depende dela... Deus não
nos salvará sem a sua intercessão... Quem poderá
receber alguma graça, a não ser através de ti, ó Mãe
de Deus?...[5]

“Mãe de Deus”? Sim, Jesus é Deus e Maria é


Sua mãe, mas ela não é mãe de Cristo como Deus
(pois Ele existia desde a eternidade, muito antes de
Maria ter nascido). Ela é a mãe do corpo físico que
o Filho de Deus tomou ao se tornar homem. Mas
ela não é a mãe de Deus! A Escritura explica o papel
de Maria: “Por isso, ao entrar no mundo, [Jesus]
diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um
corpo me formaste” (Hebreus 10.5). E o corpo de
Jesus foi formado no ventre de Maria.
A posição tremendamente antibíblica à qual
Maria foi elevada pela tradição católica romana
continua a ser evidenciada nas orações a ela
dirigidas. As que foram mencionadas no início deste
capítulo são apenas algumas das milhares que
mostram que Maria é o centro e a vida do
catolicismo romano. Mesmo assim, apologistas
católicos, sensíveis às críticas neste sentido, negam
que os católicos orem a Maria. Peter Kreeft, por
exemplo, escreve enganosamente: “Os católicos [não
oram aos santos, eles] apenas pedem aos santos para
orar por eles, exatamente como fazemos quando
pedimos que os vivos orem por nós”.[6]
Muito pelo contrário, as orações mais
numerosas e populares no catolicismo são aos santos
e, em especial, a Maria, não para Deus e Cristo. E
mais, essas orações pedem a Maria que opere em
favor dos católicos e do mundo inteiro, como se ela
literalmente pudesse ser Deus (e, para algumas
coisas, Cristo) e fosse capaz de fazer tais coisas. Em
agosto de 1993, durante o encerramento da missa
dominical realizada em Denver, João Paulo II
entregou o mundo inteiro e todos os jovens à
proteção e direção de Maria:
Maria do Novo Advento, imploramos tua proteção
sobre os preparativos que agora se iniciam para o
próximo encontro [Dia Mundial da Juventude]. Maria,
cheia de graça, nós confiamos o próximo Dia Mundial
da Juventude a ti. Maria, que foi assunta ao céu,
entregamos a juventude do mundo... e o mundo
inteiro para ti![7]

Os católicos apenas pedem que Maria ore por


eles? Se alguém pede a oração de um amigo, não
dirá: “imploro sua proteção e confio o mundo inteiro
a ti”! Mesmo assim, tais pedidos, que somente Deus
poderia atender, são petições típicas que os católicos
fazem a Maria, que foi exaltada por eles à
onipotência e considerada responsável por cuidar de
todos que nela confiam.
“Maria, Rainha do Céu”?
A revista Time comenta que, “segundo os papas
modernos”, Maria é “a rainha do universo, rainha do
céu, trono de sabedoria...”[8] No discurso do papa
João Paulo II feito em setembro de 1993 na
Lituânia, ele falou de Maria como sendo a “mãe da
Igreja, rainha dos apóstolos [e] dona de um lugar na
Trindade”! Ele disse “aos padres e aspirantes à vida
clerical, homens e mulheres religiosos”, para “olhar
para Maria... que é venerada aqui... nos santuários
de Ausros Vartai e Siluva, aos quais irei em
peregrinação!... Confio todos vocês a Maria...”[9]
Tal blasfêmia é repetida nas orações católicas mais
recitadas como o rosário, e normalmente terminam
com esta petição final:
Salve, rainha [do céu], mãe de misericórdia, vida,
doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos, os
degradados filhos de Eva, a vós suspiramos, gemendo
e chorando, neste vale de lágrimas. Eia, pois,
advogada nossa, a nós volvei esses vossos olhos
misericordiosos. E depois deste desterro, mostrai-nos
Jesus, o bendito fruto de vosso ventre. Ó clemente, ó
piedosa, ó doce e sempre virgem Maria.
Maria é nossa vida e nossa esperança? De
acordo com a Escritura, Cristo é nossa vida
(Colossenses 3.4). O motivo pelo qual Maria é a
esperança católica foi explicado pelo bispo Fulton J.
Sheen, a quem Billy Graham surpreendentemente
chamou de “o maior comunicador do século XX”:
[10]
Quando fui ordenado, tomei a resolução de oferecer o
santo sacrifício da eucaristia todo domingo à
abençoada mãe... Tudo isso me dá certeza absoluta de
que, quando eu comparecer diante do trono do
julgamento de Cristo, Ele me dirá em sua misericórdia:
“Ouvi minha mãe falar de você”. Durante a minha vida
já fiz cerca de 30 peregrinações ao santuário de N. S.
de Lourdes e cerca de dez ao seu santuário em
Fátima.[11]

Que miserável declaração de esperança pela


eternidade – pensar que Maria irá interceder por ele
por sua devoção a ela! O que aconteceu à sua fé no
Cristo que morreu por seus pecados? No
catolicismo, Cristo e Seu sacrifício por nossos
pecados na cruz não são suficientes. Para ser salvo,
é preciso ter-se o favor de Maria, pois é ela quem
decide quem irá para o céu, conforme demonstram
as muitas citações apresentadas.
Será que os “olhos misericordiosos” de Maria
realmente podem contemplar a todos neste mundo?
Será que ela é realmente a “mãe de misericórdia”? A
misericórdia de Deus não existia muito antes de
Maria ter nascido? Lemos sobre o “Deus da minha
misericórdia” (Salmo 59.17) e somos encorajados a
confiar “na misericórdia de Deus” (Salmo 52.8;
Lucas 1.78, etc.) mas em toda a Bíblia nunca foi
dita uma só palavra sobre a misericórdia de Maria
pela humanidade.
Os que conhecem a misericórdia de Deus não
precisam da misericórdia de Maria. De fato, ela
precisaria ser onipotente, onisciente e onipresente
(qualidades que só Deus possui) para poder estender
sua misericórdia a toda a humanidade. Tanto Paulo
quanto João referem-se à “graça, misericórdia e
paz” vindas de Deus para os crentes (1 Timóteo 1.2;
2 Timóteo 1.2; Tito 1.4; 2 João 3), mas em parte
alguma existe indicação de que a misericórdia é
derramada por Maria sobre os cristãos. Mesmo
assim, o rosário católico faz parecer que
dependemos da compaixão de Maria mais do que
da misericórdia de Deus. Será realmente sua obra
que leva os crentes à presença de Cristo? De acordo
com o rosário deveríamos pensar que sim.
Maria é a “rainha do céu”? A Escritura nos diz
que Cristo é o Rei, mas em lugar algum menciona
que existe uma rainha do céu e muito menos que
ela seja Maria. Se houvesse uma rainha
compartilhando o trono de Cristo, seria a Sua Noiva,
a Igreja formada pelos redimidos, mas mesmo assim
a Igreja nunca é chamada de rainha do céu. A única
“rainha do céu” mencionada na Escritura é um ídolo
adorado pelos pagãos e ao qual as mulheres judias
faziam ofertas, atraindo sobre si a ira de Deus: “Os
filhos apanham a lenha, os pais acendem o fogo, e
as mulheres amassam a farinha, para se fazerem
bolos à Rainha dos Céus; e oferecem libações a
outros deuses, para me provocarem à ira”. “Pois
queimastes incenso [à Rainha dos Céus] e pecastes
contra o SENHOR... por isso, vos sobreveio este
mal, como hoje se vê” (Jeremias 7.18; 44.23).
Longe de ficar embaraçada por tais conexões
pagãs, Roma as exibe publicamente. Muitos
católicos se gabam de que Maria tomou o lugar de
“Maia, a ninfa da mitologia grega, que deu à luz a
Hermes, o filho que teve com Zeus, o deus do céu”.
O mês de Maria foi nomeado segundo Maia, que
era conhecida como a “rainha de Maio”... [e] o
esforço jesuíta para transformar a rainha de Maio na
virgem Maria foi bem-sucedido...”[12]
As Diversas Marias
Existem muitas Marias no catolicismo. “Nossa
Senhora” disto, “Nossa Senhora” daquilo. Onde
quer que o nome “Maria” apareça, em suas várias
formas, essa “santa” consegue reunir seus próprios
seguidores. A maioria dos católicos tem sua “Maria”
favorita. Alguns preferem “Nossa Senhora
Aparecida”, outros, “Nossa Senhora de Guadalupe”,
ou “Nossa Senhora de Lourdes”. O papa João Paulo
II tinha duas “Marias” favoritas: a “Virgem Negra”
de Jasna Gora, a santa padroeira da Polônia, e
“Nossa Senhora de Fátima”. A última apareceu-lhe,
alegadamente, enquanto ele convalescia da tentativa
de assassinato (que aconteceu no aniversário da
suposta aparição de Maria em Fátima, Portugal, no
dia 13 de maio de 1917). Ela lhe disse que havia
salvo sua vida para um propósito e daria ao mundo
o sinal que faria com que todos se ajoelhassem
diante de sua autoridade espiritual suprema. A
revista Time registrou:
A devoção a Maria foi inculcada ao papa em seu lar
polonês, onde por muitos séculos a Madona [negra]
tem sido venerada por rechaçar as tropas de turcos
muçulmanos, luteranos suecos e, em 1920, os
bolchevistas soviéticos...
João Paulo [II] fez do poder unificador que Maria
representa a peça central do seu repertório como
papa. Ele visitou inúmeros santuários marianos
durante suas andanças ao redor do mundo e invocou o
auxílio da Madona em quase todo discurso e oração
que proferiu.[13]

A “Maria do Novo Advento” à qual se referiu o


papa em Denver, está particularmente associada ao
Dia Mundial da Juventude, que João Paulo II
promoveu durante alguns anos. Ela também foi
exibida na vigília de uma noite inteira dos peregrinos
que partiram do parque Cherry Creek (perto de
Denver) para encontrar o papa, que chegava de
helicóptero. Um jornalista presente escreveu:
Já passa das 21 horas quando o ícone oficial do Dia da
Juventude Mundial é apresentado. Essa parte da vigília
é chamada de “veneração [adoração] à imagem da
virgem Maria, Nossa Senhora do Novo Advento”, [a
qual] os peregrinos agora vêem pela primeira vez...
uma imagem de Maria com o menino Jesus ainda em
seu ventre...
A querida Senhora do Novo Advento é o ícone mais
vulgar que já foi criado... Enquanto o Coral do
Colorado e o Coral da Juventude cantam o Magnificat
de Taizé, 10 jovens de Denver levantam o ícone de
Nossa Senhora do Novo Advento e o carregam ao
redor da imensa área perto de um palco que está
dividido em três partes. A multidão reage
calorosamente. Flashes pipocam... pétalas [de flores]
são jogadas ao redor do ícone...[14]

No dia seguinte, que era domingo, o papa


voltou em seu helicóptero. Os peregrinos, tremendo
de frio, (pois tentaram dormir a noite toda no chão
do gramado) saudaram-no com renovado
entusiasmo. Ele celebrou a missa naquele local e
3.000 padres levaram várias horas para ministrar as
hóstias a uma multidão de cerca de 375.000 pessoas.
Dirigindo-se pessoalmente a Maria durante a sua
preleção, o papa começou dizendo:
Com o meu coração cheio de louvor à rainha do céu, o
sinal de esperança e fonte de conforto em nossa
peregrinação de fé à Jerusalém celestial, saúdo a
todos vocês que se encontram presentes nesta solene
liturgia... Este culto é dedicado a ti, Maria, como a
mulher vestida de sol... Ó mulher vestida de sol... a
juventude do mundo te saúda com muito amor... Em
Maria a vitória final da vida sobre a morte já é uma
realidade...
Ó Maria, como mãe da Igreja [Católica], guia-nos
ainda a partir do teu lugar no céu e... ajuda-nos a
crescer em santidade ao derrotar o pecado.[15]
Culto e Adoração a Maria
Já em 1854 o papa Pio IX lançou as primeiras
tentativas de estabelecer um dogma papal infalível.
Elas foram bem recebidas pela Igreja porque
envolviam a sempre popular “virgem Maria”. Por
sua própria iniciativa – usando sua autoridade e sem
contar com o apoio de qualquer Concílio ou suporte
do magistério – Pio IX pronunciou como dogma que
todos os católicos deveriam aceitar a “imaculada
concepção de Maria”: que ela fora “desde o
primeiro momento de sua concepção... preservada
de qualquer mancha do pecado original...” Na
verdade, essa foi uma declaração de sua própria
infalibilidade – mostrando que ele não precisava do
apoio dos bispos ou de um Concílio, mas podia
definir tais dogmas impositivos por si mesmo.
No dia 1º de novembro de 1950, o papa Pio
XII fez uma declaração ex cathedra, supostamente
infalível, em sua Constituição Apostólica intitulada
Magnificentissimus Deus, onde dizia que “a
imaculada mãe de Deus e sempre virgem Maria foi,
no final de sua vida, assunta ao céu em corpo e
alma”. Nessa Constituição o papa afirmava que o
dogma da assunção mariana havia sido
unanimemente crido na Igreja desde seu início e que
era totalmente respaldado pela Escritura. Na
verdade, o dogma era desconhecido pela Igreja
primitiva e não tem qualquer respaldo bíblico. Tais
declarações papais simplesmente correspondiam ao
sentimento popular dos católicos e contribuíram
para aumentar o culto a Maria.
Este desenvolveu-se gradualmente, à medida
em que a apostasia aumentava. Comentando a
adoração a Maria que teve lugar durante a visita do
papa a Denver em 1993, um jornalista nos lembra:
“A Enciclopédia Britânica diz que durante os
primeiros séculos da igreja não havia ênfase alguma
à imagem de Maria”.[16] A Catholic Encyclopedia
concorda: “...Não será motivo de surpresa se não
encontrarmos nenhum traço claro do culto à
abençoada virgem nos primeiros séculos do
cristianismo”.[17] Von Dollinger explica:
Nem o Novo Testamento ou os escritos patrísticos
dizem coisa alguma sobre o destino da santa virgem
após a morte de Cristo. Apenas dois trabalhos
apócrifos do século IV ou V – um atribuído a São João,
outro a Melito, bispo de Sardes – são as mais
antigas... [sugestões] sobre sua assunção corporal.
[18]

A Igreja Católica Romana nega que Maria seja


adorada. A ela se dá supostamente hiperdulia, e aos
outros santos, dulia, enquanto a Cristo é dada latria.
Mas levemos em conta esta oração popular entre os
católicos: “Jesus, Maria e José, eu vos dou meu
coração e minha alma”. Por que não somente a
Jesus? Por que a alguém mais? Só Deus exige – e
certamente só Ele merece – o “coração e alma” de
alguém. Como se pode dar o coração e a alma a
alguém sem que se adore essa pessoa? Pode alguém
ao mesmo tempo dar latria a Jesus, hiperdulia a
Maria e dulia a José?
Entre os católicos devotos, os que se dedicaram
a servir a Maria fazem parte de “legiões”. Um
exemplo típico é a Legião de Maria, que “começou
na Irlanda no dia 7 de setembro de 1921... e agora
existe em cada país na face da terra. As tropas de
Maria estão em toda parte!” Essa Legião obteve a
“recomendação de cinco papas”, desde o seu início.
O papa Paulo VI disse: “A Legião de Maria é um
exército de devotos e fervorosos de Maria, que estão
combatendo as forças do mal no mundo de hoje”.
[19] É inegável o fato de que a devoção a Maria
entre os católicos excede em muito a devoção a
Deus e a Cristo.

Maria, a Onipotente,
Onisciente e Onipresente
A Soul Magazine, “publicação oficial do
Exército Azul de Nossa Senhora de Fátima nos
Estados Unidos e Canadá”, [com tiragem de 22
milhões] declara: “Maria está unida de modo tão
perfeito ao Espírito Santo que Ele só age através
[dela], sua esposa... Toda a nossa vida, cada
pensamento, palavra e ação está nas mãos dela... a
cada momento. Ela deve instruir, guiar e transformar
cada um de nós nela mesma, de modo que somente
ela viva em nós, como Jesus vive nela, e o Pai no
Filho”.[20] Cada pensamento, palavra e ação de
toda a humanidade está nas mãos de Maria? Ela
instrui, guia e transforma cada um de nós nela
mesma? Então Maria é Deus!
Em lugar algum a Bíblia declara que o Espírito
Santo só age através de Maria. O Espírito Santo tem
agido desde a eternidade, uma eternidade antes de
Maria nascer. Toda a nossa vida está nas mãos de
Deus, não de Maria. Somos instruídos e guiados por
Deus, não por Maria. E somos transformados na
imagem de Cristo, não na de Maria. Tampouco a
Bíblia diz que Maria vive nos crentes, mas garante
que Cristo vive em nós pelo Seu Santo Espírito.
Sugerir que tais promessas se cumprem em Maria é
blasfêmia da pior espécie, que a Maria verdadeira
censuraria!
A Bíblia afirma repetidamente que Cristo vive
no cristão (João 14.20; Colossenses 1.27; Gálatas
4.19) e o cristão em Cristo (Romanos 8.1; 2
Coríntios 5.17; Efésios 2.10, etc.), mas nunca traz
uma palavra sequer sobre alguém estar em Maria e
Maria estar em alguém. Para isso ser verdade em
relação a Maria, como é em relação a Deus e a
Cristo, ela teria de ser onipresente como Deus. Para
tudo o que é prometido na Bíblia que Deus
realizaria em nós graciosamente, através de Cristo,
no catolicismo é exigida a intercessão e intervenção
de Maria, como uma intermediária adicional. Que
abominação!
Consideremos a “oração do santo padre [papa]
para o Ano Mariano”: o papa pede a Maria para
confortar, guiar, fortalecer e proteger “toda a
humanidade”. Para fazer isso, ela teria de ser
onisciente, conhecer tudo e estar em todos os
lugares ao mesmo tempo. Pior ainda, sua oração
termina: “Sustenta-nos, ó virgem Maria, em nossa
jornada de fé e obtém para nós a graça da eterna
salvação”. Isso é blasfêmia! Mesmo assim, afirma-se
que “Maria é o refúgio dos pecadores... O portão do
céu... nosso meio de entrar no paraíso”.[21]
Cristo pagou a culpa de nossos pecados e com
o Seu sangue conseguiu a nossa salvação, que é
oferecida gratuitamente pela graça de Deus a todos
quantos a desejam receber. No Evangelho pregado
por Paulo e pela igreja primitiva em parte alguma há
menção de Maria. Sugerir que Maria deve, ou
mesmo pode, de algum modo, “obter para nós a
graça da salvação eterna” é negar a suficiência do
sacrifício de Cristo na cruz por nossos pecados e
rejeitar a graça e o amor de Deus e de Cristo. Os
católicos tentam negar, mas o fato é que a “Maria”
do catolicismo é exaltada acima de Deus e de Cristo.
Mariologia e Mariolatria
Existem católicos conservadores que
consideravam o papa João Paulo II um traidor de
sua Igreja por aceitar outras religiões. Mesmo assim,
estão unidos a ele em sua devoção a Maria. A
poderosa exposição do ecumenismo do papa,
intitulada Pedro, Tu Me Amas? é dedicada ao
“imaculado coração da santíssima virgem Maria”.
[22]
Para que o coração de Maria seja imaculado,
ela deveria ter sido sem pecado. Mesmo assim, a
Bíblia declara inequivocamente: “todos pecaram e
carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). A
própria Maria regozijou-se em Deus como seu
Salvador (Lucas 1.47), pois somente pecadores
carecem de um Salvador. Cristo afirmou claramente:
“Bom só existe um”, ou seja, Deus (Mateus 19.17;
Marcos 10.18). Nenhuma exceção é feita a Maria.
Se fosse levantada a acusação de que Maria é
sua principal divindade, quase todos os membros do
catolicismo iriam negar veementemente. Mas, na
prática, é assim que as coisas funcionam. É dito que,
quando Maria ordena, até Deus obedece.[23] O que
começou como mariologia gradualmente se tornou
mariolatria, como testificam os milhares que rezam
pela intercessão de Maria, e que atribuem tudo a ela,
desde a salvação até a onipotência. Um folheto
popular intitulado “O Rosário, Tua Chave Para o
Céu”, declara:
O rosário é um meio de salvação, porque um
verdadeiro filho de Maria nunca se perde, e aquele
que recita o rosário diariamente é verdadeiramente um
filho de Maria... Maria é a nossa advogada onipotente
e pode obter do coração de seu Filho divino tudo que
for bom para os seus filhos [da terra]... Ninguém fica
sem salvação se apenas voltar-se para Maria
imaculada.

No catolicismo, o fato de Cristo ter morrido


por nossos pecados e oferecer a vida eterna como
um dom de Sua graça nada significa sem Maria.
Embora a Bíblia nem sequer mencione tal coisa, e
embora Paulo jamais tenha pregado isso a quem
quer que fosse, ainda assim, para o católico Maria
tornou-se o canal essencial através do qual fluem a
salvação e toda a graça. Jesus e Deus-Pai também
desempenham um papel importante, mas é Maria
que tudo completa e dispensa todos os dons de Deus
àqueles que, através da devoção a ela, se tornam
“seus filhos”.
Esse dogma blasfemo é ensinado pelo
catolicismo mesmo sem ter qualquer base bíblica.
Em parte alguma a Bíblia sugere que alguém se
torne “filho de Maria”. De acordo com o Evangelho
bíblico, nós nos tornamos “filhos de Deus mediante
a fé em Cristo Jesus” (Gálatas 3.26). Mesmo
assim, no catolicismo alguém se torna um “filho de
Maria” com a promessa de que “um verdadeiro filho
de Maria jamais perecerá”.[24] Mais uma vez ela
usurpa o lugar de Cristo.
Sim, o catolicismo reconhece que Cristo é o
único Mediador entre Deus e os homens (1 Timóteo
2.5), contudo, para ele Maria é a mediadora entre a
humanidade e Cristo “a via rápida para Jesus”.[25]
“Jesus é...o reservatório de todas as graças, e Maria
é o canal pelo qual elas nos são trazidas... [Jesus]
deseja que Sua própria mãe seja nossa advogada
imediata... a quem confiamos nossas necessidades...
e ela as apresentará a Jesus..”.[26] Então as orações
feitas a Deus, embora em nome de Cristo e através
dele, exigem a intermediação de Maria. De fato,
“todas as graças” vêm por meio da “poderosa
intercessão” de Maria:
Ó Deus de infinita bondade e misericórdia, enche os
nossos corações com uma grande confiança em nossa
santíssima mãe, a quem invocamos sob o título de
Coração Imaculado de Maria, e concede-nos, por sua
poderosíssima intercessão, todas as graças, espirituais
e temporais, de que necessitamos. Por Cristo, nosso
Senhor. Amém.[27]

A Bíblia é muito clara ao mostrar que só vamos


ao Pai através de Cristo (João 15.16; 16.23). Nela
não existe a menor sugestão de que devemos ir a
Cristo através de Maria, muito menos de que a
própria Maria seja invocada e responda orações por
sua própria iniciativa e seu próprio poder. Mesmo
assim, a função de Maria como intermediária diante
de Cristo e sua poderosa intervenção em favor e
para proteger os que a invocam, é tanto ensinada no
catolicismo como testificada pelos católicos.
Um presidiário que se converteu ao catolicismo
testificou na revista This Rock [Esta Rocha] de
Keating sobre a transformação em sua própria vida e
também aquilo que o “Espírito Santo” fez pelos
outros presos que se “converteram”. Ele fala pouco
sobre Cristo (além de fazer o “sinal da cruz”), mas
muito sobre a Igreja e a “Comunidade Católica” e, é
claro, sobre Maria. O artigo frisa os “frutos
espirituais” do ministério na prisão, demonstrados
pelos presos convertidos, todos eles participando de
uma “consagração total” – não a Cristo ou a Deus,
mas “ao imaculado coração de Maria”:
Eu sabia que foi a Mãe que os tinha chamado [os
convertidos] ao seu coração... Verifiquei que
poderíamos realizar coisas externas de modo que a
consagração pudesse ser feita como um grupo em
público, quando o arcebispo Oscar H. Lipscomb fosse
escalado para vir aqui para a crisma.
O único horário em que poderíamos ficar todos juntos
para a preparação do nosso grupo era às 6h30 da
manhã, no pátio de recreação, e foi o que fizemos
durante 33 dias consecutivos. Assassinos,
estupradores, assaltantes, traficantes de drogas e
incendiários, diariamente esses homens se
sacrificavam para se encontrarem diante da mãe de
Deus. Todos os dias enfrentavam o frio, o vento, a
chuva e o ridículo, a fim de preparar seus corações e
almas para uma total consagração à “mãe do prisioneiro
perfeito”.
O grande dia chegou. Pouco antes da bênção
apostólica e do encerramento da missa, o arcebispo
Lipscomb permitiu a consagração pública. Passamos
diante de uma estátua de Nossa Senhora que tomamos
emprestada, cada um se ajoelhando em sua honra.
Fizemos fila diante do altar e então nos ajoelhamos.
Como era eu que dirigia as orações de consagração,
não podia ver o que se passava ao meu redor. Mais
tarde, me contaram que o arcebispo e os padres que o
acompanhavam pareciam estar contendo a emoção
durante a cerimônia. Depois de tudo, diante deles se
ajoelharam 13 criminosos empedernidos, todos
convertidos, que tinham se transformado em
“pequenas crianças inocentes” aos pés de sua mãe.[28]
[ênfase acrescentada].

Maria Esmaga a Cabeça da


Serpente
Em Gênesis 3.15 encontramos a primeira
promessa do Messias. Deus está falando com a
serpente [Satanás]: “Porei inimizade entre ti e a
mulher, entre a tua descendência e o seu
descendente. Este [a semente da mulher isto é, o
Messias nascido da virgem] te ferirá a cabeça [da
serpente], e tu [Satanás] lhe ferirás o calcanhar, [do
Messias]”. Mesmo assim as traduções católicas de
Gênesis 3.15 durante anos têm dito que “ela [a
mulher] esmagará a tua cabeça”.
O livro “O Rosário, Sua Chave Para o Céu”,
acima citado, diz que “Maria esmagará a cabeça da
serpente... todos precisam de sua ajuda para ir ao
céu”. Essa abominável usurpação do lugar de Cristo
pela fictícia Maria católica, do Seu posto de
vencedor do pecado e de Satanás, persiste como
uma das maiores perversões da verdade no
catolicismo. Na encíclica de 1849 de Pio IX, Ubi
Primum, ele declara que o “pé de Maria esmagou a
cabeça de Satanás” e que é a própria Maria quem
“sempre tem livrado o povo cristão de suas maiores
calamidades e das armadilhas e dos assaltos de seus
inimigos, resgatando-os continuamente da ruína”.
Novamente afirmamos: ela teria de ser Deus para
fazer isso.
No dia 27 de novembro de 1830, Maria
supostamente apareceu em Paris a Catarina
Labouré, tendo seu calcanhar sobre a cabeça da
serpente, e ordenou que uma “medalha” fosse feita
com esse desenho de sua vitória sobre Satanás.[29]
“Nossa Senhora da Medalha Milagrosa” tornou-se
extremamente popular. Essa medalha ainda é usada
no pescoço, como proteção, por milhões de
católicos, muitos dos quais juram que milagres têm
acontecido a eles como resultado do uso desse
amuleto.
“Nossa Senhora da Medalha Milagrosa” é
apenas uma das, literalmente, milhares de supostas
aparições da “virgem Maria” católica ao redor do
mundo ao longo dos séculos. Tais aparições têm se
multiplicado e sua freqüência tem crescido nos
últimos anos.[30] Algumas não têm sido
reconhecidas como legítimas pela Igreja Católica,
mas muitas são. E todas, oficialmente reconhecidas
ou não, atraem milhões de católicos romanos, que as
vêem como evidência de que a Maria católica é
realmente a esperança do mundo.
João viu uma mulher montada na besta. Será
essa uma indicação do papel estratégico que a
fraudulenta Maria de Roma desempenhará na
preparação do mundo para o Anticristo? Devemos
considerar cuidadosamente essa possibilidade.
CAPÍTULO 28

A Futura Nova Ordem


Mundial
Numa era em que os cientistas debatem a causa do surgimento
do universo, tanto a adoração a Maria como o conflito relacionado
ao assunto têm chegado a níveis extraordinários. Um reavivamento
radical da fé na virgem se alastra por todo o mundo. Milhões de
adoradores, muitos deles jovens, estão afluindo aos seus
santuários. Mais notável ainda é o grande número das alegadas
aparições da virgem nestes últimos anos, da Iugoslávia ao
Colorado.

– revista Time[1]

Não resta dúvida de que Paulo VI, juntamente com João XXIII e
João Paulo II, serão lembrados como os “três grandes papas da
paz”, pioneiros de uma fantástica transcendência da Igreja Católica
para a Nova Era.

– Robert Müller – ex-subsecretário-geral das Nações Unidas[2]

No dia 11 de fevereiro, todos os anos a liturgia da Igreja


relembra a aparição de Nossa Senhora em Lourdes.

– papa João Paulo II[3]

A revista Time noticiou que tem havido muitas


aparições da “virgem Maria” ao redor do mundo e
que “o século XX tornou-se a era da peregrinação
mariana” aos muitos santuários estabelecidos em
memória a essas aparições. Existem 937 santuários
marianos somente na França.[4] Entre 1961 e 1965
houve cerca de 2.000 visitações de Maria à vila de
Garabandal, no nordeste da Espanha, acompanhadas
de fenômenos ocultistas e mensagens apocalípticas
ao mundo. Em 1983, centenas de árabes palestinos
“viram a virgem” perto de Belém, em Israel. Ela
apareceu em vários cantos do mundo:
Também em Dozule... e Kibeho, em Ruanda...
aparições de Nossa Senhora em Akita, no Japão...
aparições no Chile, na Austrália e na Polônia... no
Canadá... San Damiano [em Assis, Itália], Cairo...
Amsterdã, [Nova York, etc.].[5]

Essas aparições têm levado milhões de pessoas


a crerem na Maria do catolicismo. O santuário de
Lourdes, na França, atrai cerca de 5,5 milhões de
peregrinos anualmente; a Madona Negra da Polônia,
5 milhões; Fátima, em Portugal, “é visitada
seguramente por 4,5 milhões de peregrinos por ano,
vindos de uma quantidade cada vez maior de
países”. Desde que João Paulo II visitou o santuário
de Maria em Knock, na Irlanda, “a freqüência
dobrou para 1,5 milhão de pessoas por ano. Para
lidar com esse volume de gente, um novo aeroporto
internacional foi aberto em Knock, em 1986”.[6]
Um “santuário de Maria, rainha do universo” foi
inaugurado recentemente em Orlando, na Flórida. O
santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, próximo
à Cidade do México, “atrai cerca de 20 milhões de
visitantes por ano”![7]
A poderosa proteção de Maria é celebrada em
todo o mundo. Nossa Senhora de Lanka, que
acredita-se ter impedido a invasão japonesa durante
a II Guerra Mundial, tornou-se a padroeira de Sri
Lanka em 1948. Nossa Senhora de Copacabana é “a
padroeira da marinha boliviana... Nossa Senhora de
Coromoto, padroeira da Venezuela”.[8] O ex-
presidente polonês Lech Walesa fez uma
peregrinação à cidade de Fátima, onde “fez orações
de gratidão pela libertação da Polônia”.[9] João
Paulo II acredita que “Maria trouxe o fim do
comunismo para toda a Europa”.[10] Igualmente
convicto, o arcebispo Kondrusiewicz, de Moscou,
fez em 1991 uma peregrinação a Fátima, exibida no
horário nobre em uma importante TV soviética.
Brevemente será construído em Moscou um
santuário em homenagem a “Nossa Senhora de
Fátima”, que apareceu na União Soviética logo após
a queda do Muro de Berlim, como uma forma de
agradecer-lhe pela derrota do comunismo.[11]
Kondrusiewicz deseja que o santuário seja uma
lembrança perpétua dessa grande conquista.[12]
Essas aparições pregam constantemente a vinda
da futura religião mundial do Anticristo: todas as
religiões são basicamente a mesma e devemos nos
juntar para obtermos a paz. Oferecendo um
evangelho ecumênico, que pode ser “aceito por
católicos, protestantes, muçulmanos ou judeus”[13],
“Maria” declara: “Cada um adore a Deus a seu
próprio modo, com paz em seus corações”.[14] O
mesmo diz a Nossa Senhora de Medjugorje, cidade
no sul da Bósnia-Herzegovina, onde pessoas
acostumadas a ter visões afirmam que ela tem
aparecido diariamente, pelos últimos 13 anos[15],
bem no coração da Croácia ustashi.

Aparições Marianas e a
Doutrina Oficial Católica
As aparições marianas dificilmente atrairiam
tanta gente se os dogmas oficiais da Igreja Católica
não as sustentassem. Os católicos são instruídos a
rezar a Maria e recebem a promessa de que ela os
protegerá de todo perigo e suprirá todas as suas
necessidades. Citando o Vaticano II[16], o novo
Catechism of the Catholic Church [Catecismo da
Igreja Católica] declara: “Desde os tempos mais
remotos, a bendita virgem tem sido honrada com o
título de “mãe de Deus”, cuja proteção o fiel busca
em todos os seus perigos e necessidades”.[17] Aqui
podemos ver a doutrina oficial católica romana
desde seu mais alto nível, atribuindo a Maria a
autoridade e o poder que pertencem somente a
Deus! É impressionante essa referência ser citada
num artigo da This Rock (a mais importante revista
apologética católica), argumentando que, embora
uma grande porcentagem de católicos considerem
Maria igual a Deus, tal visão não é uma doutrina
oficial da Igreja Católica.[18] Mas essa citação
prova o contrário: “Os fiéis buscam [Maria] para
proteção... em todas as suas dificuldades e
necessidades”. Além de Deus, quem mais pode
oferecer proteção a todos os fiéis e suprir todas as
suas necessidades?
Em toda a Bíblia não há uma oração sequer
dirigida a Maria, nem exemplo algum de um auxílio
miraculoso seu a qualquer pessoa, tampouco alguma
promessa de que ela quisesse, ou pudesse, fazer
isso. De Gênesis a Apocalipse, proteção e auxílio
são buscados, prometidos e encontrados somente
em Deus e em Cristo. Esse fato é atestado por
centenas de versículos, dos quais os seguintes são
apenas um pequeno exemplo:
“O Deus eterno é a tua habitação e, por baixo
de ti, estende os braços eternos” (Deuteronômio
33.27); “Deus é o nosso refúgio e fortaleza,
socorro bem presente nas tribulações” (Salmo
46.1); “De Deus dependem a minha salvação e a
minha glória; estão em Deus a minha forte rocha e
o meu refúgio” (Salmo 62.7); “Senhor... Meu
refúgio... Deus meu, em quem confio” (Salmo
91.2); “Não temas... eu te ajudo, diz o Senhor, e o
teu Redentor é o Santo de Israel” (Isaías 41.14);
“Salva-me, Senhor [Jesus]!” (Mateus 14.30);
“Senhor [Jesus], socorre-me!” (Mateus 15.25);
“Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto
ao trono da graça, a fim de recebermos
misericórdia e acharmos graça para socorro em
ocasião oportuna” (Hebreus 4.16).
Deus, infinitamente poderoso e amoroso, e
Cristo (que é um com o Pai), conforme prometeram
têm protegido através dos séculos todos os que
nEles confiam. Então, por que alguém clamaria a
Maria? Será ela mais poderosa do que Deus, mais
compassiva, mais confiável ou mais pronta em
atender? Embora a maioria dos católicos negue,
Maria é sutilmente colocada no lugar da Trindade.
Durante a excursão que a imagem de Nossa Senhora
de Guadalupe fez pelos Estados Unidos, milagres
foram atribuídos a ela. Algumas das honrarias que
ela recebe no México incluem:
Os painéis de controle dos ônibus públicos nos
subúrbios da Cidade do México possuem pequenos
santuários adornados de flores dedicados à virgem; as
fábricas mexicanas sempre expõem retratos da virgem
para desencorajar mau comportamento, e dezenas de
milhares de peregrinos que vão anualmente à basílica
terminam sua peregrinação andando de joelhos.[19]

Implorar o auxílio e a proteção de Maria


implica que ela tenha, no mínimo, um poder igual a
Deus e que ela é mais importante do que Deus e
Cristo. Essa não é a Maria da Bíblia, mas a mulher
montada na besta! A fé na Maria do catolicismo,
sustentada por milhares de suas aparições, prepara o
caminho, como talvez nenhuma coisa mais poderia
fazer, para a religião mundial, uma Nova Ordem
Mundial e o reino do Anticristo.

Um Papel Ímpar Para a


Admirável Maria
No mundo inteiro as mulheres estão se
firmando de uma forma inédita na História.
Contrariando a opinião popular, “as mulheres
instigam mais a violência doméstica [e] batem nos
homens com mais freqüência e severidade [do que
os homens batem nelas]”, e sabe-se que essa
violência é muito mais freqüente nas relações entre
lésbicas do que nos relacionamentos entre marido e
mulher.[20] As mulheres estão tomando conta do
que antes era trabalho de homens, e existe uma
aceitação crescente de mulheres que ocupam os
mais altos níveis de liderança nos negócios, no
governo e na religião. Somente Deus poderia ter
dado a João, há mais de 1.900 anos, a visão que
hoje se encaixa tão bem em nossos dias: uma
mulher no controle.
Pela tendência atual, parece inevitável ser uma
mulher que deva cavalgar a besta. Dentre todas as
mulheres da História, nenhuma pode rivalizar com a
onipotente, onisciente e onipresente “Maria” do
catolicismo. Será que, enquanto prepara o seu papel
único que desempenhará na Nova Ordem Mundial
(cavalgar a besta), ela não está agora aparecendo a
milhões ao redor do mundo numa espantosa
demonstração de poder? O roteiro dessa trama foi
muito bem escrito! João Paulo II disse:
Maria... deveria inspirar todos os que cooperam na
missão apostólica da Igreja para o renascimento da
humanidade... A Igreja trilha na História... o caminho
já traçado pela virgem Maria.[21]

O poder ecumênico dessa Maria reside no fato


dela representar uma nova divindade para quem os
seguidores de todas as religiões podem olhar – uma
divindade feminina, bem de acordo com o espírito
de hoje. Até mesmo alguns protestantes são atraídos
por ela. Numa conferência para mulheres realizada
em novembro de 1993, “mais de 2.000 participantes
recitaram uma liturgia para... uma divindade
feminina... [e] num ritual que relembrava a santa
ceia, as mulheres participaram do leite e do mel para
honrarem a deusa”. Era esta uma reunião de
membros da Nova Era? Não, “a maioria dos
participantes representava as principais
denominações protestantes históricas...”[22]
Uma pastora luterana “gabou-se de que o nome
de Jesus Cristo nem sequer foi mencionado”,
enquanto a líder de outra igreja incentivava as
participantes a se desfazerem da “imagem patriarcal
de [um] Deus-Pai”. O teólogo coreano Chung Hyun
Kyung “clamou que os cristãos adotassem uma
“nova Trindade”, composta de deusas budistas,
hindus e filipinas”.[23]
O catolicismo já está um passo à frente.
“Maria” é uma deusa que se encaixa em todas as
religiões, e já é adorada por cerca de 1/4 da
população mundial. Além disso, sua utilidade para
atrair a lealdade das multidões tem sido demonstrada
em alguns países durante séculos:
Maria foi declarada “rainha do povo ucraniano” em
1037, e quase na mesma época a Hungria foi dedicada
a ela pelo rei São Estêvão. “Ricardo II consagrou
solenemente a Inglaterra a Maria, como “seu dote” a
ela... em 1381”. A França foi consagrada a Maria em
1638, por ordem de Luiz XIII, que disse:
“consagramos particularmente a ela nossa pessoa,
nosso Estado, nossa coroa e nossos súditos”; o rei
Casimiro entregou a Polônia a ela em 1656. Todas as
colônias “espanholas sul-americanas foram dedicadas
a Maria através de uma “consagração solene”, em
1643, sob o comando do rei Felipe IV”. Em 1664, o
mesmo “foi feito por Portugal e todas as suas colônias
sob a instigação do rei João IV... no ano seguinte foi a
Áustria”, etc. Os bispos dos Estados Unidos escreveram
em 1846: “Colocamo-nos, bem como tudo a nós
confiado... sob a especial proteção da santa mãe de
Deus...”[24]

Maria e o Islã
É fácil imaginar budistas, hindus, adeptos da
Nova Era e liberais – bem como católicos e
protestantes – unindo-se numa religião mundial, mas
um bilhão de muçulmanos representa um problema
especial. Entretanto, Maria parece ser um caso
singular pelo qual até mesmo eles poderiam se unir a
uma fé universal. Uma revista católica britânica
registra que “um reavivamento mariano está se
espalhando pela África, com supostas aparições da
virgem Maria, encontrando seguidores também entre
os muçulmanos...”.[25] Os muçulmanos africanos
estão presenciando aparições da virgem Maria e
“não se exige deles que se tornem cristãos” para
segui-la.[26] O periódico católico Our Sunday
Visitor [Nosso Visitante Dominical] destacou a
grande honra dada a Maria no Corão e uma conexão
intrigante entre ela e Fátima, a filha favorita de
Maomé.[27]
O bispo Fulton J. Sheen escreveu um livro
interessante, no qual prediz que o islamismo será
convertido ao cristianismo “através da rendição dos
muçulmanos à veneração da mãe de Deus”. Ele
apresentou as razões para isso:
O Corão... tem muitas passagens relacionadas com a
bendita virgem. Antes de tudo, o Corão crê em sua
imaculada concepção e também em seu nascimento
virginal... Maria, então, é para os muçulmanos a
verdadeira Sayyida, ou seja, senhora. A única rival
possível para ela seria Fátima, a filha do próprio
Maomé. Porém depois da morte de Fátima, Maomé
escreveu: “Tu serás a mais abençoada de todas as
mulheres no paraíso, depois de Maria”.[28]

Sheen continua seu argumento, dizendo como


foi notável que “Nossa Senhora” tivesse tido a
perspicácia de aparecer em Portugal, na vila de
Fátima (um lugar que durante a ocupação
muçulmana recebeu esse nome em homenagem à
filha de Maomé), e assim tornar-se conhecida como
“Nossa Senhora de Fátima”. É fato que, quando a
estátua de “Nossa Senhora de Fátima” é levada até
as áreas islâmicas na África, Índia ou qualquer outro
lugar, os muçulmanos vêm às centenas de milhares
para adorá-la. Apenas em dois dias, cerca de
500.000 pessoas foram honrar esse ídolo em
Bombaim, na Índia.[29]

Maria e João Paulo II


Ninguém estava mais convicto da validade das
aparições de Fátima do que o papa João Paulo II,
tampouco existia alguém mais devotado a Maria do
que ele. João Paulo II, que “dedicou a si mesmo e o
seu pontificado a Nossa Senhora”,[30] levou o M de
Maria em seu escudo de armas; seu lema pessoal era
bordado em latim dentro de suas vestes: totus tuus
sum Maria (Maria, sou todo teu). O papa tinha
razões pessoais insólitas para essa devoção especial.
O atentado contra sua vida aconteceu no dia 13 de
maio de 1981, aniversário da suposta aparição da
virgem [ocorrida em 13 de maio de 1917], em
Fátima, Portugal.[31] Enquanto convalescia, ele teve
uma visão, na qual Maria disse que havia poupado a
sua vida para uma missão especial, que ele deveria
cumprir trazendo a paz.[32]
Voltando ao Vaticano depois de sua
recuperação, João Paulo II orou nos túmulos dos
seus antecessores imediatos e declarou: “Poderia
haver aqui outro túmulo, mas a bendita virgem...
determinou outra coisa”.[33] Ele acrescentou com
gratidão e reverência: “Por tudo o que me aconteceu
naquele dia, senti aquela proteção e cuidado
maternais extraordinários, que se mostraram
superiores às balas mortais”.[34] Por que alguém
precisaria de Deus, se tem a proteção de Maria?
O papa, agradecido, fez uma solene
peregrinação até Fátima no dia 13 de maio de 1982,
onde “orou diante da estátua de Nossa Senhora de
Fátima. Milhares ouviram-no falar e consagrar o
mundo a Maria, conforme ela havia solicitado”. Em
pelo menos três outras ocasiões, “16 de outubro de
1983; 25 de março de 1984 e 8 de dezembro de
1985... ele consagrou o mundo a Nossa
Senhora”[35] fazendo “menção especial” ao povo
russo. Depois que o Muro de Berlim caiu e o
comunismo se desintegrou na Europa Oriental, o
crédito tem sido dado a Nossa Senhora de Fátima
por cumprir sua promessa. Ela teria dito que, se os
papas e bispos consagrassem o mundo e a Rússia ao
seu imaculado coração, então o “meu imaculado
coração triunfará, a Rússia será convertida e haverá
paz!”[36]
Essa declaração está em total oposição ao claro
ensino da Bíblia, que diz: “mediante a fé, temos paz
com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”
(Romanos 5.1). Como um dom gratuito da graça de
Deus – uma paz que foi comprada “pelo sangue da
sua cruz” (Colossenses 1.20), a paz individual vem
pela fé a todos os que crêem no Evangelho. A paz
mundial somente será estabelecida quando Cristo
voltar, conforme os profetas predisseram, para
reinar sobre o mundo em Jerusalém.
Mesmo assim, a Maria do catolicismo tem
tomado o lugar de Jesus como a única através de
quem virá a paz, e o papa e sua Igreja sustentam
essa heresia. O mundo de hoje (incluindo os que se
denominam cristãos) está tão ansioso por aceitar
uma solução para os seus problemas que deixa
Cristo de lado. Que a mulher esteja cavalgando a
besta parece indicar que essa pseudo-Maria das
aparições desempenhará um papel importante na
falsa paz pela qual o Anticristo “destruirá a muitos”
(Daniel 8.25). Ao declarar que Deus havia
“confiado a ela a paz do mundo”, a aparição que
dizia ser a virgem de Fátima ofereceu, não o plano
de Cristo mas o seu próprio:
Rezem o rosário diariamente para a obtenção da paz
para o mundo... Rezem, rezem muito e façam
sacrifícios pelos pecadores, pois muitas almas vão para
o inferno porque não têm ninguém para fazer
sacrifícios e rezar por elas...
Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao MEU
IMACULADO CORAÇÃO. Se as pessoas fizerem o que
lhes digo, muitas almas serão salvas e haverá paz.[37]

As almas “vão para o inferno porque não têm


ninguém para fazer sacrifícios”? Cristo já fez o
único sacrifício capaz de proporcionar a salvação!

Um Espírito de Sedução
Essa é uma negação ostensiva, aceita e
promovida por Roma, de que o sacrifício de Cristo
pagou a dívida total pelo pecado. Nos últimos 60
anos todos os papas têm honrado Nossa Senhora de
Fátima.[38] A consagração mítica a um “imaculado
coração” substitui a devoção a Deus e a Cristo, e a
obediência a “Nossa Senhora” traz supostamente a
paz. Essa aparição certamente não era Maria!
Exigindo para si mesma a autoridade e os atributos
de Cristo, a aparição de Fátima ainda declarou:
Nunca vos deixarei. [Essa é a promessa de Cristo aos
seus discípulos, que pressupõe onipresença, um
atributo que somente Deus possui]. Meu coração
imaculado será o vosso refúgio e vos conduzirá a
Deus...
Sacrificai-vos pela conversão dos pecadores [somente
o sacrifício de Cristo tem valor para os pecadores], e
em reparação pelos pecados cometidos contra o
imaculado coração de Maria...
Prometo assistir na hora da morte com todas as graças
necessárias para a salvação todos os que, no primeiro
sábado de cinco meses consecutivos, se confessarem e
receberem a santa comunhão, recitando 50 vezes o
rosário e ficando em minha companhia durante uma
hora enquanto meditam nos mistérios do rosário, com
a intenção de me fazer expiação.[39]

Essa oferta “das graças necessárias à


salvação” feita pela falsa Maria e a promessa de
“conduzir-nos a Deus” é mais uma negação da
suficiência da obra que Cristo consumou na cruz,
uma negação já implícita nos dogmas e ritos
católicos. É ao coração de Maria que o mundo
deve fazer reparação pelo mal que tem feito contra
ela – outro ensino blasfemo. Davi disse: “Pequei
contra ti [Deus], contra ti somente..”. (Salmo
51.4). O pecado é cometido contra Deus e não
contra qualquer uma de Suas criaturas. Portanto,
ensinar que tal reparação deve ser feita a Maria
pelos pecados contra ela é, como já dissemos,
colocá-la no lugar de Deus. Essa elevação da mulher
não apenas se encaixa na visão de João, mas
também mistura paganismo e “cristianismo”,
conforme foi profetizado.
“Rezem o rosário diariamente para haver paz
no mundo...” Um programa de TV católica nos
Estados Unidos anunciava: “Não há problema que
não possa ser resolvido com o rosário”, enquanto
fornecia um número de ligação gratuita para
informações em caso de dúvida. Para rezar o
rosário, deve-se repetir o “pai-nosso” e “glória seja
dada ao Pai... ao Filho... e ao Espírito Santo” seis
vezes, e a “ave-maria” 53 vezes. Sim, quem domina
é a mulher! O mundo está sendo preparado para
aquela mulher que montará a besta, e até mesmo os
líderes evangélicos e seus rebanhos estão sendo
enganados. (Um famoso evangélico americano,
erudito em profecias e conhecido por sua
memorização da Bíblia, repetidas vezes elogia o
papa na televisão e cita “Nossa Senhora de Fátima”
como se ela falasse a verdade).
Essas “aparições” marianas opõem-se
claramente ao Evangelho bíblico de salvação pela
graça através da fé no sacrifício completo de Cristo
e glorificam uma falsa Maria em Seu lugar. Um
espírito enganador (1 Timóteo 4.1) está em ação.
Mesmo assim, João Paulo II disse: “A mensagem de
Fátima é dirigida a todo ser humano, sendo agora
mais urgente e relevante do que nunca”.[40] As
aparições de Maria em tantos lugares oferecem uma
falsa paz. Considerem o seguinte anúncio publicado
no jornal The Dallas Morning News, pago pelo
“Queen of Peace Center” [Centro da Rainha da
Paz]:
Receita para a Paz. Uma voz de uma mulher clama no
deserto... Esse acontecimento foi registrado nos
jornais The Wall Street Journal e New York Times, no
programa de TV 20/20, nas revistas Life, Time, etc.
Milhões de pessoas têm visitado esse local e muitas
têm voltado para casa com uma fé renovada em Deus,
paz em seus corações e um desejo de viver a
mensagem do evangelho... Estamos falando da
aparição da virgem Maria em Medjugorje, Bósnia-
Herzegovina, bem como em dezenas de lugares ao
redor do mundo.
Por que justamente a virgem Maria? A bendita Maria
foi o vaso que trouxe Jesus ao mundo pela primeira
vez. Será que ela não está promovendo Sua Segunda
Vinda?... “Comecem primeiro criando a paz dentro de
seus próprios corações”, diz ela, “e então, em suas
famílias e no mundo”.[41]

O Jesus do Catolicismo é
Subordinado a Maria
Às aparições dá-se o crédito de levarem as
pessoas a Jesus; mesmo assim, entre os peregrinos
que vão aos santuários marianos existem poucos
sinais de devoção real a Cristo. É Maria quem
recebe a honra. O rosário é rezado sem parar, o
assunto gira todo em torno de Maria e não em torno
de Cristo ou Deus, a devoção é a ela, e os
peregrinos se vêem como seus servos, cumprindo
suas ordens. Maria, não Cristo, é quem trará a paz.
O plano de paz para o mundo é dela, a reparação
pelos pecados cometidos contra ela deve ser feita a
ela e é ela que deve deter a mão do seu filho no
juízo. Maria é glorificada, não Cristo.
Além do mais, o Jesus promovido nas
aparições é falso, pois está sempre subordinado a
Maria. As visões de “Maria” em Fátima, Portugal,
que tanto têm significado para os papas,
principalmente para João Paulo II, são muito
explícitas em seu desejo de destronar Cristo e
colocar Maria em Seu lugar. O falso evangelho da
salvação através de Maria é até endossado por um
demônio que se passa por Jesus e acompanha
Maria. Este relato oficial da “aparição de Nossa
Senhora de Fátima” declara:
No dia 10 de dezembro de 1925, a santíssima virgem
Maria apareceu a Lúcia, segurando o seu filho Jesus
como bebê, elevada numa nuvem de luz. [Jesus já não
é mais uma criança!]
Nossa Senhora colocou sua mão no ombro de Lúcia,
enquanto na outra mão ela segurava um coração
rodeado de espinhos afiados. Ao mesmo tempo, o
menino Jesus falou:
Tenham piedade do coração de minha santíssima mãe.
Ele está cercado de espinhos, com os quais os homens
ingratos o perfuram a cada instante, e não há quem os
remova com um ato de reparação.[42]
No dia 15 de fevereiro de 1926, o “menino
Jesus” apareceu novamente e convocou os católicos
a “espalhar esta devoção [e] reparação ao imaculado
coração de sua santa mãe”, declarando que a
reparação deve ser feita ao imaculado coração de
Maria para que a humanidade seja salva![43] Aqui
vemos novamente uma blasfêmia da pior espécie.
Ela jamais seria feita pela Maria ou o Jesus
verdadeiros.
Cristo já não é mais um menino e, portanto,
certamente não poderia aparecer dessa forma – e
mesmo que pudesse, por que deveria? Quando
morreu por nossos pecados Ele já era um homem
adulto e agora está ressurreto, num corpo
glorificado, sentado à direita do Pai. Imaginar que
Cristo é ainda um bebê que acompanha sua mãe é
desafiar toda a fronteira do pensamento racional e
da realidade. Mesmo assim, os que não encontram
problema algum em crer que milhões de hóstias
diferentes podem se transformar, cada uma delas, no
corpo de Cristo “completo e inteiro”, igualmente não
têm problemas em crer que Cristo apareça como
bebê na terra mesmo que esteja ao mesmo tempo no
céu como homem adulto, revestido com Seu corpo
da ressurreição...
Além do mais, o Jesus verdadeiro após Sua
ressurreição falou aos Seus discípulos “que em seu
nome se pregasse arrependimento para remissão
de pecados a todas as nações” (Lucas 24.47). Em
sua pregação Paulo declarou: “vos anuncia
remissão de pecados por intermédio deste [Jesus];
e, por meio dele, todo o que crê é justificado de
todas as coisas das quais vós não pudestes ser
justificados pela Lei de Moisés” (Atos 13.38-39). A
Bíblia não contém indicação alguma de reparações
sendo feitas a Maria, muito menos que isto seja
essencial “para a humanidade ser salva”.
Todas as aparições oferecem explicitamente um
falso evangelho de salvação através de Maria e o
catolicismo sacramental de sempre, com purgatório,
ritual e obras. “Nossa Senhora de Medjugorge”
disse:
Há muitas almas... que têm ficado no purgatório
durante muito tempo porque ninguém reza por elas.
(21/07/82)
Deus colocou toda a sua confiança em mim. Eu protejo
particularmente os que se consagram a mim.
(06/11/82)
No Natal sai do purgatório o maior número de almas.
Há almas no purgatório que rezam fervorosamente a
Deus... [e] Deus lhes dá permissão... de se
manifestarem aos seus parentes na terra, para lembrá-
los da existência do purgatório... (Primavera de 1983)

Estamos vendo claramente aquilo que Paulo


nos avisou que ocorreria nos últimos tempos:
“alguns apostatarão da fé, por obedecerem a
espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (1
Timóteo 4.1). O que essas aparições ensinam não
passam de doutrinas de demônios, que negam a
suficiência da morte de Cristo por nossos pecados,
negam sua posição de Senhor de todos e exaltam a
falsa Maria acima dEle. Ela se torna o caminho para
Jesus e a porta de entrada no céu (doutrina católica
oficial, porém antibíblica). Um exemplo típico é este
excerto de uma carta vinda do escritório do bispo da
diocese de San Angelo, Texas, sobre um santuário
que deveria ser construído para “Nossa Senhora de
Guadalupe”:
Quando nossa bendita Mãe apareceu a Juan Diego, no
monte Tepeyac em 1531, ela pedia que um santuário
fosse construído em sua honra, para que, através dela,
o amor de Deus, Sua compaixão, Seu auxílio e
assistência pudessem ser derramados sobre os
peregrinos que viessem até este lugar sagrado...
Vamos rezar pela direção do Espírito Santo... e
peçamos à nossa bendita Mãe para nos dar a sua
direção. [Assinado] Vossos servos em Cristo e Maria,
reverendíssimo Michael D. Pfeifer, OMI, bispo de San
Angelo, e rev. Domingo Strada, OMI, pastor de Nossa
Senhora de Guadalupe.

Num envelope anexo à doação de uma oferta


ao santuário estava escrito: “Sim, desejo ajudar a
construir um santuário para honrar a nossa bendita
mãe, de modo que todos sejam confortados com a
sua presença”. Mas já existiam outros santuários de
“Nossa Senhora de Guadalupe”. Há milhares de
santuários marianos em todo o mundo. Pode a sua
presença estar, simultaneamente, em todos eles? Ela
teria de ser Deus para que isso fosse verdade. De
fato, a Maria católica promete estar com cada
católico no mundo inteiro. É inegável que os
católicos olham para Maria como se ela fosse até
maior do que Deus e certamente mais
misericordiosa, estando mais disposta a favorecê-los
do que o próprio Deus e Cristo. Do mesmo modo
que as deusas dominaram no passado, essa “deusa”
desempenhará um papel dominante num futuro
próximo.

Reavivada a Antiga Religião


de Roma
Claramente, junto com um reavivamento
mundial do Império Romano liderado pelo
Anticristo, haverá um reavivamento de sua religião,
a qual, como já vimos, era o paganismo que
sobreviveu disfarçado sob uma terminologia cristã.
Essa religião passou posteriormente a ser conhecida
como catolicismo romano.[44] Estátuas das deusas
da fertilidade foram renomeadas de Maria. Imagens
dos imperadores romanos foram confeccionadas, e
todos que se recusassem a ajoelhar-se diante delas e
adorar os imperadores como deuses, eram mortos.
Como sucessores dos imperadores romanos, os
papas também mandaram matar os que recusavam
fidelidade a eles e à sua religião. Isso é um registro
histórico irrefutável e a Bíblia afirma que se repetirá
quando surgir o Anticristo: “[Farão] uma imagem à
besta, [Anticristo]... [que] fizesse morrer quantos
não adorassem a imagem da besta” (Apocalipse
13.14-15).
O papa não será o Anticristo, mas será o seu
braço direito, o falso profeta de Apocalipse 13.11-
17; 19.20 e 20.10. Contudo, nas atuais
apresentações públicas do papa, podemos observar a
adoração que o mundo dará ao Anticristo, quando
este for adorado como Deus. Considerem este
registro de uma testemunha ocular, escrito em 1993,
no Dia da Juventude Mundial, numa cerimônia em
Denver. Os peregrinos que haviam jejuado e
caminhado 24 quilômetros até o parque Cherry
Creek para uma vigília de uma noite inteira diante de
“Nossa Senhora do Advento”, aguardavam a volta
do papa na manhã seguinte. Para os poucos cristãos
ali presentes, o que se seguiu foi quase aterrador:
De repente, o ruído do helicóptero branco é ouvido
mais alto que a música: “É o papa! O papa!”, grita a
multidão histérica... as pessoas se empurram para a
frente. Alguns seguram seus rosários... chorando
[outros] se alegram... A orquestra começa a tocar o
Ojcze Fanfare, a música de recepção ao papa.
O ruído da multidão se torna ensurdecedor, quando a
pequena figura do papa João Paulo II sobe ao palco...
sorri e acena para a multidão... É fascinante ver a
adoração dessas pessoas a esse homem... Em sua
presença o povo perde as defesas. Torna-se vulnerável
diante da sua “espiritualidade” de alto calibre. Ele sorri
com olhos de aprovação, abraçando e beijando os que
conseguem alcançá-lo...
João Paulo II, em seus trajes brancos, aproxima-se de
sua cátedra, uma estrutura de carvalho semelhante a
um trono. Acena mais uma vez aos peregrinos que
estão em pé, depois diminui os passos e se assenta...
A música prossegue suavemente, quando um jovem
do Fórum da Juventude Internacional lê:
“...vi ...grande multidão que ninguém podia enumerar,
de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé
diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de
vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e
clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus,
que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a
salvação”.
A implicação dessa porção da Escritura, lida nesse
contexto... cria nos protestantes um senso de alarme e
horror. A passagem é de Apocalipse 7.9-10 e apresenta
a visão de Cristo em Seu trono no céu. A “grande
multidão que ninguém podia enumerar” é a Igreja
verdadeira, a Noiva... Contudo, no parque Cherry
Creek o papa se assentou num trono entre jovens de
muitas nações e línguas. Eles o ovacionaram enquanto
era lida essa passagem da Escritura.
Não estaria esse papa insinuando ser ele o Cristo no
trono, e os jovens a seus pés suas ovelhas? ...A
arrogância salta aos olhos, apesar da aparente
humildade de João Paulo II. Entretanto, os que não
estão a par da Escritura nem da tradução da letra do
hino polonês que fora cantado não conseguem ver e
nem sentir essa arrogância. Apenas o vêem e sentem
amor.
O papa João Paulo II definitivamente possui um
enorme espírito de sedução... Permite que o chamem
de Aba [Pai], enquanto se assenta em vestes brancas
em seu trono...
Os jovens vestidos em trajes típicos, representando
cada um dos continentes, vêm à frente empunhando
suas bandeiras. Vão até o centro e colocam as
bandeiras no pódio, literalmente aos pés de João Paulo
II.[45]

O Velho Jogo Recomeça!


Os pagãos romanos que adoravam o imperador
não eram tolos. Eles tinham muitos deuses e
toleravam um grande número de crenças. Os
cristãos não eram perseguidos por crerem em Jesus
Cristo, mas porque criam somente nEle e não
aceitavam outros deuses, apenas o Deus da Bíblia.
Do mesmo modo, o catolicismo romano tolera todas
as religiões e permite a seus membros as mais
diversas práticas, desde a yoga até o vodu, contanto
que permaneçam na Igreja Católica. Tanto a opinião
popular como a legislação estão solidificando
atitudes idênticas.
“Leis de ódio” estão surgindo no Canadá e nos
Estados Unidos (e outros lugares), que considerarão
crime alguém sugerir que uma pessoa está errada em
suas crenças ou práticas religiosas e morais. Do
mesmo modo, logo se tornará ilegal dizer que o
homossexualismo é pecado e que qualquer religião
esteja errada. O “Tratado Genocida” assinado pelos
Estados Unidos e por muitas outras nações (mesmo
que ainda não esteja em vigor) considera crime
alguém sugerir que a religião do outro é falsa e
tentar converter outros ao que se considera a
verdade.
É muito estranho que o catolicismo romano
afirma ser a única Igreja verdadeira e, ao mesmo
tempo, tolera todas as religiões, como já vimos.
Também sob esse prisma, o Vaticano é o único que
se qualifica como a mulher montada na besta de
Apocalipse 17. Já vimos que João Paulo II apóia
todas as religiões e afirma que todos os deuses são
um só, enquanto, ao mesmo tempo, se opõe aos
cristãos fundamentalistas. Seu amigo e admirador, o
televangelista Robert Schuller, mostra idéias
semelhantes, porém a partir de uma suposta visão
evangélica: “o modo de separar as boas religiões das
más” seria ver se elas são “positivas”. Schuller
conclamou os “líderes religiosos... qualquer que seja
a sua teologia... a articularem sua fé em termos
positivos... num esforço maciço e unido dos líderes
de todas as religiões [a proclamar] o poder
positivo... de valores religiosos que ajudem a edificar
a comunidade mundial”.[46]
“Valores religiosos que ajudem a edificar a
comunidade mundial” aceitáveis a todas as religiões?
O Anticristo não poderia melhorar esse discurso
dúbio, típico da Nova Era! Mesmo assim, Schuller é
respeitado por líderes evangélicos e aos domingos
tem a maior audiência matinal de todos os
televangelistas americanos. O apoio de Schuller ao
catolicismo romano e sua reivindicação para que os
protestantes “voltem ao lar” de Roma já
documentamos exaustivamente.[47]
A religião mundial vindoura não será
abertamente anticristã, mas se mostrará sutil. Ela,
como o Nacional-Socialismo de Hitler, vai tentar se
passar por “cristianismo positivo” e será
irresistivelmente atraente para o mundo inteiro.
Como tantas coisas que já vemos hoje até mesmo
dentro dos círculos evangélicos, haverá uma
perversão do cristianismo em nome de Cristo. A
mesma aceitação de todas as religiões já é pregada
nas aparições de Maria e foi defendida pela mais
atraente das evangelistas católicas, Madre Teresa de
Calcutá, a quem ninguém ousava criticar em razão
de suas relevantes obras de caridade e seu auto-
sacrifício.
A fama mundial de madre Teresa de Calcutá
levou os protestantes, que certamente admiravam
sua vida de caridade e sacrifício, a uma maior
aceitação do catolicismo. Roma a chamava de “uma
das maiores evangelistas mundiais”.[48] Mas o seu
“evangelismo” não levava pessoa alguma a Cristo, e
o que ela fazia era encorajar as pessoas a reforçarem
suas crenças em qualquer deus:[49]
Trouxeram-nos um homem com a metade do corpo
comido. Os vermes rastejavam sobre ele... Fui limpá-lo
e... ele indagou: “Por que a senhora se dá ao trabalho
de fazer isso?”
“Eu o amo”, falei. “Para mim você é Jesus, que veio
disfarçado de aflição... Estou apenas compartilhando a
alegria de amar você e amar Jesus em você”.
Então, o que esse senhor hindu me disse? Ele apenas
falou: “Glória seja dada a Jesus Cristo”... Ele descobriu
que era alguém amado.[50]

A esse hindu não foi contada a mais


maravilhosa evidência de que “alguém o amava”,
isto é, que este Jesus Cristo, que é Deus, tornou-se
homem para morrer pelos pecados dele, pagando o
preço exigido pela justiça de Deus. Ele também não
ficou sabendo que podia receber perdão e vida
eterna como presente gratuito da graça de Deus. O
hindu não ficou sabendo de nada disso. Aquele
homem não foi, de modo algum, evangelizado à
maneira bíblica. Ele permaneceu sendo hindu, com
as suas superstições e falsas crenças intactas –
continuou vivendo em seus pecados para morrer
sem Cristo. Um hindu que foi “amado”, porém não
amado o bastante por “uma das maiores evangelistas
mundiais” para lhe contar a verdade que poderia
resgatá-lo do inferno. Esse é o “evangelismo” do
novo catolicismo, que se propõe a “converter” o
mundo neste novo milênio. “Amo todas as
religiões”, diz Madre Teresa, uma idéia que se
encaixa perfeitamente com a nova religião mundial.
[51]

O Vaticano e a Nova Ordem


Mundial
A nova religião mundial única será igualmente
tolerante com todas as crenças que desejarem se unir
no caridoso resgate da humanidade. Haverá uma
época em que os cristãos que não comprometerem
sua fé serão condenados à morte por estarem
barrando o caminho da unidade e da paz. David
Koresh [líder de uma seita americana] foi um falso
messias, porém o massacre em Wacco serve para
mostrar quão facilmente o Anticristo poderia
justificar a destruição de qualquer um que se desviar
da religião mundial. O ex-presidente Bill Clinton
disse:
Espero muito que os outros que forem tentados a se
engajar em seitas e se envolver com pessoas como
[David] Koresh sejam intimidados pelas cenas horríveis
que foram vistas [o incêndio que matou vários
membros de sua seita, os davidianos, na sua sede,
perto da cidade de Wacco, Texas]... Há, infelizmente,
um aumento desse tipo de fanatismo em todo o
mundo. E talvez teremos de agir contra ele
novamente.[52]

É quase assustador que o então presidente dos


Estados Unidos considere o massacre de Wacco a
“justiça” merecida pelos fanáticos religiosos. Por
outro lado, os governantes cultuam a parceria com o
catolicismo romano. Isso não aconteceu apenas nos
séculos passados, mas também ocorre ainda hoje. O
relacionamento de João Paulo II com Reagan, Bush,
Gorbachov, Arafat e outros era de conhecimento
geral. A disposição papal de ignorar a injustiça para
manter essas relações foi demonstrada logo no início
do seu pontificado. Ele visitou a “junta de governo
da Argentina, [mas] recusou-se a conceder audiência
aos parentes das 20.000 pessoas que haviam sido
detidas pelos militares e ‘desapareceram’.”[53]
Uma razão para a estreita parceria do Anticristo
com o Vaticano reside na importância que todas as
nações da terra dão às suas boas relações com “a
mais extensa organização internacional do mundo
fora das Nações Unidas”.[54] O ex-embaixador
americano no Vaticano, Raymond Flynn, disse: “O
relacionamento do Vaticano com os Estados Unidos
é extraordinariamente importante... é de interesse
nacional para os Estados Unidos da América manter
fortes relações diplomáticas com o Vaticano”.[55]
O ex-presidente Clinton considerou seu
encontro com o papa em Denver da maior
importância. Ele havia se encontrado várias vezes
com o embaixador Flynn na preparação desse
encontro, e Flynn voou no avião presidencial para
conferenciar com ele. Menos de um ano depois,
Clinton viajou para Roma a fim de se encontrar com
o papa no Vaticano. O mundo inteiro reconhece a
importância desse relacionamento (o mesmo
ocorrerá com o Anticristo).
Desde Roma até Washington, analistas geopolíticos
estão falando sobre uma “nova aliança” entre o
principal líder do poder militar mundial, os Estados
Unidos, e o principal líder do poder espiritual mundial,
o papa.[56]

Brevemente surgirá uma aliança entre o


governo mundial e o Vaticano. Sem dúvida alguma,
a mulher vai cavalgar a besta, já que o seu papel será
tão vital. O Anticristo saberá que não pode haver
paz política a menos que se estabeleça a paz
religiosa. Até que todas as religiões estejam dispostas
a se aceitarem umas às outras como parceiras que
visam alvos comuns, não haverá paz global – e o
papa, pelas razões já documentadas, será essencial
para estabelecer o completo ecumenismo. Robert
Müller, um católico, ex-secretário-geral assistente
das Nações Unidas e reitor da Universidade Pela
Paz disse:
Precisamos de uma espiritualidade mundial ou
cósmica... Espero que os líderes religiosos se juntem e
definam... as leis cósmicas que sejam comuns a todas
as crenças...
Também devemos esperar que o papa venha às
Nações Unidas... falar para todas as religiões e
espiritualidades deste planeta e dar ao mundo a visão
religiosa de como o terceiro milênio deve ser um
milênio espiritual...[57]

Quando os líderes religiosos e os líderes


políticos finalmente se unirem a fim de atingir o
mesmo objetivo, então o reino do Anticristo já terá
chegado. No passado, durante mais de 1.000 anos,
foi assim que as coisas ocorreram (uma união
imperfeita) sob a liderança do Vaticano. E
novamente será assim, mas esse tempo será de um
controle completo, que somente os computadores e
satélites da atualidade poderiam tornar possível.

Uma Solene Advertência do


Céu
Como poderiam os líderes religiosos e seus
seguidores tolerar esse totalitarismo? Analisemos o
exemplo da delegação de 266 membros do Concílio
Nacional de Igrejas da América do Norte (CNI), que
visitou a União Soviética em 1984. Eles
excursionaram por 14 cidades e visitaram numerosas
igrejas permitidas pelo Estado. O New York Times
registrou que a delegação do CNI “elogiou a
condição da religião na União Soviética e condenou
o papel dos Estados Unidos na corrida
armamentista... [e] falou com irritação que a
harmonia de sua visita havia sido quebrada quando
dois manifestantes exigiram liberdade religiosa e
exibiram cartazes [em que se lia: “Esta não é uma
Igreja livre”] durante um culto na igreja batista”.[58]
O líder da delegação da CNI, Bruce Rigdon, do
McCormick Theological Seminary de Chicago,
“disse ter ficado ofendido com o protesto e
manifestou admiração pelas autoridades soviéticas
que o sufocaram”.[59]
O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) realizou
sua Quinta Conferência Mundial Sobre Fé e Ordem
em Santiago de Compostela, Espanha, entre os dias
4 e 13 de agosto de 1993. Pela primeira vez os
católicos romanos eram participantes oficiais num
encontro do CMI. O objetivo visado pelos
participantes foi trabalhar com uma Igreja Mundial –
não com uma unida pela fé, mas com uma visível
aos olhos do mundo inteiro. A delegação adotou a
declaração unânime:
Não há como voltarmos atrás... deste simples
movimento ecumênico único que une preocupação
pela unidade da igreja e preocupação pelos... desafios
do mundo.[60]

Essa significativa declaração reconhece que a


igreja mundial deve agir em parceria com o governo
mundial. O moderador do Comitê Central da CMI,
Aram Keshishian, declarou em seu discurso: “O
CMI deve estabelecer o seu rumo doutrinário mais
de acordo com a ética social... fé e ordem não
podem ignorar a dimensão sócio-político-econômica
em sua busca pela unidade da igreja... Qualquer
dicotomia entre fé cristã e envolvimento político,
entre a unidade da igreja e os anseios de justiça é
uma heresia ecumênica”.[61]
O objetivo será alcançado. Contudo, o
casamento de conveniência entre o Anticristo e a
falsa igreja mundial não vai durar para sempre.
Quando acabar a lua-de-mel, o Anticristo se voltará
para destruir a “meretriz” (Apocalipse 17.16),
cumprindo assim a vontade de Deus nesse processo
(v. 17).
Uma das piores acusações que Deus faz à
mulher montada na besta é que ela não apenas tem
negociado “mercadoria de ouro, de prata, de
pedras preciosas...” mas também “escravos e até
almas humanas” (Apocalipse 18.12-13), o que,
aliás, já documentamos.
Entrementes, há uma “voz do céu” advertindo
em tom sério e solene:
“Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes
cúmplices em seus pecados e para não
participardes dos seus flagelos; porque os seus
pecados se acumularam até ao céu, e Deus se
lembrou dos atos iníquos que ela praticou. Dai-lhe
em retribuição como também ela retribuiu, pagai-
lhe em dobro segundo as suas obras e, no cálice
em que ela misturou bebidas, misturai dobrado
para ela. O quanto a si mesma se glorificou e viveu
em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e
pranto, porque diz consigo mesma: Estou sentada
como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de
ver! Por isso, em um só dia, sobrevirão os seus
flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida
no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a
julgou” (Apocalipse 18.4-8).
Que todos aqueles que amam Cristo e Seu
Evangelho possam aliar-se em compaixão e
verdadeira união, a fim de resgatar o maior número
possível de pessoas desse tenebroso juízo.
APÊNDICE A

O Purgatório
A verdade de que os pecados são seguidos de castigos foi
divinamente revelada. A santidade e justiça de Deus os infligem.
Os pecados devem ser expiados. Isso pode ser feito aqui na terra,
através dos sofrimentos, misérias e tribulações desta vida e, acima
de tudo, através da morte.
Caso contrário, a expiação deverá ser feita na outra vida, através
do fogo e tormentos ou castigos purificadores... os castigos com os
quais somos atribulados aqui são impostos pelo julgamento de
Deus, que é justo e misericordioso. As razões para sua imposição
são que nossos almas necessitam ser purificadas, a santidade da
ordem moral precisa ser reforçada e a glória de Deus deve ser
restaurada à sua completa majestade.

– Va ti ca no II[1]

Se alguém diz que depois de receber a graça da justificação a


culpa é remida e o débito do castigo eterno é apagado de todo
pecador arrependido, que nenhum débito de castigo temporal
persiste para ser pago aqui neste mundo ou no purgatório antes
que se abram os portões do céu, seja anátema.
– Concílio de Trento[2]

Conforme indicam as citações da página


anterior, o catolicismo ensina que apesar da morte
de Cristo ter tornado possível o perdão dos pecados,
o pecador perdoado deve sofrer uma pena indefinida
ou passar por um tormento de intensidade e duração
desconhecidas, a fim de ser purgado e só então ficar
pronto para entrar no céu. Enquanto o catolicismo
diz que é teoricamente possível ser purificado
através do sofrimento nesta vida e na morte,
ninguém, nem mesmo o próprio papa, pode saber se
isso já aconteceu. Conseqüentemente, quase todos
os católicos esperam ficar um tempo indefinido no
purgatório. Deixar de aceitar a doutrina do
purgatório leva à excomunhão automática da Igreja
Católica Romana.
Tanto o Concílio de Trento como o Vaticano II
falam daqueles que “devem ainda fazer expiação
[pelos seus pecados], no fogo do purgatório”[3],
apesar de Cristo ter morrido pelos seus pecados.
Aqui está a explicação do Vaticano II sobre essa
doutrina:
A doutrina do purgatório demonstra claramente que
mesmo quando a culpa do pecado foi apagada, seu
castigo ou suas conseqüências podem permanecer a
fim de serem purgados ou apagados.
No purgatório as almas dos que morreram na caridade
de Deus e se arrependeram de verdade, mas não
proporcionaram a satisfação com a penitência
adequada pelos seus pecados e omissões, são
purificadas após a morte com castigos preparados para
purgar o seu débito.[4]

Qual será a penitência adequada? Ninguém


sabe. A Igreja jamais a definiu. Onde a Bíblia diz
que castigos purgam pecados? Em parte alguma!

A Doutrina Impossível
A doutrina do purgatório violenta tanto a lógica
quanto a Escritura. Romanos 6.23 diz: “O salário
do pecado é a morte... [ou seja, a separação eterna
de Deus]”, não um tempo limitado no purgatório.
Estaríamos perdidos para sempre se não fosse o
sacrifício de Cristo pelos nossos pecados. Tampouco
o pecado é algo de tal composição ou qualidade que
algum tipo de sofrimento seja capaz de purgá-lo do
coração e da alma. O pecado é parte da própria
natureza humana. O sofrimento pode realmente
alterar temporariamente a atitude de alguém, mas
logo que passa a dor, as velhas tendências voltam,
pois o coração não foi mudado. É preciso um
milagre de Deus para purgar a alma do pecado – um
milagre que, ao mesmo tempo, deixe intacto o poder
do homem para escolher e satisfazer as exigências
da infinita justiça de Deus.
A Bíblia declara inequivocamente que existe
apenas um caminho para a alma ser purificada:
através do sangue de Cristo derramado na cruz em
pagamento do pecado, e pelo novo nascimento do
Espírito de Deus, através da fé em Cristo e em Sua
obra redentora completa. Assim, os sofrimentos no
purgatório são falsos em dois aspectos doutrinários:
1) É impossível que o sofrimento possa purificar o
pecado do coração; 2) É desnecessário que o
pecador perdoado sofra pelo seu pecado, pois Cristo
já pagou a penalidade completa exigida pela justiça
de Deus. Somente assim uma pessoa pode ser limpa
de suas iniqüidades.
A Bíblia declara que Cristo “...depois de ter
feito a pu ri fi ca ção dos pecados, assentou-se à
direita da Majestade, nas alturas” (Hebreus 1. 3),
indicando que a obra de purificação estava
completa. E, diz outra vez que “...o sangue de
Jesus, seu Filho [de Deus], nos purifica de todo
pecado” (1 João 1. 7). A Escritura é muito clara ao
declarar que foi o sangue de Cristo derramado na
cruz, debaixo do julgamento de Deus, que nos
purificou. Além do mais “...sem derramamento de
sangue, não há remissão [de pecado]” (Hebreus 9.
22). A descrição do purgatório não é a de um lugar
de derramamento de sangue, mas sim de “fogo
purificador”. A única purgação possível de nossos
pecados foi realizada por Cristo; ela é aceita
somente pela fé e ocorre em nosso coração somente
pela graça de Deus.
Existe ainda outra razão pela qual o sofrimento
do pecador, seja na terra ou no purgatório, não pode
purificá-lo: aquele que faz o sacrifício pelo pecado
deve ser sem pecado. No Antigo Testamento é dito
62 vezes que os animais oferecidos deveriam ser
“sem mácula” (Êxodo 12.5; 29.1; Levítico 1.3,
etc.). Estes eram “tipos” ou símbolos de Cristo, o
santo e imaculado “Cordeiro de Deus”, que tiraria
todo pecado do mundo (João 1. 29,36). Sendo
assim, não há sofrimento algum do pecador, aqui ou
no purgatório, que seja capaz de purificar a ele
mesmo, ou a quem quer que seja, do pecado. Isso
só poderia ser feito por um sacrifício sem mácula.
A Bíblia diz que Cristo “não cometeu pecado”
(1 Pedro 2.22), “não conheceu pecado” (2
Coríntios 5.21) e “nele não existe pecado” (1 João
3.5). A impecabilidade absoluta era essencial, ou
então Cristo não poderia ter morrido pelos nossos
pecados, pois Ele estaria sob a penalidade da morte
pelos Seus próprios pecados. Por isso Pedro disse
que Cristo, “o justo, [sofreu] pelos injustos [nós],
para conduzir-vos a Deus [ou seja, ao céu e não ao
purgatório]” (1 Pedro 3.18). Ele acrescentou que
aqueles que não têm essa segurança esqueceram “da
purificação dos seus pecados de outrora” (2 Pedro
1. 9). Se confiamos em Cristo como Salvador,
temos de aceitar pela fé o fato de que Deus nos
purificou através da obra completa de Cristo.
Origem, Desenvolvimento e
Propósito Dessa Doutrina
A idéia do purgatório, um lugar fictício de
purificação, foi inventada pelo papa Gregório o
Grande, em 593. Houve uma certa relutância em
aceitar a idéia (já que contradizia as Escrituras) e por
isso o purgatório não tornou-se um dogma católico
oficial senão cerca de 850 anos mais tarde – no
Concílio de Florença, em 1439. Nenhuma doutrina
aumentou tanto o poder da Igreja sobre os seus
membros, nem multiplicou tanto os seus lucros
quanto essa. Até hoje a ameaça do purgatório paira
sobre os católicos, que acabam dando ofertas
repetidas à Igreja em troca da sua ajuda para retirá-
los daquele lugar de tormento.
Roma promete que, se os seus decretos forem
seguidos, a pessoa poderá eventualmente sair do
purgatório e entrar no céu. Mesmo assim, a Igreja
jamais pôde definir quanto tempo é abreviado pelos
meios que ela oferece. É muita tolice acreditar que é
possível ser liberto do purgatório por uma Igreja que
nem sabe quanto tempo deve-se ficar lá por causa
de um pecado, ou quantos ritos ou penitências são
necessárias para reduzir o sofrimento. Apesar disso,
os católicos vão dando ofertas à Igreja e grandes
somas são deixadas em seus testamentos (lembre-se
de Henrique VIII) para garantir inúmeras missas
rezadas em seu favor. Esse processo nunca pára, e
“só pra garantir” mais missas são necessárias.
O Concílio de Trento, o Vaticano II e
conseqüentemente o Código de Direito Canônico
contêm muitas regras complexas para aplicar os
méritos dos vivos, e especialmente as missas pelos
mortos que estão sendo purificados de seus pecados,
a fim de reduzir suas penas no purgatório.
A Igreja oferece o sacrifício pascal pelos mortos de
modo que... os mortos possam ser auxiliados pelas
rezas e os vivos consolados pela esperança.
Dentre as missas pelos mortos está a missa de corpo
presente, que é muito importante... Uma missa pelos
mortos deve ser celebrada logo que chega a notícia da
morte...[5]

Um dos maiores mentores desta doutrina tão


falsa, mas sem dúvida proveitosa, foi um frade
agostiniano chamado Agostino Trionfo. Em sua
época (século XIV), os papas governavam como
monarcas absolutos, tanto no céu como na terra.
Pelo seu poder de “ligar e desligar” eles não apenas
estabeleciam e depunham reis e imperadores como
também faziam acreditar que podiam abrir e fechar
as portas do céu para a humanidade, segundo a sua
vontade. O gênio de Trionfo fez crescer essa
autoridade até uma terceira esfera. Von Dollinger
explica.
Costumava-se dizer antes que o poder do vigário de
Cristo se estendia sobre duas esferas – a terrena e a
celestial... A partir do final do século XIII, uma terceira
esfera foi acrescentada, o império que foi consignado
ao papa pelos teólogos da Cúria – o purgatório.[6]

Problemas com o Apoio de 2


Macabeus
Gavin conta como em seu tempo (início do
século XVIII), ainda era comumente ensinado que
havia oito níveis no purgatório. Os pobres ficavam
no nível mais baixo, onde o fogo era menos intenso,
os reis no nível mais alto, onde o fogo queimava
com maior intensidade. Deus, em Sua bondade,
havia supostamente planejado que assim fosse
porque os reis e nobres podiam pagar mais à Igreja
para retirar suas almas dali, enquanto os pobres
tinham de pagar pouco. Ele fala de pessoas pobres
que, após saberem que um parente seu, recém-
falecido, estava entre os mendigos no purgatório,
juntavam todo o dinheiro que conseguiam para
mandar rezar muitas missas, a fim de removê-lo
para um nível mais alto. Embora o tormento fosse
maior, eles estariam em melhor companhia. Então os
padres cobravam tanto para aumentar o tormento no
purgatório quanto para retirar as pobres almas de lá!
Nem a palavra “purgatório” e tampouco a idéia
do purgatório podem ser encontradas em parte
alguma da Bíblia. Ela sequer é mencionada por
Jesus ou pelos apóstolos. O apologista Karl Keating
admite que a doutrina “não é explicitamente
estabelecida na Bíblia”.[7] O único versículo citado
como suporte ao purgatório vem do livro apócrifo
de 2 Macabeus 12.45: “...era santo e piedoso o seu
modo de pensar. Eis por que ele mandou oferecer
esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido,
a fim de que fossem absolvidos do seu pecado”.
Existem três problemas óbvios com relação a
esse versículo. Em primeiro lugar, não há sequer um
exemplo, em toda a Bíblia, de alguém orando pelos
mortos. A Bíblia diz claramente: “E, assim como
aos homens está ordenado morrerem uma só vez,
vindo, depois disto, o juízo...” (Hebreus 9.27).
Depois da morte é tarde demais para se fazer
orações; o que vem em seguida é somente o
julgamento. Por isso esse versículo contradiz a
Bíblia.
Em segundo lugar, as pessoas a quem o
versículo de Macabeus se refere eram culpadas de
idolatria. “Então encontraram, debaixo das túnicas
de cada um dos mortos, objetos consagrados aos
ídolos de Jâmnia, cujo uso a Lei vedava aos judeus”
(2 Macabeus 12.40). A idolatria era um pecado
mortal e, conforme a doutrina católica, levaria esses
homens não para o purgatório, mas para o inferno
de onde não há escapatória. Então, a idéia de orar
por eles seria tanto um blasfêmia quanto perda de
tempo e dificilmente serviria como base para se
aceitar a doutrina do purgatório.
Finalmente, o próprio livro de Macabeus diz
que não havia profetas naquele tempo e, portanto,
havia cessado a inspiração divina. “Foi esta uma
grande tribulação para Israel, qual não tinha havido
desde o dia em que não mais aparecera um profeta
no meio deles” (1 Macabeus 9.27). E também: “E
que os judeus e seus sacerdotes haviam achado por
bem que Simão fosse o seu chefe e sumo sacerdote
para sempre, até que surgisse um profeta fiel” (1
Macabeus 14.41). Por isso os dois livros de
Macabeus, na melhor das hipóteses, podem ser
considerados como relatos históricos, mas
certamente não como parte das Escrituras,
principalmente porque Deus não estava inspirando
pessoa alguma de Seu povo. Fica óbvio que não se
pode sustentar qualquer doutrina verdadeira citando-
se essa fonte. Não é de admirar que ela seja
contrária à Bíblia!

E os Sofrimentos de Paulo?
Os apologistas católicos tentam ser bíblicos
quando se baseiam na doutrina dos sofrimentos
purificadores usando Colossenses 1.24, onde Paulo
diz: “Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por
vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo,
na minha carne, a favor do seu corpo, que é a
igreja”. Contudo, está claro que os sofrimentos de
Paulo nada tinham a ver com a purificação de
pecados, quer pelos seus ou de outras pessoas, pois
os sofrimentos de Cristo haviam completado essa
obra. Somente sacrifícios imaculados e o
derramamento de sangue podiam consegui-lo.
Então, o que Paulo quis dizer? Em vez de um
sofrimento que servisse para a purificação dos seus
ou dos pecados alheios, Paulo estava sofrendo pelo
anseio de levar o Evangelho para os outros (“meus
sofrimentos por vós...”). Ele se referia à
perseguição que é acarretada a “todos quantos
querem viver piedosamente em Cristo Jesus” (2
Timóteo 3.12). Jesus disse aos Seus discípulos que
eles seriam odiados e perseguidos pelo mundo (João
15. 18,19). Existe um “escândalo da cruz”
(Gálatas 5.11) e Paulo dizia que devemos estar
prontos a ser “perseguidos por causa da cruz de
Cristo” (Gálatas 6.12).
Não é que Paulo estivesse sofrendo pelos
pecados para completar o sofrimento de Cristo na
cruz, pois este foi completo. O sofrimento que Paulo
teve de suportar, e que todos os cristãos leais ao
Senhor devem suportar, ocorre para que nos
identifiquemos com Cristo e vivamos vidas
verdadeiramente cristãs, que condenam o mundo e
revelam a sua maldade. Portanto, o mundo nos
odeia, assim como odiou a Cristo. Na verdade,
Cristo disse que Paulo iria sofrer muito pelo Seu
nome (Atos 9. 16). Em Atos 5.41 os discípulos “se
retiraram... regozijando-se por terem sido
considerados dignos de sofrer afrontas por esse
Nome”. O sofrimento que os verdadeiros cristãos
suportam vêm das mãos daqueles que odeiam o
Senhor e se escandalizam na Sua cruz. Filipenses
1.29 diz que é um privilégio sofrer por causa do
ódio do mundo a Cristo: “Porque vos foi concedida
a graça de padecerdes por Cristo e não somente de
crerdes nele”. Segunda Tessalonicenses 1.5 diz:
“...do reino de Deus, pelo qual, com efeito, estais
sofrendo”. Em 1 Timóteo 4.10 lemos: “labutamos e
nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto
a nossa esperança no Deus vivo”. Pedro também
se referiu ao sofrimento de todo cristão que é fiel ao
Senhor (1 Pedro 3.14 e 4.13-16). Muitas outras
passagens expressam o mesmo pensamento.
Em Filipenses 3.10 Paulo demonstra seu desejo
de conhecer a Cristo “e a comunhão dos seus
sofrimentos”, os quais, diz ele, o levarão à
conformidade da morte e caráter de Cristo. Está
claro que Paulo se referia aos sofrimentos por amor
a Cristo, aqui na terra, na mão dos pecadores, e não
ao sofrimento num futuro purgatório a fim de ser
purificado de algum pecado. Paulo escreve em
Romanos 8.18 que “os sofrimentos do tempo
presente não podem ser comparados com a glória
a ser revelada em nós”. Certamente aqui não há
menção alguma ao purgatório. Nós vamos
diretamente dos sofrimentos deste mundo até a
presença da glória de Cristo e de Deus.

Outros Problemas Sérios do


Purgatório
A doutrina do purgatório erra de muitas outras
maneiras. Ela esquece que ofendemos a infinita
justiça de Deus. Tiago diz que mesmo o menor
pecado torna um pecador “culpado de todos”
(Tiago 2.10). Por quê? Porque qualquer pecado é
rebelião contra Deus, que separa de Deus por toda a
eternidade. Somos seres finitos e nunca poderíamos
pagar a penalidade infinita exigida pela justiça de
Deus. Conseqüentemente, não há meio de escapar
do inferno, mas o pecador deve sofrer eternamente
lá. Portanto, “expiar” o pecado de uma pessoa
através do sofrimento é algo impossível.
Claro que, em tese, Deus poderia pagar a
penalidade infinita exigida pela Sua justiça por causa
do pecado, mas isso não seria justo, pois Ele não é
um de nós. Por isso Deus tornou-Se homem através
do nascimento virginal. Sendo um homem sem
pecado e ao mesmo tempo Deus infinito, numa só
Pessoa, Cristo foi capaz de satisfazer as exigências
de Sua própria justiça, “para que todo o que nele
crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João
3.16). A única expiação do pecado é recebida como
um dom gratuito da graça de Deus; qualquer
tentativa de ganhá-la ou merecê-la é uma rejeição da
oferta da misericórdia de Deus a pecadores indignos.
Além do mais, o pensamento de que existe qualquer
sofrimento deixado para o cristão suportar como
pagamento de seus pecados, depois que Cristo
sofreu a penalidade total e bradou “Está
consumado!” (João 19.30), é uma blasfema
negação da redenção efetuada por Cristo e da
salvação que Ele nos oferece.
No ensino sobre o purgatório vemos mais uma
vez que o católico não aceita a salvação pela graça
de Deus, mas insiste em acrescentar obras humanas
ao que Cristo realizou. Embora o catolicismo afirme
que a salvação ocorre somente por causa da graça e
através da fé, ele também declara que as boas obras
(ao invés da graça de Deus operando nos
indivíduos) são essenciais à salvação. Citamos
novamente o Vaticano II:
Desde os tempos mais remotos na Igreja as boas
obras também eram oferecidas a Deus pela salvação
dos pecadores... [pelas] orações e boas obras do povo
santo... o penitente era lavado, purificado e redimido...
Seguindo os passos de Cristo, aqueles que crêem nEle
sempre... carregaram suas cruzes para fazer expiação
pelos seus próprios pecados e os pecados alheios...
[para] ajudar os seus irmãos a obter a salvação de
Deus...[8]

Uma Contradição Fatal


Somente a submissão cega à Igreja impede que
os adeptos do catolicismo romano vejam que a
doutrina do purgatório contém uma contradição
óbvia e fatal. Por um lado, somos informados de
que o sacrifício de Cristo não é suficiente para levar
alguém ao céu, mas além dos sofrimentos de Cristo
na cruz o próprio pecador perdoado deve sofrer
tormento para se purificar dos seus pecados. Por
outro lado, e em contradição direta a isso, diz-se que
a missa, que é a representação ou renovação
perpétua do sacrifício de Cristo, reduz (em
proporções desconhecidas) esse sofrimento.
Presume-se que se um número suficiente de missas
forem rezadas, alguém será purgado pela expiação
de todos os pecados, sem sofrimento algum. Nesse
caso, não é preciso que a pessoa sofra para ser
purificada.
Se alguém tivesse verdadeiramente de sofrer a
fim de que os portões do céu pudessem ser abertos,
a Igreja nada teria a oferecer e perderia uma
importante fonte de renda. O mesmo seria válido se
o sacrifício de Cristo pelo pecado, conforme ensina
a Bíblia, fosse suficiente para purgar o pecador. A
Igreja Católica então iria falir. Portanto, a fim de
manter a Igreja em plena operação e com seus
cofres sempre enchendo, ensina-se que alguém pode
ser purificado do pecado através de certos meios que
a Igreja pode prover e que o sacrifício de Cristo na
cruz foi insuficiente para fazê-lo. Assim a missa,
pela qual a Igreja recebe dinheiro, pode ser creditada
como algo capaz de reduzir a pena do purgatório e
abrir os portões do céu. É surpreendente como
aquilo que o sacrifício de Cristo na cruz não pôde
efetuar, a suposta repetição desse sacrifício nos
altares católicos pode completar.
Além do mais, diz-se que o sacrifício de outras
pessoas também pode reduzir o tempo necessário à
purificação no purgatório. O estigma de Padre Pio e
os sofrimentos dos “santos” podem, assim,
completar o que o sacrifício de Cristo na cruz não
conseguiu. Vamos reproduzir novamente o que diz o
Vaticano II: “Seguindo os passos de Cristo, aqueles
que crêem nEle sempre... carregaram suas cruzes
para fazer expiação pelos seus próprios pecados e os
pecados alheios”. A cruz de Cristo era capaz apenas
de perdoar, mas não de purgar o pecado; contudo,
as cruzes levadas pelos outros têm o poder de
purgar e portanto podem fazer mais do que a cruz
de Cristo fez!
A doutrina do purgatório contém uma
contradição fatal. Ela declara que a pessoa deve
sofrer, a fim de pagar pelos seus pecados; mas, ao
mesmo tempo, diz que não é preciso que haja
sofrimento, desde que certas regras sejam seguidas.
A melhor maneira de escapar do sofrimento é
através da repetição do sacrifício da missa, embora
existam muitas outras maneiras. A redução ou
eliminação da pena no purgatório também é
efetuada através de indulgências. Essa doutrina é
explicada no Apêndice B.
APÊNDICE B

As Indulgências
A indulgência é uma remissão diante de Deus, da pena temporal
pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel,
devidamente disposto e em certas e determinadas condições,
alcança por meio da Igreja, a qual, como dispensadora da
redenção, distribui e aplica com autoridade o tesouro das
satisfações de Cristo e dos santos.
A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberta, em parte
ou no todo, da pena temporal devida pelos pecados.
Qualquer fiel pode lucrar indulgências parciais ou plenárias para
si mesmo ou aplicá-las aos defuntos como sufrágio.

– Código de Direito Canônico[1]

Pois o Filho unigênito de Deus... adquiriu um grande tesouro


para a Igreja militante... Ele o confiou ao bendito Pedro, portador
das chaves do céu, e aos seus sucessores, seus vigários na terra,
para que possa ser distribuído aos fiéis para a sua salvação... O
“tesouro da Igreja”... é o valor infinito e inesgotável que têm junto
a Deus as expiações e os méritos de Cristo...
Esse tesouro inclui também as preces e as boas obras da bem-
aventurada virgem Maria. Elas são realmente imensas, insondáveis
e até mesmo imaculadas em seu valor diante de Deus. Nesse
tesouro, também estão incluídas as orações e boas obras de todos
os santos [que]... operando [por suas boas obras] a sua própria
salvação, também contribuíram para a salvação de seus irmãos...

– Vaticano II[2]

Podem os cristãos que crêem na Bíblia


realmente aceitar um evangelho que é obviamente
tão falso e se juntar àqueles que o pregam para
“evangelizar” o mundo? Podem os evangélicos, em
sã consciência, encaminhar as almas que estão em
busca de repostas a uma Igreja que prega o
purgatório e as indulgências, e concordar que seus
membros são cristãos e não precisam ser
evangelizados? Uma Igreja que afirma ser capaz de
controlar os portões do céu e de abri-los para os que
nela depositam sua confiança?
Na verdade, a Igreja Católica gloria-se em sua
pretensão de ser “a dispensadora da redenção” (o
cânon 992 diz o mesmo). Roma admite, sem
vergonha alguma, que a salvação que ela oferece
deve ser recebida em parcelas e que a sua eficácia é
derivada, não dos “méritos de Cristo”, mas do
superávit na balança das “boas obras de todos os
santos”, que fizeram mais do que precisavam para
“obter sua própria salvação”.
Como é espantoso que os líderes evangélicos
possam considerar o catolicismo romano como
sendo cristão, e proponham-se a evangelizar o
mundo como se eles fossem seus companheiros no
Evangelho! Só podemos deduzir que eles ignoram
os verdadeiros ensinos dessa Igreja e foram
enganados pelas falsas argumentações dos
apologistas católicos. De que outro modo poderiam
aqueles que pareciam ser destemidos em sua fé,
afirmar que evangélicos e católicos concordam sobre
os ensinos fundamentais do Evangelho?
O Vaticano II diz ainda: “para que a
indulgência seja ganha, a obra prescrita deve ser
realizada”.[3] Aqui está mais uma prova, se esta for
necessária, de que Roma prega, promete e pratica a
salvação pelas obras. E mesmo assim,
estranhamente, a própria pessoa não precisa realizar
as boas obras. As boas obras de outros podem ser
creditadas na conta de alguém em um livro fictício
da Igreja, e estas, quando contabilizadas pelos seus
contadores fraudulentos, abrem as portas do céu.

Origem e Desenvolvimento
da Doutrina das
Indulgências
O conceito de indulgências é proveniente do
paganismo, a idéia por trás delas é que a flagelação,
a recitação de fórmulas ou as peregrinações a
santuários, e os sacrifícios feitos aos deuses são
meritórios e influenciam o favor dos deuses para
alguém. A idéia de que rezar tantas ave-marias ou
beijar o crucifixo e repetir uma fórmula pode reduzir
o sofrimento no purgatório, algo que o sacrifício de
Cristo na cruz não pôde anular, é terrível. Contudo,
o ensino de que a indulgência pode ser aplicada em
favor dos mortos leva essa blasfêmia absurda muito
mais longe. A idéia de que a “redução de tempo por
bom comportamento” poderia ser creditada a
alguém no purgatório, que não fez a “obra prescrita”
necessária, demonstra mais uma vez a fraude do
romanismo. Tudo é possível mediante uma boa
oferta!
O evangelho das indulgências é uma das
doutrinas mais ousadas e antibíblicas de Roma. Ela
teve origem durante a Idade Média e continua em
vigor até hoje. O conceito pagão de indulgências foi
gradualmente se definindo como parte do
catolicismo romano, durante anos, e acabou se
transformou no maior esquema para arrecadação de
dinheiro do papado. Em tese apenas seria preciso
rezar uma missa para libertar todas as almas do
purgatório. Maria, cujo poder é infinito, poderia
fazê-lo num instante; e os papas, cujo poder também
é ilimitado, poderiam esvaziar o purgatório com uma
simples assinatura de indulgência plenária. Então,
por que não o fazem? Eles não amam as almas? A
resposta é obvia. Von Dolinger escreve:
[Augostino] Trionfo, comissionado por João XXII para
expor os direitos do papa, mostrou que, como
despenseiro dos méritos de Cristo, ele poderia esvaziar
o purgatório num instante, e tirar com as suas
indulgências todas as almas que lá estão detidas, com
a única condição de que alguém cumprisse as regras
estabelecidas para receber tais indulgências.
Contudo, ele aconselhou o papa a não fazê-lo...
[embora] o poder do papa seja tão imensurável que
nenhum papa jamais seria capaz de conhecer a sua
extensão.[4]

Esvaziar o purgatório poria fim ao influxo das


ofertas para mais missas e das intermináveis graças e
favores. Em vez disso, as exigências para retirar
almas do purgatório foram ficando cada vez mais
complexas, necessitando de serviços cada vez
maiores da Igreja. A doutrina das indulgências
acabou sendo finalmente oficializada como dogma
oficial da Igreja pelo papa Clemente VI em 1343.
Clemente arrazoou que “uma gota do sangue de
Cristo teria sido suficiente para a redenção de toda a
raça humana”. O restante desse sangue derramado
na cruz, sua virtude “acrescida pelos méritos da
bendita virgem Maria e as obras adicionais dos
santos” [obras que vão além das necessárias para a
salvação dos mesmos], constituem o “tesouro”
mencionado anteriormente. Pela bula papal de 1476,
o papa Sisto IV “estendeu esse privilégio às almas
que estavam no purgatório [reduzindo seu tempo de
sofrimento lá], contanto que os parentes vivos
adquirissem indulgências para elas”.[5]
Fora desse “tesouro da Igreja” a
salvação/redenção é concedida pouco a pouco pelo
clero católico, através dos sete sacramentos. Não há
meio de saber quanto crédito é concedido por conta
de cada feito, ritual, indulgência ou por quanto
tempo esse processo deve continuar. Jamais são
outorgadas graças suficientes para garantir o céu. É
preciso que sempre mais rosários sejam recitados,
mais missas rezadas, mais ofertas entregues a fim de
se obter mais graças da Igreja. Pedro, que os
católicos afirmam ter sido o primeiro papa, advertiu
sobre esses “falsos mestres” que “introduzirão,
dissimuladamente heresias destruidoras... e,
movidos por avareza, farão comércio de vós... (2
Pedro 2.1,3). Sim, é verdade! Um comércio tal, que
jamais poderá ser comparado a qualquer mina de
ouro.
No catolicismo ninguém passa “da morte para
a vida”, conforme Cristo prometeu (João 5.24),
mas deve passar por um contínuo processo de
conquista da salvação com o auxílio da Igreja e com
a expectativa de terminar esse processo de “limpeza”
no purgatório. Na verdade, excomunhão é a
penalidade dada a um católico que afirma estar salvo
e sabe que possui a vida eterna pela fé na obra
completa de Cristo. O cerne do Evangelho
professado pelos evangélicos é negado pelo
catolicismo em seu catecismo oficial, nos cânones,
decretos, dogmas, e aqueles que se atrevem a
professar o Evangelho bíblico são anatematizados.

A Graça Merecida
Quase não há limite para os engenhosos “meios
de graça” que os papas e seus assistentes têm
engendrado. Um dos meios mais populares para se
conseguir “merecer a graça” (uma contradição de
termos), é através do uso do escapulário marrom de
N. S. do Carmo (ao qual já nos referimos antes). “O
privilégio sabatino é baseado numa bula
supostamente emitida em 3 de março de 1322, pelo
Papa João XXII... [declarando] que aqueles que
usassem o escapulário e cumprissem as duas outras
condições... seriam libertados do purgatório [pela
virgem Maria], no primeiro sábado depois que
morressem”.[6]
Apesar das heresias e da maldade do papa João
XXII, muitos outros papas (Alexandre V, Clemente
VII, Pio V, Gregório XIII, etc.)[7] endossaram esse
ensino sobre o escapulário marrom, que é algo
obviamente contrário à Escritura. O papa Pio X
declarou: “Eu o uso; jamais devemos tirá-lo”. O
papa Pio XI “professava alegremente: ‘aprendi a
amar o escapulário da virgem ainda nos braços de
minha mãe...’” O papa Paulo V afirmava que “a
bendita virgem ajudará as almas dos irmãos e irmãs
da Fraternidade da Bendita Virgem de Monte
Carmelo, após sua morte...” O papa Benedito XV
oferecia uma “indulgência parcial a quem beijasse o
escapulário”. E em 1950, “o papa Pio XII escreveu
as palavras hoje famosas sobre o escapulário:
‘Deixem que ele seja o seu sinal de consagração ao
imaculado coração de Maria, do qual estamos
precisando com particular urgência nesses tempos
perigosos’.”[8]
Já tratamos da fatal contradição de que as
indulgências destinam-se a abreviar o sofrimento no
purgatório, ainda que esse mesmo sofrimento seja
supostamente essencial para que a pessoa possa ser
purificada a fim de entrar no céu. Isso não faz
sentido. Além do mais, é de admirar como uma
pequena indulgência obtida por meio da adoração ao
crucifixo, ou de uma missa rezada, seja mais
poderosa do que a morte de Cristo na cruz, e como
tais “representações” do Calvário possam completar
o que a morte de Cristo não conseguiu. Isso também
não faz sentido, mas os católicos têm aprendido a
não racionalizar o porquê, mas simplesmente acatar
o que a Igreja diz.
Os documentos do Vaticano II têm uma grande
seção, contendo 20 provisões complexas que
revisam as regras anteriores referentes a quando e
como uma indulgência pode ser obtida. Podemos
lembrar das recriminações de Cristo contra os
rabinos em Mateus 23, por criarem um “labirinto”
de regras, que mantinham o povo dependente de sua
direção espiritual. Roma tem feito o mesmo. Seria
necessário um advogado especializado em direito
canônico da Igreja para destrinchar a complexidade
de como e quando é possível maximizar as várias
ofertas da “graça”. Esse texto o ilustra bem:
Aos fiéis que utilizam religiosamente um objeto de
piedade (crucifixo, cruz, terço, escapulário, medalha),
validamente abençoado por um padre, concede-se
indulgência parcial. Ademais, se o objeto de piedade
foi bento pelo soberano pontífice ou por um bispo, os
fiéis que religiosamente o usam podem também obter
a indulgência plenária [total] no dia da festa dos
santos apóstolos Pedro e Paulo, ajuntando, porém, a
profissão de fé sob uma forma legítima...
A forma como as [indulgências parciais] têm sido
determinadas até agora, por dias e anos, fica abolida.
Em seu lugar, foi estabelecida uma nova maneira.
Doravante, indicar-se-á a indulgência parcial apenas
por estas palavras: “indulgência parcial”, sem
determinação alguma de dias e anos.[9]

Se Roma estava errada em suas regras


referentes às indulgências no passado, como alguém
pode ter certeza que agora ela está certa? E quanto
àqueles que confiaram nas regras antigas? Sem
dúvida, deixar de lado uma prática tão antiga não
significa nada, pois desde o início a Igreja jamais
pôde dizer quanto tempo devia ser gasto no
purgatório. Nem as indulgências, agora sob novas
regras, têm qualquer significado compreensível hoje
em dia. E que tipo de “Deus” ligaria sua justiça a tal
artifício, medindo a “graça” conforme a obra seja
realizada num certo dia de “festa” ou se um padre
ou sacerdote “abençou” algum objeto supostamente
sagrado?
O principal meio de se conseguir uma
indulgência de valor desconhecido é, sem dúvida,
através da missa. O cânon 904 declara: “Lembrando
que a obra da redenção é continuamente completada
no mistério do sacrifício da eucaristia, que os padres
devem celebrar com freqüência...”[10] Como já foi
relatado aqui, ao invés de ser um memorial de uma
redenção completa, cada missa apenas dá mais um
passo em direção à plena redenção. Ninguém sabe
que tamanho tem esse pequeno passo, mas deve ser
algo minúsculo, a julgar pelos milhões de missas que
continuam a ser celebradas com resultados incertos!

Salvação à Venda
Foi a venda de indulgências, mais do que
qualquer outra coisa, que acendeu a ira de Lutero a
tal ponto que ele afixou as 95 teses na porta da
capela do castelo de Wittenberg e desencadeou a
Reforma. Como já vimos, a salvação era vendida de
várias outras maneiras além das indulgências, como
ocorre ainda hoje. Embora a taxa seja hoje chamada
de “oferta”, na verdade o dinheiro muda de mãos
com a promessa de salvação como incentivo para a
“oferta”. Os comentários de Will Durant são
interessantes:
Quase tão mercenária quanto a venda de indulgências
era a aceitação ou solicitação, pelo clero, de dinheiro,
pagamentos, concessões, legados para rezarem
missas, as quais supostamente reduziriam o tempo de
sofrimento das almas no purgatório. Grandes somas
eram destinadas a esse fim pelas pessoas piedosas,
seja para aliviar um parente que havia falecido ou para
abreviar ou anular a sua própria provação no
purgatório após sua morte. Os pobres se queixavam de
que devido à sua incapacidade de pagar por missas e
indulgências, os ricos e não os humildes é que
herdariam o reino do céu; Colombo com pesar louvava
o dinheiro porque, segundo ele, “quem o possui tem o
poder de levar as almas ao paraíso”.[11]

Que fraude! Como se Deus pudesse ser


comprado por dinheiro! Na Espanha a bula papal da
Cruzada tinha de ser adquirida por todos, a partir
dos sete anos de idade, pelo menos uma vez por
ano. Ninguém podia ser sepultado sem ter a bula
atualizada no caixão. Quando a bula era comprada,
o papa imediatamente concedia indulgência e
absolvição de todos os pecados, exceto os de heresia
e quebra de voto de castidade. Um observador
católico da Espanha, referindo-se a essa bula, fez
este comentário condenatório no século XVIII:
Podemos dizer que é possível suspeitar que essa bula
envie mais pessoas para o inferno do que pode salvá-
las de lá; pois é a maior incentivadora do pecado no
mundo. Um homem diz: posso satisfazer meus desejos
e paixões, cometer toda maldade e mesmo assim
tenho a certeza de ser perdoado ao receber esta bula
por dois reales de plata [moeda espanhola da época].
Usando a mesma desculpa [a regra da bula], suas
consciências não podem expressar qualquer remorso
ou problema; pois se um homem comete um grande
pecado, ele vai se confessar, recebe absolvição, desde
que tenha consigo a bula (ou permissão para pecar), e
sua consciência fica totalmente tranqüila, ainda mais
porque, depois de receber a absolvição, ele pode ir e
cometer novos pecados e voltar a pedir absolvição.
[12]

O famoso apologista católico americano Peter


Kreeft afirma que “a Igreja logo pôs fim a isso e
proibiu [logo após a saída de Martim Lutero] a
venda de indulgências...”[13] Charles Colson
erroneamente declara o mesmo.[14] Claro que isso
não é verdade! Mas, mesmo que fosse, não seria
possível perdoar tão facilmente o grande engodo que
tirou tanto dinheiro de seus fiéis e, no processo, lhes
roubou a salvação. Até a época da Reforma, durante
séculos a venda de salvação já havia enganado
milhões de pessoas. Houve alguma devolução por
parte da Igreja? Claro que não! Algum alívio para
aqueles que partiram para a eternidade achando que
tinham comprado a salvação? Não. O mais trágico é
que essa fraude continua ainda hoje!
Kreeft, como outros apologistas católicos,
omite o fato de que a doutrina falsa e maligna das
indulgências continua sendo parte integrante do
catolicismo atual e que dinheiro ainda é dado em
troca da salvação. Como já vimos, o Vaticano II
declara: “A Igreja... ordena que o uso de
indulgências... deva ser reservado... e condena com
anátema todos aqueles que afirmam que as
indulgências são inúteis ou que a Igreja não tem o
poder para concedê-las... [com] o objetivo de se
ganhar a salvação.[15]
Não é certo dizer que as abominações do
passado já não são mais praticadas por Roma. É
claro que ainda são, e de maneira bastante aberta,
especialmente nos países católicos, embora com
menor intensidade nos Estados Unidos. Contudo,
até mesmo naquele país a salvação (a passos curtos
em direção ao céu, é claro) pode ser adquirida com
ofertas para a Igreja. Um amigo deste autor, cujo pai
faleceu há algum tempo, disse que foram gastos
mais de 2.000 dólares durante o funeral do seu pai
para garantir que muitas missas fossem rezadas pelo
falecido, a fim de ajudá-lo a sair do purgatório.
Roma tem oferecido ao seu povo um
evangelho de desespero. Multidões de católicos
vivem com pavor de cometer um pecado e ter de
revelar tudo em confissão ou falhar em alguma das
regras e regulamentos que sua Igreja estabeleceu
para a salvação. Como conseqüência, eles ficam
totalmente à mercê da sua Igreja, olhando para ela
em busca da salvação, em vez de descansar na
abundante graça de Deus e na obra completa de
Cristo no Calvário.
APÊNDICE C

Domínio Sobre Reis:


Mais Documentação
[A] Sé Apostólica... transferiu o Império Romano dos gregos
para os alemães de Carlos Magno. [E] os príncipes... reconhecem
que o direito e a autoridade de examinar a pessoa eleita como rei –
[ou] imperador – pertencem a nós, que o ungimos, consagramos e
coroamos.

– papa Inocêncio III – decreto Venerabilim fratrem, março de


1202[1]

João, pela graça de Deus, rei da Inglaterra, senhor da Irlanda... a


todos os fiéis cristãos que devem ver esta presente carta,
saudações...
Nós... oferecemos e gratuitamente concedemos a... nossa mãe, a
santa Igreja, ao nosso senhor, o papa Inocêncio, e aos seus
sucessores católicos, todo o reino da Inglaterra e todo o reino da
Irlanda... para a remissão de nossos pecados e de todos os
membros de nossa família, vivos ou mortos; e os recebemos e
sustentamos, a partir de agora, como um vassalo de Deus e da
Igreja Romana, nós juramos agora fidelidade ao já mencionado
papa Inocêncio, aos seus sucessores católicos e à Igreja Romana...

– doação do feudo de terras do rei João Sem Terra ao papa


Inocêncio III em 15 de maio de 1213[2]

A religião católica romana deve continuar a ser a única religião


da república do Equador, e... nenhuma outra forma contrária de
adoração ou qualquer sociedade condenada pela Igreja poderá, em
tempo algum, ser permitida dentro da República do Equador.

– Concordata entre o papa Pio IX e a República do Equador, em


26 de setembro de 1862.

Um elemento-chave na identificação da mulher


montada na besta descrita por João é a declaração
de que ela é uma cidade que domina sobre os reis
da terra. Já documentamos detalhadamente o fato
de que a Roma papal cumpriu essa profecia e que
somente ela preenche tão bem todos os outros
critérios que João apresenta para identificar a
mulher. Desafiamos qualquer um que encontre outra
cidade, além de Roma e sua sucessora, a Cidade do
Vaticano, que preencha todas as características da
identificação estabelecidas em Apocalipse 17.
Sem dúvida, a revelação de Cristo a João de
que um corpo religioso professando ser a Noiva de
Cristo faria alianças profanas com os reis e até
dominaria sobre eles, é uma das profecias mais
notáveis de toda a Escritura. Vários livros poderiam
ser totalmente preenchidos com a evidência de que
essa profecia se cumpriu na Igreja Católica Romana.
Contudo, só temos espaço para apresentar um
pequeno registro de documentação adicional aos que
estiverem interessados.

Juiz de Todos e por Ninguém


Julgado
O papa Leão X (1513-1521) proibiu que os
tribunais de todos os países julgassem qualquer
pessoa por um crime do qual ela tivesse sido
absolvida pela Igreja, através do pagamento da taxa
estabelecida para cada ofensa. Se algum juiz tentasse
desobedecer essa ordem, era sumariamente
excomungado. Naquele tempo ser expulso da Igreja
significava também perder a cidadania, uma vez que
as autoridades eram obrigadas a aceitar os decretos
da Igreja.
O papa Paulo IV (1555-1559), inquisidor por
excelência, inigualável torturador dos cristãos e
perseguidor dos judeus, era tão obsceno que não
podia se acreditar no que ele dizia, exceto quando as
testemunham estavam sob juramento. Ele brigava
constantemente até mesmo com dois únicos amigos
do papado na época, os reis Carlos V e Felipe II,
porque em sua mente um dos principais objetivos do
papado era “calcar aos pés os reis e imperadores”.
[4] Pouco antes de sua morte, em 1559, em resposta
ao grande Cisma Protestante, que então já havia
alcançado proporções alarmantes e ameaçava invadir
o próprio Congresso de Cardeais, Paulo IV emitiu a
bula Cum ex Apostolatus Officio.
Como “pontífice romano, vigário de Deus e de
nosso Senhor Jesus Cristo na terra, detentor da
plenitude do poder sobre nações e reinos, juiz de
todos os homens, e por ninguém julgado nesta era”,
Paulo IV declarou possuir poder ilimitado para
depor cada monarca e tomar as possessões de
qualquer pessoa, sem a necessidade de um processo
legal. Qualquer um que tentasse ajudar os que eram
despojados seria excomungado. Seu decreto dizia:
Qualquer pessoa, quem quer que seja, sendo
detectado, reconhecido ou provado, que tenha
deixado a fé católica... ou caído em heresia, ou tenha
tomado parte, fomentado ou organizado cisma,
incorrerá nas penalidades dantes mencionadas
[excomunhão e desapropriação das propriedades],
qualquer que seja sua posição, situação, ordem,
condição ou proeminência que possa gozar, mesmo
se... possuir autoridade temporal e a honra de um
conde, barão, marquês, duque, rei ou imperador...
Não se permite a homem algum desafiar esta
declaração... Mas, se alguém intentar fazê-lo, fique
então ciente que incorrerá na ira do Deus Todo-
Poderoso e de seus benditos apóstolos Pedro e Paulo.
Entregue em Roma, em [na basílica de] São Pedro, no
ano de Nosso Senhor de 1559, no 15º dia antes das
calendas de março, no quarto ano do nosso
pontificado.[5]

O papa Sisto V (1585-1590), que reescreveu a


Bíblia, a fim de conformá-la às suas próprias idéias,
declarava ter jurisdição não apenas religiosa, mas
também civil sobre todos os reis e príncipes e que
podia “nomear ou demitir qualquer um, no
momento que lhe aprouvesse, inclusive
imperadores”. Isso não era apenas uma ameaça.
Naqueles dias era comum acreditar que fora da
Igreja Católica Romana não havia salvação.
Portanto, ser ameaçado de excomunhão pelo papa
fazia tremer imperadores, pois era o mesmo que ser
sentenciado à eternidade no inferno.
O papa Clemente XI em sua bula In Coena
Domini, de 1715, excomungou todos os que
deixassem de obedecer ao santo padre e
especialmente todos aqueles que não pagassem a ele
os impostos devidos. A bula declarava que o papa
tinha autoridade suprema sobre todos os homens
(inclusive soberanos) e seus assuntos seculares e
religiosos. Os papas subseqüentes endossaram esse
dogma. Roma jamais o abrogou.

Mantendo o Domínio Papal


O Vaticano tem sido chamado “um dos maiores
repositórios de arte do mundo” e “a mais notável
casa de tesouros do mundo”. Parte desse tesouro
excursionou pelo mundo (inclusive a Pietá de
Michelangelo). A excursão iniciou em Denver, no
estado do Colorado, para coincidir com a visita do
papa João Paulo II àquela cidade, em agosto de
1993. O tesouro voltou ao Vaticano “a tempo de
celebrar o milênio cristão”. Um dos tesouros
exibidos era a tiara do papa Pio IX, que convocou o
Concílio Vaticano I. Ela é descrita assim:
A coroa é o símbolo da soberania do papado... A tiara
é adornada com pérolas e pedras preciosas e tem uma
inscrição em latim, cuja tradução é: “Ao infalível vigário
de Cristo; ao supremo governador do mundo na terra;
ao pai das nações e reis”.[6]

Como vimos antes, declarações como “domina


sobre os reis da terra” cum prem a visão de João e
jamais foram anuladas por Roma, que ainda
considera os papas como monarcas absolutos, que
governam o mundo para Deus. Entretanto, o fim das
monarquias deixou o papado sem reinos para
governar. Suas sucessoras, as repúblicas e
democracias, colocaram o governo nas mãos do
povo e gradualmente (pelo menos na maior parte
dos países) deu igualdade a todas as religiões. Já
documentamos o fato de que, quando os papas
viram o seu poder ameaçado de ruir, fizeram tudo
que puderam para minar os novos governos. Sua
constante supressão dos direitos humanos básicos é
um assunto que pode der inegavelmente
documentado.
Contudo, o poder que os papas tinham no
passado não tem diminuído, como pode parecer à
primeira vista. A Igreja Católica Romana continua
ensinando seus membros (quase um bilhão em todo
o mundo) que a lealdade a ela deve vir antes de tudo
e que a Igreja pode absolver qualquer um dos seus
súditos da lealdade aos governos civis. Esse fato, e
os perigos que representam para o governo civil, foi
reconhecido pelo estado do Missouri, há mais de
100 anos atrás. Como conseqüência, a Constituição
Estadual do Missouri recebeu uma emenda, em
1864, para “exigir que todos os clérigos façam um
voto de lealdade ao estado de Missouri e, portanto,
aos Estados Unidos. Nesse momento crucial da
Guerra Civil Americana, o arcebispo católico de
Saint Louis enviou uma carta pastoral a todos os
padres, condenando o voto” e encorajando-os a
desafiar o governo.[7]
Justificando o Totalitarismo
No dia 20 de setembro de 1870, as tropas de
uma Itália novamente unida e comandadas pelo
general Raffaele Cadorna irromperam pelos muros
aurelianos de Roma, junto à Porta Pia. As forças
armadas do papa, sob o comando do general
Hermann Kansler, só puderam oferecer uma
resistência simbólica. Não apenas Roma, mas o que
restava dos Estados papais estavam agora sob o
domínio da Nova Itália. Saboreando sua
independência há tanto esperada, as atitudes dos
cidadãos tornaram-se hostis em relação à Igreja, que
havia governado vastos territórios, durante tanto
tempo, com mão de ferro. Alguns meses mais tarde,
quando Pio IX (que havia proclamado o dogma da
infalibilidade papal no Vaticano I) faleceu, e o seu
ataúde era carregado com grande pompa pelas ruas
até a basílica de São Pedro, multidões de italianos
enchiam a praça, atirando pedras e gritando:
Morte ao papa! Morte aos padres! Atirem o porco no
rio! Atirem a fera no Tibre!
Somente a polícia foi capaz de evitar que a
multidão cumprisse sua ameaça. Essa atitude
antipapista da parte do cidadão comum já estava se
desenvolvendo durante alguns anos, como uma
resposta à supressão das liberdades básicas
experimentadas durante o governo papal. Cinco
anos antes do Vaticano I ter início, o papa havia
editado a infame encíclica Quanta Cura, na qual
denunciava “os proponentes da liberdade de
consciência e liberdade religiosa”... [e] todos os que
concordavam que a Igreja não podia usar a força”.
[8]
O papado havia governado durante séculos
usando a força e os papas temiam os novos sopros
da liberdade, que traziam o desejo dos direitos
individuais. Tal atmosfera repugnava o orgulho e a
ambição do papa. Ele estava certo de que o dogma
da infalibilidade, decretado oficialmente por um
concílio de bispos do mundo inteiro, tivesse posto
um fim a tais sonhos de liberdade. Como um
historiador altamente conceituado do século XIX
explicou:
A pena de morte por ofensas contra a religião ainda
fazia parte do Código Penal. À Igreja ainda era
permitido, pela relíquia da falta de legislatura
medieval, o di rei to de asilar criminosos; todos os
registros civis foram confiados aos sacerdotes
paroquiais; os jesuítas receberam o direito de entrar
em todos os lugares – para controlar a casa real, as
casas dos cidadãos, as instituições públicas, as
escolas, etc., de modo que o país estava totalmente
sujeito ao governo sacerdotal.[9]

Lendo o espantoso registro do poder e


opressão papal executados através do seu clero,
podemos ficar abismados ao ver como isso era
aceito como algo comum, não apenas pelo povo
(que era incapaz de se opor a ele), mas também
pelos governantes civis. Nem mesmo as claras
maldades e injustiças perpetradas durante séculos
pela Igreja pareciam lançar qualquer dúvida sobre a
validade dos decretos papais. Von Dollinger
descreve esse quadro espantoso:
Era dito que o vigário de Deus na terra age como
Deus, o que seguidamente incluía muitas pessoas
inocentes no castigo dos poucos culpados; quem se
atreveria a contradizê-lo?
Ele age sob a direção divina e seus atos não podem
ser medidos pelas regras da justiça humana...
Mesmo que pareça algo paradoxal, é um fato histórico
que quanto mais suspeita e escandalosa a condutas
dos papas... parecessem aos homens piedosos, mais
inclinados eles se sentiam a procurar refúgio de suas
próprias dúvidas e suspeitas no âmago da infalibilidade
papal... [tendo] aprendido desde sua juventude que o
papa é o senhor e mestre da Igreja, ao qual ninguém
pode contradizer ou pedir contas...
Peter Cantor, desde o final do século XII... [reconhece]
que a corrupção papal não possui justificativa alguma
nas Escrituras... mas, então seria um sacrilégio
encontrar erros no que o papa faz.[10]

A falsa doutrina do domínio papal sobre reis


pode ser resumida nestas palavras, escritas aos
patriarcas de Constantinopla pelo papa Inocêncio III:
“O Senhor deixou com Pedro o governo não apenas
da Igreja, mas do mundo inteiro”.[11] A Igreja
Católica Romana jamais se afastou dessa posição
por bulas ou declarações conciliares.
APÊNDICE D

A Infalibilidade Papal e
a Sucessão Apostólica
No início do século XIV... a natureza da inerrância da Igreja
ainda não estava definida. A idéia de que o papa pudesse ser
pessoalmente infalível era muito nova, muito ao contrário de todos
os ensinos tradicionais, para encontrar aceitação mundial.

– Brian Tierney em Origins of Papal Infability [Origens da


Infalibilidade Papal][1]

Roma falou, acabou a disputa.

– Santo Agostinho (354-430)

A fim de promover a necessária fé cega na


infalibilidade do papa e no dogma de que a salvação
é obtida somente através da Igreja Católica Romana,
sua hierarquia tem ocultado os fatos e reescrito a
história. Um exemplo é a citação de Agostinho na
página oposta. Se, como diz o argumento,
Agostinho, o maior teólogo da Igreja, desejava
submeter-se a tudo que Roma (ou seja, o papa e a
hierarquia) decretava, então certamente os católicos
comuns deveriam fazer o mesmo. Contudo, tal
submissão não é a que Agostinho propôs. A citação,
em seu contexto, tem outro significado. Dois
sínodos haviam deliberado sobre um assunto que
causava contenda e o bispo de Roma havia
concordado com o que “parecia a ele [Agostinho]
mais do que suficiente, e assim o assunto devia ser
considerado encerrado. Ele próprio havia sustentado
que um julgamento de Roma por si mesmo não era
definitivo, mas que um concilium plenarium era
necessário para esse propósito...”[2]
Em nenhum outro lugar de seus volumosos
escritos Agostinho chegou sequer a insinuar que o
bispo de Roma tivesse a palavra final em assuntos de
fé e moral. Na verdade, Agostinho disse que a Igreja
Africana estava correta em rejeitar a opinião de
Estêvão, bispo de Roma (254-257) que tentava
conciliar uma disputa sobre o batismo. Em nenhum
dos argumentos propostos por ele, sobre vários
assuntos, Agostinho sugeriu que o bispo de Roma
deveria ser consultado como árbitro final da
ortodoxia, nem mesmo que devesse ser consultado.
É bastante interessante vermos que, embora o
Concílio de Nicéia, de 325, decretasse que os três
bispos, de Roma, Alexandria e Antioquia (o
conceito de papa ainda não existia) fossem
designados como “superiores” aos demais bispos de
centros cristãos menos importantes, o bispo de
Roma de então rejeitou tal distinção para si mesmo.
O historiador Lars Qualben comenta ainda:
O Concílio Geral de Constantinopla em 381 designou o
bispo daquela cidade como patriarca; e o Concílio
Geral de Calcedônia, em 451, deu o mesmo título ao
bispo de Jerusalém [deixando de fora o bispo de
Roma]...[e] o patriarca de Constantinopla [e não o de
Roma] foi votado como o principal bispo de toda a
Igreja.
Depois que o Império Ocidental foi destruído, em 476,
o imperador de Constantinopla tornou-se o único
imperador do mundo e essa nova designação
naturalmente proporcionou algum prestígio ao
patriarca daquela cidade... O bispo de Roma e o
patriarca de Constantinopla tornaram-se os principais
rivais pela supremacia da Igreja.[3]

Uma Doutrina Declarada


Primeiro Pelos Imperadores
Os imperadores tinham, de fato, declarado a
supremacia do bispo de Roma sobre a Igreja
Ocidental (não sobre a Igreja universal) e passaram a
chamá-lo de “papa romano” a partir do século V.
Um édito dos imperadores Valentiniano III e
Teodósio II, em 445, dizia: “Declaramos por este
édito perpétuo que não será lícito aos bispos da
Gália ou de outras províncias tentar qualquer coisa
contrária ao antigo costume, sem a autoridade desse
venerável homem, o papa da Cidade Eterna”.[4]
Devemos destacar que esse reconhecimento da
autoridade papal vem dos imperadores, não dos
concílios ecumênicos que representavam a Igreja. O
propósito dos imperadores não era estarem de
acordo com a Escritura, mas manter a unidade do
império – e a unidade entre os bispos rivais e seus
seguidores era essencial para tal fim. Já que Roma
era a capital, ela devia ser o centro da autoridade
eclesiástica, assim como era da autoridade civil.
Além disso, para um católico se consolar com
tais declarações, ele também deve aceitar o fato de
que, ao mesmo tempo em que os imperadores
honravam a autoridade do bispo de Roma, eles
deixavam bem claro que estavam acima dele. O
imperador Justiniano, por exemplo, em seu édito de
17 de abril de 535, sobre “as relações entre a Igreja
e o Estado”, declarou: “Em verdade na sociedade
cristã existe o reconhecimento da distinção entre os
elementos clericais e os leigos; mas, para fins
práticos, o imperador deve estar no controle de
ambos, exercendo, como se espera que ele faça,
uma supervisão do ‘bem estar moral’ do clero”.[5]
Passaram-se séculos antes que os papas
estabelecessem sua autoridade sobre os imperadores
e reis e mais tempo ainda para que a infalibilidade
papal e o domínio sobre toda a Igreja fossem
estabelecidos. Na verdade, eram os concílios que
exerciam autoridade sobre os papas. Mais de um
concílio depôs os reclamantes rivais do trono de
Pedro, que simultaneamente insistiam em dizer que
eram o legítimo vigário de Cristo. Assim como hoje,
naquela época o bispo de Roma, por suas próprias
razões egoístas, tentava confirmar sua autoridade
sobre o resto da Igreja, mas isso não foi aceito pelo
cristianismo como um todo até o início do segundo
milênio. Isso ocorreu também porque ele não podia
citar a tradição ou os decretos conciliares para apoiar
essa idéia.
Essa declaração somente se afirmou no
Ocidente 19 anos após o Grande Cisma, quando o
papa Gregório VII, em 1073, proibiu os católicos de
chamarem qualquer pessoa de papa, exceto o bispo
de Roma. Antes disso, muitos bispos eram
carinhosamente chamados “papas” ou “papai”.
Embora a Igreja Católica Romana faça uma lista dos
supostos “papas”, que retrocede até o princípio
[Pedro], e todos os bispos de Roma sejam agora
chamados assim, na realidade antes do decreto de
Gregório esse título não era aceito por todos com
seu significado atual.
Negando a Infalibilidade
para Salvá-la
Já mostramos que a maneira pela qual muitos
papas conseguiram esse ofício (através da força
militar, manobra de prostitutas, simonia, patrocínio
de imperadores, violência do povo, etc.) acaba com
o argumento que o papado tenha sido transmitido
por uma linha ininterrupta de sucessão apostólica
desde Pedro. Também prova que a teoria da
sucessão apostólica é uma ficção, o fato de mais de
um papa ter ocupado a “cadeira de Pedro” ao
mesmo tempo, cada um deles afirmando ser o único
papa verdadeiro e infalível, supremo cabeça da
Igreja e usando o seu suposto poder para
excomungar os outros. Na última vez em que vários
aspirantes fizeram reivindicações simultâneas pelo
papado, o assunto foi resolvido de um modo que
também invalida qualquer afirmação feita sobre a
infalibilidade dos papas.
No início do século XV havia três homens
afirmando ser o papa. Eram eles: Gregório XII
(1406-1415), cujo primeiro ato pontifical foi
empenhar a sua tiara por 6.000 florins para pagar
suas dívidas de jogo; Benedito XIII (1394-1423) de
Avignon (um dos vários papas que residiram no
palácio papal de Avignon durante o Cisma, que
durou mais de 100 anos, com rivais em Roma e
Avignon, cada um afirmando ser o legítimo papa e
excomungando o outro); e Alexandre V (1409-
1410) cujo passatempo favorito era fazer festas e
que era servido em seu palácio por 400 serviçais,
todas mulheres. Este último foi envenenado por
Baldassare Cossa, que tomou o pontificado em seu
lugar com o nome de João XXIII (1410-1415).
Todos esses três foram depostos pelo Concílio
de Constança, até então o maior concílio do
Ocidente, com a presença de 300 bispos, 300
doutores e representantes de 15 universidades.
Embora atualmente seja apresentado como um
“antipapa”, foi João XXIII quem abriu oficialmente
o Concílio de Constança, no Dia de Todos os
Santos, em 1414. As intrigas que rodeavam essa
reunião de líderes da Igreja eram tamanhas, que uns
500 cadáveres acabaram aparecendo no lago de
Constança, durante os quatro anos de duração dessa
suposta “santa convocação”. Também foi registrado
que 1.200 prostitutas tiveram de ser trazidas para
conservar o bom humor dos bispos, cardeais e seus
assistentes. Ainda assim, esse mesmo concílio
condenou John Huss à fogueira em 1415 por pregar
que não existe autoridade maior do que as Escrituras
Sagradas, a qual todo os homens, mesmo os padres
e papas, deveriam obedecer, vivendo vidas cristãs e
santas.
Dos três papas supramencionados, cada um
afirmando ser o legítimo vigário de Cristo, somente
Gregório XII figura hoje nas listas oficiais como o
legítimo papa (embora tenha sido deposto pelo
Concílio), os outros dois são considerados antipapas.
Em 1958, quando o sucessor de Pio XII recebeu o
nome de João XXIII, mais de uma catedral católica,
vendo que sua lista já continha um João XXIII, teve
de fazer uma rápida correção. O papa João XXIII
original tem sido descrito como um “ex-pirata,
genocida, grande fornicador com preferência por
freiras, adúltero em escala fabulosa, simoníaco por
excelência, chantagista, cafetão e mestre em fazer
truques sujos”.[6]
O papa João XXIII, que abriu o Concílio de
Constança com grande pompa, numa manobra
repentina e inesperada, foi condenado à prisão pelo
mesmo Concílio. João recebeu um tratamento bem
menos rigoroso do que realmente merecia, as 54
acusações que originalmente pesavam contra ele
foram reduzidas a apenas cinco. Edward Gibbon
escreveu sarcasticamente em The History of the
Decline and Fall of the Roman Empire [História do
Declínio e Queda do Império Romano]: “as
acusações mais escandalosas [contra João XXIII]
foram suprimidas; o vigário de Cristo foi acusado
apenas [e declarado culpado] de pirataria,
assassinato, estupro, sodomia e incesto”. Enquanto o
incorruptível John Huss havia sido queimado na
estaca pelo Concílio de Constança por pedir a
reforma da Igreja, a João XXIII foi dada apenas
uma sentença de três anos de prisão por seus
terríveis e numerosos crimes.
O cardeal Oddo Colonna foi declarado o novo
papa pelo Concílio de Constança e se autonomeou
Martinho V (1417-1431). Após o ex-papa João
XXIII ser solto da prisão, o papa Martinho V
recolocou aquele grande assassino e criminoso como
bispo de Frascati e cardeal de Tusculum. Depois
disso, exercendo o poder da Igreja Católica
Romana, o cardeal Baldassare Cossa voltou a
ordenar sacerdotes e solenemente transformar a
hóstia e o vinho no corpo e sangue de Cristo –
segundo a crença dos fiéis. Como cardeal, o ex-papa
João XXIII, agora um ex-presidiário, era qualificado
a votar na eleição de novos papas, junto com seus
companheiros cardeais, muitos dos quais se
assemelhavam muito a ele em sua lista de crimes.
Ironicamente o Concílio de Constança salvou a
Igreja dos três papas rivais ao demonstrar sua
autoridade sobre o papado. O voto foi unânime no
estabelecimento do seguinte princípio:
Todo Concílio Ecumênico legalmente convocado para
representar a Igreja deriva sua autoridade
imediatamente de Cristo, e todos, inclusive o papa,
ficam a ele sujeitos em matéria de fé, reparação de
cismas e reforma da Igreja.[7]

Se a infalibilidade papal, como a conhecemos


hoje, fosse aceita, então a solução apresentada para
resolver o dilema de três papas rivais teria sido
impossível. O próprio dogma da infalibilidade papal,
declarado pelo Concílio Vaticano I, em 1870, é uma
negação que a autoridade de um concílio anterior (o
de Constança), estabeleceu sobre os papas, a fim de
salvar a Igreja.
São interessantes os comentários de Von
Dollinger, especialmente porque seu livro foi
publicado algumas semanas antes do Vaticano I
contradizer Constança no tocante a importante
questão do conflito entre poder conciliar e poder
papal:
Gregório XII e Benedito XIII haviam sido abandonados
por seus cardeais e tudo que podia ser mantido para
constituir a Igreja Romana aconteceu no Concílio [de
Constança]. Se o papa está sujeito a um concílio em
assuntos de fé, ele não é infalível; a Igreja e o Concílio
que a representa herdaram as promessas de Cristo, e
não o papa, que pode errar estando fora do Concílio e
pode ser julgado por este, em razão de seus erros...
E eles [os decretos do Concílio] negam a posição
fundamental do sistema papal, que portanto é tácita,
mas muito eloqüentemente sinalizada como um erro e
abuso. Mesmo que aquele sistema tenha prevalecido
na administração da Igreja durante séculos, tem sido
ensinado nos livros de direito canônico e nas escolas
de ordens religiosas, especialmente pelos
pronunciamentos dos tomistas, e reconhecido ou
confirmando expressamente em todos os
pronunciamentos e decisões dos papas, que são as
novas autoridades para as leis da Igreja. E até agora
nenhuma voz foi levantada em seu favor; ninguém se
opôs às doutrinas de Constança, ninguém protestou!
[8]
APÊNDICE E

Papas Hereges, a Bíblia


e Galileu
Conforme já vimos, na Igreja Católica a heresia
acarreta excomunhão automática. Mesmo uma única
heresia cometida por algum dos papas, sem a
reabilitação por meio do arrependimento, romperia a
linha da suposta sucessão de Pedro. Como foi
mostrado antes, muitos papas foram acusados de
heresias por outros papas e também por concílios, e
um grande número foi oficialmente excomungado
da Igreja.
O papa Adriano VI (1522-1523) declarou
pessoalmente que o papa Celestino III (1191-1198)
era herege e afirmou que João XXII havia sido
apenas mais um de uma longa lista de papas
hereges.
Uma Longa Linha de Papas
Hereges
Entre os primeiros papas a serem conhecidos
como hereges que se assentaram no suposto trono
de Pedro estava Libério (352-366). Foi forçado ao
exílio por causa de uma disputa com o imperador.
Mais tarde, foi-lhe oferecida a repatriação se
denunciasse Atanásio, que havia conduzido a luta
contra a heresia do arianismo. Não sendo um grande
adepto da doutrina, Libério condescendeu com o
imperador, e desse modo juntou-se aos que
afirmavam que o Filho era menor que o Pai – uma
visão que a Igreja continuamente condenou como
sendo uma heresia da pior espécie.
Papas hereges surgiram de maneira bastante
regular. Inocêncio I (401-417) e Gelásio I (492-496)
decretaram que os bebês, mesmo batizados, iam
diretamente para o inferno (e não para o purgatório)
se morressem antes de receber a comunhão.
Contudo, se tomarmos João 6.53 literalmente: “se
não comerdes a carne do Filho do Homem e não
beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós
mesmos” – como ensina o catolicismo, então esses
papas tinham razão. Mas essa perspectiva foi
condenada como heresia pelo Concílio de Trento.
Durante os últimos dois anos do seu
pontificado, Xisto V (1585-1590) reescreveu toda a
Bíblia latina, acrescentou frases e sentenças a seu
bel-prazer, deixando fora versículos inteiros,
mudando os títulos dos Salmos e inventando o seu
próprio sistema de capítulos e versículos. Na bula
papal Aeternus Ille (uma suposta e infalível
declaração de fé e moral dirigida a toda a Igreja) ele
declarou, “pela totalidade do poder apostólico”, que
essa nova “tradução” da Bíblia deveria ser “recebida
e mantida como verdadeira, legal, autêntica e
inquestionável, em todas as discussões públicas e
privadas, nas leituras, pregações e comentários.”
Qualquer um que se opusesse seria excomungado.
Sem dúvida, quando o clero viu o espantoso
trabalho do papa, que instantaneamente tornara
obsoleta a Vulgata aprovada no Concílio de Trento e
todos os livros-texto nela embasados, obviamente
reagiu horrorizado. Felizmente, Xisto morreu alguns
meses mais tarde e Belarmino conseguiu encetar
uma manobra de encobrimento.
Como De Rosa explica:
Uma Bíblia havia sido imposta a toda a Igreja, com a
plenitude do poder papal. Era uma Bíblia completa,
inclusive com a ameaça de excomunhão – e estava
repleta de erros. O mundo acadêmico ficou
perturbado; os protestantes tinham grande prazer com
o que ocorria e se divertiam com as dificuldades da
Igreja Romana.
No dia 11 de novembro de 1590, Belarmino regressou
para Roma depois de uma missão no estrangeiro.
Pessoalmente aliviado pela morte de Xisto V, que havia
desejado colocá-lo no Index [de livros e autores
proibidos], ele temia pelo prestígio do papado...
Belarmino aconselhou o [novo] papa a mentir. Alguns
de seus admiradores tentaram contestá-lo. Sua tarefa
foi extremamente pesada.
As opções eram claras: admitir publicamente que um
papa havia errado sobre um assunto tão decisivo como
a Bíblia, ou tentar encobrir um segredo, campanha
esta de resultados imprevisíveis. Belarmino propôs a
segunda alternativa.[1]

Belarmino e um grupo de eruditos que


conheciam a situação e juraram segredo, começaram
a trabalhar, e depois de uns seis meses haviam
corrigido os erros do papa anterior. Uma nova
edição da “Bíblia de Xisto” foi publicada como se
fosse meramente uma reimpressão da edição
anterior, e foi feito um esforço tremendo para
substituir e destruir as cópias da publicação herética.
Como era esperado, algumas cópias escaparam do
confisco e foram preservadas (há um exemplar na
biblioteca Boldleian, na Universidade de Oxford).
Essas “Bíblias” são mais uma prova de que os papas
não são infalíveis e que, para esconder essa mentira,
a Igreja está disposta a espalhar novas mentiras.

Galileu e a Inquisição
Mais evidências (se é que ainda são
necessárias) de que os papas não são infalíveis está
no tragicômico caso de Galileu. Para defender o
dogma da igreja, o papa Urbano VIII (1623-1644)
ameaçou torturar Galileu, já idoso e muito enfermo,
se ele não renunciasse à sua afirmação de que a terra
girava em torno do sol. Depois de declarar que essa
crença era contrária à Escritura, o papa viu Galileu
ajoelhar-se, temendo pela própria vida, e renunciar a
essa “heresia” diante do Santo Ofício da Inquisição.
Essa visão geocêntrica permaneceu como dogma
católico durante séculos, endossada por um papa
infalível depois do outro. Para eles, a terra era o
centro do universo e todos os corpos celestes,
inclusive o sol, giravam ao seu redor. Por incrível
que pareça, somente em 1992 o Vaticano, após um
estudo de 14 meses, admitiu finalmente que Galileu
estava certo. Essa admissão foi um reconhecimento
de que muitos papas, que haviam afirmado que
Galileu estava errado, eram criaturas falíveis e,
portanto, capazes de fazer interpretações erradas da
Escritura. Mesmo assim, o Vaticano II reafirmou o
dogma de que somente o Magistério, conduzido por
papas infalíveis, pode interpretar a Escritura e que
todos os fiéis devem aceitar incondicionalmente a
sua interpretação.
Não é de admirar que o Vaticano II tenha
restringido o seu endosso da inerrância bíblica a
assuntos de fé e moral. Ele declara: “Acerca dos
livros das Escrituras deve ser reconhecido que eles
ensinam de maneira segura, fiel e sem erros a
verdade que Deus, por causa de nossa salvação,
queria que fosse registrada na Escritura Sagrada”.[2]
Uma versão dos documentos, publicada pelos
Cavaleiros de Colombo, faz uma paráfrase dessa
seção: “embora a Bíblia seja livre de erro no que se
refere à verdade religiosa revelada para a nossa
salvação, não é necessariamente livre de erro em
outros assuntos (por exemplo em relação à
Ciência)”.[3] Aparentemente, o Deus que criou o
universo e inspirou a Bíblia nada entende de
Ciências Naturais!
O Magistério católico, que alega ser o único e
infalível intérprete da Escritura, obviamente está
longe da infalibilidade e, portanto, deve ter uma
desculpa para os erros científicos que tem se
permitido. Por isso, põe a culpa na Bíblia. Ao negar
ao indivíduo a responsabilidade moral pessoal de
examinar e obedecer a Palavra de Deus (mais do
que crer naquilo que a hierarquia religiosa diz sobre
ela), a Igreja Católica Romana agarra-se aos últimos
resquícios de sua autoridade, que tem exercido sobre
a vida e a consciência de homens e governos.
APÊNDICE F

E Quanto à Tradição?
O catolicismo romano afirma que não se baseia
somente na Bíblia mas também na “tradição”,
supostamente herdada dos apóstolos. Contudo, não
existe tradição católica nenhuma que possa ser
rastreada até os apóstolos. Nem uma sequer! As
tradições católicas apareceram muito depois da
época dos apóstolos, e a idéia da infalibilidade é uma
das mais jovens. O próprio conceito de
pronunciamentos ex-cathedra, tão central na
infalibilidade, não era sequer imaginado antes do
século XVI.
Além do mais, admite-se que a tradição tenha
passado por muitas mudanças. O Vaticano II
reconhece: “A tradição apostólica progride... na
igreja: cresce o discernimento das realidades e
palavras que nos foram transmitidas”.[1] O
documento prossegue:
A Sagrada Escritura é a linguagem de Deus revelada
na escrita, sob a inspiração do Espírito Santo. A
sagrada tradição, porém, transmite em sua inteireza a
Palavra de Deus que foi confiada aos apóstolos por
Cristo, o Senhor, e pelo Espírito Santo... Por isso, tanto
a Escritura quanto a tradição devem ser aceitas e
honradas com o mesmo sentimento de devoção e
reverência...
Está claro, portanto, que no supremamente sábio
arranjo de Deus, a sagrada tradição, a Sagrada
Escritura e o magistério da Igreja estão de tal modo
unidos e associados que um deles não pode se
sustentar sem os outros, e que juntos, cada um a seu
próprio modo, pela ação do Espírito Santo, todos eles
contribuem efetivamente para a salvação das almas.
[2]

Sérios problemas com essa visão ficam


imediatamente evidentes: a Bíblia não é suficiente
em si mesma, não se sustenta sozinha e não contém
toda a verdade de que precisamos para a salvação,
mas deve ser suplementada pela tradição e
interpretada pelo “magistério da Igreja”. Nem a
Igreja Católica Romana, com o seu magistério, nem
a sua tradição existiam durante os cerca de 2.000
anos do Antigo Testamento. Fica óbvio que a
Palavra de Deus, que é maior do que o Novo
Testamento (em volume), não necessitava do
magistério e nem da tradição. Já vimos como a idéia
católica de que as Escrituras são “insuficientes”
contradiz o que a própria Bíblia diz a respeito do
assunto. Mas o problema não termina aí.
Sem uma gravação em fita ou áudio do que foi
dito, obviamente fica impossível rastrear qualquer
tradição oral depois de dez anos, e mais difícil ainda
seria preservar registros voltando no tempo por
1.900 anos (até o período dos apóstolos).
Declarações orais não deixam um registro
permanente que possa ser verificado. Mesmo que
alguém do século II, que tenha vivido apenas 50 ou
100 anos depois dos apóstolos, tivesse escrito o que
imaginava ter sido seu ensino oral, o problema não
seria eliminado, pois ainda assim haveria lacunas na
transmissão oral impedindo a verificação da
legitimidade do que foi transmitido. Sendo assim, é
fato que a Igreja Católica Romana, com todo o seu
falar acerca da tradição apostólica, não pode provar
que uma única das suas tradições realmente venha
diretamente dos apóstolos!
Cristo citou as Escrituras e disse que tudo deve
se cumprir (Marcos 14.49; Lucas 24.44). Ele jamais
mencionou a tradição nesse sentido ou sugeriu que
ela deveria se cumprir – o que seria uma estranha
omissão se a tradição fosse parte essencial da
revelação de Deus. Paulo nos assegura que “Toda a
Escritura é inspirada por Deus” (2 Timóteo 3.16,
cf. 2 Pedro 1.20-21). Esse tipo de garantia não foi
atribuída à tradição. Na verdade, o que está
implícito é exatamente o contrário. Paulo disse a
Timóteo: “prega a palavra... corrige, repreende,
exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2
Timóteo 4.2). Ele nunca ordenou que se pregasse a
tradição – o que seria mais uma estranha omissão se
a tradição fosse tão importante ou apenas válida.
Além da Palavra de Deus, não há uma tradição
judaica oral no Antigo Testamento que tenha
existido desde Moisés, Davi ou Isaías e que deveria
ser observada além da Palavra de Deus. Cristo não
tinha nada de bom a dizer sobre a tradição judaica,
pois chegou a condená-la como algo que perverteu e
tornou sem efeito a Palavra de Deus (Mateus 15.1-
9). Jesus certamente não exigiria que Sua Igreja
firmasse suas bases sobre uma tradição tão
facilmente deturpável, porém deu por escrito à
Igreja, como havia dado a Israel, toda instrução de
que ela necessita.

Referências das Escrituras


Sobre a Tradição
As palavras “tradição” ou “tradições” aparecem
13 vezes no Novo Testamento. Oito referências
(Mateus 15.2,3,6; Marcos 7.3,5,8,9,13) são
declarações de Cristo nos evangelhos, todas elas
depreciativas das tradições judaicas. Paulo faz cinco
referências, e duas são claramente depreciativas
(Colossenses 2.8; Gálatas 1.14). A referência
implícita de Pedro (1 Pedro 1.18): “coisas
corruptíveis... que vossos pais vos legaram”,
também é depreciativa. A versão Revista e Corrigida
traduz como tradições. Com isso, restam três
referências favoráveis feitas por Paulo: “De fato, eu
vos louvo porque, em tudo, vos lembrais de mim e
retendes as tradições assim como vo-las entreguei”
(1 Coríntios 11.2); “Assim, pois, irmãos,
permanecei firmes e guardai as tradições que vos
foram ensinadas, seja por palavra, seja por
epístola nossa... Nós vos ordenamos, irmãos, em
nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de
todo irmão que ande desordenadamente e não
segundo a tradição que de nós recebestes” (2
Tessalonicenses 2.15; 3.6).
Sobre esses três últimos versículos se
fundamenta toda a doutrina católica acerca da
tradição. E nenhum deles refere-se à tradição
católica romana na forma em que ela tem se
desenvolvido através dos séculos desde os dias dos
apóstolos. Paulo estava obviamente falando daquilo
que ele e/ou outros apóstolos já haviam ensinado
pessoalmente. Ele não estava se referindo a tradições
que poderiam se desenvolver em algum tempo no
futuro sob a influência de líderes desconhecidos da
Igreja. Portanto, a não ser que possa ser
demonstrado que a tradição atual da Igreja Católica
Romana foi primeiramente ensinada pelos apóstolos
e permaneceu pura até hoje, nenhum suporte para
ela pode ser encontrado nesses versículos. E já
mostramos que é impossível rastrear qualquer
tradição católica contemporânea de volta até os
apóstolos.
Além disso, a tradição católica romana
contradiz o claro ensino da Escritura e jamais
poderia ter sido ensinada dessa forma pelos
apóstolos. Existem contradições até mesmo dentro
das próprias tradições católicas. O papa Leão XIII
(1823-1829) escreveu em “Sobre o Estudo da
Sagrada Escritura”, que os Pais da Igreja “algumas
vezes expressaram as idéias de seu próprio tempo e,
portanto, faziam declarações que nos dias atuais
seriam consideradas falsas”. Também já vimos que
foram editados falsos decretos, que se tornaram a
base de muitas tradições, até mesmo da Lei
Canônica, e que permanecem válidos até hoje.

Tradição Oral: um Recurso


Temporário
Enquanto o Novo Testamento estava sendo
escrito houve, obviamente, um tempo em que a
Igreja primitiva confiava nos ensinos orais dos
apóstolos. Porém, temos todas as razões para crer
que todos os ensinamentos inspirados pelo Espírito
Santo, válidos para todos os crentes através da
História, foram escritos e preservados. Isso é
verdade pelas razões que já delineamos:
1) Se não houve uma tradição oral para Israel
desde os tempos do Antigo Testamento, desde
Moisés, Davi, Samuel e outros, por que para a
Igreja seria diferente?
2) Cristo condenou toda a tradição oral
desenvolvida pelos escribas e fariseus como
perversão da Palavra de Deus escrita; então por que
Ele desejaria que a Igreja tivesse a mesma influência
corruptora?
3) É impossível rastrear a tradição oral até sua
fonte original ou ter certeza da sua exatidão.
4) Ensinamentos orais, ao serem transmitidos
de geração em geração, são passíveis de alterações e
falsificações.
5) Nem tudo que Paulo e os demais apóstolos
disseram em algum momento tinha o mesmo peso
que as Escrituras, nem se destinava aos crentes de
todas as épocas. A única possibilidade correta de
fazer a distinção seria registrar por escrito as
doutrinas válidas para toda a Igreja.
Os próprios apóstolos indicaram que os ensinos
orais, que deviam ser válidos por todos os tempos,
foram preservados por escrito. Temos essa evidência
nas cartas de Paulo. Em 1 Coríntios 11.23 ele
declara estar escrevendo o que já havia ensinado
oralmente: “Porque eu recebi do Senhor o que
também vos entreguei”. Em 2 Tessalonicenses 2.5
Paulo diz o mesmo: “Não vos recordais de que,
ainda convosco, eu costumava dizer-vos estas
coisas?”
O apóstolo estava transmitindo por escrito (a
eles e a nós), o que ele já havia ensinado oralmente
e, ao mesmo tempo, estava desenvolvendo e
ampliando os assuntos tratados. O mesmo vale para
a tradição à qual ele se refere em 2 Tessalonicenses
3.6. No versículo 10 ele frisa novamente:
“...quando ainda convosco, vos ordenamos
[oralmente] isto...” Pedro diz o mesmo: “Mas, de
minha parte, esforçar-me-ei, diligentemente, por
fazer que, a todo tempo, mesmo depois da minha
partida, conserveis lembrança de tudo” (2 Pedro
1.15). Em outras palavras, ele colocou por escrito o
que anteriormente havia lhes ensinado oralmente,
para que, após sua morte, os cristãos não
esquecessem nem corrompessem suas palavras.
Paulo estava profundamente preocupado com
as falsas doutrinas. Muito do que escreveu foi para
corrigir heresias. Ele admoestava os anciãos de
Éfeso: “Eu sei que, depois da minha partida, entre
vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o
rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão
homens falando coisas pervertidas para arrastar
os discípulos atrás deles” (Atos 20.29-30). Seria
ilógico, portanto, imaginar que Paulo não fosse
colocar por escrito tudo que o Espírito Santo o tinha
inspirado a ensinar. Se os homens pervertem até a
verdade escrita, quanto mais fácil seria perverter
conteúdo transmitido apenas oralmente, uma vez
que as memórias falham, e viriam novas gerações
que jamais teriam ouvido o ensino original.
E Quanto à Tradição
Escrita?
A tradição escrita do catolicismo deriva das
obras dos chamados Pais da Igreja. Infelizmente elas
vêm misturadas com inúmeras falsificações,
impossíveis de serem distinguidas dos fatos reais.
Essas fraudes vieram a ser a fonte de conceitos hoje
definidos como dogmas válidos. Delas fazem parte,
por exemplo, a lenda registrada em 338 nos
Decretos Pseudoisidorianos atribuída ao papa Júlio
de que “através de um privilégio singular a igreja
romana tem o poder de abrir ou fechar as portas do
céu a quem quiser” e os papas herdaram “a
inocência e santidade de Pedro”, e, por isso, são
santos e infalíveis e toda a cristandade deve tremer
diante deles.[3] Declarações assim são claramente
antibíblicas. Depois de estudar exaustivamente os
documentos históricos originais, Von Dollinger nos
informa:
Quase no final do século V e início do VI, trabalhou-se
ativamente no processo de falsificações e ficções no
interesse de Roma. Começava a compilação de atos
imaginários dos mártires romanos, a qual continuou
por alguns séculos e que a crítica moderna, até
mesmo a romana, foi obrigada a abandonar ...
Por mais forte que tenha sido a tendência de Roma de
forjar documentos falsos, é notável que durante 1.000
anos não foi feita tentativa alguma para elaborar um
cânon próprio... mais de 20 sínodos tinham sido
convocados em Roma desde 313, mas não é possível
encontrar quaisquer registros deles.[4]

Foram produzidas tradições falsificadas, que


acabaram tornando-se a base de quase todo o
sistema papal e influenciando grande parte do
Direito Canônico. Foram os falsos Decretos,
revisados e reelaborados século após século, que
formaram o catolicismo romano como o
conhecemos hoje. Von Dollinger nos informa ainda:
Gregório VII... se considerava não apenas reformador
da Igreja mas também o fundador, divinamente
comissionado, de uma nova ordem de coisas...
Gregório reuniu ao seu redor, divididos
hierarquicamente, os homens certos para elaborar à
sua maneira o sistema de leis da Igreja... Pode-se
dizer que Anselmo foi o fundador do novo sistema
gregoriano de lei da Igreja; primeiramente por extrair
e separar adequadamente todas as falsificações de
Isidoro que estavam a serviço do absolutismo papal,
avaliando e colocando o material em ordem e, então,
alterar a lei da Igreja através de uma sucessão de
novas ficções, invenções e interpolações, trabalhando
em prol das necessidades dos partidários de Gregório e
dos pontos de vista por ele adotados...
Os partidários da ala gregoriana, por mais espertos e
calculistas que tenham sido, quando se punham a
trabalhar viviam em um mundo de sonhos e ficções em
relação ao passado e a países remotos. Eles não
podiam escapar da necessidade imperiosa de
demonstrar que o seu novo sistema havia sido a
prática constante durante toda a história da Igreja,
tornando difícil, senão impossível, distinguir quando a
ilusão era involuntária e quando começava o engano
consciente. Quaisquer que fossem as exigências do
momento, ao seu comando os mitos eram rápida e
descuidadamente escolhidos dentre suas histórias;
novas ficções eram adicionadas, e logo podia-se
mostrar que cada alegação de Roma tinha um
fundamento legítimo nos [fraudulentos] registros e nos
decretos já existentes.[5]

Esses decretos eram usados para criar lendas a


respeito dos papas (que depois se transformavam em
leis) e para colocar a tradição (a falsa tradição) no
mesmo nível da Escritura. Além disso, ao contrário
da Bíblia, que se encontra disponível em um volume
único, a tradição está espalhada por muitos volumes
contendo os supostos escritos dos Pais da Igreja e
decretos dos concílios. Sendo volumosa e
inacessível à pessoa comum, a coleção é formada de
pelo menos 35 volumes em grego e latim dos Pais
da Igreja, normalmente terminando com Gregório I
em 604; outros 35 volumes de decretos dos
concílios da Igreja; cerca de 25 volumes de
declarações e decretos dos papas; cerca de 55
volumes das supostas declarações e feitos dos
santos, num total de cerca de 150 volumes. Richard
Bennet, ex-padre católico, explica ainda:
O bispo ou sacerdote católico romano, sem falar no fiel
católico comum, jamais pode encontrar ou ler toda a
tradição, uma vez que ela está escrita em muitas
línguas mortas ou estrangeiras. Mesmo que tudo
estivesse traduzido, seria impossível organizar os 150
volumes de tal modo que formassem um só volume
como a Bíblia. Declarar, portanto, que [a Bíblia mais] a
tradição sagrada formam um único depósito de
Escritura é um absurdo.[6]

Fica óbvio, apenas pelo volume que ocupa, que


a “sagrada tradição” católica já é cerca de 150 vezes
maior do que a Bíblia. Assim sendo, o católico
comum não tem acesso à maior parte do que a
Igreja chama de “a Palavra de Deus”. Além disso,
ao contrário da Bíblia (que ela em grande parte
contradiz), a tradição escrita e os dogmas oficiais da
Igreja têm mudado freqüentemente, propondo até
mesmo idéias contraditórias sobre assuntos tão
importantes como o aborto. A maioria dos católicos
não sabe que a sua Igreja e os papas infalíveis têm
mudado de opinião várias vezes nesse tópico – algo
inimaginável sob a ótica atual.
A partir do século V, passou-se a aceitar a visão
de Aristóteles de que o embrião humano passa por
diversos estágios, indo do vegetal ao animal e ao
espiritual. Seria humano apenas no último estágio.
Por isso Gregório VI (1045-1046) disse: “Não é
assassino quem comete aborto antes da alma
penetrar no corpo”. Gregório XIII (1572-1585)
disse que não era homicídio matar um embrião de
menos de 40 dias de vida, visto que ele ainda não
seria humano. Seu sucessor, Xisto V, que reescreveu
a Bíblia, discordava dessa afirmação. Sua bula de
1588 considerava todos os abortos, independente do
motivo, como homicídios e motivo de excomunhão.
Seu sucessor Gregório XIV suspendeu esse decreto.
Em 1621, o Vaticano editou uma nova diretiva
pastoral permitindo o aborto até os 40 dias de
gestação. Por volta do século XVIII, o maior teólogo
moral da Igreja, São Afonso de Ligório, ainda
negava que a alma entrava na hora da concepção e
permitia uma certa flexibilidade nesse assunto,
principalmente quando a mãe do feto estava em
perigo. Finalmente, em 1869, Pio IX declarou que a
destruição de qualquer embrião era aborto e merecia
excomunhão – e essa é a opinião vigente até hoje.
APÊNDICE G

João Paulo II Pede


“Perdão”
A manchete da capa do L’Osservatore Romano
(jornal oficial do Vaticano), publicado em 15 de
março de 2000 anunciou: “O SANTO PADRE
CELEBRA O ‘DIA DO PERDÃO’”. Antes da
transcrição do discurso do papa, a reportagem
comentava:
Domingo, 12 de março, primeiro domingo da
Quaresma, o papa João Paulo II celebrou a santa
missa na basílica de São Pedro e pediu perdão ao
Senhor pelos pecados, tanto do presente quanto do
passado, cometidos pelos filhos e filhas da Igreja”.

Apenas pelos filhos e filhas, mas não pela


própria Igreja? Sim, e essa é a posição oficial do
catolicismo, apresentada repetidas vezes em todos os
seus documentos. O papa disse ainda:
Estamos todos convidados a fazer um profundo exame
de consciência... o reconhecimento de erros do passado
serve para despertar em nossas consciências os
compromissos do presente... [ênfase do original].

Certamente esse “profundo exame” e o


“despertamento de consciência” que o papa
professa, revelaria detalhes específicos pelo menos
de muitos, se não da maioria dos atos malignos que
foram cometidos pela Igreja Católica. Mesmo assim,
nenhum desses atos é mencionado na chamada ao
arrependimento feita pelo papa ou em qualquer um
dos documentos a ela relacionados.
Quando um católico vai se confessar, o padre
pede detalhes de seus pecados, testando a
consciência do penitente com perguntas que podem
induzi-lo a dar certas respostas. Ele faz isso para ter
certeza de que todos os pecados foram
mencionados. (Infelizmente, durante séculos essas
perguntas poluíram as mentes das crianças com
coisas que elas jamais imaginavam). A crença do
Vaticano é que “todos os pecados mortais de que os
penitentes tiverem consciência, depois de uma auto-
análise diligente, devem ser relatados em confissão,
até mesmo os mais secretos...”
O papa precisaria apenas consultar os registros
históricos dos milhares de crimes cometidos por seus
antecessores e pela Igreja. Nas páginas deste livro [e
também do Volume 1] já relatamos alguns desses
atos vis, muitos dos quais rivalizam com os que são
atribuídos aos piores tiranos seculares. Ainda assim,
o papa nunca mencionou sequer um desses feitos
em particular, mas falou apenas de maneira genérica
a respeito das
infidelidades ao Evangelho cometidas por alguns de
nossos irmãos... as divisões que ocorreram entre os
cristãos... a violência que alguns usaram a serviço da
verdade... as atitudes hostis e pouco confiáveis
algumas vezes tomadas contra os seguidores de outras
religiões... nossas responsabilidades... no tocante ao
ateísmo, indiferença religiosa, secularismo, relativismo
ético, às violações do direito à vida e o desrespeito
pelos pobres em muitos países.

Ele também declarou:


Humildemente pedimos perdão pela parte que cada
um de nós teve nesses males e pelas nossas próprias
atitudes, ajudando assim a desfigurar a face da Igreja.
Ao mesmo tempo... vamos perdoar os pecados cometidos
contra nós pelos outros [ênfase do original].
Tais caracterizações vagas não mencionam os
nomes dos culpados nem os relatos de seus crimes e
dificilmente poderiam ser chamadas de confissão de
pecados. Mesmo assim, essa tentativa de “limpeza”
de uma Igreja “embriagada com o sangue dos
mártires” foi celebrada pela mídia, e até mesmo por
muitos líderes evangélicos como um ato de grande
coragem, integridade e humildade. Na verdade, o
“ato de contrição” do papa deve ser considerado por
qualquer observador imparcial apenas como uma
manobra para sepultar o passado, já que os
“pecados” foram supostamente confessados e
perdoados: os horrores da perseguição, tortura e
assassinato perpetrados pela Igreja Romana durante
a maior parte de sua história.
Essa apologia fingida é um insulto à nossa
inteligência e faz pouco caso da memória dos
milhões que foram vítimas da Roma papal através
dos tempos. Não houve sequer uma palavra de
condolências pelas vítimas de suas inquisições, nem
menção de suas Cruzadas contra os judeus e cristãos
inocentes de toda a Europa, das guerras papais para
a exterminação dos hussitas, albigenses, valdenses e
huguenotes e das outras inúmeras vítimas de
crueldade tão grande que faria até mesmo Hitler
corar de vergonha. Tampouco houve menção dos
feitos malignos de papas criminosos e cruéis, alguns
já analisados neste livro. Ao invés de admitir que, se
nos baseássemos em suas obras, muitos papas não
poderiam ser considerados cristãos (e muito menos
vigários de Cristo), o Vaticano
desavergonhadamente inclui seus nomes na longa
lista da suposta “sucessão apostólica”. É nessa
mesma lista que o papa João Paulo II se baseou para
reivindicar sua autoridade.
Já documentamos os detalhes de muitos dos
ultrajes contra Deus e contra os homens, cometidos
século após século pela Igreja Católica Romana.
Mas o papa nada admitiu em sua suposta
“confissão”. Então, como poderia haver um exame e
despertamento de consciência e uma confissão
válida sem que fossem enumerados os males
específicos perpetrados durante séculos pela sua
Igreja na figura de seus líderes? O papa se engajou
no mais alto grau de hipocrisia, varrendo séculos de
maldades para debaixo do tapete de uma suposta
“confissão”, mas não admitiu coisa alguma.
A falta de transparência na tentativa que João
Paulo II fez para inocentar sua Igreja ficou evidente
quando ele apenas falou dos pecados dos “filhos e
filhas” mas não confessou os pecados cometidos
pela própria Igreja. Na verdade, esses crimes
(mesmo que muitos foram obviamente cometidos
pelos “filhos” da Igreja) ocorreram por causa de sua
obediência e por estarem debaixo da liderança da
própria Igreja representada por seus papas, cardeais,
bispos e padres (que, na verdade, forçaram os
“filhos” a cometer tais atos).
As Inquisições foram criadas e lideradas pelos
próprios papas. Incluíam torturas diabólicas,
constante e engenhosamente “melhoradas” para
tornarem-se ainda mais cruéis. Essas torturas, cada
vez mais elaboradas, eram usadas para arrancar
tanto a confissão quanto a retratação das “heresias”
de que as multidões eram falsamente acusadas.
Algumas das câmaras de tortura, com seus
instrumentos usados para infligir os sofrimentos
mais agonizantes aos culpados, ainda podem ser
vistas pelos turistas em toda a Europa. Sabe-se que
80 dos supostos “vigários de Cristo”, um após o
outro, supervisionaram e perpetraram esse horror.
Foram os papas, ajudados pelos bispos, que
fomentaram e dirigiram as Cruzadas (tanto para a
Terra Santa quanto contra os cristãos evangélicos da
Europa) que resultaram no massacre de milhões de
cristãos, judeus e muçulmanos inocentes – chegando
a oferecer indulgências especiais para quem tomasse
parte na matança.
Esses horrores cometidos em nome de Cristo
pela Roma papal são fatos históricos inegáveis.
Mesmo assim, a Igreja Católica Romana nunca
admitiu nem se arrependeu ou pediu perdão por
esses crimes, tampouco João Paulo II escolheu ser o
primeiro líder católico a fazê-lo. E quem se atreve a
acusar Roma (ou se dispõe a fazê-lo)?
Aparentemente ninguém. É escandalosa a atitude de
alguns líderes evangélicos mundiais nessa simulação
de arrependimento, e sua cumplicidade é
demonstrada por seu louvor ao papa e por sua
condescendência com as heresias católicas.
A hipocrisia do papa alcançou um novo
patamar quando declarou que, depois de uma
“reflexão completa e total” de pecados, “resolveu
publicar... um documento [produto de numerosos
encontros da subcomissão e... sessões plenárias...
ocorridas em Roma entre 1998 e 1999”,] da
Comissão Internacional de Teologia, intitulada:
“Memória e Reconciliação: A Igreja e as Falhas do
Passado”. Essa promessa arrogante é
imediatamente refutada pelo prefácio do documento,
que demonstra bem a sua proposta: “não examinar
casos históricos em particular, mas sim esclarecer as
pressuposições que garantem arrependimento por
erros do passado”. Na verdade, essa declaração, um
documento com 19.000 palavras com a suposta
confissão do papa, deliberadamente evita mencionar
e, menos ainda, descrever qualquer fato específico.
Entretanto, é obvio que forjar uma confissão sem
listar claramente os pecados que estão sendo
confessados é perpetrar uma fraude gigantesca.
Mesmo assim, quase todo mundo a aceitou como
algo digno de louvor!
Em sua totalidade, o documento reflete a
mesma desculpa hipócrita usada na suposta
“confissão” de qualquer culpa por parte da Igreja.
Toda responsabilidade é jogada – sem uma
identificação precisa dos pecados – sobre os
“pecados do presente e do passado de seus filhos e
filhas... as falhas cometidas pelos filhos e filhas da
Igreja... atos passados imputados aos filhos da
Igreja... a Igreja deveria tornar-se mais consciente da
pecaminosidade de seus filhos... o apelo de João
Paulo II à Igreja para marcar o Ano do Jubileu como
uma admissão de culpa pelos sofrimentos e
maldades cometidos pelos seus filhos e filhas no
passado...”, etc. Além disso, a falta de disposição da
Igreja em admitir qualquer pecado que tenha
cometido é apenas um aspecto que faz parte da sua
justificável e duradoura política de preservação.
De fato, em toda a História da Igreja não havia
precedentes para pedidos de perdão feitos pelo
Magistério por erros do passado... foram muito raras
as ocasiões em que autoridades eclesiásticas – o
papa, bispos ou concílios – reconheceram
abertamente seus erros ou abusos de que eram
culpados. Um exemplo famoso nos é fornecido pelo
papa reformador Adriano VI, que reconheceu
publicamente, em uma mensagem enviada à Dieta
de Nüremberg em 25 de novembro de 1522, “as
abominações, os abusos... e mentiras” das quais a
“corte romana” de então era culpada. Na verdade
seria uma “doença... que estava enraizada e se
alastrava... desde a liderança até os membros
comuns”. Adriano VI deplorava as falhas da Igreja
já em seu tempo, em especial as cometidas pelo seu
antecessor imediato, Leão X e sua cúria, sem,
entretanto, fazer um pedido de perdão por elas.
Será necessário esperarmos muito até que,
algum dia, surja um papa disposto a fazer um
pedido de perdão tanto a Deus quanto aos homens.
Na declaração que fez durante a abertura da
segunda sessão do Concílio Vaticano II, o papa
[Paulo VI] pediu “perdão a Deus e aos irmãos
separados do Oriente [Igreja Ortodoxa] que possam
ter se sentido ofendidos por nós... Paulo VI [referiu-
se] somente ao pecado de divisão entre os
cristãos...”
Pode-se acrescentar a isso a vaga declaração
feita pelo Vaticano II de que “o Concílio ‘lamenta’ as
perseguições e as manifestações de anti-semitismo
‘feitas por qualquer um, em qualquer época”’. Esses
são os únicos indícios de uma admissão parcial de
culpa por parte da Igreja Católica ou por seus
líderes. Mesmo assim, seus comentários são
nebulosos e restringem-se a lamentar a “divisão” no
cristianismo, insinuando, de maneira bem articulada,
que a Igreja de Roma é a única igreja verdadeira e
que a “unidade” implica que as outras voltem a fazer
parte dela. Ele também declarou: “Lamento pelas
‘tristes memórias’ que marcam a história de divisão
entre os cristãos... métodos de violência e
intolerância usados no passado com a finalidade de
evangelização, etc.”. Até mesmo tal admissão de
culpa é falha e não demonstra um pedido de perdão.
O papa e os documentos que o apóiam sempre
fizeram uma distinção “entre a fidelidade
indefectível da Igreja e as fraquezas de seus
membros... entre a Noiva de Cristo ‘sem mácula,
nem ruga... santa e sem defeito’ e seus filhos...”
Em Memória e Reconciliação, o papa João
Paulo II disse que tinha “esperança de que o Jubileu
do ano 2000 venha a ser uma boa ocasião para a
purificação da memória da Igreja de todas as formas
de “antitestemunho e escândalo” ocorridas durante o
último milênio. O papa parece ter conseguido uma
“purificação da memória” mesmo sem confessar
coisa alguma, já que o mundo e (também) a igreja
evangélica mundial estão tão dispostos a ignorar os
males do catolicismo romano pelo bem de uma falsa
“unidade”.
Esse documento, publicado pela Comissão
Internacional de Teologia da Igreja Católica
Romana, ao qual o papa se refere com tamanha
aprovação, foi elaborado cuidadosamente para evitar
que fosse revelada a verdade que os condenaria.
Referindo-se à tortura e ao massacre de milhões de
cristãos, judeus e muçulmanos, justificando-os como
“uso da força no interesse da verdade”, parece
sugerir que os “irmãos separados... possam ter sido
ofendidos por nós [a Igreja Católica]”. Frases
pretensiosas, tais como “julgamento histórico...
avaliação histórica... discernimento ético... o
princípio da consciência... responsabilidade moral...
o princípio da historicidade” mascaram a cruel
realidade, dando uma impressão de piedade
farisaica, que serve somente a seus próprios
interesses.
Ele se referiu à “hostilidade ou desconfiança de
muitos cristãos em relação aos judeus... [e]
preconceitos anti-semitas que estão presentes no
coração e nas mentes de alguns cristãos... um
chamado à consciência de todos os cristãos de hoje,
para requerer um ato de arrependimento... assim
como para manter uma ‘memória moral e religiosa’
dos danos causados aos judeus”. Tais chavões
apenas aumentam os insultos, à luz de séculos não
apenas de um mero anti-semitismo, mas de violenta
perseguição e assassinatos em larga escala
perpetrados pela Igreja Católica Romana contra
aqueles que a Bíblia chama de “o povo escolhido de
Deus” e “irmãos de Cristo”. O papa conseguiu fazer
com que a Igreja Católica fosse descrita como sendo
sem mácula e sem manchas. Essa Igreja está,
segundo ele, sinceramente preocupada com alguma
culpa ainda não definida, atribuída aos seus “filhos e
filhas”. É surpreendente o fato de que a mídia aceite
essa ilusão, e os líderes evangélicos, por sua
disposição de apoiarem a falsa união proposta pelo
ecumenismo, dêem crédito ao papa por sua elogiável
demonstração de contrição.
APÊNDICE H

A Visita de João Paulo


II a Israel
Vindo de Roma, o papa João Paulo II chegou a
Amã, capital da Jordânia, no início da manhã do dia
20 de março de 2000, após um vôo de quatro horas
a bordo de seu avião particular. Na última parte de
sua viagem foi escoltado por jatos Mirage da Força
Aérea jordaniana. O rei Abdul II recepcionou-o
quando desceu do avião e os dois caminharam
juntos por um longo tapete vermelho para encontrar-
se com os dignitários que o esperavam. É estranho
que os chefes de Estado, oficiais de alto escalão,
celebridades e uma multidão de milhares ou até
centenas de milhares de pessoas recepcionem o
pontífice romano aonde quer que ele vá, enquanto
Cristo, de quem ele alega ser o “vigário”, era
“desprezado e o mais rejeitado entre os homens”
(Isaías 53.3).
Cristo prometeu a Seus discípulos que eles
seriam tratados pelo mundo da mesma maneira que
Ele foi: “não é o servo maior do que seu senhor. Se
me perseguiram a mim, também perseguirão a vós
outros” (João 15.20). E foi o que ocorreu. Os
apóstolos, fiéis ao seu Senhor e Sua Palavra, foram
martirizados. Segundo a tradição, Pedro foi
crucificado de cabeça para baixo. Portanto, é
estranho que seu suposto sucessor, que chega até
mesmo a dizer que é o Cristo na terra, seja amado,
celebrado, consultado e festejado pelos líderes mais
poderosos do mundo. Algo está errado! Em seu
discurso João Paulo II relembrou seu “grande
desejo”, expresso várias vezes desde o início de seu
pontificado em 1978, de “fazer uma peregrinação à
Terra Santa”. Ele chamou cristãos, judeus e
muçulmanos de “crentes” no Deus único e os instou
a se considerarem “um só povo e uma só família”.
Em contraste, Cristo disse que a “família” a que a
humanidade pertence tem o Diabo como pai (João
8.44), e para entrar na família de Deus é preciso
nascer de novo através do Espírito de Deus, pela fé
em Jesus Cristo e em Seu sacrifício redentor na cruz
(João 3.3-17). Jesus também conclamou toda a
humanidade a escolher entre o arrependimento ou a
morte eterna (Mateus 9.13; Lucas 13.3, etc.).
O papa foi quase imediatamente para o alto do
Monte Nebo (cerca de 24 quilômetros de Amã) no
coração da Jordânia. Daquele lugar privilegiado, a
mais de 800 metros de altura, ele podia ter a mesma
visão que Moisés teve da Terra Prometida.
Chegando lá, foi recepcionado por monges
franciscanos e pelo bispo católico da Jordânia e
assistiu à apresentação de um coral infantil. No dia
seguinte celebrou uma missa no centro de Amã com
a presença de 35.000 pessoas, incluindo 2.000
crianças que participavam de uma missa pela
primeira vez.
Depois de um vôo de meia hora que partiu de
Amã, o avião do papa chegou ao aeroporto de Tel
Aviv e o pontífice foi recepcionado com honras pelo
ex-presidente de Israel, Ezer Weizman, e pelo então
primeiro-ministro Ehud Barak. Em seu discurso, o
papa referiu-se novamente ao seu antigo desejo de
visitar a Terra Santa e ressaltou que essa era uma
“peregrinação pessoal” do bispo de Roma “às
origens de nossa fé no Deus de Abraão, Isaque e
Jacó”. Mais uma vez o judaísmo apóstata e o
islamismo pagão foram reconhecidos como crenças
verdadeiras que servem ao único e verdadeiro Deus.
Na realidade, Alá é uma divindade pagã, e tanto o
islamismo quanto o judaísmo rejeitam o Deus
Triúno da Bíblia e Cristo como Filho de Deus e
Salvador dos pecadores. O Corão chega a dizer que,
ao invés de Jesus ter morrido na cruz pelos nossos
pecados, outro morreu em Seu lugar enquanto Ele
foi levado vivo para o céu, de onde retornará como
homem para morrer na terra.
Durante a cerimônia de boas-vindas também
estavam presentes para cumprimentar o papa os
líderes do governo de Israel, rabinos e parte
importante do clero de Jerusalém, juntamente com
líderes muçulmanos. O ex-presidente Ezer Weizman
elogiou a “contribuição dada [pelo papa] para que o
anti-semitismo fosse considerado um pecado contra
o céu e contra a humanidade” e também seu “pedido
de perdão pelos atos cometidos no passado pelos
membros da Igreja contra os judeus”. Como já
vimos antes, foi a própria Igreja Católica que
perseguiu os judeus, e o “pedido de perdão” do papa
evitou tocar em qualquer questão específica, mas
Israel está buscando aliados, e nessa busca está
disposto até mesmo a fechar os olhos para uma
verdade que é bastante conhecida. João Paulo II
partiu de Tel Aviv para passar as noites seguintes na
casa do representante do Vaticano em Israel,
conhecido como o “núncio apostólico”, que é um
título e um cargo completamente desconhecido de
qualquer ensinamento ou experiência da Igreja e dos
Seus apóstolos.
A gigantesca hipocrisia da visita papal ficou
evidenciada pelas repetidas referências à Terra
Prometida e aos israelitas como o “povo de Deus”
enquanto, ao mesmo tempo, apoiava a reivindicação
de não-judeus pela posse de partes daquela terra e
defendia as reivindicações da comunidade
internacional que deseja controlar o destino de
Jerusalém. O papa referiu-se a Jerusalém várias
vezes como a “cidade sagrada para os muçulmanos”,
apesar dela não ser mencionada uma vez sequer no
Corão e não ser considerada um lugar santo para os
islâmicos até recentemente, algo que faz parte do
plano para expulsar de lá os judeus. Em contraste a
isso, Jerusalém é mencionada mais de 800 vezes na
Bíblia e o próprio Deus repetidas vezes a chama de
“Cidade de Davi” e diz que ali é o lugar onde Ele
estabeleceu o Seu nome para todo sempre.
Parece suspeito o fato do papa não ter admitido
nem feito referência ao anti-semitismo demonstrado
pela Igreja Católica durante séculos. Tampouco
houve qualquer menção aos episódios que
mostravam a resistência resoluta da Igreja Católica
Romana ao surgimento do Estado de Israel. Além do
mais, tanto o papa quanto os israelenses mantiveram
um estranho silêncio no tocante à constante
oposição da Igreja Católica em aceitar Jerusalém
como a capital do Estado judeu. A preocupação com
o que é considerado “politicamente correto” pôde
ser notada durante todo o evento. Deixando esse
aspecto de lado, vamos analisar brevemente os fatos
históricos inegáveis.
O papa Urbano II, que inspirou a primeira
Cruzada em 1096, chamou os judeus de “uma raça
amaldiçoada, totalmente afastada de Deus”. Instou
os cruzados a que “começando na estrada do Santo
Sepulcro limpem a terra daquela raça maligna e os
sujeitem a vocês”. A oferta de perdão pleno dos
pecados, feita por Urbano II aos participantes da
Cruzada atraiu multidões de voluntários que, sob a
bandeira do Cristianismo, massacraram aos milhares
a raça a que Jesus pertencia, os judeus, por todo o
caminho que leva até Jerusalém. O líder da Cruzada,
Godofredo de Bouillon, jurou vingar o sangue de
Jesus e prometeu que não deixaria vivo nenhum
judeu sequer. Ao tomar a Cidade de Davi, os
cruzados perseguiram os judeus até uma sinagoga e
atearam fogo nela.
Em 1205, o papa Inocêncio III disse que os
judeus “por sua própria culpa, estão condenados à
eterna servidão”. Em 1311, o Concílio de Viena
proibiu qualquer relacionamento entre cristãos e
judeus. O Concílio de Zamora decidiu, em 1434,
que os judeus deveriam ser mantidos em sujeição
rigorosa, e o Concílio da Basiléia confinou os judeus
nos guetos e os forçou a usar um distintivo que os
diferenciava.
Já em 1555, o papa Paulo IV reduziu os judeus
a escravos e mercadores de trapos, e o casamento
entre um católico e um judeu era punido com a
morte. Em cada cidade era permitida apenas uma
sinagoga, as demais eram destruídas; de cada oito
existentes em Roma, sete tiveram esse fim.
Sucessivos papas trataram os judeus como leprosos
sem direitos, entre eles Pio VII, Leão XII, Pio VIII e
Gregório XVI. Falando para a cúria romana em
1873, o papa Pio IX chamou todos os judeus de
“homens ávidos por dinheiro, inimigos de Cristo e
do cristianismo”. O jornal jesuíta Civilta Cattolica
desde 1882 alegava que o judaísmo exigia que se
crucificassem crianças cristãs e que seu sangue era
usado para certas cerimônias judaicas.
Theodor Herzl relata em seus diários que em
1904, quando pediu a Pio X que apoiasse o
movimento sionista, o papa se recusou dizendo:
“Não podemos impedir que os judeus vão para
Jerusalém, mas jamais poderíamos apoiar esse
propósito. Como cabeça da Igreja Católica, não
posso reconhecer que haja um povo judeu... se
vierem para a Palestina, estaremos prontos com
igrejas e padres para batizá-los”. O papa se
posicionou ao lado dos inimigos de Deus ao se
recusar a sancionar o que Deus prometeu repetidas
vezes na Bíblia!
Em 1919, o cardeal Pietro Gaspari, secretário
de Estado do Vaticano, escreveu que “o perigo que
mais nos assusta é a criação de um Estado judeu na
Palestina”. Em centenas de profecias do Antigo
Testamento, Deus prometeu levar o Seu povo
escolhido de volta à terra que Ele lhes deu. Como
pode o cumprimento das promessas solenes de Deus
receber oposição do catolicismo romano? Por que
ele considera isso algo assustador? Mesmo assim, a
oposição aos judeus de todo mundo e à restauração
do Estado judeu em Israel tem sido o alvo
perseguido constantemente pelo catolicismo através
de toda a História. Nenhuma prova adicional é
necessária para revelar a natureza antiDeus e
antiCristo desse falso sistema religioso.
Durante séculos o anti-semitismo foi parte
integrante do catolicismo romano. Uma boa mostra
de seu anti-semitismo pode ser encontrada no
dogma católico mantido até hoje que afirma serem
os católicos e não os judeus o povo escolhido de
Deus. Um decreto do Vaticano datado de 1928
refere-se aos judeus como “o povo outrora escolhido
por Deus”. Também é de conhecimento público que
Hitler não poderia ter criado o ódio nacional aos
judeus na Alemanha, que resultou no Holocausto,
sem os séculos de anti-semitismo inspirado pela
Igreja Católica.
Em 26 de abril de 1933, o Führer lembrou aos
representantes do Vaticano, o bispo Berning e o
monsenhor Steinman, que durante 1.500 anos sua
igreja tratou os judeus como parasitas que deveriam
ser mortos e que ele tencionava achar uma “solução
final para o problema judeu”.
Antes de se tornar o papa Pio XII, o cardeal
Eugenio Pacelli, então núncio papal na Alemanha,
havia doado dinheiro do Vaticano para ajudar Hitler
a iniciar o Partido Nazista. A concordata do
Vaticano de 1933, que Pacelli negociou com Hitler,
deu aos nazistas uma certa legitimidade e, nas
palavras do Führer, foi uma grande ajuda na “luta
contra os judeus de todo o mundo”. Ao se tornar o
novo papa, Pacelli mandou uma mensagem ao
Führer garantindo-lhe o apoio do Vaticano. Ele
declarou: “Ao ilustre senhor Adolf Hitler, Führer e
chanceler do reino germânico! Lembramos com
muito prazer os anos que passamos na Alemanha
como núncio apostólico, quando fizemos tudo o que
estava a nosso alcance para estabelecer relações
amistosas entre Igreja e Estado. Agora... quanto
mais ardentemente oramos por alcançar esse alvo...”
Isso ocorreu em 1939, e os abusos de Hitler e o
que ele planejava para os judeus já havia sido
amplamente exposto ao mundo. Em janeiro daquele
mesmo ano, Hitler alertava que a iminente guerra
iria “resultar... no extermínio da raça judaica”. Em
22 de junho de 1943, quando a fumaça dos judeus
incinerados se espalhava por toda Europa, Pio XII
mais uma vez reiterou sua contínua oposição às
promessas de Deus para Seu povo escolhido. Em
uma carta incisiva endereçada ao presidente
americano Roosevelt, o papa rejeitou fazer da Terra
Prometida de Israel (que ele chamava de Palestina) o
lar dos judeus:
É verdade que um dia a Palestina foi habitada pela
raça hebraica, mas não existe axioma* histórico que
justifique a necessidade de um povo retornar a um
país que deixou dezenove séculos antes. Se um “lar
judeu” é desejado, não será difícil encontrar um
território mais apropriado que a Palestina. Se a
população judaica crescer na região, novos e graves
problemas surgirão.

Realmente, não existe axioma histórico. Mas o


que isso tem a ver com as promessas de Deus em
literalmente centenas de profecias bíblicas? Pio XII
jamais falou publicamente contra o Holocausto nem
tentou dissuadir particularmente a Hitler de seu
propósito de aniquilar os judeus. Os arquivos
nazistas não contêm cartas do papa a Hitler falando
contra o Holocausto ou apoiando os judeus. Por
outro lado, os arquivos americanos apresentam
provas de que Pio XII estava firmemente convicto e
tomou tempo para expressar ele mesmo ao
presidente Roosevelt sua oposição a uma volta dos
judeus à terra que Deus havia lhes concedido como
herança para sempre.
Em 1947, as Nações Unidas, atacadas por uma
rara demonstração de consciência por causa do
Holocausto, dividiram a “Palestina”, entregando
18% para os judeus e 82% para os árabes. O
Vaticano usou sua influência para insistir que a
Resolução 181 das Nações Unidas, concedendo aos
judeus essa ínfima parte da terra que Deus havia
lhes prometido, incluísse a decisão de que Jerusalém
deveria continuar sendo “uma cidade internacional”.
Ele não queria que ela ficasse sob o domínio de
Israel, mesmo que tenha sido sua capital desde que
foi fundada por Davi há mais de 3.000 anos.
Mais uma vez ficamos surpreendidos por ver
que a suposta igreja verdadeira, que afirma
representar a Deus e a Cristo, opõe-se tão
veementemente aos judeus e se assusta com a
perspectiva de ver Deus cumprir Suas promessas de
levar Seu povo escolhido de volta para a Terra
Prometida. É igualmente surpreendente que depois
de uma longa história de oposições, o papa João
Paulo II resolveu fazer de conta que a Igreja
Católica Romana é amiga de Israel. Até mesmo as
palavras do papa quando esteve em Israel
corroboram essa ficção.
O Concílio Vaticano II, realizado em 1965,
reafirmou as declarações feitas durante séculos: os
católicos romanos substituíram os judeus como o
povo escolhido de Deus. O documento final mostra
isso claramente ao afirmar: “a Igreja é o novo povo
de Deus...”
A Roma Católica chama a si mesma de Santa
Cidade, a Cidade de Deus, a Cidade Eterna – títulos
que Deus concedeu a Jerusalém. Na verdade, foi
somente em 1994, longos 46 anos após o
surgimento da nação de Israel e 16 anos depois do
início do pontificado de João Paulo II, que o
Vaticano, depois de ter se aliado constantemente aos
árabes contra Israel, finalmente reconheceu com
relutância a existência do Estado judeu.
Durante sua visita a Israel, o papa voou de
helicóptero de Jerusalém para Belém. Yasser Arafat
o recepcionou em seu palácio presidencial e
entusiasticamente cumprimentou seu amigo, o sumo
pontífice, devolvendo a calorosa recepção que
sempre recebeu do Vaticano nas muitas vezes em
que visitou Roma. Esses encontros cordiais
começaram quando Arafat era conhecido em todo o
mundo como um dos piores terroristas e genocidas
da História. Ao invés de condenar Arafat por sua
paixão declarada e insistente por aniquilar Israel e
por suas crenças islâmicas e anticristãs, o papa
demonstrou ser seu grande amigo e aliado.
A viagem de João Paulo II a Belém foi uma
resposta aos convites de Arafat para que o papa se
juntasse a ele para celebrar “nosso Jesus Cristo”.
Nosso? Arafat disse que Jesus era um palestino que
lutava pela liberdade de seu povo contra Israel, e o
papa sorriu e o abençoou!
Ao visitar o campo de refugiados de Dheisheh,
o papa “parou em uma sala de aula, feita de blocos
de cimento, para fazer seus comentários sobre as
condições “degradantes nas quais os refugiados
estão vivendo há mais de meio século”. O pontífice
disse: “Apenas um comprometimento por parte dos
líderes do Oriente Médio, e da comunidade
internacional em geral, pode resolver as causas da
situação atual”. O papa “destacou de modo especial
[para elogiá-las] as organizações católicas e as
agências de Ajuda Humanitária e Trabalho da ONU
para os refugiados palestinos, que ajudam a
administrar dezenas de campos...” Não houve
reprovação às nações árabes que, mesmo com seus
bilhões de petrodólares, mantiveram os 350.000
refugiados originais em campos empobrecidos (onde
uma alta taxa de natalidade multiplicou o seu
número para a casa dos milhões). Também não
questionou como foi possível a pequena e
empobrecida nação recém-nascida de Israel ter sido
capaz de absorver rapidamente mais de 800.000
refugiados vindos de Estados árabes, onde estavam
sendo perseguidos desde o surgimento do islamismo.
Esses refugiados genuínos deixaram tudo para trás
para alcançar um abrigo seguro, algo que antes
nunca havia existido para eles.
Certamente o papa não podia desconhecer que
os próprios árabes criaram os refugiados palestinos,
já que rejeitaram a partilha da Palestina feita pela
ONU em 1947 e decidiram que os judeus não
teriam porção alguma daquela terra. Israel havia se
contentado com as terras que recebera e apenas
queria viver em paz. O novo Estado de Israel foi
imediatamente atacado com força devastadora pelos
exércitos de seis nações árabes. Nos dias que
antecederam o ataque, o Alto Comando Árabe, dia e
noite, enviava mensagens pelo rádio para que todos
os árabes saíssem daquela região enquanto os
exércitos tentariam empurrar os judeus para o mar
Mediterrâneo.
Para a comunidade internacional e a
administração das Nações Unidas dos campos de
refugiados não é segredo que Israel teria sido capaz
de resolver os problemas dos refugiados que
estavam sob seu controle, mas os árabes e a ONU
não o permitiram. Como resultado da Guerra dos
Seis Dias de 1967, mais de um milhão de palestinos
dos campos de refugiados passaram para o controle
israelense. Israel ofereceu a eles terra, eletricidade,
instalações sanitárias, ruas asfaltadas e escolas e
construiu nove conjuntos residenciais que podiam
abrigar 10.000 famílias. As nações árabes se
opuseram à ajuda proposta aos refugiados. As
Nações Unidas anualmente adotam resoluções
absurdas como estas, que traem sua declaração
hipócrita e dúbia:
A Assembléia-Geral... ordena que Israel desista de...
reassentar os refugiados palestinos na Faixa de Gaza...
A Assembléia-Geral... conclama mais uma vez Israel...
que se abstenha de qualquer ação que leve ao...
reassentamento dos refugiados palestinos na Margem
Ocidental do Jordão [Cisjordânia]...
João Paulo II seguiu um roteiro bastante cheio,
viajando por todo Israel durante vários dias. Em 24
de março celebrou uma missa numa colina em frente
ao Mar da Galiléia. Numa demonstração da imensa
popularidade do papa, havia mais de 100.000 jovens
presentes, provavelmente a maior reunião desse tipo
já ocorrida na história de Israel. A multidão era
formada de peregrinos vindos de todo o mundo:
cerca de 17.000 da Itália, 9.000 da Espanha, 10.000
dos Estados Unidos, 1.000 da Ásia e muitos outros,
tanto de Israel quanto de outros países árabes
daquela região. Em lugares de grande concentração
de muçulmanos, como em Nazaré, João Paulo II
andou em seu famoso papamóvel cercado por um
forte esquema de segurança. Naquele mesmo lugar,
em 25 de março, ele celebrou uma missa na basílica
católica.
No mesmo dia, o pontífice de Roma voltou
para Jerusalém para um encontro ecumênico com
líderes religiosos e foi recepcionado pelo patriarca
de Jerusalém na Igreja Ortodoxa Grega. Recebeu as
boas-vindas de Diodorus I e foi conduzido até a
“sala do trono” do patriarca ortodoxo, onde pôde
fazer outro forte apelo ecumênico para os líderes de
várias ramificações de denominações tradicionais do
cristianismo, declarando que “é essencial superar a
impressão escandalosa causada por nossas
dissensões e por nossas controvérsias”. Já foi
deixado claro repetidas vezes que a busca da
“unidade” não significará qualquer concessão da
parte de Roma. Seus dogmas não podem ser
revisados; todos devem reconhecer a soberania do
papa. Unidade, para eles, significa unir-se a Roma.
As declarações infalíveis de seus papas e os
pronunciamentos dogmáticos de seus concílios não
permitiriam o contrário.
Em 26 de março, seu último dia em Jerusalém,
o papa se encontrou com os principais líderes
muçulmanos da cidade. Ele teve conversas com o
xeque Idrimah Sabri na Mesquita de Al Aqsa,
localizada no Monte do Templo, e depois visitou o
Muro das Lamentações. Lá ele orou em silêncio e
inseriu numa das fendas entre as pedras um pedaço
de papel contendo a mesma oração que ele havia
recitado na Basílica de São Pedro, em Roma,
durante a cerimônia do “dia do perdão” – uma
oração na qual pedia perdão a Deus pelos pecados
contra os judeus, que não foram cometidos pela
Igreja Católica e pelos papas e bispos anteriores,
mas pelos “cristãos”. Nenhuma obra ou pessoa foi
mencionada em específico. Porém Deus sabe o mal
que cada pessoa já cometeu e Ele julgará a cada um
com justiça no Último Dia.
APÊNDICE I

Declaração Conjunta de
Luteranos e Católicos
No dia 31 de outubro de 1999, em Augsburgo,
na Alemanha, representantes da Federação Luterana
Mundial (FLM) e da Igreja Católica Romana
assinaram uma Declaração Conjunta Sobre a
Justificação (DCJ), neutralizando suas antigas
diferenças. Manchetes como a “Declaração
Conjunta Termina Virtualmente com o Argumento
da Reforma” surgiram no mundo todo.
Aparentemente Lutero fora induzido ao erro ao
pensar que havia descoberto a “justificação pela fé”,
quando, na verdade, a Igreja Católica sempre crera
nela. A Reforma teria sido uma bobagem gerada por
um mal-entendido semântico. Com a declaração, as
diferenças entre católicos e luteranos foram postas
de lado. A paz e a união foram finalmente
restauradas.
A Declaração Conjunta foi assinada em 31 de
outubro, no mesmo dia em que Martim Lutero fixou
publicamente suas teses na porta da igreja do castelo
de Wittemberg, e isso não foi mera coincidência.
Também não foi por acaso que o documento foi
assinado no mesmo local onde (na ausência de
Lutero, que não ousou aparecer já que temia pela
sua vida) a Confissão de Augsburgo (escrita
juntamente por Melancton e Lutero) foi lida em 25
de junho de 1530, diante de 200 dignitários da
Igreja e do Estado.
Condenada por Roma naquela época (como
tem sido desde então), a Confissão serviu como o
fundamento do luteranismo por 469 anos. Mas
aparentemente, ao menos para a Federação Luterana
Mundial, isso deixou de ser verdade. Vários líderes
da Igreja Luterana se aliaram a Roma, traindo as
mesmas verdades pelas quais Lutero tanto sofreu.
Enfim Roma teve a sua vingança.
Num conselho prévio de 49 membros da
Federação Luterana Mundial, o voto unânime foi
favorável à aceitação da Declaração Conjunta. A
Igreja Evangélica Luterana na América, presidida
pelo bispo H. George Anderson, (vice-presidente da
Federação Luterana Mundial) liderou o conselho
durante a execução da música “Agradeçamos Todos
ao Nosso Deus”. O arcebispo sueco K.G. Hammar
chamou aquele de “um grande dia para o mundo
luterano”. De fato, o que poderia ser maior do que
renunciar à Reforma e desacreditar Lutero?
A Declaração Conjunta de Justificação foi fruto
de 30 anos de diálogo entre teólogos luteranos e
católicos. Se a justificação pela fé em Cristo fosse
algo tão complicado, quem poderia ser salvo?
Quando o carcereiro de Filipos gritou: “Senhores,
que devo fazer para que seja salvo?”, Paulo não
respondeu: “Você pode esperar 30 anos para que eu
lhe responda?”. Ele disse apenas: “Crê no Senhor
Jesus e serás salvo” (Atos 16.30-31). O apóstolo
não mencionou uma palavra sequer sobre as muitas
e complexas regras e rituais do catolicismo que
acabaram se tornando essenciais à salvação.
Ao assinarem a Declaração Conjunta, os
luteranos se renderam mas os católicos não
mudaram suas convicções. O Vaticano recusou-se a
anular qualquer um dos 100 anátemas (que ainda
têm efeito), emitidos contra todos aqueles que
proclamam a justificação exclusivamente pela fé em
Cristo sem os sacramentos da Igreja Católica
Romana. Contudo, tanto protestantes como
católicos foram levados a crer que Lutero não
entendeu direito o que é o verdadeiro catolicismo, e
agora os dois lados concordam sobre o ponto
crucial, que é a justificação apenas pela fé.
Na verdade, Martim Lutero não foi o único a
ter um entendimento equivocado do catolicismo, se
é que esse era o problema. Muitos dos
reformadores, e seus contemporâneos como
Calvino, Zwínglio, Denck, Hess, Von Amsdorf,
Zutphen, Propst, Esch, Voes e muitos outros,
também conheciam muito bem o catolicismo e
sabiam contra o que eles estavam protestando e o
porquê. Imaginar outra coisa é crer numa mentira.
Além disso, durante mais de mil anos antes de
Lutero, a Europa presenciou perseguições,
execuções pelo fogo e por afogamento de cristãos
evangélicos, que nunca haviam sido católicos e
tampouco eram chamados de “protestantes”. Apenas
posteriormente esse termo seria usado para designar
aqueles que eram excomungados da Igreja Católica
por protestar contra as suas maldades.
O movimento entre sacerdotes e monges, que
clamavam por um retorno à Bíblia, teve início
muitos séculos antes da Reforma. O movimento
reformador dentro da Igreja Católica pode ser
traçado até Prisciliano, bispo de Ávila. Falsamente
acusado de heresia, bruxaria e imoralidade por um
Sínodo em Bordeaux, França, em 384 (sete de seus
escritos que refutam tais acusações foram
recentemente descobertos na biblioteca da
Universidade de Würzburg, na Alemanha),
Prisciliano e outros seis foram degolados em Trier,
em 385. Muitos outros martírios parecidos
ocorreram nos séculos seguintes.
Dando um pulo na História até o final do
século XIV, vemos John Wycliffe, “a estrela d’alva
da Reforma”, defendendo a autoridade das
Escrituras acima de tudo, traduzindo-as e
publicando-as em inglês (quase tão rápido quanto os
católicos podiam queimá-las). Ele também pregou e
escreveu contra os males dos papas e dos dogmas
católicos, especialmente a transubstanciação. John
Huss, fervoroso padre católico e reitor da
Universidade de Praga, foi influenciado por
Wycliffe. Excomungado em 1410, Huss foi
queimado na estaca como “herege” em 1415, por
convocar uma igreja corrupta à santidade e à
autoridade da Palavra de Deus. Já citamos a carta
escrita em 1429 pelo papa Martinho V, ordenando
ao rei da Polônia que exterminasse os hussitas – 100
anos antes da Reforma protestante.
Esses pré-reformadores prepararam o caminho
para Martim Lutero. O próprio Lutero disse: “não
somos os primeiros a declarar que o papado é o
reinado do Anticristo, visto que durante anos antes
de nós, tantos e tão grandes homens...
encarregaram-se de expressar tão claramente a
mesma coisa...” Por exemplo, num concílio plenário
realizado em Rheims no século X, o bispo de
Orleans chamou o papa de Anticristo. No século XI,
Roma foi denunciada por Berenger de Tours como
sendo a “Sé de Satanás”. Em 1100, os valdenses
identificaram o papa com o Anticristo, num tratado
intitulado “A Nobre Lição”. Uma conferência
albigense realizada em Montreal em 1206 chamou o
Vaticano de a mulher “embriagada com o sangue
dos mártires”, o que ela continuamente tem provado
ser.
Provocado pela licenciosidade do papa e do
clero por ocasião de sua visita a Roma e pela venda
de indulgências como passagens para o céu
(financiando a construção da basílica de São Pedro),
no dia 31 de outubro de 1517 Lutero pregou no
portão da igreja do castelo de Wittenberg o
documento intitulado Debate para o esclarecimento
do valor das indulgências (que ficou conhecido
como as Noventa e Cinco Teses). Cópias traduzidas
do original em latim foram amplamente distribuídas,
desencadeando por toda a Europa um debate
acalorado sobre a venda do perdão dos pecados.
No dia 12 de outubro de 1518, Lutero foi
preso e convocado a ir até Roma, por ordem do
papa Leão X. Foi conduzido até Augsburgo para ser
julgado pelo cardeal Caetano. Foi-lhe recusado um
tribunal imparcial, e assim Lutero fugiu durante a
noite para salvar sua vida. No dia 3 janeiro de 1521,
uma bula formal foi emitida pelo papa condenando
Lutero ao inferno se ele não se retratasse.
Convocado pelo imperador, que garantia sua
segurança, Lutero compareceu diante da Dieta
[Tribunal] Imperial de Worms em 17 de abril de
1521. Instado a retratar-se de seus escritos, Lutero
respondeu: “Estou submisso às Escrituras que citei e
minha consciência está cativa à Palavra de Deus.
Não posso e não irei me retratar de coisa alguma...
Aqui estou; que Deus me ajude!”
Considerado fora-da-lei por um édito papal,
Lutero fugiu novamente e foi “raptado” no caminho
de volta a Wittenberg por amigos que acharam
seguro escondê-lo no castelo de Wartburg. Daquele
lugar ele começou a espalhar mais “heresias” através
de escritos que abalaram ainda mais toda a Europa.
A determinação de Roma de eliminar a heresia
luterana, conforme expressa na Segunda Dieta de
Speyer em março de 1529, levou uma porção de
príncipes independentes a garantirem o direito de
viver conforme a Bíblia. Eles expressaram essa
firme resolução no famoso “Protesto” de 19 de abril
de 1529, e foi desse documento que se originou a
palavra “protestante”.
A Dieta Imperial foi realizada em Augsburgo
visando fazer um exame completo das heresias
protestantes. Naquela ocasião a Declaração foi lida
pela primeira vez. Seu texto delineava as claras
diferenças entre o luteranismo e o catolicismo.
Particularmente o artigo IV declarava que
“...recebemos remissão do pecado e nos tornamos
justos diante de Deus pela graça, por causa de
Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo
padeceu por nós e que por sua causa os pecados nos
são perdoados...”. O artigo XIII declarava que os
sacramentos foram instituídos a fim de “serem sinais
e testemunhos” e condenava aqueles que “ensinam
que os sacramentos justificam pelo ato exterior em
si, sem a fé” (acréscimo no texto alemão da edição
príncipe de Melanchthon). O artigo XV instava “que
todas as ordenanças e tradições feitas pelo homem
com o propósito de por elas reconciliar-se a Deus e
merecer graça são contrárias ao evangelho e à
doutrina da fé em Cristo. Razão por que votos
monásticos e outras tradições concernentes a
distinção de alimentos, dias, etc. pelas quais se pensa
merecer graça e satisfazer por pecados, são inúteis e
contrários ao evangelho...”.
Como ficariam chocados os reformadores se
soubessem que, na mesma cidade de Augsburgo, os
luteranos assinaram um novo documento
proclamando sua concordância com a Igreja
Católica Romana no tocante à justificação. Isso é
ainda mais chocante tendo em vista que o
catolicismo continua basicamente o mesmo desde os
tempos de Lutero. Ainda assim, depois de ter
assinado a DCJ, a Igreja Católica continua a ensinar
e praticar as mesmas coisas que a Confissão de
Augsburgo rejeitava.
É inegável que a crença e a prática de um
bilhão de católicos romanos espalhados ao redor do
mundo (ignorados pela DCJ) permanecem
exatamente as mesmas de sempre. O fato é que a
linguagem cuidadosa, complexa e teológica da
Declaração Conjunta Sobre a Justificação não
significa coisa alguma. Os católicos continuam se
flagelando e oferecendo boas obras e penitências em
troca da salvação. Eles ainda “rezam” a Maria para
serem salvos. Em santuários marianos ao redor do
mundo, continuamos encontrando católicos andando
sobre seus joelhos machucados e ensangüentados
para alcançarem a graça de Deus. Não estamos na
Idade Média – essa é a “salvação” católica atual,
praticada mundialmente.
Os católicos continuam acreditando que os
“méritos e graças de Cristo ganhos na cruz” podem
ser recebidos apenas em pequenas porções, que
nunca salvam totalmente e que só podem ser
conseguidas através de Maria e dos sacramentos e
dispensações da Igreja. Eles ainda crêem, e a sua
igreja continua insistindo, que a esses “méritos e
graças de Cristo” foram acrescentados os méritos
obtidos por Maria e pelos santos através das suas
orações e boas obras. Tudo isso junto representa o
“tesouro” que a Igreja possui e do qual ela dispensa
a salvação em “prestações”, juntamente com as
indulgências.
Até hoje usam escapulários e medalhas para
abrir os portões do céu e confiam na Santa Madre
Igreja para oferecer missas após sua morte, a fim de
livrá-los do “purgatório”. Os dogmas oficiais da
Igreja Católica afirmam ainda que Cristo está sendo
perpetuamente imolado como sacrifício em seus
altares, negando assim as muitas passagens das
Escrituras que atestam o fato de Jesus ter morrido
na cruz de uma vez por todas. Eles continuam
rezando a “santos” como o Padre Pio, que eles
acreditam ter sofrido para pagar os pecados alheios,
redimindo assim multidões através do estigma que
suportou durante 40 anos. De fato, centenas de
milhares de fiéis lotaram a Praça de São Pedro em 2
de maio de 1999, quando João Paulo II beatificou o
Padre Pio tornando-o “santo”. Esse é o mesmo
catolicismo que tem sido praticado durante 1500
anos, sem sofrer mudança alguma com a Declaração
Conjunta de Evangélicos e Católicos Unidos (ECU,
de 1994) ou a DCJ (1999). Querendo ou não, os
evangélicos que assinaram esse documento estão
endossando essas práticas pagãs e encorajando um
bilhão de católicos a se apegarem a uma falsa
esperança.
Até mesmo a prática de oferecer indulgências
(que abriu os olhos de Lutero para a maldade do
evangelho de Roma), que ele denunciou, e contra a
qual lutou tão diligentemente, continua sendo parte
vital e oficial do catolicismo. Mesmo assim, tal fato
é estranhamente ignorado pelos evangélicos que
apóiam Roma e aceitam os católicos como “irmãos e
irmãs em Cristo”. Enquanto as negociações entre
luteranos e católicos estavam sendo finalizadas, o
papa prometia indulgências “especiais do Jubileu”
para o ano 2000 e continuou fazendo
pronunciamentos dogmáticos que apoiavam essa
terrível heresia. Por exemplo, durante a audiência-
geral do Vaticano, no dia 4 de agosto de 1999, o
papa explicou novamente: “não podemos nos
aproximar de Deus [isto é, entrar no céu] sem sofrer
uma espécie de purificação, [através do sofrimento
pessoal de alguém, acrescentando algo ao que Cristo
sofreu na cruz]. Todo o resquício de ligação com o
mal deve ser eliminado, cada imperfeição da alma,
corrigida... esse é precisamente o significado do
ensino da Igreja sobre o purgatório”. Os protestantes
que assinaram a ECU e a DCJ foram feitos de
bobos.
Na véspera do Natal de 1999, João Paulo II
abriu uma “porta santa” na Basílica de São Pedro (e
subseqüentemente três outras em Roma), por onde
os peregrinos vindos de todo o mundo podiam
passar para receberem o perdão de seus pecados. A
Igreja se vangloria de que essa prática foi iniciada
em 1300 pelo papa Bonifácio VIII. Em 1302, na
“Unam Sanctam”, uma bula infalível que ainda está
em vigor, Bonifácio tornou a obediência absoluta ao
papa uma condição para a salvação. Sobre isso a
DCJ e a ECU também estão cegas.
Como já vimos, Bonifácio era tão mau que
Dante o sepultou nas maiores profundezas do
inferno. Ele tinha simultaneamente uma mãe e sua
filha como suas amantes. Assassinando 6.000
habitantes, ele destruiu completamente a bela cidade
de Palestrina, inclusive sua arte de valor incalculável
e sua estrutura histórica, datada da época de Júlio
César, reduzindo tudo a um campo arado onde
mandou espalhar sal. Por quê? Simplesmente
porque a família Colona, que governava Palestrina,
havia se tornado inimiga do papa, e este ofereceu
indulgências (sim, indulgências) a todos que
ajudaram a destruí-la. João Paulo II certamente
sabia de tudo isso; contudo, ele e sua Igreja traçaram
sua suposta “sucessão apostólica” passando por
papas monstruosos, dos quais Bonifácio certamente
não foi o pior.
Parece mais irônico ainda que, mesmo que a
Reforma tenha começado por causa das
indulgências, e que os católicos continuem a
promover as indulgências e a anatemizar aqueles que
não as aceitam, o catolicismo agora é reconhecido,
não só pelos luteranos liberais, mas também por
outros líderes evangélicos, como se Roma estivesse
pregando o verdadeiro Evangelho da salvação pela
graça, através da fé na obra consumada por Cristo.
O tratado que Lutero pregou em Wittenberg em
1517, popularmente conhecido como as “Noventa e
Cinco Teses”, mostra que naquela época ele ainda
estava se debatendo com o assunto e ainda não
havia rejeitado por completo a falsa doutrina do
purgatório. Nas teses ele denunciava as indulgências
sem usar termos confusos como a Igreja de Roma
continua fazendo. Entre as 95 teses estavam as
seguintes:
21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências
que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e
salva pelas indulgências do papa.
24. Por isso, obrigatoriamente a maior parte do povo
está sendo ludibriada por essa magnífica e indistinta
promessa de absolvição da pena.
37. Qualquer cristão verdadeiro, seja vivo, seja morto,
tem participação em todas as bênçãos de Cristo e da
Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem carta de
indulgência.
45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um
carente e o negligencia para gastar com indulgências
obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira
de Deus.
52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas
de indulgências, mesmo que o comissário ou até
mesmo o próprio papa dessem sua alma como
garantia pelas mesmas.
62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo
Evangelho da glória e da graça de Deus.
76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências
papais não podem anular sequer o menor dos pecados
veniais no que se refere à sua culpa.
82. Por exemplo: por que o papa não desocupa o
purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema
necessidade das almas – o que seria a mais justa de
todas as causas –, se redime um número infinito de
almas por causa do funestíssimo dinheiro para a
construção da basílica - que é uma causa tão
insignificante?
83. Do mesmo modo: por que mantém as exéquias e
os aniversários dos falecidos e não restitui ou permite
que se recebam de volta as doações efetuadas em
favor deles, visto que já não é justo orar pelos
redimidos?
90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos
leigos somente pela força, sem refutá-los
apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa
à zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.

Como já vimos na Bíblia, as doutrinas do


purgatório e das indulgências são uma negação da
eficácia total do sacrifício de Cristo na cruz e
também negam as palavras ditas por Cristo, que
exclamou triunfante a todo o mundo: “Está
consumado!” (João 19.30). Sabemos que o perdão
é pela fé no sacrifício completo de Jesus. Porém no
catolicismo romano, o perdão de pecados não é
recebido apenas através do sacrifício de Cristo, mas
está atrelado às boas obras individuais e aos
sacrifícios ordenados pela Igreja. O papa fez do ano
2000 um Jubileu especial de perdão durante o qual
ele ofereceu indulgências, chegando até a oferecer
indulgências especiais que garantem o perdão de
pecados para aqueles que pararem de fumar por um
dia. A seguir reproduziremos porções da Bula de
Proclamação do Grande Jubileu do Ano 2000:
A entrada no novo milênio encoraja a comunidade
cristã a alargar o seu olhar de fé para horizontes novos
no anúncio do Reino de Deus. Numa ocorrência tão
especial como esta, é forçoso voltar com fidelidade
segura à doutrina [não da Bíblia, mas] do Concílio
Vaticano II... Que o caráter ecumênico do Jubileu seja
um sinal concreto do caminho que, sobretudo nestes
últimos decênios, estão a trilhar os fiéis das diversas
Igrejas e comunidades eclesiásticas. É a escuta do
Espírito que nos deve tornar, a todos, capazes de
chegar a manifestar visivelmente, na plena comunhão,
a graça da filiação divina inaugurada pelo batismo...
Penso naquele ano de 1300, quando o papa Bonifácio
VIII, correspondendo ao desejo de todo o povo de
Roma, deu solene início ao primeiro Jubileu da
história... [que] conferia “abundantes remissões e
indulgências de pecados” a quantos visitassem, na
Cidade Eterna, a basílica de São Pedro. Àquela altura
ele quis conceder “uma indulgência de todos os
pecados, não só mais abundante, mas pleníssima”...
Por ocasião desta grande festa, convidamos
cordialmente a partilharem também da nossa alegria
os adeptos de outras religiões e ainda todos aqueles
que estão longe da fé em Deus. Como irmãos e irmãs
da única família humana, atravessamos juntos o limiar
dum novo milênio...
Estabeleço, portanto, que o Grande Jubileu do Ano
2000 tenha início na noite de Natal de 1999, com a
abertura da porta santa da Basílica de São Pedro do
Vaticano... [e] a abertura da porta santa nas outras
basílicas patriarcais de Roma... Outro sinal peculiar,
bem conhecido dos fiéis, é a indulgência, um dos
elementos constitutivos do evento jubilar... a rendição
consciente e livre ao pecado grave separa o crente da
vida na graça de Deus... É precisamente através do
ministério da sua Igreja que Deus espalha pelo mundo
a sua misericórdia por meio daquele dom precioso que,
segundo antiquíssima designação, se chama
indulgência... Pela indulgência é concedida, ao pecador
arrependido, a remissão da pena temporal devida
pelos seus pecados já perdoados quanto à culpa...
todo o pecado, mesmo venial... tem de ser purificado,
quer nesta vida quer depois da morte, no estado que
se chama purgatório. Essa purificação liberta da
chamada “pena temporal” do pecado... disponho que
todos os fiéis, convenientemente preparados, possam
usufruir abundantemente, ao longo de todo o Jubileu,
do dom da indulgência, segundo as indicações que
acompanham esta bula...
Jamais os povos se cansarão de invocar a Mãe de
misericórdia, e sempre encontrarão refúgio sob a sua
proteção... Queira Ela interceder com particular
intensidade, durante os próximos meses, por esses
peregrinos...
Dado em Roma, junto de São Pedro, no primeiro
Domingo de Advento, dia 29 de novembro do ano do
Senhor de 1998...

[Em seguida são listadas as condições para a


aquisição da Indulgência Jubilar]
Com o presente decreto... expressa na bula de
proclamação... pelo Sumo Pontífice, a Penitenciaria
Apostólica determina a disciplina a observar para a
aquisição da indulgência jubilar... [ela] pode ser
aplicada, à maneira de sufrágio, pelas almas dos
defuntos [no purgatório]... Além disso, ao longo do
ano jubilar permanece válida também a norma
segundo a qual a indulgência plenária pode ser
alcançada apenas uma vez por dia...
Quanto à participação na Eucaristia – necessária para
cada indulgência –, é conveniente que tenha lugar no
mesmo dia em que se cumprem as obras prescritas...
Quanto às obras necessárias, os fiéis poderão ganhar a
indulgência jubilar:
1) Em Roma, se fizerem piedosamente uma
peregrinação a uma das basílicas patriarcais... e lá
participarem devotadamente na santa missa ou noutra
celebração litúrgica... ou numa prática devocional (por
exemplo, a Via Sacra, o terço mariano) ...a invocação
da Bem-aventurada Virgem Maria.
2) Na Terra Santa, se...
3) Nas outras circunscrições eclesiásticas, se realizarem
uma peregrinação sagrada à Igreja Catedral... e lá
permanecerem durante algum tempo em devotas
reflexões...
4) Em qualquer lugar, se forem visitar, durante um
razoável período de tempo, os irmãos que se
encontram em necessidade ou dificuldade...
A indulgência plenária jubilar poderá ser obtida
também por meio de iniciativas que exercitem de
modo concreto e generoso o espírito penitencial, que é
como que a alma do Jubileu. Assim, abster-se pelo
menos durante um dia de consumos supérfluos (por
exemplo, do tabaco, das bebidas alcoólicas,
jejuando...)...
Não há dúvidas de que o catolicismo de hoje,
assim como nos dias de Lutero, nega a salvação
somente pela fé em Cristo e, do mesmo modo, nega
a suficiência de Seu sacrifício feito na cruz pelos
nossos pecados. Esse é o mesmo cristianismo que
era praticado nos dias de Lutero e durante séculos
antes dele. Continua em prática ainda hoje algo que
faz pouco caso dos documentos que os protestantes
e evangélicos enganosamente assinaram em
conjunto com teólogos católicos. Como sempre
ocorreu, o catolicismo romano moderno acrescenta
à fé a necessidade de obras para garantir a entrada
no céu e alega que o perdão dos pecados é
dispensado apenas através da Igreja, de seus
sacerdotes e rituais, e em concordância com os seus
dogmas. Paulo pronunciaria sobre o catolicismo
moderno os mesmos anátemas que ele lançou sobre
os judaizantes (em Gálatas 1). Apenas podemos
concluir: os que alegam que o catolicismo está
pregando o verdadeiro Evangelho não estão
renunciando apenas à Reforma, mas ao próprio
Evangelho.
APÊNDICE J

Pio XII, os Nazistas e os


Judeus
Estas perguntas a respeito do papa Pio XII
foram enviadas a Dave Hunt e respondidas por ele
no boletim mensal The Berean Call.
Pergunta: Senhor Hunt, após ter lido algumas
de suas declarações mordazes contra o papa Pio XII
(tais como “o Vaticano não tem desculpas pela sua
associação com o nazismo ou pelo consistente apoio
dado a Hitler, enquanto se mantinha em total
silêncio sobre a questão dos judeus...”), pensei que
seria de grande valia lhe enviar este editorial da
revista Newsweek [p. 35]. Não sei com que nível de
integridade jornalística você e sua equipe se
satisfazem, mas, apesar disso, suas difamações do
papa e, por conseqüência, de seu antecessor, não
combinam bem com alguém que diz crer no
Evangelho. É irônico que seja preciso uma
declaração pública, feita por um órgão da imprensa
secular – que é muitas vezes anticatólico – para
refutar as tentativas de difamação daqueles que se
declaram cristãos, contra os seus irmãos e irmãs na
fé.
Seria reconfortante crer que os católicos podem
esperar um pedido público de desculpas de sua
parte. Entretanto, sabendo da sua tendência em
deturpar a imagem daqueles a quem se opõe,
incluindo os seus próprios companheiros
protestantes (li o relato de Gary DeMar sobre o
debate que ele teve com o senhor), sei que não
posso esperar muito...
Se eu estiver errado e você decidir corrigir essa
injustiça, com prazer colocarei sua retratação no
quadro de avisos da minha paróquia de Saint
Edward...
P.S.: Alguns meses atrás, eu e meus amigos
católicos assistimos à exibição do DVD A Mulher
Montada na Besta produzido pelo seu ministério,
em uma igreja fundamentalista na cidade de Grand
Rapids... No debate posterior à apresentação...
tivemos a oportunidade de corrigir muitas das
interpretações equivocadas daquele vídeo... No final
da reunião, um dos líderes da congregação
aproximou-se para apertar nossas mãos e nos dizer
que ele tinha chegado à conclusão de que “no final
das contas, os católicos também são cristãos”.
Resposta: Deve ter sido relativamente fácil
“corrigir” as “interpretações equivocadas”, como
você alega, já que naquela exibição não havia
ninguém que pudesse apresentar a extensa
documentação usada para a preparação do DVD A
Mulher Montada na Besta. Se naquela noite eu
estivesse presente, a coisa teria sido diferente. Meus
debates públicos com os principais apologistas
católicos estão disponíveis em gravações e alguns
também em vídeo (em inglês – N.R.). São debates
formais, conduzidos por moderadores e com regras
pré-estabelecidas, durante os quais meus oponentes
tiveram a oportunidade de expor qualquer
“interpretação equivocada” de minha parte. Nós
disponibilizamos essas gravações (consulte o site
www.thebereancall.org, mas, até onde sei, meus
oponentes de debate [católicos] não fazem o mesmo
[por exemplo, meu debate com Karl Keating]).
É muito mais preocupante o fato de você ter
conseguido, como parece, convencer tão facilmente
“um dos líderes da congregação” de que a Reforma
ocorreu por causa de um desentendimento
meramente semântico: que aqueles que morreram
queimados na estaca padeceram em vão porque
tinham a idéia errada de que o catolicismo romano
ensinava um evangelho falso quando, na verdade,
ele era o verdadeiro. E também que as centenas de
missionários evangélicos que têm pregado o
Evangelho em países católicos gastaram seu tempo
inutilmente, e, finalmente, que os milhões de
pessoas que nasceram de novo e abandonaram a
Igreja Católica na verdade já eram salvos mas não
sabiam disso, pois “no final das contas, os católicos
também são cristãos”.
Quanto à sua afirmação de que tenho a
“tendência de deturpar a imagem” daqueles a quem
me oponho, permita-me sugerir que, ao invés de
levar em conta “o relato de Gary DeMar sobre o
debate que ele teve [comigo]”, você assista aos
vídeos, já que afirma estar interessado na verdade.
Meu último debate com DeMar ocorreu cerca de
dois meses atrás. Entretanto, não espere conseguir
uma cópia com Gary, pois ele se recusa a
disponibilizá-las. A rede TBC, por outro lado, ficará
feliz em poder lhe enviar uma cópia, se é que você
realmente quer conhecer os fatos.
Suas acusações de que fui “mordaz” e culpado
de “difamar” e de fazer “tentativas de difamação”
em minhas declarações a respeito do papa Pio XII
refletem bem o tom tendencioso de suas críticas. A
reportagem da Newsweek que você me enviou já
constava em meus volumosos arquivos sobre Pio
XII desde que foi publicada. Ela é mais uma dentre
as recentes tentativas equivocadas de eximir de culpa
esse papa e o Vaticano. Todas elas, assim como esta,
são vergonhosamente mal-elaboradas, porque as
evidências não podem ser apoiadas por
especulações. A reportagem da Newsweek mostra
(como você mencionou) que Pio XII nunca falou
publicamente contra o Holocausto. Ela também cita
um editorial do The New York Times (de 25/12/41)
que relata as manifestações do papa em favor da paz
e contra a guerra. Isso foi corajoso da parte dele?
A reportagem menciona partes da mensagem
de Natal do papa escrita em 1942 e o chama de “a
primeira figura de nível internacional a condenar o
que está se transformando no Holocausto”. Veja
bem a linguagem cuidadosa: “o que está se
transformando no Holocausto” – e não no
Holocausto. Na verdade, a maneira cruel de tratar os
judeus tinha sido uma prática constante durante anos
e o Holocausto estava em pleno andamento. Mesmo
assim, para vergonha do papa, exatamente como já
afirmei e pode ser provado pelos registros históricos,
não havia nenhuma declaração específica na
mensagem de Natal a que se referem os apoiadores
de Pio XII – e nunca houve declaração similar dele
– que mencionasse ou mostrasse indubitavelmente
que ele condenava a deportação e o extermínio de
judeus. Ele estava mais preocupado em satisfazer
Hitler para, desse modo, proteger sua Igreja na
Alemanha e fazer com que esse país fascista fosse
um forte baluarte contra o comunismo do que com a
causa dos judeus.
Ao contrário do elogio ingênuo da revista
Newsweek à mensagem de Natal do papa escrita em
1942, cerca de 56 anos depois, aqueles que
sofreram o inferno criado por Hitler ficaram
amargamente desapontados. Por exemplo, uma carta
que protestava contra o tom ameno da mensagem de
Natal foi escrita ao papa em 2 de janeiro de 1943
por Wladislaw Raczkiewicz, presidente do governo
polonês no exílio, que citaremos em parte:
Santo Padre, neste momento trágico meu povo não
está lutando apenas por suas vidas, mas por tudo o
que lhes é sagrado... imploram que uma voz seja
levantada para mostrar simples e claramente onde
está o mal e que condene aqueles que estão a serviço
do mal... a Sé Apostólica deve romper seu silêncio.[1]

Apesar dos numerosos pedidos feitos por várias


frentes, a Sé Apostólica, que supostamente é a
guardiã da moral, não rompeu seu silêncio infame
diante do pior mal que o mundo já viu.
Para sustentar a maneira branda de retratar Pio
XII, o artigo da revista Newsweek refere-se aos
“onze volumes escritos a respeito dos anos de guerra
que foram publicados pelos arquivos do Vaticano...”
Mas a revista, assim como as publicações oficiais do
Vaticano (La Civilta Católica, de 21/3/98 e
L’Osservatore Romano de 29/4/98), não
mencionam que esses arquivos estão “fechados ao
público e aos historiadores”. Três jesuítas (Ângelo
Martini, Burkhart Schneider e Pierre Blet),
atendendo aos interesses da própria Igreja Católica,
escreveram esses onze volumes, que dificilmente
podem ser considerados uma documentação
completa ou um relato imparcial.
Atrevo-me a usar o termo “cortina de fumaça”
com respeito à recusa contínua do Vaticano em abrir
os arquivos para o público. O livro de Friedlander
cita grandes porções dos arquivos nazistas, que ele
desejava comparar com os registros do Vaticano –
mas não recebeu autorização. Na introdução de seu
livro, Friedlander escreve: “Quando estava
preparando este livro tentei várias vezes obter acesso
aos arquivos do Vaticano, mas as tentativas foram
em vão”.
Por outro lado, os arquivos nazistas sobre esses
anos cruciais foram expostos ao público tanto
quanto os arquivos outrora secretos da OSS (órgão
que antecedeu a CIA) através do Ato de Liberdade
de Informação. Esses registros mostram Pio XII de
uma perspectiva completamente diferente da que foi
usada pela Newsweek e em outras tentativas recentes
de isentá-lo de sua responsabilidade, pois estas
apresentam apenas aquilo que traria benefício para o
Vaticano. Existia um protesto por parte dos católicos
romanos para que o Vaticano refutasse os
argumentos apresentados no livro de Friedlander
logo que este foi publicado – e o Vaticano prometeu
fazer algo a respeito. Mais de trinta anos depois,
finalmente temos uma defesa pública apresentada
nesses onze volumes, mas ninguém tem permissão
para ir pessoalmente aos arquivos e checar o
conteúdo dos livros para verificar se todos os
documentos vieram a público. Portanto, a conclusão
de que o Vaticano esconde muito mais material não
está baseada somente na evidência encontrada em
outros registros, mas em sua recusa em permitir que
historiadores imparciais examinem seus arquivos.
Os esforços feitos para justificar a atitude de
Pio XII afirmam que seu silêncio a respeito da
questão judaica somente ocorreu porque ele temia
que, se reprovasse publicamente o Holocausto, isso
apenas iria enfurecer Hitler e tornar a situação ainda
pior. Essa visão simplista não pode ser sustentada
pela lógica nem pela História. Os fatos mostram que
seu silêncio sobre o Holocausto não salvou ninguém.
É mais racional concluirmos que o silêncio do papa
sobre a questão judaica visava proteger os interesses
da Igreja Católica na Alemanha e que ele cria que a
Alemanha era o único baluarte contra a ameaça do
comunismo que vinha do Leste. Essa perspectiva
pode ser apoiada por muitas evidências. Também se
alega que ninguém, muito menos Hitler, teria dado
ouvidos ao papa. Pelo contrário, os arquivos nazistas
fornecem provas de que Hitler temia o que o papa
poderia dizer no final da guerra, mesmo depois que
as tropas alemãs ocuparam a Itália e cercaram o
Vaticano. Quando Hitler ordenou a deportação e o
extermínio de todos os judeus de Roma e da Itália, o
bispo Hudal, que apoiava abertamente a Hitler,
mandou um telegrama para Berlim onde dizia que
arrancar judeus de dentro dos portões do Vaticano
certamente forçaria o papa a protestar publicamente
contra o nazismo, mesmo que ele não desejasse
fazer isso. Porém, em 28 de outubro de 1943, o
secretário de Estado alemão Ernst von Weizsäcker
foi capaz de avisar Berlim que o papa não lançaria
um protesto mas continuaria fazendo “todo o
possível, até mesmo no tocante a esse assunto
delicado, para não prejudicar o relacionamento entre
o Vaticano e o governo alemão ou as autoridades
alemãs em Roma”.[2]
Além disso, o papa não permaneceu silencioso
apenas em público, mas também manteve um
segredo diplomático. A propaganda dos defensores
do Vaticano dizia que o papa estava em silêncio
publicamente para que pudesse trabalhar mais
efetivamente nos bastidores através de sua
“diplomacia secreta”. Contrariando esse argumento,
não existe evidência alguma nos arquivos nazistas
que mostrem o papa usando os canais diplomáticos
para questionar Hitler seriamente a respeito do
Holocausto, mesmo que esses tenham continuado
abertos durante todo o tempo! Os arquivos nazistas,
que contêm relatos minuciosos de tudo, até mesmo
do número de dentes das vítimas, “não contêm
documento algum que registre uma discussão do
problema judaico entre o papa e um dos
embaixadores do Reich ou entre o secretário de
Estado do Vaticano e os diplomatas alemães”.[3]
Que a ausência de qualquer registro não
ocorreu por causa de uma estratégia ou por ignorar
o problema fica evidenciado pelo fato dos arquivos
nazistas trazerem o registro de três inquirições muito
fracas feitas pelo núncio papal, monsenhor
Orsenigo. Na primeira, apresentada em 15 de
outubro de 1942 a Ernst Woermann, embaixador do
Reich alemão, mostrou timidamente sua
preocupação com certos judeus na França e Lvov e
também em relação ao destino de parentes seus que
foram presos pelos nazistas. De acordo com as
anotações de Woermann a respeito do encontro, a
maneira de fazer as perguntas foi “quase embaraçosa
e não ia direto ao ponto”. No segundo, Orsenigo
encontrou-se com o secretário de Estado Ernst von
Weizsäcker em 6 de novembro do mesmo ano e, de
acordo com suas anotações sobre a reunião, ele
“mencionou casualmente rumores de uma
intensificação das proibições de casamentos mistos
[entre católicos e judeus]”. A terceira ocorreu em
agosto de 1943, quando Orsenigo encontrou-se com
Steengracht, sucessor de Weizsäcker, para pedir sua
apreciação sobre o caso de uma mulher judia de 74
anos que vivia em Amsterdã e pedia permissão para
encontrar-se com seu filho em Londres. Os
apontamentos de Steengracht registram que “o
núncio... comentou imediatamente que esse era um
assunto que realmente estava fora de sua
competência e que, se nada pudesse ser feito a
respeito, ele deveria resignar-se prontamente com o
fato”.[4]
Esses três encontros, dos quais dispomos de
registros, dificilmente poderiam ser caracterizados
como manifestações de grande preocupação ou
pressão do Vaticano quanto à questão judaica!
Lembre-se que em junho de 1943 mais de três
milhões de judeus já haviam sido mortos e as
deportações para os campos de extermínio estavam
ocorrendo continuamente.
Existe uma extensa documentação a respeito da
colaboração e do apoio de Pio XII a Hitler e seu
regime, mas tenho espaço apenas para citar uma
outra fonte: a irmã (e posterior madre-superiora)
Pascalina, uma freira natural da Bavária, de baixa
estatura e muito bonita, que seguidamente era
chamada de “amante de alma” do papa e “a mulher
mais poderosa da história do Vaticano”. Por 40 anos
ela ficou dia e noite ao lado do papa, era sua
parceira de esqui, sua “ajudante, governanta,
confidente, conselheira, uma espécie de “mãe
substituta” e, durante os tempos críticos, a
consciência do papa”.[5]
Ninguém pode negar a total lealdade e devoção
de Madre Pascalina a Pio XII e, portanto, ela é a
única fonte que podemos citar para mostrar a
confirmação de todos os fatos que você possa não
querer aceitar sobre ele – e muitos mais!
Quando ainda era Eugenio Pacelli, o núncio
papal em Munique, a irmã Pascalina testemunhou o
papa entregando a Hitler uma grande quantia em
dinheiro da Igreja para ajudar na fundação do
Partido Nazista.[6] Posteriormente, em 1939, Pacelli
tornou-se o papa Pio XII e Pascalina pediu-lhe
várias vezes que se manifestasse contra Hitler e o
Holocausto, mas sem sucesso. Ela ficou enfurecida
que “o primeiro ato de Pacelli como Pio XII foi
cortejar Hitler... [e] pela “mensagem
condescendente” que o santo padre escreveu ao
Führer alemão... Os extremos para onde o pontífice
e seus auxiliares do clero foram, visando apaziguar o
Führer, eram aterradores para ela”.[7] Pascalina
fazia pessoalmente as anotações enquanto o papa
discutia com os cardeais alemães o conteúdo da
primeira mensagem enviada a Hitler. Com certeza
foi a popularidade de Pacelli junto aos cardeais
alemães, além de seu apoio ao regime nazista, que
mudaram o voto que o tornou o sucessor de Pio XI.
A primeira carta de Pio XII a Hitler começava:
Ao ilustre senhor Adolf Hitler, Führer e chanceler do
reino germânico! Lembramos com muito prazer os
anos que passamos na Alemanha como núncio
apostólico, quando fizemos tudo o que estava a nosso
alcance para estabelecer relações amistosas entre a
Igreja e o Estado. Agora... quanto mais ardentemente
oramos por alcançar esse alvo... (tenhamos em mente
que era 1939 e as maldades de Hitler já eram de
conhecimento geral – N.A.).

De fato, pode-se creditar a Pio XII a salvação


de milhares de judeus em Roma, mas foi Pascalina
que incutiu no papa essa idéia e a pôs em prática da
maneira inteligente e secreta com que foi executada.
Ela era uma freira simples porém determinada e
“arriscou muita coisa pelos judeus... expediu
centenas de carteiras de identidade papais...
permitindo (que judeus) pudessem se fazer passar
por cristãos, passando em segurança pelas fronteiras
nazistas e chegando seguros ao Vaticano”. Hitler
permitiu que o Vaticano, igrejas e propriedades,
inclusive Castelgandolfo, o palácio de verão do
papa, ficassem fora dos limites da inspeção nazista.
Em troca dessa segurança, o papa anunciou ao
mundo que as tropas nazistas conduziram-se
corretamente.
Em 3 de setembro de 1943, Weizsäcker (que
agora era embaixador alemão na Santa Sé) enviou
um memorando de Roma garantindo a Hitler que
“estava crescendo a preocupação no Vaticano
quanto ao destino da Itália e da Alemanha... na visão
do papa, um Reich alemão poderoso é indispensável
para o futuro da Igreja Católica”. Em 24 de
setembro, Weizsäcker, em outro despacho de Roma,
afirma que o sonho persistente do Vaticano era “que
os poderes Ocidentais entendam a tempo onde estão
os seus verdadeiros interesses e se aliem ao esforço
da Alemanha para ajudar a salvar a cultura européia
do bolchevismo”. No mesmo dia, o secretário de
Estado Steengracht, que estava na Alemanha,
escreveu um memorando (preservado nos arquivos
nazistas) onde dizia que o núncio Orsenigo havia
“declarado que... apenas a Alemanha e o Vaticano
estavam em condições de derrubar o perigo
bolchevista...”.
Quando a guerra estava perto de acabar, o papa
suplicou às Forças Aliadas que agissem com
leniência tanto com Hitler quanto com Mussolini.
Ambos foram católicos até morrerem. Não há
desculpas para o fato de Pio XII não ter
excomungado nenhum desses dois mestres do crime
por sua indizível maldade.
Essa questão vai além de Pio XII. Ele
meramente refletia séculos de anti-semitismo por
parte de seus antecessores e da sua igreja,
envolvendo a mais bárbara perseguição e o
assassinato de multidões de judeus. Espero que você
realmente coloque minha resposta no quadro de
avisos de sua igreja, como prometeu.
Pergunta: O senhor tem conhecimento da
carta escrita pelo papa Pio XII em 22 de junho de
1943 e endereçada ao então presidente americano
Franklin Delano Roosevelt recentemente descoberta
nos arquivos do governo dos Estados Unidos? Ela
expressa claramente a oposição do papa quanto aos
judeus estabelecerem seu país na região da Palestina.
Caso conheça o documento, qual é a sua opinião?
Resposta: Sim, a descoberta desse documento,
bem como a revelação de seu conteúdo foram
amplamente divulgadas pela mídia. Ainda assim, não
creio que ele recebeu a atenção que merece.
Durante quarenta anos houve uma controvérsia que
cercava a vida de Pio XII. Ele foi criticado por sua
omissão em falar publicamente contra o Holocausto,
algo que certamente sabia que estava acontecendo.
Os apologistas católicos romanos tentaram explicar
essa questão e alegaram que o papa ajudou a
esconder na Itália muitos judeus que fugiam dos
nazistas. A alegação principal dos apologistas é que,
se o papa viesse a se pronunciar em público sobre o
assunto, isso faria com que Hitler ficasse irritado e
poderia tornar a situação ainda pior, mesmo sendo
difícil imaginar como as coisas poderiam ficar ainda
piores do que já estavam.
Na verdade, foi a irmã Pascalina (a freira que
serviu como governanta do papa e foi sua amiga e
confidente íntima durante muitos anos) que levou ao
papa a idéia de salvar os judeus (conforme expliquei
na resposta anterior). Entretanto, esse fato nunca é
mencionado por aqueles que elogiam o papa por ele
ter salvado os judeus.
Essa carta datada de 22 de junho de 1942 foi
devastadora para os que defendiam o papa.
Reproduziremos em parte o que ela diz:
É verdade que um dia a Palestina foi habitada pela
raça hebraica, mas não existe axioma histórico [e a
Palavra de Deus?] que justifique a necessidade de um
povo retornar a um país que deixou dezenove séculos
antes. Se um “lar judeu” é desejado, não será difícil
encontrar um território mais apropriado que a
Palestina. Se a população judaica crescer na região,
novos e graves problemas surgirão.

A linguagem e a intenção de Pio XII estão


claras. É impressionante que o suposto “vigário de
Cristo”, que afirma ser o representante de Deus na
terra, opôs-se de maneira veemente às centenas de
promessas que Deus fez em Sua Palavra sobre o
retorno dos judeus à terra que Ele havia lhes dado!
O rabino Marvin Hier, deão do Centro Simon
Wiesenthal, assegurou que a carta “significa o
indiciamento de Pio XII, porque basicamente
evidencia que, quando o papa queria expressar um
ponto de vista sobre suas crenças e sentimentos, não
hesitava em dizê-lo claramente. Será que existe
alguma carta parecida dirigida a Adolf Hitler onde
esteja escrito que o Vaticano considerava repugnante
sua política contra os judeus? Em pleno Holocausto,
o papa considerou apropriado opor-se à formação
do Estado de Israel”.
Além disso, temos uma cópia da primeira carta
que Pio XII escreveu a Hitler logo que se tornou o
novo papa (citada na resposta anterior).
Lembre-se, ela foi escrita em 1939 e a maldade
de Hitler já havia sido revelada ao mundo...
Comentando a descoberta dessa carta, o rabino
David Rosen, chefe do escritório da Liga
Antidifamação, afirmou: “Há tempos se conhece a
vergonhosa atitude da Santa Sé naquela época e a
missiva é apenas [mais] uma confirmação do fato”.
Na verdade, estamos lidando com algo além do
anti-semitismo. Nessa carta, o papa se coloca
claramente contra Deus, que repetidas vezes
promete no Antigo Testamento que entregará a terra
de Israel ao Seu povo escolhido para sempre.
Existem muitas profecias que mostram as promessas
de que nos últimos dias Deus traria os judeus que
Ele espalhou pelo mundo de volta à Terra Prometida
e o Messias voltaria para reinar sobre eles (e todo o
mundo) assentado no trono de Davi em Jerusalém.
Isso é algo que os papas (que afirmam ser os
vigários de Cristo) não podem alegar desconhecer.
Eles têm, na verdade, se oposto deliberadamente aos
ensinamentos claros das Escrituras a respeito de
Israel. Portanto, não é surpresa que o catolicismo
romano combata também o ensino bíblico sobre a
salvação.
APÊNDICE K

A Morte de um Papa
A verdadeira avalanche mundial de
manifestações de pesar pela morte do papa João
Paulo II foi um fenômeno sem precedentes. Entre os
enlutados pela perda do papa, estavam desde os seus
mais humildes seguidores até os mais poderosos
líderes políticos e religiosos da atualidade, inclusive
o presidente da França, Jacques Chirac e o primeiro-
ministro britânico Tony Blair. O governador da
Califórnia, Arnold Schwarzenegger, descreveu o
papa como “um farol de virtude, força e bondade”.
O ex-presidente Clinton classificou-o como “um
homem de Deus”, enquanto o ex-presidente Bush
(pai) disse que sua “devoção aos princípios de
liberdade e independência [...] eram uma verdadeira
âncora para as pessoas”.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, elogiou
o “legado espiritual e político” de João Paulo II. O
presidente Bush afirmou que ele foi “um dos
maiores líderes morais da história”. Billy Graham
considerou-o “talvez o mais influente defensor da
moralidade e paz mundial nos últimos cem anos”.
Apesar de tudo isso, o papa chamava Arafat, um
dos piores terroristas e assassinos dos tempos
modernos, de “Sua Excelência”, e nunca o criticou
pelo massacre de centenas de milhares de pessoas
inocentes ao redor do mundo. A “liderança moral”
do papa tampouco se refletia na conduta da maioria
de seus admiradores. O Houston Chronicle
comentou que “os italianos, que ficaram horas na
fila para dizer adeus ao seu Santo Padre, fizeram seu
país alcançar a mais baixa taxa de natalidade do
mundo pelo uso de contraceptivos”. Durante a visita
do sumo pontífice católico à Califórnia em setembro
de 1987, o famoso letreiro sobre a colina de
Hollywood (Bosque de Azevinhos), foi alterado
para Holywood (Bosque Sagrado). Entretanto,
Hollywood nunca perdeu o embalo e continua sendo
tudo, menos sagrada.
Em junho de 2004, George W. Bush foi ao
Vaticano para lembrar o papa João Paulo II que seus
valores morais eram os mesmos e para obter o apoio
dos 65 milhões de católicos americanos nas eleições
que se aproximavam. O presidente da Coréia do Sul,
Roh Moo-Hyun, chamou o papa de “apóstolo da
paz”. A primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen
Clark, ordenou que as bandeiras fossem hasteadas a
meio-pau “por uma das personalidades realmente
influentes do século XX”.
Essa aclamação universal levantou sérias
dúvidas a respeito da afirmação do papa de que era
o “Vigário de Cristo”. Afinal, Cristo foi e ainda é
“desprezado e o mais rejeitado entre os homens”
(Is 53.3). E Ele disse aos Seus discípulos que, se
Lhe fossem fiéis, receberiam o mesmo tipo de
tratamento do mundo: “Se o mundo vos odeia,
sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou
a mim. [...] não é o servo maior do que seu senhor.
Se me perseguiram a mim, também perseguirão a
vós outros (Jo 15.18-20).
João Paulo II sobrepujava a maioria dos
políticos quando o assunto era fazer jogo duplo.
Quando esteve em Los Angeles em 1987, disse ao
rabino emérito Harvey Fields, do Templo de
Wilshire Boulevard, e ao falecido rabino Alfred
Wolf, que todos servem “ao mesmo Deus [...] não
importa qual seja sua religião”. Entretanto, na
América Latina, em fevereiro de 1996, alertou os
católicos contra os protestantes e advertiu os que
tinham deixado a igreja para que retornassem. Em
nome do “ecumenismo”, ele declarou que a unidade
plena não poderia ser alcançada enquanto todas as
religiões não estivessem submissas a Roma!
Em 2000 o papa encontrou-se com o
presidente de Israel, visitou o Muro das
Lamentações – onde colocou sua oração numa
fenda entre as pedras – e garantiu aos israelitas que
“a igreja católica [...] está profundamente triste com
o ódio, os atos de perseguição e as demonstrações
de anti-semitismo [...] perpetrados por cristãos [...]”.
Mas ele se desculpou somente pelo que os “cristãos”
tinham feito, sem jamais admitir a verdade: que foi a
própria igreja e seus papas que instigaram os cristãos
a perseguir os judeus.
Elie Wiesel, um sobrevivente do Holocausto,
disse à CNN que João Paulo II “terá um lugar muito
importante na história judaica [...]”. O então
primeiro-ministro israelense Ariel Sharon (e líderes
judaicos do mundo inteiro) classificaram o papa
como “um homem de paz e amigo de Israel [...]”.
Até mesmo o editor-chefe do U.S. News & World
Report, Mortimer B. Zuckerman, geralmente tão
perspicaz, elogiou o papa por ter “reconhecido o
Estado de Israel”, esquecendo-se do fato de que ele
já era papa havia 16 anos quando tomou essa atitude
em 1994, quarenta e seis anos após o ressurgimento
de Israel como nação – e pouco depois de ter
concedido à OLP um escritório de representação
permanente no Vaticano.
Os líderes muçulmanos também enalteceram o
papa. O imã Yahya Hendi, capelão muçulmano da
Universidade de Georgetown, disse que o islã (que
busca a aniquilação de Israel) tinha perdido um
grande amigo. João Paulo II rejeitava
sistematicamente a soberania de Israel sobre
Jerusalém (como na bula papal do Ano do Jubileu
de 2000, etc.). Ele recebeu Arafat, o pior inimigo de
Israel, com toda a cordialidade por mais de dez
vezes (no Vaticano e no palácio papal de
Castelgandolfo), visitou-o em seu palácio em
Ramallah e tomou o partido de Arafat e da OLP
contra Israel.
É claro que elogiar uma pessoa falecida e
minimizar seus defeitos é algo que geralmente
acontece nos funerais. Mas até mesmo os líderes
evangélicos se juntaram ao coro de “todo o louvor
ao papa”. Os poucos que disseram a verdade foram
duramente criticados. Marty Minto, apresentador de
um programa cristão de entrevistas, foi despedido
pela estação de rádio WORD, de Pittsburgh, uma
afiliada da rede Salem, por causa da resposta que
deu à pergunta de um ouvinte que queria saber se o
papa estava no céu. A verdade é que nem o próprio
papa sabia se iria para o céu ou não; ele igualmente
não podia dar a outros essa garantia – fato realmente
chocante em se tratando do líder da maior igreja do
mundo e de alguém que afirmava ser o vigário de
Cristo na terra!
O cardeal John O’Connor declarou: “O que a
Igreja ensina é que eu não sei [...] qual será o meu
futuro eterno. Posso ter esperança, orar, fazer o
melhor – mas não posso ter certeza. O papa João
Paulo II não tem absoluta certeza de que irá para o
céu; nem a madre Teresa de Calcutá [...]”. O cardeal
John Krol, líder espiritual de mais de um milhão de
católicos da Filadélfia, admitiu que sua maior
preocupação pessoal dizia respeito a “ir para o céu”.
O cardeal Ratzinger (atual papa Bento XVI), que
dirigia a Congregação para a Doutrina da Fé,
guardiã da ortodoxia católica (Santo Ofício da
Inquisição), manifestou a mesma incerteza acerca de
sua própria salvação – e com toda a razão.
Assim como o papa [João Paulo II], a igreja
que ele liderava rejeita firmemente a promessa de
Cristo de dar a “vida eterna” (Jo 3.16) a todo
aquele que crê nEle. Quem deposita sua confiança
em Jesus “passou da morte para a vida” (Jo 5.24)
e “jamais perecer[á]” (Jo 10.28) segundo as
palavras do próprio Mestre. O sacerdócio católico
oferece incontáveis missas a Maria e a seus santos
favoritos (milhares de missas serão rezadas pelo
falecido papa), incentiva peregrinações a vários
santuários e disponibiliza outros meios de obter
indulgências com o propósito de abreviar o
sofrimento no purgatório – um fato que transtornou
Martim Lutero e desencadeou a Reforma.
Num livro considerado muito bom por 250
líderes evangélicos, o papa escreveu: “O Batismo e a
Eucaristia [...] criam no homem a semente da vida
eterna”. Rejeitando a suficiência do sacrifício de
Cristo e Seu brado vitorioso “Está consumado!”
(Jo 19.30), os documentos do Vaticano II começam
assim: “É a liturgia, principalmente no divino
sacrifício da Eucaristia, através da qual a obra da
nossa redenção [ainda] está sendo realizada”. Roma
coloca sob anátema qualquer um que ouse confessar
a certeza de uma salvação consumada, algo que a
Bíblia promete repetidas vezes (1 Jo 5.13).
Antes de morrer, o principal “televangelista”
católico, arcebispo Fulton J. Sheen (que João Paulo
II chamou de “um filho leal da igreja” e que Billy
Graham elogiou como “o maior comunicador” do
século passado), esperava que “a Virgem” o
recebesse no céu devido às mais de 40 peregrinações
que fez a seus santuários em Lourdes e Fátima. O
papa João Paulo II também era totalmente devoto a
Maria, especialmente a “Nossa Senhora de Fátima”,
cuja aparição declarou que “todas as religiões são
iguais [...] muitas almas perecem porque não têm
ninguém para fazer sacrifício por elas”, uma clara
negação da suficiência do sacrifício de Cristo pelos
nossos pecados. A Carta Apostólica que João Paulo
II escreveu em 16 de outubro de 2002 termina com
as seguintes palavras:
Entrego esta Carta Apostólica nas mãos amorosas da
Virgem Maria, prostrando-me em espírito diante da
sua imagem venerada no Santuário esplêndido que lhe
edificou o beato Bartolo Longo, apóstolo do Rosário.
De bom grado, faço minhas as comoventes palavras
com que ele conclui a célebre Súplica à Rainha do
Santo Rosário: “Ó Rosário bendito de Maria, doce
cadeia que nos prende a Deus, vínculo de amor que
nos une aos Anjos, torre de salvação contra os assaltos
do inferno, porto seguro no naufrágio geral, não te
deixaremos nunca mais. Serás o nosso conforto na
hora da agonia. Seja para ti o último beijo da vida que
se apaga. E a última palavra dos nossos lábios há de
ser o vosso nome suave, ó Rainha do Rosário de
Pompéia, ó nossa Mãe querida, ó Refúgio dos
pecadores, ó Soberana consoladora dos tristes [...].

Enquanto era conduzido às pressas para o


hospital, depois de ser atingido por duas balas numa
tentativa de assassinato em 13 de maio de 1981, o
papa murmurava em polonês: “Madona, Madona
[...]!” e repetia muitas vezes as palavras: “A vitória
[...] será [...] através de Maria”. João Paulo II
visitou o santuário de Fátima para agradecer à santa
por tê-lo livrado da morte. Atribuiu a “Nossa
Senhora de Fátima” a salvação de sua vida no
atentado de Roma, e também quando foi atacado
por um padre espanhol armado com uma baioneta
em 1982. Mas sua “Maria” favorita era a “Virgem
Negra” de Jasna Gora, na Polônia – onde o próprio
Billy Graham recebeu pessoalmente os peregrinos
depois de pregar na catedral de Wojtyla enquanto
este estava sendo sagrado papa em Roma. Em
fevereiro de 1982, num adendo a seu testamento
escrito em 6 de março de 1979, João Paulo confiou
“aquele momento decisivo [a hora de sua morte] à
Mãe de Cristo e da igreja e da minha esperança [...].
Na vida e na morte Totus Tuus através da
Imaculada”. Dentro de todas as suas roupas estava
bordada a frase Totus tuus sum Maria, “Maria, sou
todo teu”.
O terço – ele insistia com os católicos para que
rezassem o terço continuamente como forma de
obter a paz mundial – oferece um falso evangelho
de salvação através de Maria. Uma “aparição” em
Fátima, afirmando ser “Nossa Senhora do Rosário”,
declarou: “Reze o terço todos os dias [...] reze muito
e ofereça sacrifícios pelos pecadores [o sacrifício de
Cristo não é suficiente]. Só eu sou capaz de ajudá-
los [...]. No final, meu Imaculado Coração
triunfará”. O terço termina com esta prece:
Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida e doçura
esperança nossa, salve! A vós bradamos degredados
filhos de Eva. A vós suspiramos gemendo e chorando
neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa,
esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e
depois deste desterro mostrai Jesus bendito fruto em
vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e Santa
Virgem Maria.

É claro, porém, que Maria não continuou


virgem depois do nascimento de Jesus, “o
primogênito” (Mt 1.25), mas teve filhos e filhas
com seu marido José (Mt 12.46,47; 13.55,56; Mc
3.31; Lc 8.19,20; Jo 2.12; At 1.14) – e que ela não
era um canal especial das bênçãos de Cristo para os
outros (Mt 12.40-50; Mc 3.33-35; Lc 8.19-21;
11.27,28). Não há nenhum registro bíblico de que
alguém tenha alguma vez orado a Maria ou de que
ela tenha intercedido diante de Cristo pela salvação
de alguém.
Entre as “Quinze Promessas de Maria aos
Devotos do Rosário”, tão conhecidas no Catolicismo
Romano, encontram-se as seguintes: “A alma que se
entregar a mim pela recitação do Rosário não
perecerá”; “Eu livrarei do purgatório os devotos do
Rosário”; “Os que forem fiéis na recitação do
Rosário [...] na hora da morte [...] participarão dos
méritos dos santos no Paraíso”. O trágico nisso tudo
é que centenas de milhões de católicos romanos
foram desviados da fé de que só há salvação em
Cristo para crerem em Maria e no Rosário, como
acreditava o papa João Paulo II! Esses milhões de
católicos não receberão a salvação de Cristo
enquanto confiarem em Maria ou em qualquer outro
“santo”.
Na Oração do Santo Padre para o “Ano
Mariano”, João Paulo II pediu a Maria que fizesse o
que só Deus pode fazer: consolar, guiar, fortalecer e
proteger “toda a humanidade [...]”. Sua oração
terminava com as seguintes palavras: “Sustenta-nos,
ó Virgem Maria, na nossa jornada de fé, e obtém
para nós a graça da eterna salvação”. A fé no único
Salvador, o Senhor Jesus Cristo, é claramente
omitida e até negada nesse tipo de oração!
João Paulo II se referia com freqüência à
“salvação das almas por meio de Maria Imaculada”.
Insistindo para que todos os cristãos reconhecessem
Maria como sua mãe, o papa declarou que as
palavras que Cristo disse a João quando estava na
cruz – “Eis aí tua mãe” (Jo 19.27) – revelavam “o
verdadeiro significado da adoração a Maria [...]”.
Afirmando que “Maria é o caminho que leva a
Cristo”, o papa insistia para que todos os cristãos
“dessem espaço [a Maria] em sua vida diária,
reconhecendo seu papel providencial no caminho da
salvação”. Ele sempre usava um escapulário (uma
prática originária de uma aparição de “Nossa
Senhora do Monte Carmelo” a São Simão Stock,
em 1251, e confirmada por papas subseqüentes,
como João XII em 1322), confiando na promessa
escrita no amuleto que dizia que “aquele que morrer
usando este escapulário não sofrerá o fogo eterno”.
É mais do que evidente que qualquer um que tenha
confiado em Cristo para a sua salvação, em
sinceridade de coração, consideraria o uso de um
pedaço de pano como esse não só desnecessário mas
uma verdadeira abominação!
Em vista desses fatos bem conhecidos, são
incompreensíveis os elogios derramados dos líderes
evangélicos ao papa quando ele morreu! Por incrível
que pareça, Billy Graham elogiou João Paulo II por
sua “firme fé católica”. Um número cada vez maior
de evangélicos está se juntando a Colson, Packer,
Billy Graham e outros, que aceitam como irmãos em
Cristo os católicos romanos que abraçam um falso
evangelho. Mark Oestreicher, presidente do
ministério Youth Specialties, afirmou que a morte do
papa era “um momento-chave na história, quando
temos a oportunidade de abraçar [os católicos como]
filhos de Deus, assim como nós”. Isso é como saber
que a ponte de uma estrada caiu e, em vez de
colocar barreiras e sinais de alerta, ficar na beira da
estrada dando adeusinho para os motoristas que
correm em direção à morte!
Richard N. Ostling, por muitos anos
correspondente sênior da revista Time para assuntos
religiosos, afirmou que o papa João Paulo II
“provavelmente foi o papa mais popular de todos os
tempos entre os protestantes evangélicos dos
Estados Unidos”. Dan Betzer, pastor da Primeira
Assembléia de Deus de Fort Meyers, disse
entusiasmado: “Sou um admirador do Papa há
muito tempo. Sua vida de oração é um exemplo
para todos nós. Ele tem vivido uma vida santa [...].
Sua morte deixará um grande vazio no reino de
Deus”. Pat Robertson declarou que “o mais querido
líder religioso de nossa época passou deste mundo
para seu merecido galardão eterno”.
Assim como Billy Graham, também Richard
Land, presidente da Comissão de Ética e Liberdade
Religiosa dos Batistas do Sul, enfatizou que
quaisquer discordâncias que os protestantes possam
ter tido “com João Paulo II são irrelevantes para os
fundamentos da fé. Land louvou “a férrea defesa de
João Paulo II dos valores tradicionais da fé cristã”.
Entretanto, em mais de uma ocasião João Paulo II se
reuniu para orar com curandeiros, espíritas,
animistas, hindus, budistas, muçulmanos e líderes de
outras religiões mundiais, declarando que todos
estavam “orando ao mesmo Deus” e dizendo que
suas orações geravam “profundas energias
espirituais” que criariam um “novo clima para a
paz”.
Não nos atrevemos a brincar com o destino
eterno das almas. Pedro, que Roma falsamente alega
ter sido o primeiro papa, declarou: “Não existe
nenhum outro nome [além de Jesus Cristo], dado
entre os homens, pelo qual importa que sejamos
salvos” (At 4.12). Nem é Maria, nem Buda, nem
qualquer outro, senão unicamente Jesus Cristo quem
salva! Mas João Paulo II confiava em Maria para
sua proteção e salvação – e ensinava seu rebanho a
fazer o mesmo. Lamentamos por ele e por seu
rebanho por esse erro!
É tarde demais para orarmos pela alma do
falecido papa – mas temos o dever, para com nosso
Senhor e toda a humanidade, de dar as boas-novas
aos que ainda vivem: “Porque Deus amou ao
mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo o que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o
seu Filho ao mundo, não para que julgasse o
mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele”
(Jo 3.16-17).
GLOSSÁRIO
Anátema – Excomunhão da Igreja Católica
Romana pronunciada contra os hereges ou grandes
pecadores. A conseqüência é a condenação eterna, a
não ser que o anatematizado se arrependa e volte à
Igreja. O Concílio de Trento pronunciou mais de
100 anátemas contra os que aceitaram as crenças da
Reforma. O Vaticano II os ratificou e acrescentou
mais um. Assim sendo, ainda hoje o catolicismo
romano condena ao inferno todos os cristãos
evangélicos. O único remédio é arrepender-se das
doutrinas evangélicas (heréticas para Roma), entrar
para a Igreja Católica e submeter-se aos seus
decretos. Logo, todo “diálogo” e cooperação entre
católicos e evangélicos, segundo a definição do
catolicismo, só conduzem a um único objetivo: levar
os evangélicos à Igreja Católica Romana – para que
eles possam ser salvos.
Bula Papal – O nome comum dado aos
decretos importantes dos papas nos séculos
passados, embora não seja mais usado hoje. Em
latim, a palavra bulla significa selo, e as bulas papais
eram identificadas pelo lacre, ou selo de chumbo,
colocado em cada uma delas. Muitos exemplares
dessas bulas foram preservados e podem ser vistos
ainda hoje.
Código de Direito Canônico – É a codificação
feita em 1983 de cânones ou decretos do Concílio
Vaticano II. É um volume grande (mais de 1.000
páginas), que incorpora as resoluções de concílios
anteriores, bem como os pronunciamentos papais.
Esse Código contém ainda comentários detalhados,
explicando a apropriada implementação dos 1.752
cânones de leis aos quais os católicos estão sujeitos
pela obediência à sua Igreja. A última codificação
semelhante a essa havia sido feita em 1917.
Concordata – Tratado ou acordo que define as
relações e obrigações entre o Vaticano e os governos
seculares. Isso somente é possível porque a Cidade
do Vaticano é reconhecida como Estado, no mesmo
nível das outras nações, podendo, assim, entrar em
acordos e fazer um intercâmbio de embaixadores
com esses países.
Decreto – Carta papal emitida em resposta a
uma questão que exige posição oficial da Igreja.
Muitos desses decretos, coletados e atribuídos
individualmente aos papas, e que no passado eram
confiáveis, são hoje reconhecidos como “decretos
falsos”. Mesmo assim, muitas das crenças
historicamente estabelecidas sobre essas falsificações
jamais foram extirpadas da tradição católica e ainda
hoje continuam fazendo parte integral dela.
Encíclica – Uma carta escrita por um papa,
expressando a visão oficial da Igreja sobre um
determinado assunto importante.
Eucaristia – Uma forma especial de pão
(bolachinha ou hóstia) e vinho comum. Eles são
aceitos como sendo literalmente o corpo e o sangue
de Jesus Cristo, pois foram consagrados por um
sacerdote e assim “transubstanciados” através de
uma fórmula e poder especiais, que somente o
sacerdote católico possui. A oferta desse “Cristo”
miraculosamente constituído sobre os altares
católicos é a parte principal do ritual conhecido
como “sacrifício” da missa, o qual acredita-se ser
eficaz para a remissão de pecados.
Indulgência – É a “remissão, diante de Deus,
da pena temporal devida pelos pecados já perdoados
quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e
em certas e determinadas condições [decididas pela
hierarquia da Igreja], alcança por meio da Igreja, a
qual, como dispensadora da redenção, distribui e
aplica...” Assim é descrita pela Constituição
Apostólica na Revisão das Indulgências, decretada
pelo papa Paulo VI, em 1º de janeiro de 1967, e
incluída como um dos documentos pós-conciliares
do Vaticano II.
A doutrina das indulgências vem da insistência
estranha e antibíblica de que os sofrimentos de
Cristo na cruz pelos nossos pecados, nas mãos dos
homens e de Deus, só conseguiram obter o perdão
da culpa, deixando ainda o “pecador arrependido e
perdoado” na obrigação de sofrer pelos seus
próprios pecados, nesta vida e na outra, ou, como é
mais provável, nas “chamas purificadoras do
purgatório”. Presume-se que uma indulgência,
através do poder outorgado à Igreja, reduza o tempo
ou a intensidade do sofrimento no purgatório, mas
em quantidades ainda desconhecidas. (Ver Apêndice
B para mais detalhes).
Interdito – Penalidade imposta pelos papas
sobre uma cidade ou mesmo um país inteiro,
proibindo a prática da religião católica romana.
Desse modo, os sacramentos que trazem a salvação
não podiam ser administrados, e toda a população
ficava sem os meios de perdão dos pecados e de
entrada no céu. É pecado mortal não assistir à missa
pelo menos uma vez por semana, e isso se tornava
impossível durante um interdito. Assim, qualquer
pessoa que morresse nesse período incorreria em
pecado mortal e, sem os meios de perdão através da
confissão e do sacramento dos enfermos (Extrema-
Unção), seria condenada ao inferno. Não é de
admirar, portanto, que os reis e imperadores
tremessem diante da ameaça desta penalidade,
quando feita pelos papas, pois lhes dava um poder
contra o qual nenhum mortal poderia lutar e que fez
da Igreja Católica Romana a “cidade que domina
sobre os reis da terra” (Apocalipse 17.18).
Teologia da Libertação – Movimento dentro
da Igreja Católica Romana, originado na América
Latina, que tem como ênfase principal a justiça
social. Segundo esta teologia, para alguém ser
teologicamente ortodoxo, deve opor-se verbalmente
e através da ação a qualquer tipo de opressão que
tanto a Igreja quanto o Estado pratiquem contra os
pobres e as classes mais baixas. Assim, a prova da
salvação de uma pessoa é demonstrada por ela se
opor a essa opressão, ao invés de estar baseada na
aceitação do Evangelho e na confirmação das
doutrinas da fé.
Missa - É a oferta feita sobre os altares
católicos dos supostos corpo e sangue de Cristo
(sem que haja derramamento literal de sangue). Diz-
se que esse “sacrifício” é eficaz para o perdão dos
pecados e a abreviação do sofrimento de alguém no
purgatório. Esse é um erro mortal, que reduz o
sacrifício de Cristo na cruz a um pagamento parcial
dos pecados. Por isso é necessário que haja uma
continuação sem fim do sacrifício nos altares
católicos, algo supostamente essencial para trazer o
perdão completo dos pecados e garantir a entrada no
céu. Aquilo que a morte de Cristo na cruz (que a
Bíblia diz ter sido de uma vez por todas e toda-
suficiente) não pôde fazer e que, segundo a doutrina
católica, a missa pode completar, se for repetida
vezes suficientes. Contudo, a Igreja até hoje nunca
definiu (e na verdade não sabe) quantos desses
“sacrifícios” da missa seriam necessários para retirar
uma pessoa do purgatório e fazê-la entrar no céu.
Assim, o fiel católico espera que depois de sua
morte seus parentes paguem para que um número
suficiente de missas continuem sendo rezadas em
seu favor.
Purgatório – O lugar de “purgação” onde o
católico acredita estarem os falecidos que morreram
sem antes terem feito a necessária restituição
(expiação) pelos seus pecados (muito embora Cristo
já tenha pago por eles). Eles devem passar algum
tempo nesse lugar, a fim de ficarem limpos o
suficiente para entrar no céu. Diz-se que as chamas
do purgatório são diferentes das chamas do inferno,
pois no purgatório elas purificam a alma para que
esta entre no céu, enquanto que as do inferno são
para o tormento eterno.
Escapulário – Para os que pertencem à ordens
religiosas, consiste de duas tiras de pano (uma na
frente e outra atrás) unidas sobre os ombros e
usadas sobre as vestes. Para o leigo, geralmente é
feita com dois pedacinhos de pano unidos por um
barbante e usados no pescoço, por baixo da roupa.
Existem cerca de 18 variedades de escapulários
abençoadas e aprovadas pela Igreja. O uso do
escapulário, aliado à obediência de certas condições,
confere proteção e privilégios, em alguns casos até
mesmo reduzindo ou eliminando totalmente o tempo
da pena no purgatório.
Sé Apostólica, Santa, Primeira – A “Santa
Sé”, ou “Sé de Pedro” é a designação para Roma, e
mais especificamente para a Cidade do Vaticano,
como residência oficial do papa e quartel-general da
Igreja Católica Romana e seus muitos escritórios. Na
verdade, mostra que o papa é o líder da “única
Igreja verdadeira”, depositária da verdadeira fé que
Cristo comissionou a Pedro, e que seus sucessores
devem levar ao mundo.
Simonia – Prática que visa a obtenção de
favores em troca de dinheiro. Seu nome deriva da
atitude de Simão, o mago, que ofereceu dinheiro
para poder receber o Espírito Santo (Atos 8.18-24).
Passou a ser um sinônimo de tráfico de coisas
sagradas ou espirituais, trocadas por dinheiro ou
favores.
Te Deum – Um antigo hino latino – Te Deum
Laudamus [Louvamos-te, ó Deus] cantado no
encerramento das leituras de ofício aos domingos e
em ocasiões festivas. É entoado principalmente para
agradecer a Deus por bênçãos especiais. Foi usado
(cantado) nas catedrais católicas no aniversário de
Hitler, quando ele escapava de atentados de morte,
nas vitórias nazistas nas batalhas, na subida ao poder
de Ante Pavelic como líder do governo croata dos
Ustashi, etc.
NOTAS:
Introdução: Uma Tentativa Para Derrubar a Reforma
1. Revista Moody, maio de 1994, p. 62.
2. Revista Charisma, maio de 1994.
3. New York Times, 30 de março de 1994, p. A8.
4. New Evangelization 2000, número 23, 1994.
5. “Roman Catholic Doubletalk at Indianapolis ‘90”. Revista
Foundation, julho-agosto de 1990, trechos do discurso
do frei Tom Forrest na seção de treinamento realizada
durante o “Sábado Católico Romano”.
Capítulo 2 – Razão Para Crer
1. Will Durant, The Story of Civilization, The Reformation
(Simon and Schuster, 1950), vol. VI, p. 727.
2. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishing Inc., 1988), p. 194.
3. Durant, op. cit., vol. VI, p. 729.
Capítulo 4 – Uma Revelação Progressiva
1. Strong’s Exhaustive Concordance, Greek Dictionary of
the New Testament, p. 12; Webster’s New Universal
Unabridged Dictionary, p. 2035.
Capítulo 5 – Mistério: Babilônia

1. Brownson’s Quarterly Review, janeiro de 1873, vol. i, p.


1. Brownson’s Quarterly Review, janeiro de 1873, vol. i, p.
10. Brownson foi um renomado cético e criticava
abertamente o sacerdócio até sua conversão a Roma
cerca de 30 anos antes. Ver William Hogan, Esq.,
Popery, As It Was and As It Is (Hartford, 1854), pp. 500-
530ss.
2. J.H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(London, 1869), p. 19; ver também R. W. Thompson, The
Papacy and the Civil Power (New York, 1876), p. 419.
3. R. W. Thompson, The Papacy and the Civil Power (New
York, 1876), p. 460.
4. Dollinger, op. cit., p. 21; ver também Sidney Z. Ehler and
John B. Morrall, Church and State Through the
Centuries (London, 1945), pp. 299, 314.
5. Dollinger, op. cit., p. 23.
6. Emmet McLoughlin, An Inquiry into the Assassination of
Abraham Lincoln (The Citadel Press, 1977), p. 70.
7. Ibid., pp. 80-82.
8. The Catholic World, julho 1870, vol. xi, p. 439.
9. Peter Viereck, Meta-Politics: The Roots of the Nazi Mind
(Alfred A. Knopf, Inc.), 1941, edição de 1961, pp. 317-18.
10. Franz von Papen, Memoirs, trad. Brian Connell
(London, 1952), p. 279.
11. Guenter Lewy, The Catholic Church and Nazi Germany
(McGraw-Hill, 1964), pp. 160-161.
12. Ibid., pp. 100, 106.
13. Ibid., p. 105.
14. Ibid., pp. 106-109.
15. Ibid., p. 108.
16. Ibid., p. 211.
17. Viereck, op. cit., p. 282.
18. Jean-Michel Angebert, The Occult and the Third Reich
(New York, 1974), p. 201.
19. William L. Shirer, The Rise and Fall of the Third Reich
(New York, 1959), p. 330.
Capítulo 6 – A Cidade Sobre Sete Montes
1. The Catholic Encyclopedia (Thomas Nelson, 1976),
vocábulo “’Rome”.
2. Karl Keating, Catholicism and Fundamentalism: The
Attack on “Romanism” by “Bible Christians” (Ignatius
Press, 1988), p. 200.
3. Catechism of the Catholic Church (The Wanderer
Press, 1994, p. 279), parágrafo 1075.
4. Sidney Z. Ehler, John B. Morrall, (trad. e eds.) Church
and State Through the Centuries (London, 1954), pp.
153-59; Haktuytus Pasthumus (William Stansby for
Henrie Fetherstone, London, 1625) citado em Avro
Manhattan, The Vatican Billions (Chino, CA, 1983), p. 90.
5. Our Sunday Visitor, 5 de dezembro de 1993, p. 3.
6. John A. Hardon, S.J., Pocket Catholic Dictionary (Image
Books [Doubleday], 1985, p. 99.
7. Our Sunday Visitor’s Catholic Encyclopedia (Our
Sunday Visitor Publishing Division, 1991), p. 842.
8. Ibid., pp. 175, 178.
9. Robert Broderick, ed., The Catholic Encyclopedia
(Thomas Nelson, Inc., 1976), pp. 103-104.
10. Ibid., p. 466.

11. William Shaw Kerr, A Handbook of the Papacy (London:


11. William Shaw Kerr, A Handbook of the Papacy (London:
Marshall, Morgan & Scott), p. 241.
12. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(London, 1869), pp. 307-08.
13. Nino Lo Bello, The Vatican Empire (Trident Press,
1968), p. 167. Ver também David A. Yallop, In God´s
Name (Bantam Books, 1984); Richard Hammers, The
Vatican Connection (Penguin Books, 1983).
14. James A. Coriden, Thomas J. Green, Donald E.
Heintschel, eds., The Code of Canon Law (Paulist Press,
1985), Cânon 1273.
15. The European, 9-12 de abril, 1992, p. 1.
16. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), pp. 396-97.
17. R. W. Thompson, The Papacy and the Civil Power
(New York, 1876, p. 82).
18. De Rosa, op. cit., p. 172.
19. Kerr, op. cit., pp. 239-240.
20. Emelio Martinez, Recuerdos de Antano (CLIE, 1909),
pp. 105-106.
21. De Rosa, op. cit., pp. 20-21.
22. Guenter Lewy, The Catholic Church and Nazi Germany
(McGraw-Hill, 1964), pp. 300-304. Esses mesmos fatos
foram documentados por muitos outros autores e
historiadores.
23. De Rosa, op. cit., p. 5; Lewy, op. cit., p. I 11.
24. Dollinger, op. cit., pp. 10-12.
25. Walter James, The Christian in Politics (Oxford
University Press, 1962), p. 47.
26. R. W. Southern, Western Society and the Church in the
Middle Ages, vol. 2, Pelican History of the Church series
(Penguin Books, 1970), pp. 24-25.
27. Cormenin, History of the Popes, p. 243, citado em R.W.
Thompson, op. cit., p. 368.
Capítulo 7 – Fraude e História Forjada
1. James A. Coriden, Thomas J. Green, Donald E.
Heintschel, eds., The Code of Canon Law (Paulist Press,
1985, Cânons 1404, 1405 e 333, sec. 3, pp. 951,271.
2. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(London, 1869), p. 3.
3. La Civilta Cattolica, 1867, vol. xii, p. 86.
4. Austin Flannery, O. P., editor geral, Vatican Council II:
The Conciliar and Post Conciliar Documents (Costello
Publishing, 1988 Revised Edition), p. 380.
5. The Catholic World, agosto de 1871, vol. xiii, pp. 580-89.
6. Coriden, et al., op. cit., Cânon 212, Seção 1.
7. Flannery, op. cit., vol. 1, p. 412.
8. Ibid., pp. 379-380.
9. Ibid., pp. 365-366.
10. Karl Keating, Catholicism and Fundamentalism: The
Attack on “Romanism” by “Bible Christians” (Ignatius
Press, 1988), pp. 215-218.
11. Dollinger, op. cit., p. 59.
12. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), pp. 205-206.
13. Ibid., pp. 248-249.
14. Ibid., p. 25.
15. August Bernhard Hasler, How the Pope Became
Infallible (Doubleday & Co., Inc., 1981), p. 48.
16. W. H. C. Frend, The Rise of Christianity (Philadelphia,
1984), p. 773.
17. H. Chadwick, The Early Church (Wm. B. Eerdmans,
1976), p. 243.
18. Frend, op. cit., p. 707.
19. Dollinger, op. cit., p. 62.
20. Ibid., pp. 76-77.
21. R. W. Thompson, The Papacy and the Civil Power
(New York, 1876), p. 372.
Capítulo 8 – Linha Ininterrupta de Sucessão
Apostólica?
1. Austin Flannery, O.P., (editor geral), Vatican Council II:
The Conciliar and Post Conciliar Documents (Costello
Publishing, 1988 Revised Edition), vol. 1, pp. 357, 376.
2. New Catholic Encyclopedia (Catholic University of
America, 1967), vol. 1, p. 632, vocábulo “Antipopes”.
3. Sidney Z. Ehler, John B. Morrall, (trads. e eds.) Church
and State Through the Centuries (London, 1954), p. 48.
4. E. R. Chamberlin, The Bad Popes (Barnes & Noble,
1969), p. 21.
5. James A. Coriden, Thomas J. Green, Donald E.
Heintschel, eds., The Code of Canon Law (Paulist Press,
1985), Cânon 332, p. 270.
6. T. A. Trollope, The Papal Conclaves (1876) citado em
Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), p. 98.
7. Chamberlin, op. cit., p. 172.
8. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), p. 104.
9. Edward Gibbon, The Decline and Fall of the Roman
Empire (London, 1830), capítulo xlix.
10. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(London, 1869), p. 81.
Capítulo 9 – Hereges Infalíveis?
1. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), p. 204.
2. James A. Coriden, Thomas J. Green, Donald E.
Heintschel, eds., The Code of Canon Law (Paulist Press,
1985), Cânon 1364, p. 920.
3. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(London, 1869), pp. xv, xvii.
4. D. Antonio Gavin, A Master-Key to Popery, 3ª ed.
(London, 1773), pp. 113-14.
5. August Bernhard Hasler, How the Pope Became
Infallible (Doubleday & Co., Inc., 1981), p. 36.
6. Ibid., da introdução de Hans Küng, p. 9.
7. De Rosa, op. cit., p. 180.
8. Ibid., p. 212.
9. Ibid.
10. Dollinger, op. cit., p. 275.
Capítulo 10 – Infalibilidade e Tirania
1. National Catholic News Service, (editor), John Paul II,
“Building Up the Body of Christ, Pastoral Visit to the
United States” (Ignatius Press, 1987), p. 9.
2. Ibid.
3. Ibid.
4. Sidney Z. Ehler, John B. Morrall, (trads. e eds), Church
and State Through the Centuries (London, 1954), p. 273.
5. Evangelical Confederation of Columbia, Bulletin nº 50,
26 de junho de 1959.
6. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(London, 1869), pp. 337-38.
7. Catholic World, agosto de 1871, p. 755.
8. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), pp. 175-176.
9. Cormenin. History of the Popes, p. 243, cf. citado em
R.W. Thompson, The Papacy and the Civil Power (New
York, 1876), p. 244.
10. Gerard Dufour, La Inquisición Española (Montesinos,
1986), p. 32.
11. Comte Le Maistre, Letters on the Spanish Inquisition
(Boston, 1815), prefácio, p. xvi.
12. Papa Pio IX, The Syllabus of the Principal Errors of our
Time..., III. 15.
13. Cormenin, op. cit., p. 206.
14. Ibid.
15. R.W. Thompson, The Papacy and the Civil Power (New
York, 1876), pp. 51-53, ver também Apêndice B, pp. 718-
20.
16. Ibid., p. 53.
17. Ibid., pp. 43-52.

18. Count Charles Arribavene, Italy under Victor


18. Count Charles Arribavene, Italy under Victor
Emmanuel (London, 1862), vol. II, p. 366, citado em
Emmet McLoughlin, An Inquiry into the Assassination of
Abraham Lincoln (The Citadel Press, 1977), p. 205.
19. Thompson, op. cit., o Apêndice C traz na íntegra o texto
de “The Encyclical Letter of Pope Pius IX”, pp. 721-27,
ver especialmente a p. 722.
20. The Catholic World, dezembro de 1872, vol. xvi, p. 290.
21. Arribavene, op. cit., pp. 93-94.
22. Emmet McLoughlin, An Inquiry into the Assassination of
Abraham Lincoln (The Citadel Press, 1977), p. 94.
23. Arribavene, op. cit., vol. II, p. 389.
24. G. S. Godkin, Life of Victor Emmanuel II (London,
1880), p. 76.
25. August Bernhard Hasler, How the Pope Became
Infallible (Doubleday & Co., Inc., 1981), p. 64.
26. Ibid., pp. 66-67.
27. Ibid., p. 74.
28. Ibid., p. 29, e aba posterior.
29. Ibid., da introdução de Hans Kung, p. 14.
30. Ibid., pp. 97-98.
31. Ibid., pp. 68-69, 78.
32. Ibid., p. 80.
33. Ibid., pp. 71-72.
34. Ibid., pp. 93-94.
35. Loraine Boettner, Roman Catholicism (The
Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1982),
p. 246.
36. Dollinger, op. cit., 71.
37. Hasler, op. cit., p. 153.
38. Dollinger, op. cit., pp. 52-55.
39. Hasler, op. cit., pp. 121-122.
40. Ibid., pp. 126, 133.
41. Ibid., p. 189.
42. Ibid., pp. 136, 143-144.
43. Ibid., pp. 124-127.
44. Guillermo Dellhora, La Iglesia Catolica ante la critica en
el pensamiento y en el arte (Mexico City, 1929), p. 248.
45. Frederico Hoyos, S.V.D., Enciclicas Pontificias (Buenos
Aires, 1958), p. 179.
46. De Rosa, op. cit., pp. 34, 45.
47. USA Today, 8 de dezembro de 1993, p. 17A.
Capítulo 11 – Sobre Esta Pedra?
1. Austin Flannery, O.P., (editor geral), Vatican Council II:
The Conciliar and Post Conciliar Documents (Costello
Publishing, 1988, Revised Edition) vol 1, p. 454.
2. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(London, 1869), p. 74.
3. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), pp. 24-25.
4. Dollinger, op. cit., pp. 53, 66, 74.
5. Cormenin, History oft he Popes, p. 243, citado em R.W.
Thompson, The Papacy and the Civil Power (New York,
1876), p. 248.
6. August Bernhard Hasler, How the Pope Became
Infallible (Doubleday & Co., Inc., 1981), p. 8 da
introdução.
7. Dollinger, op. cit., pp. 65-66.
8. De Rosa, op. cit., p. 250.
9. H. Chadwick, The Early Church (Wm. B. Eerdmans,
1976), p. 245.
10. Eusebius, Oration on the Tricennalia of Constantine,
5.4.
11. Will Durant, The Story of Civilization (Simon and
Schuster, 1950), Part III “Caesar and Christ, p. 656.
12. De Rosa, op. cit., p. 43.
13. Durant, op. cit., Part III, p. 656.
14. Philip Hughes, A History of the Church (London, 1934),
vol. 1, p. 198.
Capítulo 12 – A Mãe Profana
1. USA Today, 8 de dezembro de 1993, p. 17A.
2. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(London, 1869), pp. 89-91.
3. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), pp. 395-96.
4. R. W. Thompson, The Papacy and the Civil Power (New
York, 1876), p. 443.
5. De Rosa, op. cit., pp. 402-03.
6. Will Durant, The Story of Civilization (Simon and
Schuster, 1950), vol. VI, p. 18.
7. Ibid., vol. V, pp. 155-56.
8. Ibid., pp. 157-58.
9. Ibid., pp. 159-60.
10. Inside the Vatican, abril de 1994, p. 55, sob “23 May”
11. De Rosa, op. cit., pp. 404-05.
12. Harry J. Margoulias, Byzantine Christianity: Emperor,
Church and the West (Rand McNally, 1982), pp. 103-04.
13. De Rosa, op. cit., p. 405.
14. Ibid., p. 119.
15. Thompson, op. cit., p. 443.
16. Ibid., p. 444; ver também De Rosa, op. cit., p. 412.
17. Frederic Seebohm, The Oxford Reformers (London,
1869), pp. 70-71, 74-76, 110.
18. Durant, op. cit., vol. V, p. 576.
19. Francesco Guicciardini, Storia, I, 20, cf. citado em E. R.
Chamberlin, The Bad Popes (Barnes and Noble, 1969),
p. 173.
20. Inside the Vatican, novembro de 1993, pp. 55, 57.
21. E. R. Chamberlin, The Bad Popes (Barnes and Noble,
1969), p. 198.
22. Our Sunday Visitor, 27 de fevereiro de 1994, p. 5;
National Catholic Reporter, 7 de janeiro de 1994, p. 9.
23. National Catholic Reporter, 3 de setembro de 1993.
24. Patricia Nolan Savas, “Misconduct by clergy is no
surprise” USA TODAY, 8 de dezembro de 1993, p. 17A.
25. Times (St. Petersburg, FL), 11 de fevereiro de 1994, p.
3A.
26. National Catholic Reporter, 7 de janeiro de 1994, p. 9.
27. Ibid., p. 3.
28. Our Sunday Visitor, 27 de fevereiro de 1994, p. 5.
29. National Catholic Reporter, 7 de janeiro de 1994, p. 3.
30. Ibid., 17 de setembro de 1993, p. 7.
31. Ibid., 1 de outubro de 1993, p. 7.
32. Ibid., 17 de setembro de 1993, pp. 6-7.
33. William Hogan, Esq., Popery As It Was and As It Is
(Hartford, 1854), p. 37.
34. Inside the Vatican, novembro de 1993, reportagem de
capa, “After the Encyclical: Ratzinger”, p. 4.
35. Times, op. cit.
36. Dallas Morning News, outubro de 1993.
Capítulo 13 – Sedutora de Almas
1. Austin Flannery, O.P, (editor geral), Vatican Council II,
The Conciliar and Post Conciliar Documents (Costello
Publishing, 1988 Revised Edition), vol. 1, p. 71.
2. Ibid., pp. 35, 193.
3. Fidelity, dezembro de 1993, p. 2.
4. Our Sunday Visitor, 5 de dezembro de 1993, p. 3.
5. J. H. Ignaz von Dollingcr, The Pope and the Council
(London, 1869), pp. 238-39.
6. Ibid., pp. 241-42.
7. Catholic Encyclopedia, edição 1907-23.
8. Padre Pio Foundation of America (24 Prospect Hill Road,
Cromwell, CT 06416), 1993 O calendário de meditações
publicado por essa fundação traz no mês de abril uma
foto do padre com as mãos levantadas mostrando seu
estigma com a legenda: “As chagas da crucificação.
Padre Pio sangrou diariamente por 50 anos”.
9. Newsletter, The Padre Pio Foundation of America and
the Mass Association (Holy Apostles Seminary, Cromwell,
CT 06416), agosto ou setembro de 1988.
10. Flannery, op. cit., vol. 1, p. 65.
11. E. R. Chamberlin, The Bad Popes (Barnes and Noble,
1969), p. 12.
12. The Pope Speaks, março/abril de 1990, vol. 35, nº. 2,
“Icons Speak of Christian History”, pp. 130-131.
13. Charles Colson, The Body, Being Light in Darkness
(Word Publishing, 1992), p. 271.
14. Flannery, op. cit., vol. 1, pp. 62-79.
15. Ibid., p. 77.
16. Inside The Vatican, abril de 1994, p. 55, sob “19 May”?
17. Chamberlin, op. cit., p. 69.
18. Dollinger, op. cit., pp. 250-251.
19. Sidney Z. Ehler, John B. Morrall, (trads. e eds.), Church
and State Through the Centuries (London, 1954), pp.
122-124.
20. Dollinger, op. cit., pp. 258-259.
21. Raynald, Annal. anno 1438, 5.
22. Dollinger, op. cit., p. 275.
23. Ibid., p. 269.
24. Ibid., p. 278.
25. Ibid., p. 284.
26. Ibid., p. 280.
27. Chamberlin, op. cit., p. 69.
28. Will Durant, The Story of Civilization (Simon and
Schuster, 1950), vol. VI, p. 920.
29. Dollinger, op. cit., p. 298.
30. Psalmaei, Coll. Actor., in Le Plat, vii. ii. 92, citado em
Dollinger, op. cit., pp. 299-300.
31. Dollinger, op. cit., pp. 298-99.
32. Storia del Conc. di Trento. v 425 (ed. Milano, 1844).
33. Durant, op. cit., vol. VI, p. 453.
34. Ibid., pp. 453-57.
35. National Catholic Reporter, 27 de agosto de 1993.
36. Retirado de uma transcrição do programa “Prime Time
Live” (rede ABC), 6 de janeiro de 1994.
Capítulo 14 – Uma Metamorfose Incrível
1. Augustine, de cat. rud., XXV, 48.
2. Tertullian, Apology, 40.2.
3. Tertullian, To the Nations, I.4.
4. Epistle of Diognetus, V. 4-11.
5. Clement, Miscellanies, 11.20.125.
6. William Byron Forbush, ed., Foxe’s Book of Martyrs
(Zondervan, 1962), p. 14.
7. Ibid., p. 17.
8. Philip Hughes, A History of the Church (London, 1934),
vol. 1, p. 165.
9. H. Chadwick, The Early Church (Wm. B. Eerdmans,
1967), p. 118.
10. Hughes., op. cit., p. 172.
11. Will Durant, The Story of Civilization (Simon and
Schuster, 1950), vol. IV, p. 75; vol. III, p. 657.
12. Peter Brown, Augustine of Hippo (University of
California Press, 1967), p. 213.
13. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), pp. 34-35.
14. August Bernhard Hasler, How the Pope Became
Infallible (Doubleday & Co., Inc., 1981), p. 35.

15. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council


15. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(London, 1869), pp. 14-15.
16. Austin Flannery, O. P, (editor geral), Vatican Council II,
The Conciliar and Post Conciliar Documents (Costello
Publishing, 1988, Revised Edition) vol. 1, p. 800.
17. Dollinger, op. cit., pp.
18. De Rosa, op. cit., p. 98.
19. Dollinger, op. cit., pp. 245-246.
20. Ibid., p. 184.
21. Ibid., p. 187.
22. Ibid., p. 184.
23. James A. Coriden, Thomas J. Green, Donald E.
Heintschel, (eds.) The Code of Canon Law (Paulist
Press, 1985), Cânon 1404.
24. Flannery, op. cit., vol. 1, p. 380.
25. Ibid.
Capítulo 15 – Alianças Profanas
1. Guillenno Dellhora, La Iglesia Catolica ante la critica en
el pensamiento y en el arte (Mexico City, 1929), p. 248.
2. Maurice Keen, The Pelican History of Medieval Europe
(Pelican, 1969), pp. 14-15.
3. Colman J. Barry, O.S.B., (ed.), Readings in Church
History, vol. 1, From Pentecost to the Protestant Revolt
(The Newman Press, 1960), p. 223.
4. Eusebius, Oration on the Tricennalia o Constantine, 2.4,
3.5-6.
5. National Catholic Reporter, 22 de outubro de 1993, p. 3.
6. Time, 26 de julho 26 de 1982, p. 35.
7. New York Times, 4 de junho de 1985.
8. August Bernhard Hasler, How the Pope Became
Infallible (Doubleday & Co., Inc.), 1981, p. 257.
9. Ibid., p. 256.
10. John Toland, Adolf Hitler (Ballantine Books, 1977), pp.
431-32.
11. Ibid., p. 623.
12. Ibid., p. 724.
13. Time, 24 de fevereiro de 1992, pp. 28-35.
14. World, 6 de março de 1992.
15. Columbia, junho de 1990, p. 8.
16. Christi Fideles (brochura), “How Can Catholics Reclaim
America?”, anúncio de uma conferência realizada em 17
de outubro de 1993.
17. Austin Flannery, O.P, editor geral, Vatican Council II The
Conciliar and Post Conciliar Documents (Costello
Publishing, 1988, Revised Edition), vol. 1, pp. 364-65.
Capítulo 16 – Domínio Sobre Reis
1. Cormenin, History of the Popes, p. 243, citado em R.W.
Thompson, The Papacy and the Civil Power (New York,
1876), p. 369.
2. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(London, 1869), p. 35.
3. Ibid., p. 339.
4. Citado em R.W. Thompson, The Papacy and the Civil
Power (New York, 1876), pp. 414-15.

5. Rev. Peter Geiermann, C. SS. R., The Convert’s


5. Rev. Peter Geiermann, C. SS. R., The Convert’s
Catechism of Catholic Doctrine (Tan Books and
Publishers, Inc., 1977), Imprimatur Joseph E. Ritter,
S.T.D., arcebispo de Saint Louis, p. 24.
6. Walter James, The Christian in Politics (Oxford
University Press, 1962), p. 47.
7. Dollinger, op. cit., pp. 214-18.
8. Freeman, The Norman Conquest, p. 320, citado em
R.W. Thompson, op. cit., p. 441.
9. Thompson, op. cit., pp. 410, 557.
10. Ibid., p. 466.
11. Dollinger, op. cit., pp. 87-89.
12. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), p. 253.
13. Ibid., p. 73.
14. Cormenin, op. cit., p. 459.
15. Hallam, The Middle Ages, p. 287, citado em Thompson,
op. cit., p. 559.
16. Sidney Z. Ehler, John B. Morrall, (trads. e eds.), Church
and State Through the Centuries (London, 1954), p. 50.
17. Ibid., p. 52.
18. Ibid., pp. 73-76, para ler uma cópia desse documento.
19. Thompson, op. cit., p. 559.
20. Ehler and Morrall, op. cit., p. 51.
21. Ibid., p. 53.
22. National Catholic Reporter, 3 de julho de 1992.
23. Avro Manhattan, Murder in the Vatican (Ozark Books,
1985), pp. 5-7.
24. Cormenin, op. cit., p. 275.
25. Colman J. Barry, O.S.B., (ed.), Readings in Church
History, vol. 1, From Pentecost to the Protestant Revolt
(The Newman Press, 1960), pp. 470-71.
26. De Rosa, op. cit., pp. 99-100.
27. D. Antonio Gavin, A Master Key to Popery: In Five
Parts, 3ª ed. (London, England, 1773), p. 154.
28. Ibid., pp. 157-58.
29. Emmet McLoughlin, An Inquiry into the Assassination of
Abraham Lincoln (The Citadel Press, 1977), p. 70.
30. De Rosa, op. cit., pp. 26-27.
31. Nino Lo Bello, The Vatican Empire (Trident Press,
1968), p. 186 e aba.
32. National Catholic Reporter, 22 de outubro de 1993, p.
11.
33. Lo Bello, op. cit., p. 186.
Capítulo 17 – Sangue dos Mártires
1. Jean Antoine Llorente, History of the Inquisition, citado
em R.W. Thompson, The Papacy and the Civil Power
(New York, 1876), p. 82.
2. Comte Le Maistre, Letters on the Spanish Inquisition
(Boston, 1843), p. 22 citado em R.W. Thompson, The
Papacy and the Civil Power (New York, 1876), pp. 82-83.
3. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), p. 180.
4. Ibid., p. 35, e aba.
5. Will Durant, The Story of Civilization (Simon and
Schuster, 1950), vol. IV, p. 784.
6. De Rosa, op. cit., p. 179.
7. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(London, 1869), p. 195.
8. Durant, op. cit., vol. IV, pp. 773-74.
9. Le Maistre, op. cit., p. 39, cf. citado em R.W. Thompson,
The Papacy and the Civil Power (New York, 1876), p. 83.
10. Ibid.
11. De Rosa, op. cit., p. 175.
12. Dollinger, op. cit., pp. 190-193.
13. Samuel Vila, Historia de la Inquisicion y la Reforma en
Espana (CLIE, 1977), p. 48.
14. Dollinger, op. cit., p. 193.
15. Durant, op. cit., vol. V, p. 527.
16. Ibid., vol. IV, p. 680.
17. São Tomas de Aquino, Summa Theologica (Louis
Guerin, Barri-Ducis, 1857), vol. 4, p. 90.
18. Cormenin, op. cit., pp. 116-17, citado em R.W.
Thompson, The Papacy and the Civil Power (New York,
1876), p. 553.
19. D. Antonio Gavin, A Master Key to Popery: In Five
Parts, 3ª. ed. (London, England, 1773), p. 253.
20. The Tablet, 5 de novembro de 1938.
21. Rev. John Foxe, M.A., Book of Martyrs; or, a History of
the Lives, Sufferings and Triumphant Deaths, of the
Primitive as well as Protestant Martyrs: from the
Commencement of Christianity to the Latest Periods of
Pagan and Popish Persecution (Edwin Hunt, 1833),
transcrito da introdução à edição de 1833 ed., p. iv,
baseado na edição de 1824, (com importantes
acréscimos feitos pelo Rev. Charles A. Goodrich).
22. De Rosa, op. cit., p. 20.
23. Dollinger, op. cit., pp. 313-15.
24. De Rosa, op. cit., pp. 182-83.
25. Durant, op. cit., vol. VI, p. 211.
26. Gerard Dufour, La Inquisicion Espanola (Montesinos,
1986), p. 32.
27. Durant, op. cit., vol. VI, pp. 410-15.
28. De Rosa, op. cit., p. 175.
29. Emmet McLoughlin, An Inquiry into the Assassination of
Abraham Lincoln (The Citadel Press, 1977), pp. 27-28.
30. Gavin, op. cit., p. 212.
31. Sidney Z. Ehler, John B. Morrall, (tads e eds.), Church
and State Through the Centuries (London, 1954), p. 7.
32. De Planct. Eccl. ii. 28, citado em Dollinger, op. cit., p.
185.
33. E. H. Broadbent, The Pilgrim Church (London, 1931),
pp. 88-89.
34. Durant, op. cit., vol. IV, p. 772.
35. Du Pin, The Inquisition, vol. ii, pp. 151-54, citado em
R.W. Thompson, The Papacy and the Civil Power (New
York, 1876), p. 418.
36. R. W. Thompson, The Papacy and the Civil Power
(New York, 1876), p. 418; Ver também De Rosa, op. cit.,
p. 73.
37. Broadbent, op. cit., pp. 88-89.
38. J. H. Merle D’Aubigne, History of the Great
Reformation of the Sixteenth Century in Germany,
Switzerland, and c. (New York, 1843), vol. 11, p. 398.

39. Muston, History of the Waldenses, vol. i., p. 31, citado


39. Muston, History of the Waldenses, vol. i., p. 31, citado
em Thompson, op. cit., p. 489; Ver também Broadbent,
op. cit., pp. 100-01.
40. Plass, What Luther Says, vol. 1, p. 36.
41. The Complete Writings of Menno Simons c. 1496-
1561 (Herald Press, 1956), p. 7. (traduzido do holandês
por Leonard Verduin e editado por I C. Wenger, com a
biografia escrita por Harold S. Bender).
42. Ibid., p. 16.
43. Thieleman J. van Braght, The Bloody Theater or
Martyrs Mirror of the Defenseless Christians Who
Baptized Only Upon Confession of Faith, and Who
Suffered and Died for the Testimony of Jesus, Their
Saviour, From the Time of Christ to the Year A.D. 1660
(Herald Press, edição de 1950, originalmente publicado
em 1660), p. 984.
44. Ibid., pp. 984-985.
45. Time, 6 de dezembro de 1993, p. 58.
46. National Catholic Reporter, 10 de dezembro de 1993,
p. 5.
47. Ibid., 19 de junho de 1993.
48. Our Sunday Visitor, 23 de janeiro de 1994, p. 5.
49. Inside the Vatican, novembro de 1993, p. 35.
Capítulo 18 – Pano de Fundo Para o Holocausto
1. “Zum 20 April” por J. S., Klerusblatt, 12 de abril de 1939,
pp. 221-22.
2. Katolicki Tjednik, 25 de maio de 1941.
3. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), p. 34.
4. G. T. Bettany, A Popular History of the Reformation and
Modern Protestantism (London, 1895), p. 4.
5. Rabbi Yoel Schwartz e Rabbi Yitzchak Goldstein, Shoah,
A Jewish perspective on tragedy in the context of the
Holocaust (Mesorah Publications, Ltd., 1990), pp. 159-
161.
6. Ibid., pp. 163-165.
7. Will Durant, The Story of Civilization (Simon and
Schuster, 1950), vol. IV, p. 388.
8. Ibid., Reformation, p. 729.
9. La Civilta, vol. iii, p. 11, 1862.
10. De Rosa, op. cit., p. 158.
11. Gerard Dufour, La Inquisicion Espanola (Montesinos,
1986), pp. 16-17.
12. De Rosa, op. cit., pp. 194-95.
13. August Bernhard Hasler, How the Pope Became
Infallible (Doubleday & Co., Inc., 1981), p. 293.
14. Orange County Register, 26 de maio de 1994,
reportagem de capa; ver também The Jerusalem Post,
26 de maio de 1994.
15. The Jerusalem Post, 27 de maio de 1994.
16. Guenter Lewy, The Catholic Church and Nazi Germany
(McGraw-Hill, 1964), p. 273.
17. Jules Isaac, Jesus et Israel (Paris, 1948), p. 508.
18. Lewy, op. cit., p. 16.
19. Ibid., pp. 25, 30-31, 38-40.
20. H. Rauschning, The Voice of Destruction (New York,
1940), p. 53.
21. Lewy, op. cit., pp. 45-46.
22. Ibid., p. 55.
23. G.S. Graber, The History of the SS (New York 1978),
p.11.
24. Ibid., p. 12.
25. Ibid., pp. 76, 205.
26. Ibid.
27. Los Angeles Times, 17 de abril de 1993, p. A10.
28. Citado por Hans Askenasy, Are We All Nazis?
(Secaucus, NJ, 1978), p. 25.
29. Lewy, op. cit., p.274.
30. Ibid.
Capítulo 19 – O Vaticano, os Nazistas e os Judeus
1. Manfred Barthel, The Jesuits: History and Legend of the
Society of Jesus (New York,
1984), p. 266.
2. Guenter Lewy, The Catholic Church and Nazi Germany
(McGraw-Hill, 1964), p. 287.
3. John Toland, Adolf Hitler (Ballantine Books, 1977), p.
424.
4. Citado por Hans Askenasy, Are We All Nazis?
(Secaucus, NJ, 1978), p. 76.
5. Ibid., p.27.
6. Toland, op. cit., p. 961.
7. Lewy, op. cit., p. 279.
8. Ibid., pp. 272, 279.
9. Ibid., p. 282.
10. Ibid., p. 285.
11. Ibid., p. 159.
12. Ibid., p. 277.
13. Yehuda Bauer, A History of the Holocaust (Franklin
Watts, 1982), p.136.
14. Ibid., p.137.
15. Lewy, op. cit., p. 152.
16. Peter Viereck, Meta-Politics: The Roots of the Nazi
Mind (Alfred A. Knopf, Inc., 1941, edição de 1961), p.
319.
17. Michael Berenbaum, The World Must Know: The
History of the Holocaust as Told in the United States
Holocaust Memorial Museum (Little, Brown & Company,
1993), p. 156.
18. William L. Shirer, The Rise and Fall of the Third Reich
(New York, 1959), p.58.
19. Newsweek, 8 de fevereiro de 1954, p.49.
20. Lewy, op. cit., p. 306.
21. Avro Manhattan, The Vatican in World Politics (Horizon
Press, 1949), p. 126.
22. Time, 6 de dezembro de 1993, p. 60.
23. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), p.198.
24. Lewy, op. cit., p. 341, citado também em Askenasy, op.
cit., p. 61.
25. Lewy, op. cit., p. 289.
26. Ibid., p. 304.
27. America and the Holocaust, Deceit and Indifference,
parte da série “The American Experience” da rede PBS,
6 de abril de 1994.
28. Lewy, op. cit., p 321.
29. Ibid.
30. Humani generis, 12 de agosto de 1950, encíclica de
Pio XII.
31. Bend Bulletin (Oregon), 25 de janeiro de 1994.
32. Washington Post, 30 de dezembro de 1993, p. A1; Los
Angeles Times, 31 de dezembro de 1993, p. A8.
33. Austin Flannery, O.P., ed. geral, Vatican Council II: The
Conciliar and Post Conciliar Documents, ed. rev.
(Costello Publishing, 1988), vol. 1, p. 367.
34. Ibid.
35. Lewy, op. cit., p 308.
Capítulo 20 – O Massacre dos Sérvios
1. Magnus Linklater, Isabel Hilton and Neal Ascherson, The
Nazi Legacy: Klaus Barbie and the International Fascist
Connection (New York, 1984), p. 187.
2. Scott Anderson and Jon Lee Anderson, Inside the
League (Dodd, Mead & Company, 1986), subtítulo,
sobrecapa.
3. Ibid.
4. Ibid., pp. 291-292.
5. Nedalja, 27 de abril de 1941.
6. Avro, Manhattan, The Vatican’s Holocaust (Ozark Books,
1986), p. 9.
7. Anderson and Anderson, op. cit., p. 292.
8. Linklater, et. al., op. cit., p. 188.
9. Anderson and Anderson, op. cit., pp. 27-28.
10. Los Angeles Times, 19 de janeiro de 1988, 1ª parte, p.
22.
11. Anderson and Anderson., op. cit., p. 28.
12. Newsweek, 8 de fevereiro de 1954, p. 49.
13. Los Angeles Times, 19 de janeiro de 1988, 1ª parte,
pp. 20, 22.
14. Anderson and Anderson, op. cit., p. 296; ver também
Mark Aarons and John Loftus, Unholy Trinity: How the
Vatican’s Nazi Networks Betrayed Western Intelligence
to the Soviets (New York, 1991), p. 102; e Los Angeles
Times, 19 de janeiro de 1988, 1ª parte, pp. 20, 22
15. Nasa Nada, 23 de abril de 1958.
16. Los Angeles Times, 24 de janeiro de 1988.
17. Robert D. Kaplan, “Why Yugoslavia Exploded”,
Reader’s Digest, março de 1993.
18. Seattle Times, 8 de agosto de 1991, p. A10.
19. Los Angeles Times, 14 de março de 1993, editorial.
20. Our Sunday Visitor, 10 de abril de 1994, p. 3.
21. Los Angeles Times, 17 de janeiro de 1993, p. A39.
Capítulo 21 – As Rotas de Fuga do Vaticano
1. Aerograma de Cabot, Belgrado, a Washington, 12 de
junho de 1947, USNA, RG 59, 740.00116EW/6-1147,
citado en Unholy Trinity: How the Vatican’s Nazi
Networks Betrayed Western Intelligence to the Soviets,
Mark Aarons and John Loftus (New York, 1991), frente.
2. Mark Aarons and John Loftus, Unholy Trinity: How the
Vatican’s Nazi Networks Betrayed Western Intelligence
to the Soviets, (New York, 1991), prefácio, p. x.
3. Ibid., da legenda debaixo da foto 3, no meio do livro.
4. Ibid., pp. xii-xiii.
5. Ibid., p. 92.
6. Scott Anderson and Jon Lee Anderson, Inside the
League (Dodd, Mead & Company, 1986), p. 39.
7. Gita Sereny, Into the Darkness... the Mind of a Mass
Murderer (Picador, Londres, 1977), p. 289.
8. Hudal, Römische Tagebücher, p. 21 conforme citado em
Aarons and Loftus, op. cit., p. 37.
9. Aarons and Loftus, op. cit., p. 108.
10. Anderson and Anderson, op. cit., p. 39.
11. Ibid., p. 295.
12. Ibid.
13. Magnus Linklater, Isabel Hilton and Neal Ascherson,
The Nazi Legacy: Klaus Barbie and the International
Fascist Connection (New York, 1984), p. 190; ver
também Aarons and Loftus, op. cit., pp. 27-28, 40-45, 86,
93-95, passim.
14. Por exemplo, ver The Seattle Times e Tribune/Herald,
15 de fevereiro de 1992.
15. San Diego Union-Tribune, 14 de dezembro de 1993.
16. Aarons and Loftus, op. cit., pp. 102-103.
17. Ibid., comentário abaixo da foto 12, no centro da
página.
18. Linklater, et al., op. cit., pp. 188-189.
19. Aarons and Loftus, op. cit., p. 104.
20. Ibid., p. 109.
21. Ibid.
22. Ibid., pp. 109-112.
23. Aarons and Loftus, op. cit., pp. 254-255; ver também
Linklater, et al., op. cit., pp. 189-192.
24. Aarons and Loftus, op. cit., pp. 102-103.
25. Anderson and Anderson, op. cit.; Aarons and Loftus, op.
cit.; ver também artigos de periódicos, por exemplo San
Diego Union-Tribune, 14 de dezembro de 1993; New
York Times, 4 de fevereiro de 1992; Orange County
Register, 31 de maio de 1993, pp. 34-35.
26. Anderson and Anderson, op. cit., p. 40.
27. Orange County Register, 25 de maio de 1989, p. A18.
28. Ibid. 7 de fevereiro de 1992; ver também Morning News
Tribune (Tacoma, WA), 4 de fevereiro de 1992, p. A1.
29. Aarons and Loftus, op. cit., pp. 282-283.
Capítulo 22 – Só a Escritura?
1. The Canons and Decrees of the Council of Trent,
tradução e introdução do Rev. H. J. Schroeder, O.P. (Tan
Books, 1978), p. 274.
2. J. H. Merle D’Aubigne, History of the Great Reformation
of the Sixteenth Century in Germany, Switzerland, & c.
(New York, 1843), volume II, p. 392.
3. Austin Flannery, O.P., editor geral, Vatican Council II: The
Conciliar and Post Conciliar Documents, ed. rev.
(Costello Publishing, 1988), volume 1, p. 379.
4. Ibid., p. 755.
5. De Harold S. Bender, A Brief Biography of Menno
Simons, p. 5, na introdução de The Complete Writings of
Menno Simons, c. 1496-1561 (Herald Press, 1956)
(traduzido do holandês por Leonard Verduin e editado por
J. C. Wenger, com uma biografia por Harold S. Bender).
6. Papa Pio XII, Divino Afflante Spiritu, nº 34-35, 1943.
7. George Martin, “Is There a Catholic Way to Read the
Bible?” New Covenant, junho de 1993, p. 13.
8. Flannery, op. cit., volume 1, pp. 764*765.
9. The Pope Speaks, março/abril, volume 39, nº 2, 1994, p.
93.
10. Time, 6 de dezembro de 1993, p. 60.
11. Flannery, op. cit., volume 1, p. 755.
12. Cateschisme de L’Eglise Catholique (Libreria Editrice
Vaticana, 1993), p. 32. (retirado da ed. francesa,
tradução privada de Yves Brault)
13. Inside the Vatican, abril de 1994, pp. 50-52.
14. Emelio Martinez, Recuerdos de Antano (CLIE, 1909),
p. 390.
15. Our Sunday Visitor, 5 de junho de 1994, p. 6.
16. New Covenant, junho de 1993, p. 12.
17. Our Sunday Visitor, 5 de junho de 1994, p. 6.
18. Henry Clarence Thiessen, Introduction to the New
Testament (Wm. B. Eerdmans, 1943), p. 26.
19. W. H. C. Frend, The Rise of Christianity (Philadelphia,
1984), p. 135.
20. Karl Keating, Catholicism and Fundamentalism: The
Attack on “Romanism” by “Bible Christians” (Ignatius
Press, 1988), pp. 125-127.
21. Rev. Peter Geiermann, C.SS.R., The Convert’s
Catechism of Catholic Doctrine (Tan Books and
Publishers, Inc. 1977), Imprimatur de Joseph E. Ritter,
S.T.D., arcebispo de St. Louis), pp. vi, 25-27.
22. Esse ensino está presente em todo o Concílio Vaticano
II, por exemplo: ver Flannery, op. cit., volume 1, pp. 365,
381.
23. Keating, op. cit., pp. 125-127.
24. Ibid., pp. 140-141.
25. Christianity Today, 20 de setembro de 1985.
Capítulo 23 – Uma Questão de Salvação
1. H. J. Schroeder, O.P., trad., The Canons and Decrees of
the Council of Trent (Tan Books, 1978), p. 52.
2. Austin Flannery, O.P., editor general, Vatican Council II:
The Conciliar and Post Conciliar Documents, ed. rev.
(Costello Publishing, 1988). volume 1, pp. 65, 68.
3. Ibid., p. 755.
4. Retirado de uma carta escrita para Colson e assinada
por James W. Jewell, datada de 23 de maio de 1994, a T
A. McMahon, citando uma declaração pública que Colson
fez em outra ocasião.
5. Flannery, op. cit., volume 1, p. 412.
6. Schroeder, op. cit., p. 44.
7. Ibid., p. 46.
8. Flannery, op. cit., volume 1, p. 378.
9. Ibid., p. 799.
10. Ibid., p. 1.
11. Ibid., p. 4, 6.
12. Carta em nossos arquivos.
13. Flannery, op. cit., volume 1, p. 915.
14. Ibid., p. 917.

15. Emelio Martinez, Recuerdos de Antano (CLIE, 1909),


15. Emelio Martinez, Recuerdos de Antano (CLIE, 1909),
p. 404.
16. Peter Kreeft, Fundamentals of the Faith: Essays in
Christian Apologetics (Ignatius Press, 1988), p. 273.
17. Rev. John Ferraro, Ten Series of Meditations on the
Mystery of the Rosary.
18. São Alfonso de Ligorio, The Glories of Mary (Padres
Redentoristas, 1931), pp. 161-162, 170.
19. Ibid., pp. 166-167.
20. Ibid., pp. 237-243.
21. Ferraro, op. cit.
22. “Heaven Opened by the Practice of THE THREE HAIL
MARYS”, imprimatur de Francis Cardenal Spellman,
arcebispo de New York.
23. De uma brochura publicada por Aylesford Lay Carmelite
and The Scapular Center, Darien, IL 60559-0065.
24. Ligorio, op. cit., p. 235.
25. Ibid.
26. Brochura, op. cit., Darien, IL.
27. John A. Hardon, S.J., Pocket Catholic Dictionary
(Doubleday, 1966), p. 249.
28. Flannery, op. cit., vol. 1, p. 72.
29. Kreeft, op. cit., p. 277.
30. David W. Cloud, Flirting with Rome, Volume 2, Key
Men and Organizations (Way of Life Literature, 1219
North Harns Road, Oak Harbor, WA 98277, 1993), p. 5.
31. Flannery, op. cit., volume 1, pp. 364-365.
32. Da bula papal Unam Sanctam, do ano 1302.
33. Cateschisme de L’eglise Catholique (Service des
Edition, Conference des eveques catholiques du Canada,
1993), p. 184, parágrafo 837.
34. Ibid., p. 186, parágrafo 846.
35. Flannery, op. cit., volume 1, p. 366.
36. Ibid., pp. 365-366.
37. Cateschisme, op. cit.,p. 186, parágrafo 846.
38. James A. Coriden, Thomas J. Green, Donald E.
Heintschel, eds., The Code of Canon Law (Paulist Press,
1985), p. 698.
39. Flannery, op., cit., volume 1, p. 367.
40. Ibid., p. 365.
41. Ibid., p. 366.
Capítulo 24 – O “Sacrifício” da Missa
1. Austin Flannery, O.P., editor general, Vatican Council II:
The Conciliar and Post Conciliar Documents, ed. rev.
(Costello Publishing, 1988). volume 1, pp. 104, 107, 109.
2. Ibid., pp. 101, 104, 249; ver também o novo e universal
Catechism of the Catholic Church (The Wanderer Press,
1994), p. 285, parágrafo 864 (ed. francesa); James A.
Coriden, Thomas J. Green, Donald E. Heintschell, eds.,
The Code of Canon Law (Paulist Press, 1985), cânon
897.
3. John A. Hardon, S.J., Pocket Catholic Dictionary
(Doubleday, 1966), p. 132.
4. The New Saint Joseph Baltimore Catechism, nº 2
(Catholic Book Publishing Co., New York, 1969), p. 171.
Ver também o novo e universal Catechism of the
Catholic Church (The Wanderer Press, 1994), pp. 284-
304.
5. Ibid., p. 168; ver também o Concílio Vaticano II e o novo e
universal Catechism of the Catholic Church.
6. Flannery, op. cit., pp. 114, 1.
7. Ibid., volume 2, p. 36.
8. Hardon, op. cit., p. 249.
9. Ibid.
10. Madre Teresa, In the Silence of the Heart.
11. Flannery, op. cit., pp. 132-133.
12. New Covenant, fevereiro de 1994, pp. 16-17.
13. D. Antonio Gavin, A Master Key to Popery: In Five
Parts, 3ª ed. (Londres, Inglaterra, 1773), pp. 184-188.
14. Guenter Lewy, The Catholic Church and Nazi Germany
(McGraw-Hill, 1964), p. 272.
15. Flannery, op. cit., volume 1, pp. 102-103.
16. James A. Coriden, Thomas J. Green, Donald E.
Heintschel, eds., The Code of Canon Law (Paulist Press,
1985), p. 646.
17. Flannery, op. cit., volume 1, p. 102.
18. John M. Drickamer, “The Real Presence”, Christian
News, 21 de fevereiro de 1994, pp. 5, 11.
19. Hardon, op. cit., p. 248.
20. Ibid, p. 250.
21. Catholic World Report, abril de 1994, p. 38.
22. Hardon, op. cit., p. 271.
Capítulo 25 – A Reforma Traída
1. David Beale, Southern Baptist Convention, House on
the Sand? pp. 142-143; Dallas Morning News, 19 de
agosto de 1978.
2. McCall’s, janeiro de 1978.
3. Michael de Semlyen, All Roads Lead to Rome?
(Dorchester House Publications, England, 1991), p. 178
(ver também Time, 15 de outubro de 1979; Christianity
Today, 3 de novembro de 1979; Saturday Evening Post,
janeiro-fevereiro de 1980.)
4. Cleveland Plain Dealer, 27 de março de 1994, p. 4-B,
“Catholics, Protestants work for Graham crusade”.
5. Citado do Halley’s Bible Handbook, modificado pela
Cruzada de Billy Graham, edição especial publicada (com
permissão da Zondervan Publishing House) pela Grason
Company, 13 S. 13th. St., Minneapolis, MN, citado na
obra de Wilson Ewin, Today’s Evangelicals Embracing
the World’s Deadliest Cult (Quebec Baptist Mission, Box
113, Compton, Quebec, Canada J0B 1LO, 1994), p. 57.
6. Henry H. Halley, Pocket Bible Handbook (Chicago,
1944), pp. 608-613.
7. D. Antonio Gavin, A Master Key to Popery: In Five Parts,
3ª ed. (Londres, Inglaterra, 1773).
8. Will Durant, The Story of Civilization (Simon and
Schuster, 1950), volume VI, pp. 531-532; ver também E.
H. Broadbent, The Pilgrim Church (Londres, 1931).
9. Durant, op. cit., torno VI, pp. 530-531.
10. Ibid. pp. 529-530.
11. Ibid., pp. 543-548.
12. Ibid., pp. 549, 576-577.
13. Ibid.
14. Ibid., pp. 577-578.
15. Ibid., p. 577.
16. Ibid., p. 591.
17. Rev. John Foxe, M.A., Foxe’s Book of Martyrs, ed.
William Byron Forbush (Zondervan, 1962), pp. 207-208.
18. R. Tudor Jones, The Great Reformation (InterVarsity
Press), p. 164.
19. Ibid.
20. Foxe’s Book of Martyrs, ed. Forbush (ed. de 1962), op.
cit., pp. 247-249.
21. Ibid.
22. Durant, op. cit., volume VI, pp. 598-601.
23. Sidney Z. Ehler, John B. Morrall, trad. e ed., Church and
State Through the Centuries (Londres, 1954), pp. 180-
183.
24. Semlyen, op. cit., p. 148.
25. Ibid., p. 150.
26. Washington Times, 24 de fevereiro de 1994; The
Catholic World Report, abril de 1994, pp. 20,21.
27. Peter Kreeft, Fundamentals of the Faith: Essays in
Christian Apologetics (Ignatius Press, 1988), p. 107.
28. Seattle Times; 8 de maio de 1990, “Pope warns against
sects”.
29. Moody Monthly, novembro de 1993.

30. Foundation, jan./fev. de 1987, pp. 5-6; ibid., maio-jun. de


30. Foundation, jan./fev. de 1987, pp. 5-6; ibid., maio-jun. de
1989, p. 10; “Celebration 2000 Letter”, 14 de outubro de
1993; anúncio dos conferencistas na International World
Convention of the FGBMFI, Charisma, maio de 1991;
Charisma, abril de 1988, p. 86; Full Gospel Business
Men’s Voice, março de 1987, pp. 3-9; Foundation, nov.-
dez. 1990, pp. 8-9; Christianity Today, 5 de março de
1982; Charisma, agosto de 1993, p. 78; Folheto “1993
Consultation on Evangelization of the Catholic World”,
produzido por Youth With A Mission (Dublin, Irlanda).
31. Flannery, op. cit., volume 1, p. 380.
32. Por exemplo, Wanderer, 30 de junho de 1994,
entrevista com Patrick Madrid, citada em Christian News,
4 de julho de 1994, p. 2; “Roman Catholic Double-Talk at
Indianapolis ’90”, Foundation, jul.-ago. de 1990; papa Pio
XII, De Motione oecumenica, 20 de dezembro de 1949.
33. David W. Cloud, Flirting with Rome, Volume 3, The
Southern Baptist Convention (Way of Life Literature,
1219 North Harns Road, Oak Harbor, WA 98277, 1993),
p. 23.
34. Ibid., p. 29.
35. De uma fita do programa “Praise the Lord” (TBN), 17
de outubro de 1989.
36. The Southern Cross, 13 janeiro de 1994, p. 11.
37. Kenneth Kantzer, Christianity Today, 18 de novembro
de 1988.
38. Por exemplo, The Tidings (periódico oficial da
arquidiocese católica de Los Angeles), volume 97, nº 32,
9 de agosto de 1991, p. 9; St. Louis Review, 12 de julho
de 1991, pp. 1, 8.
39. The Portland Catholic Sentinel, 25 de setembro de
1992.
40. “Billy Graham Crusade Scheduled for Nassau
Coliseum: Assistance Sought from Catholics”,
Charismatic News Notes, publicado pela diocese de
Rockville Centre, 129 Broadway, Hicksville, NY 11801,
maio de 1990, p. 1.
41. St. Louis Review, 27 de setembro de 1991.
42. Gastonia Gazette, 22 de novembro de 1967.
43. Newsweek, 23 de junho de 1969.
44. Southern California Christian Times, volume 5, Nº 1,
janeiro de 1994, Orange Co./L. A. ed., p. 1.
45. Kreeft, op. cit.
46. Foxe’s Book of Martyrs, editado por Forbush (edição de
1962), op. cit., pp. 233-237; Jones, op. cit., pp. 164-165.
Capítulo 26 – Apostasia e Ecumenismo
1. Citado em All Roads Lead to Rome? de Michael de
Semlyen (Dorchester House Publications, Inglaterra,
1991), p. 183.
2. Programa de televisão “Praise the Lord”, transmitido pela
Trinity Broadcasting Network, 17 de outubro de 1989,
apresentado por Paul and Jan Crouch. Os convidados
eram dois sacerdotes católicos, padres John Hamsch e
Herbert de Souza, S.J., e uma destacada leiga católica,
Michelle Corral.
3. Los Angeles Herald Examiner, 19 de setembro de 1987,
página sobre religião.
4. Billy Graham, The Saturday Evening Post, janeiro-
fevereiro de 1980.
5. Focus on the Family Citizen, janeiro de 1990, p. 10.
6. Da página 23 da versão final da declaração conjunta.
7. “What Separates Evangelicals and Catholics?”
Christianity Today, outubro de 1981.
8. World Evangelization, novembro-dezembro de 1989,
janeiro de 1990.
9. Papa Pio XII, De Motione oecumenica, 20 de dezembro
de 1949.
10. Mistici Corporis, 29 de junho de 1943.
11. Thomas Howard, Evangelical Is Not Enough (Ignatius
Press, 1984).
12. Poderíamos dar uma longa lista de lojas e
distribuidores, mas não vamos mencioná-los na
esperança que mudem seus critérios.
13. “Spiritual Vision of Man”, papa João Paulo II,
L’Osservatore Romano, 10 de fevereiro de 1986, p. 5.
14. Los Angeles Times, 5 de fevereiro de 1993.
15. L’Osservatore Romano, 10 de fevereiro de 1993
segunda reimpressão de The Christian News, 2 de
agosto de 1993, p. 22.
16. Abbe Daniel Le Roux, Peter, Lovest Thou Me?
(Australia: Instauratio Press, 1989), p. 140.
17. National Catholic Reporter, 19 de fevereiro de 1993, p.
11.
18. Le Roux, op. cit., pp. 144-145.
19. La Croix, op. cit., 23 de agosto de 1985.
20. Le Roux, op. cit., p. 45.
21. H. Chadwick, The Early Church (Wm. B. Eerdmans,
1967), p. 243.
22. The Roman Catholic, junho-julho de 1984, p. 32.
23. The Catholic World: The New Age, a Challenge to
Christianity, maio/junho de 1989.
24. Momentum/abril de 1990, seção especial, Spirituality of
the Catholic Educator.
25. Chicago Sun Times, 24 de dezembro de 1989.
26. Time, 17 de setembro de 1979, p. 96.
27. Newsweek, 17 de setembro de 1979, p. 115.
28. Our Sunday Visitor, 13 de novembro de 1988.
29. Courier-Journal, 11 de maio de 1984, p. A7.
30. “Spiritual Vision of Man”, op. cit., p. 5.
31. Alan Geyer, “Religious Isolationism: Gone Forever?”
The Christian Century, 23 de outubro de 1974, pp. 980-
981.
32. The Oregonian, 20 de junho de 1992, p. C12; ver
também National Catholic Reporter, 4 de setembro de
1992, p. 15; ver também National Catholic Reporter, 17
de junho de 1994, p. 7 e também Our Sunday Visitor, 19
de junho de 1994, p. 2.
33. Our Sunday Visitor, 19 de junho de 1994, p. 19.
34. Le Roux, op. cit., p. 49.
35. The Catholic World Report, julho de 1992.
36. New York Times, 4 de junho de 1985.
37. National and International Religion Report, 21 de
fevereiro de 1994, p. 2.
38. John W. Robbins, “The Lost Soul of Scott Hahn”, The
Trinity Review, março de 1994, p. 4.
39. Orange County Register, 16 de abril de 1994.
40. Little Masonic Library (Macoy Publishing and Masonic
Supply, 1977), volume 4, p. 32.
41. Carol M. Ostrom, “Trust is key, interfaith group agrees”,
Seattle Times (Seattle, WA), 11 de março de 1987.
42. National Catholic Reporter, 9 de outubro de 1992, p.
13.
43. Por exemplo, Washington Post, 4 de setembro de
1993, pp. A1, F8; Minneapolis Tribune, 29 de agosto de
1993; Orlando Sentinel, 5 de setembro de 1993, p. A-16;
Seattle Times, WORLD, 1 de setembro de 1993;
Christian News, 6 de setembro de 1993, p. 14; National
Catholic Reporter, 10 de setembro de 1993 pp. 4, 3 e 24
de setembro pp. 11-14.
44. O Parlamento das Religiões Mundiais de 1993,
informação para registrar-se, p. 2 no subtítulo “Glimpses
of the 1993 Parliament”, e p. 3 na lista do programa
oficial do “1993 Parliament of the World’s Religions” que
ocorreria na quinta-feira à noite (às 8h00) ocupado pelas
sessões plenárias algumas noites. Este era o principal
evento do Parlamento naquele dia, com um local diferente
(Capela Rockefeller) devido à quantidade adicional de
espectadores que se aguardava. Todos os que estavam
inscritos foram transportados de ônibus desde a Palmer
House até a Capela Rockefeller.
45. The Orange County Register, 4 de setembro de 1993,
página sobre religião, Metro 9.
46. Los Angeles Times, 5 de setembro de 1993, p. A1.
47. D C de 2 de dezembro de 1980, p. 910, conforme
citado em Le Roux, op. cit., P. 110.
48. D C de 6 de fevereiro de 1985, p. 136 conforme citado
em Le Roux, op. cit., P. 111.
49. Le Roux, op. cit., p. 122.
50. Ibid., p. 124.
51. Ibid., pp. 124-125.
52. D C de 17 de janeiro de 1988, p. 80, conforme citado
em Le Roux, op. cit., p. 125.
53. Informe no The Voice of the Martyrs, junho de 1994, p.
6 (P. O. Box 443, Bartlesville, OK, 74005).
54. Bulletin d’information nº 1, novembro-dezembro de
1993, Mission Mondiale ’95 France, BP 3017, 16,
Impasse Bourdelle, 34500 Beziers, França.
55. The Catholic Herald, 2 de junho de 1993, pp. 3, 12.
56. Calvary Contender, 1 de janeiro de 1991. Ver também
Charisma, dezembro de 1990.
57. New Covenant, janeiro de 1993, pp. 8-9.
58. Edward D. O’Connor, C.S.S., The Pentecostal
Movement in the Catholic Church (Ave Maria Press,
1971), p. 58.
59. Ibid., p. 128.
60. Ibid., por exemplo, pp. 166-167.
61. De uma fita de vídeo do programa “Praise the Lord”
(TBN), 7 de março de 1990 - uma retransmissão da
cerimônia. (A fita mostrava que Schuller, Crouch e
Hayford estavam juntos.)
62. Papa Paulo VI, Nostra Aetate, 2, parágrafo 6.
Capítulo 27 – E Quanto a Maria?

1. São Alfonso de Ligorio, The Glories of Mary


1. São Alfonso de Ligorio, The Glories of Mary
(Redemptorist Fathers, 1931), p. 171. De Ligorio era
cardeal e santo, e reconhecido como uma autoridade em
Maria. Em seu livro ele cita o que os grandes santos da
Igreja disseram sobre este tema.
2. Ibid.
3. Devotions in Honor of Our Mother of Perpetual Help,
edição oficial (Ligorio Publications, sem data), pp. 46-47.
4. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), p. 427.
5. De Ligorio, op. cit., pp 82-83, 94, 160, 169-170.
6. Bookstore Journal, “Official Publications of the Christian
Booksellers Association”, fevereiro de 1992, p. 30.
7. NRI Trumpet, outubro de 1993, p. 14.
8. Time, 30 de dezembro de 1991, p. 62.
9. The Pope Speaks, março-abril, volume 39, nº 2, 1994, p.
105.
10. Citado em numerosos anúncios para as fitas de vídeo
dos programas de televisão de Fulton J. Sheen.
11. Fulton J. Sheen, Treasure in Clay, p. 317.
12. The Catholic Sun, 26 de maio, de 1993.
13. Time, 30 de dezembro de 1991, p. 64.
14. Kathleen R. Hayes, “All-Night Prayer Vigil Becomes
Devotion to Lady of the New Advent, a Heavenly
Goddess”, NRI Trumpet, outubro de 1993, pp. 6-14.
15. Ibid.
16. The Encyclopedia Britannica, volume 15, p. 459.
17. Hayes, op. cit.

18. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council


18. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(Londres, 1869), pp. 28-29.
19. Catholic Family News, abril de 1993,.p. 13.
20. Soul Magazine, novembro-dezembro de 1984, p. 4.
21. Catholic Twin Circle, 26 de agosto de 1990, p. 20.
22. Le Roux, op. cit., dedicatória.
23. Isso foi declarado explicitamente por alguns dos
“santos” da Igreja e também está contido em toda a
doutrina de clamar a Maria, de quem se obteria ajuda
mais rapidamente do que clamando diretamente a Deus
ou a Cristo. Ver Ligorio, op. cit., por ex. pp. 40, 130, 137,
156, 157, 174.
24. Devotions in Honor of Our Mother of Perpetual Help,
contracapa.
25. Catholic Twin Circle, 26 de agosto de 1990, p. 20.
26. The Fatima Crusader, inverno de 1992, p. 16.
27. Oração em um cartão publicado por The International
Fatima Rosary Crusade, RD 1, Box 258, Constable, NY
12926, que leva o imprimatur: 21 de fevereiro de 1961,
Francis Cardenal Spellman, arcebispo de Nova York.
28. Russell Ford, “Criminal Rehabilitation - Catholic Style”,
This Rock, fevereiro de 1994, p. 17.
29. John J. Delaney, ed., A Woman Clothed with the Sun
(Doubleday, 1961), pp. 63-88.
30. Time, 30 de dezembro de 1991, pp. 62-63.
Capítulo 28 – A Futura Nova Ordem Mundial
1. Time, 30 de dezembro de 1991, p. 62.
2. NRI Trumpet, outubro de 1993, p. 3.

3. Daughters of St. Paul, eds., Servant of the Truth:


3. Daughters of St. Paul, eds., Servant of the Truth:
Messages of John Paul II (St. Paul Editions, 1979,
reimpressos com permissão de L’Osservatore Romano),
volume 2, p. 384.
4. Time, 30 de dezembro de 1991, p. 62.
5. Irmão Michael da [iglesia] Santa Trindade de Sorbonne,
“Messages from Heaven to Earth: Fatima, Medjugorje,
Kebeho e Charismatic Renewal”, The Catholic
COUNTER-REFORMATION in the XXth Century,
novembro-dezembro de 1985, p. 1.
6. Time, 30 de dezembro de 1991, p. 62.
7. The Christian News, 13 de setembro de 1993, p. 3.
8. Our Sunday Visitor, 7 de fevereiro de 1993.
9. The Catholic World Reporter, março de 1994, p. 20.
10. Time, 30 de dezembro de 1991, p. 64.
11. The Catholic World Reporter, março de 1994, p. 20.
Ver também Houston Chronicle, 27 de julho de 1991.
12. The Catholic World Reporter, março de 1994, p. 23.
13. Miracle at Medjugorje, abril de 1988, Wayne Weible, p.
8.
14. Christian News, 2 de janeiro de 1989, p. 4, citando uma
entrevista com “Seer Vicka Ivankovic” em St. Louis
Dispatch, 25 de dezembro de 1988.
15. New Covenant, novembro de 1993, pp. 7-11.
16. Austin Flannery, O.P., editor geral, Vatican Council II:
The Conciliar and Post Conciliar Documents, ed. rev.
(Costello Publishing, 1988), volume 1, Lumen Gentium, 21
de novembro de 1964, 66, p. 421.

17. Catechism of the Catholic Church (Libreria Editrice


17. Catechism of the Catholic Church (Libreria Editrice
Vaticana – nos EUA, The Wanderer Press, St. Paul, MN,
1994), seção 971, p. 253, Imprimi Potest Joseph
Cardenal Ratzinger.
18. This Rock, maio de 1994, p. 11.
19. National Catholic Reporter, 29 de janeiro de 1993, p. 3.
20. USA Today, 29 de junho de 1994, p. 15A.
21. Papa João Paulo II, Redemptoris Missio, 86, 92.
22. Charisma, maio de 1994, p. 76.
23. Ibid.
24. Soul Magazine, março-abril de 1993, p. 19.
25. The Tablet, 29 de fevereiro de 1992.
26. The Christian World Report, maio de 1992.
27. Our Sunday Visitor, 29 de maio de 1994, p. 5.
28. Fulton J. Sheen, “Mary and the Moslems”, The World’s
First Love (Garden City Books, 1952); ver também
Malachi Martin, The Keys of this Blood: The Struggle for
World Dominion Between Pope John Paul II, Mikhail
Gorbachev and the Capitalist West (Simon and Schuster,
1990), p. 285.
29. The Fatima Crusader, inverno de 1992, capa e p. 3.
30. Ibid., novembro-dezembro de 1986, p. 9.
31. St. Louis Review, 4 de novembro de 1988, citado em
Christian News, 14 de novembro de 1988, pp. 10-11.

32. Malachi Martin, The Keys of this Blood: The Struggle


32. Malachi Martin, The Keys of this Blood: The Struggle
for World Dominion Between Pope John Paul II, Mikhail
Gorbachev and the Capitalist West (Simon and Schuster,
1990), pp. 626-627; ver também a entrevista com
Malachi Martin, Washington Times, 28 de setembro de
1990, p. B6.
33. La Croix, 17 de agosto de 1981, segundo citado em
Abbe Daniel Le Roux, Peter, Lovest Thou Me? (Australia:
Instauratio Press, 1989), p. 18.
34. Citado no verso de um cartão com a foto do papa
inclinando-se diante da estátua de Nossa Senhora de
Fátima. “Este cartão de oração foi publicado para
comemorar a visita do papa João Paulo II a Fátima em
13 de maio de 1982, e para ser usada especialmente
durante a vigília noturna mundial patrocinada pelo
Exército Azul de Nossa Senhora de Fátima [Washington,
NJ 07882) em 12-13 de maio de 1982”.
35. The Fatima Crusader, novembro-dezembro de 1986, p.
9.
36. Our Lady of Fatima’s Peace Plan from Heaven (Tan
Books and Publishers, 1983), interior de contracapa.
37. Ibid., contracapa.
38. The Fatima Crusader, novembro-dezembro de 1986, p.
1 de carta de apelação inserida no meio da revista, que
começa: “Estimado Amigo Católico”.
39. Lucia Speaks on the Message, pp. 26, 29-31, 47.
40. Citado no começo de cada programa de rádio
“Heaven’s Peace Plan” [Plano de paz do céu], da Igreja
Católica, transmitido diariamente nos EUA e produzido
pela International Fatima Rosary Crusade, dirigido pelo
padre Nicholas Gruner, que também publica a revista The
Fatima Crusader (com um milhão de leitores, segundo se
calcula). Eles alegam que esse programa de rádio chega
a milhões de pessoas nos Estados Unidos e Canadá
toda semana “com a mensagem urgente de Nossa
Senhora de Fátima”. No início do programa também se
afirma que “Somente pela obediência à mensagem de
nossa Senhora de Fátima que nós, aqui na América do
Norte, evitaremos ser escravizados pela Rússia
comunista. Somente pela imediata obediência à
mensagem de Nossa Senhora de Fátima que o mundo
terá paz...”
41. The Dallas Morning News, 25 de junho de 1993.
42. Lucia Speaks: The Message of Fatima According to
the Exact Words of Sister Lucia, Published by the Most
Reverend bishop of Fatima (Washington, NJ: Ave Maria
Institute, 1968), p. 46
43. Lucia Speaks on the Message of Fatima (Washington,
NJ: Ave Maria Institute), pp. 26, 30-31, 47.
44. Ver Dave Hunt, Whatever Happened to Heaven?
(Harvest House Publishers, 1988), para um relato
compreenssível de como essas coisas ocorreram.
45. Hayes, Trumpet, outubro de 1993, op. cit.
46. Orange County Register, 25 de abril de 1993, editorial,
L01.

47. Por exemplo, Tidings, 20 de outubro de 1989; Los


47. Por exemplo, Tidings, 20 de outubro de 1989; Los
Angeles Herald Examiner, 19 de setembro de 1987,
página sobre religião.
48. New Evangelization 2000, 1ª edição, julho-agosto de
1987, p. 15.
49. Desmond Doig, Mother Teresa: Her People and Her
Work (Harper and Row, 1976), p. 156.
50. New Evangelization 2000, 9ª edição, pp. 11-12.
51. Time, 4 de dezembro de 1989, p. 12; Masterpiece,
inverno de 1988, p. 6.
52. Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, 20 de
abril de 1993, em conferência à imprensa, The New
American, 6 de setembro de 1993, p. 24.
53. National Catholic Reporter, 19 de junho de 1992, p. 4.
54. Our Sunday Visitor, 24 de janeiro, de 1993, p. 2.
55. Inside the Vatican, outubro de 1993, p. 41.
56. Ibid., p. 37.
57. World Goodwill Newsletter, 1989, Nº 4, pp. 1, 3.
58. The New York Times, 21 de junho de 1984.
59. The New American, 6 de setembro de 1993, p. 27.
60. Citado na revista Foundation, julho-agosto de 1993, p.
7.
61. Ibid.
Apêndice A: O Purgatório
1. Austin Flannery, O.P., (editor geral), “Apostolic
Constitution on the Revision of Indulgences”, Vatican
Council II: The Conciliar and Post Conciliar Documents,
ed. rev. (Costello Publishing, 1988), vol. 1, p. 63.
2. The Canons and Decrees of the Council of Trent, trad.e
ed. por H. J. Schroeder, O.P. (Tan Books, 1978), Sexta
Seção, Cânon 30, p. 46.
3. Flannery, op. cit., vol. 2, p. 394.
4. Ibid., pp. 63-64.
5. Ibid., p. 205.
6. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(Londres, 1869), pp. 186-187.
7. Karl Keating, Catholicism and Fundamentalism: The
Attack on “Romanism” by “Bible Christians” (Ignatius
Press, 1988), p. 190.
8. Flannery, op. cit., vol. 1, “Apostolic Constitution on the
Revision of Indulgences”, 115., 1116, pp. 65, 68.
Apêndice B: As Indulgências
1. James A. Coriden, Thomas J. Green, Donald E.
Heintschel, eds., The Code of Canon Law (Paulist Press,
1985), Cânones 992-994, pp. 698-699.
2. Austin Flannery, O.P., (editor geral), “Apostolic
Constitution on the Revision of Indulgences”, Vatican
Council II: The Conciliar and Post Conciliar Documents,
ed. rev. (Costello Publishing, 1988), vol. 1, pp. 66-70.
3. Ibid., p. 72.
4. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(Londres, 1869), pp. 186-187.
5. Earle E. Cairnes, Christianity Through the Centuries: A
History of the Christian Church (Zondervan Publishing
House, 1981), p. 282.
6. “About the Brown Scapular”, folheto publicado por The
Blue Army of Our Lady of Fatima, Washington, NJ,
07882.
7. São Alfonso de Ligorio, The Glories of Mary
(Redemptorist Fathers, 1931), p. 235.
8. “About the Brown Scapular”, op. cit.
9. Flannery, op. cit., vol. 1, pp. 77-78.
10. Coriden, et al., op. cit., p. 646.
11. Will Durant, The Story of Civilization (Simon and
Schuster, 1950), vol. VI, p. 24.
12. D. Antonio Gavin, A Master-key to Popery: In Five
Parts, 3a ed. (Londres, 1773), p. 141.
13. Peter Kreeft, Fundamentals of the Faith: Essays in
Christian Apologetics (Ignatius Press, 1988), p. 278.
14. Charles Colson, The Body, Being Light in Darkness
(World Publishing, 1992), p. 271.
15. Flannery, op. cit., vol. 1, pp. 71, 74.
Apêndice C: Domínio Sobre Reis: Mais Documentação
1. Sidney Z. Ehler and John B. Morrall, (trad. e eds.),
Church and State Through the Centuries (Londres,
1954), p. 70.
2. Ibid., pp. 73-75.
3. Ibid., pp. 273-275.
4. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(Londres, 1869), p. 339.
5. Ehler y Morrall, op. cit., pp. 173-180 para uma cópia da
Bula; ver também Dollinger, op. cit., pp. 311-312.
6. Our Sunday Visitor, 22 de agosto de 1993, pp. 10-11.
7. Emmett McLaughlin, An Inquiry Into the Assassination of
Abraham Lincoln (The Citadel Press, 1977), p. 45.
8. Citado en How the Pope Became Infallible, de August
Bernhard Hasler, (Doubleday & Co. Inc., 1981), p. 245.
9. G. S. Godkin, Life of Victor Emmanuel II (Londres,
1880), pp. 76-77.
10. Dollinger, op. cit., pp. 236-237.
11. The Encyclopedia Britannica (edição de 1910), p. 579.
Apêndice D: A Infalibilidade Papal e a Sucessão
Apostólica
1. Brian Tierney, Origins of Papal Infallibility, 1150-1350: A
Study on the Concepts of Infallibility, Sovereignty and
Tradition in the Middle Ages (Leiden, Holanda, 1972), p.
144.
2. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(Londres, 1869), p. 58.
3. Lars Qualben, History of the Christian Church.
4. Sidney Z. Ehler and John B. Morrall, (tradutores e
redatores), Church and State Through the Centuries
(Londres, 1954), pp. 7-9.
5. Ibid., pp. 9-10.
6. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishers, 1988), pp. 93-94.
7. Dollinger, op. cit., p. 244.
8. Ibid., pp. 244-245.
Apêndice E – Papas Hereges, a Bíblia e Galileu
1. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the
Papacy (Crown Publishing, Inc., 1988), pp. 217-219.
2. Austin Flannery, O.P., editor geral, “Dogmatic Constitution
on Divine Revelation”, Vatican Council II: The Conciliar
and Post Conciliar Documents, ed. rev. (Costello
Publishing, 1988), p. 757.
3. Segundo Concílio Vaticano, Vatican Council II, Divine
Revelation (edição parafraseada dos Cavaleiros de
Colombo), III, 11e.
Apêndice F – E Quanto à Tradição?
1. Austin Flannery, O.P., editor general, “Dogmatic
Constitution on Divine Revelation”, Vatican Council II:
The Conciliar and Post Conciliar Documents, ed. rev.
(Costello Publishing, 1988), volume 1, p. 754.
2. Ibid., pp. 755-756.
3. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council
(Londres, 1869), pp. 78-93.
4. Ibid., pp. 99-106.
5. Ibid., pp. 83-85.
6. Richard Bennett, Appraisal Kit on Roman Catholicism,
disponível com Berean Beacon, P. O. Box 55353,
Portland, OR 97238-5353.
Apêndice J – Pio XII, os Nazistas e os Judeus
1. Saul Friedlander Pius XII and The Third Reich: A
Documentation Alfred A. Knopf, 1996. pp. 131-133.
2. Friedlander, pp. 206-207.
3. Friedlander, p. 145.
4. Friedlander, pp. 145-146.
5. Paul I. Murphy, La Popessa Warner Books, 1983.
6. Murphy, p. 52.
7. Murphy, pp. 162-163.

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