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Besta
DAVE HUNT
A Mulher Montada na
Besta!
“Trans por tou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma
mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de
blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres”.
– Apocalipse 17.3
A Profecia Mais
Impressionante das
Escrituras
Nas páginas seguintes mostraremos que a
identidade da mulher foi meticulosamente revelada
pelo próprio João de uma maneira que não restam
dúvidas. Veremos também que a visão da mulher é
uma das mais notáveis e importantes profecias das
Escrituras. As revelações feitas sobre essa mulher,
dadas pelo Espírito Santo, impressionaram muito a
João e continuam sendo chocantes até hoje.
Muitas das visões que João teve já se
cumpriram na história e, portanto, podem ser
inquestionavelmente constatadas. Baseados naquilo
que nos foi revelado pelo apóstolo João, nossa
identificação da identidade da mulher será feita de
forma cuidadosa e inequívoca. Embora muitos
leitores possam vir a questionar nossas conclusões,
ninguém será capaz de refutá-las.
A verdade sobre a visão da mulher montada na
besta é uma das profecias mais assombrosas das
Escrituras. Dizemos especificamente “das
Escrituras” porque profecias importantes que foram
registradas durante séculos e tiveram um
cumprimento posterior são exclusivas da Bíblia. Não
estamos falando de conjecturas de pouca
importância, feitas por videntes, mas de profecias
que envolvem eventos globais de grande importância
e que têm um irrefutável registro histórico.
A imagem da mulher montada na besta, como
veremos, nos dará subsídios importantes para
entendermos melhor os eventos que fizeram parte da
história mundial no passado e que determinarão o
destino da humanidade no futuro. Essa mulher não
está somente sobre a besta, mas também na
culminância de séculos de profecias bíblicas.
Uma Questão de
Credibilidade
Estamos simplesmente sensacionalizando a
visão de João? Por que deveríamos nos interessar
por sua interpretação hoje em dia? A questão da
relevância desse assunto pode ser facilmente
esclarecida. A maioria das profecias da Bíblia já se
cumpriu. Portanto, é muito simples e fácil examinar-
se tais registros. Por causa dos muitos que irão
duvidar e também para fortalecer a fé daqueles que
já crêem, devemos dar um rápido passeio pelo
fascinante mundo da profecia bíblica. Provaremos
que as profecias do passado eram impecavelmente
exatas, seu cumprimento não pode ser explicado
pelo acaso e as evidências nos asseguram que não
estamos perdendo nosso tempo examinando as
profecias concernentes ao futuro. Essa mulher
montada na besta realmente tem muito a nos
mostrar sobre o futuro.
Depois de alcançarmos o nosso objetivo iremos
focalizar nossa atenção em Apocalipse 17 e 18,
tratando de revelar a identidade e o papel que essa
mulher montada na besta terá no futuro, certos que
a profecia será cumprida exatamente como João nos
revelou.
Muitas das informações que iremos apresentar
aqui não farão deste livro uma leitura agradável.
Mesmo que perturbe e desafie muitos dos conceitos
do leitor, a verdade, apesar de negada por muitos,
será bem documentada. Além disso, essa é uma
realidade que todas as pessoas do planeta Terra (em
especial os que se consideram cristãos), e acima de
tudo os católicos romanos, precisam urgentemente
perceber.
Lamentamos principalmente por aqueles
católicos romanos sinceros, que depositam grande
confiança em sua Igreja, aceitando o que a
hierarquia católica lhes diz, sem estudar a história
para aprenderem toda a verdade. É nossa esperança
e oração que os fatos aqui relatados sejam
comparados com os registros históricos, para que
assim muitos dos devotos seguidores de Roma
venham a encarar as evidências.
CAPÍTULO 2
– Isaías 46.9-10
História de Perseguição
Além disso, os profetas declararam que esse
povo espalhado não apenas seria difamado,
denegrido e discriminado, mas:
6) Seria perseguido e assassinado como
nenhum outro povo na face da terra, fato que a
história atesta com eloqüente testemunho, pois foi
exatamente o que aconteceu aos judeus, século após
século, onde quer que fossem encontrados. O
registro histórico de nenhum outro grupo étnico ou
nacional contém algo que ao menos se aproxime do
pesadelo de terror, humilhação e destruição que os
judeus têm suportado no decorrer da história pelas
mãos dos povos entre os quais foram espalhados.
Vergonhosamente, muitos que afirmavam ser
cristãos e, portanto, seguidores de Cristo, Ele
mesmo um judeu, estavam na linha de frente da
perseguição e extermínio dos judeus. Havendo
ganho completa cidadania no Império Romano
pagão, em 212, sob o Édito de Caracalla, os judeus
se tornaram cidadãos de segunda classe e objeto de
incrível perseguição depois que o imperador
Constantino supostamente tornou-se cristão. A partir
daí, os que se chamavam cristãos tornaram-se mais
cruéis com os judeus do que os pagãos jamais
haviam sido.
Os papas católicos romanos foram os primeiros
a fomentar ao máximo o anti-semitismo. Hitler, que
permaneceu católico até o fim, afirmou que estava
apenas seguindo o exemplo dos católicos e dos
luteranos concluindo o que a igreja havia começado.
O anti-semitismo fazia parte do catolicismo, do qual
Martim Lutero jamais se libertou. Ele advogava que
se incendiassem as casas dos judeus, dando-lhes a
alternativa de se converterem ou ficarem sem a
língua.[1] Quando os judeus de Roma foram
libertados de seus guetos pelo exército italiano em
1870, sua liberdade finalmente pôs fim a cerca de
1.500 anos de inimaginável humilhação e
degradação nas mãos dos que afirmavam ser os
vigários de Cristo. Papa nenhum odiou os judeus
mais do que Paulo IV (1555-1559), cuja crueldade
foi além da imaginação humana. O historiador
católico Peter de Rosa confessa que uma inteira
“sucessão de papas reforçou os antigos preconceitos
contra os judeus, tratando-os como leprosos,
indignos da proteção da lei. Pio VII (1800-1823) foi
sucedido por Leão XII, Pio VIII, Gregório XVI e
Pio IX (1846-1878) – todos eles discípulos de Paulo
IV.[2] O historiador Will Durant nos lembra que
Hitler teve bons precedentes para a suas sanções
contra os judeus:
O Concílio (católico romano) de Viena (1311) proibiu
qualquer transação entre cristãos e judeus. O Concílio
de Zamora (1313) estabeleceu que era proibido aos
cristãos se associarem aos judeus... E levou as
autoridades seculares (como a Igreja havia há muito
estabelecido em Roma e nos Estados papais) a
confinar os judeus em quarteirões separados (guetos)
e compeli-los a usar um distintivo (antes havia sido um
chapéu amarelo) e assegurando sua freqüência aos
sermões para que se convertessem.[3]
Preservação e Renascimento
Deus declarou que, apesar de tais perseguições
e massacres periódicos,
7) Ele não permitiria que o Seu povo fosse
destruído, mas o preservaria como um grupo étnico
e nacional identificável (Jeremias 30.11; 31.35-37,
etc.). Os judeus teriam toda razão de se misturarem
através de casamentos [com os gentios], de
mudarem seus nomes e de esconderem sua
identidade de todas as maneiras possíveis, a fim de
escaparem à perseguição. Por que preservaram sua
linhagem sangüínea, se não possuíam uma terra
própria, se a maioria não cria literalmente na Bíblia e
se a identificação racial só lhes trazia as mais cruéis
desvantagens?
Deixar de se misturar através do casamento não
fazia sentido. A absorção por aqueles entre os quais
eles viviam parecia inevitável, assim sendo, poucos
sinais que caracterizam os judeus como povo
distinto deveriam permanecer até hoje. Afinal,
aqueles exilados desprezíveis foram espalhados por
todos os cantos da terra por 2.500 anos, desde a
destruição de Jerusalém por Nabucodonosor em 586
a.C. Poderia a “tradição” ser tão forte sem uma fé
real em Deus?
Contra todas as previsões, os judeus
permaneceram um povo distinto depois de todos
esses séculos. Este fato é um fenômeno sem paralelo
na história e absolutamente peculiar aos judeus. Para
a maioria dos judeus que viviam na Europa, a lei da
igreja tornava impossível o casamento misto sem a
conversão ao catolicismo romano. Aqui mais uma
vez a Igreja Católica desempenhou um papel
infame. Durante séculos era pecado mortal, sob a
jurisdição dos papas, o casamento entre judeus e
cristãos, proibindo os casamentos mistos mesmo
entre os que o desejassem.
A Bíblia diz que quando Deus determinou
guardar o Seu povo escolhido separado para Si
próprio (Êxodo 33.16; Levítico 20.26, etc.), o fez
porque:
8) Ele os traria de volta à Sua terra nos últimos
dias (Jeremias 30.10; 31.8-12; Ezequiel 36.24,35-
38, etc.), antes da segunda vinda do Messias. Essa
profecia e promessa há tanto esperada foi cumprida
com o renascimento de Israel em sua Terra
Prometida. Isso aconteceu em 1948, quase 1.900
anos após a Diáspora final, que se deu na destruição
de Jerusalém pelos exércitos romanos liderados por
Tito no ano 70. Essa restauração de uma nação,
depois de 25 séculos, é absolutamente espantosa,
um fenômeno sem paralelo na história de qualquer
outro povo e inexplicável por meios naturais e muito
menos pelo acaso. Mais notável é que
9) Deus declarou que nos últimos dias, antes da
segunda vinda do Messias, Jerusalém se tornaria
“um cálice de tontear... uma pedra pesada para
todos os povos” (Zacarias 12.2-3). Quando
Zacarias fez essa profecia, há 2.500 anos, Jerusalém
permanecia em ruínas e cheia de animais selvagens.
A profecia de Zacarias parecia uma grande loucura,
mesmo após o renascimento de Israel em 1948. Pois
hoje, exatamente como foi profetizado, um mundo
de mais de 6 bilhões de pessoas tem os seus olhos
voltados para Jerusalém, temendo que a próxima
Guerra Mundial, se explodir, seja travada por causa
dessa pequenina cidade. Que incrível cumprimento
da profecia!
Uma Conspiração da
Páscoa?
“Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o
Nazareno... sendo entregue pelo determinado desígnio e
presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de
iníquos”.
Contradição Inconsistente?
Obviamente é ridículo pensar que Jesus
deixou-Se crucificar a fim de convencer um
pequeno bando de seguidores incultos e ineptos de
que Ele era o Cristo. De fato, nem Seus discípulos
nem qualquer outro judeu, inclusive João Batista,
poderia crer (embora as profecias fossem claras,
como Cristo sempre explicou) que o Messias seria
crucificado. Na verdade Sua morte até parecia ser
uma prova de que Ele não era o Messias, e
cumprindo assim, literalmente, as profecias
referentes à Sua crucificação, como Ele o fez, não
seria o meio mais apropriado de conseguir
seguidores. A verdade é que a morte de Cristo,
segundo as profecias ocorreu para pagar a
penalidade pelos nossos pecados.
As profecias referentes à Sua morte (Salmo
22.16; Isaías 53.5; 8-10; Zacarias 12.10, etc.) eram
evitadas pelos judeus, como mistérios impenetráveis,
pois pareciam totalmente destoantes das outras, as
quais declaravam claramente que o Messias haveria
de subir ao trono de Davi e governar um reino
magnífico. Como poderia o Messias estabelecer um
reino e uma paz sem fim (Isaías 9.7) e ao mesmo
tempo ser rejeitado e crucificado pelo Seu próprio
povo? Parecia impossível que ambas fossem
verdadeiras, por isso os intérpretes judeus
simplesmente ignoravam o que não fazia sentido
para eles.
O fato dos judeus terem conseguido crucificar
Jesus foi a prova final e triunfante para os rabinos, e
serviu como uma frustrante mas inegável evidência
para o povo judeu e para os Seus discípulos mais
devotados de que Jesus de Nazaré não podia ser o
Messias. O reino messiânico que havia sido
profetizado não tinha sido estabelecido e Ele não
havia trazido paz a Israel, livrando-o dos seus
inimigos. Sendo assim, na melhor das hipóteses Ele
era um impostor bem-intencionado e, na pior delas,
uma fraude deliberada. Esse continua sendo o
argumento da maioria dos judeus hoje em dia.
Existia, porém, uma maneira de reconciliar
essas aparentes contradições: o Messias deveria vir
duas vezes, a primeira para morrer pelo pecado dos
homens e a segunda para reinar assentado sobre o
trono de Davi. Mesmo que Jesus tenha explicado
esses fatos antes deles acontecerem, ninguém
conseguiu entendê-los. Seria preciso que Ele
ressuscitasse para abrir os olhos cegos.
Incríveis Cumprimentos de
Profecias Se Jesus tivesse
conspirado para realizar as
profecias, Ele também teria
de induzir Pilatos a condenar
os dois ladrões a serem
crucificados com Ele, para
que Isaías 53.9 se cumprisse.
Teria também de saber quais
soldados estariam de serviço
naquele dia, a fim de poder
suborná-los com
antecedência para que
dividissem as Suas vestes,
deitando sortes sobre a Sua
túnica (Salmo 22.18),
dessem-Lhe vinagre
misturado com fel para
beber (Salmo 69.21), O
traspassassem com uma
lança (Zacarias 12.10) ao
invés de quebrar Suas
pernas, conforme o costume
da época, pois isso não
poderia ser feito ao Messias
(Êxodo 12.46; Salmo 34.20).
Os rabinos também eram parte da conspiração?
Foi por isso que eles pagaram a Judas exatamente
30 moedas de prata pela traição, conforme
profetizado em Zacarias (11.12), tendo sido esse
dinheiro usado para comprar o “campo do oleiro”
para cemitério de forasteiros (Mateus 27.7), depois
que Judas atirou para o santuário as moedas, o que
também foi profetizado (Zacarias 11.13)? É por isso
que eles crucificaram Jesus exatamente no momento
em que os cordeiros pascais estavam sendo mortos
em todo o Israel, em cumprimento de Êxodo 12.6?
Quanto mais se examina o cenário dessa
“Conspiração da Páscoa”, mais ridícula ela se
torna.
Onde Jesus conseguiu dinheiro para pagar a
multidão que se amontoava na estrada que leva a
Jerusalém e O saudou como o Messias, enquanto
montava um jumento – o último animal que se
esperaria ser escolhido como a montaria de um rei
triunfante – precisamente como fora profetizado em
Zacarias 9.9? Isso ocorreu no dia 10 do mês de
Nissan [6 de abril] do ano 32, o dia exato predito
pelos profetas em que esse incrível evento
aconteceria. Ou seja, 483 anos depois do dia (69
semanas de anos, conforme a profecia de Daniel
9.25) em que Neemias, no vigésimo ano do reinado
de Artaxerxes Longimanus (465-425 a.C.), recebeu
[dia 1º de Nissan de 445 a.C.] autorização para
reconstruir Jerusalém (Neemias 2.1)! O
cumprimento em Jesus, dessas e das muitas outras
profecias messiânicas em seus mínimos detalhes,
não pode ser nem de longe negado.
Corpo Desaparecido,
Túmulo Vazio Além do mais,
se Jesus tivesse tido sucesso
na “conspiração” para ser
crucificado na data e no
tempo exato que havia sido
profetizado – apesar da
determinação dos rabinos
para que ocorresse o
contrário (Mateus 26.5;
Marcos 14.2), – Ele ainda
teria de ressuscitar dos
mortos. Nenhuma
Conspiração da Páscoa, não
importa quantos
conspiradores estivessem
envolvidos, poderia fazer
com que isso ocorresse. Uma
“ressurreição” de mentira
não seria o suficiente para
que Seus seguidores
propagassem o cristianismo.
Somente se Cristo tivesse
realmente morrido e
ressuscitado é que os
apóstolos teriam motivação e
coragem para proclamar o
Evangelho, enfrentando
perseguições e o martírio.
Os soldados romanos não dormiram durante a
guarda. Se isso tivesse acontecido enquanto os
discípulos roubavam o corpo, todos eles seriam
crucificados no dia seguinte, por terem cometido o
crime de violar o selo romano que estava na pedra
colocada sobre o túmulo. Se os discípulos tivessem
roubado o corpo e, de algum modo, mantivessem
isso em segredo, por que morreriam por uma
mentira? Eles eram tão covardes que nenhum deles
quis morrer pelo que acreditavam ser a verdade.
Mesmo assim, mais tarde quase todos morreram
como mártires, declarando até o fim serem
testemunhas oculares da ressurreição de Jesus.
Nenhum deles tentou salvar a própria vida em troca
da revelação do lugar onde o corpo havia sido
escondido. Simplesmente não existe maneira de se
explicar um túmulo inegavelmente vazio, exceto pela
ressurreição.
Nem o hinduísmo, o budismo, o islamismo ou
qualquer outra religião do mundo pode ter a
pretensão de afirmar que o seu líder ainda está vivo.
Para o cristianismo, contudo, a ressurreição é o
coração do Evangelho. Se Cristo não ressuscitou dos
mortos, então tudo não passa de uma fraude. Jesus
não mandou os Seus discípulos irem para as
longínquas terras da Sibéria ou da África do Sul a
fim de pregar a Sua ressurreição, onde ninguém
poderia contestar aquelas declarações. Mas mandou-
os começar por Jerusalém, onde, caso Ele não
tivesse ressuscitado, um pequeno passeio até o
túmulo (nos arredores da cidade), provaria que
ainda estava morto. Como os rabinos e o
governador romano adorariam poder desacreditar o
cristianismo antes que ele se alastrasse! A maneira
mais segura de fazer isso seria exibir o corpo de
Jesus, só que eles não puderam fazê-lo. O túmulo
fortemente guardado, de repente, ficou vazio!
Uma Revelação
Progressiva
“Quatro animais, grandes, diferentes uns dos outros, subiam do
mar. O primeiro era como leão... O segundo semelhante a um
urso... E eis aqui outro, semelhante a um leopardo... E eis aqui o
quarto animal, espantoso e sobremodo forte... E tinha dez
chifres... Os dez chifres correspondem a dez reis...”
– Daniel 7.3-7, 24
Um Império Dividido As
duas pernas da estátua
simbolizavam profeticamente
a divisão do quarto império,
o Romano, em Oriental e
Ocidental, e assim aconteceu.
No ano 330, Constantino
estabeleceu Constantinopla
(hoje Istambul) como sua
nova capital imperial,
deixando o bispo de Roma
encarregado do Ocidente,
fazendo que assim tudo
ficasse pronto para a divisão
política e religiosa final do
império. A ruptura religiosa
definitiva aconteceu em
1054, quando a Igreja
Ortodoxa Oriental se
desligou da Igreja Católica
Romana Ocidental e o papa
Leão IX excomungou o
patriarca de Constantinopla,
Miguel Cerulário. A divisão
entre o catolicismo romano e
os ortodoxos orientais
permanece até hoje e foi o
que causou as guerras
sangrentas que dizimaram a
Iugoslávia, resultando na
independência da Croácia e
da Bósnia-Herzegóvina,
como iremos documentar
posteriormente.
O Império Romano foi politicamente reativado
várias vezes no Ocidente – por exemplo, no ano
800, com Carlos Magno. Os reinos do Oriente e
Ocidente, contudo, nunca mais foram reunificados.
O Império Romano, como um todo, deixou de
existir politicamente, mas a sua religião continuou
crescendo e se espalhou por todo o mundo. Hoje a
Igreja Católica Romana já tem mais de 1 bilhão de
membros. A Igreja Ortodoxa tem pouco mais do que
um quinto desse número. A ruptura entre essas duas
igrejas será restaurada pelo Anticristo.
Os protestantes de várias denominações
correspondem ao remanescente do que tem sido
conhecido como Cristandade, totalizando 1,7
bilhões de pessoas, cerca de 30% da população do
mundo hoje. De acordo com Apocalipse 13.8,
“adorá-lo-ão [ao Anticristo] todos os que habitam
sobre a terra...” Isso indica que não apenas o ca to
li cis mo romano e os ortodoxos se reunificarão, mas
também os protestantes se unirão a eles, assim como
todas as outras religiões, incluindo até mesmo os
muçulmanos, para formar uma nova religião
mundial. Ela envolverá adoração ao imperador,
como na época dos césares, com pena de morte para
os que se recusarem a fazê-lo (Apocalipse 13.14-
15).
Este reavivamento da religião de Roma será,
sem dúvida, uma mistura de cristianismo e
paganismo, como aconteceu sob Constantino e
continuou daí por diante. Essa forma pervertida e
paganizada de cristianismo tornou-se posteriormente
conhecida como catolicismo romano. Afirmando ser
infalível e imutável (semper eadem, ou seja “sempre
a mesma”), a Igreja Católica Romana permanece
sendo até hoje o veículo que permitirá a união
ecumênica final de todas as religiões.
A Importância da Profecia
Os dedos da estátua vista
pelo rei Nabucodonosor
representavam os dez reis
futuros, aos quais Daniel
2.44 se refere, usando uma
linguagem objetiva e
inequívoca: “...nos dias destes
reis, o Deus do céu suscitará
um reino que não será jamais
destruído...” Apesar do
Império Romano jamais ter
sido governado por dez reis
ao mesmo tempo, essa
simples declaração nos diz
que ele será restaurado sob
dez governantes, os quais
serão dirigidos, sem dúvida,
pelo Anticristo.
Esse versículo da Escritura convenceu os
discípulos de Cristo (e também João Batista e os
rabinos), que não era a hora de Cristo assumir o
trono de Davi, Seu pai. A razão era óbvia: naquele
tempo não havia dez reis governando o Império
Romano. A falta de entendimento dessa profecia
levou os que viveram na época de Cristo a ficarem
decepcionados quando Ele não estabeleceu
imediatamente o Seu reino na terra. Aqui vemos
novamente a importância de uma compreensão
exata da profecia.
Em sua visão, Nabucodonosor viu “uma pedra
cortada sem auxílio de mãos, que feriu a estátua
nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou. Então,
foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o
bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como
a palha... e o vento os levou e deles não se viram
mais vestígios... E a pedra que feriu a estátua se
tornou em grande montanha, que encheu toda a
terra” (Daniel 2.34-35). A interpretação é clara: a
verdadeira Igreja não tomará conta do mundo
gradualmente, mas o Reino de Deus será
estabelecido repentinamente por uma intervenção
cataclísmica dos céus. Cristo retornará para destruir
o Anticristo e o seu Império Romano restaurado e
então estabelecerá o Seu reino milenar para
governar o mundo, a partir de Jerusalém, no antigo
trono de Davi que será reinstalado pelo próprio
Deus. Esta interpretação é confirmada por outras
partes das Escrituras, principalmente por 2
Tessalonicenses 2.8, onde é afirmado claramente
que Cristo destruirá o Anticristo “quando for
revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará
com o sopro de sua boca e o destruirá pela
manifestação de sua vinda”. Desse modo, a
Segunda Vinda (diferentemente do Arrebatamento
dos crentes) não acontecerá até que o Anticristo seja
revelado e o governo mundial estabelecido. Só então
Cristo retornará, durante o Armagedom (junto com
os crentes que Ele já terá arrebatado ao céu; cf.
Zacarias 14.5 e Judas 14) para resgatar Israel dos
exércitos do Anticristo, que estarão prontos para
destruí-lo, a fim de executar juízo sobre a terra e
estabelecer o Seu reino messiânico, governando o
mundo assentado no trono de Davi, em Jerusalém
(veja Zacarias 12-14).
Ressurreição Satânica?
Durante o desenrolar posterior da revelação da
quarta besta, João viu “uma de suas cabeças como
golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi
curada e toda a terra se maravilhou, seguindo a
besta” (Apocalipse 13.3). Pa ra muitos intérpretes,
essa revelação significa que o próprio Anticristo será
morto e voltará a viver. Outros crêem que uma
figura do Anticristo que viveu no passado, como
Hitler ou Nero, voltará a viver e será o governante
na nova ordem mundial. Muito ao contrário,
nenhuma figura do passado nem o Anticristo
voltarão do túmulo porque Satanás não tem o poder
de criar vida. (Isso não elimina a possibilidade de
que o mundo seja enganosamente levado a crer que
uma ressurreição aconteceu. Entretanto, o texto de
Apocalipse 13.3 não apóia essa idéia).
O fato de uma das cabeças ter recebido um
golpe mortal não indica que a besta te nha morrido,
mas sim que ela foi apenas ferida. Em bo ra se diga
que as cabeças representam reis, não poderia ser
literalmente um rei que foi morto e ressuscitou,
como já explicamos. A besta e suas cabeças
representam várias coisas ao mesmo tempo: reis,
reinados, Satanás, o Anticristo e o Império Romano
restaurado. Este último traz consigo elementos de
morte e aparente ressurreição. O Império Romano
realmente “morreu”, embora não completamente,
uma vez que os seus fragmentos permaneceram,
juntamente com a eterna esperança da ressurreição
final. Quando essa “ressurreição” acontecer, sob o
governo do Anticristo, será como se o império – e
não uma pessoa – voltasse da morte. Também está
claro que Deus pretende estabelecer Seu reino na
terra e que esse Império Romano restaurado
encontra-se em Seu caminho e deverá ser destruído
para que o Reino de Deus seja estabelecido. Isso foi
mostrado bem no início dessa revelação progressiva,
representada pela pedra que esmaga a imagem e
enche a terra. Está igualmente claro que o Anticristo
é uma imitação satânica de Cristo e que o Império
Romano, agora restaurado, é uma imitação do Reino
de Deus.
O Primeiro e o Futuro
Anticristo O prefixo “anti”
vem do grego e tem dois
significados: 1) oposição a; e
2) no lugar de ou em
substituição a.[1] O
Anticristo trará consigo
ambos os sentidos. Sem
dúvida ele se oporá a Jesus,
da maneira mais diabólica e
astuta possível: fazendo-se
passar por Cristo,
pervertendo assim o
“cristianismo” desde o seu
âmago. O Anticristo irá,
realmente, “assentar-se no
santuário de Deus...” (2
Tessalonicenses 2.4).
Quando o Anticristo tentar se passar por Cristo
e for adorado pelo mundo todo (Apocalipse 13.8),
seus seguidores serão obviamente chamados de
“cristãos”. Assim sendo, o “cristianismo” é que
subverterá o mundo, não o verdadeiro cristianismo,
mas uma imitação criada pelo Anticristo.
Lembremos que a grande apostasia precede a sua
revelação (2 Tessalonicenses 2.3). Parte dessa
apostasia é o movimento ecumênico, o qual está
arranjando tudo para que ocorra uma união de todas
as religiões e tem influenciado até os evangélicos. O
“cristianismo” do Anticristo deve ser criado para
englobar todas as religiões, e ao qual todas as
religiões abraçarão – o que, aliás, já está
acontecendo agora, com uma rapidez espantosa.
Documentamos esse assunto em outros livros, como
Global Peace and the Rise of Antichrist [Paz Global
e o Surgimento do Anticristo] e teremos muito mais
a dizer sobre isso posteriormente.
O equivalente latino para “anti” é “vicarius”, de
onde vem a palavra “vigário”. Assim, “vigário de
Cristo” literalmente significa Anticristo. Embora os
papas da Igreja Católica se intitulem “vigários de
Cristo” há séculos, eles não foram os primeiros a
fazer isso, mas herdaram esse título de Constantino.
Seu imitador futuro, o governador do Império
Romano restaurado, será o Anticristo.
Como já observamos antes, no antigo Império
Romano o imperador era adorado como um deus.
Pela posição que ocupava ele assumia a condição de
líder do sacerdócio pagão e da religião pagã
patrocinada pelo império. Foram feitas imagens dos
césares, diante das quais os cidadãos eram obrigados
a se ajoelhar. Os que se recusavam a aceitar o
imperador como deus eram mortos. Também será
assim quando o Império Romano for restaurado, sob
o governo do Anticristo. O fato é claramente
apresentado na extensa visão de Cristo, dada ao
apóstolo João: “[a outra besta] faz com que a terra e
os seus habitantes adorem a primeira besta...
dizendo aos que habitam sobre a terra que façam
uma imagem à besta... como ainda fizesse morrer
quantos não adorassem a imagem da besta”
(Apocalipse 13.12-15).
A Paganização do
Cristianismo Quando o
Imperador Constantino
supostamente tornou-se
cristão, no ano 313 (algo que,
na verdade, foi uma astuta
manobra política), deu
liberdade aos cristãos e deu
status oficial ao cristianismo
conjuntamente com o
paganismo. Uma vez que a
Igreja agora se tornara uma
instituição religiosa
absorvida pelo Império,
Constantino, como
imperador, precisava ser
reconhecido como seu líder
“de facto”. E como tal, ele
convocou o primeiro concílio
ecumênico, o de Nicéia, em
325, estabeleceu os assuntos
a serem tratados, fez o
discurso de abertura e o
presidiu, não estando
interessado na verdade do
Evangelho, mas sim na
unificação do seu império.
Carlos Magno fez algo
semelhante no Concílio de
Chalon, 500 anos mais tarde.
Constantino foi o primeiro
ecumenista e introduziu o
erro numa Igreja cristã já
cansada de tanta
perseguição.
Ao mesmo tempo em que dirigia a Igreja cristã,
continuava encabeçando o sacerdócio pagão,
celebrando cerimônias pagãs e endossando a
edificação de templos pagãos, mesmo depois de
começar a construir as primeiras igrejas cristãs.
Como chefe do sacerdócio pagão, ele era o Pontifex
Maximus (sumo pontífice) e precisava de um título
semelhante como cabeça da Igreja Cristã. Os
cristãos o honraram com o título de “bispo dos
bispos”, enquanto Constantino preferiu dar a si
mesmo o título de Vicarius Christi (vigário de
Cristo). Ele queria dizer que era um “outro Cristo”,
agindo no lugar de Cristo. Quando traduzido para o
grego, podemos ver que Vicarius Christi significa
literalmente Anticristo. Constantino era o protótipo
do Anticristo profetizado na Escritura, o qual ainda
está por vir.
Na Idade Média os bispos de Roma
começaram a afirmar que eram os novos
representantes de Cristo na terra. Exigindo que a
Igreja do mundo inteiro ficasse sujeita ao seu
governo, proibiram qualquer bispo de ser chamado
“papa” (papai) e tomaram para si mesmos os três
títulos de Constantino: Pontifex Maximus, vigário de
Cristo e bispo dos bispos, títulos que usam até hoje.
Como os papas afirmam ter absoluto poder
sobre os reinos, o povo e suas propriedades foram
taxados, desse modo uma grande corrupção
penetrou na Igreja Católica Romana. Os
reformadores e seus credos foram unânimes em
identificar cada papa com o Anticristo. Contudo, a
Escritura não dá sustentação a essa afirmação. O
Anticristo é único, sem predecessores nem
sucessores. Ele será o novo “Constantino”, o
governante de um Império Romano revivido.
Mistério: Babilônia
“Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério:
BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS
ABOMINAÇÕES DA TERRA”.
– Apocalipse 17.5
A Conexão Babel
Sem dúvida existe uma conexão com a antiga
Babilônia. O nome na fronte da mulher estabelece
isso. O que poderia significar esse nome para o
mundo dos “últimos dias”, logo antes da Segunda
Vinda de Cristo? Obviamente ele deve se referir a
alguma peculiaridade comum aos quatro impérios –
um elemento importante do primeiro império,
Babilônia, ainda que seja predominante no quarto
império, Roma.
Uma das características mais importantes,
comum a todos eles, foi a união existente entre o
trono e o altar, entre príncipe e sacerdote. A
separação entre Igreja e Estado ainda era algo
desconhecido; na verdade, o que ocorria era o
oposto. Os sacerdotes pagãos – astrólogos, magos,
adivinhos, bruxos – eram os conselheiros mais
chegados do imperador e geralmente a influência
oculta que controlava o império. Desse modo, um
dos aspectos principais desta mulher, que é tanto
uma cidade quanto uma entidade espiritual, será sua
relação adúltera com os governantes seculares.
A união entre Igreja e Estado persistiu nos dias
da antiga Babilônia até após a ascensão de Roma, o
quarto império mundial da visão de Daniel. Como já
vimos, os imperadores romanos, como outros
governantes antigos, encabeçavam o sacerdócio
pagão e eram adorados como deuses. Além do mais,
como a religião era o fator dominante em todo
império, é válido examinarmos a religião da
Babilônia.
Conseqüências da Religião
Estatal
Depois que o exército francês de Napoleão III
derrotou Juarez e instituiu Maximiliano como
imperador do México, este viu que não seria
possível regressar ao antigo totalitarismo. O papa
Pio IX ficou furioso e escreveu indignado a
Maximiliano, exigindo que “a religião católica
estivesse acima de todas as coisas, continuando a ser
a glória e sustentáculo da nação mexicana, com a
exclusão de qualquer outro culto dissidente”. Que
“instruções públicas ou particulares deveriam ser
dirigidas e observadas pelas autoridades
eclesiásticas” e que ela não deveria ficar “sujeita à
arbitrária regra do governo civil”.[7]
A pobreza e a instabilidade que desgraçaram a
América Latina resultaram da união entre Igreja e
Estado, e do poder sobre o governo que Roma, após
tê-lo gozado durante séculos na Europa, trouxe para
o Novo Mundo em nome de Cristo. Os clérigos
romanos se comportavam como deuses, dominando
os nativos, que se tornaram seus criados. As
revoluções nos países da América Latina foram, em
grande parte, criadas pelo contraste entre a pobreza
do povo e a riqueza da Igreja Católica Romana e os
maus ditadores que ela sustentava. A Teologia da
Libertação foi pregada na América Latina pelos
padres e freiras radicais, cujas consciências
perturbadas já não podiam justificar a opressão das
massas, tanto pela Igreja como pelo Estado.
Dezenas de outros exemplos poderiam ser
citados, mas faremos isso mais adiante. A questão é
que as raízes da aliança profana entre Igreja e
Estado, com a Igreja dominando, nos remetem de
volta a Babel. Ninrode fundou o primeiro império
mundial, onde Igreja e Estado eram um só. Esse é o
império ideal que o catolicismo romano tem se
esforçado ao máximo para estabelecer e manter.
Como o periódico The Catholic World [O Mundo
Católico] declarou na época do Vaticano I:
Conquanto o Estado tenha alguns direitos, ele os tem
apenas em virtude, e com a permissão da autoridade
superior... [da] Igreja...[8]
– Apocalipse 17.18,9
Roma = Vaticano
Alguns podem objetar que Roma, e não a
pequena parte conhecida como Cidade do Vaticano,
é que está edificada sobre sete montes e além disso o
Vaticano não pode ser chamado de “grande cidade”.
Embora ambas as objeções sejam verdadeiras, as
palavras “Vaticano” e “Roma” são usadas
universalmente sem distinção. Do mesmo modo que
se alguém se referisse a Washington estaria falando
sobre o governo que dirige os Estados Unidos, quem
se refere a Roma trata da hierarquia que governa a
Igreja Católica.
Tome-se, por exemplo, um cartaz empunhado
por um manifestante na Conferência Nacional dos
Bispos Católicos realizada em Washington D.C. em
1993. Esse cartaz tinha como objetivo protestar
contra qualquer um que não concordasse com o
papa. Nele estava escrito: “SIGA ROMA OU SIGA
EM FRENTE”.[5] Obviamente que, ao dizer
“Roma”, estava se referindo ao Vaticano. Isso é algo
comum. Roma e o catolicismo estão tão interligados,
que a Igreja Católica é conhecida como Igreja
Católica Romana ou simplesmente Igreja Romana.
Além disso, por mais de 1000 anos a Igreja
Católica Romana exerceu tanto o controle religioso
como o civil sobre toda a cidade de Roma e seus
arredores. O papa Inocêncio III (1198-1216) aboliu
o Senado Romano secular e colocou a administração
de Roma diretamente sob o seu comando. O Senado
de Roma, que havia governado a cidade sob os
césares, havia sido chamado de Cúria Romana. Es
se nome, conforme o Pocket Catholic Dictionary
[Dicionário de Bolso do Catolicismo], é agora a
designação “de todo o conjunto de escritórios
administrativos e judiciais, através dos quais o papa
dirige as operações da Igreja Católica”.[6]
A autoridade do papa se estende até mesmo aos
grandes territórios fora de Roma adquiridos no
século VIII. Naquele tempo, com a ajuda de um
documento feito pelos papas e deliberadamente
fraudado, conhecido como A Doação de
Constantino, o papa Estêvão III convenceu Pepino,
rei dos francos e pai de Carlos Magno, de que os
territórios recentemente tomados pelos lombardos
dos bizantinos foram, na verdade, doados ao papado
pelo Imperador Constantino. Pepino venceu os
lombardos e entregou ao papa as chaves de mais de
20 cidades (Ravena, Ancona, Bolonha, Ferrara, Iesi,
Gubbio, etc.) e um imenso pedaço de território junto
às costas do mar Adriático.
Datada de 30 de março de 315, a Doação
declarava que Constantino havia dado
perpetuamente essas terras aos papas, junto com
Roma e o palácio de Latrão. Em 1440, Lorenzo
Valla, um adido papal, provou que esse documento
era uma fraude e até hoje é assim considerado pelos
historiadores. Contudo os supostos papas infalíveis
continuaram asseverando durante séculos que a
Doação era genuína e sobre essa base justificam sua
pompa, poder, e posses. Essa fraude continua sendo
perpetuada por uma inscrição no batistério da Igreja
de São João de Latrão, em Roma, que jamais foi
corrigida.
Desse modo, o Estado papal foi literalmente
roubado pelos papas dos seus legítimos
proprietários. O papado controlou e taxou esses
territórios até 1848, extraindo deles grande riqueza.
Nesse tempo o papa, junto com os governantes da
maior parte dos outros territórios divididos da Itália,
foi obrigado a dar uma constituição aos seus súditos
rebelados. Em setembro de 1860, em meio a
furiosos protestos, Pio IX perdeu todos os Estados
papais para o novo reino da Itália, agora finalmente
unido, que ainda o deixou, até o Concílio Vaticano I,
em 1870, no controle de Roma e seus arredores.
Vemos assim que, exatamente como João
previu em sua visão, uma entidade espiritual que
afirmava ter uma relação especial com Cristo e com
Deus começou a ser identificada com uma cidade
construída sobre sete montes. Essa “mulher”
praticou fornicação espiritual com os governantes da
terra e finalmente reinou sobre eles. A Igreja
Católica Romana tem sido continuamente
identificada como sendo essa cidade. Como a
Catholic Encyclopedia declara:
...Daí entende-se o lugar central de Roma na vida da
Igreja hoje e o sentido de seu título ‘Igreja Católica
Romana’, a Igreja que é universal, mas ainda assim
centrada no ministério do bispo de Roma. Desde a
fundação da Igreja por São Pedro, Roma tem sido o
centro de toda a cristandade.[7]
Enriquecimento Ilícito
A incrível riqueza da mulher atraiu logo a
atenção de João. Ela se vestia de “púrpura e
escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e
de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro
transbordante de abominações e com as imundícias
da sua prostituição” (Apocalipse 17.4). As cores
púrpura e escarlate uma vez mais identificam a
mulher tanto com a Roma pagã como com a cristã.
Eram essas as cores dos césares romanos, que os
soldados usaram ao cobrirem Cristo com um manto,
chamando-O zombeteiramente de “rei” (Mateus
27.28 e João 19.2-3). O Vaticano tomou-as para si e
até hoje as cores do clero romano são as mesmas
das vestes da mulher. A enciclopédia acima
mencionada também diz:
Cappa Magna
Uma capa com uma longa cauda e um capuz para
cobrir os ombros... era de lã púrpura para os bispos;
para os cardeais era de seda tingida de escarlate (para
celebrar o Advento, a Quaresma, a Sexta-Feira Santa e
o conclave, era de lã púrpura); e de seda rosa-claro
para os domingos Gaudete e Laetare; a do papa era
de veludo vermelho, usada nas Matinas de Natal, e a
sarja vermelha para outras ocasiões.
Batina (ou Sotaina)
Roupa até o calcanhar usada pelo clero católico como
sua vestimenta oficial... A cor para os bispos e outros
prelados é púrpura, para os cardeais é escarlate...”[8]
Fraude e História
Forjada
Todo clérigo deve obedecer ao papa, mesmo que ele mande
fazer algo ruim; pois ninguém pode julgar o papa.
“Impecabilidade” Versus
“Infalibilidade”
A fé cega exigida pelos pronunciamentos do
papa e do clero parecem fazer sentido, pois a Igreja
Romana é a maior e mais antiga. Certamente esses
bilhões de seguidores não poderiam ter sido
enganados por mais de 1500 anos! Assim a fé é
mantida pela suposta segurança de que a Igreja
Católica Romana é a única igreja verdadeira, a única
que pode ser rastreada até os apóstolos originais, e
cuja autoridade papal vem diretamente de Cristo
(através de Pedro), numa longa e ininterrupta linha
de sucessão apostólica.
Como prova, a Igreja fornece uma lista
completa de seus papas (até agora foram 263) com a
ascendência desde Pedro. Poucos católicos sabem
que os papas lutavam entre si, excomungando-se
mutuamente e, por vezes, até matavam uns aos
outros. É difícil achar algum papa que, depois do
século V, tenha exibido as virtudes cristãs básicas.
Suas vidas, conforme registrado na Catholic
Encyclopedia, são comparáveis às novelas de TV
em matéria de luxúria, loucura, ostentação e
assassinatos. Contudo, todos esses mestres do crime,
envenenadores, adúlteros e genocidas são
considerados infalíveis quando falam ex catedra –
ou seja, fazem pronunciamentos dogmáticos sobre
fé e moral a toda a Igreja.
Os apologistas católicos argumentam que existe
uma diferença entre impecabilidade de caráter e
conduta, que os papas certamente não tinham, e
infalibilidade em matéria de fé e moral, o que todo
católico deve crer que eles possuem.[10] É tolice
acreditar que um homem que nega a fé e tem
comportamento imoral em sua vida, é infalível
quando fala sobre fé e moral!
Os católicos que conhecem os fatos
prontamente admitem que muitos papas foram
terríveis. Mas argumentam que isso prova
simplesmente que eles eram humanos e permite que,
se somos conscientes do que aconteceu,
discordemos deles. Para os católicos faz sentido que,
apesar da inegável maldade do seu clero, a Igreja
Católica Romana seja a única esperança da
humanidade. Afinal de contas, ela foi fundada pelo
próprio Cristo, que fez de Pedro o primeiro papa.
Isto está, supostamente, comprovado nas Escrituras:
“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja” (Mateus 16.18). Exa mi na re mos
detalhadamente esse versículo mais tarde.
O Dogma Desconhecido
Ao contrário do que se ensina aos católicos, o
ofício papal não começou com o apóstolo Pedro.
Ele teve origem centenas de anos antes do bispo de
Roma tentar controlar o resto da igreja e muitos
séculos antes que essa primazia fosse aceita por
todos. Em 449, a carta de Leão o Grande a Flaviano
não foi aceita até que o Concílio de Calcedônia a
aprovasse. “O próprio papa Leão [I] reconheceu que
esse tratado não podia tornar-se uma regra de fé, até
ter sido confirmado pelos bispos”.[11]
Houve oito concílios da Igreja antes que o
Cisma de 1054 a dividisse em Católica Romana e
Oriental Ortodoxa, quando o bispo de Roma e o
patriarca de Constantinopla se excomungaram
mutuamente. Nenhum desses oito concílios foi
convocado pelo papa, mas sim pelo Imperador, que
também deu sua aprovação aos decretos. Quanto à
autoridade papal, um historiador católico nos
lembra:
O papa Pelágio (556-560) fala sobre hereges
separando-se das Sés Apostólicas, ou seja, Roma,
Jerusalém, Alexandria (mais Constantinopla). Em todos
os escritos antigos sobre hierarquia não existe menção
de um papel especial do bispo de Roma, nem ainda o
título de “papa”... Das cerca de 80 heresias dos
primeiros seis séculos, nenhuma se refere à autoridade
do bispo de Roma e nenhuma teve início com ele...
Nenhuma ataca a [suprema] autoridade do pontífice
romano, já que ninguém ouviu falar disso.[12]
Do Calvário ao Régio
Pontífice
É necessário que se faça uma engenhosa
modificação para que da distorção de uma simples
declaração: “sobre esta pedra edificarei a minha
igreja”, sur gis se o ofício petrino, a sucessão
apostólica, a infalibilidade papal, e toda a pompa,
cerimônia e poder que rodeiam o papa hoje. Como
um escritor católico sarcasticamente declara: “Exige-
se [uma grande] habilidade para se tomar uma
declaração feita por um pobre carpinteiro a um
pescador, igualmente pobre, e aplicá-la a um régio
pontífice, que em breve passaria a ser chamado de
‘o Dono do Mundo’.”[14]
Con tu do, este é o único fundamento “bíblico”
sobre o qual toda a estrutura da Igreja Católica
Romana está baseada. Incluindo a infalibilidade
papal, a sucessão apostólica e uma intrincada
hierarquia de padres, bispos, arcebispos e cardeais; o
Magistério dos Bispos, o único que pode interpretar
a Bíblia; a exigência de que, por suposta
infalibilidade, o papa deve falar ex catedra a toda a
Igreja em matéria de fé e moral, etc. Que nenhum
destes conceitos é remotamente sugerido, muito
menos estabelecido, quer seja em Mateus 16.18 ou
em qualquer outro lugar na Escritura, é deixado de
lado pelos apologistas católicos, os quais logo se
voltam para a “tradição” parta apoiar tais crenças.
Fazendo isso, entram num labirinto de engano e
verdadeira fraude.
Foram necessários muitos séculos para se
desenvolver engenhosos argumentos para que,
finalmente, se chegasse à teoria de que o mesmo
Cristo, que “não tinha onde reclinar a cabeça”
(Mateus 8.20), viveu em pobreza e fui crucificado
nu, deveria ser representado por um régio pontífice
que possui palácios com mais de 1.100 salas cada
um, é servido dia e noite por um batalhão de criados
e usa as melhores roupas de seda bordadas com fios
de ouro! Que Cristo delegou a Pedro tal pompa e
luxo, o que nenhum dos dois conheceu, é tanto
ridículo quanto blasfemo.
As glórias e poderes desfrutados pelos papas
não são, nem remotamente, mencionados nos relatos
existentes sobre a vida de pureza e pobreza de
Pedro. O apóstolo-pescador declarou: “Não tenho
prata nem ouro” (Atos 3.6). Os luxos do papa e
suas pomposas declarações de autoridade sobre reis
e reinos não eram conhecidos na Igreja até séculos
mais tarde, quando papas ambiciosos começaram a
estender gradualmente e solidificar seu domínio
sobre os governantes. Os líderes supremos do
catolicismo começaram a usar títulos como:
“supremo governante do mundo”, “rei dos reis”.
Outros afirmaram ser “Deus na terra”, ou até
mesmo “o redentor”, que “pendurados na cruz
como o fez Cristo”, asseveraram que “Jesus colocou
os papas no mesmo nível de Deus”.[15] Pedro
certamente teria denunciado tais fraudes pretensiosas
como blasfêmia.
Roma era a capital do Império Romano antes
de Constantino mudar o seu palácio para o Oriente,
por isso continuou sendo considerada como capital
da porção Ocidental do império. Com o imperador
Constantino instalado na cidade de Constantinopla
(hoje Istambul), o papa desenvolveu um poder
quase absoluto, não apenas como cabeça da Igreja,
mas também como imperador do Ocidente. Mais
tarde, com a queda do Império Romano, o papado
foi quem continuou governando as ruínas
fragmentadas. Thomas Hobbes disse: “O papado
nada mais é do que o fantasma do finado Império
Romano, sentado sobre o seu túmulo com a coroa
na cabeça”.
W. H. C. Frend, professor emérito de história
eclesiástica em seu clássico “The Rise of
Christianity” [A Ascensão do Cristianismo] frisa
que, pelos meados do século V a Igreja “tinha se
tornado o mais poderoso elemento nas vidas dos
povos do império. A virgem e os santos haviam
substituído os deuses (pagãos) e padroeiros das
cidades”.[16]. O papa Leão I (440-461) gabava-se
que São Pedro e São Paulo haviam “substituído
Rômulo e Remo como os padroeiros e protetores da
cidade [Roma]”.[17] Frend escreve que a Roma
cristã era a “legítima sucessora da Roma pagã...
Cristo havia triunfado [e] Roma estava pronta para
estender sua influência até aos próprios céus”.[18]
Releitura Desavergonhada
da História
Tal era a ambição da maioria dos que
almejavam o suposto trono de Pedro que eles muitas
vezes guerreavam uns contra os outros a fim de
conquistá-lo. Usando o nome de Cristo e fazendo
piedosamente o sinal da cruz, eles trabalhavam duro
para satisfazer sua ambição de poder, prazer e
riqueza. Não havia nas Escrituras, nem nos escritos
dos Pais da Igreja, justificativas para fazerem de si
mesmos governantes absolutos e infalíveis da Igreja,
muito menos do mundo. Por conseguinte, os papas
teriam de encontrar outra maneira de obter apoio
para isso. A solução encontrada foi escrever
novamente a história, manuseando documentos
supostamente históricos. A primeira destas ousadas
falsificações foi A Doação de Constantino, a qual já
mencionamos. Em seguida surgiram os falsos
Decretos de Isidoro, que eram decretos papais
supostamente compilados pelo arcebispo Isidoro
(560-636), mas que, na verdade, foram forjados no
século IX. Essas fraudes se tornaram o fundamento
da maior parte da “tradição” sobre a qual o papado
ainda hoje se apóia.
O historiador católico J. H. Ignaz von Dollinger
escreve que “até o surgimento dos Decretos de
Isidoro nenhuma tentativa séria havia sido feita, em
lugar algum, para se introduzir a nova teoria romana
da infalibilidade. Os papas nem sonhavam em exigir
tal privilégio”.[19] Ele prossegue explicando que
esses Decretos frau du len tos iriam
de forma gradual, mas de maneira inevitável, mudar a
constituição da Igreja. Seria difícil encontrar em toda a
história um outro exemplo de falsificação tão grosseira,
porém tão bem-sucedida.
Durante os três últimos séculos [ele escreveu em
1869] eles [os documentos forjados] têm sido
denunciados publicamente, mesmo assim os princípios
que eles introduziram acabaram tornando-se práticas
da Igreja. Tais idéias fixaram raízes tão profundas no
solo da Igreja, fazendo agora parte dela de tal
maneira, que mesmo a exposição da fraude acabou
por não produzir nada capaz de abalar o sistema
dominante.[20]
Linha Ininterrupta de
Sucessão Apostólica?
Esta é a única Igreja de Cristo, que no credo professamos ser
una, santa, católica e apostólica, a qual o nosso Salvador, após sua
ressurreição, confiou ao cuidado pastoral de Pedro, comissionando
a ele e aos outros apóstolos sua propagação e governo...
O pontífice romano, como sucessor de Pedro, é a fonte perpétua
e visível e o fundamento da unidade, tanto dos bispos como de
todos os fiéis.
– Vaticano II[1]
Sucessão Apostólica?
Durante séculos os cidadãos de Roma se
consideraram no direito de eleger o bispo de Roma.
Este costume é uma prova de que ele tinha
jurisdição apenas sobre aquele território, pois se
pudesse comandar toda a Igreja, então todos os seus
membros estariam envolvidos em sua escolha.
Houve tempos em que o direito de eleger seus
próprios bispos lhes foi negado. Então os cidadãos
de Roma se revoltaram e impuseram sua vontade
sobre as autoridades civis e religiosas locais. Como
poderia tal pressão, baseada na violência, ser
chamada de sucessão apostólica, sob a direção do
Espírito Santo?
Os feudos eram governados pelas famílias
poderosas (Collona, Orsini, Annibaldi, Conti,
Caetani, e assim por diante), que por séculos
disputaram o papado. Por exemplo, Bonifácio VIII,
um Caetani, teve de lutar contra os Collona para
ficar no poder. No apogeu do seu governo
representantes de todo o cristianismo Ocidental
foram a Roma para o grande jubileu, em 1300.
Porém, três anos depois ele foi deposto por
emissários de Filipe, o Louro, da França. Assim
sendo, naquela época Roma tornou-se possessão
francesa. Como conseqüência, o papado foi
transferido para a França. Entre 1309 e 1137 todos
os papas eram franceses e residiram em Avignon.
Tais manobras políticas dificilmente poderiam
manter uma linha ininterrupta de sucessão!
Os papas eram tanto empossados quanto
depostos pelos exércitos imperiais ou pelas
multidões romanas. Alguns foram assassinados.
Mais de um foi executado por um marido ciumento
que o encontrou na cama com sua esposa – parece
que assim seria difícil haver uma sucessão
apostólica. Muitas vezes o dinheiro e/ou a violência
determinavam quem seria o “sucessor de Pedro”.
Não é de admirar que no Acordo de Worms (feita
entre o papa Calixto II e o Imperador Henrique V,
em 23 de setembro de 1122), o papa tenha sido
levado a jurar que a eleição dos bispos e abades
aconteceria “sem simonia e sem violência
alguma”[3], como era característico das decisões da
Igreja.
Houve tempos em que existiam vários rivais,
cada um afirmando ter sido legalmente votado num
conselho legítimo. Um dos exemplos mais antigos
de papas múltiplos foi criado pela eleição simultânea
de facções rivais dos papas Ursinus e Dâmaso.
Depois de usar de muita violência, os seguidores do
primeiro conseguiram colocá-lo como papa. Mais
tarde, após uma batalha de três dias, Dâmaso, com o
apoio do imperador, saiu vitorioso e continuou como
“vigário de Cristo” por 18 anos (366-384). Então a
“sucessão apostólica” numa “linha ininterrupta desde
Pedro” ocorreu através do uso da força armada!
Não é interessante?
Ironicamente foi Dâmaso, em 382, o primeiro a
usar a frase: “Tu és Pedro e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja”, para reivindicar
autoridade espiritual. Ele era um papa sanguinário,
rico, poderoso e excessivamente corrupto, cercado
de luxo tal que faria um imperador sentir inveja.
Não há meio de justificar qualquer conexão entre ele
e Cristo, embora esse papa permaneça como um dos
elos da suposta corrente de sucessão ininterrupta
desde Pedro.
Sexo e Sucessão
Alguns papas foram colocados no ofício por
suas amantes – seis deles por prostitutas (que eram
mãe e filha). Teodora de Roma (esposa de um
poderoso senador romano) teve muito sucesso
usando essa estratégia. Ela manipulava os políticos
de Roma, gabando-se do fato de sua filha Morósia
ser amante do papa Sérgio III. Conhecida como a
“amante de Roma”, Morósia não hesitava em
ordenar assassinatos para conseguir o que
ambicionava. A própria Teodora era amante de dois
eclesiásticos, os quais ela conseguiu, após a morte de
Sérgio III, levar em rápida sucessão ao “trono de
Pedro” – os papas Anastásio III (911-913) e Lando
(913-914). Quando apaixonou-se por um padre de
Ravena, ela também o conduziu ao trono papal.
As prostitutas determinavam quem seria o papa
na “sucessão apostólica”! Sobre essa mãe e filha
notáveis Edward Gibbon escreveu em seu livro
Decline and Fall of The Roman Empire [Declínio e
Queda do Império Romano]:
A influência das duas prostitutas, Morósia e Teodora,
era fundamentada em sua riqueza e beleza, em suas
intrigas políticas e amorosas. Os mais ardentes de seus
amantes foram recompensados com a mitra romana...
O filho bastardo, o neto e o bisneto de Morósia – uma
rara genealogia – sentaram-se no trono de São Pedro.
[9]
Hereges Infalíveis?
Está claro que ele [o papa] pode errar, mesmo em assuntos
relativos à fé. Ele faz isso quando ensina heresias por seu próprio
julgamento ou decreto. Na verdade, muitos pontífices romanos
foram hereges.
As Raízes da Infalibilidade
Outros reis e imperadores já haviam afirmado
serem deuses, mas sua ambição se desvanecia à
medida que começavam a guerrear entre si e seus
súditos clamavam por mais liberdade. O que faltava
era uma representação infalível da divindade na
terra, a quem os governantes civis pudessem
recorrer em suas disputas. Os papas começaram a
atender essa necessidade e, por volta do século XIII,
já haviam se estabelecido como autoridade suprema
sobre toda a Europa. Um importante historiador
católico do século XIX descreveu como esse
monopólio do poder encorajou o despotismo:
...a Igreja Católica [desenvolveu] uma atitude suspeita
e hostil em relação aos princípios da liberdade política,
intelectual e religiosa, assim como da independência
de julgamento... [para que se alcançasse] o ideal da
Igreja [como] um império universal... de força e
opressão, onde a autoridade espiritual é auxiliada por
seu braço secular ao suprimir sumariamente qualquer
movimento que a desagrade.
...portanto não poderíamos deixar de salientar ...o lado
negro da história do papado.[3]
Contradições, Contradições
Duas pessoas que sustentam opiniões contrárias
não podem estar ambas certas. Mesmo assim, os
papas têm quase transformado em sua ocupação
constante o hábito de contradizerem as declarações
importantes uns dos outros. Agapeto (535-536)
queimou o anátema que Bonifácio II (530-532)
havia solenemente emitido contra Dióscorus (530).
O último é apresentado como um antipapa, mas
Agapeto, que esteve do lado dele, é mostrado como
um papa verdadeiro. Adriano II (867-872) disse que
os casamentos civis eram válidos; Pio VII (1800-
1823) declarou-os inválidos. Ambos foram
declarados papas legítimos. Nicolau V (1447-1455)
anulou “documentos, processos, decretos e censuras
contra o Concílio [da Basiléia]” assinados por
Eugênio IV, que deviam “...ser considerados como
jamais existentes”.[10] Mesmo assim, ambos
permanecem na lista oficial dos papas até hoje.
No dia 21 de julho de 1773, o papa Clemente
XIV emitiu um decreto acabando com os jesuítas,
entretanto mais tarde, em 7 de agosto de 1814, um
decreto que os restaurava foi emitido pelo papa Pio
VII. Eugênio IV condenou Joana d’Arc (1412-
1431) a ser queimada na fogueira como bruxa e
herege, porém ela foi beatificada por Pio X (1903-
1914) em 1909 e canonizada por Benedito XV
(1914-1922) em 1920. Hoje, dentro da catedral de
Notre Dame, uma das imagens mais populares é a
da santa Joana d’Arc, a “heroína nacional da
França”, com uma grande quantidade de velas
sempre queimando diante de si. Como pôde um
“papa infalível” condenar uma santa à morte,
como bruxa e herege? Mesmo assim Eugênio
IV permanece na lista dos supostos infalíveis
“sucessores de Pedro”.
A história nega definitivamente tanto a
sucessão apostólica como a infalibilidade. E,
de fato, muitos papas também negaram a
própria infalibilidade, dentre eles Virgílio (537-
555), Clemente IV (1265-1268), Gregório XI
(1370-1378), Adriano VI (1522-1523), Paulo IV
(1555-1559) e até Inocêncio III (1198-1216),
que governou a Europa com mão de ferro.
Então, por que estava o papa Pio IX tão
determinado a imortalizar essa fraude tão
óbvia como um dogma oficial?
Por um motivo muito especial: a
infalibilidade foi a proposta final e desesperada
com a qual Pio IX esperava sustentar a
estrutura do domínio católico romano (sobre os
governantes do mundo e seus cidadãos), que
havia entrado em colapso. Para estabelecer
esse dogma de uma vez por todas, ele
convocou o Concílio Vaticano I, no dia 8 de
dezembro de 1869.
CAPÍTULO 10
Infalibilidade e Tirania
Essas opiniões falsas e perversas [de democracia e liberdade
individual] são por demais detestáveis pelo muito que elas...
obstruem e banem a influência salutar que a Igreja Católica, por
instituição e mandamento do seu divino Autor, deveria exercer
livremente, até a consumação do mundo, não apenas sobre os
indivíduos, mas [sobre] nações, povos, e soberanos.
Registro Histórico de
Supressão
Em contraste ao seu elogio, feito diante das
audiências de maioria católica na América Latina, às
liberdades básicas na América do Norte, João Paulo
II rejeita os protestantes e a idéia de que os homens
devem ser livres para professar uma religião. A
opressão, a perseguição e talvez o martírio dos que
recusaram fidelidade a Roma tem sido a sua política.
Por exemplo a Concordata entre Pio IX e o
Equador, assinada em setembro de 1862, estabelecia
o catolicismo romano como a religião estatal e
proibia outras religiões naquele país. Toda a
educação devia ser “controlada rigidamente pela
Igreja”. Uma lei posterior declarava que “somente os
católicos poderiam ser vistos como cidadãos no
Equador”.[4]
Em 1863 a Colômbia tomou o rumo oposto,
estabelecendo a liberdade religiosa e reduzindo o
monopólio sobre a educação e os privilégios
usufruídos pelo catolicismo romano. O papa Pio IX
reagiu com raiva. No dia 17 de setembro daquele
ano, numa encíclica intitulada Incredibili
Afflictamur, ele ironizou as leis “nefastas e iníquas
demais” que a Colômbia havia posto em prática,
citando especialmente o mal de permitir “adoração
em seitas não-católicas”. A pena papal asseverou sua
autoridade sobre toda a nação, inclusive o direito de
anular as leis do país:
Nós, com autoridade apostólica, denunciamos e
condenamos todas essas leis e decretos com todas as
suas conseqüências e, pela mesma autoridade,
revogamos essas leis e as declaramos inteiramente
nulas e sem poder algum.
Resistindo à Ditadura
As revoluções francesa e americana no século
anterior haviam acendido uma centelha de
ressentimento contra os governantes autocratas, a
qual se transformou em chama através da Europa.
Nenhum monarca era mais ditatorial do que o
próprio papa. Pio IX ainda reinou como “rei de
Roma” e seus arredores, do mesmo modo que
tinham feito durante séculos sobre todos os Estados
papais. O anseio crescente pela democracia era uma
ameaça à autoridade papal, ameaça que o Vaticano I
poderia certamente derrubar com a sua dogmática
declaração da infalibilidade papal. Isso, segundo o
papa esperava, encerraria o assunto.
No ano anterior à encíclica de Pio IX (como
preparação ao Vaticano I), parcialmente mostrada
acima, o próprio Abraão Lincoln havia se referido
aos mesmos itens em Gettysburg. Não poderia haver
desacordo maior entre dois homens. As palavras de
Lincoln, que pretendia levar a nação a se unir
naquela crise, eram ao mesmo tempo uma
repreensão, embora provavelmente não intencional,
aos dogmas básicos existentes sob o catolicismo e a
tirania papal. Nem poderia Pio IX ter ignorado a
famosa Declaração de Gettysburg, de maneira que
suas palavras só poderiam ser observadas como uma
resposta dura à declaração de Lincoln:
que a partir dessas mortes honrosas possamos
aumentar a devoção pela causa à qual eles
demonstraram sua total dedicação – que possamos
entender que elas não foram em vão – e que este
país, sob a direção de Deus, verá o renascimento da
liberdade; que o governo do povo, pelo povo e para o
povo não venha a perecer sobre a terra.
Infalibilidade ou
Instabilidade Psíquica?
Como já mostramos, mais que apenas alguns
membros “abandonaram o Concílio antes que
terminasse”. No dia 17 de julho de 1870, antes da
votação, 55 bispos que se opunham declararam que
“fora de qualquer irreverência contra o ‘santo
padre’, eles não desejavam tomar parte [votar]. Em
seguida abandonaram Roma em protesto”.[41]
No dia 18 de julho de 1870, último dia do
Concílio, houve apenas 535 votos pelo “sim”,
menos da metade dos 1.084 membros originais
aptos a votar. Mesmo assim os jornais do Vaticano
escreveram muito sobre o assunto, como se tivesse
sido uma decisão unânime. Através das ameaças de
demissão, perda de emprego e outras pressões, o
papa finalmente conseguia a submissão dos que se
opunham a que infalibilidade papal se tornasse
dogma da Igreja Católica Romana. Infelizmente,
pouquíssimos católicos conhecem estes fatos.
O bispo Dupanloup escreveu em seu diário, em
28 de junho de 1870: “Nunca mais irei ao Concílio.
A violência, a falta de vergonha e muito mais a
falsidade, a vaidade e a contínua maneira de forçar a
mentira me obrigam a ficar longe”. Em 26 de agosto
de 1870, 14 teólogos alemães declararam: “Estar
livre de toda sorte de coerção moral e de influência
pelo uso de força superior é uma condição sine qua
non para todos os concílios ecumênicos. Tal
liberdade faltou nessa reunião católica...”[42]
Outros aspectos quanto ao caráter e
comportamento de Pio IX que Hasler, durante anos
de pesquisas, conseguiu nos arquivos secretos do
Vaticano e em outros documentos são trágicos e
reveladores:
O misticismo doentio, as explosões infantis, a
sensibilidade superficial, os devaneios intermitentes, a
linguagem que estranhamente era desapropriada,
mesmo em discursos estritamente oficiais, e a
obstinação senil, tudo indica a perda de um sólido
senso da realidade...
Além disso há exemplos de megalomania que ainda
são difíceis de avaliar. Em 1866... Pio IX aplicou a si
próprio o que Cristo disse: “Eu sou o caminho e a
verdade e a vida”... No dia 8 de abril de 1871 o conde
Harry von Armim-Suckow registrou para o conselheiro
imperial, o príncipe Otto von Bismarck, a tentativa de
Pio IX de realizar um milagre: “Quando passava pela
Igreja Trinita dei Monti, o papa encarou um aleijado
que estava em frente da mesma e falou: ‘levanta-te e
anda’. Mas a experiência falhou”.
O historiador Ferdinand Gregorovius havia escrito
antes disso em seu diário, no dia 17 de junho de
1870: “O papa ultimamente tem urgência de
experimentar a sua infalibilidade... Enquanto estava a
passeio, ordenou a um paralítico: ‘levanta-te e anda’. O
coitado tentou levantar-se e caiu, o que deixou o
substituto de Deus muito furioso. A anedota também
já foi mencionada nos jornais. Realmente creio que ele
está maluco”...
Pio IX dava a impressão de estar sofrendo de mania de
grandeza também de outras maneiras. Alguns, até
mesmo bispos, achavam que ele estava louco ou
falavam de sintomas patológicos. Franz Xaver Kraus,
historiador da Igreja Católica, anotou em seu diário: “A
propósito de Pio IX, Du Camp concorda com meu
ponto de vista de que desde 1848 o papa sofre de
uma doença mental e de malignidade”.[43]
– Mateus 16.16-18
– João 21.15-17
– Vaticano II [1]
Um papa infalível como sucessor de Pedro,
que tem as chaves do reino do céu, sendo o vigário
de Cristo? Antes foi a declaração arrogante de que a
pompa e os poderes foram herdados de Constantino.
Hoje afirma-se que a declaração de Cristo a Pedro,
citada na página anterior, fez dele o primeiro papa, a
pedra sobre a qual “a única Igreja verdadeira” foi
construída, e todos os que o seguiram nesse ofício
têm sido seus sucessores, não importa a violência e
as fraudes que usaram para consegui-lo, nem suas
atitudes malignas. A autoridade que o papa possui
hoje e a religião católica que ele lidera estão
ancoradas sobre essa afirmação.
O papa é a Igreja Católica. Sem ele a Igreja não
poderia funcionar e nem mesmo existir. Por isso é
importante estudarmos esse assunto mais a fundo.
Pouco importa o que o fiel católico comum pense
ou faça. Mas as doutrinas e os feitos da hierarquia e
principalmente dos papas continuam controlando a
Igreja. É aí que o nosso foco deve estar, não na
opinião de alguns católicos que dizem não acreditar
na metade do que a Igreja ensina. (Essas pessoas
não deveria se chamar “católicas”. Por que confiar
numa Igreja para obter a salvação eterna se ela nem
é digna de confiança em assuntos menos
importantes?)
E que dizer da declaração de Cristo a Pedro:
“sobre esta pedra edificarei a minha igreja?”
(Mateus 16.18). Os protestantes argumentam que
existe um jogo de palavras no verso chave acima.
No grego, “Pedro” é petros, uma pedrinha,
enquanto “pedra” no grego é uma petra, como a
rocha de Gibraltar, por exemplo. Uma petra tão
imensa obviamente só poderia ser o próprio Cristo e
a confissão de que Jesus é o Cristo, que Pedro
acabara de fazer.
Os apologistas católicos modernos respondem
que Cristo estava provavelmente falando em
aramaico, o que elimina o jogo de palavras e deixa
Pedro como a pedra sobre a qual a Igreja foi
edificada. Essa posição, contudo, certamente nega
uma das doutrinas básicas do catolicismo romano, a
profissão de fé tridentina. Ela exige que todos os
clérigos, a partir do papa Pio IV (1559-1565),
aceitem a interpretação das Sagradas Escrituras
somente de acordo com o consenso unânime dos
Pais [da Igreja].
Quem é a Pedra?
A verdade sobre o assunto não depende da
questionada interpretação de alguns versículos, mas
sim da totalidade das Escrituras. O próprio Deus é
claramente descrito como a “pedra” ou “rocha”
infalível de nossa salvação através de todo o Antigo
Testamento. (Deuteronômio 32.3,4; Salmo 62.1,2,
etc.). Na verdade a Bíblia declara que Deus é a
única pedra: “Pois quem é Deus, senão o
SENHOR? E quem é rochedo, senão o nosso
Deus?” (Salmo 18.31).
O Novo Testamento torna igualmente claro que
Jesus Cristo é a pedra sobre a qual a Igreja é
construída, e que Ele, sendo Deus e um com o Pai,
é, portanto, a Pedra. Cristo e Seus ensinamentos
(Mateus 7.24-29) são rocha onde o “homem
prudente edifica a sua casa”, e não Pedro. O próprio
apóstolo Pedro frisa que Cristo é a “pedra angular”
sobre a qual a Igreja é construída (1 Pedro 2.6-8). E
ele cita uma passagem do Antigo Testamento para
enfatizar isso.
Paulo, do mesmo modo, chama Cristo “a
pedra angular” da Igreja e declara que a Igreja
também é edificada “sobre o fundamento dos
[todos] apóstolos e profetas” (Efésios 2.20). Esta
declaração nega claramente que Pedro tenha uma
posição especial no fundamento da Igreja.
Os Verdadeiros Sucessores
dos Apóstolos
Cristo mandou que os apóstolos fizessem
discípulos através da pregação do Evangelho. Ele
acrescentou que cada pessoa que cresse no
Evangelho deveria ser ensinada a obedecer a todas
as coisas que Ele havia ensinado. A declaração:
“ensinando-os [aos discípulos que se converterão] a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”
(Mateus 28.20), não pode ser atribuída
exclusivamente a uma liderança hierárquica.
Esperava-se que todos aqueles que se tornaram
discípulos de Cristo através da pregação dos
discípulos originais obedecessem a tudo que Cristo
havia ordenado aos apóstolos. Para que pudessem
fazer tudo que os 11 foram comissionados, cada
discípulo comum precisava ter a mesma autoridade e
o mesmo poder procedentes de Cristo que os
apóstolos tinham.
Quaisquer que tenham sido os mandamentos e
poderes que os apóstolos receberam de Cristo, eles
foram passados a todos os que creram no Evangelho
(ou seja, seus próprios discípulos), os quais, por sua
vez, ensinaram esses mandamentos aos seus
conversos, e assim por diante, até o presente.
Portanto fica evidente que não somente uma classe
especial de bispos, arcebispos, cardeais, papas ou
um Magistério, são sucessores dos apóstolos, mas
todos os cristãos.
A história da Igreja primitiva apresentada no
Novo Testamento diz isso. Os apóstolos obedeceram
ao que Cristo mandou: fizeram discípulos aos
milhares e ensinaram a eles todos os mandamentos
de Cristo; e o próprio Cristo, do céu, capacitava seus
novos discípulos para desempenharem esta grande
comissão. Os cristãos se multiplicaram e as igrejas
foram estabelecidas em todo o Império Romano.
Não havia catedrais. A igreja local se reunia nas
casas. Sua liderança era um grupo de anciãos
piedosos, mais velhos e maduros na fé e que viviam
vidas exemplares. Não havia hierarquia, nem local
ou tampouco sobre um território maior, que tivesse
de ser obedecida por causa de seu ofício ou título.
Não havia classe seleta de sacerdotes que possuísse
autoridade especial para agir como intermediária
entre Deus e o povo. Isso se aplicava ao sacerdócio
judaico, que era uma sombra das coisas que
haveriam de vir (Hebreus 7.11-28; 10.1-22) mas
tornou-se terrivelmente corrupto e teve seu fim no
sacrifício feito na cruz.
Todos os crentes foram encorajados a orar e
profetizar nas reuniões da Igreja. Paulo deixou isto
bem claro: “Quando vos reunis [como Igreja], um
tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação,
aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação.
Seja tudo feito para edificação. No caso de alguém
falar em outra língua, que não sejam mais do que
dois, ou quando muito três, e isto sucessivamente, e
haja quem interprete... Tratando-se de profetas,
falem apenas dois ou três, e os outros julguem. Se,
porém, vier revelação a outrem que esteja
assentado, cale-se o primeiro [a fim de que o outro
fale]. Porque todos podereis profetizar um após
outro, para todos aprenderem e serem
consolados... Portanto, meus irmãos, procurai com
zelo o dom de profetizar e não proibais o falar em
outras línguas” (1 Coríntios 14.26-40).
Não Havia uma Classe de
Elite
Nenhuma das promessas de Cristo aos
apóstolos foi somente para eles ou para uma classe
de elite. Por exemplo: “Se dois dentre vós, sobre a
terra, concordarem a respeito de qualquer coisa,
que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por
meu Pai que está nos céus” (Mateus 18.19). “Tudo
quanto pedirdes em meu nome, isso farei...” (João
14.13) e novamente: “Se pedirdes alguma coisa ao
Pai, ele vo-la concederá em meu nome” (João
16.23). Todos os cristãos que crêem na Bíblia oram
em nome de Cristo, embora a promessa tenha sido
dada ao Seu círculo íntimo de apóstolos. Todos os
católicos tomam o pão e o vinho na missa, mesmo
que Cristo tenha dito a todos os apóstolos: “Fazei
isto em memória de mim” (Lucas 22.19).
Está claro que tudo o que Cristo determinou a
seus amigos mais chegados se aplicava a todos os
convertidos e a todos os cristãos de hoje. Isso quer
dizer que se dois cristãos concordarem sobre alguma
coisa em oração esta lhes será concedida, ou que
tudo o que um cristão pedir ao Pai, em nome de
Cristo, lhe será dado? Sim. Então, por que nem toda
oração é respondida? Todas elas são respondidas,
mas para algumas a resposta é “não” e para outras,
“mais tarde”. O “nome” de Cristo não é uma
fórmula mágica, que, se adicionada à oração,
assegura uma resposta automática positiva. Pedir em
Seu nome significa pedir como Ele pediria, para Sua
honra e glória, não para a nossa.
Nesse ponto a Igreja tem decepcionado
tremendamente os católicos sinceros. Cada oração
que um padre católico faz não é respondida
automaticamente mais do que aquelas feitas pelos
católicos comuns, ministros protestantes ou leigos.
Isso é obvio. Ainda assim diz-se que um membro do
clero católico tem um poder especial sobre qualquer
coisa que ele pronunciar usando o nome de Cristo –
o que for ligado ou desligado, ou o perdão de
pecados – ocorre automaticamente. Não é assim. É
desonesto dizer que o desligamento do pecado (que
não pode ser verificado) ocorre a cada vez que o
sacerdote o pronuncia, se desligar da doença ou do
débito (algo que pode ser verificado) raramente
acontece quando ele pronuncia o desligamento.
A implicação é clara: qualquer coisa que se
obtenha através da oração ao Pai em nome de
Cristo, ou qualquer graça obtida quando dois
cristãos concordam, ligar e desligar ou perdoar
pecados, não acontecem automaticamente, pela
mera expressão de uma fórmula, mas é feito
somente através de Cristo trabalhando por meio de
vasos escolhidos, quando, onde e como Lhe agrada.
Nenhuma dessas promessas era cumprida
automaticamente, sob a direção única de Pedro ou
qualquer um dos outros apóstolos. Nem são
concedidas instantaneamente a um membro da
Igreja Católica Romana ou de qualquer hierarquia
religiosa. Esses dogmas falsos têm posto aqueles que
acreditam neles sob o poder de Roma, levando-os a
procurar num sacerdote aquilo que é a herança de
todo discípulo verdadeiro de Cristo.
Os Tiranos do Passado
e o Magistério de Hoje
O grande apóstolo Paulo escreveu que desde
que os governantes civis não ordenem algo contrário
à vontade Deus, todo cristão, inclusive os próprios
apóstolos, devem obedecer suas ordens (Romanos
13.1-7). Devemos orar “pelos reis e por todos os
que estão investidos de autoridade” (1 Timóteo
2.1-3). Todos os cristãos devem estar sujeitos “aos
que governam, às autoridades...” (Tito 3.1).
Paulo escreveu aos cristãos: “Sujeitai-vos a
toda instituição humana por causa do Senhor, quer
seja ao rei como soberano, quer às autoridades
como enviadas por ele...” (1 Pedro 3.13-14). Os
papas ensinaram exatamente o contrário: que eles
eram os supremos soberanos e que somente suas leis
deveriam ser obedecidas, inclusive pelos reis. A
submissão total que Roma exige tem sido expressa
por muitos papas, mas nenhum deles as expressou
mais claramente do que Nicolau I (858-867):
É evidente que os papas não podem estar ligados nem
tampouco sujeitos aos poderes terrenos, nem mesmo
aos do apóstolo [Pedro], se ele voltasse à terra; desde
que Constantino, o Grande, reconheceu que os
pontífices representam o poder de Deus na terra, a
divindade não pode ser julgada por nenhum homem.
Somos, portanto, infalíveis, e quaisquer que sejam
nossos atos, não precisamos prestar contas deles a
ninguém mais do que a nós mesmos.[5]
O Fracasso do “Primeiro
Papa”
Se as palavras de Cristo a Pedro em Mateus
16.18 fizeram dele o primeiro papa infalível, então
temos outro problema sério. As palavras seguintes
na boca de Pedro negam o cerne do Evangelho
cristão ao declarar que Cristo não precisava ir até a
cruz: “...Tem compaixão de ti, Senhor; isso [a
morte na cruz] de modo algum te acontecerá”
(Mateus 16.22). Ao que o Senhor respondeu
imediatamente: “Arreda, Satanás! Tu és para mim
pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de
Deus, e sim das obras dos homens” (Mateus
16.23). Esta foi a primeira declaração ex catedra de
Pedro a toda a Igreja (conforme registra a Bíblia)
em matéria de fé e moral (ela tem a ver com o meio
de salvação) – e não era infalível, mas pura heresia!
No próximo capítulo Pedro comete um erro
sério, com outro pronunciamento herético. Ele
coloca Cristo no mesmo nível de Moisés e Elias:
“Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei
aqui três tendas; uma será tua, outra para Moisés,
outra para Elias” (Mateus 17.4). Desta vez é o
próprio Deus quem censura, do céu, o “novo papa”:
“Este é o meu Filho amado em quem me comprazo;
a ele ouvi” (v. 5).
Mais tarde, temendo por sua vida, Pedro nega,
pragueja e jura não conhecer Jesus – novamente
uma declaração de “fé e moral” a toda a Igreja que
nega o próprio Cristo. Mesmo se os papas fossem
seus sucessores, Pedro dificilmente poderia ter-lhes
passado uma infalibilidade que, obviamente, não
possuía.
Pedras Instáveis
Depois de ter prometido a Cristo na última ceia
que preferia morrer a negá-lo, Pedro fez exatamente
o contrário. “Então, começou ele a praguejar e a
jurar: Não conheço esse homem!” (Mateus 26.74).
Essa é uma negação completa do próprio Cristo e do
cristianismo como um todo. Pedro era uma “pedra”
muito instável para Cristo ter construído sobre ele a
sua Igreja! Porém seus supostos sucessores foram
culpados de coisas ainda piores.
Já mencionamos uma porção deles.
Consideremos brevemente mais um exemplo: o papa
Júlio II (1503-1513), sifilítico e infame mulherengo,
pai de inúmeros bastardos. Ele comprou sua posição
no papado. Durante a Quaresma, enquanto os bons
católicos faziam dietas rigorosas, ele se deleitava
com ricas iguarias. Usando sua armadura, Júlio
muitas vezes conduziu pessoalmente seus exércitos
para a conquista de cidades e territórios, com o
objetivo de expandir os Estados papais. Como
poderia ser ele o vigário de Cristo, que afirmou que
o Seu reino não era deste mundo e que por isso os
Seus súditos não lutariam? Dizer tal coisa é zombar
de Cristo e de Seus ensinos.
Sucessores de Imperadores
Lembre-se que nos primeiros tempos da Igreja
a infalibilidade não era atribuída ao bispo de Roma,
mas ao seu superior, o imperador. O papa Leão I
(440-461), por exemplo, concedeu a um imperador
incrédulo a mesma infalibilidade que Pio IX
persuadiu os membros do Vaticano I a declararem
ter sido sempre o poder exclusivo dos papas. Leão I
disse: “Pela inspiração do Espírito Santo o
imperador não necessita de instrução humana e é
incapaz de cometer erros doutrinários”.[9]
O rasgado louvor que transcrevemos a seguir
soa como aquele que hoje é dado aos papas, mas
trata-se de um discurso de Eusébio, honrando o
imperador pagão Constantino depois que este
assumiu a liderança da Igreja:
Deixemos, então, que apenas o Imperador... seja
declarado digno... livre... estando acima da sede de
riquezas, superior ao desejo sexual... que dominou as
paixões que sobrecarregam o restante dos homens;
cujo caráter é formado conforme o original divino do
Supremo Soberano, e cuja mente reflete, como num
espelho, a radiação de Suas virtudes. Além disso, o
nosso imperador é perfeito em prudência, bondade,
justiça, coragem, piedade, devoção a Deus...”[10]
A Mãe Profana
“Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério:
BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E
ABOMINAÇÕES...”
Vigários de Cristo?
João XII (955-964), a quem nos referimos
antes, tornou-se papa aos 16 anos de idade. Ele
mantinha um harém no palácio de Latrão, e viveu
uma vida de maldade que ultrapassa a imaginação,
chegando até mesmo a fazer um brinde ao Diabo
diante do altar de São Pedro. Líder espiritual da
Igreja durante oito anos, João XII dormia com sua
mãe e qualquer outra mulher que pudesse ter à mão.
As mulheres eram admoestadas a não se aproximar
da Igreja de São João de Latrão. Liutprand escreveu
sobre esse homem em seu diário:
O papa João é inimigo de todas as coisas... O palácio
de Latrão, que uma vez abrigava os santos e agora é
um bordel de prostitutas, jamais esquecerá sua união
com a dama de seu pai, irmã de Estefânia, outra
concubina...
Mulheres... temem vir orar nos altares dos santos
apóstolos, pois sabem que há pouco tempo atrás João
agarrou peregrinas e forçou esposas, viúvas e também
virgens a irem para a cama com ele...[12]
A Obrigação do Celibato
O celibato era praticamente desconhecido na
Inglaterra, até que finalmente acabou sendo imposto
por Inocêncio IV, por volta de 1250. Muitos padres
ingleses eram casados, uma prática há muito aceita
pela Igreja. Mas Roma determinou que teria de pôr
fim à devoção à família de todos os padres e freiras;
sua lealdade agora deveria ser somente à santa
Madre Igreja e ao papa. R. W. Thompson explica
porque o celibato tornou-se obrigatório na
Inglaterra:
Desde que foi introduzido, o celibato do clero romano
tem sido considerado um dos meios mais efetivos de
estabelecer a supremacia dos papas; por isso foi feita
a tentativa de introduzi-lo na Inglaterra, após a
conquista normanda.[15]
O Registro na Arte e na
Arquitetura
A promiscuidade dos papas tem sido
imortalizada nas próprias estruturas e estátuas que
decoram o Vaticano, a basílica de São Pedro e
outras igrejas e basílicas famosas de Roma. A
magnífica capela Sistina, por exemplo, foi
construída e depois nomeada em homenagem a
Sisto IV, que taxava os outros por manterem
amantes, mas nada pagava pelas suas. É nesse local
que os cardeais se reúnem para eleger o próximo
papa. Cerca de 200 metros acima deles, o imenso
teto exibe o incrível trabalho artístico de
Miquelangelo.
Os visitantes, que se admiram ao vê-la, não
sabem que aquela hoje considerada a maior obra de
arte do mundo, foi encomendada por Júlio II (1503-
1513), que comprou o papado por uma fortuna e
nem mesmo fingia ser religioso, muito menos
cristão. Ele era um notório mulherengo, pai de uma
porção de bastardos e estava tão carcomido pela
sífilis que não podia expor seus pés para serem
beijados. Assim, a capela Sistina permanece como
um dos muitos monumentos de Roma que
demonstram que a Igreja Católica possui e exibe
orgulhosamente o título de “Mãe das Meretrizes”,
como João havia profetizado.
Conhecida como a mais importante igreja cristã
ocidental dedicada a Maria, Santa Maria Maggiore é
o fruto de esforços combinados de uma porção de
papas promíscuos. Sisto III (432-440), outro notório
mulherengo, construiu a estrutura principal. O “teto
de madeira dourada sobre a nave ficou sob os
cuidados do papa Alexandre VI, o Bórgia (1492-
1503)”[20], que pagou por ela com ouro procedente
da América, recebido como um presente de
Fernando e Isabel da Espanha, a quem ele havia
entregado o Novo Mundo. A incrível maldade de
Bórgia, inclusive seu apreço pela tortura, suas
amantes e seus filhos ilegítimos, foram mencionados
abreviadamente. Ele “desencadeou a primeira
censura aos livros impressos... o Index, que [durou]
mais de 400 anos”.[21]
No interior da Basílica de São Pedro o
monumento sepulcral do papa Paulo III (1534-1549)
é adornado com figuras femininas reclinadas. Uma
figura, representando a Justiça, permaneceu despida
por 300 anos, até que Pio IX mandou pintar roupas
sobre ela. Quem lhe serviu de modelo foi a irmã de
Paulo II, Giulia, a amante de Alexandre VI. Desse
modo foi imortalizada a promiscuidade dos papas
“celibatários”.
A Tolerância Antibíblica
Atual
A grande imoralidade entre os clérigos católicos
romanos não está confinada ao passado, mas ainda
hoje continua ocorrendo em grande escala. Nos dias
dos apóstolos, tal maldade era rara e podia ser causa
para excomunhão. Os fiéis não deviam sequer
associar-se aos fornicadores (1 Coríntios 5.8,9) que
afirmassem ser cristãos, de modo que o mundo
soubesse que tal conduta era condenada pela Igreja e
por todos os discípulos de Cristo. Sobre um homem
promíscuo em Corinto, Paulo escreveu à Igreja:
“...Expulsai [excomungai], pois, de entre vós, o
malfeitor” (v. 13).
Mesmo assim, inúmeros papas, cardeais, bispos
e padres têm sido habituais fornicadores, adúlteros,
homossexuais e genocidas – injustos e depravados
vilões que continuaram seus estilos de vida
degenerados, imunes à disciplina. Longe de serem
excomungados, esses papas figuram orgulhosamente
na lista dos papas do passado, os “vigários de
Cristo”. Hoje, um padre que se envolve em conduta
sexual indevida raramente é destituído do sacerdócio
ou excomungado da Igreja. Em vez disso é
transferido para outro lugar e talvez receba
aconselhamento psicológico. Os padres considerados
curados por esses centros de tratamento (...) têm
sido transferidos para outras paróquias, apenas para
abusar de novas vítimas.[22]
Enquanto Roma condena oficialmente a
fornicação, milhares de seus sacerdotes praticam
sexo fora do casamento. Um jornal católico
americano registrou: “Sete mulheres francesas...
companheiras de padres que... são forçadas a viver a
vida inteira ‘de forma clandestina’ o amor que elas
compartilham com um padre [e que] representam
milhares de mulheres em relacionamentos
semelhantes... chegaram ao Vaticano no dia 20 de
agosto de 1994. Elas pediram que o papa... levasse
em conta a realidade enfrentada pelas companheiras
de ‘milhares de padres’ que vivem escondidas,
muitas vezes com a aprovação dos superiores da
Igreja, e pelos filhos que... são criados apenas por
suas mães sozinhas ou são abandonados”.[23]
A fraude e a hipocrisia persistem. A ex-freira
Patricia Nolan Savas, autora de Gus: a Nun’s Story
[Gus: a História de Uma Freira] escreve:
Durante meus dez anos como irmã Augusta...
testemunhei situações que iam de comprometedoras a
aberrantes... Na teoria, pelas regras éramos proibidas
de sequer tocar noutra pessoa, homem ou mulher.
“Amizades particulares”, consideradas uma séria
violação ao voto de castidade, deviam ser evitadas a
todo custo. E o custo da sexualidade imposta e da
negação do corpo era sempre alto e muitas vezes
trágico.
Com exceção de alguns seletos eunucos, muitos dos
padres e freiras que conheci acabavam rejeitando essa
carga intolerável e, ou abandonavam a vida religiosa
juntos, ou estabeleciam suas ligações com
companheiros de clero ou com estranhos.
Havia algumas valorosas, que prosseguiam em suas
tentativas sérias de matar a carne e, muitas vezes,
caíam vítimas de sérias desordens psicogênicas.
Algumas continuam seriamente prejudicadas na mente
e no corpo, seqüestradas em instituições referidas
como “retiros” ou outro eufemismo qualquer. Um
trágico número tornou-se alcoólatra e em silêncio
beberam até morrer.
A causa principal desse absurdo desperdício de vidas?
O celibato – um estado virtuoso quando aceito
livremente, mas um peso esmagador quando imposto
como dogma sobre todo o clero, como foi pela Igreja
Católica Romana, nove séculos atrás.[24]
Sedutora de Almas
“Na sua fronte, achava-se escrito... A MÃE DAS
...ABOMINAÇÕES DA TERRA”
– Apocalipse 17.5
– Vaticano II[1]
– Vaticano II[2]
“Olhem para o fruto da Reforma: as muitas
divisões e denominações dos protestantes”, é o
clamor freqüente dos apologistas católicos. “Como
pode tal confusão vir de Deus?” A implicação é que
somente os protestantes têm diferenças doutrinárias
entre si, enquanto a Igreja Católica Romana é uma
unidade de cerca de um bilhão de fiéis unidos, todos
crendo e praticando a mesma coisa. Isso, é claro,
está muito longe da verdade. O catolicismo dá uma
falsa impressão de unidade porque grandes
desacordos de doutrina e prática ficam escondidos
debaixo de seu largo manto. Como explica E.
Michael Jones, um importante escritor católico e
editor do periódico Fidelity [Fidelidade], os fiéis
[não abandonam] a Igreja Católica... [porque] ela é o
único barco de Cristo... não importa quais ondas de
heresia a rodeiem, nunca se justifica que alguém pule
fora do navio, nem mesmo durante as piores
tempestades.[3]
Sérias Divisões
Como já vimos, os papas discordavam e se
excomungavam uns aos outros como hereges
(mesmo assim os excomungados permanecem na
lista dos papas até hoje). Os concílios discordavam
entre si e havia sérias diferenças de opinião dentro
do mesmo concílio. Havia muitos dissidentes no
Concílio de Trento – que mesmo não representando
o pensamento de toda a Igreja, permanece até hoje
como a maior fonte de dogmas oficiais da Igreja
Católica. No Vaticano I muitos bispos se opunham à
infalibilidade papal e somente mais tarde
confirmaram o voto para se pouparem da ira do
papa. Aconteceu o mesmo no Vaticano II, com o
papa Paulo VI sufocando a oposição.
A versão inglesa do novo Catecismo Universal
foi postergada por mais de um ano, devido a sérias
dificuldades entre os bispos. Algumas dessas
dificuldades foram ventiladas na Conferência
Nacional dos Bispos Católicos, em Washington, nos
dias 15 a 18 de novembro de 1993. Muitos bispos
expressaram resistências doutrinárias. O arcebispo
Rembert Weakland, de Milwaukee, disse na
Conferência: “Existe uma enorme inquietude e
desconforto quanto à liturgia atual”.[4]
As numerosas divisões dentro da Igreja
Católica Romana englobam de tudo, desde o
arquiconservadorismo às crenças e práticas de
padres e freiras profundamente envolvidos no
hinduísmo e no budismo, ao liberalismo de Hans
Küng. Este último está tão longe da linha partidária
oficial de Roma que, em 1979, o Vaticano revogou
sua condição de teólogo. Mesmo assim, ele continua
sendo uma poderosa influência dentro da Igreja
Católica. Ou tomemos o padre Mathew Fox, por
exemplo, silenciado por um ano pelo Vaticano, mas
que acabou fazendo declarações de pontos de vista
que somente podem ser chamadas de pagãos e da
Nova Era. Expulso da ordem dos dominicanos por
insubordinação, porém não excomungado da Igreja
por suas heresias obscenas, Fox tornou-se desde
então membro da Igreja Episcopal. Muitos outros
teólogos e clérigos permanecem na Igreja, desde os
padres e freiras da ordem de Maryknoll que
advogam o marxismo e a teologia da libertação, até
os zelotes da Sociedade de São Pio X, que estão
escandalizados com o ecumenismo de João Paulo II.
O Grande Cisma
Houve tantas divisões entre os católicos
romanos através dos séculos como entre os
protestantes e elas continuam acontecendo ainda
hoje. Alguns desses desacordos resultaram em
guerras. Considerem, por exemplo, o Grande
Cisma, quando a França e a Itália se engalfinhavam
pela posse do lucrativo papado. Urbano VI, um
napolitano, tornou-se papa em 1378. Tentando
efetuar algumas reformas muito necessárias, Urbano
excomungou os cardeais que haviam comprado seus
benefícios. Foi um movimento bem intencionado,
mas politicamente era uma tolice. Como Von
Dollinger explica:
A simonia havia sido por muito tempo o pão diário da
Cúria Romana e o seu fôlego de vida; sem a simonia é
inevitável que a máquina pare e comece
instantaneamente a se desmontar. Os cardeais tinham,
segundo seu próprio ponto de vista, um amplo
território para insistirem na impossibilidade de subsistir
sem a simonia. Firmando um acordo, revoltaram-se
contra Urbano e elegeram Clemente VII, um homem
que os agradava.
Foi assim que de 1378 a 1409 a cristandade ocidental
esteve dividida entre duas obediências.[5]
As Piores Abominações
Pouco antes de morrer, Catarina, que tinha
longos transes nos quais supostamente via o céu, o
purgatório e o inferno, recebeu permissão de Deus
(assim ela afirmava) “para suportar o castigo de
todos os pecados da humanidade...”[7] Mesmo que
a morte de Cristo já tenha pago toda a penalidade do
pecado, ela foi excomungada como herege por tal
blasfêmia? Pelo contrário, tão admirada se tornou
por seu “sacrifício” que a Igreja Católica Romana
declarou-a santa.
A Igreja, 500 anos mais tarde, aceitaria a
afirmação de que os sofrimentos (evidência por
estigma sangrento nas mãos, pés e lado onde Cristo
foi perfurado) suportados durante 50 anos[8] pelo
monge chamado Padre Pio também eram
pagamento pelos pecados do mundo. Pio afirmava
que mais espíritos de mortos costumavam visitá-lo
em sua cela no mosteiro do que pessoas vivas. Tais
espíritos vinham agradecer-lhe por pagar os seus
pecados com os seus sofrimentos, para assim
poderem ser libertados do purgatório e ir para o céu.
Outros monges testificaram escutar muitas vozes
conversando com o padre Pio à noite.[9]
A Bíblia, entretanto, repetidamente nos
assegura que Cristo sofreu a total penalidade do
pecado: “No qual temos a redenção, pelo seu
sangue, a remissão dos pecados, segundo a
riqueza da sua graça...” (Efésios 1.7, cf.
Colossenses 1.14). Nada restou que os pecadores
tenham que fazer para receber o perdão oferecido
pela graça de Deus. O débito foi totalmente pago:
“Está consumado!”, gritou Cristo em triunfo pouco
antes de morrer na cruz (João 19.30). Sugerir outro
meio é a mais séria heresia.
João Batista saudou Jesus como “o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29).
To dos os outros (inclusive Pio e os demais) sendo
pecadores (“todos pecaram...” [Romanos 3.23]) te
riam de morrer por seus próprios pecados e,
portanto, não poderiam pagar pelos pecados de
outra pessoa. Pedro declarou que “também Cristo
morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo [sem
pecado] pelos injustos [nós], para conduzir-vos a
Deus (1 Pedro 3.18).
Mesmo assim, Catarina de Siena, Padre Pio e
outros “santos sofredores” são reverenciados e
recebem as orações de milhões de católicos,
inclusive do papa atual, por terem sofrido pelos
pecados dos outros. Eles são maiores do que Cristo
no sentido de que o sofrimento de Cristo ainda deixa
os bons católicos no purgatório, de onde o
sofrimento de Padre Pio liberta multidões e as leva
para o céu. O Vaticano II declara que os devotos
têm sempre “carregado suas cruzes para fazer
expiação por seus próprios pecados e os pecados
dos outros... para ajudar os seus irmãos a obter a
salvação de Deus...”[10]
Tal blasfêmia é uma das abominações a que a
Igreja Católica tem dado à luz e que ainda hoje ela
ensina. Poderá existir maior abominação do que
ensinar que pecadores, pelos quais Cristo pagou a
penalidade total do pecado, ainda “fazem expiação
por seus próprios pecados e os pecados dos outros?”
Abominações de Todos os
Teus Ídolos
Na Bíblia a palavra “abominação” é um termo
espiritual associado à idolatria. Deus condenou Israel
pelas “abominações de todos os teus ídolos”
(Ezequiel 16.36). Práticas ocultistas também são
chamadas abominações, junto com sexo ilícito e
pervertido. Uma vez que a mulher cavalgando a
besta é “a Mãe das Meretrizes e Abominações”,
parece claro que estas práticas más, com raízes na
Babilônia, caracterizarão a religião mundial sob o
Anticristo, que essa mulher representa. Ela é
chamada a “Mãe” destas coisas porque as têm
promovido e encorajado. A descrição se encaixa
perfeitamente tanto na história quanto na prática
atual da Igreja Católica Romana.
A proibição bíblica da fabricação de imagens
para fins religiosos e de se dobrar diante delas (e o
ódio de Deus contra esta prática pagã) está
claramente determinada no segundo dos Dez
Mandamentos e em numerosas outras passagens da
Escritura. Por exemplo: “Não fareis para vós outros
ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura...
para vos inclinardes a ela... Maldito o homem que
fizer imagem de escultura ou de fundição,
abominável ao Senhor...” (Levítico 26.1;
Deuteronômio 27.15). Mesmo assim o Vaticano II
recomenda as imagens nas igrejas e diz que elas
devem ser “veneradas pelos fiéis”. Nas igrejas e
catedrais católicas ao redor do mundo podem-se ver
os fiéis de joelhos dobrados em frente às imagens
deste ou daquele “santo” e, mais freqüentemente,
diante de “Maria”.
O segundo dos Dez Mandamentos que Deus
deu a Israel declara: “Não farás para ti imagem de
escultura, nem semelhança alguma do que há em
cima nos céus, nem embaixo na terra... Não as
adorarás, nem lhes darás culto... (Êxodo 20.4,5;
cf. Deuteronômio 5.8,9). Como pode a Igreja
Católica Romana desobedecer esta clara proibição?
Ela faz algo pior do que ignorá-la; ela a esconde do
povo.
Os “Dez Mandamentos” relacionados no
catecismo católico deixam fora o segundo
mandamento, proibindo imagens, e dividem o
último, proibindo a cobiça, em dois. É uma flagrante
rejeição de um claro mandamento de Deus. Além do
mais, esta rejeição é desonestamente encoberta pela
pretensão de que o mandamento não existe. É uma
fraude deliberada praticada contra os membros da
Igreja, a maioria dos quais nada sabe da Bíblia,
exceto aquilo que o clero lhes diz.
Quando o imperador Leão III publicou o Édito
de Constantinopla exigindo o batismo forçado dos
judeus, ele foi louvado. Mas em 726, quando
determinou que todas as imagens deveriam ser
quebradas, houve um grande alarido por parte dos
cidadãos e do clero. O papa Gregório II afirmava
que as imagens não eram adoradas, mas
reverenciadas. A verdade, contudo, escapou em sua
carta ao imperador: “Mas quanto à própria estátua
de São Pedro, a qual todos os reinos do Ocidente
estimam como um deus na terra, o Ocidente tomaria
uma grande vingança [se ela fosse destruída]”.[11]
Uma guerra sangrenta ocorreu em Ravena por causa
deste assunto e um sínodo em Roma excomungava
todos os que se atrevessem a atacar as imagens.
Os cristãos não tinham usado imagens até que
Constantino se tornou, de fato, o cabeça da Igreja. A
porta que foi aberta ao paganismo naquele tempo
jamais foi fechada. A Igreja tentou se acomodar aos
pagãos, juntando-se a eles e mantendo os seus
ídolos, porém agora com nomes cristãos. Esta
prática ainda hoje faz parte da santeria [culto espírita
de países latinos], vodu, etc.
Os apologistas católicos insistem que a
veneração não é à imagem, mas ao “santo” que ela
representa. Mesmo assim, João Paulo II promove
abertamente a crença pagã de que as imagens têm
poder. Certa vez o papa declarou na basílica de São
Pedro:
Uma misteriosa “presença” do protótipo transcendente
parece ser transferida para a imagem sagrada... A
contemplação devota de tal imagem parece então um
pacto tão real e concreto de purificação da alma do
fiel... Porque a própria imagem abençoada pelo
padre... pode de certo modo, por analogia com os
sacramentos, realmente ser considerada um canal
divino de graça.[12]
Salvação à Venda
A Igreja Católica Romana fez da venda da
salvação aos ingênuos um grande negócio, com a
maior parte de sua grande riqueza acumulada a
partir desta fonte. Ela faz isso em nome de Cristo,
que oferece a salvação como um dom gratuito! Ele
disse aos Seus discípulos: “De graça recebestes, de
graça dai” (Mateus 10.8). Não poderia haver
abominação maior do que vender a salvação, mas
mesmo assim Roma não tem se arrependido deste
mal e continua a praticá-lo hoje em dia.
Sob o papa Leão X (1513-1521) – que
amaldiçoou e excomungou Martim Lutero – foram
divulgados pela chancelaria romana preços
específicos a serem pagos à Igreja pela absolvição de
cada crime possível de ser imaginado. Até mesmo o
assassinato tinha seu preço estabelecido. Por
exemplo, um diácono culpado de assassinato poderia
ser absolvido por vinte coroas. Os “malfeitores
ungidos”, como eram chamados, uma vez
perdoados pela Igreja neste sentido, não poderiam
ser processado pelas autoridades civis.
A venda de salvação por Leão não era
novidade. João XXII (1316-1334), havia feito o
mesmo 200 anos antes, estabelecendo um preço
para cada crime, desde assassinato até incesto e
sodomia. Quanto mais os católicos pecavam, mais
rica ficava a Igreja. Um esquema semelhante a esse
tem funcionado na Igreja durante muitos anos.
Inocêncio VIII (1484-1492), por exemplo,
havia concedido uma indulgência chamada de
Butterbriefe que era válida por 20 anos. Por uma
certa soma podia-se comprar o privilégio de comer
os pratos favoritos durante a Quaresma e outros
tempos de jejum. Era a maneira de receber o crédito
pelo jejum, enquanto era possível deleitar-se com os
mais saborosos alimentos. Além do mais, não eram
os vigários de Cristo que ligavam e desligavam tudo
na terra e ligavam e desligavam tudo no céu? Os
lucros deste esquema geraram a renda para a
construção da ponte sobre o Elba. Júlio III (1550-
1559) renovou essa indulgência (por uma taxa
atraente) por mais 20 anos, após ter se tornado o
novo papa.
Leão X pôs abaixo a basílica de Constantino e
construiu a de São Pedro, usando em grande parte o
dinheiro pago pelas pessoas que pensavam estar
assim recebendo o perdão de seus pecados e uma
entrada para o céu. Essa estrutura magnífica
representa uma evidência de que Roma é a “Mãe
das Abominações”.
Assim como Giovanni de Médici, Leão X
tornou-se abade com apenas sete anos, por ocasião
de sua primeira comunhão, e foi ordenado cardeal
quando tinha apenas 13. Mesmo sendo o mais
jovem cardeal daquele tempo, o papa Benedito IX
subiu ao trono de Pedro com 11 anos de idade.
Imagine um menino de 11 anos pronunciando
solenemente perdão de pecados como único
representante de Cristo na terra! Foi Leão X quem
comissionou o frade Tetzel a vender indulgências,
que prometiam livrar as almas do purgatório ou
livrar o comprador, caso fossem compradas em seu
próprio nome, de passar qualquer tempo naquele
lugar de tormento intermediário.
O slogan das vendas infames de Tetzel era:
“Tão logo a moeda tilinta no cofre, uma alma salta
do purgatório!” Como poderia alguém ser tão tolo
para acreditar que o perdão de pecados, pelos quais
Jesus precisou enfrentar na cruz a ira de Deus,
poderia ser conseguido com dinheiro? O “Deus” do
Catolicismo, que age em resposta a tais
regulamentos inventados por uma Igreja corrupta,
claramente não é o Deus da Bíblia. (Foi essa
abominação da venda de salvação que escandalizou
Martim Lutero e desencadeou a Reforma).
Os protestantes bem-intencionados, querendo
acreditar no melhor, imaginam que o catolicismo
romano tem se livrado das abominações do passado,
incluindo as indulgências. O livro de Charles
Colson, The Body [O Corpo], contém exemplos
dessas informações incorretas. Embora o livro fale
de forma eloqüente sobre muitas verdades,
apresenta o catolicismo romano erroneamente como
sendo o cristianismo bíblico e apela para uma união
dos evangélicos com ele. Colson escreve: “Os
reformadores, por exemplo, atacavam as práticas
corruptas das indulgências; hoje elas [indulgências]
já não existem (modernamente temos as práticas
equivalentes de alguns mercadores televisivos
inescrupulosos, ironicamente, na sua maioria
protestantes, que prometem curas e bênçãos em
troca de contribuições).”[13]
Nós endossamos sua condenação aos
“mercadores televisivos inescrupulosos”, mas
admiramo-nos de sua interpretação incorreta de
Roma. Um dos principais documentos do Vaticano
II dedica 17 páginas a explanar as indulgências e
como consegui-las e excomunga e amaldiçoa
qualquer um que negue que a Igreja tem o direito de
conceder indulgências para a salvação hoje.[14] As
regras são tão complexas e ridículas quanto
abomináveis. Tente imaginar Deus honrando
regulamentos como conceder certas indulgências
“apenas em dias fixados pela Santa Sé” ou uma
“indulgência plenária, aplicável somente aos mortos,
que pode ser obtida em todas as igrejas... no dia dois
de novembro”[15], etc. Todo o ensino sobre
indulgências nega a suficiência do sacrifício redentor
de Cristo feito na cruz pelos pecados. (Veja o
Apêndice B para mais detalhes).
Algumas indulgências antigas permanecem em
vigor ainda hoje. Uma notícia publicada no
periódico Inside The Vatican [Por Dentro do
Vaticano] relembra aos católicos que nos dias 28 e
29 de agosto de 1994 houve uma oportunidade fora
do comum para obter uma indulgência especial:
O papa Celestino V doou uma “porta santa” à catedral
de Maria Collemaggio em sua bula de 29 de setembro
de 1294. Para obter esta indulgência “perdonanza” é
necessário estar na catedral entre 18 horas do dia 28
e 18 horas de 29 de agosto para se arrepender
sinceramente dos pecados, confessar-se e ir à missa e
à comunhão dentro de oito dias da visita. A “porta
santa” está aberta todo ano, mas em 1994 é o 700o
aniversário da Bula de Perdão. Vá lá![16]
Cuidado: Aí Vem a
Reforma!
Na porta da igreja do castelo de Wittenberg, a
mesma onde Martim Lutero afixou suas 95 teses,
estavam relíquias (inclusive um suposto cacho de
cabelo da virgem Maria) oferecendo dois milhões de
anos em indulgências aos que as venerassem
segundo as regras prescritas. Nunca a Igreja Católica
Romana desculpou-se por ter levado multidões a se
perder dessa maneira. E como se desculpar às almas
agora no inferno por ter-lhes vendido uma falsa
“passagem para o céu”?
Tanto pela infâmia como pela astúcia, nenhum
esquema para arrecadar dinheiro no passado, nem o
dos mercadores televisivos inescrupulosos, sequer se
aproxima da venda de indulgências. Ela proveu
muito dinheiro para os papas no tempo da Reforma.
No ano 593, o papa Gregório I propôs pela primeira
vez o conceito antibíblico (mas muito proveitoso) de
que havia um lugar chamado “purgatório”, no qual
os espíritos dos mortos sofriam, para assim serem
purgados de seus pecados e totalmente liberados do
“débito da punição eterna”. Esta invenção foi
declarada como dogma da Igreja no Concílio de
Florença em 1439 e permanece como parte
importante do catolicismo romano ainda hoje.
Não foram essas heresias abomináveis,
entretanto, que dividiram os católicos. Todos
pareciam contentes com a promessa de que a Igreja
de algum modo os levaria para o céu, não
importando quão repugnantes ao bom senso e à
justiça fossem os métodos. Como disse
Chamberlain, “a visão da fé estava cega às
discrepâncias”.[17] Foi a divisão causada pelos
papas rivais, cada um afirmando estar encarregado
da máquina da salvação, que moveu a Igreja à ação.
Quando os três rivais depuseram, cada um
afirmando ser o “vigário de Cristo”, e em seguida foi
nomeado um novo papa, Martinho V, o Concílio de
Constança (1414-1418) reunificou a Igreja (Veja
Apêndice D para mais detalhes). Muitos bispos
estavam convencidos de que uma reforma era
desesperadamente necessária. Para mover o Concílio
em direção à reforma, Constança declarou que
deveria haver outro concílio ecumênico a cada dez
anos. O papa Martinho V respeitosamente
convocou o Concílio em 1423 para o encontro,
primeiro em Pávia, depois em Siena. Mas no momento
em que o mínimo sinal de uma tentativa de reforma se
manifestava, ele o dissolvia “por causa do pequeno
número de presentes”. Contudo, pouco antes de sua
morte ele convocou o novo Concílio para se encontrar
na Basiléia.
O sucessor de Martinho V, Eugênio IV, não pôde deixar
de cumprir com o dever que havia herdado de seu
predecessor, com o qual ele já havia solenemente se
comprometido no conclave.[18]
A Luta Pela Supremacia
Usando de um pretexto qualquer, Eugênio
ordenou que o Concílio debandasse imediatamente,
mas a assembléia se recusou e começou uma
contestação ao papa, no início com a garantia da
população da Europa e do rei Sigismundo. Em vão
o papa excomungou os prelados envolvidos. O
suporte para a reforma brotou do apoio dos reis,
príncipes, bispos, prelados e universidades. Sob
pressão, o papa foi obrigado a dar ao Concílio sua
completa sanção, um reconhecimento uma vez mais
da superioridade do concílio sobre o papa (que Pio
IX ameaçaria reverter no Vaticano I).
O Concílio depôs Eugênio, chamando-o de
“um notório perturbador da paz e da unidade da
Igreja de Deus, simoníaco, perjuro, homem
incorrigível, cismático, um apóstata da fé, um
obstinado herege, que desperdiçava os direitos e as
propriedades da Igreja, era incompetente e
prejudicial à administração do pontificado
romano...”[19] (Mesmo assim seu nome permanece
na lista oficial dos vigários de Cristo). Com grande
coragem, o Concílio decretou:
Todas as anotações eclesiásticas devem estar de
acordo com os cânones da Igreja, toda simonia deve
cessar ...todos os padres, quer sejam das mais altas
ou mais baixas posições, devem se afastar de suas
concubinas e quem, dentro de dois meses deste
decreto, negligenciar estas exigências será privado do
seu ofício, mesmo que seja o bispo de Roma ...os
papas não devem exigir nem receber quaisquer taxas
por ofícios eclesiásticos. De agora em diante, um papa
não deveria pensar nos seus tesouros na terra, mas
nos seus tesouros do mundo vindouro.
O Concílio de Trento
Esse era o estado da Igreja Católica Romana no
tempo da Reforma. Lembrem-se que Lutero e
Calvino eram católicos devotos. Não havia
protestantes. Esta palavra ainda não havia sido
inventada. Multidões estavam clamando por reforma
durante pelo menos 200 anos. Contudo ninguém,
nem mesmo Lutero e Calvino, queria deixar a Igreja.
Eles desejavam vê-la reformada desde o seu interior.
Furiosos com a oposição ao seu poder, os
papas condenaram Lutero e Calvino às chamas, mas
incapazes de colocar suas mãos sobre eles por causa
da proteção de alguns príncipes alemães, a
hierarquia católica os excluiu sumariamente da
Igreja. Fartas do arrogante despotismo do papado,
com sua opressão e o extermínio de qualquer um
que não se dobrasse às suas exigências imperiosas,
multidões seguiram Lutero, Calvino e outros líderes
da Reforma, abandonando a Igreja Católica,
entusiasmadas com os primeiros sinais da liberdade
religiosa com que sempre haviam sonhado.
Repentinamente o protestantismo, este
rompante clamor de “heresia”, estava crescendo e
avançava em toda parte. O papa Paulo III viu seu
império afundando e sua influência sobre os reis
chegando ao fim. Paulo III, um papa déspota da
Renascença, que havia “concedido a mitra vermelha
aos seus sobrinhos de 14 e 17 anos, e os promovido,
apesar de sua notória imoralidade”[28], agiu
decisivamente em duas frentes. Ele convocou o
Concílio de Trento (cidade no norte da Itália), que
condenaria teologicamente a Reforma, e trabalhou
nos bastidores para organizar uma guerra santa com
a qual pretendia varrer, pelo uso das armas, o
protestantismo da face da terra, em nome de Cristo.
A popularidade de Roma estava em baixa
quando o Concílio teve início em 1545 para dar sua
resposta ao perigo do protestantismo, que ameaçava
a Igreja em grande parte da Europa. Havia ainda
muitos clérigos dentro da Igreja Católica que
entendiam a necessidade de uma reforma e
esperavam que Trento a trouxesse à tona, fazendo
assim com que fosse possível receber de volta os
que haviam deixado a Igreja. O papa e sua Cúria,
porém, tinham outros planos.
O discurso de abertura do Concílio, feito pelo
bispo Coriolano Martorano, até encorajou os que
tinham esperanças de reforma. Infelizmente, poucos
dos que partilhavam dessa idéia estavam presentes,
pois o papa havia enchido o plenário com seus
próprios homens. Von Dollinger descreve aquele
agitado discurso:
O quadro que ele [Coriolano] pintou dos cardeais e
bispos, sua sanguinolenta crueldade, sua avareza, seu
orgulho e a devastação que haviam feito na Igreja era
por demais chocante. Um escritor desconhecido, que
descreveu esta primeira sessão numa carta a um
amigo, acha que nem o próprio Lutero havia falado tão
severamente.[29]
Uma Metamorfose
Incrível
“Então, vi a mulher... e, quando a vi, admirei-me com grande
espanto”
– Apocalipse 17.6
– Santo Agostinho[1]
Era realmente algo assustador que uma mulher
vestida de maneira deslumbrante fosse vista
segurando as rédeas e montada sobre uma terrível
besta devoradora de mundos. Entretanto, o apóstolo
João parece ter ficado estupefato por algo mais do
que esse fato – ou seja, pela própria mulher
(“Quando a vi, admirei-me com grande
espanto”(Apocalipse 17.6)). Por quê? Será porque a
mulher era uma figura religiosa? Provavelmente
não.
Nos dias de João era um fato universal que a
religião exercia grande autoridade. A Igreja e o
Estado eram um, com a religião desempenhando o
papel dominante. Se a mulher representasse apenas
a religião pagã mundial, João dificilmente ficaria
surpreso. O que poderia haver com essa mulher que
tanto o espantou? Será que ele já a conhecia e ficou
chocado com sua incrível transformação?
Sob a luxuosa vestimenta, as jóias de valor
incalculável, a pesada maquiagem e o olhar
desavergonhado e impudente mostravam haver nela
uma familiaridade perturbadora. Não era possível!
Como poderia a casta Noiva de Cristo ter-se
transformado nessa prostituta descarada? Que
mudança diabólica havia transformado o pequeno e
desprezado rebanho de seguidores do Cordeiro
nessa notória prostituta brindando a Satanás com o
sangue dos mártires num cálice de ouro?! Como
poderia a Igreja, odiada e perseguida pelo mundo –
como Cristo disse que seria – ter se transformado
nessa poderosa instituição mundial que reinava sobre
os reis da terra?
João estava perplexo. O que lhe estava sendo
mostrado parecia impossível: os pertencentes a
Cristo estavam numa falsa igreja, uma prostituta.
Não havia possibilidade de reformá-la desde o seu
íntimo. O grito viria do próprio Senhor no céu:
“Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes
cúmplices em seus pecados” (Apocalipse 18.4).
A história confirma a visão de João. Tem-se
tornado muito claro que a religião mundial sob o
Anticristo não será o ateísmo, o hinduísmo, o
islamismo, o budismo e nem mesmo a Nova Era.
Será o cristianismo, mas de forma paganizada –
exatamente como foi sob o governo de Constantino
e seus sucessores, os papas. A futura religião
mundial terá seu quartel-general em Roma.
A Perseguição da Igreja
Primitiva
Por mais de dois séculos, como disse
Tertuliano, o sangue dos mártires foi a semente da
Igreja, consciente do céu e sem ambição terrena,
uma Igreja cujos membros tinham atingido cerca de
dez por cento do Império Romano. A Igreja que
Cristo estabelecera parecia florescer sob a
perseguição. O desprezo do mundo a mantinha
pura, desligada dos desejos mundanos e ansiando
por estar com Cristo no céu. Os cristãos eram
completamente diferentes dos pagãos: eram párias,
desprezados e culpados por qualquer desastre, pois
sua recusa em adorar ídolos havia supostamente
desencadeado a ira dos deuses. No início do terceiro
século, Tertuliano escreve:
Se o Tibre atinge os muros, se o Nilo não enche para
regar os campos, se o firmamento não se movimenta
ou se a terra o faz, se há fome, se há pragas, logo vem
o grito: “Joguem os cristãos aos leões!”[2]
Tertuliano, um renomado advogado cristão
romano, convertido do estoicismo ao cristianismo,
foi um dos primeiros e mais proeminentes teólogos e
apologistas da Igreja. Ele atacava abertamente todas
as facetas da cultura e religião pagã. Alfinetando os
pagãos que debatiam com ele, Tertuliano declarava:
“Dia a dia vós vos lamentais sobre o progressivo
aumento dos cristãos. Vosso grito constante é que o
estado em que vos encontrais é responsabilidade
nossa, que os cristãos estão em toda parte”.[3] Um
líder da Igreja primitiva descrevia os cristãos com
estas palavras:
Mas ao mesmo tempo em que eles habitam em
cidades gregas ou bárbaras, conforme cada porção de
homens tem sido espalhada, e seguem os costumes da
terra no vestir, no comer e em outros aspectos da vida
diária, mesmo assim as condições de cidadania que
eles exibem é maravilhosa e comprovadamente
estranha.
Moram em seus países, mas simplesmente como
forasteiros... suportando a sorte dos estrangeiros...
Existem na carne, mas não vivem segundo a carne.
Passam a existência na terra, mas sua cidadania está
no céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas vivem
acima do padrão estabelecido por elas. Amam a todos
os homens e por eles são perseguidos.[4]
As perseguições do século III eram muito mais
severas do que as dos séculos anteriores. Clemente
registra “mortes em fogueiras, na estaca e
decapitações” dos cristãos em Alexandria do Egito
antes de ter abandonado aquela cidade no ano 203.
[5] As perseguições vinham em “ondas”, pontuadas
por períodos de relativa tolerância e tranqüilidade. O
sistema totalitário dos césares trouxe a visão pagã do
imperador como divindade (ele tinha o controle
absoluto sobre a vida e a morte) tornando admissível
tudo o que fizesse. A lealdade aos cultos pagãos
tradicionais, encabeçada pelo imperador como
“Sumo Pontífice” era uma forma de patriotismo. A
rejeição cristã aos deuses pagãos e à adoração ao
imperador era vista como traição e acirrava o ódio
popular contra a minoria considerada “não-patriota”.
Junte-se a isso o fato de que os “templos
pagãos começaram a ser abandonados e as igrejas
cristãs a ficarem lotadas”.[6] Nos idos de 250, o
imperador Décio martirizou milhares de pessoas,
inclusive os bispos de Roma, Antioquia e Jerusalém
bem como um grande número dos próprios soldados
do imperador que se recusavam a sacrificar aos
ídolos.[7] “Nem uma cidade, nem uma vila do
Império escapou”, informa o historiador Philip
Hughes que acrescenta um dado importante: “a
intenção do imperador não era tanto o massacre de
cristãos, mas que voltassem à antiga religião...
[através] de longos julgamentos... repetidos
interrogatórios e extenso uso de torturas, na
esperança de quebrar-lhes gradualmente a
resistência”.[8] Chadwick explica ainda:
[Décio exigia] que cada um apresentasse diante de
um comissário especial um certificado (libelo) de que
havia sacrificado aos deuses... Eles [os certificados]
eram uma tentativa deliberada de apanhar as pessoas
e foram o mais grave ataque até então sofrido pela
Igreja.
O número de apóstatas [os que negavam a fé para
salvar suas vidas e posses] era enorme, especialmente
entre os proprietários de terras.[9]
Grande Responsabilidade,
Grande Privilégio
Como já vimos, na linguagem de Mateus
28.19-20, (“ensinando-os a guardar todas as coisas
que vos tenho ordenado”), várias conclusões são
óbvias: 1) Uma linha contínua de mandamentos flui
de nosso Senhor através de sucessivas gerações de
discípulos pela história do cristianismo; 2) Todo
cristão comum tem de obedecer a todo mandamento
que Cristo deu aos Seus discípulos originais,
cumprindo o que Ele os treinou e mandou fazer,
inclusive pregar o Evangelho a todas as nações e
fazer discípulos; 3) Cada cristão recebeu do Senhor
alguns dos privilégios, responsabilidades, autoridade
e poder dados aos apóstolos originais. De outro
modo, como poderia cada geração de novos
discípulos obedecer a todos os mandamentos que
Cristo deu aos Seus apóstolos?
Os primeiros cristãos obedeceram essas
instruções. Nem mesmo o conhecimento de que
poderiam ser mortos pôde detê-los. Após a morte de
Estevão eles foram dispersos, e somos informados
de que em toda parte onde iam, pregavam o
Evangelho (Atos 8.4). Devemos fazer o mesmo.
Encarregado da Grande Comissão de pregar o
Evangelho “a toda criatura”, todo discípulo, a todo
momento na história, é um soldado da cruz e
embaixador do Rei dos reis. Que espantosa
responsabilidade – mas que grande privilégio!
Infelizmente muitos cristãos não desejam
assumir tal responsabilidade. Eles querem deixá-la
para uma classe especial de profissionais, muitos dos
quais estão muito ansiosos para assenhorear-se do
rebanho. Todo cristão tem autoridade de resistir ao
diabo e vê-lo fugir, de “ligar e desligar” como Cristo
capacitou os primeiros discípulos, e de ser Seu
embaixador à humanidade. Na metamorfose dos
séculos após Constantino, a hierarquia romana
exigiu para si o direito exclusivo de fazer o que
Cristo intencionava que fosse a tarefa de Seus
discípulos.
Distinções Importantíssimas
Cristo fez uma clara distinção entre César e
Deus: “Dai a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus” (Marcos 12.17). Is so é algo
fundamental. A Igreja Católica casou Deus com
César. Igreja e Estado se tornaram um, com a Igreja
no controle e o Estado obedecendo-lhe, algo que
continua acontecendo nos países católicos.
Cristo fez uma clara distinção entre o Seu
reino, que não é deste mundo, e os reinos do mundo
(João 18.36) Em desobediência a Cristo, a quem
dizem representar, os papas construíram um reino
que é muitíssimo deste mundo, embora eles afirmem
ser o Reino de Deus. E eles o construíram através
de alianças profanas com governantes seculares.
Cristo fez uma clara distinção entre Sua Igreja
(a qual Ele retirou do mundo) e o mundo (cf. João
17.18-20). João declarou: “Não ameis o mundo
nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o
mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João
2.15).
As distinções que Cristo fez devem ser
obedecidas por aqueles que pertencem a Ele: “Se
alguém me ama, guardará a minha palavra...
Quem não me ama não guarda as minhas
palavras” (João 14.23-24); “Por que me chamais
Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos mando?”
(Lucas 6.46).
CAPÍTULO 15
Alianças Profanas
“Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se
acha sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os
reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se
embebedaram os que habitam na terra”
– Apocalipse 17.1-2
O Testemunho da História
Expulso de Roma por um levante popular
contra o seu reinado opressivo, o papa Leão III
fugiu para a corte de Carlos Magno, a fim de
conseguir ali ajuda para reconquistar os territórios
sobre os quais os papas haviam reinado. Os
exércitos sedentos de sangue recapturaram Roma e,
em nome de Cristo, devolveram Leão ao trono
papal. Quando Carlos Magno se ajoelhou durante a
missa na Basílica de São Pedro, no dia de Natal do
ano 800, o papa colocou uma coroa sobre sua
cabeça e o proclamou imperador do Ocidente. O
título acabou sendo reconhecido tanto pelo
imperador oriental em Constantinopla, como pelo
califa de Bagdá. Como nos relembra Maurice Keen:
“A restauração do domínio mundial de Roma era o
sonho não apenas dos papas e imperadores
medievais, mas também de todos os seus súditos e
criados”.[2] Esse sonho será finalmente cumprido
no governo do Anticristo.
A manobra do papa foi astuta. O poder de
Carlos Magno havia ameaçado ofuscar a autoridade
do papado. Contudo, após sua coração pelo papa na
basílica de São Pedro, Carlos Magno, em firme
associação com o papado, “trabalhou durante cerca
de 40 anos a fim de criar um Estado cristão,
conforme Santo Agostinho havia determinado
anteriormente”.[3] As brutais campanhas militares
do imperador na porção norte da Europa eram
acompanhadas pela conversão forçada dos pagãos.
Carlos Magno era o braço secular do papa para a
cristianização dos pagãos pela espada e, dessa
forma, alargava o domínio católico romano como os
conquistadores espanhóis iriam fazer mais tarde na
América Latina.
Como já foi mencionado aqui, Pepino, o pai de
Carlos Magno, baseado num documento fraudulento
chamado A Doação de Constantino, havia
subdividido e devolvido aos papas os imensos
territórios mais tarde conhecidos como Estados
papais e governados pelo papa. Porém Carlos
Magno também foi enganado por esta fraude.
Baseado na Doação, ele elaborou formalmente uma
carta que reconhecia o papado como governante
espiritual e temporal de “todas as regiões da Itália e
do Ocidente”. Assim sendo, Carlos Magno agiu
como protetor e sócio dos papas, do mesmo modo
que Constantino havia feito logo no início do
desenvolvimento da coalizão Igreja-Estado. Tal
arranjo, totalmente contrário aos ensinos de Cristo, é
apenas um exemplo da fornicação espiritual em que
a mulher se envolveria, exatamente como João
previu em sua visão.
Finalmente a Igreja e o Estado ficaram ligados
tão estreitamente, que dificilmente podia ser vista
uma distinção entre eles. Os imperadores
convocavam e presidiam os grandes concílios da
Igreja e consideravam o papa e o resto da hierarquia
da Igreja como seus sócios no governo das massas.
Essas alianças papais profanas, que logo seriam
comuns, teriam sido anatemizadas pela Igreja
primitiva; elas zombavam da rejeição e da
crucificação de Cristo pelo mundo. Vejamos outro
excerto do discurso vergonhosamente bajulador feito
por Eusébio (uma porção diferente da que foi
previamente mostrada) em louvor a Constantino. Ele
atribuía ao imperador pagão as muitas qualidades
espirituais e autoridade e funções eclesiásticas
exigidas pelos papas hoje em dia:
Nosso imperador, Seu amigo [de Cristo], agindo como
intérprete da Palavra de Deus, almeja reconduzir toda
a raça humana ao conhecimento de Deus;
proclamando claramente aos ouvidos de todos e
declarando com voz poderosa as leis da verdade e da
santidade a todos os habitantes da terra... investido
da semelhança da soberania celestial como ele está...
molda o seu governo terreno conforme o padrão divino
original... a monarquia de Deus”.[4]
O Pontífice Mais
Sanguinário
A respeito de Inocêncio III (1198-1216), sobre
quem se diz “ter enchido a cristandade de terror...
por quase 20 anos”, Peter de Rosa escreve: “Ele
coroou e depôs soberanos, colocou nações sob
interdição, virtualmente criando os Estados papais
que atravessavam a Itália Central, desde o
Mediterrâneo até o Adriático. Ele não perdeu uma
batalha sequer e, perseguindo seus objetivos,
derramou mais sangue do que qualquer outro
pontífice”.[13] Desejando colocar Otto da Saxônia
no trono alemão, Inocêncio escreveu:
Pela autoridade que por Deus nos foi dada através da
pessoa de São Pedro, nós vos declaramos rei e
ordenamos que o povo se renda a vós nessa condição,
homenagem e obediência. Contudo, esperamos que
vos submetais a todos os nossos desejos como uma
recompensa pela coroa imperial.[14]
Mais Evidências
Gregório IX (1227-1241), que estabeleceu a
Inquisição e a entrega dos hereges ao poder secular
para execução, esbravejava que o papa era senhor e
mestre de tudo e de todos. Inocêncio IV (1243-
1254) concordava porque, segundo ele, os papas
não haviam conseguido o seu domínio meramente
por causa da Doação de Constantino, mas o
receberam de Deus. Bonifácio VIII foi muito além
e, em sua bula Unam Sanctam, em 1302, na qual
ele exigia autoridade sobre os poderes temporais,
tornou como condição de salvação a total obediência
ao papa.
Quando morreu o imperador romano Frederico
Barba Roxa (sobre cujo pescoço Alexandre III havia
colocado o pé), já havia ficado estabelecido que
“ninguém poderia recebê-la [a coroa imperial] sem
que a coroação fosse feita pelo papa”.[20] O
imperador Carlos IV assegurou a paz e completa
harmonia com o papado ao renunciar a qualquer
atividade imperial no território italiano [deixando
que os papas lá governassem] e esta auto-restrição
foi observada até o fim da Idade Média pelos
imperadores que o sucederam.[21]
O papa Júlio II (1503-1513), furioso porque
Luiz XII da França não o apoiaria em suas
campanhas militares, emitiu uma bula papal na qual
destituía o rei e entregava o reino a Henrique VIII da
Inglaterra, contanto que este provasse sua piedade
apoiando o papa em suas guerras. Júlio faleceu antes
da bula ser publicada. A paixão do papa em travar
“guerras santas”, com o objetivo de estender os
territórios papais, inspirou Michelangelo (a quem ele
havia contratado para pintar o teto da capela
Sistina), a escrever as famosas frases, tão
apropriadas para Júlio e muitos outros papas:
Dos cálices eles fazem escudo e espada
E vendem, aos baldes, o sangue do Senhor.
O Relatório de uma
Testemunha Ocular na
Espanha
D. Antonio Gavin, autor de Master Key to
Popery [A Chave-Mestra do Papado], nasceu e se
criou na Espanha no final do século XVI. Como
sacerdote católico romano havia se desiludido
completamente pelo mal em que se achava
envolvido. Fugindo da Inquisição, usando como
disfarce o uniforme de um oficial, Gavin conseguiu
chegar em segurança até a Inglaterra. Seu livro faz
uma descrição detalhada do catolicismo romano em
seus dias e tem muito a dizer sobre sua incrível
riqueza e o papel que ela desempenhou na prática
do cristianismo paganizado de Roma:
Na catedral de S. Salvador [em Saragoza], existem
300 quilos de prata, em placas usadas para adornar os
dois cantos do altar nos grandes festivais [e uma]...
abundância de ricos ornamentos para sacerdotes, de
valor incalculável. Também há 84 cálices, 20 de ouro
maciço, e 64 de prata com seu interior revestido de
ouro; e o rico cálice que somente o arcebispo pode
tomar usando suas vestes pontifícias.
Tudo isso é bagatela em comparação com a grande
custódia que eles utilizam para levar a grande hóstia
pelas ruas, durante os festejos de Corpus Christi... [ela
é feita de ouro maciço, incrustado de diamantes,
esmeraldas e outras pedras preciosas] pesando cerca
de 250 quilos... Vários joalheiros tentaram avaliar essa
peça, mas nenhum conseguiu estimar o seu valor
exato.[27]
– um católico anônimo[3]
As citações na página anterior apresentam dois
pontos de vista opostos, ambos expressos por
católicos. Somente um está certo. Aprendemos a
verdade na visão de João e na História. A mulher
montada na besta está “embriagada com o sangue
dos santos e com o sangue das testemunhas de
Jesus” (Apocalipse 17.6). Essa é uma imagem
horrível, mas a História a autentica cabalmente
como sendo somente Roma e nenhuma outra
cidade.
Exigia-se que cada cidadão do império fosse
católico romano. Deixar de demonstrar fidelidade
total ao papa era considerado uma traição contra o
Estado, passível de morte. Esse foi o argumento
usado para justificar o assassinato de milhões de
pessoas. Um cristianismo paganizado foi imposto
sobre toda a população da Europa, sob ameaça de
tortura e morte, do mesmo modo como seria feito
pelo islamismo alguns séculos mais tarde.
O catolicismo tornou-se “a fé mais
perseguidora que o mundo já havia visto...
[dominando] o trono a fim de impor a religião cristã
[católica] a todos os seus súditos. Inocêncio III
assassinou muito mais cristãos em uma tarde... do
que qualquer imperador romano tenha conseguido
fazer em todo o seu reinado”.[4] Will Durant
escreve com franqueza:
Comparada com a perseguição da heresia na Europa,
entre 1227 e 1492, a perseguição dos cristãos pelos
romanos nos primeiros três séculos depois de Cristo foi
um procedimento moderado e humano.
Fazendo todas as concessões requeridas de um
historiador e permitidas a um cristão, devemos colocar
a Inquisição, juntamente com as guerras e
perseguições de nosso tempo, como uma das manchas
mais negras na história da humanidade, revelando
uma ferocidade desconhecida por qualquer besta
selvagem.[5]
A Inquisição Atual
A Inquisição medieval havia florescido durante
séculos, quando o papa Paulo III, em 1542, lhe deu
o status de primeira das sagradas congregações de
Roma, a santa, católica e apostólica Inquisição.
Chamada mais recentemente de Santo Ofício, seu
nome foi mudado em 1967 para Congregação para a
Doutrina da Fé – algo muito apropriado,
principalmente porque as fogueiras públicas eram
conhecidas como “autos-da-fé” ou “atos de fé”. A
perseguição, tortura e matança dos hereges jamais
foi repudiada pela Igreja Católica Romana e
continua nos tempos modernos, conforme veremos.
Roma deve fazer uma clara escolha: ou seu
zelo na tortura e assassinato de tantas vítimas
inocentes é algo de que ela deve se orgulhar ou algo
para se envergonhar. Sem dúvida Roma não se
arrepende de seus pecados e nem abre mão de sua
infalibilidade. Por conseguinte, não é surpresa que o
Ofício da Inquisição ainda ocupe o Palácio dos
Inquisidores anexo ao Vaticano, embora sob o novo
nome de Congregação para a Doutrina da Fé. O seu
atual Grande Inquisidor, que presta contas
diretamente para o papa, é o ex-arcebispo de
Munique, o cardeal Joseph Ratzinger, a quem a
revista Time chamou de “o cardeal mais poderoso do
mundo [e] principal fortalecedor dos dogmas da
Igreja Católica...”[45] Essa imposição pode ser
brutalmente direta, ou tratada com muito cuidado
por meio de outra pessoa, como foi o caso, no final
de 1993, do amordaçamento do padre Joseph Breen
pelo bispo de Nashville, Edward Kmiec. Numa carta
aos bispos americanos, Breen ressaltava “a vasta
diferença entre o que Roma diz e o que realmente
acontece” e se declarava a favor de um “celibato
opcional”. Ele foi forçado a assinar uma solene
declaração de que “não falaria à imprensa... [e] não
criticaria o que os bispos fizessem”.[46]
Embora não mais imole suas vítimas, a
Congregação ainda tenta manter o controle do
Vaticano sectarista sobre o pensamento de seu clero
e dos membros da Igreja. Por exemplo, no dia 9 de
junho de 1993, Ratzinger publicou “Instruções...
Promovendo a Doutrina da Fé”. O documento exige
que seja “requerida uma autorização prévia... para o
que for escrito pelo clero e membros de instituições
religiosas para os jornais, revistas e periódicos que
estejam habituados a atacar abertamente a religião
católica ou os bons costumes. A instrução ainda
adverte as editoras católicas a se conformarem às
leis da Igreja. E os bispos são obrigados a evitar a
venda e exposição em suas igrejas de publicações
sobre religião e moral sem o aval da Igreja...”[47] É
a reaparição do “Índice dos Livros Proibidos”.
Uma Hipocrisia Monumental
A Igreja Católica Romana tem sido a maior
perseguidora, tanto de judeus como de cristãos, que
o mundo já conheceu. Ela tem martirizado mais
cristãos do que a Roma pagã e o islamismo juntos.
Excedendo até mesmo Mao e Stalin, os quais, no
entanto, nunca afirmaram estar agindo em nome de
Cristo. A Roma católica não possui rival entre as
instituições religiosas no que diz respeito a ser
qualificada como a mulher que está “embriagada
com o sangue dos santos e com o sangue das
testemunhas de Jesus” (Apocalipse 17.6).
Ainda que João Paulo II, em seu tratado
Veritatis Splendor, tenha tido a audácia de falar
sobre os santos católicos “que deram testemunho e
defenderam a verdade moral a ponto de suportarem
o martírio...”[48], o que dizer então dos milhões que
a Igreja a qual ele pertence massacrou, por sua
consciência moral e do entendimento de que a
Palavra de Deus não coincidia com a pregação de
Roma! O silêncio do Vaticano com respeito aos seus
infames e incontáveis crimes contra Deus e a
humanidade ressoa em ouvidos surdos. Muito pior é
a hipocrisia que permite que essa mulher assassina
pose como a grande mestra e um exemplo de
obediência a Cristo.
“‘Bem-aventurados os perseguidos por causa
da justiça, porque deles é o reino dos céus (Mateus
5.10).’ Foi assim que João Paulo II iniciou, em 10
de outubro de 1993, a missa solene para beatificação
de 11 mártires [católicos] da Guerra Civil Espanhola
e dois religiosos italianos”.[49] Foi assim que a
influente revista Inside the Vatican registrou o
evento: Como sempre, enquanto os mártires
católicos são louvados, não há desculpa alguma,
nem apologia, aos milhões de cristãos e judeus que
foram martirizados pela Igreja Católica Romana. A
hipocrisia é monumental!
CAPÍTULO 18
Pano de Fundo do
Holocausto
A santa providência divina decretou que numa hora decisiva ele
[Hitler] fosse encarregado da liderança do povo alemão.
O Registro Histórico
Ao levantar um exército para a Primeira
Cruzada, o papa Urbano II prometia entrada
automática no céu, sem passar pelo purgatório, a
todos os que se engajassem na grande causa. Os
cavaleiros e os maus elementos que responderam
com entusiasmo a essa enganosa promessa deixaram
um rastro de desordem, pilhagem e assassinato em
seu caminho até Jerusalém, onde massacraram todos
os árabes e judeus. Um dos primeiros atos dessa
entrada triunfal em Jerusalém foi reunir os judeus
dentro de uma sinagoga e incendiar todos eles. Em
seu caminho para a Terra Santa, os cruzados davam
aos judeus a opção entre o batismo ou a morte.
Peter de Rosa nos conta:
No ano de 1096, metade dos judeus de Worms foram
dizimados, enquanto os cruzados atravessavam a
cidade. O restante fugiu para a residência do
arcebispo pedindo proteção. Ele concordou em salvá-
los, contanto que solicitassem o batismo. Os judeus se
retiraram para considerar sua decisão. Quando as
portas da Câmara de Audiência foram abertas, todos
os 800 judeus dentro da mesma estavam mortos.
Alguns foram decapitados; pais haviam matado seus
filhos antes de usar suas facas contra as esposas e
eles próprios. Um noivo assassinou sua noiva. A
tragédia do século I em Masada foi repetida em toda
parte na Alemanha e mais tarde por toda a França.
[10]
Conversões Forçadas
A doutrina do catolicismo sobre o batismo
infantil anulou a verdade de que alguém se torna
cristão, não através de obras ou rituais, mas
aceitando a oferta da graça de Deus através da fé
pessoal em Cristo. Uma vez que o batismo salva
automaticamente, o papa Leão III decretou o
batismo forçado dos judeus. Às vezes lhes era dada
a opção de professar a crença em Cristo ou morrer –
e, em alguns casos, de serem presos ou expulsos da
região. O famoso rabino, filósofo e médico
Maimônides fugiu da Espanha para o Marrocos, a
fim de escapar deste édito, e em seguida foi para o
Egito em 1135. Hoje os visitantes dos antigos
quarteirões dos judeus na Espanha recebem
panfletos contando algumas das trágicas histórias,
como por exemplo, esta da cidade de Girona:
No dia 31 de março de 1492, Fernando e Isabel de
Castela e Aragão, conhecidos como os reis católicos,
proclamaram o édito expulsando os judeus do território
espanhol... [eles não tinham] nenhuma escolha a não
ser renunciar à sua crença religiosa ou a expatriação
compulsória. Os que aceitaram converter-se ao
cristianismo, a fim de evitar a expulsão, tiveram de
enfrentar a dura Inquisição, a qual já havia começado
a julgar os hereges de Girona em 1490... Algumas
famílias judias foram completamente exterminadas nas
mãos dos inquisidores.
O Vaticano, os Nazistas
e os Judeus
Antes de tudo, tenho aprendido com os jesuítas. E Lenin
também fez o mesmo, até onde me recordo. O mundo jamais
conheceu coisa assim tão esplêndida como a estrutura hierárquica
da Igreja Católica. Há realmente algumas coisas dos jesuítas das
quais eu simplesmente me apropriei para o nosso Partido.
– Adolf Hitler[1]
O Fracasso Moral do
Silêncio
Pio XII era conhecido pelos seus francos
sermões admoestando os fiéis contra “o abuso aos
direitos humanos”.[19] Mesmo assim ficou em
silêncio sobre o Holocausto o tempo todo. Ele
jamais pronunciou publicamente uma palavra sequer
contra o sistemático extermínio dos judeus por
Hitler, porque fazer isso seria condenar a sua própria
Igreja por seus feitos semelhantes. Tal silêncio,
concordam os historiadores, encorajava Hitler e
contribuía para o indescritível genocídio.
O papa se gabava de ser o guardião da moral
no mundo, mas mesmo assim nada disse em relação
ao pior crime da história humana. Em sua primeira
encíclica, editada em outubro de 1939, Pio XII
declarou que o seu ofício como vigário de Cristo
exigia que ele “testificasse da verdade com firmeza
apostólica”. E prosseguia explicando:
Esse dever engloba necessariamente a exposição e
refutação de erros e falhas humanas, que devem ser
conhecidos de antemão para serem tratados e
curados...
No cumprimento desse nosso dever não nos
deixaremos influenciar por considerações terrenas nem
impedir por desconfianças ou oposição, por objeções
ou falta de apreciação de nossas palavras, nem ainda
pelo medo de incompreensões ou falsas
interpretações.[20]
Anti-Semitismo em
Crescimento
A memória é curta e enganosa, e a consciência
mundial facilmente endurece, tornando necessário
um anúncio por parte do “United Jewish Appeal”
publicado há algum tempo na maior parte das
revistas [americanas]. Ele apresentava a foto de uma
unidade militar não-oficial de camisas-negras na
Rússia (aparentemente relacionada com o aumento
de poder do fanático fascista Wladimir Jirinovsky),
fazendo a saudação fascista do braço erguido. Seu
título foi: “PARA OS JUDEUS NA ANTIGA
UNIÃO SOVIÉTICA, OS SINAIS DA SAÍDA
ESTÃO CLARAMENTE INDICADOS”. O apelo
continuava:
Os sinais são familiares demais. A marcha de camisas-
negras fascistas. Sinagogas são misteriosamente
incendiadas. O extremista de direita Wladimir
Jirinovsky estrilando contra os judeus e a “conspiração
sionista”... Mais uma vez os oportunistas atribuem as
terríveis condições em que vivem aos seus bodes
expiatórios tradicionais, os judeus.
E para os judeus, o anti-semitismo é um fator que se
acrescenta à miséria da vida na antiga União Soviética:
tremenda penúria econômica, instabilidade política,
deprimente falta de oportunidades na educação e de
uma vida melhor.
A Conexão Católica
A maior parte do clero católico da Croácia
continuou apoiando fanaticamente Pavelic e seu
regime incrivelmente maligno. Até mesmo medalhas
foram concedidas por Pavelic a freiras e padres, o
que acabou revelando publicamente o fato de que
muitos deles desempenhavam papéis importantes ao
lado dos militantes ustachis. Frades franciscanos
foram os que mais se juntaram aos batalhões da
Ustacha. No que se refere às relações de Pavelic
com o alto clero, dois historiadores investigativos
escreveram:
Quando os alemães entregaram Zagreb aos ustachis, o
arcebispo Stepinac da Croácia imediatamente ofereceu
seus cumprimentos ao poglavnik e organizou um
banquete para celebrar a fundação da nova nação.
[Sendo o líder dos bispos croatas] ele ordenou que no
domingo de Páscoa fosse pregada em todos os
púlpitos das igrejas católicas da Croácia a proclamação
do Estado independente e conseguiu que Pavelic fosse
recebido pelo papa Pio XII [em Roma].[4]
Fugas e Desinformação no
Período Pós-Guerra
Após a guerra, o arcebispo Aloysius Stepinac
foi preso pelo governo da Iugoslávia e sentenciado a
17 anos de prisão por crimes de guerra. A máquina
de propaganda do Vaticano retratava Stepinac como
uma vítima corajosa da perseguição comunista –
imagem que ainda hoje é veiculada na mídia secular,
inclusive por revistas como a Newsweek.[12] O papa
Pio XII elevou Stepinac ao cardinalato após a
guerra. Nas comunidades croatas ao redor do
mundo foram criadas “Associações Cardeal
Stepinac” com o objetivo de fazer campanhas para a
libertação desse “mártir sofredor”. Essas pressões
conseguiram fazer com que Stepinac fosse libertado
depois de apenas alguns anos de prisão.
Andrija Artukovic, reconhecido ministro do
Interior da Ustacha e posteriormente ministro da
Justiça no governo de Ante Pavelic [13], ficou
encarregado das políticas genocidas do governo
croata, supervisionando seus campos de extermínio.
Em 1986 ele foi descrito como “provavelmente o
mais importante criminoso de guerra ainda vivo e
sem castigo até hoje”[14]. Mesmo assim ele foi
liberto por engano pela espionagem britânica na
Áustria em 1945, e acabou entrando ilegalmente nos
Estados Unidos, usando o nome de Alois Anich. Ele
viveu tranqüilamente no sul da Califórnia, usando o
seu próprio nome até sua prisão e deportação em
1984. Artukovic foi defendido por seus
companheiros católicos, como por exemplo o padre
croata F. R. Cuturic, citado por um jornal de
Chicago:
E o que estão tentando fazer a um dos nossos
verdadeiros líderes, Andrija Artukovic (croata e
católico), que está sendo defendido pelos legítimos
heróis da liberdade, justiça e verdade diante dos
judeus sem Deus, dos ortodoxos, comunistas e
protestantes em toda parte? Eles chamam o nosso
líder Andrija Artukovic de “assassino”. Não, nós
ustachis devemos preservar nossa dignidade.[15]
As Rotas de Fuga do
Vaticano
Suponho que... algum acordo tenha sido feito entre o Vaticano e
a Argentina... para proteger não apenas os colaboradores mas
também [aqueles]... que são culpados dos terríveis crimes
cometidos na Iugoslávia. Entendo que devemos proteger nossos
agentes, mesmo que isso me desagrade... estamos montando um
esquema com o Vaticano, e também com a Argentina, para levar
pessoas culpadas a um esconderijo naquele país.
Um Inconcebível Desprezo
Pela Verdade
Quando começaram a circular os rumores
sobre essas operações de envio clandestino de
pessoas, tanto o Vaticano como Draganovic
desmentiram qualquer envolvimento com as rotas de
fuga. Tais desmentidos pela hierarquia católica
romana ainda continuam sendo feitos, geralmente
originados na cidade do Vaticano e depois
publicados nos principais jornais do mundo. Aqui
temos um recente protesto de inocência:
Rebatendo uma antiga acusação, ontem o Vaticano
refutou... alegações de ter auxiliado os criminosos de
guerra nazistas a fugirem da Europa para a América
do Sul após a Segunda Guerra Mundial.
Essa acusação... originou-se das denúncias de
repórteres da Argentina de que arquivos recentemente
abertos ao público mostravam que os oficiais nazistas
chegaram a Buenos Aires após a Guerra com
passaportes expedidos pelo Vaticano, pela Cruz
Vermelha e pela Espanha...
Os arquivos do Vaticano referentes a esse período
estão lacrados, apesar das solicitações de grupos
judeus para terem acesso a eles...
O assessor de imprensa do Vaticano, Joaquim Navarro,
porta-voz do papa João Paulo II... disse: “A idéia de
que a Santa Sé... tenha ajudado criminosos de guerra
perseguidores de judeus a fugirem da Europa... é
historicamente falsa”.[14]
[Um artigo posterior declara]:
Quase dois anos depois que o presidente Carlos Raúl
Mennem anunciou que abriria os “arquivos nazistas”
da Argentina, historiadores locais disseram que...
provavelmente conseguiram abrir um dos mais
completos arquivos existentes documentando o
movimento dos nazistas após a Guerra...
Os documentos mostram, por exemplo, que Ante
Pavelic... entrou na Argentina após a Guerra
acompanhado de oito auxiliares croatas... mas até
então não era conhecida a entrada de aliados de
Pavelic acusados de crimes de guerra, incluindo...
[segue-se uma lista de nomes].[15]
Envolvimento Americano e
Britânico
Os frustrados agentes americanos e britânicos
que estavam tentando capturar os ilustres criminosos
de guerra não sabiam que Draganovic estava sendo
informado por pessoas de dentro das suas próprias
agências. Assim sendo, o “bondoso pai” continuava
a retirar os seus companheiros da Ustacha dos
campos de refugiados pouco antes de serem presos.
Esse foi, por exemplo, o caso de Ljubo Milos, um
dos principais oficiais do campo de concentração de
Jasenovac, onde foram mortas cerca de 300.000
pessoas. Milos havia se deliciado com a “morte ritual
de judeus” cortando gargantas, desarticulando
costelas e rasgando ventres com uma faca especial,
mandando arremessar prisioneiros vivos na fornalha
da olaria ou simplesmente espancando-os até a
morte.[22] Informado de que Milos estava para ser
detido, Draganovic conseguiu fazê-lo desaparecer
bem debaixo do nariz de seus pretensos captores
despachando-o para um local seguro.
Outro sacerdote católico, membro da Ustacha e
criminoso de guerra que trabalhou nos subterrâneos
das rotas de fuga foi o padre Dragutin Kamber. O
genocida Dragutin havia até mesmo organizado e
comandado um campo de concentração para sérvios
e judeus, que na sua opinião deviam ser
exterminados por serem prejudiciais ao Estado
Ustacha. Ele trabalhou diligentemente para ajudar
seus companheiros da Ustacha e criminosos de
guerra a escapar do Serviço de Inteligência Soviética
e Aliada, abrindo-lhes caminho para a liberdade,
onde o movimento Ustacha poderia recomeçar. Até
a OSS cooperou com essa tentativa, pois esperava
que os patriotas croatas se tornassem grandes
oponentes do comunista Tito, que havia se tornado
presidente da Iugoslávia.
O Serviço de Contra-Inteligência estava na
verdade trabalhando contra si mesmo. Enquanto
uma seção, sob as ordens de Washington, procurava
prender os criminosos de guerra, outra recebia
ordens secretas de Washington para escondê-los e
usá-los para os seus próprios objetivos. Tomemos
como exemplo o infame Klaus Barbie, chefe da
Gestapo em Lyon, França. O 66º Quartel-General
do Serviço de Contra-Inteligência dos Estados
Unidos em Stuttgart, Alemanha, escondeu Barbie e
sua família durante mais de cinco anos enquanto o
usavam como informante, e depois ajudaram-no a
fugir. Muitos dos dados sobre Barbie foram
removidos dos arquivos do Departamento de
Estado, mas “parece que o Escritório do Alto
Comissariado muniu a Barbie com documentos de
viagem do Controle Aliado e o despachou pelas
rotas de fuga do Vaticano”. Aarons e Loftus
continuam:
Draganovic imediatamente o embarcou [Barbie e a sua
família] para a América do Sul sob o nome de Klaus
Altmann. Na Bolívia, Barbie foi recebido pelo
representante local de Draganovic, o padre Rocque
Romac, outro sacerdote croata fascista e procurado
criminoso de guerra, cuja identidade real era padre
Stejpan Osvaldi-toth...
Um cuidadoso exame dos documentos grosseiramente
falsificados de Barbie revela que o Departamento de
Estado coordenou sua passagem pelas rotas de fuga.
Na verdade, quase todos aqueles que passaram
primeiro por essas rotas americanas foram enviados
pelo Escritório de Coordenação de Política do
Departamento de Estado, através do seu contato em
Roma.
Na realidade, muitos dos falsos papéis de saída de
Draganovic foram conseguidos através de Robert
Bishop, um ex-agente americano da OSS, que na
época estava encarregado do escritório da
Organização Internacional de Refugiados em Roma,
conforme os registros do Serviço de Contra-
Espionagem.[23]
As Lamentáveis Negações
Ao traçar a história do Vaticano e dos papas,
temos encontrado consistentes evidências de
supressão dos direitos humanos mais básicos,
inclusive com o uso da tortura e do genocídio. Tal
comportamento, sustentado por pronunciamentos
infalíveis e dogmas imutáveis, não ficou restrito à
Idade Média, mas continua em uso até hoje, quando
as circunstâncias o permitem. A operação das rotas
de fuga, que já resumimos brevemente, fornece uma
prova adicional de que Roma não mudou.
Também vimos que há uma consistente
negação dos fatos, o que demonstra um ostensivo
desprezo pela verdade. Nem mesmo o inegável
registro histórico é capaz de tornar confiáveis os
pedidos de paz e boa vontade feitos atualmente por
Roma, quer seja em favor dos judeus ou dos
evangélicos. Recentes artigos de jornais revelam que
ainda existem clérigos católicos que apoiariam o
Holocausto e estariam dispostos a dirigir as rotas de
fuga:
Um dos mais notórios colaboradores nazistas da
França foi detido quarta-feira [24 de maio de 1989],
num mosteiro católico, acusado de crimes contra a
humanidade depois de estar foragido por mais de
quatro décadas. O fugitivo de 74 anos, Paul Touvier,
era o chefe da espionagem de uma milícia pró-nazista
de Lyon...
A proteção que recebeu de antigos membros da
hierarquia católica durante o início do período pós-
guerra tem sido amplamente documentada...[27]
A hierarquia da Igreja Católica Romana na França
apoiou o governo pró-nazista de Vichy... Apesar de
atos de bravura e heroísmo individuais [de católicos],
grande parte da hierarquia eclesiástica colaborou
espontaneamente... durante décadas, cardeais,
monges e freiras católicos franceses ajudaram... Paul
Touvier a escapar da justiça.[28]
Só a Escritura?
“De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu
caminho? Observando-o segundo a tua palavra... Lâmpada para
os meus pés é a tua palavra e luz, para os meus caminhos”.
– Salmo 119.9,105
– 2 Timóteo 3.15
Aceitação Cega
Para escapar dessa escravidão destrutiva, os
reformadores clamavam pela submissão à pura
Palavra de Deus como a autoridade final, em lugar
da Igreja e do papa. A questão principal que
originou a Reforma (e que permanece sendo a
mesma até hoje) foi: as pessoas devem continuar em
cega submissão aos dogmas de Roma, mesmo que
eles contradigam a Bíblia, ou elas devem submeter-
se somente à Palavra de Deus como autoridade
final? O biógrafo de Menno Simons relata o conflito
que ele enfrentou:
O verdadeiro problema veio quando Menno, ousando
abrir as páginas da Bíblia, descobriu que ela nada
continha do ensino tradicional da Igreja sobre a missa.
Com essa descoberta, seu conflito interior atingiu o
clímax, pois ele estava tendo de decidir qual das duas
autoridades deveria ser suprema em sua vida, a Igreja
ou as Sagradas Escrituras.[5]
A Igreja Permanece
Obstruindo a Verdade
Cristo declara: “Se vós permanecerdes na
minha palavra, sois verdadeiramente meus
discípulos; e conhecereis a verdade...” [não há
menção sobre outra fonte de verdade] (João 8. 31-
32). Ele não fez essa declaração aos 12 apóstolos,
mas às pessoas comuns que simplesmente “creram
nele” (v. 30). Ele nada disse sobre Sua verdade
precisar ser interpretada pelos escribas e, claro, pela
hierarquia Católica Romana, que nem sequer existia.
A Palavra de Deus estava disponível e devia ser
entendida, crida e obedecida, mesmo pelos
convertidos mais recentes. Isso era tudo que Cristo
esperava de Seus seguidores, e Ele espera o mesmo
de nós hoje.
Roma impede o acesso de seus fiéis à verdade.
O católico não pode aprender diretamente das
palavras de Cristo, mas somente a partir da
interpretação dada pela Igreja. Cristo disse: “Vinde
a mim... e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28). Roma
não permite que pessoa alguma chegue diretamente
até Cristo, pois tem se colocado como canal
intermediário da graça de Deus, que é necessária
para conhecer a verdade de Deus e para a salvação.
Nesse ponto Roma é inflexível. De outra maneira,
ela perderia o controle que exerce sobre as pessoas,
que então não precisariam mais dela.
Inspiraria Deus as infalíveis Escrituras para, em
seguida, negar a todos, exceto a uma pequena elite,
a capacidade de entendê-las, exigindo que bilhões de
pessoas entreguem o seu entendimento a uma
hierarquia, aceitando cegamente a sua interpretação
da Palavra de Deus? Se o Espírito Santo pode
convencer o mundo “do pecado, da justiça e do
juízo” (João 16.8), então certamente pode ensinar
todos aqueles em quem Ele habita. João disse que os
cristãos a quem ele escrevia não precisavam
depender de uma classe especial de homens pois “...
a sua unção [do Espírito Santo] vos ensina a
respeito de todas as coisas” (1 João 2.27).
Se todos os cristãos são guiados pelo Espírito
de Deus (Romanos 8.14), então certamente todos
eles devem ser capazes de entender as Escrituras que
o Espírito Santo inspirou. Nós, os cristãos,
recebemos “o Espírito que vem de Deus, para que
conheçamos o que por Deus nos foi dado
gratuitamente” (1 Coríntios 2.12). Não há menção
de que um grupo de clérigos deva interpretar as
Escrituras para os outros. E por que deveriam?
Todos os cristãos têm “a mente de Cristo” (v. 16).
Roma não se atreve a reconhecer essa verdade, pois
se o fizesse todos os que estão subordinados a ela
seriam libertos.
Roma ainda está procurando a verdade fora da
Palavra de Deus. Pensemos sobre a Pontifícia
Universidade de Tomás de Aquino (em Roma),
onde o papa João Paulo II se formou. Seus 1.200
estudantes, provenientes de 135 países, fazem da
“busca pela verdade” em milhares de volumes de
teologia e filosofia de sua biblioteca e também em
outras fontes seu “objetivo de vida”.[13]
Contrastemos a declaração de Cristo que diz que, se
obedecermos à Sua Palavra conheceremos a
verdade, com a complexidade da “busca da
verdade” feita pelos eruditos católicos. Não é
possível que ambos estejam certos.
As Tristes Conseqüências
Infelizmente os católicos têm sido ensinados a
buscar a hierarquia da Igreja em vez da instrução
que o Espírito Santo deseja dar diretamente aos
crentes. Para Roma, sugerir que o Espírito Santo
fala diretamente às pessoas através da Bíblia é
motivo de excomunhão. Karl Keating, um dos
principais apologistas católicos leigos, escreve:
O católico crê na interpretação porque a Igreja assim
ensina – para ser bem franco – e essa mesma Igreja
tem a autoridade para interpretar o texto inspirado. Os
fundamentalistas não dispõem de outra autoridade
para interpretar, além deles mesmos.[20]
A Suficiência da Escritura
O desafio superficial lançado pelos apologistas
católicos é: “Mostre-nos um só verso da Escritura
que declara claramente Sola Scriptura, ou seja, que
a Bíblia é suficiente em si mesma”.
Como comparação, podemos procurar pelo
menos “um verso que declare Deus como um ser
triúno: Pai, Filho e Espírito Santo”. Nenhum
versículo diz isso, mas, mesmo assim, a doutrina da
Trindade é aceita por católicos e protestantes como
sendo bíblica. Também não há um único versículo
dizendo: “a Bíblia é suficiente”. Contudo, quando
reunimos muitos versículos da Bíblia sobre esse
tópico, fica claro que a Bíblia ensina sua auto-
suficiência tanto para autenticar a si mesma para o
leitor, como para levar à maturidade espiritual e à
realização todos os que são habitados pelo Espírito
Santo e a lêem com o coração aberto.
Paulo declarou que a Escritura foi dada “para
o ensino, para a repreensão, para a correção, para
a educação na justiça” (2 Timóteo 3.16). E também
que a própria Bíblia faz o homem ou a mulher de
Deus “perfeito [maduro, completo, cumpridor dos
propósitos de Deus] e perfeitamente habilitado
[capacitado] para toda boa obra” (2 Timóteo 3.17).
Em outras palavras, a Bíblia contém todo ensino,
correção e educação na justiça necessários àqueles
que a observam, para assim tornarem-se perfeitos
em Cristo.
Os apologistas católicos citam John Henry
Newman, um cardeal do século XIX para
contradizerem isso. Pois, se esses versículos
embasariam o que foi dito anteriormente, estariam
provando “demais”, ou seja, que o “Antigo
Testamento sozinho já seria suficiente como regra
de fé, tornando desnecessário o Novo Testamento”,
porque tudo que Timóteo tinha era o Antigo
Testamento.[24] Esse argumento é falacioso por
várias razões:
Em primeiro lugar, Timóteo tinha em mãos
mais do que o Antigo Testamento. Essa é a segunda
epístola de Paulo escrita para ele. Portanto ele tinha
pelo menos duas epístolas, além do Antigo
Testamento. Paulo continua a carta dizendo que está
para ser martirizado (2 Timóteo 4.6-8), o que faz
dessa a última epístola escrita por ele. Dessa forma,
Timóteo tinha, obviamente, todas as epístolas de
Paulo. Provavelmente a data é cerca do ano 66;
assim sendo, ele tinha os três primeiros evangelhos e
a maior parte do restante do Novo Testamento.
Além disso, quando Paulo diz “toda a
Escritura” (2 Tm 3.16), está claro que ele está se
referindo à Bíblia inteira, não meramente àquilo que
havia sido escrito até aquele tempo. Expressões
semelhantes são usadas freqüentemente na Escritura,
mas elas nunca se referem apenas à Bíblia escrita
naquele tempo. Quando Jesus disse: “...a própria
palavra que tenho proferido, essa o julgará no
último dia” (João 12.48), Ele não estava se
referindo somente ao que Ele havia dito até aquele
tempo. Do mesmo modo, quando disse: “a tua
palavra é a verdade” (João 17.17), Ele obviamente
quis dizer toda a Palavra de Deus, embora ela não
tivesse ainda sido compilada em sua versão final.
Quando o autor de Hebreus diz: “Porque a
palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do
que qualquer espada de dois gumes” (4.12), ele
não estava pensando apenas na porção da Palavra de
Deus que havia sido escrita até aquele momento.
Assim como Paulo, ao dizer “toda Escritura”, não
estava se referindo somente ao que havia sido escrito
até então. Ele claramente queria dizer toda a
Escritura. Portanto, o cardeal Newman foi
ingenuamente superficial e estava errado. Mesmo
assim, os apologistas católicos citam com convicção
sua declaração equivocada para desaprovar a
suficiência da Escritura.
“Para que o homem de Deus seja perfeito”
quer dizer simplesmente que a Palavra de Deus é
tudo que alguém precisa para ser “perfeito”, no
sentido de tornar-se maduro e ser como Deus quer
que o cristão seja. Os apologistas católicos referem-
se aos outros versos onde a palavra “perfeito” é
usada, como: “Se queres ser perfeito, vai, vende os
teus bens, dá aos pobres” (Mateus 19.21) ou “a
perseverança deve ter ação completa, para que
sejais perfeitos e íntegros” (Tiago 1.4), etc. E por
isso os católicos afirmam que, se é possível deduzir-
se por 2 Timóteo 3.17 que a Bíblia é suficiente para
aperfeiçoar os crentes, logo vender tudo que se tem
e dar aos pobres ou ser paciente também seria
suficiente para tornar alguém perfeito.
Mais uma vez esse argumento é falho. Suponha
que um treinador ofereça a um atleta uma dieta
perfeita, com todos os ingredientes necessários para
que ele tenha um corpo perfeito. Isso não significa
que outras coisas, como exercícios físicos, não
sejam necessárias. Paulo está dizendo que ensino,
repreensão, correção e educação na justiça contidos
na Escritura são suficientes para fazer com que o
homem (ou mulher) de Deus seja tudo aquilo que
Deus deseja dele. O que não significa que seja
desnecessário exercitar paciência, fé, obediência,
caridade, etc., como é ensinado pela Escritura. O
real significado é: na área de ensino, repreensão,
correção e educação na justiça, a Bíblia não precisa
do complemento de alguma tradição extra-bíblica ou
de qualquer outra fonte.
Além do mais, Paulo prossegue dizendo que o
homem (ou a mulher) de Deus é, pelas próprias
Escrituras, “perfeitamente habilitado para toda boa
obra” (2 Timóteo 3.17). A Bíblia nunca faz tal
declaração sobre a paciência, o amor, a caridade, a
tradição ou qualquer outra coisa. Paulo ensina
claramente: “Só a Escritura”. Essa doutrina não foi
inventada pelos reformadores; eles a retiraram da
Escritura.
A Questão Central
Quando Thomas Howard, irmão de Elizabeth
Elliot (esposa do missionário martirizado, Jim
Elliot), tornou-se católico, a Faculdade Gordon
removeu-o de seu corpo docente. Entre as razões
alegadas estava o fato de que a declaração de fé que
todos os professores deviam assinar, afirmando que
a Bíblia é a “única infalível regra de fé e prática”,
não podia ser endossada por um católico. Howard
reconheceu que “a autoridade única das Escrituras é
princípio exclusivo do protestantismo e que ele,
como católico, não poderia subscrevê-lo”.[25]
Sola Scriptura permanece sendo a questão
central da Reforma. Deve-se escolher entre
submeter-se à autoridade da Bíblia ou à da Igreja
Católica Romana. Não se pode optar por ambas por
causa do claro conflito existente entre as duas.
A escolha a ser feita é óbvia. Apenas a
submissão cega a qualquer hierarquia já contradiz a
Bíblia. Além do mais, fornecemos evidências
históricas mais do que suficientes para mostrar que a
Igreja Católica Romana, a começar pelo próprio
papa, já perdeu o direito a qualquer pretensão que já
possa ter tido de merecer confiança.
A mais trágica conseqüência da fé cega em sua
Igreja como a única intérprete da Palavra de Deus
para a humanidade, é que centenas de milhões de
católicos confiam nela para o seu destino eterno.
Portanto, a questão da salvação é um assunto
fundamental, que obrigatoriamente separa católicos
e evangélicos.
CAPÍTULO 23
Uma Questão de
Salvação
“Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos
pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja
anátema. ...o homem não é justificado por obras da lei, e sim
mediante a fé em Cristo Jesus... por obras da lei, ninguém será
justificado”.
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem
de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se
glorie”.
– Efésios 2.8-9
Os “Salvos” e os “Não-
Salvos”
A Bíblia diz que há duas categorias de pessoas:
as salvas e as não-salvas, ou perdidas. O próprio
Cristo declarou que a Sua missão era salvar as
pessoas perdidas do mundo: “o Filho do Homem
veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19.10);
“...eu não vim para julgar o mundo, e sim para
salvá-lo” (João 12.47). Deus enviou Jesus “para
que o mundo fosse salvo por ele” (João 3.17).
Paulo testificou: “Cristo Jesus veio ao mundo para
salvar os pecadores” (1 Timóteo 1.15). Salvá-los
do quê? Do juízo divino, que os separará
eternamente da presença de Deus por causa do
pecado.
“Por isso, quem crê no Filho tem a vida
eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o
Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a
ira de Deus” (João 3.36).
“...em chama de fogo, tomando vingança
contra os que não conhecem a Deus e contra os
que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor
Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna
destruição, banidos da face do Senhor... a fim de
serem julgados todos quantos não deram crédito à
verdade” (2 Tessalonicenses 1.8-9; 2.12).
“E, se alguém não foi achado inscrito no
Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago
de fogo” (Apocalipse 20.15).
O Evangelho declara: “Cristo morreu pelos
nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi
sepultado e ressuscitou ao terceiro dia” (1
Coríntios 15.3-4). Os evangélicos crêem no
Evangelho, não apenas como um fato histórico, mas
como algo que lhes oferece perdão de seus pecados
e a vida eterna como um dom gratuito da graça de
Deus. Paulo diz que este é o Evangelho “pelo qual
também somos salvos” (veja 1 Coríntios 15.2).
Baseado nisso é que o evangélico sabe que está
salvo.
Uma pessoa “é salva” no momento em que crê
no Evangelho. Ao grito desesperado: “...que devo
fazer para que seja salvo?” (Atos 16.30), Paulo
respondeu: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo” (v.
31). É simples assim. No momento em que deposita
sua fé em Cristo, a pessoa é salva e jamais se
perderá novamente. “Mas passou da morte para a
vida” (João 5.24) e não está mais sob o julgamento
de Deus. O céu agora é o seu lar e a morte significa
“deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2
Coríntios 5.8). A Bíblia diz: “Porque Deus amou
ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo o que nele crê não pereça,
mas tenha a vi da eterna” (João 3.16); “Eu sou a
porta [disse Jesus]. Se alguém entrar por mim, se
rá salvo” (João 10.9); “as minhas ovelhas ouvem
a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu
lhes dou a vi da eterna; jamais perecerão” (João
10.27-28); “...para nós, que somos sal vos” (1
Coríntios 1.18); “...aprouve a Deus sal var os que
crêem pela loucura da pregação” (1 Coríntios
1.21); “...por ele também sois sal vos” (1 Coríntios
15.2); “pela graça sois sal vos...” (Efésios 2.8);
“... o qual deseja que todos os homens sejam sal
vos...” (1 Timóteo 2.4); “[Deus] que nos sal vou”
(2 Timóteo 1.9); “...segundo sua misericórdia, ele
nos sal vou” (Tito 3.5), etc.
O evangélico crê que, depois de aceitar a oferta
de Cristo de perdão e vida eterna, ele se torna um
cristão, nascido do Espírito Santo e membro da
família de Deus. Ele tem a certeza de que, como
filho de Deus, jamais perecerá eternamente (João
10.28), nem “entra em juízo” (João 5.24). Sua
salvação está segura porque, pela maravilhosa graça
de Deus, a morte de Cristo pagou a penalidade dos
seus pecados. Assim diz a Palavra de Deus: “Aquele
que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho
[a garantia dada pelo Espírito Santo ao seu coração].
Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso,
porque não crê no testemunho que Deus dá acerca
do seu Filho. E o testemunho é este: que Deus nos
deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho.
Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não
tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas
vos escrevi, a fim de sa ber des que ten des a vida
eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho
de Deus” (1 João 5.10-13).
O Objetivo do Evangélico:
a Salvação dos Pecadores Se
uma pessoa é criada em um
lar e numa igreja
evangélicos, é capaz de
compreender
intelectualmente o
Evangelho desde a infância.
Porém, mesmo assim pode
perceber que ainda não é
salva. A mera concordância
mental com tudo que a
Bíblia diz não pode salvar; é
preciso que se aceite
pessoalmente a Cristo como
seu Salvador. É através desse
ato de fé que ocorre a
salvação, “porque pela graça
sois salvos, mediante a fé”
(Efésios 2.8). Tudo agora é
diferente, ela tornou-se
“nova criatura” em Cristo;
“as coisas antigas já
passaram; eis que se fizeram
novas” (2 Coríntios 5.17).
Quem toma essa atitude agora está “salvo” e é
parte da Igreja mundial de Cristo – não pelo fato de
congregar numa igreja batista, luterana, metodista,
católica ou de outra denominação, mas pelo Espírito
de Deus que o colocou no corpo de Cristo:
“acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam
sendo salvos” (Atos 2.47). “Pois, em um só
Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo,
quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer
livres...” (1 Coríntios 12.13). Essa é a “boa nova”
do Evangelho.
Cristo disse aos Seus discípulos: “Ide por todo
o mundo e pregai o evangelho...” (Marcos 16.15),
e assim Sua missão de salvar os pecadores seria
continuada. O objetivo principal dos evangélicos é
pregar o Evangelho aos perdidos, para que eles
possam ser salvos. Pedro disse: “importa que
sejamos salvos” (Atos 4.12) através de Jesus, já que
não há outro meio de salvação. A prioridade de
Paulo em relação aos seus patrícios judeus era: “que
sejam salvos” (Romanos 10.1). Este é o desejo do
evangélico para toda a humanidade: “...que vos
reconcilieis com Deus” (2 Co 5.20).
A “Salvação” no Catolicismo
Sim, a Igreja Católica prega
a salvação, mas em direta
oposição à Escritura e àquilo
que crêem os evangélicos.
Para eles a salvação ocorre
pela obediência à Igreja e
não está baseada na obra
consumada por Cristo na
cruz. Nenhum católico
poderia afirmar que está
salvo e que sabe com certeza
que após sua morte irá para
o céu. Dizer isso seria trazer-
lhe automática excomunhão
e a condenação de Roma: Se
alguém diz que para obter a
remissão dos pecados é
necessário... crer com certeza
e sem hesitação alguma...
que seus pecados lhe são
perdoados, seja anátema!
(Concílio de Trento, 6, XVI,
13).
Se alguém diz que, com certeza, ...receberá esse
grande dom da perseverança até o fim [ou seja, saber
que está salvo, como a Bíblia promete]... seja anátema
(Concílio de Trento, 6, XVI, 16).[6]
Redenção: Processo
Contínuo
ou Fato Consumado?
A parte mais importante do “servindo-O” e
“observância dos mandamentos” para a salvação
envolve a participação nos sacramentos,
principalmente o batismo e a missa. A longa obra de
salvação tem início pelo batismo e continua por toda
a vida através da participação em outros
sacramentos, através da prática de boas obras e
penitências. O católico nunca tem certeza do
resultado ou quanto tempo levará para alcançar o
alvo. Eles esperam não morrer em pecado mortal, o
qual não remeteria a alma para o purgatório, mas
para o inferno, de onde não há escapatória. Mais
uma vez citamos o Vaticano II: Pois é através da
liturgia, especialmente no divino sacrifício da
Eucaristia, que a obra de nossa redenção é
completada...[10]
Mas Ele [Deus] também desejava que a obra da
salvação que eles [os apóstolos] pregavam fosse
completada através do sacrifício e dos sacramentos, ao
redor dos quais toda a vida litúrgica está centrada... A
liturgia é... a fonte da qual flui todo o seu poder [da
Madre Igreja]. [11]
O Papel de Maria na
Salvação Maria exerce o
papel principal na salvação.
São Bernardo também disse:
“Todos os homens, do
passado, do presente e do
porvir devem depender de
Maria como meio e a
negociadora da
salvação...”[19] Aqui está um
resumo do que os principais
santos católicos declararam
sobre o papel de Maria na
salvação: São Boaventura
diz: “Os portões do céu se
abrirão para todos os que
confiarem na proteção de
Maria”. São Efraim chama a
devoção à divina mãe de
“abertura dos portões da
Jerusalém celestial”. Blósio
também diz: “A vós, ó
Virgem, estão confiadas as
chaves e os tesouros do reino
do céu”. Portanto,
deveríamos rezar
constantemente a ela,
repetindo as palavras de
Santo Ambrósio: “Abri para
nós, ó Maria, os portões do
paraíso, já que sois vós que
tendes as chaves”. E a Igreja
acrescenta: “Vós sois os
portões”.
Declarou São Fulgêncio: “Pois foi por Maria que o Deus
do céu desceu ao mundo, e por ela deve o homem
subir da terra para o céu”. “E vós, ó Virgem”, disse
Santo Atanásio, “que fostes cheia de graça, então
podeis ser o caminho de nossa salvação e o meio de
atingirmos o reino celestial...”
“Abençoados são os que vos conheceis, ó mãe de
Deus” disse São Boaventura, “pois o conhecimento de
vós é a estrada para a vida eterna e a proclamação de
vossas virtudes é o caminho da salvação eterna”. Em
suma, diz Ricardo de São Lourenço: “Maria é a rainha
do céu, pois lá ela comanda conforme deseja e
permite a entrada de quem ela quer”.
... Portanto, disse o abade Guerric: “Aquele que serve
a Maria, e por quem ela intercede, está tão seguro do
céu como se já estivesse lá... [e] os que não servem a
Maria não serão salvos...” São Boaventura exclama:
“Dai ouvidos, ó vós nações, e todos vós que desejais o
céu, servi e honrai a Maria e certamente encontrareis
vida eterna”.
“É suficiente, senhora”, disse São Anselmo, “que o
desejeis, e nossa salvação é certa”. E Santo Antonino
diz que “as almas protegidas por Maria e, por quem
ela vela, são, com certeza, justificadas e salvas”.[20]
“Graças” ou Graça?
Não se pode negar que Maria é aquela a quem
primeiramente os católicos procuram em busca das
“graças necessárias à salvação”. Esse fato é
transmitido pelos defensores da igreja romana como
sendo a prática do catolicismo simples, dos que não
conhecem outro modo de pensar. Pelo contrário, as
citações que reproduzimos acima são de santos
católicos. Ligório foi uma das grandes autoridades
da Igreja Católica, um cardeal e santo. A mariolatria
não é censurada pela hierarquia da Igreja, é até
encorajada por ela. Os próprios bispos, cardeais e
papas têm sido alguns dos maiores devotos de
Maria, embora nenhum deles superou o papa João
Paulo II.
Segundo dizem, “Nossa Senhora do Carmo”
teria dado uma grande promessa a São Simão Stock
em 1251: “Todos os que morrerem revestidos deste
escapulário não padecerão o fogo eterno”. Seu
suposto aparecimento ao papa João XXII ocorreu
em 1322, ratificando o privilégio sabatino (do
sábado) para os que usarem o escapulário. Ela teria
dito: “Eu, a mãe da graça, descerei no sábado após
sua morte e libertarei a quem porventura se
encontrar no purgatório”.[23] Confirmada pelos
papas Alexandre V, Clemente VII, Pio V, Gregório
XIII e Paulo V,[24] desde então incontáveis milhões
de católicos usuários do escapulário têm confiado
nessa promessa. Ligório acrescenta: [O papa Paulo
V] numa bula em 1613, disse que “o povo cristão
[que usa o escapulário] deve crer piamente que,
após a morte, a bendita virgem o ajudará pela sua
contínua intercessão, seus méritos e proteção
especial...”
Por que não deveríamos esperar pelas mesmas
graças... dessa mãe bondosa? E se a servimos com um
amor muito especial, por que não podemos esperar ir
imediatamente para o céu após a morte, sem precisar
passar pelo purgatório? [25]
Um Mal-Entendido
Semântico?
Em seu livro de apologética, Peter Kreeft
declara absurdamente que aquilo que Lutero
redescobriu sobre a justificação pela fé era uma
doutrina católica que há muito fora ensinada e ainda
o é por Roma.[29] Certamente Kreeft sabe que a
doutrina católica da “justificação pela fé” é
inteiramente diferente daquela em que Lutero
passou a crer depois de ler as Escrituras e daquela
em que os evangélicos crêem hoje. Caso contrário,
Lutero e outros reformadores deveriam ser
verdadeiramente deficientes mentais. E então os
inquisidores foram muito mais cruéis do que
imaginamos, pois não disseram às pobres almas que
eles condenavam às chamas que tudo não passava
de um mal-entendido semântico, que Roma ensinava
a “heresia” pela qual estavam morrendo – e até fora
a sua originadora.
Keith Fournier, em seu livro Evangelical
Catholics [Católicos Evangélicos], equipara o
catolicismo ao Evangelho bíblico da graça de Deus.
Para tentar provar que eles possuem uma fé bíblica,
ele alega que alguns católicos usam o material do
Evangelismo Explosivo de D. James Kennedy.
Entretanto, quando foi indagado sobre isso, Fournier
respondeu: ...havia algumas coisas no método [de
evangelismo] de James Kennedy que nós, como
católicos, não podíamos aceitar, pois não eram
ensinos católicos. Exemplos óbvios são: o ensino da
segurança total da salvação... e também que a
salvação ocorre somente pela fé.
Para os católicos, nós somos salvos pela fé e também
pela obediência a Cristo... existem atos de obediência
e cooperação no Espírito de Deus que estão
conectados à salvação.[30]
O “Sacrifício” da Missa
“Fazei isto em memória de mim... Porque, todas as vezes que
comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do
Senhor, até que ele venha”.
– 1 Coríntios 11.24,26
“Carne e Ossos” – Um
Corpo
Ressurreto Sem Sangue
Na noite da ressurreição, quando Cristo veio
pela primeira vez aos Seus discípulos, eles julgavam
estar vendo um espírito. Para provar que estava
vivo, Ele disse: “Vede as minhas mãos e os meus
pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai,
porque um espírito não tem carne nem ossos, como
vedes que eu tenho” (Lucas 24.39).
O incrédulo Tomé, que estava ausente na
ocasião, declarou ceticamente: “Se eu não vir nas
suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o
dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo
algum acreditarei” (João 20.25).
Uma semana mais tarde, quando Cristo voltou
a aparecer, convidou Tomé a fazer aquilo que
desejava. Jesus disse: “Põe aqui o dedo e vê as
minhas mãos; chega também a mão e põe-na no
meu lado; não sejas incrédulo, mas crente” (João
20.27). Claramente as feridas de Cristo ainda não
haviam sido “saradas”, mas permaneciam como um
memorial. A ferida aberta no lado de Cristo, na qual
Tomé pôde colocar sua mão inteira, é a maior
evidência de que não havia sangue em Seu corpo.
O sangue é a vida da carne mortal e o sangue
de Cristo foi derramado na cruz por nossos pecados:
“Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo
tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela
vossa alma, porquanto é o sangue que fará
expiação em virtude da vida” (Levítico 17.11).
Mesmo assim é dito que o vinho se transforma no
sangue de Cristo nos altares católicos – o sangue de
Seu corpo antes da crucificação, que ressuscitou
para a imortalidade.
Para repetir ou perpetuar o sacrifício de Cristo,
o Seu corpo antigo precisaria ser reconstituído. A
Igreja Católica afirma que essa espantosa façanha é
supostamente conseguida através do “milagre” da
transubstanciação, quando pão e vinho são
transformados no corpo e no sangue de Cristo.
Portanto, “o sacerdote é indispensável, visto como
somente ele com seus poderes pode mudar os
elementos do pão e do vinho no corpo e sangue de
Cristo”...[9]
O Papel Vital da
Transubstanciação
Devido ao suposto milagre da
transubstanciação, a hóstia [ou pão] que é ingerida
na missa, é adorada como o próprio Cristo. A
mesma devoção é dirigida às hóstias adicionais que
são consagradas e guardadas num tabernáculo
(pequeno receptáculo em forma de caixa, coberto
com um véu e próximo a uma luz perpetuamente
acesa). O devoto chega e reza diante das hóstias ali
guardadas como se ao próprio Cristo, crendo estar
em Sua presença. Madre Teresa expressou assim a
sua crença:
É tão bonito ver a humildade de Cristo... em Seu
permanente estado de humildade no tabernáculo,
onde Ele reduziu a Si mesmo a um pedaço tão
pequeno de pão que o sacerdote pode segurar entre
dois dedos.[10]
Realidade ou Fraude?
Este suposto poder do sacerdote de recriar
sobre os altares católicos o corpo literal de Cristo
para, em seguida, oferecê-lo a Deus “no sacrifício
da missa, [no qual] nosso Senhor é imolado... [e]
Cristo perpetua de maneira incruenta o sacrifício
oferecido na cruz”[15] é a marca registrada do
catolicismo romano. Por isso, conforme já vimos,
ele está separado por um abismo intransponível de
todas as demais religiões, especialmente do
cristianismo bíblico. O que temos aqui é a realidade
mais vital e miraculosa de todas ou a mais diabólica
fraude. Não há meio-termo.
Os católicos não podem negar que a defesa da
transubstanciação parece um equívoco já à primeira
vista. Não é possível detectar mudança alguma na
hóstia e no vinho após eles terem se transformado
no suposto corpo e sangue literais de Cristo pelo
poder único dos sacerdotes. Como, então, pode-se
ter a certeza de que esse “milagre” tenha ocorrido?
Assim como tudo mais no catolicismo, essa certeza
somente pode vir de uma fé cega naquilo que a
Igreja diz.
Sim, alguns versículos bíblicos são
apresentados como sustentação a esse dogma, mas o
católico tem de aceitar a interpretação da Igreja,
mesmo que o bom senso e uma exegese correta a
rejeitem. Há duas passagens principais das quais a
doutrina da transubstanciação é derivada: João 6.51-
57 e Mateus 26.26-28 (compare com Lucas 22.19-
20 e 1 Coríntios 11.24-25). Vamos analisá-las mais
de perto:
Literalismo ou Simbolismo?
Referindo-se à Sua crucificação, que deveria
ocorrer em breve, Cristo disse aos judeus em João
6: “...o pão que eu darei pela vida do mundo é a
minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si,
dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua
própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade,
em verdade vos digo: se não comerdes a carne do
Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não
tendes vida em vós mesmos” (vv. 51-53). O
catolicismo usa essas palavras literalmente e
recrimina o protestantismo por tomá-las
simbolicamente. Cristo também disse: “Eu sou o
pão da vida” (v. 35). Por que não tomar essa
passagem também literalmente e transformá-lo num
pão material? É uma tolice muito maior dizer que
Cristo é um pão do que dizer que um pedaço de pão
é Cristo? A Bíblia deve ser interpretada literalmente
quando se propõe a isso – mas não quando existe
uma analogia ou um simbolismo, ou então quando o
literalismo viola a lógica ou desfigura os
mandamentos de Deus.
O salmista disse: “[Deus] Cobrir-te-á com as
suas penas, e, sob suas asas, estarás seguro”
(Salmo 91.4). Por causa disso podemos dizer que
Deus é um grande pássaro? Jesus chorou sobre
Jerusalém: “Quantas vezes quis eu reunir teus filhos
como a galinha ajunta os do seu próprio ninho
debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Lucas
13.34). Claro que Jesus não falava literalmente,
embora estivesse se identificando com o “Eu Sou”
sobre quem Moisés escreveu o Salmo 91.
Jesus convocou a humanidade a crer nEle. Ele
disse a Nicodemos que todo aquele que nEle “crer
não [perecerá], mas [terá] a vida eterna” (João
3.16), e que crer nEle significa um novo
nascimento. Contudo, Jesus não se referia a um
nascimento físico, mas a um nascimento espiritual,
algo que todo católico reconhece. Ele prometeu à
mulher samaritana a “água viva” e uma “fonte”
que jorraria de dentro dela (João 4.10-14), mas
certamente Ele não estava se referindo a água física.
Ele disse aos judeus que todo aquele que nEle cresse
“do seu interior fluirão rios de água viva” (João
7.38), mas Ele não queria dizer rios físicos.
Em João 6 Jesus disse: “Eu sou o pão da vida;
o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em
mim jamais terá sede” (v. 35). Está claro que Ele
não intencionava dizer que era pão literal e físico, ou
que aqueles que nEle cressem não precisariam mais
de alimento físico ou de bebida, mas que jamais
teriam fome e sede espiritualmente. É óbvio que Ele
estava falando de assuntos espirituais, e ilustrava
Suas idéias com analogias de coisas familiares a
todos. Então, por que deveríamos tomar literalmente
as palavras de Cristo, quando alguns momentos
depois Ele diz que devemos “comer” o Seu corpo e
“beber” o Seu sangue?
Baseado nesse crucial erro de interpretação, os
católicos insistem que o pão e o vinho são,
literalmente, Cristo. Vamos seguir esta lógica: se
Cristo estivesse falando sobre o Seu corpo literal,
então deveria fazer o mesmo quando disse: “Eu sou
o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome;
e o que crê em mim jamais terá sede” (v. 35). Uma
vez que os católicos comem o corpo literal de
Cristo, eles jamais deveriam sentir fome e sede
físicas – mas está claro que eles sentem. Assim, se
“fome e sede” são termos espirituais, então assim
devem ser o comer o Seu corpo e beber o Seu
sangue. É lógico que Cristo está dizendo que aqueles
que nEle crêem recebem a vida eterna e não
precisam mais vir vez após vez até Ele para receber
outra “parcela”.
O catolicismo insiste que o fiel deve comer o
corpo e beber o sangue de Cristo com freqüência.
Quanto mais missas forem rezadas, melhor; mesmo
assim pessoa alguma pode estar segura de que vai
para o céu sem sofrer no purgatório. O Código de
Direito Canônico, cânon 904, diz: “Para lembrar
que a obra da redenção é continuamente
complementada com o mistério do Sacrifício
Eucarístico, os padres a celebram com freqüência;
de fato, a celebração diária é muito recomendada”...
[16] Contudo, a Bíblia nos garante em inúmeros
versículos, já citados neste livro, que a obra da
redenção foi consumada de uma vez por todas na
cruz e o sacrifício de Cristo não precisa ser repetido.
Cristo disse: “De fato, a vontade de meu Pai é
que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a
vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”
(João 6.40). Esse “crer em Cristo” (que Ele
equipara a comê-lO) é claramente um ato definitivo,
feito de uma vez por todas. Ele não disse que
deveria ser feito 20 ou 1.000 vezes, uma vez por dia
ou uma vez por semana. No momento em que a
pessoa crê em Cristo, ela recebe o perdão dos
pecados e a vida eterna como um dom gratuito da
graça de Deus. Fica claro que uma pessoa que
recebeu a vida eterna por seu ato único de
crer/comer não precisa repetir essa ação nunca mais.
Caso contrário, a vida eterna estaria sendo chamada
erroneamente de “eterna”, uma vez que algo eterno
precisa durar para sempre sem precisar ser renovado
ou reforçado. Analisemos novamente as palavras de
Cristo, nesse mesmo capítulo: “Em verdade, em
verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida
eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram
o maná no deserto e morreram. Este é o pão que
desce do céu, para que todo o que dele comer não
pereça. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se
alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão
que eu darei pela vida do mundo é a minha carne”
(João 6.47-51).
Onde Cristo deu a sua carne? Não foi na santa
ceia, como o catolicismo ensina, mas na cruz. Esse
erro de interpretação novamente demonstra ser
extremamente fatal. Pois, se quando Cristo disse
“Isto é o meu corpo... isto é o meu sangue” na
santa ceia referia-se a uma verdade literal, então na
realidade Ele estaria sacrificando a Si mesmo antes
de chegar à cruz! De fato, este é o estranho ensino
do catolicismo: “Nosso Salvador, na Última Ceia, na
noite em que foi traído, instituiu o sacrifício
eucarístico do Seu corpo e sangue, de modo que
pudesse perpetuar o sacrifício da cruz através dos
séculos até Sua volta”.[17]
Repetimos: se Cristo está falando de Seu corpo
e sangue físicos em João 6, então aqueles que dele
se alimentam jamais morrerão fisicamente. Mas
todos os apóstolos morreram. Se Ele não
intencionava dizer que comer o Seu corpo evitaria a
morte física, então Ele também não se referia a
comer fisicamente o Seu corpo. Jesus está
obviamente falando num sentido espiritual em todo
o capítulo, como em muitas outras passagens da
Bíblia.
É trágico perceber que os católicos são
privados de receber a vida eterna espiritual que
Cristo oferece, por serem levados a crer em um
dogma que afirma que Ele estava falando em termos
físicos. Roma afirma controlar “os méritos de
Cristo” e assim poder dispensar outra “parcela” cada
vez que um católico (assim se imagina) ingere
fisicamente o corpo e o sangue literal de Cristo. A
missa precisa ser repetida por vezes sem fim.
Visão Idêntica no
Luteranismo
Martim Lutero foi incapaz de se libertar de
muitos elementos de seu catolicismo romano, como
o batismo infantil, etc., e muitas dessas idéias
permanecem até hoje dentro da Igreja que leva o seu
nome. Mesmo negando que ensinem a
transubstanciação, os luteranos declaram:
O verdadeiro e real corpo e sangue está de alguma
forma, de uma forma única, presente no, com e entre
o pão e o vinho, que são separados, consagrados e
consumidos na Santa Ceia. Esse é o sentido evidente
[?] da Escritura (Mateus 26.26-28; 1 Coríntios 10.16;
11.23-32)...
A doutrina luterana é que o pão e o vinho durante a
Santa Ceia se transformam no corpo e sangue de
Cristo. Como isso ocorre, não sabemos e não
compreendemos. Mas... Cristo... disse que o pão é o
Seu corpo e que o vinho é o Seu sangue. Nós
simplesmente repetimos Suas palavras...
Os que não crêem nas palavras de Cristo sobre este
sacramento não discernem nem reconhecem o seu
corpo – ou o seu sangue – na Santa Ceia e, portanto,
não podem receber o sacramento, a não ser de
maneira indigna...[18]
Um “Milagre”?
Os que rejeitam a fantasia da transubstanciação
são acusados de não crerem em milagres. Sim,
“para Deus tudo é possível” (Mateus 19.26;
Marcos 10.27). Contudo, para entender essa
expressão devemos considerar a natureza de Deus e
a realidade. Deus não pode se transformar em
demônio ou Satanás e também não pode mentir
(Tito 1.2). Deus também não pode tornar-se o
universo, pois pela Sua própria natureza Ele é um
Ser separado e distinto do universo e, portanto, o
panteísmo é uma concepção impossível.
Do mesmo modo, um milagre deve acontecer
dentro dos limites verificáveis da realidade. Uma
hóstia que se “transformou” no corpo e sangue de
Cristo e ainda retém todas as qualidades e
características originais exclui aquilo que é essencial
para um milagre: a sua constatação para que possa
trazer glória a Deus. Considerando que a hóstia e o
vinho permanecem como eram, o suposto milagre
continua encoberto. Para que seja aceito como tal,
um milagre precisa ser reconhecível (o paralítico
andar, o cego ver, a tempestade ser logo acalmada, o
morto ressuscitar, etc.), ou então ninguém pode
saber se ele realmente aconteceu e ninguém pode
dar glória a Deus por isso.
Claro que Deus poderia transformar uma hóstia
em carne humana. João Batista disse que Deus
poderia “...destas pedras... suscitar filhos a
Abraão” (Mateus 3.9 e Lucas 3.8). Mas se Ele o
fizesse, as pedras que haviam sido transformadas em
seres humanos não continuariam com a aparência e
com as características das pedras. Para os católicos,
transformar hóstia em carne e sangue humanos não
seria negar nem a natureza de Deus nem a realidade.
Mas a transubstanciação não é esse milagre, pois a
hóstia [supostamente] se transforma no corpo de
Cristo “sob a aparência de hóstia”.
Não existe esse tipo de milagre na Bíblia. A
abertura do mar Vermelho para que os israelitas o
atravessassem pisando em terra seca foi um feito
real, tanto para eles como para os egípcios que o
presenciaram. Ambos entenderam que aquilo era um
milagre realizado pelo poder de Deus. Suponhamos
que ele tivesse sido uma espécie de
transubstanciação – o mar Vermelho “aberto”, sob a
aparência de estar fechado, e os israelitas “andando
na terra seca”, sob a aparência de “estar
nadando” para atravessá-lo. Suponhamos que
Cristo curou um cego que continuava “com a
aparência de cego” ou ressuscitou um morto “que
ainda tinha a aparência de continuar morto”. Não
seriam suposições ridículas? Pois é exatamente o
que ocorre no “milagre da transubstanciação”!
Tomemos o milagre das bodas de Caná,
quando a água foi transformada em vinho: “Tendo o
mestre-sala provado a água transformada em
vinho... chamou o noivo e lhe disse.... guardaste o
bom vinho até agora” (João 2.9-10). Suponhamos
que, em vez disso, ele tivesse dito: “Não, isto não é
vinho, é água!” Então os criados responderiam:
“Não, senhor, é vinho!” A voz do mestre-sala se
alteraria e num tom zangado diria: “Não zombem de
mim! Parece água, tem gosto de água, portanto é
água!” Mas os criados insistem: “Senhor, é vinho.
Jesus miraculosamente transformou água em vinho
sob a aparência de água”. Não existe esse tipo de
“milagre” na Bíblia, e quando Roma faz tal
afirmação, não passa de uma tentativa óbvia de
encobrir uma fraude.
A Reforma Traída
A queima dos mártires durante o governo da rainha Maria foi
um ato que a Igreja de Roma nunca repudiou... Tampouco ela se
arrependeu do tratamento dado aos valdenses e aos albigenses*,
dos assassinatos em grande escala executados pela Inquisição
Espanhola... nem da queima dos reformadores ingleses.
Deveríamos pensar seriamente nesses fatos e deixá-los bem
vivos nos recônditos de nossas mentes. Roma nunca muda.
– Billy Graham[2]
Os Mártires da Reforma na
Inglaterra
A morte de Henrique VIII abriu a porta a um
protestantismo fraco. Seu filho Eduardo VI era
apenas um garoto de 10 anos quando sucedeu seu
pai no trono. Tornou-se mero instrumento nas mãos
de conselheiros inescrupulosos, um joguete na luta
entre os senhores egoístas de terras e nobres ainda
no poder contra os arrendatários de terras e
camponeses que estavam sendo levados à pobreza.
A verdadeira liberdade na política e na religião ainda
era um sonho.
Doente desde a infância, Eduardo morreu com
apenas 15 anos de idade, jovem demais para ser
culpado por seu reinado infeliz. Em 1553, Lady
Jane Gray, uma protestante devota, foi forçada a
subir ao trono mesmo contra sua vontade, mas foi
removida cinco dias depois, quando a opinião
popular virou e colocou a herdeira legal, Maria
Tudor, no poder. Uma fervorosa fé católica tinha
sustentado Maria durante anos de doenças e exílio.
Em pouco tempo ela ganhou o nome pelo qual a
história ainda se lembra dela: “Bloody Mary”, Maria
a Sanguinária.
Por lei o catolicismo tornou-se novamente a
religião oficial. “O protestantismo e outras ‘heresias’
foram declarados ilegais e todas as pregações ou
publicações protestantes foram proibidas”.[16] Uma
das primeiras vítimas infelizes foi Jane Gray, a qual,
antes de colocar a cabeça para ser cortada, testificou
à multidão que estava presente:
Eu não espero ser salva por nenhum outro meio, mas
somente pela misericórdia de Deus no sangue do Seu
Filho unigênito, Jesus Cristo. Confesso que quando
conheci a Palavra de Deus, a negligenciei, amei a mim
mesma e ao mundo... mesmo assim agradeço a Deus
que, pela Sua bondade, permitiu que eu tivesse tempo
para me arrepender... Senhor, em Tuas mãos entrego o
meu espírito.[17]
A Reforma Traída
Parece inexplicável que, dentre todos os povos,
sejam os ingleses os que evitam cuidadosamente
qualquer menção aos mártires genuínos e preferem
honrar traidores sediciosos. Quando George Carey
foi declarado arcebispo de Cantuária em abril de
1991, voltou atrás no tempo anterior à Reforma,
nomeando elogiosamente alguns arcebispos católicos
de Cantuária. Ao fazer isso, ele deliberadamente
passou por cima de muitos dos seus antecessores
nesse ofício, que haviam permanecido firmes contra
Roma. O que ficou mais saliente, por sua ausência,
foi qualquer menção ao primeiro arcebispo
protestante da Cantuária, Thomas Cranmer,
martirizado pela própria fé que Carey jurava
defender.
A história é sacrificada no altar do ecumenismo
como uma oblação a Roma. Nenhum sacrifício é
grande demais para fortificar o movimento
“unificador” que está empurrando a Igreja não-
católica de volta sob o poder papal. Recentemente a
duquesa de Kent, sete bispos anglicanos e mais de
700 clérigos ingleses converteram-se ao catolicismo.
[26] O mesmo revisionismo histórico está sendo
praticado pelos líderes evangélicos americanos que
desonram a memória daqueles que derramaram seu
sangue para preservarem o Evangelho.
Os defensores da fé católica norte-americanos
promovem o mesmo revisionismo. Peter Kreeft
escreve sobre os nobres “mártires católicos”, mas
sem explicar que eles foram executados por traição
ao Estado e não por sua fé. E ele jamais menciona o
número muito maior de mártires assassinados pelos
católicos – uma omissão totalmente indesculpável,
principalmente por se encontrar num livro cujo autor
se propõe a defender a verdade.[27] Pela
desinformação que a caracteriza, essa omissão talvez
só seja conhecida por um em cada mil protestantes,
e mesmo assim é propagada como verdade pelos
líderes evangélicos.
Enquanto Roma faz de conta que mudou e
assim pode enganar os evangélicos, os apologistas
católicos como Karl Keating, Jerry Mataties, Scott
Hahn, Thomas Howard e outros, estão promovendo
esforços para educar os católicos contra o que eles
atrevidamente proclamam ser os erros do Evangelho
dos evangélicos. O próprio papa está à frente da
denúncia contra a fé evangélica nas audiências
católicas [28] enquanto fala aos “irmãos separados”
do seu amor e do seu anseio de união com eles.
Amor e Diálogo?
Somos ensinados a amar uns aos outros como
Cristo nos amou. A psicologia popular trivializa esse
mandamento, igualando-o a uma atitude “positiva”.
Mas esquece o primeiro dever do amor: falar a
verdade (veja Efésios 4.15). O verdadeiro amor não
lisonjeia nem ameniza as coisas quando a correção é
necessária, mas aponta o erro que está cegando e
prejudicando a quem se ama. Cristo disse: “Eu
repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois,
zeloso e arrepende-te” (Apocalipse 3.19). Ao invés
disso, a idéia hoje corrente é que o amor exclui a
censura, ignora a verdade e procura a unidade a
qualquer preço. Com essa atitude, o único resultado
será o desastre.
Eugene Daniels, o conselheiro principal para as
relações eclesiásticas da Visão Mundial
Internacional, declarou: “Descobrimos que podemos
trabalhar com a Igreja Católica em termos das
necessidades espirituais dos povos, de modo muito
semelhante como temos tradicionalmente trabalhado
com as Igrejas protestantes”.[29] Outros famosos
ministérios evangélicos americanos que têm
trabalhado com os católicos como se fossem
igualmente cristãos são a Associação Evangelística
Billy Graham, a Prision Fellowship de Charles
Colson, Aliança Bíblica Universitária, Cruzada
Estudantil e Profissional para Cristo, Associação dos
Homens de Negócio do Evangelho Pleno, Jovens
com uma Missão, Tradutores da Bíblia de Wycliffe e
outros.[30] Obviamente essa situação relativamente
recente, peculiar à nossa geração, é extremamente
significativa e avança na proporção em que Roma
intensifica seus esforços para se apresentar como
sendo “evangélica”.
Um cristão que tem o amor de Cristo em seu
coração gostaria de perdoar os acontecimentos do
passado, mesmo que este seja repleto de opressão,
torturas e morte. Mas a Igreja Católica não pediu
perdão nem admitiu erro algum. Até o presente
momento, os dogmas de Roma não mudaram e o
seu falso evangelho continua enviando milhões de
almas para o juízo eterno. A salvação das almas é a
grande questão: como o homem pode ser perdoado
e ter a certeza da eternidade no céu? Tudo mais é
secundário. O catolicismo é um evangelho
falsificado. Nenhuma quantidade de diálogo é capaz
de mudar esse fato; apenas prepara o palco para o
comprometimento.
“Diálogo” é uma tolice popular que não era
ouvida nos dias dos mártires. Diálogo? Era dobrar-
se à autoridade imperiosa de Roma e aceitar o seu
falso evangelho sem questionar ou então morrer nas
mãos dela. Roma não modificou seus dogmas,
apenas mudou suas táticas. O Vaticano II diz
claramente que os ensinos de Roma são
“irreformáveis”.[31] Nesses “diálogos”, seus agentes
insistem que, em última análise, a Igreja Católica
Romana é a única Igreja verdadeira, que detém os
sacramentos que conduzem à salvação e jamais
dividirá essa distinção com outros.[32]
O propósito do diálogo é trazer os “irmãos
separados” outra vez para estarem debaixo do poder
papal, e infelizmente muitos evangélicos têm
começado a trilhar esse caminho em todo o mundo.
Nos Estados Unidos, em janeiro de 1986, a Igreja
Católica Romana e outras 29 denominações
protestantes anunciaram planos para um esforço
evangelístico de âmbito nacional chamado
“Congresso 88”. O comitê de liderança incluía
membros de muitas denominações protestantes.[33]
Teria o apóstolo Paulo se juntado aos judaizantes
para fazer evangelismo? Em 1992 um grupo
ecumênico formado por 19 líderes religiosos dos
Estados Unidos encontrou-se com João Paulo II
“para explorar possibilidades de um esforço
internacional interconfessional para combater a
pornografia, inclusive infantil”.[34] Teriam Lutero e
Calvino se juntado aos papistas para lutar contra a
imoralidade? Claro que não, porque a moral e a
solução dos males sociais não podem ser dissociadas
do Evangelho.
Dois artigos principais, de 13 páginas, no
Bookstore Journal de fevereiro de 1992, a
“publicação oficial da Associação dos Livreiros
Cristãos Americanos” convidou seus membros a
considerar os clientes católicos como “irmãos e
irmãs em Cristo”. Tragicamente, isso impedirá que
os católicos possam ouvir o Evangelho de que tanto
precisam. Até mesmo alguns grupos de líderes
evangélicos que, de certo modo, fazem um trabalho
recomendável de advertir a Igreja contra as falsas
doutrinas e seitas, diminuem suas críticas quando se
trata do catolicismo romano, e a mídia cristã está se
tornando a principal promotora desse
comprometimento.
Numa transmissão da Trinity Broadcasting
Network, a maior rede de TV evangélica americana,
o seu fundador, Paul Crouch e o popular
televangelista da cura pela fé, Benny Hinn,
declararam que a doutrina católica romana não os
preocupa, pois, afinal de contas, os católicos “amam
Jesus”. O mesmo fez Ghandi e também fazem
muitos muçulmanos, sem falar dos mórmons e
testemunhas de Jeová. Mas qual “Jesus” eles
“amam”? A Bíblia adverte sobre “um outro Jesus” e
“outro evangelho” (2 Coríntios 11. 4 e Gálatas 1.6-
7) e Roma certamente tem os dois. Crouch disse a
dois padres e uma leiga católica influente que eram
convidados em outro programa:
Na essência, nossa teologia é basicamente a mesma:
algumas dessas “diferenças doutrinárias”... são
simplesmente questões de semântica. Um dos
aspectos que nos têm dividido [referindo-se à
transubstanciação] durante todos esses anos não
precisava existir... na verdade, estávamos querendo
dizer a mesma coisa, apenas expressa de maneira
diferente...
Isto eu digo aos críticos e teólogos escrupulosos: “Vão
embora, em nome de Jesus! Andemos de mãos dadas
[com Roma] em espírito de amor e unidade...
[aplausos da audiência]”.[35]
A Questão Imutável:
Salvação de Almas
Alguns evangelistas, inclusive Billy Graham e
Luis Palau, há muito têm prometido não tentar
converter [para outra religião] os católicos, que
“geralmente constituem-se no maior grupo
denominacional” durante as cruzadas evangelísticas
de Graham.[37] Certamente isso faz sentido caso os
católicos forem considerados agora como cristãos.
Os nomes dos católicos que vêm à frente quando é
feito o apelo são enviados de volta às suas igrejas
católicas para serem aconselhados e discipulados.
Nos Estados Unidos, os bispos católicos anunciam
que essas cruzadas são o melhor meio que
conhecem para trazer de volta à Igreja Católica os
católicos relapsos.[38] Disse Graham: “Estamos
encantados porque a Igreja Católica Romana agora
coopera conosco aonde formos”.[39] Essa
cooperação envolveu cerca de 400 “conselheiros”
católicos na cruzada ocorrida em setembro de 1990
no Coliseu Nassau em Long Island. O escritório
local de Renovação Carismática Católica anunciou
que a cruzada “representa uma oportunidade para os
católicos que a assistirem de serem reagregados às
suas paróquias através do estudo da Bíblia católica”.
[40] A cruzada de Saint Louis, ocorrida em 1991,
foi co-patrocinada pela arquidiocese de Saint Louis
e envolveu de 300 a 400 “voluntários da paróquia”.
[41]
Após receber um doutorado honorífico na
Abadia de Belmon (uma faculdade jesuíta) Graham
disse: “O evangelho que construiu esta escola e o
Evangelho que me traz aqui nesta noite permanece
sendo o caminho para a salvação”.[42] Certamente
tanto os que foram martirizados quanto aqueles que
os atiraram às chamas estavam convencidos de que
havia uma grande diferença entre católicos e
protestantes no tocante à salvação.
Charles Dullea, um jesuíta e oficial do Vaticano
assegurou aos católicos que assistiram as cruzadas
de Graham: “um católico não ouvirá nada que
desrespeite a autoridade do ensino da Igreja, nem
das prerrogativas papais ou episcopais, nenhuma
palavra contra a missa e os sacramentos ou práticas
católicas”.[43] (Apesar disso, o papa e os seus
apologistas se opõem ao fundamentalismo e à
mensagem evangélica. O Vaticano financiou a
construção do rádio-transmissor mais potente da
América do Sul que seria usado especialmente para
combater os evangélicos.) Outros evangelistas têm
adotado a mesma atitude em relação a Roma. Um
jornal do Sul da Califórnia trouxe a seguinte notícia:
O evangelista natural de Porto Rico, Dr. Raimundo
Jimenez, está de volta à TV em Los Angeles com um
singular Evangelho multilingüe de alcance tanto das
comunidades que falam espanhol quanto das que
falam inglês e vivem nas imediações dessa imensa
área, cerca de 17 milhões de pessoas.
A emissora afirma ter verificado que a maior parte dos
hispânicos são católicos romanos nominais. “De fato,
acredita-se que no Sul da Califórnia, entre cada seis
milhões de hispânicos existem menos de 200.000
[cerca de 3%] evangélicos”, diz Jimenez. “Contudo,
não permitimos quaisquer ataques contra a Igreja
Católica... Somente apresentamos o positivo Evangelho
de Jesus Cristo”.[44]
Apostasia e
Ecumenismo
É dever sagrado de todo cristão orar contra o Anticristo, e
nenhum homem são deve levantar qualquer dúvida quanto à
identidade dele. Se não for o papado na Igreja de Roma, então não
há nada no mundo que possa ser chamado por esse nome.
Ele fere a Cristo porque rouba Sua glória, põe a eficácia
sacramental no lugar de Sua expiação e levanta um pedaço de pão
no lugar do Salvador...
Se lutamos em oração contra o papado porque ele está contra o
Senhor, devemos amar as pessoas embora reprovemos seus erros;
amemos suas almas, embora abominemos e detestemos seus
dogmas.
– Robert Schuller[3]
A Nova Estratégia:
Ecumenismo
Tendo perdido o status de Igreja oficial na
maior parte dos países do mundo e não mais
podendo impor a pena de morte para quem
discordar de seus dogmas, Roma resolveu adotar
novas táticas. Foi por sua iniciativa, logo após a
publicação da Dignitatis Humanae (Declaração da
Liberdade Religiosa) do Vaticano II, que as
concordatas, nos poucos países onde somente o
catolicismo era permitido, foram mudadas para
conceder a liberdade de religião. Isso ocorreu na
Colômbia em 1973, abrindo a porta a todas as
religiões e separando a Igreja do Estado. A mesma
ação foi levada a efeito em 1974 no Cantão de
Valais, na Suíça, seguida em 1975 pela anulação do
Artigo 24 da concordata com Portugal, de 1940. A
liberdade religiosa foi concedida à Espanha em
1976, pela revisão da concordata para prover a
separação entre Igreja e Estado, seguida pela mesma
ação no Peru em 1980 e na Itália em 1984.
Finalmente, em julho de 1992, leis garantindo
liberdade de religião para não-católicos entraram em
vigor no México (embora ainda persista a
perseguição e até a morte de evangélicos por
católicos). Esses movimentos não refletem
generosidade da parte de Roma, mas uma esperta
estratégia de tomar a iniciativa de efetuar o que seria
inevitável no mundo de hoje.
O catolicismo se tornou o líder ecumênico num
movimento de união não apenas entre os “irmãos
separados” do protestantismo, mas de todas as
religiões mundiais numa nova Igreja Mundial. À
grande audiência hindu que se reuniu na Índia em
1986, João Paulo II declarou: “A missão da Índia...
é crucial, por causa de sua intuição da natureza
espiritual do homem. De fato, a maior contribuição
da Índia ao mundo é poder oferecer uma visão
espiritual do homem. E o mundo faz bem em
atender de bom grado a essa sabedoria antiga e nela
encontrar o enriquecimento da vida humana”.[13]
Que admirável recomendação do hinduísmo!
Um dos mais influentes líderes hindus, Sri
Chinmoy, conhecido como “o guru das Nações
Unidas” (onde faz reuniões de meditação duas vezes
por semana com os funcionários), foi elogiado por
mais de um papa. Os mais de 80 centros de
meditação que Chinmoy mantém ao redor do
mundo têm levado milhões de pessoas às trevas do
hinduísmo, mas mesmo assim João Paulo II
considera-o um amigo e cooperador e o tem
saudado com estas palavras: “Bênçãos especiais para
você... [e] para os seus membros. Devemos
continuar unidos”. O papa Paulo VI disse a
Chinmoy: “A vida hindu e a vida cristã devem seguir
juntas. Sua mensagem e a minha são a mesma”. E
agora os líderes evangélicos estão dizendo que o seu
evangelho e o evangelho de Roma são o mesmo!
Roma obviamente será o quartel-general da
nova religião mundial, e a hierarquia católica estará
no comando. Ela já está fazendo preparativos nesse
sentido emitindo simpáticas declarações de aceitação
a qualquer coisa, desde o vodu até o
evangelicalismo, enquanto ataca os evangélicos.
Durante a viagem que fez à África em 1993, o papa
“procurou similaridades com os seguidores do
vodu... sugerindo que eles não trairiam sua fé
tradicional ao se converter ao cristianismo”.[14]
Explicando que “a Igreja Católica... deseja
estabelecer relações positivas e cooperativas com...
várias crenças, tendo em vista um enriquecimento
mútuo”, João Paulo II declarou que “o Concílio
Vaticano II... reconheceu que em [todas] as diversas
tradições religiosas existe algo bom e verdadeiro, as
sementes da Palavra. Ele encorajou os discípulos de
Cristo a descobrir ‘as riquezas que um Deus
generoso distribuiu entre as nações’”.[15]
Tentem imaginar Moisés sugerindo a Israel
“descobrir as riquezas” que poderiam ser
encontradas nas religiões que cultuavam ídolos
pagãos ao seu redor, ou Paulo sugerindo aos cristãos
em Éfeso “descobrir as riquezas” da adoração pagã
no templo de Diana! Então, o que os líderes
evangélicos estão fazendo ao querer se tornar
parceiros de Roma?
Abraçando Todas as
Religiões
Assim como madre Teresa fazia, João Paulo II
também fez ao elogiar todas as religiões. Existem
centenas de exemplos, mas temos espaço para citar
apenas alguns. Em 1985, falando para os
muçulmanos em Bruxelas, Bélgica, o papa disse:
“Cristãos e muçulmanos, nos encontramos uns aos
outros na fé em um único Deus... [e] nos
esforçamos para pôr em prática... o ensinamento de
nossos respectivos livros sagrados”.[16] O Alá do
islamismo não é o Deus da Bíblia, tampouco poderia
cristão algum recomendar os ensinos do Corão. Em
1993, quando se encontrou com líderes
muçulmanos na África Ocidental, o papa “convocou
cristãos, muçulmanos e animistas... a respeitarem as
crenças religiosas uns dos outros...” [17] Como
pode alguém respeitar crenças que levam as pessoas
para o inferno? Longe de nós pedirmos para que se
“respeitem” as crenças pagãs; afinal, a Bíblia as
condena.
Em 1981, num encontro com xintoístas e
budistas em Tóquio, João Paulo II louvou a
sabedoria de suas antigas religiões que os teria
inspirado “a ver a presença divina em cada ser
humano... [como vigário de Cristo] expresso minha
alegria de que Deus tenha distribuído esses dons
[religiosos] entre vocês”.[18] Essa é uma declaração
inaceitável, tendo em vista os erros do xintoísmo e
do budismo! Em 1985, em Togo, o papa exultou por
ter “orado pela primeira vez com animistas”.[19]
Um conservador católico, criticando o espantoso
ecumenismo de sua Igreja, escreve:
Originalmente, o ecumenismo dizia respeito à união
entre os cristãos. Mas agora está procurando, de
maneira assustadora, ...a união de todas as religiões,
cristãs e não-cristãs. No dia 19 de maio de 1964, Paulo
VI instituiu oficialmente um secretariado para não-
cristãos... [que] desempenhou um papel importante
durante as duas últimas sessões do Concílio [Vaticano
II]... Alguns meses mais tarde, o mensageiro Wojtyla
[que se tornou papa João Paulo II] declarou:
A nostalgia pela unidade dos cristãos anda lado a lado
com o desejo de união entre toda a raça humana...
Isso estimula a atitude da Igreja para se aproximar
das outras religiões, aproximação baseada no
reconhecimento conjunto dos seus valores espirituais,
humanos e cristãos. Alcançando assim religiões como o
islamismo, o budismo, o hinduísmo... [20]
Adquirindo um Impulso de
Escala Mundial
É interessante como os que se chamam a si
mesmos de cristãos podem justificar, em nome da
paz e da ecologia, sua participação em práticas
religiosas em conjunto com os adeptos de todas as
religiões. Existe um grande movimento na América
do Sul chamado “Primeira Assembléia do Povo de
Deus da América Latina e Caribe” [APD], que está
atraindo uma verdadeira multidão de católicos
ecumênicos, protestantes e pagãos, sob as bênçãos
da Igreja Católica. A frase “Povo de Deus” vem do
Vaticano II e o movimento proclama ter “trazido à
vida o modelo de igreja pluralista orientada ao
serviço, delineada nos ensinos do Vaticano II”. O
National Catholic Reporter elogiou uma convenção
realizada no Brasil:
Um [líder] segurou um cetro de prata do candomblé,
religião de adoração aos deuses africanos... Outro, um
ministro batista, apresentou um desenho do mundo
atravessado por um crucifixo... Ao lado dele, um
sacerdote vodu do Haiti ergueu um pote de incenso,
espalhando boa energia sobre a multidão. E o pastor
da Igreja Presbiteriana Unida leu parte da carta de
Paulo aos gálatas.
Os celebrantes rodearam um irmão católico brasileiro,
que ergueu uma estola sacerdotal. Cada um deles
beijou parte da peça de roupa colorida.[42]
Campanha de Aproximação
No dia 16 de setembro de 1980, João Paulo II
declarou aos católicos reunidos em Osnabrüch,
Alemanha: “Encorajem de modo caridoso seus
irmãos evangélicos [luteranos] a testemunhar a sua
fé no caminho do amor ao próximo, a aprofundar
em Cristo sua forma de vida religiosa”.[47] Será que
o papa está apenas incitando os protestantes ou está
realmente fazendo concessões, como a maioria dos
católicos teme? No dia 6 de fevereiro de 1983, ele
falou em ir “além dos desentendimentos... para
encontrar uma vez mais o que é comum a todos os
cristãos...”[48] Tais expressões de ecumenismo têm
sido comuns e têm atraído pesadas críticas de
conservadores de dentro da Igreja.
Não resta dúvida de que João Paulo II quebrou
algumas regras em busca da “unidade”. Ele se
ajoelhou diante de Robert Runcie, então bispo de
Cantuária, no altar da catedral anglicana da
Cantuária, e os dois líderes se abraçaram. Em 1981
o papa “convidou o metropolita Damaschino para
falar em seu lugar. Pela primeira vez desde o Cisma
[1054], um prelado ortodoxo se sentava na cadeira
da basílica”.[49] Os anátemas mútuos entre Roma e
Constantinopla foram suspensos já em 1965. No dia
2 de agosto de 1982, o papa reatou relações
diplomáticas com três países escandinavos que não
eram reconhecidos pelo Vaticano desde o
rompimento com Roma por ocasião da Reforma.
No dia 11 de dezembro de 1983, João Paulo II
tornou-se o primeiro papa da História a entrar numa
igreja luterana. Ele fez isso em Roma, onde tomou
parte no culto e declarou:
Estou aqui porque o Espírito do Senhor nos empurra
para um diálogo ecumênico, a fim de encontrarmos a
plena unidade entre os cristãos.
– São Germano[1]
– São Bernardo[2]
– Lucas 8.20-21
– Lucas 11.27-28
Maria, a Onipotente,
Onisciente e Onipresente
A Soul Magazine, “publicação oficial do
Exército Azul de Nossa Senhora de Fátima nos
Estados Unidos e Canadá”, [com tiragem de 22
milhões] declara: “Maria está unida de modo tão
perfeito ao Espírito Santo que Ele só age através
[dela], sua esposa... Toda a nossa vida, cada
pensamento, palavra e ação está nas mãos dela... a
cada momento. Ela deve instruir, guiar e transformar
cada um de nós nela mesma, de modo que somente
ela viva em nós, como Jesus vive nela, e o Pai no
Filho”.[20] Cada pensamento, palavra e ação de
toda a humanidade está nas mãos de Maria? Ela
instrui, guia e transforma cada um de nós nela
mesma? Então Maria é Deus!
Em lugar algum a Bíblia declara que o Espírito
Santo só age através de Maria. O Espírito Santo tem
agido desde a eternidade, uma eternidade antes de
Maria nascer. Toda a nossa vida está nas mãos de
Deus, não de Maria. Somos instruídos e guiados por
Deus, não por Maria. E somos transformados na
imagem de Cristo, não na de Maria. Tampouco a
Bíblia diz que Maria vive nos crentes, mas garante
que Cristo vive em nós pelo Seu Santo Espírito.
Sugerir que tais promessas se cumprem em Maria é
blasfêmia da pior espécie, que a Maria verdadeira
censuraria!
A Bíblia afirma repetidamente que Cristo vive
no cristão (João 14.20; Colossenses 1.27; Gálatas
4.19) e o cristão em Cristo (Romanos 8.1; 2
Coríntios 5.17; Efésios 2.10, etc.), mas nunca traz
uma palavra sequer sobre alguém estar em Maria e
Maria estar em alguém. Para isso ser verdade em
relação a Maria, como é em relação a Deus e a
Cristo, ela teria de ser onipresente como Deus. Para
tudo o que é prometido na Bíblia que Deus
realizaria em nós graciosamente, através de Cristo,
no catolicismo é exigida a intercessão e intervenção
de Maria, como uma intermediária adicional. Que
abominação!
Consideremos a “oração do santo padre [papa]
para o Ano Mariano”: o papa pede a Maria para
confortar, guiar, fortalecer e proteger “toda a
humanidade”. Para fazer isso, ela teria de ser
onisciente, conhecer tudo e estar em todos os
lugares ao mesmo tempo. Pior ainda, sua oração
termina: “Sustenta-nos, ó virgem Maria, em nossa
jornada de fé e obtém para nós a graça da eterna
salvação”. Isso é blasfêmia! Mesmo assim, afirma-se
que “Maria é o refúgio dos pecadores... O portão do
céu... nosso meio de entrar no paraíso”.[21]
Cristo pagou a culpa de nossos pecados e com
o Seu sangue conseguiu a nossa salvação, que é
oferecida gratuitamente pela graça de Deus a todos
quantos a desejam receber. No Evangelho pregado
por Paulo e pela igreja primitiva em parte alguma há
menção de Maria. Sugerir que Maria deve, ou
mesmo pode, de algum modo, “obter para nós a
graça da salvação eterna” é negar a suficiência do
sacrifício de Cristo na cruz por nossos pecados e
rejeitar a graça e o amor de Deus e de Cristo. Os
católicos tentam negar, mas o fato é que a “Maria”
do catolicismo é exaltada acima de Deus e de Cristo.
Mariologia e Mariolatria
Existem católicos conservadores que
consideravam o papa João Paulo II um traidor de
sua Igreja por aceitar outras religiões. Mesmo assim,
estão unidos a ele em sua devoção a Maria. A
poderosa exposição do ecumenismo do papa,
intitulada Pedro, Tu Me Amas? é dedicada ao
“imaculado coração da santíssima virgem Maria”.
[22]
Para que o coração de Maria seja imaculado,
ela deveria ter sido sem pecado. Mesmo assim, a
Bíblia declara inequivocamente: “todos pecaram e
carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). A
própria Maria regozijou-se em Deus como seu
Salvador (Lucas 1.47), pois somente pecadores
carecem de um Salvador. Cristo afirmou claramente:
“Bom só existe um”, ou seja, Deus (Mateus 19.17;
Marcos 10.18). Nenhuma exceção é feita a Maria.
Se fosse levantada a acusação de que Maria é
sua principal divindade, quase todos os membros do
catolicismo iriam negar veementemente. Mas, na
prática, é assim que as coisas funcionam. É dito que,
quando Maria ordena, até Deus obedece.[23] O que
começou como mariologia gradualmente se tornou
mariolatria, como testificam os milhares que rezam
pela intercessão de Maria, e que atribuem tudo a ela,
desde a salvação até a onipotência. Um folheto
popular intitulado “O Rosário, Tua Chave Para o
Céu”, declara:
O rosário é um meio de salvação, porque um
verdadeiro filho de Maria nunca se perde, e aquele
que recita o rosário diariamente é verdadeiramente um
filho de Maria... Maria é a nossa advogada onipotente
e pode obter do coração de seu Filho divino tudo que
for bom para os seus filhos [da terra]... Ninguém fica
sem salvação se apenas voltar-se para Maria
imaculada.
– revista Time[1]
Não resta dúvida de que Paulo VI, juntamente com João XXIII e
João Paulo II, serão lembrados como os “três grandes papas da
paz”, pioneiros de uma fantástica transcendência da Igreja Católica
para a Nova Era.
Aparições Marianas e a
Doutrina Oficial Católica
As aparições marianas dificilmente atrairiam
tanta gente se os dogmas oficiais da Igreja Católica
não as sustentassem. Os católicos são instruídos a
rezar a Maria e recebem a promessa de que ela os
protegerá de todo perigo e suprirá todas as suas
necessidades. Citando o Vaticano II[16], o novo
Catechism of the Catholic Church [Catecismo da
Igreja Católica] declara: “Desde os tempos mais
remotos, a bendita virgem tem sido honrada com o
título de “mãe de Deus”, cuja proteção o fiel busca
em todos os seus perigos e necessidades”.[17] Aqui
podemos ver a doutrina oficial católica romana
desde seu mais alto nível, atribuindo a Maria a
autoridade e o poder que pertencem somente a
Deus! É impressionante essa referência ser citada
num artigo da This Rock (a mais importante revista
apologética católica), argumentando que, embora
uma grande porcentagem de católicos considerem
Maria igual a Deus, tal visão não é uma doutrina
oficial da Igreja Católica.[18] Mas essa citação
prova o contrário: “Os fiéis buscam [Maria] para
proteção... em todas as suas dificuldades e
necessidades”. Além de Deus, quem mais pode
oferecer proteção a todos os fiéis e suprir todas as
suas necessidades?
Em toda a Bíblia não há uma oração sequer
dirigida a Maria, nem exemplo algum de um auxílio
miraculoso seu a qualquer pessoa, tampouco alguma
promessa de que ela quisesse, ou pudesse, fazer
isso. De Gênesis a Apocalipse, proteção e auxílio
são buscados, prometidos e encontrados somente
em Deus e em Cristo. Esse fato é atestado por
centenas de versículos, dos quais os seguintes são
apenas um pequeno exemplo:
“O Deus eterno é a tua habitação e, por baixo
de ti, estende os braços eternos” (Deuteronômio
33.27); “Deus é o nosso refúgio e fortaleza,
socorro bem presente nas tribulações” (Salmo
46.1); “De Deus dependem a minha salvação e a
minha glória; estão em Deus a minha forte rocha e
o meu refúgio” (Salmo 62.7); “Senhor... Meu
refúgio... Deus meu, em quem confio” (Salmo
91.2); “Não temas... eu te ajudo, diz o Senhor, e o
teu Redentor é o Santo de Israel” (Isaías 41.14);
“Salva-me, Senhor [Jesus]!” (Mateus 14.30);
“Senhor [Jesus], socorre-me!” (Mateus 15.25);
“Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto
ao trono da graça, a fim de recebermos
misericórdia e acharmos graça para socorro em
ocasião oportuna” (Hebreus 4.16).
Deus, infinitamente poderoso e amoroso, e
Cristo (que é um com o Pai), conforme prometeram
têm protegido através dos séculos todos os que
nEles confiam. Então, por que alguém clamaria a
Maria? Será ela mais poderosa do que Deus, mais
compassiva, mais confiável ou mais pronta em
atender? Embora a maioria dos católicos negue,
Maria é sutilmente colocada no lugar da Trindade.
Durante a excursão que a imagem de Nossa Senhora
de Guadalupe fez pelos Estados Unidos, milagres
foram atribuídos a ela. Algumas das honrarias que
ela recebe no México incluem:
Os painéis de controle dos ônibus públicos nos
subúrbios da Cidade do México possuem pequenos
santuários adornados de flores dedicados à virgem; as
fábricas mexicanas sempre expõem retratos da virgem
para desencorajar mau comportamento, e dezenas de
milhares de peregrinos que vão anualmente à basílica
terminam sua peregrinação andando de joelhos.[19]
Maria e o Islã
É fácil imaginar budistas, hindus, adeptos da
Nova Era e liberais – bem como católicos e
protestantes – unindo-se numa religião mundial, mas
um bilhão de muçulmanos representa um problema
especial. Entretanto, Maria parece ser um caso
singular pelo qual até mesmo eles poderiam se unir a
uma fé universal. Uma revista católica britânica
registra que “um reavivamento mariano está se
espalhando pela África, com supostas aparições da
virgem Maria, encontrando seguidores também entre
os muçulmanos...”.[25] Os muçulmanos africanos
estão presenciando aparições da virgem Maria e
“não se exige deles que se tornem cristãos” para
segui-la.[26] O periódico católico Our Sunday
Visitor [Nosso Visitante Dominical] destacou a
grande honra dada a Maria no Corão e uma conexão
intrigante entre ela e Fátima, a filha favorita de
Maomé.[27]
O bispo Fulton J. Sheen escreveu um livro
interessante, no qual prediz que o islamismo será
convertido ao cristianismo “através da rendição dos
muçulmanos à veneração da mãe de Deus”. Ele
apresentou as razões para isso:
O Corão... tem muitas passagens relacionadas com a
bendita virgem. Antes de tudo, o Corão crê em sua
imaculada concepção e também em seu nascimento
virginal... Maria, então, é para os muçulmanos a
verdadeira Sayyida, ou seja, senhora. A única rival
possível para ela seria Fátima, a filha do próprio
Maomé. Porém depois da morte de Fátima, Maomé
escreveu: “Tu serás a mais abençoada de todas as
mulheres no paraíso, depois de Maria”.[28]
Um Espírito de Sedução
Essa é uma negação ostensiva, aceita e
promovida por Roma, de que o sacrifício de Cristo
pagou a dívida total pelo pecado. Nos últimos 60
anos todos os papas têm honrado Nossa Senhora de
Fátima.[38] A consagração mítica a um “imaculado
coração” substitui a devoção a Deus e a Cristo, e a
obediência a “Nossa Senhora” traz supostamente a
paz. Essa aparição certamente não era Maria!
Exigindo para si mesma a autoridade e os atributos
de Cristo, a aparição de Fátima ainda declarou:
Nunca vos deixarei. [Essa é a promessa de Cristo aos
seus discípulos, que pressupõe onipresença, um
atributo que somente Deus possui]. Meu coração
imaculado será o vosso refúgio e vos conduzirá a
Deus...
Sacrificai-vos pela conversão dos pecadores [somente
o sacrifício de Cristo tem valor para os pecadores], e
em reparação pelos pecados cometidos contra o
imaculado coração de Maria...
Prometo assistir na hora da morte com todas as graças
necessárias para a salvação todos os que, no primeiro
sábado de cinco meses consecutivos, se confessarem e
receberem a santa comunhão, recitando 50 vezes o
rosário e ficando em minha companhia durante uma
hora enquanto meditam nos mistérios do rosário, com
a intenção de me fazer expiação.[39]
O Jesus do Catolicismo é
Subordinado a Maria
Às aparições dá-se o crédito de levarem as
pessoas a Jesus; mesmo assim, entre os peregrinos
que vão aos santuários marianos existem poucos
sinais de devoção real a Cristo. É Maria quem
recebe a honra. O rosário é rezado sem parar, o
assunto gira todo em torno de Maria e não em torno
de Cristo ou Deus, a devoção é a ela, e os
peregrinos se vêem como seus servos, cumprindo
suas ordens. Maria, não Cristo, é quem trará a paz.
O plano de paz para o mundo é dela, a reparação
pelos pecados cometidos contra ela deve ser feita a
ela e é ela que deve deter a mão do seu filho no
juízo. Maria é glorificada, não Cristo.
Além do mais, o Jesus promovido nas
aparições é falso, pois está sempre subordinado a
Maria. As visões de “Maria” em Fátima, Portugal,
que tanto têm significado para os papas,
principalmente para João Paulo II, são muito
explícitas em seu desejo de destronar Cristo e
colocar Maria em Seu lugar. O falso evangelho da
salvação através de Maria é até endossado por um
demônio que se passa por Jesus e acompanha
Maria. Este relato oficial da “aparição de Nossa
Senhora de Fátima” declara:
No dia 10 de dezembro de 1925, a santíssima virgem
Maria apareceu a Lúcia, segurando o seu filho Jesus
como bebê, elevada numa nuvem de luz. [Jesus já não
é mais uma criança!]
Nossa Senhora colocou sua mão no ombro de Lúcia,
enquanto na outra mão ela segurava um coração
rodeado de espinhos afiados. Ao mesmo tempo, o
menino Jesus falou:
Tenham piedade do coração de minha santíssima mãe.
Ele está cercado de espinhos, com os quais os homens
ingratos o perfuram a cada instante, e não há quem os
remova com um ato de reparação.[42]
No dia 15 de fevereiro de 1926, o “menino
Jesus” apareceu novamente e convocou os católicos
a “espalhar esta devoção [e] reparação ao imaculado
coração de sua santa mãe”, declarando que a
reparação deve ser feita ao imaculado coração de
Maria para que a humanidade seja salva![43] Aqui
vemos novamente uma blasfêmia da pior espécie.
Ela jamais seria feita pela Maria ou o Jesus
verdadeiros.
Cristo já não é mais um menino e, portanto,
certamente não poderia aparecer dessa forma – e
mesmo que pudesse, por que deveria? Quando
morreu por nossos pecados Ele já era um homem
adulto e agora está ressurreto, num corpo
glorificado, sentado à direita do Pai. Imaginar que
Cristo é ainda um bebê que acompanha sua mãe é
desafiar toda a fronteira do pensamento racional e
da realidade. Mesmo assim, os que não encontram
problema algum em crer que milhões de hóstias
diferentes podem se transformar, cada uma delas, no
corpo de Cristo “completo e inteiro”, igualmente não
têm problemas em crer que Cristo apareça como
bebê na terra mesmo que esteja ao mesmo tempo no
céu como homem adulto, revestido com Seu corpo
da ressurreição...
Além do mais, o Jesus verdadeiro após Sua
ressurreição falou aos Seus discípulos “que em seu
nome se pregasse arrependimento para remissão
de pecados a todas as nações” (Lucas 24.47). Em
sua pregação Paulo declarou: “vos anuncia
remissão de pecados por intermédio deste [Jesus];
e, por meio dele, todo o que crê é justificado de
todas as coisas das quais vós não pudestes ser
justificados pela Lei de Moisés” (Atos 13.38-39). A
Bíblia não contém indicação alguma de reparações
sendo feitas a Maria, muito menos que isto seja
essencial “para a humanidade ser salva”.
Todas as aparições oferecem explicitamente um
falso evangelho de salvação através de Maria e o
catolicismo sacramental de sempre, com purgatório,
ritual e obras. “Nossa Senhora de Medjugorge”
disse:
Há muitas almas... que têm ficado no purgatório
durante muito tempo porque ninguém reza por elas.
(21/07/82)
Deus colocou toda a sua confiança em mim. Eu protejo
particularmente os que se consagram a mim.
(06/11/82)
No Natal sai do purgatório o maior número de almas.
Há almas no purgatório que rezam fervorosamente a
Deus... [e] Deus lhes dá permissão... de se
manifestarem aos seus parentes na terra, para lembrá-
los da existência do purgatório... (Primavera de 1983)
O Purgatório
A verdade de que os pecados são seguidos de castigos foi
divinamente revelada. A santidade e justiça de Deus os infligem.
Os pecados devem ser expiados. Isso pode ser feito aqui na terra,
através dos sofrimentos, misérias e tribulações desta vida e, acima
de tudo, através da morte.
Caso contrário, a expiação deverá ser feita na outra vida, através
do fogo e tormentos ou castigos purificadores... os castigos com os
quais somos atribulados aqui são impostos pelo julgamento de
Deus, que é justo e misericordioso. As razões para sua imposição
são que nossos almas necessitam ser purificadas, a santidade da
ordem moral precisa ser reforçada e a glória de Deus deve ser
restaurada à sua completa majestade.
– Va ti ca no II[1]
A Doutrina Impossível
A doutrina do purgatório violenta tanto a lógica
quanto a Escritura. Romanos 6.23 diz: “O salário
do pecado é a morte... [ou seja, a separação eterna
de Deus]”, não um tempo limitado no purgatório.
Estaríamos perdidos para sempre se não fosse o
sacrifício de Cristo pelos nossos pecados. Tampouco
o pecado é algo de tal composição ou qualidade que
algum tipo de sofrimento seja capaz de purgá-lo do
coração e da alma. O pecado é parte da própria
natureza humana. O sofrimento pode realmente
alterar temporariamente a atitude de alguém, mas
logo que passa a dor, as velhas tendências voltam,
pois o coração não foi mudado. É preciso um
milagre de Deus para purgar a alma do pecado – um
milagre que, ao mesmo tempo, deixe intacto o poder
do homem para escolher e satisfazer as exigências
da infinita justiça de Deus.
A Bíblia declara inequivocamente que existe
apenas um caminho para a alma ser purificada:
através do sangue de Cristo derramado na cruz em
pagamento do pecado, e pelo novo nascimento do
Espírito de Deus, através da fé em Cristo e em Sua
obra redentora completa. Assim, os sofrimentos no
purgatório são falsos em dois aspectos doutrinários:
1) É impossível que o sofrimento possa purificar o
pecado do coração; 2) É desnecessário que o
pecador perdoado sofra pelo seu pecado, pois Cristo
já pagou a penalidade completa exigida pela justiça
de Deus. Somente assim uma pessoa pode ser limpa
de suas iniqüidades.
A Bíblia declara que Cristo “...depois de ter
feito a pu ri fi ca ção dos pecados, assentou-se à
direita da Majestade, nas alturas” (Hebreus 1. 3),
indicando que a obra de purificação estava
completa. E, diz outra vez que “...o sangue de
Jesus, seu Filho [de Deus], nos purifica de todo
pecado” (1 João 1. 7). A Escritura é muito clara ao
declarar que foi o sangue de Cristo derramado na
cruz, debaixo do julgamento de Deus, que nos
purificou. Além do mais “...sem derramamento de
sangue, não há remissão [de pecado]” (Hebreus 9.
22). A descrição do purgatório não é a de um lugar
de derramamento de sangue, mas sim de “fogo
purificador”. A única purgação possível de nossos
pecados foi realizada por Cristo; ela é aceita
somente pela fé e ocorre em nosso coração somente
pela graça de Deus.
Existe ainda outra razão pela qual o sofrimento
do pecador, seja na terra ou no purgatório, não pode
purificá-lo: aquele que faz o sacrifício pelo pecado
deve ser sem pecado. No Antigo Testamento é dito
62 vezes que os animais oferecidos deveriam ser
“sem mácula” (Êxodo 12.5; 29.1; Levítico 1.3,
etc.). Estes eram “tipos” ou símbolos de Cristo, o
santo e imaculado “Cordeiro de Deus”, que tiraria
todo pecado do mundo (João 1. 29,36). Sendo
assim, não há sofrimento algum do pecador, aqui ou
no purgatório, que seja capaz de purificar a ele
mesmo, ou a quem quer que seja, do pecado. Isso
só poderia ser feito por um sacrifício sem mácula.
A Bíblia diz que Cristo “não cometeu pecado”
(1 Pedro 2.22), “não conheceu pecado” (2
Coríntios 5.21) e “nele não existe pecado” (1 João
3.5). A impecabilidade absoluta era essencial, ou
então Cristo não poderia ter morrido pelos nossos
pecados, pois Ele estaria sob a penalidade da morte
pelos Seus próprios pecados. Por isso Pedro disse
que Cristo, “o justo, [sofreu] pelos injustos [nós],
para conduzir-vos a Deus [ou seja, ao céu e não ao
purgatório]” (1 Pedro 3.18). Ele acrescentou que
aqueles que não têm essa segurança esqueceram “da
purificação dos seus pecados de outrora” (2 Pedro
1. 9). Se confiamos em Cristo como Salvador,
temos de aceitar pela fé o fato de que Deus nos
purificou através da obra completa de Cristo.
Origem, Desenvolvimento e
Propósito Dessa Doutrina
A idéia do purgatório, um lugar fictício de
purificação, foi inventada pelo papa Gregório o
Grande, em 593. Houve uma certa relutância em
aceitar a idéia (já que contradizia as Escrituras) e por
isso o purgatório não tornou-se um dogma católico
oficial senão cerca de 850 anos mais tarde – no
Concílio de Florença, em 1439. Nenhuma doutrina
aumentou tanto o poder da Igreja sobre os seus
membros, nem multiplicou tanto os seus lucros
quanto essa. Até hoje a ameaça do purgatório paira
sobre os católicos, que acabam dando ofertas
repetidas à Igreja em troca da sua ajuda para retirá-
los daquele lugar de tormento.
Roma promete que, se os seus decretos forem
seguidos, a pessoa poderá eventualmente sair do
purgatório e entrar no céu. Mesmo assim, a Igreja
jamais pôde definir quanto tempo é abreviado pelos
meios que ela oferece. É muita tolice acreditar que é
possível ser liberto do purgatório por uma Igreja que
nem sabe quanto tempo deve-se ficar lá por causa
de um pecado, ou quantos ritos ou penitências são
necessárias para reduzir o sofrimento. Apesar disso,
os católicos vão dando ofertas à Igreja e grandes
somas são deixadas em seus testamentos (lembre-se
de Henrique VIII) para garantir inúmeras missas
rezadas em seu favor. Esse processo nunca pára, e
“só pra garantir” mais missas são necessárias.
O Concílio de Trento, o Vaticano II e
conseqüentemente o Código de Direito Canônico
contêm muitas regras complexas para aplicar os
méritos dos vivos, e especialmente as missas pelos
mortos que estão sendo purificados de seus pecados,
a fim de reduzir suas penas no purgatório.
A Igreja oferece o sacrifício pascal pelos mortos de
modo que... os mortos possam ser auxiliados pelas
rezas e os vivos consolados pela esperança.
Dentre as missas pelos mortos está a missa de corpo
presente, que é muito importante... Uma missa pelos
mortos deve ser celebrada logo que chega a notícia da
morte...[5]
E os Sofrimentos de Paulo?
Os apologistas católicos tentam ser bíblicos
quando se baseiam na doutrina dos sofrimentos
purificadores usando Colossenses 1.24, onde Paulo
diz: “Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por
vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo,
na minha carne, a favor do seu corpo, que é a
igreja”. Contudo, está claro que os sofrimentos de
Paulo nada tinham a ver com a purificação de
pecados, quer pelos seus ou de outras pessoas, pois
os sofrimentos de Cristo haviam completado essa
obra. Somente sacrifícios imaculados e o
derramamento de sangue podiam consegui-lo.
Então, o que Paulo quis dizer? Em vez de um
sofrimento que servisse para a purificação dos seus
ou dos pecados alheios, Paulo estava sofrendo pelo
anseio de levar o Evangelho para os outros (“meus
sofrimentos por vós...”). Ele se referia à
perseguição que é acarretada a “todos quantos
querem viver piedosamente em Cristo Jesus” (2
Timóteo 3.12). Jesus disse aos Seus discípulos que
eles seriam odiados e perseguidos pelo mundo (João
15. 18,19). Existe um “escândalo da cruz”
(Gálatas 5.11) e Paulo dizia que devemos estar
prontos a ser “perseguidos por causa da cruz de
Cristo” (Gálatas 6.12).
Não é que Paulo estivesse sofrendo pelos
pecados para completar o sofrimento de Cristo na
cruz, pois este foi completo. O sofrimento que Paulo
teve de suportar, e que todos os cristãos leais ao
Senhor devem suportar, ocorre para que nos
identifiquemos com Cristo e vivamos vidas
verdadeiramente cristãs, que condenam o mundo e
revelam a sua maldade. Portanto, o mundo nos
odeia, assim como odiou a Cristo. Na verdade,
Cristo disse que Paulo iria sofrer muito pelo Seu
nome (Atos 9. 16). Em Atos 5.41 os discípulos “se
retiraram... regozijando-se por terem sido
considerados dignos de sofrer afrontas por esse
Nome”. O sofrimento que os verdadeiros cristãos
suportam vêm das mãos daqueles que odeiam o
Senhor e se escandalizam na Sua cruz. Filipenses
1.29 diz que é um privilégio sofrer por causa do
ódio do mundo a Cristo: “Porque vos foi concedida
a graça de padecerdes por Cristo e não somente de
crerdes nele”. Segunda Tessalonicenses 1.5 diz:
“...do reino de Deus, pelo qual, com efeito, estais
sofrendo”. Em 1 Timóteo 4.10 lemos: “labutamos e
nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto
a nossa esperança no Deus vivo”. Pedro também
se referiu ao sofrimento de todo cristão que é fiel ao
Senhor (1 Pedro 3.14 e 4.13-16). Muitas outras
passagens expressam o mesmo pensamento.
Em Filipenses 3.10 Paulo demonstra seu desejo
de conhecer a Cristo “e a comunhão dos seus
sofrimentos”, os quais, diz ele, o levarão à
conformidade da morte e caráter de Cristo. Está
claro que Paulo se referia aos sofrimentos por amor
a Cristo, aqui na terra, na mão dos pecadores, e não
ao sofrimento num futuro purgatório a fim de ser
purificado de algum pecado. Paulo escreve em
Romanos 8.18 que “os sofrimentos do tempo
presente não podem ser comparados com a glória
a ser revelada em nós”. Certamente aqui não há
menção alguma ao purgatório. Nós vamos
diretamente dos sofrimentos deste mundo até a
presença da glória de Cristo e de Deus.
As Indulgências
A indulgência é uma remissão diante de Deus, da pena temporal
pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel,
devidamente disposto e em certas e determinadas condições,
alcança por meio da Igreja, a qual, como dispensadora da
redenção, distribui e aplica com autoridade o tesouro das
satisfações de Cristo e dos santos.
A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberta, em parte
ou no todo, da pena temporal devida pelos pecados.
Qualquer fiel pode lucrar indulgências parciais ou plenárias para
si mesmo ou aplicá-las aos defuntos como sufrágio.
– Vaticano II[2]
Origem e Desenvolvimento
da Doutrina das
Indulgências
O conceito de indulgências é proveniente do
paganismo, a idéia por trás delas é que a flagelação,
a recitação de fórmulas ou as peregrinações a
santuários, e os sacrifícios feitos aos deuses são
meritórios e influenciam o favor dos deuses para
alguém. A idéia de que rezar tantas ave-marias ou
beijar o crucifixo e repetir uma fórmula pode reduzir
o sofrimento no purgatório, algo que o sacrifício de
Cristo na cruz não pôde anular, é terrível. Contudo,
o ensino de que a indulgência pode ser aplicada em
favor dos mortos leva essa blasfêmia absurda muito
mais longe. A idéia de que a “redução de tempo por
bom comportamento” poderia ser creditada a
alguém no purgatório, que não fez a “obra prescrita”
necessária, demonstra mais uma vez a fraude do
romanismo. Tudo é possível mediante uma boa
oferta!
O evangelho das indulgências é uma das
doutrinas mais ousadas e antibíblicas de Roma. Ela
teve origem durante a Idade Média e continua em
vigor até hoje. O conceito pagão de indulgências foi
gradualmente se definindo como parte do
catolicismo romano, durante anos, e acabou se
transformou no maior esquema para arrecadação de
dinheiro do papado. Em tese apenas seria preciso
rezar uma missa para libertar todas as almas do
purgatório. Maria, cujo poder é infinito, poderia
fazê-lo num instante; e os papas, cujo poder também
é ilimitado, poderiam esvaziar o purgatório com uma
simples assinatura de indulgência plenária. Então,
por que não o fazem? Eles não amam as almas? A
resposta é obvia. Von Dolinger escreve:
[Augostino] Trionfo, comissionado por João XXII para
expor os direitos do papa, mostrou que, como
despenseiro dos méritos de Cristo, ele poderia esvaziar
o purgatório num instante, e tirar com as suas
indulgências todas as almas que lá estão detidas, com
a única condição de que alguém cumprisse as regras
estabelecidas para receber tais indulgências.
Contudo, ele aconselhou o papa a não fazê-lo...
[embora] o poder do papa seja tão imensurável que
nenhum papa jamais seria capaz de conhecer a sua
extensão.[4]
A Graça Merecida
Quase não há limite para os engenhosos “meios
de graça” que os papas e seus assistentes têm
engendrado. Um dos meios mais populares para se
conseguir “merecer a graça” (uma contradição de
termos), é através do uso do escapulário marrom de
N. S. do Carmo (ao qual já nos referimos antes). “O
privilégio sabatino é baseado numa bula
supostamente emitida em 3 de março de 1322, pelo
Papa João XXII... [declarando] que aqueles que
usassem o escapulário e cumprissem as duas outras
condições... seriam libertados do purgatório [pela
virgem Maria], no primeiro sábado depois que
morressem”.[6]
Apesar das heresias e da maldade do papa João
XXII, muitos outros papas (Alexandre V, Clemente
VII, Pio V, Gregório XIII, etc.)[7] endossaram esse
ensino sobre o escapulário marrom, que é algo
obviamente contrário à Escritura. O papa Pio X
declarou: “Eu o uso; jamais devemos tirá-lo”. O
papa Pio XI “professava alegremente: ‘aprendi a
amar o escapulário da virgem ainda nos braços de
minha mãe...’” O papa Paulo V afirmava que “a
bendita virgem ajudará as almas dos irmãos e irmãs
da Fraternidade da Bendita Virgem de Monte
Carmelo, após sua morte...” O papa Benedito XV
oferecia uma “indulgência parcial a quem beijasse o
escapulário”. E em 1950, “o papa Pio XII escreveu
as palavras hoje famosas sobre o escapulário:
‘Deixem que ele seja o seu sinal de consagração ao
imaculado coração de Maria, do qual estamos
precisando com particular urgência nesses tempos
perigosos’.”[8]
Já tratamos da fatal contradição de que as
indulgências destinam-se a abreviar o sofrimento no
purgatório, ainda que esse mesmo sofrimento seja
supostamente essencial para que a pessoa possa ser
purificada a fim de entrar no céu. Isso não faz
sentido. Além do mais, é de admirar como uma
pequena indulgência obtida por meio da adoração ao
crucifixo, ou de uma missa rezada, seja mais
poderosa do que a morte de Cristo na cruz, e como
tais “representações” do Calvário possam completar
o que a morte de Cristo não conseguiu. Isso também
não faz sentido, mas os católicos têm aprendido a
não racionalizar o porquê, mas simplesmente acatar
o que a Igreja diz.
Os documentos do Vaticano II têm uma grande
seção, contendo 20 provisões complexas que
revisam as regras anteriores referentes a quando e
como uma indulgência pode ser obtida. Podemos
lembrar das recriminações de Cristo contra os
rabinos em Mateus 23, por criarem um “labirinto”
de regras, que mantinham o povo dependente de sua
direção espiritual. Roma tem feito o mesmo. Seria
necessário um advogado especializado em direito
canônico da Igreja para destrinchar a complexidade
de como e quando é possível maximizar as várias
ofertas da “graça”. Esse texto o ilustra bem:
Aos fiéis que utilizam religiosamente um objeto de
piedade (crucifixo, cruz, terço, escapulário, medalha),
validamente abençoado por um padre, concede-se
indulgência parcial. Ademais, se o objeto de piedade
foi bento pelo soberano pontífice ou por um bispo, os
fiéis que religiosamente o usam podem também obter
a indulgência plenária [total] no dia da festa dos
santos apóstolos Pedro e Paulo, ajuntando, porém, a
profissão de fé sob uma forma legítima...
A forma como as [indulgências parciais] têm sido
determinadas até agora, por dias e anos, fica abolida.
Em seu lugar, foi estabelecida uma nova maneira.
Doravante, indicar-se-á a indulgência parcial apenas
por estas palavras: “indulgência parcial”, sem
determinação alguma de dias e anos.[9]
Salvação à Venda
Foi a venda de indulgências, mais do que
qualquer outra coisa, que acendeu a ira de Lutero a
tal ponto que ele afixou as 95 teses na porta da
capela do castelo de Wittenberg e desencadeou a
Reforma. Como já vimos, a salvação era vendida de
várias outras maneiras além das indulgências, como
ocorre ainda hoje. Embora a taxa seja hoje chamada
de “oferta”, na verdade o dinheiro muda de mãos
com a promessa de salvação como incentivo para a
“oferta”. Os comentários de Will Durant são
interessantes:
Quase tão mercenária quanto a venda de indulgências
era a aceitação ou solicitação, pelo clero, de dinheiro,
pagamentos, concessões, legados para rezarem
missas, as quais supostamente reduziriam o tempo de
sofrimento das almas no purgatório. Grandes somas
eram destinadas a esse fim pelas pessoas piedosas,
seja para aliviar um parente que havia falecido ou para
abreviar ou anular a sua própria provação no
purgatório após sua morte. Os pobres se queixavam de
que devido à sua incapacidade de pagar por missas e
indulgências, os ricos e não os humildes é que
herdariam o reino do céu; Colombo com pesar louvava
o dinheiro porque, segundo ele, “quem o possui tem o
poder de levar as almas ao paraíso”.[11]
A Infalibilidade Papal e
a Sucessão Apostólica
No início do século XIV... a natureza da inerrância da Igreja
ainda não estava definida. A idéia de que o papa pudesse ser
pessoalmente infalível era muito nova, muito ao contrário de todos
os ensinos tradicionais, para encontrar aceitação mundial.
Galileu e a Inquisição
Mais evidências (se é que ainda são
necessárias) de que os papas não são infalíveis está
no tragicômico caso de Galileu. Para defender o
dogma da igreja, o papa Urbano VIII (1623-1644)
ameaçou torturar Galileu, já idoso e muito enfermo,
se ele não renunciasse à sua afirmação de que a terra
girava em torno do sol. Depois de declarar que essa
crença era contrária à Escritura, o papa viu Galileu
ajoelhar-se, temendo pela própria vida, e renunciar a
essa “heresia” diante do Santo Ofício da Inquisição.
Essa visão geocêntrica permaneceu como dogma
católico durante séculos, endossada por um papa
infalível depois do outro. Para eles, a terra era o
centro do universo e todos os corpos celestes,
inclusive o sol, giravam ao seu redor. Por incrível
que pareça, somente em 1992 o Vaticano, após um
estudo de 14 meses, admitiu finalmente que Galileu
estava certo. Essa admissão foi um reconhecimento
de que muitos papas, que haviam afirmado que
Galileu estava errado, eram criaturas falíveis e,
portanto, capazes de fazer interpretações erradas da
Escritura. Mesmo assim, o Vaticano II reafirmou o
dogma de que somente o Magistério, conduzido por
papas infalíveis, pode interpretar a Escritura e que
todos os fiéis devem aceitar incondicionalmente a
sua interpretação.
Não é de admirar que o Vaticano II tenha
restringido o seu endosso da inerrância bíblica a
assuntos de fé e moral. Ele declara: “Acerca dos
livros das Escrituras deve ser reconhecido que eles
ensinam de maneira segura, fiel e sem erros a
verdade que Deus, por causa de nossa salvação,
queria que fosse registrada na Escritura Sagrada”.[2]
Uma versão dos documentos, publicada pelos
Cavaleiros de Colombo, faz uma paráfrase dessa
seção: “embora a Bíblia seja livre de erro no que se
refere à verdade religiosa revelada para a nossa
salvação, não é necessariamente livre de erro em
outros assuntos (por exemplo em relação à
Ciência)”.[3] Aparentemente, o Deus que criou o
universo e inspirou a Bíblia nada entende de
Ciências Naturais!
O Magistério católico, que alega ser o único e
infalível intérprete da Escritura, obviamente está
longe da infalibilidade e, portanto, deve ter uma
desculpa para os erros científicos que tem se
permitido. Por isso, põe a culpa na Bíblia. Ao negar
ao indivíduo a responsabilidade moral pessoal de
examinar e obedecer a Palavra de Deus (mais do
que crer naquilo que a hierarquia religiosa diz sobre
ela), a Igreja Católica Romana agarra-se aos últimos
resquícios de sua autoridade, que tem exercido sobre
a vida e a consciência de homens e governos.
APÊNDICE F
E Quanto à Tradição?
O catolicismo romano afirma que não se baseia
somente na Bíblia mas também na “tradição”,
supostamente herdada dos apóstolos. Contudo, não
existe tradição católica nenhuma que possa ser
rastreada até os apóstolos. Nem uma sequer! As
tradições católicas apareceram muito depois da
época dos apóstolos, e a idéia da infalibilidade é uma
das mais jovens. O próprio conceito de
pronunciamentos ex-cathedra, tão central na
infalibilidade, não era sequer imaginado antes do
século XVI.
Além do mais, admite-se que a tradição tenha
passado por muitas mudanças. O Vaticano II
reconhece: “A tradição apostólica progride... na
igreja: cresce o discernimento das realidades e
palavras que nos foram transmitidas”.[1] O
documento prossegue:
A Sagrada Escritura é a linguagem de Deus revelada
na escrita, sob a inspiração do Espírito Santo. A
sagrada tradição, porém, transmite em sua inteireza a
Palavra de Deus que foi confiada aos apóstolos por
Cristo, o Senhor, e pelo Espírito Santo... Por isso, tanto
a Escritura quanto a tradição devem ser aceitas e
honradas com o mesmo sentimento de devoção e
reverência...
Está claro, portanto, que no supremamente sábio
arranjo de Deus, a sagrada tradição, a Sagrada
Escritura e o magistério da Igreja estão de tal modo
unidos e associados que um deles não pode se
sustentar sem os outros, e que juntos, cada um a seu
próprio modo, pela ação do Espírito Santo, todos eles
contribuem efetivamente para a salvação das almas.
[2]
Declaração Conjunta de
Luteranos e Católicos
No dia 31 de outubro de 1999, em Augsburgo,
na Alemanha, representantes da Federação Luterana
Mundial (FLM) e da Igreja Católica Romana
assinaram uma Declaração Conjunta Sobre a
Justificação (DCJ), neutralizando suas antigas
diferenças. Manchetes como a “Declaração
Conjunta Termina Virtualmente com o Argumento
da Reforma” surgiram no mundo todo.
Aparentemente Lutero fora induzido ao erro ao
pensar que havia descoberto a “justificação pela fé”,
quando, na verdade, a Igreja Católica sempre crera
nela. A Reforma teria sido uma bobagem gerada por
um mal-entendido semântico. Com a declaração, as
diferenças entre católicos e luteranos foram postas
de lado. A paz e a união foram finalmente
restauradas.
A Declaração Conjunta foi assinada em 31 de
outubro, no mesmo dia em que Martim Lutero fixou
publicamente suas teses na porta da igreja do castelo
de Wittemberg, e isso não foi mera coincidência.
Também não foi por acaso que o documento foi
assinado no mesmo local onde (na ausência de
Lutero, que não ousou aparecer já que temia pela
sua vida) a Confissão de Augsburgo (escrita
juntamente por Melancton e Lutero) foi lida em 25
de junho de 1530, diante de 200 dignitários da
Igreja e do Estado.
Condenada por Roma naquela época (como
tem sido desde então), a Confissão serviu como o
fundamento do luteranismo por 469 anos. Mas
aparentemente, ao menos para a Federação Luterana
Mundial, isso deixou de ser verdade. Vários líderes
da Igreja Luterana se aliaram a Roma, traindo as
mesmas verdades pelas quais Lutero tanto sofreu.
Enfim Roma teve a sua vingança.
Num conselho prévio de 49 membros da
Federação Luterana Mundial, o voto unânime foi
favorável à aceitação da Declaração Conjunta. A
Igreja Evangélica Luterana na América, presidida
pelo bispo H. George Anderson, (vice-presidente da
Federação Luterana Mundial) liderou o conselho
durante a execução da música “Agradeçamos Todos
ao Nosso Deus”. O arcebispo sueco K.G. Hammar
chamou aquele de “um grande dia para o mundo
luterano”. De fato, o que poderia ser maior do que
renunciar à Reforma e desacreditar Lutero?
A Declaração Conjunta de Justificação foi fruto
de 30 anos de diálogo entre teólogos luteranos e
católicos. Se a justificação pela fé em Cristo fosse
algo tão complicado, quem poderia ser salvo?
Quando o carcereiro de Filipos gritou: “Senhores,
que devo fazer para que seja salvo?”, Paulo não
respondeu: “Você pode esperar 30 anos para que eu
lhe responda?”. Ele disse apenas: “Crê no Senhor
Jesus e serás salvo” (Atos 16.30-31). O apóstolo
não mencionou uma palavra sequer sobre as muitas
e complexas regras e rituais do catolicismo que
acabaram se tornando essenciais à salvação.
Ao assinarem a Declaração Conjunta, os
luteranos se renderam mas os católicos não
mudaram suas convicções. O Vaticano recusou-se a
anular qualquer um dos 100 anátemas (que ainda
têm efeito), emitidos contra todos aqueles que
proclamam a justificação exclusivamente pela fé em
Cristo sem os sacramentos da Igreja Católica
Romana. Contudo, tanto protestantes como
católicos foram levados a crer que Lutero não
entendeu direito o que é o verdadeiro catolicismo, e
agora os dois lados concordam sobre o ponto
crucial, que é a justificação apenas pela fé.
Na verdade, Martim Lutero não foi o único a
ter um entendimento equivocado do catolicismo, se
é que esse era o problema. Muitos dos
reformadores, e seus contemporâneos como
Calvino, Zwínglio, Denck, Hess, Von Amsdorf,
Zutphen, Propst, Esch, Voes e muitos outros,
também conheciam muito bem o catolicismo e
sabiam contra o que eles estavam protestando e o
porquê. Imaginar outra coisa é crer numa mentira.
Além disso, durante mais de mil anos antes de
Lutero, a Europa presenciou perseguições,
execuções pelo fogo e por afogamento de cristãos
evangélicos, que nunca haviam sido católicos e
tampouco eram chamados de “protestantes”. Apenas
posteriormente esse termo seria usado para designar
aqueles que eram excomungados da Igreja Católica
por protestar contra as suas maldades.
O movimento entre sacerdotes e monges, que
clamavam por um retorno à Bíblia, teve início
muitos séculos antes da Reforma. O movimento
reformador dentro da Igreja Católica pode ser
traçado até Prisciliano, bispo de Ávila. Falsamente
acusado de heresia, bruxaria e imoralidade por um
Sínodo em Bordeaux, França, em 384 (sete de seus
escritos que refutam tais acusações foram
recentemente descobertos na biblioteca da
Universidade de Würzburg, na Alemanha),
Prisciliano e outros seis foram degolados em Trier,
em 385. Muitos outros martírios parecidos
ocorreram nos séculos seguintes.
Dando um pulo na História até o final do
século XIV, vemos John Wycliffe, “a estrela d’alva
da Reforma”, defendendo a autoridade das
Escrituras acima de tudo, traduzindo-as e
publicando-as em inglês (quase tão rápido quanto os
católicos podiam queimá-las). Ele também pregou e
escreveu contra os males dos papas e dos dogmas
católicos, especialmente a transubstanciação. John
Huss, fervoroso padre católico e reitor da
Universidade de Praga, foi influenciado por
Wycliffe. Excomungado em 1410, Huss foi
queimado na estaca como “herege” em 1415, por
convocar uma igreja corrupta à santidade e à
autoridade da Palavra de Deus. Já citamos a carta
escrita em 1429 pelo papa Martinho V, ordenando
ao rei da Polônia que exterminasse os hussitas – 100
anos antes da Reforma protestante.
Esses pré-reformadores prepararam o caminho
para Martim Lutero. O próprio Lutero disse: “não
somos os primeiros a declarar que o papado é o
reinado do Anticristo, visto que durante anos antes
de nós, tantos e tão grandes homens...
encarregaram-se de expressar tão claramente a
mesma coisa...” Por exemplo, num concílio plenário
realizado em Rheims no século X, o bispo de
Orleans chamou o papa de Anticristo. No século XI,
Roma foi denunciada por Berenger de Tours como
sendo a “Sé de Satanás”. Em 1100, os valdenses
identificaram o papa com o Anticristo, num tratado
intitulado “A Nobre Lição”. Uma conferência
albigense realizada em Montreal em 1206 chamou o
Vaticano de a mulher “embriagada com o sangue
dos mártires”, o que ela continuamente tem provado
ser.
Provocado pela licenciosidade do papa e do
clero por ocasião de sua visita a Roma e pela venda
de indulgências como passagens para o céu
(financiando a construção da basílica de São Pedro),
no dia 31 de outubro de 1517 Lutero pregou no
portão da igreja do castelo de Wittenberg o
documento intitulado Debate para o esclarecimento
do valor das indulgências (que ficou conhecido
como as Noventa e Cinco Teses). Cópias traduzidas
do original em latim foram amplamente distribuídas,
desencadeando por toda a Europa um debate
acalorado sobre a venda do perdão dos pecados.
No dia 12 de outubro de 1518, Lutero foi
preso e convocado a ir até Roma, por ordem do
papa Leão X. Foi conduzido até Augsburgo para ser
julgado pelo cardeal Caetano. Foi-lhe recusado um
tribunal imparcial, e assim Lutero fugiu durante a
noite para salvar sua vida. No dia 3 janeiro de 1521,
uma bula formal foi emitida pelo papa condenando
Lutero ao inferno se ele não se retratasse.
Convocado pelo imperador, que garantia sua
segurança, Lutero compareceu diante da Dieta
[Tribunal] Imperial de Worms em 17 de abril de
1521. Instado a retratar-se de seus escritos, Lutero
respondeu: “Estou submisso às Escrituras que citei e
minha consciência está cativa à Palavra de Deus.
Não posso e não irei me retratar de coisa alguma...
Aqui estou; que Deus me ajude!”
Considerado fora-da-lei por um édito papal,
Lutero fugiu novamente e foi “raptado” no caminho
de volta a Wittenberg por amigos que acharam
seguro escondê-lo no castelo de Wartburg. Daquele
lugar ele começou a espalhar mais “heresias” através
de escritos que abalaram ainda mais toda a Europa.
A determinação de Roma de eliminar a heresia
luterana, conforme expressa na Segunda Dieta de
Speyer em março de 1529, levou uma porção de
príncipes independentes a garantirem o direito de
viver conforme a Bíblia. Eles expressaram essa
firme resolução no famoso “Protesto” de 19 de abril
de 1529, e foi desse documento que se originou a
palavra “protestante”.
A Dieta Imperial foi realizada em Augsburgo
visando fazer um exame completo das heresias
protestantes. Naquela ocasião a Declaração foi lida
pela primeira vez. Seu texto delineava as claras
diferenças entre o luteranismo e o catolicismo.
Particularmente o artigo IV declarava que
“...recebemos remissão do pecado e nos tornamos
justos diante de Deus pela graça, por causa de
Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo
padeceu por nós e que por sua causa os pecados nos
são perdoados...”. O artigo XIII declarava que os
sacramentos foram instituídos a fim de “serem sinais
e testemunhos” e condenava aqueles que “ensinam
que os sacramentos justificam pelo ato exterior em
si, sem a fé” (acréscimo no texto alemão da edição
príncipe de Melanchthon). O artigo XV instava “que
todas as ordenanças e tradições feitas pelo homem
com o propósito de por elas reconciliar-se a Deus e
merecer graça são contrárias ao evangelho e à
doutrina da fé em Cristo. Razão por que votos
monásticos e outras tradições concernentes a
distinção de alimentos, dias, etc. pelas quais se pensa
merecer graça e satisfazer por pecados, são inúteis e
contrários ao evangelho...”.
Como ficariam chocados os reformadores se
soubessem que, na mesma cidade de Augsburgo, os
luteranos assinaram um novo documento
proclamando sua concordância com a Igreja
Católica Romana no tocante à justificação. Isso é
ainda mais chocante tendo em vista que o
catolicismo continua basicamente o mesmo desde os
tempos de Lutero. Ainda assim, depois de ter
assinado a DCJ, a Igreja Católica continua a ensinar
e praticar as mesmas coisas que a Confissão de
Augsburgo rejeitava.
É inegável que a crença e a prática de um
bilhão de católicos romanos espalhados ao redor do
mundo (ignorados pela DCJ) permanecem
exatamente as mesmas de sempre. O fato é que a
linguagem cuidadosa, complexa e teológica da
Declaração Conjunta Sobre a Justificação não
significa coisa alguma. Os católicos continuam se
flagelando e oferecendo boas obras e penitências em
troca da salvação. Eles ainda “rezam” a Maria para
serem salvos. Em santuários marianos ao redor do
mundo, continuamos encontrando católicos andando
sobre seus joelhos machucados e ensangüentados
para alcançarem a graça de Deus. Não estamos na
Idade Média – essa é a “salvação” católica atual,
praticada mundialmente.
Os católicos continuam acreditando que os
“méritos e graças de Cristo ganhos na cruz” podem
ser recebidos apenas em pequenas porções, que
nunca salvam totalmente e que só podem ser
conseguidas através de Maria e dos sacramentos e
dispensações da Igreja. Eles ainda crêem, e a sua
igreja continua insistindo, que a esses “méritos e
graças de Cristo” foram acrescentados os méritos
obtidos por Maria e pelos santos através das suas
orações e boas obras. Tudo isso junto representa o
“tesouro” que a Igreja possui e do qual ela dispensa
a salvação em “prestações”, juntamente com as
indulgências.
Até hoje usam escapulários e medalhas para
abrir os portões do céu e confiam na Santa Madre
Igreja para oferecer missas após sua morte, a fim de
livrá-los do “purgatório”. Os dogmas oficiais da
Igreja Católica afirmam ainda que Cristo está sendo
perpetuamente imolado como sacrifício em seus
altares, negando assim as muitas passagens das
Escrituras que atestam o fato de Jesus ter morrido
na cruz de uma vez por todas. Eles continuam
rezando a “santos” como o Padre Pio, que eles
acreditam ter sofrido para pagar os pecados alheios,
redimindo assim multidões através do estigma que
suportou durante 40 anos. De fato, centenas de
milhares de fiéis lotaram a Praça de São Pedro em 2
de maio de 1999, quando João Paulo II beatificou o
Padre Pio tornando-o “santo”. Esse é o mesmo
catolicismo que tem sido praticado durante 1500
anos, sem sofrer mudança alguma com a Declaração
Conjunta de Evangélicos e Católicos Unidos (ECU,
de 1994) ou a DCJ (1999). Querendo ou não, os
evangélicos que assinaram esse documento estão
endossando essas práticas pagãs e encorajando um
bilhão de católicos a se apegarem a uma falsa
esperança.
Até mesmo a prática de oferecer indulgências
(que abriu os olhos de Lutero para a maldade do
evangelho de Roma), que ele denunciou, e contra a
qual lutou tão diligentemente, continua sendo parte
vital e oficial do catolicismo. Mesmo assim, tal fato
é estranhamente ignorado pelos evangélicos que
apóiam Roma e aceitam os católicos como “irmãos e
irmãs em Cristo”. Enquanto as negociações entre
luteranos e católicos estavam sendo finalizadas, o
papa prometia indulgências “especiais do Jubileu”
para o ano 2000 e continuou fazendo
pronunciamentos dogmáticos que apoiavam essa
terrível heresia. Por exemplo, durante a audiência-
geral do Vaticano, no dia 4 de agosto de 1999, o
papa explicou novamente: “não podemos nos
aproximar de Deus [isto é, entrar no céu] sem sofrer
uma espécie de purificação, [através do sofrimento
pessoal de alguém, acrescentando algo ao que Cristo
sofreu na cruz]. Todo o resquício de ligação com o
mal deve ser eliminado, cada imperfeição da alma,
corrigida... esse é precisamente o significado do
ensino da Igreja sobre o purgatório”. Os protestantes
que assinaram a ECU e a DCJ foram feitos de
bobos.
Na véspera do Natal de 1999, João Paulo II
abriu uma “porta santa” na Basílica de São Pedro (e
subseqüentemente três outras em Roma), por onde
os peregrinos vindos de todo o mundo podiam
passar para receberem o perdão de seus pecados. A
Igreja se vangloria de que essa prática foi iniciada
em 1300 pelo papa Bonifácio VIII. Em 1302, na
“Unam Sanctam”, uma bula infalível que ainda está
em vigor, Bonifácio tornou a obediência absoluta ao
papa uma condição para a salvação. Sobre isso a
DCJ e a ECU também estão cegas.
Como já vimos, Bonifácio era tão mau que
Dante o sepultou nas maiores profundezas do
inferno. Ele tinha simultaneamente uma mãe e sua
filha como suas amantes. Assassinando 6.000
habitantes, ele destruiu completamente a bela cidade
de Palestrina, inclusive sua arte de valor incalculável
e sua estrutura histórica, datada da época de Júlio
César, reduzindo tudo a um campo arado onde
mandou espalhar sal. Por quê? Simplesmente
porque a família Colona, que governava Palestrina,
havia se tornado inimiga do papa, e este ofereceu
indulgências (sim, indulgências) a todos que
ajudaram a destruí-la. João Paulo II certamente
sabia de tudo isso; contudo, ele e sua Igreja traçaram
sua suposta “sucessão apostólica” passando por
papas monstruosos, dos quais Bonifácio certamente
não foi o pior.
Parece mais irônico ainda que, mesmo que a
Reforma tenha começado por causa das
indulgências, e que os católicos continuem a
promover as indulgências e a anatemizar aqueles que
não as aceitam, o catolicismo agora é reconhecido,
não só pelos luteranos liberais, mas também por
outros líderes evangélicos, como se Roma estivesse
pregando o verdadeiro Evangelho da salvação pela
graça, através da fé na obra consumada por Cristo.
O tratado que Lutero pregou em Wittenberg em
1517, popularmente conhecido como as “Noventa e
Cinco Teses”, mostra que naquela época ele ainda
estava se debatendo com o assunto e ainda não
havia rejeitado por completo a falsa doutrina do
purgatório. Nas teses ele denunciava as indulgências
sem usar termos confusos como a Igreja de Roma
continua fazendo. Entre as 95 teses estavam as
seguintes:
21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências
que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e
salva pelas indulgências do papa.
24. Por isso, obrigatoriamente a maior parte do povo
está sendo ludibriada por essa magnífica e indistinta
promessa de absolvição da pena.
37. Qualquer cristão verdadeiro, seja vivo, seja morto,
tem participação em todas as bênçãos de Cristo e da
Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem carta de
indulgência.
45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um
carente e o negligencia para gastar com indulgências
obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira
de Deus.
52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas
de indulgências, mesmo que o comissário ou até
mesmo o próprio papa dessem sua alma como
garantia pelas mesmas.
62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo
Evangelho da glória e da graça de Deus.
76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências
papais não podem anular sequer o menor dos pecados
veniais no que se refere à sua culpa.
82. Por exemplo: por que o papa não desocupa o
purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema
necessidade das almas – o que seria a mais justa de
todas as causas –, se redime um número infinito de
almas por causa do funestíssimo dinheiro para a
construção da basílica - que é uma causa tão
insignificante?
83. Do mesmo modo: por que mantém as exéquias e
os aniversários dos falecidos e não restitui ou permite
que se recebam de volta as doações efetuadas em
favor deles, visto que já não é justo orar pelos
redimidos?
90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos
leigos somente pela força, sem refutá-los
apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa
à zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.
A Morte de um Papa
A verdadeira avalanche mundial de
manifestações de pesar pela morte do papa João
Paulo II foi um fenômeno sem precedentes. Entre os
enlutados pela perda do papa, estavam desde os seus
mais humildes seguidores até os mais poderosos
líderes políticos e religiosos da atualidade, inclusive
o presidente da França, Jacques Chirac e o primeiro-
ministro britânico Tony Blair. O governador da
Califórnia, Arnold Schwarzenegger, descreveu o
papa como “um farol de virtude, força e bondade”.
O ex-presidente Clinton classificou-o como “um
homem de Deus”, enquanto o ex-presidente Bush
(pai) disse que sua “devoção aos princípios de
liberdade e independência [...] eram uma verdadeira
âncora para as pessoas”.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, elogiou
o “legado espiritual e político” de João Paulo II. O
presidente Bush afirmou que ele foi “um dos
maiores líderes morais da história”. Billy Graham
considerou-o “talvez o mais influente defensor da
moralidade e paz mundial nos últimos cem anos”.
Apesar de tudo isso, o papa chamava Arafat, um
dos piores terroristas e assassinos dos tempos
modernos, de “Sua Excelência”, e nunca o criticou
pelo massacre de centenas de milhares de pessoas
inocentes ao redor do mundo. A “liderança moral”
do papa tampouco se refletia na conduta da maioria
de seus admiradores. O Houston Chronicle
comentou que “os italianos, que ficaram horas na
fila para dizer adeus ao seu Santo Padre, fizeram seu
país alcançar a mais baixa taxa de natalidade do
mundo pelo uso de contraceptivos”. Durante a visita
do sumo pontífice católico à Califórnia em setembro
de 1987, o famoso letreiro sobre a colina de
Hollywood (Bosque de Azevinhos), foi alterado
para Holywood (Bosque Sagrado). Entretanto,
Hollywood nunca perdeu o embalo e continua sendo
tudo, menos sagrada.
Em junho de 2004, George W. Bush foi ao
Vaticano para lembrar o papa João Paulo II que seus
valores morais eram os mesmos e para obter o apoio
dos 65 milhões de católicos americanos nas eleições
que se aproximavam. O presidente da Coréia do Sul,
Roh Moo-Hyun, chamou o papa de “apóstolo da
paz”. A primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen
Clark, ordenou que as bandeiras fossem hasteadas a
meio-pau “por uma das personalidades realmente
influentes do século XX”.
Essa aclamação universal levantou sérias
dúvidas a respeito da afirmação do papa de que era
o “Vigário de Cristo”. Afinal, Cristo foi e ainda é
“desprezado e o mais rejeitado entre os homens”
(Is 53.3). E Ele disse aos Seus discípulos que, se
Lhe fossem fiéis, receberiam o mesmo tipo de
tratamento do mundo: “Se o mundo vos odeia,
sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou
a mim. [...] não é o servo maior do que seu senhor.
Se me perseguiram a mim, também perseguirão a
vós outros (Jo 15.18-20).
João Paulo II sobrepujava a maioria dos
políticos quando o assunto era fazer jogo duplo.
Quando esteve em Los Angeles em 1987, disse ao
rabino emérito Harvey Fields, do Templo de
Wilshire Boulevard, e ao falecido rabino Alfred
Wolf, que todos servem “ao mesmo Deus [...] não
importa qual seja sua religião”. Entretanto, na
América Latina, em fevereiro de 1996, alertou os
católicos contra os protestantes e advertiu os que
tinham deixado a igreja para que retornassem. Em
nome do “ecumenismo”, ele declarou que a unidade
plena não poderia ser alcançada enquanto todas as
religiões não estivessem submissas a Roma!
Em 2000 o papa encontrou-se com o
presidente de Israel, visitou o Muro das
Lamentações – onde colocou sua oração numa
fenda entre as pedras – e garantiu aos israelitas que
“a igreja católica [...] está profundamente triste com
o ódio, os atos de perseguição e as demonstrações
de anti-semitismo [...] perpetrados por cristãos [...]”.
Mas ele se desculpou somente pelo que os “cristãos”
tinham feito, sem jamais admitir a verdade: que foi a
própria igreja e seus papas que instigaram os cristãos
a perseguir os judeus.
Elie Wiesel, um sobrevivente do Holocausto,
disse à CNN que João Paulo II “terá um lugar muito
importante na história judaica [...]”. O então
primeiro-ministro israelense Ariel Sharon (e líderes
judaicos do mundo inteiro) classificaram o papa
como “um homem de paz e amigo de Israel [...]”.
Até mesmo o editor-chefe do U.S. News & World
Report, Mortimer B. Zuckerman, geralmente tão
perspicaz, elogiou o papa por ter “reconhecido o
Estado de Israel”, esquecendo-se do fato de que ele
já era papa havia 16 anos quando tomou essa atitude
em 1994, quarenta e seis anos após o ressurgimento
de Israel como nação – e pouco depois de ter
concedido à OLP um escritório de representação
permanente no Vaticano.
Os líderes muçulmanos também enalteceram o
papa. O imã Yahya Hendi, capelão muçulmano da
Universidade de Georgetown, disse que o islã (que
busca a aniquilação de Israel) tinha perdido um
grande amigo. João Paulo II rejeitava
sistematicamente a soberania de Israel sobre
Jerusalém (como na bula papal do Ano do Jubileu
de 2000, etc.). Ele recebeu Arafat, o pior inimigo de
Israel, com toda a cordialidade por mais de dez
vezes (no Vaticano e no palácio papal de
Castelgandolfo), visitou-o em seu palácio em
Ramallah e tomou o partido de Arafat e da OLP
contra Israel.
É claro que elogiar uma pessoa falecida e
minimizar seus defeitos é algo que geralmente
acontece nos funerais. Mas até mesmo os líderes
evangélicos se juntaram ao coro de “todo o louvor
ao papa”. Os poucos que disseram a verdade foram
duramente criticados. Marty Minto, apresentador de
um programa cristão de entrevistas, foi despedido
pela estação de rádio WORD, de Pittsburgh, uma
afiliada da rede Salem, por causa da resposta que
deu à pergunta de um ouvinte que queria saber se o
papa estava no céu. A verdade é que nem o próprio
papa sabia se iria para o céu ou não; ele igualmente
não podia dar a outros essa garantia – fato realmente
chocante em se tratando do líder da maior igreja do
mundo e de alguém que afirmava ser o vigário de
Cristo na terra!
O cardeal John O’Connor declarou: “O que a
Igreja ensina é que eu não sei [...] qual será o meu
futuro eterno. Posso ter esperança, orar, fazer o
melhor – mas não posso ter certeza. O papa João
Paulo II não tem absoluta certeza de que irá para o
céu; nem a madre Teresa de Calcutá [...]”. O cardeal
John Krol, líder espiritual de mais de um milhão de
católicos da Filadélfia, admitiu que sua maior
preocupação pessoal dizia respeito a “ir para o céu”.
O cardeal Ratzinger (atual papa Bento XVI), que
dirigia a Congregação para a Doutrina da Fé,
guardiã da ortodoxia católica (Santo Ofício da
Inquisição), manifestou a mesma incerteza acerca de
sua própria salvação – e com toda a razão.
Assim como o papa [João Paulo II], a igreja
que ele liderava rejeita firmemente a promessa de
Cristo de dar a “vida eterna” (Jo 3.16) a todo
aquele que crê nEle. Quem deposita sua confiança
em Jesus “passou da morte para a vida” (Jo 5.24)
e “jamais perecer[á]” (Jo 10.28) segundo as
palavras do próprio Mestre. O sacerdócio católico
oferece incontáveis missas a Maria e a seus santos
favoritos (milhares de missas serão rezadas pelo
falecido papa), incentiva peregrinações a vários
santuários e disponibiliza outros meios de obter
indulgências com o propósito de abreviar o
sofrimento no purgatório – um fato que transtornou
Martim Lutero e desencadeou a Reforma.
Num livro considerado muito bom por 250
líderes evangélicos, o papa escreveu: “O Batismo e a
Eucaristia [...] criam no homem a semente da vida
eterna”. Rejeitando a suficiência do sacrifício de
Cristo e Seu brado vitorioso “Está consumado!”
(Jo 19.30), os documentos do Vaticano II começam
assim: “É a liturgia, principalmente no divino
sacrifício da Eucaristia, através da qual a obra da
nossa redenção [ainda] está sendo realizada”. Roma
coloca sob anátema qualquer um que ouse confessar
a certeza de uma salvação consumada, algo que a
Bíblia promete repetidas vezes (1 Jo 5.13).
Antes de morrer, o principal “televangelista”
católico, arcebispo Fulton J. Sheen (que João Paulo
II chamou de “um filho leal da igreja” e que Billy
Graham elogiou como “o maior comunicador” do
século passado), esperava que “a Virgem” o
recebesse no céu devido às mais de 40 peregrinações
que fez a seus santuários em Lourdes e Fátima. O
papa João Paulo II também era totalmente devoto a
Maria, especialmente a “Nossa Senhora de Fátima”,
cuja aparição declarou que “todas as religiões são
iguais [...] muitas almas perecem porque não têm
ninguém para fazer sacrifício por elas”, uma clara
negação da suficiência do sacrifício de Cristo pelos
nossos pecados. A Carta Apostólica que João Paulo
II escreveu em 16 de outubro de 2002 termina com
as seguintes palavras:
Entrego esta Carta Apostólica nas mãos amorosas da
Virgem Maria, prostrando-me em espírito diante da
sua imagem venerada no Santuário esplêndido que lhe
edificou o beato Bartolo Longo, apóstolo do Rosário.
De bom grado, faço minhas as comoventes palavras
com que ele conclui a célebre Súplica à Rainha do
Santo Rosário: “Ó Rosário bendito de Maria, doce
cadeia que nos prende a Deus, vínculo de amor que
nos une aos Anjos, torre de salvação contra os assaltos
do inferno, porto seguro no naufrágio geral, não te
deixaremos nunca mais. Serás o nosso conforto na
hora da agonia. Seja para ti o último beijo da vida que
se apaga. E a última palavra dos nossos lábios há de
ser o vosso nome suave, ó Rainha do Rosário de
Pompéia, ó nossa Mãe querida, ó Refúgio dos
pecadores, ó Soberana consoladora dos tristes [...].