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Janete El Haouli
I
O Rádio é indiscutivelmente um meio de comunicação social inserido no
contexto das transformações tecnológicas. Ondas hertzianas em satélite. É um
poderoso veículo capaz de disseminar perspectivas, de produzir uma
multiplicidade ilimitada de pontos de vista e questionar a intencionalidade da
escuta.
Neste sentido, um dos aspectos possíveis da criação musical é a
utilização do rádio na contemporaneidade incluindo-o, certamente, no contexto
da educação em amplo sentido e suas interrelações nesta era de alta
velocidade onde CD-Rom, rádio digital, Internet e outros meios podem ser
desenvolvidos e usados no campo artístico-científico.
Segundo o semioticista Adriano Rodrigues, professor da Universidade
Nova de Lisboa, devemos entender o Rádio não só como informação, mas
também como uma modulação das vozes que faz ressoar em nosso imaginário
a sonoridade do nosso mundo envolvente. É no domínio estético-poético que a
sua influência se faz sentir. É esta função poética que confere à experiência
radiofônica uma dimensão particularmente afetiva que nos remete para uma
memória arcaica, para este instante quase mítico em que, antes mesmo de
despertarmos para a configuração visual das suas formas, o mundo nos
apareceu sob a forma de um invólucro sonoro.
Levando em conta as possibilidades e a função das Rádios educativas
universitárias, pensamos que deveriam voltar-se para a investigação, para a
pesquisa. Não deveriam possuir uma ideologia a priori e obrigatoriamente gerar
um produto, um resultado. Mas, talvez, suscitar tendências, provocar, inquietar,
criar. Enfim, ousar. Alterar.
A intenção do trabalho que está sendo desenvolvido na Rádio
Universidade FM com o programa “Musica Nova” é propor uma escuta atenta ao
mundo circundante, captando no movimento contínuo, na velocidade das
informações, no transcurso acelerado de todos os tipos de sensação, um
observar próprio, uma escuta própria, uma pausa.
Se a nossa sociedade é eminentemente visual, o rádio pode fornecer
uma pausa para que possamos desenvolver uma apreensão crítica do nosso
mundo através da audição. Segundo John Cage, o mais irracional dos nossos
sentidos.
A idéia é romper com as tiranias imperantes do continuum radiofônico
vigente. Nesse aspecto podemos afirmar que o espaço da criação independe do
tipo de ferramenta. E o rádio, enquanto meio de comunicação, pode ser o
fomentador dessa criação específica, original, insubstituível. É preciso escutar e
pensar o mundo com o ouvido, de acordo com Murray Schafer.
II
Todavia, é preciso encarar a grande revolução em nosso “ecosistema”
sonoro. A rapidez com que evoluem as ciências e a tecnologia em nosso tempo,
dificilmente permite acompanhar o desenvolvimento e a transformação da
mentalidade e dos hábitos intelectuais e psíquicos das pessoas. Sabemos que a
eletrônica, no início do século, e a informática, neste último quarto de século,
têm modificado sensivelmente o ser humano.
As transformações realizadas na linguagem musical do século XX, assim
como as mudanças do papel do músico na sociedade e sua relação com o
ouvinte requerem, hoje, mais do que nunca, um processo de transformação
constante de critérios e idéias artísticas numa realidade outra, resultante de
mudanças sociais. As diversas tendências contemporâneas, os numerosos
dialetos musicais, contínuo intercâmbio de experiências e idéias no mundo
inteiro, fez surgir múltiplas e simultâneas estéticas musicais, estéticas estas que
ainda não foram suficientemente difundidas, assimiladas e compreendidas.
Esta nova imagem do mundo e a reviravolta radical do conhecimento
obrigam-nos constantemente à revisão profunda e pormenorizada de nossas
idéias e, consequentemente, da educação em amplo sentido.
Assim, desenvolvemos debates sobre o ensino da música diante das
novas tecnologias, sobre as transformações do estatuto do compositor, do
autor, do intérprete, do público, do professor, do estudante, da análise destes
efeitos mas, mesmo assim, a incerteza e a perplexidade permanecem.
III
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Schafer, R. Murray. The Tuning of the world. New York, Knopf, 1977.