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Conceituando correto e errado, neste contexto, temos:

* Correto: é todo uso lingüístico que segue as normas da língua-padrão;


* Errado: é todo uso lingüístico que não segue as normas impostas pela gramática.

Ainda que esses erros se situem nas mais diversas camadas da língua, em virtude de
a Gramática Normativa não se basear nas situações de fala, é possível determinar alguns
tipos que costumam ocorrer com mais freqüência, tomando sempre por base a língua
escrita.

1. Erros de grafia: ocorrem nas mais diversas construções. Exemplo:

Comprei três quilos de mortandela. (mortadela)

Os partidos vivem a degladiar entre si. (digladiar)

O garoto foi pego roubando salchichas. Porisso, não deixe que tome conta do açougue.
(salsichas / Por isso)

2. Erros de impropriedade vocabular: ocorrem quando se usa uma palavra em lugar


de outra por falsa associação de sentido entre elas. Exemplo:

As lâmpadas florescentes são mais econômicas. (fluorescentes)

O criminoso foi pego em fragrante. (flagrante)

O negro tem sido muito descriminado neste país. (discriminado)

3. Erros de acentuação gráfica - ocorrem por dois motivos:


* Por desconhecimento das normas ortográficas vigentes. Exemplo:

* Por desconhecimento da posição correta da sílaba tônica. Exemplo:

As rúbricas dos documentos eram falsas. (rubrica – paroxítona)

4. Erros no emprego da crase – ocorrem por dois motivos:


* Omitindo-se o acento em situações em que ocorre a crase. Exemplo:
O Projeto Mesa Brasil está promovendo uma campanha de ajuda as crianças vítimas da
seca. (ajuda a quem? Às vítimas da seca)

* Colocando o acento onde não ocorreu a crase. Exemplo:

Enviamos à V. Sª. o resultado das avaliações. (Vossa não admite artigo antes, portanto,
o correto seria “a V. Sª.)

5. Erros de emprego dos pronomes: uso de um pronome com função de sujeito no


lugar de um pronome com função de objeto e vice-versa.

Comprei este lindo relógio para mim usar no casamento. (para eu usar)

Comprei este lindo relógio para eu. (para mim)

6. Erros de emprego de verbos - ocorrem em três casos:


* Na conjugação verbal. Exemplo:

A polícia militar não interviu a tempo de evitar o assassinato. (verbo intervir –


composto: inter / vir – passado de vir, ele veio. Então o passado de intervir é interveio)

* No tempo verbal. Exemplo:

Encontrei Alice no mesmo lugar que, anos antes, recebeu-me. (recebera)

* No modo verbal. Exemplo:

Não estou certa de que essa decisão satisfaz a todos. (satisfaça)

7. Erros de morfologia em substantivos e adjetivos – ocorrem em dois casos:


* No plural dos nomes compostos. Exemplo:

Os dois páras-choques dos carros foram atingindo na colisão. (pára – verbo parar – não
vai para o plural. O correto seria “pára-choques”)

* No uso do gênero dos substantivos. Exemplo:

Mandei Larissa comprar uma guaraná na bodega. (um guaraná – palavra masculina)
8. Erros de regência verbal. Exemplos:

As madeireiras estão visando o mercado externo. (visar, no sentido de ter em vista,


pede preposição“a”. O correto seria “visando ao mercado”)

As crianças assistiam o desenho na televisão. (Assistir, no sentido de ver, presenciar,


pede preposição “a”. O correto seria “assistiam ao desenho”)

9. Erros de concordância verbal e nominal. Exemplos:

Vamos esperar que V. Sª. manifeste vossa escolha. (o pronome de tratamento sempre
concorda com a 3ª pessoa dos pronomes. O correto seria sua escolha)

Poderá ainda acontecer mais incentivos como esses. (Mais incentivos poderão
acontecer)

10. Erros de colocação pronominal. Exemplo:

Enviaremos até a próxima semana os pedidos que encomendaram-nos. (nos


encomendaram)

1. Emprego de MAU / MAL

· Mau: é o contrário de bom (adjetivo) e acompanha ou se refere a um substantivo.

Ex. O lobo-mau comeu a vovozinha.

· Mal: é o contrário de bem (advérbio) e refere-se a um verbo.

Ex. Passei mal no colégio.

2. Emprego de ONDE / AONDE

· Onde: aparece em verbos estáticos ou dinâmicos que pedem preposição em.

Ex. Onde ficou o menino? (Quem fica, fica “em” algum lugar)

Onde andavam as crianças? (Quem anda, anda “em” algum lugar)


· Aonde: emprega-se exclusivamente em verbos de movimento que pedem preposição
“a”. Note-se que a própria palavra já começa com “a”.

Ex. Aonde foram os meninos? (Quem vai, vai “a” algum lugar)

Aonde chegaram os meninos? (Quem chega, chega “a” algum lugar)

Obs. Por onde passearam? / De onde vieram? / Para onde foram?

Neste caso, nunca use “aonde”, pois antes de “onde” já tem uma preposição.

3. Emprego de A PAR / AO PAR

· A par: é usada no sentido de

a) “estar ciente”, “sabedor de”: Não estamos a par do problema.

b) “ao lado de”, “paralelamente”: A casa está completamente deteriorada. A par disso
tudo, ainda têm muitos impostos a pagar.

· Ao par: tem sentido de “ao câmbio, ao preço, ao valor, à troca”. Termo habitualmente
empregado na linguagem comercial.

Ex. O dólar não está nem de longe ao par do real.

4. Emprego de AFIM DE/ AFIM/ A FIM DE/ A FIM DE QUE

· Afim de - usado no sentido de:

a) “parente” – função de adjetivo: José é afim de Paulo.

b) “próximo” – função de adjetivo: O Ceará é um Estado afim da Paraíba.

· Afim – usado no sentido de:

a) “parentes, familiares” – função de substantivo: Meus afins moram em São Paulo.

b) “correlatas, semelhantes” – função de adjetivo: Geografia e História são áreas afins.

· A fim de – usado no sentido de:


a) “finalidade” – locução prepositiva e pode ser substituída por “para”: Mário estuda a
fim de passar no teste.

Obs. Na linguagem coloquial, esta expressão vem sendo usada em situações como
“Marcos está a fim de Ana”, assumindo o sentido de “estar predisposto a namorar”.

· A fim de que: usado no sentido de finalidade e pode ser substituído por “para que”,
inserindo uma oração adverbial final.

Ex. Os meninos treinam a fim de que vençam o campeonato.

5. Emprego de HÁ/ A/ À

· Há é usado com sentido de:

a) verbo fazer: Há dias não o vejo.

b) Indica tempo decorrido: Há dez minutos espero pelo ônibus.

c) Sentido de existir: Há crianças no pátio.

· A: é preposição ou artigo. Se vier antes de um substantivo, é artigo. Depois de um


verbo, é preposição.

Ex. Moro a dois quilômetros de Fortaleza (preposição).

A cidade de Juazeiro do Norte está cheia de romeiros (artigo).

· À: é a junção da preposição “a” + artigo “a”.

Ex. Fui à cidade. (Fui “a algum lugar” – a cidade: palavra feminina)

6. Emprego de À-TOA/ À TOA

· À-toa: é uma locução adjetiva, refere-se a um substantivo e significa ”sem


qualificação”, “inútil”.

Ex. Ele é um menino à-toa.


· À toa: é uma locução adverbial de modo, refere-se a um verbo e significa “sem rumo,
ao acaso”.

Ex. Ele anda à toa na vida.

7. Emprego de SENÃO/ SE NÃO

· Senão é usado equivalendo a:

d) do contrário: Saia daí, senão vai se molhar.

e) a não ser: Não faz outra coisa senão reclamar.

f) mas sim: Não tive a intenção de exigir, senão pedir.

· Se não: equivale a “caso não”.

Ex. Esperarei mais um pouco. Se não vier, vou embora.


Ortografia
Na área da ortografia foram incluídos os erros detectados na grafia das palavras, em
situações de não conformidade com as convenções ortográficas do PE. Agrupados em 'R'
Simples/ Duplo (RS/RD) incluem-se os casos em que é utilizado o 'R' simples, em contextos
em que é requerido o 'R' duplo (cf. (1 a)), e usa o ‘R’ duplo nos casos em que é requerido o
‘R’ simples (cf. (1 b)). Exemplos:

(1) a. Pareceram ireais e cinematográficos (…) (AEM/02/EP3) (PE= irreais)


b. Como não se encarra com seriedade (...) (ORP/02/TI1) (PE= encara)

Os casos classificados como Consoantes Fricativas Linguodentais (CF) incluem os erros na


grafia das consoantes ‘C’/ ‘Ç’ (cf. (2 a)), ‘C’/ ‘S’ (cf. (2 b)) e ‘S’/ ‘SS’ (cf. (2 c)) para
representar o som [s] e as consoantes ‘S’/’Z’ (cf. (2 d)) para representar o som [z] .
Exemplos:

(2) a. Nunca serviram para aproximar e congracar os homens. (AEM/02/EP3) (PE=


congraçar)
b. Já não chega aos quarenta anos e nunca vai sair cã. (ORP/02/TI1) (PE= sã)
c. (…) se um casal de jovens fisesse planos (…). (AAF/02/TF1) (PE= fizesse)
d. A identidade cultural deve ser asumida com seriedade. (YMT/02/TF1) (PE= assumida)

Os erros inseridos na subcategoria das Vogais Palatais (VP) afectam a grafia das vogais ‘e’ /
‘i’. Exemplos:

(3) a. Fui crescendo e sempre encomodava a minha mãe. (AJM/02/EP3) (PE= incomodava)
b. (…) quando a luz clariou sobre o tapete (…) (AJM/02/EP3) (PE= clareou)
c. Será que o jovem intende este facto? (AAF/02/TF1) (PE= entende)
d. (…) se criassem postos de trabalho e que se combatesse a discentralização.
(ICM/02/TI1) (PE= descentralização)

A maioria dos erros classificados como Consoante Nasal (CN) refere-se aos casos de
inserção de uma consoante nasal em contextos em que tal não é requerido (cf. (4 a e b)),
ou em contextos em que, apesar de existir uma consoante nasal, esta não é utilizada (cf. (4
c)). Exemplos:
(4) a. Fala das fotografias que monstram o horror das guerras. (AJM/02/EP3)
(PE= mostram)
b. (…) o termo indentidade cultural não é assumido por ninguém (…)
(AAF/02/TF1) (PE= identidade)
c. Portanto estas atitudes de pais muito jovens têm criado constragimento aos pais dos
namorados (…) (YMT/02/TF1) (PE= constrangimento)

Quanto aos erros classificados como Estrutura Silábica (ES), contemplaram-se diferentes
tipos de casos em que não foi respeitada a estrutura silábica, havendo: i) alteração da
ordem consoante/ vogal/ consoante (CVC) para consoante/ consoante (CC) (cf. (5 a)), ou
alteração da ordem consoante/ consoante (CC) para consoante/ vogal/ consoante (CVC) (cf.
(5 b)); ii) supressão de vogal em início ou final de palavra (cf. (5c e d)); e iii) a inserção de
uma vogal numa sequência de vogais (cf. (5 e)). Exemplos:

(5) a. Já não existe a palavra amor hoje em dia só namoro interseiro.


(ORP/02/TI1) (PE= interesseiro)
b. (…) iam aos ritos de iniciação preservavam a virginidade (…)
(ORP/02/TI1) (PE= virgindade)
c. Um individu tem uma identidade ou não. (AAF/02/TF1) (PE= indivíduo)
d. Dia pós dia deparámo-nos com uma tendência de vir a aumentar (…)
(ICM/02/TI1) (PE= após)
e. E os meios de transporte antigos não semeiavam luto. (SAM/02/TI1) (PE=
semeavam)

No que diz respeito aos casos classificados como Fronteira de Palavra (FP), os erros
registados afectam o limite das palavras em diversos tipos de contexto, que envolvem: i) as
formas átonas do pronome pessoal (cf. (6 a)); ii) as palavras compostas por justaposição (cf.
(6 b)), e iii) a união de determinante e nome quando, vocalicamente, a forma se encontra
em homofonia com outras formas (cf. (6 c)). Exemplos:

(6) a. (…) ele diz “casai e multiplicaivos. (NAA/02/TF1) (PE= multiplicai-vos)


b. (…) existem pessoas com poderes sobre naturais. (AAF/02/TF1) (PE= sobrenaturais)
c. Hoje em dia agente vê uma miúda … (ICM/02/TI1) (PE= a gente)

2.2.2. Acentuação
Na área da acentuação estão incluídos os casos que resultam da não conformidade com as
convenções do PE que regem a acentuação de palavras.

Agrupados em Contraste Morfo-fonológico (MF) estão os erros de acentuação em


palavras em que o acento agudo evidencia um contraste morfológico de palavras
homógrafas. Exemplos:
(7) a. E muitas vezes devido a falta de escolarização … (NAA/02/TF1) (PE=à)
b. Quando chegamos apresentou-me um senhor alto (AJM/02/EP3) (PE= chegámos)

Os erros incluídos na subcategoria Palavras Esdrúxulas (PX) estão relacionados com a


ausência de acento agudo na sílaba tónica. Exemplos:

(8) a. Algumas vezes dormiamos sem ter comido nada. (QLN/02/EP3) (PE= dormíamos)
a. (…) não tomam remedios tradicionais… (AAF/02/TF1) (PE= remédios)

No que se refere aos erros classificados como Vogais Abertas (VA), estes englobam
situações de acentuação gráfica da sílaba tónica em casos não previstos pela norma do PE.

Exemplos:
(9) a. tudo agradáva-me, mas não era feliz. (AJM/02/EP3) (PE= me agradava)
b. há várias etápas da vida … (ICM/02/TI1) (PE= etapas)

Finalmente, os casos classificados como Ditongos (DG) abrangem as situações de uso do


acento agudo em ditongos orais (cf. (10 a)) e a ausência do acento, criando um ditongo (cf.

(10 b)). Exemplos:


(10) a. a informação não é somente veículada… (LAC/02/EP3) (PE= veiculada)

b. verificaríamos que os paises desenvolvidos… (YMT/02/TF1) (PE= países)

2.3. Primeiros resultados desta investigação


O levantamento dos “erros” no corpus–amostragem dos estudantes dos Cursos da área do
Português da Faculdade de Letras, e a sua classificação e inserção numa grelha tipológica
teve como objectivo traçar um perfil linguístico desta população-alvo, evidenciando as
áreas gramaticais mais afectadas face ao PE. Os primeiros resultados desta investigação
preliminar permitem já tirar algumas (breves) conclusões:

• Na área do Léxico, com uma percentagem geral de 8,5%, os casos mais frequentes
são os de “Neologismos Semânticos” com a frequência de 87,5%, em que são
utilizadas, com um sentido diferente, palavras existentes no PE. Exemplos:
(11) a. Não gosto dele, só quero o dinheiro dele depois vou pular (AAG/02/TI1)
(PE= acabar a relação).
b. (…) cuidar de uma mulher doentia.” (QLN/02/EP3) (PE= doente)
• Quanto à área do Léxico-Sintaxe, que representa 12,7% do total dos “erros”, a
subcategoria mais abrangida é a da “Selecção Categorial”, com cerca de 66,7%, em
que se regista a alteração da categoria sintáctica dos complementos (cf. (12 a)) ou
não é usada a preposição requerida pela norma europeia (cf. (12 b)).
(11) a. “Este mesmo casal (…) sempre aconselha aos filhos para que não o
pratique antes do casamento” (AAF/02/TF1) (PE= aconselha os filhos)
b. “Desconfiam-se e acabam por optar o uso de preservativo” (ORP/02/TI1) (PE=
optar pelo uso de)

• A área da Sintaxe, que representa 22,9% do total dos “erros”, abrange os casos
relacionados com o uso dos artigos, com 41,5 %, em que se evidencia a sua
omissão (cf. (13 a)). Importa ainda referir que, nesta área gramatical, há mais um
tipo de “erro” que se evidencia – o “Pronome Pessoal Colocação” (cf. (13 b)) com
27,7% dos “erros” desta área.

(11) a. “quando a luz clariou (…), deu impressão de que era o sangue espalhado no
chão.” (AJM/02/EP3) (PE= deu a impressão)
b. “Temos o caso de mulheres que se calhar ainda estejam a se formar para depois
casarem-se” (AAF/02/TF1) (PE= se estão a formar …se casarem)

• Quanto à Morfo-Sintaxe, com uma percentagem geral de 11,6%, o destaque incide


sobre a “Concordância Verbal”, com cerca de 48,5% dos casos registados, em que
se verifica que a flexão do verbo em número e/ou pessoa não ocorre de acordo
com a norma europeia.
(11) “Com as publicidades que anda por aí de jeito para além de que os médicos e
infermeiros encoraja a fazer planeamento familiar” (ORP/02/TI1) (PE=
andam...encorajam...)

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