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A EDUCAÇÃO NO PENSAMENTO DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA

Adelmo José da Silva Filho14


Dr. Adelmo José da Silva15

RESUMO: Por meio da tese de que os "Sermões" tem uma finalidade educativa, busca-
se neste trabalho estabelecer uma relação entre o discurso do Padre Antônio Vieira e
os princípios da "Escola Ibérica da Paz", dos catedráticos das universidades ibéricas,
de missionários jesuítas dentre outros que compactuavam com a doutrina da Segunda
Escolástica Ibérica. Unidade doutrinária que é evidenciada pelo acervo literário das
universidades em questão, sendo que é notória a presença de livros oriundos de outras
instituições da península, o que demonstra uma dinâmica de troca de saberes e ideias
entre os mestres ibéricos. Nas ideias de Vieira é possível perceber elementos
fortemente similares ao que, o também jesuíta, Francisco Suarez, catedrático em
Coimbra, teorizou. Em um primeiro momento, busca-se destacar a doutrina da teologia
ibérica naquele instante e inserir, historicamente, Vieira dentro deste contexto.
Apresentando alguns de seus mais notáveis sermões, evidencia-se o seu interesse e
sua capacidade em transmitir valores e moldar uma nova mentalidade para os seus
ouvintes fieis. Considerando a disputa que existe em torno da definição do que significa
Padre Antônio Vieira para a História luso-brasileira busca-se utilizar de uma perspectiva
historiográfica que o considere enquanto um homem inserido em uma sociedade em
determinado tempo e espaço, o que consequentemente influencia na sua forma de ver
e lidar com o mundo. A partir desta constatação pode-se buscar compreender a
dimensão do trabalho de Vieira e sua posição enquanto educador.

Palavras-Chave: História Ibérica, Filosofia ibérica, História luso-brasileira.

1. Considerações iniciais
Padre Antônio Vieira foi um pensador, teórico e clérigo cuja no decorrer
do tempo tem gerado frequentes debates acerca de sua perspectiva sobre os
mais variados temas, sobretudo no que diz respeito ao seu papel na História,
enquanto herói ou vilão.16 Ilustra bem esta complicada questão as reações frente
à inauguração de uma estátua do notável Padre, em Lisboa17, o que gerou

14Bacharelando em História pela Universidade Federal de São João del Rei e pesquisador bolsista do CNPq no projeto
"Resistência Ameríndia: entre a Escola Ibérica da Paz e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.”
E-mail: adelmojsfilho@gmail.com
15 Doutor em Filosofia, Professor titular no Departamento de Filosofia e Método da Universidade Federal de São João
del Rei.
E-mail: adelmojs@ufsj.edu.br
16 BARRIO, J. M. D. Portugal é forçado a encarar seu passado escravagista. El Pais, 2017. Disponivel em:

<https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/10/internacional/1507633783_573708.html>. Acesso em: 3


fevereiro 2019.
17 BOBONE, C. M. Padre António Vieira, um “escravagista selectivo”? Observador, 2017. Disponivel em:

<https://observador.pt/especiais/padre-antonio-vieira-um-escravagista-selectivo/>. Acesso em: 3 fevereiro


2019.
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repercussão internacional18, levantou discussões e incitou reflexões sobre o


passado luso-brasileiro.192021
Ainda que reconhecido enquanto um brilhante orador, pensador de
extrema relevância e um escritor sem igual na língua portuguesa, a questão
sobre a posição de Vieira frente aos diversos temas é sempre contestada.
E quanto à tal questão e outras mais, deve-se recorrer primeiramente,
em consonância com o oficio do historiador, a compreensão de que,
fundamentalmente, segundo Marc Bloch, a História é a “ciência que estuda os
homens no tempo”22 e, como tal, deve-se notar a indissociável relação entre
homem e tempo; ou seja, a forma de ver e agir no mundo é intimamente
relacionada ao momento histórico em que se vive. Tendo isto em mente, evita-
se o anacronismo, algo que é tido por Bloch como “entre todos os pecados, ao
olhar de uma ciência do tempo, o mais imperdoável.”23
Firmando-se nestes pressupostos, é possível uma análise adequada do
trabalho de Padre Antônio Vieira, observação esta que tende a caracterizá-lo
como um virtuoso homem em seu tempo.
Tratando de tal virtude, e considerando a relação factual entre homem e
tempo, recorramos à Ética a Nicômaco de Aristóteles, em que este concebe a
ideia de virtude enquanto um meio termo, entre a neutralidade e o radicalismo24,
Vieira certamente foi virtuoso em conceber suas ideias. Sua paixão pelos
princípios filosóficos, semelhantes aos dos teóricos da Segunda Escolástica
Ibérica, o conduziu a ser vítima de uma suspeitosa denuncia, e consequente,
processo inquisitorial.
Ainda que por fim absolvido das acusações, é manifesta a razão pela
perseguição que sofreu: o seu expresso empenho em prol da justiça. Noção de
justiça esta que fora influenciada pelo legado dos demais teóricos ibéricos,
sobretudo pelos que compunham o que pode ser estabelecido enquanto “Escola
Ibérica da Paz”, conceito cunhado pelos pesquisadores Luciano Pereña25 e

18 https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/10/internacional/1507633783_573708.html
19 MENDES, V. Consciência Negra: 'Escravidão é o assunto mais importante da história brasileira', diz
Laurentino Gomes após percorrer África para trilogia. BBC Brasil, 2018. Disponivel em:
<https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46229943>. Acesso em: 2 fevereiro 2019.
20JOSÉ, E. Antônio Vieira e o doce inferno dos negros. Carta Capital, 2017. Disponivel em:

<https://www.cartacapital.com.br/politica/antonio-vieira-e-o-doce-inferno-dos-negros/>. Acesso em: 2


fevereiro 2019.
21 MAQUES, J. P. O padre António Vieira e a escravatura dos negros. Observador, 2018. Disponivel em:

<https://observador.pt/opiniao/o-padre-antonio-vieira-e-a-escravatura-dos-negros/>. Acesso em: 3


fevereiro 2019.
22 BLOCH, M. Apologia da História ou o oficio de Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. pág. 55.
23Ibidem. p. 144.
24 “A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania,

isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado
de sabedoria prática. E é um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta; pois que,
enquanto os vícios ou vão muito longe ou ficam aquém do que é conveniente no tocante às ações e paixões,
a virtude encontra e escolhe o meio-termo.” (ARISTOTELES, 1991, p. 32)
25 25 Corpus Hispanorum de Pace, direção de Luciano Pereña, edição do Consejo Superior de

Investigaciones Científicas, 28 volumes, Madrid 1963/201 Corpus Hispanorum de Pace, direção de Luciano
Pereña, edição do Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 28 volumes, Madrid 1963/2012.
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Pedro Calafate26, sob forte influência de Francisco Suarez, notável jesuíta,


catedrático em Coimbra.27
Quanto à doutrina da Escola Ibérica da Paz, esta consistia na
reafirmação da razão enquanto critério universal e definitivo na tomada de
decisões justas (Recta Ratio28) bem como da ideia de um direito dos povos (Jus
Gentium). Ambas concepções foram tratadas por Tomas de Aquino 29, e pelos
teóricos ibéricos posteriores, de modo que se estabelece a mais fundamental
distinção do pensamento da Escola Ibérica da Paz e compõe as bases para o
direito das gentes30, e para a consolidação posterior dos direitos humanos e
internacional.
A defesa de um direito natural inerente aos homens, sob influência da
filosofia clássica, se tornou um elemento sempre presente nas teses dos mestres
da Escola Ibérica da Paz, e, por consequência, influenciou fortemente a atuação
de Padre Antônio Vieira, o que é perceptível sobretudo em seus sermões.
Considerando os sermões como verdadeiros atos educativos, pois visa
formar valores e defender uma perspectiva sobre a vida, é possível estender a
influência do pensamento ibérico junto aos povos do novo mundo, por meio de
seus teóricos, sobretudo dos que atravessaram o Atlântico. Além de Padre
Antônio Vieira, pode-se citar a título de exemplo, Frei Antônio de Montesinos,
formado em Valladolid, em 1508, no contexto da Escola Ibérica da Paz, tendo
atuado principalmente na ilha de São Domingos, sempre em defesa do direito
dos povos indígenas.
A configuração do grupo enquanto uma “Escola Ibérica da Paz” é
sustentada por Luciano Pereña31 com base na circulação de ideias entre as
universidades ibéricas de Coimbra, Évora, Alcalá de Henares, valladolid e
Salamanca, argumentando que:
Se na biblioteca universitária de Coimbra é possível encontrar
hoje, uma das coleções mais ricas dos mestres salmantinos,
também entre os fundos espanhóis, procedentes dos colégios
maiores de Salamanca, podemos encontrar as mais importantes
leituras de Coimbra. Esta comunicação constante de ideias
contribuiu para o progresso da Escola e para a consolidação da
sua unidade doutrinal. (PEREÑA, 1984)32

26 Escuela Ibérica de La Paz/Escola ibérica da Paz, Pedro Calafate, Editora da Universidad de Cantabria,
1 edição, Cantabria 2014.
27 NATÁRIO, C. Breve perspectiva sobre António Vieira à luz da sua mundividência. Revista Saberes

Interdisciplinares, São João del-Rei, n. 7, p. 37-47, 2011, p. 2.


28 Expressão usada por Cícero (De Legibus) para definir a lei, e retomada por Grócio (De iure belli ac pacis)

para afirmar o direito como “a razão, que, reta, é o único critério de verdade reservado ao homem dentro
de suas possibilidades” - OTHON SIDOU, José Maria. Dicionário Jurídico: Academia Brasileira de Letras
Jurídicas. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001. p. 723.
29 AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. v. I, parte I. 2 ed. São Paulo: Edições

Loyola, 2001. p. 1537.


30 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. The Emancipation of the Individual from His Own State – The

Historical Recovery of the Human Person as Subject of the Law of Nations, in Human Rights, Democracy
and the Rule of Law, Liber Amicorum L. Wildhaber (eds. S. Breitenmoser et alii), Zürich/Baden-Baden,
Dike/Nomos, 2007, p. 151.
31 Pesquisador pioneiro na organização e publicação dos trabalhos da “Escola Ibérica da Paz” (“Escuela

Iberica de la Paz”) e consequentemente o responsável por cunhar este termo.


32 PEREÑA, Luciano. La Escuela de Salamanca y la Duda Indiana, in La Ética en la Conquista de América,

CHP, v. XXV, Madrid., 1984, p. 313


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Os autores da Escola Ibérica da Paz, como já afirmado, eram, além de


catedráticos em Teologia nas universidades ibéricas, frades e clérigos
(dominicanos ou jesuítas), teólogos reais no “Concilio de Trento”, missionários e
abades e que possuíam em comum a ideia de que Deus não legitimaria que, em
seu nome, outros povos fossem dizimados, territórios roubados, concebendo tais
práticas como antievangélicas, contrárias, portanto, ao direito natural e divino.
Dito isto, para buscar compreender a obra de Padre Antônio Vieira, não
se pode deixar de notar a conjuntura histórica em que sua existência e atuação
se inserem. Portugal estava inserido na unidade política da União Ibérica, o que
acabou possibilitando uma flexibilização do território Brasileiro, se expandindo
mais a oeste do que estabelecia o Tratado de Tordesilhas.
Com tal situação, a interação com os povos nativos se tornou inevitável
e mais intensa, criando uma dinâmica social muito complexa em que nativos e
colonos acabavam mantendo contato e se relacionando. Tal fato demonstra a
importância da atuação dos missionários jesuítas no sentido de orientar tal
aproximação, intermediando negociações e influenciando a forma como a
relação com os nativos deveria ocorrer.
Quanto a esta questão, um tema fundamental, tratado pelos teóricos
ibéricos, e já muito discutido e polêmico, é a questão da “Bellum iustum” (Guerra
Justa), o que já se encontrava presente em Agostinho de Hipona,
fundamentando-se na ideia da “Recta Ratio” de Cícero.
Já Tomás de Aquino, concebe em sua Suma Teológica, os princípios
pelos quais se poderiam mover guerra justa (Questio XL, da Secunda
Secundae), motivos estes relacionados sempre com o objetivo do bem comum,
para ambos os lados da guerra. Como num caso hipotético em que um tirano se
encontrasse no poder oprimindo seu povo, legitimar-se-ia um ataque para depor
o mesmo, mas jamais para ocupar, saquear ou dominar o seu povo.
Como pode-se notar, a questão da guerra justa não somente diz respeito
ao motivo, mas também à proporção e forma de como ela se dá. Tal conceito é
importante ao tratar de Padre Antônio Vieira, pois este, bem como Manuel de
Nobrega,33 considerando que foram destacados defensores de uma relação mais
justa com os povos indígenas e insistentemente combateram a ideia de uma
guerra de conquista.
Retomando a trajetória de Padre Antônio Vieira, esta vinha ganhando
destaque, pela dedicação e aptidão para os estudos bem como se revelou um
exímio orador e dotado de uma capacidade sem igual para a escrita, reconhecido
pela profundidade teórica e grande oratória em seus sermões.34
Mediante uma nova invasão holandesa do nordeste do Brasil, em um de
seus sermões, clamou por intervenção divina em favor dos Portugueses.
Tal sermão foi pregado pelo eminente padre na igreja de Nossa Senhora
da Ajuda, em 1640, na Bahia. Neste “Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de

33 CALAFATE, Pedro, LOUREIRO, Silvia Maria. A Escola Peninsular da Paz: A contribuição da vertente
portuguesa em prol da construção de um novo direito das gentes para o século XXI. Revista do Instituto
Brasileiro de Direitos Humanos, Fortaleza, v. 13, p. 262-283, 2013, p. 266
34 SANTOS, B. M. D. Os Jesuítas no Maranhão e Grão-Pará Seiscentista: Uma Análise Sobre os Escritos

dos Protagonistas da Missão. Universidade Federal de Juiz de Fora Doutorado em Ciência da Religião, Juiz
de Fora, 2013, p. 85.
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Portugal contra as de Holanda”35, defende a vitória de Portugal em nome da


salvação das vidas no território em disputa, clamando por Deus para que
intervenha; inicia-se o seu sermão citando o Salmo XLIII:
“Por que você está dormindo, ó Senhor? Levanta-te, e não seja
ausente de nós para sempre. Por que você vira seu rosto e
esquece a nossa miséria e problemas? Levanta-te, Senhor,
ajuda-nos e resgata-nos por causa de seu nome.” (VIEIRA,
1959, p. 1)

E segue afirmando o seguinte:


“Com estas palavras piedosamente resolutas, mais protestando,
que orando, dá fim o Profeta Rei ao Salmo quarenta e três.
Salmo, que desde o princípio até o fim, não parece senão
cortado para os tempos e ocasião presente. O Doutor Máximo
S. Jerónimo, e depois dele os outros expositores, dizem que se
entende à letra de qualquer reino ou província católica, destruída
e assolada por inimigos da Fé. Mas entre todos os reinos do
Mundo a nenhum lhe quadra melhor que ao nosso Reino de
Portugal; e entre todas as províncias de Portugal a nenhuma
vem mais ao justo que à miserável província do Brasil. Vamos
lendo todo o Salmo, e em todas as cláusulas dele veremos
retratadas as da nossa fortuna: o que fomos e o que somos.”
(VIEIRA, 1959, p. 1)
É evidente no decorrer do texto que o sermão não é somente
endereçado e dirigido a “Deus,” mas ao povo, em uma tentativa de reanimar os
brasileiros e portugueses a resistirem com todas as forças, fazendo uso de
exemplos históricos de êxitos de Portugal; celebrando a capacidade lusitana de
atravessar os mares e a coragem de se aventurar rumo ao desconhecido, tais
vitorias cuja a fé seria o fim e o meio para tais.
O sacerdote prega o sermão no sentido de se exaltar as conquistas
portuguesas e consequentemente a estimular o sentimento patriótico dos fiéis.
Fica evidente que este, bem como outros sermões, apesar de parte de um rito
religioso são discursos que possuem também a finalidade de transmitir valores
e construir uma perspectiva dos fatos, assim sendo, uma forma de discurso
educativo.
Notável é que em seus sermões, Vieira dialoga com Deus, não falando
diretamente aos fiéis, de modo que Deus seja um intermediário em suas
mensagens, como pode-se destacar no trecho seguinte:
“Não hei-de pregar hoje ao povo, não hei-de falar com os
homens, mais alto hão-de sair as minhas palavras ou as minhas
vozes: a vosso peito divino se há-de dirigir todo o sermão”
(VIEIRA, 1959, p. 301).
Portanto, é de se observar no decorrer deste sermão, que Vieira se
utiliza das escrituras sagradas para fundamentar seus argumentos enquanto de
certo modo “advoga” em favor de Portugal e do Brasil, requerendo que Deus

35VIEIRA, A. Sermão das Armas de Portugal contra as de Holanda. In: Obras Completas do Padre António
Vieira. Porto: Lello Irmao, v. 5, 1959.
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fique do lado português e que a Holanda seja derrotada. Por meio do mesmo
discurso incitava o povo a resistir e a lutar.
Ainda em 1940, na Igreja do Colégio da Bahia, prega o “Sermão de
acção de Graças” pelas vitorias obtidas no fim daquele ano.
No ano seguinte, ocorre a restauração portuguesa, e Padre Antônio
Vieira parte para Portugal para felicitar Dom João IV pela sua ascensão ao trono,
onde defende a necessidade do reino de admitir os judeus mercadores que
vagavam pela Europa.
A partir deste momento Vieira ascende na hierarquia do poder em
Portugal, chegando, em 1646, ao cargo de embaixador. E neste mesmo ano, o
sermão de 1642 (“Sermão de Santo Antônio”) é traduzido para o flamenco, sendo
a mais antiga tradução de um texto seu.
Vieira tinha uma concepção de que os portugueses eram naturalmente
conquistadores e pregadores do evangelho. Porém, vale salientar que estava
este ligado a uma vertente filosófica, a da Segunda Escolástica Ibérica, em que
a coexistência pacifica entre os povos era um princípio em desenvolvimento.
Ainda que afirmando tal predisposição dos portugueses, jamais sustentaria a
tese de uma guerra de conquista.36
Neste período, constantemente em seus sermões, defende a causa dos
judeus, bem como o faz por outros meios, por cartas como “Proposta a El-Rei D.
João IV” de 1641 e 1643. Devido a seus intensos contatos com a comunidade
judaica, é denunciado a inquisição por um outro jesuíta, Marim Leitão em 1649.37
Apesar de tal denuncia, Vieira mantem-se em seu trabalho diplomático,
e em 1652, negocia em Amsterdã um exilio para judeus portugueses ali
refugiados, o que faz com que a inquisição tenha maior hostilidade para com ele.
É importante ressaltar que, apesar de em comparação com a inquisição
espanhola, os tribunais do santo oficio em Portugal tiveram uma grande atuação,
sobretudo na perseguição aos judeus e cristãos novos.38
Em termos educativos, Padre Antônio Vieira assume de forma vigorosa
a defesa dos princípios da Segunda Escolástica Ibérica, e a faz, especialmente,
por meio de seus sermões. Vieira assume uma posição pública e enfática pelo
fim da perseguição aos judeus e cristãos novos e contra os desejos
escravagistas.
Talvez seja uma de suas mais belas obras o “Sermão de Santo António
aos Peixes”, pregado em São Luís do Maranhão, em 13 de junho de 1654, após
atritos ocorridos entre colonos e jesuítas acerca da escravidão. Trata-se de um
verdadeiro manifesto à justiça, utilizando-se de sátira e metáfora, figuras de
linguagem muito bem dominadas por Vieira.
Inicialmente, o brilhante Padre utiliza-se do “conceito predicável”39, um
instrumento vastamente utilizado por vieira e com inédita habilidade,

36 VIEIRA, A. Sermão da Primeira Dominga de Quaresma. Porto: Lello & Irmão, v. III, 1945. p. 24.
37 COELHO, A. M. Razão de Estado e o Pensamento Político de Antônio Vieira: O Empenho de Antônio
Vieira. Lua Nova, São Paulo, n. 59, 2003. p. 116.
38 KAYSERLING, M. História dos Judeus em Portugal. São Paulo: Pioneira, 1971. p. 72.
39 conceito predicável in Artigos de apoio Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2019. Disponível na Internet:

https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$conceito-predicavel Acessado em 05 de Fevereiro de 2019.


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relacionando os pregadores com o “sal da terra”, que preserva os alimentos, e


que a corrupção na terra seria, portanto, resultado da falha dos pregadores, ou
dos ouvintes que resistiam a receber as mensagens dos pregadores do
evangelho.
Em uma parte final do sermão, dialoga com os peixes, como que
lamentando o fato de que os homens se portarem de forma insensata,
“devorando” uns aos outros:
Olhai como estranha isto Santo Agostinho: Homines pravis,
praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut pisces invicem se
devorantes: «Os homens, com as suas más e perversas cobiças,
vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros». Tão
alheia coisa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que,
sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da
mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer!
Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a
fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que
prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é,
quero que o vejais nos homens. (VIEIRA, 1996, p. 136)

Demonstrando uma perspectiva crítica ao estilo de vida dos colonos: “Já


naquele tempo, os oradores levantavam a sua voz contra os excessos da moda
e contra os exploradores do trabalho alheio”. (VIEIRA, 1996, p. 91)
E, de forma mais veemente, alega falta de uso da razão na convivência
humana, naturalmente a afirmação se refere aos moradores daquela região:

Quem olhasse neste passo para o mar e para a terra, e visse na


terra os homens tão furiosos e obstinados, e no mar os peixes
tão quietos e tão devotos, que havia de dizer? Poderia cuidar
que os peixes irracionais se tinham convertido em homens, e os
homens não em peixes, mas em feras. Aos homens deu Deus o
uso de razão, e não aos peixes, mas neste caso os homens
tinham a razão sem o uso, e os peixes o uso sem a razão
(VIEIRA, 1996, p. 126)
Durante este sermão, Padre Antônio Vieira repreende os peixes como
uma metáfora aos homens, criticando a vaidade, a ostentação, ambição e outros
valores que destoam dos princípios do cristianismo.
É perceptível a decepção de Vieira neste sermão para com os seus fiéis
e com a sociedade portuguesa em geral. Isto considerando que, além de
perseguido pela inquisição, a qual se estende de forma geral em torno dos
jesuítas, pela metrópole, constatou que os ensinamentos educativos, presentes
em seus sermões, vinham sendo rejeitados na colônia.
Vejo peixes, que pelo conhecimento que tendes das terras em
que batem os vossos mares, me estais respondendo, e,
convindo, que também nelas há falsidades, enganos,
fingimentos, embustes, ciladas, e muito maiores e mais
perniciosas traições (VIEIRA, 1998, p. 148)
75

Notável é a coragem e liberdade com que fala Antônio Vieira,


considerando a circunstância complexa e hostil que se formava em torno dele,
seja pela inquisição ou pela população local incomodada pelas suas críticas à
escravidão.
No ano seguinte, em 1655, antes de retornar ao Maranhão, prega na
Capela Real, em Lisboa, durante a quaresma o “Sermão da Sexagésima”, em
que relaciona a prática de pregar com a de semear, reforçando a noção
educativa dos seus sermões.
Evocando a passagem bíblica relacionada ao então momento do
calendário litúrgico: “A semente é a palavra de Deus” (Lucas 8:11). Vieira
transforma esta afirmação em um questionamento: “Se a palavra de Deus é tão
eficaz e tão poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus?”
(VIEIRA, 1965, p. 6).
Com toda a habilidade oratorial e argumentativa de que era dotado,
Padre Antônio Vieira, de forma sutil, critica os outros pregadores
contemporâneos, pela ineficácia, ou por ter como objetivo agradar aos homens
e não a Deus.
Ao fim da Quaresma profere o “Sermão do Bom Ladrão” em que externa
ao povo português como são desproporcionais as reações aos pequenos furtos
com os grandes, como a tomada de territórios:
Quantas vezes se viu Roma ir a enforcar um ladrão, por ter
furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um
cônsul, ou ditador, por ter roubado uma província (VIEIRA, 2008,
p. 5)
Novamente é evidente a coragem de Vieira de desafiar os poderosos da
Europa em nome de seus princípios e valores.
Quer dizer: se o alheio, que se tomou ou retém, se pode restituir,
e não se restitui, a penitência deste e dos outros pecados não é
verdadeira penitência, senão simulada e fingida, porque se não
perdoa o pecado sem se restituir o roubado, quando quem o
roubou tem possibilidade de o restituir (VIEIRA, 2008, p. 2)
Vieira fala em “restituir” os furtos, algo que dialoga perfeitamente com a
concepção de Martin de Ledesma que afirma que: “Se alguém causa dano ao
direito de domínio do próximo, seu legítimo senhor ou proprietário, comete furto,
ou rapina e está obrigado a restituir.”40
Em diversos momentos percebe-se total sintonia dos sermões e escritos
de Padre Antônio Vieira com a doutrina da Escola Ibérica da Paz. Um elemento
central que pode ser percebido nos diversos trabalhos do padre filosofo é a ideia
da “doutrina democrática”, defendida de modo veemente por Francisco Suarez
em Coimbra41.

40 LEDESMA, Martín de, 1550, Secunda Quartae, Coimbra. Nova edição em Pedro Calafate, 2015, A Escola Ibérica
da Paz nas Universidades de Coimbra e Évora, séculos XVI e XVII, tradução e seleção de textos de Leonel Ribeiro dos
Santos Coimbra, Almedina, vol. II, p. 193 a 201, p. 223. (Questão 62 e os artigos 1, 2, 7 e 8 da questão 66, na segunda
seção da Segunda Parte da Suma Teológica.)
41 “Porque sendo regida diretamente por Deus mediante o direito natural, é livre e dona de si. Esta liberdade não exclui

o poder de governar-se a si mesma e de mandar em seus membros, senão que a inclui, mas exclui a sujeição [do Estado]
a outro homem enquanto dependa apenas do direito natural. Pois a nenhum homem Deus outorgou imediatamente
76

Tal perspectiva é percebida na conjuntura histórica em que se inseria


Padre Antônio Vieira, com uma noção predominantemente eurocêntrica,
expansionista, onde as estruturas sociais giravam em torno do poder do
imperador e do papa. Ainda assim, Vieira foi capaz de conceber ideias e
disseminar valores educativos em seus sermões que não só eram
revolucionários para o seu tempo bem como desafiavam os que se encontravam
nas mais altas escalas de poder.
Em consequência, por disseminar seus ideais de liberdade e justiça, em
1663, é convocado a dirigir à Coimbra para ser interrogado pela Inquisição, onde
seria sentenciado ao silencio e a não mais disseminar seus princípios e valores
oralmente ou por escrito. Fora declarado culpado de sua maior virtude: a
habilidade de, por meio da oratória, educar os fiéis segundo os princípios do
cristianismo.
Em 1668, devido a uma súplica da Companhia de Jesus, dirigida ao
Santo Ofício, Padre Antônio Vieira foi perdoado de seus “crimes”. Foi para Roma,
com a autorização do rei, buscando a revisão de sua sentença. Somente 6 anos
depois recebe do Papa Clemente X um documento o absolvendo.
Retomando a questão inicial, acerca da postura de Vieira frente aos
problemas de seu tempo, deve-se recorrer a duas proposições. A primeira, de
que este pensador está inserido dentro de um momento histórico e fortemente
influenciado por ele. A segunda, de que seus sermões têm como finalidade ir
além de compor parte do rito católico, mas consolidar enquanto método e
processo educativos, de transmissão de valores e de formação de perspectiva
acerca da realidade.
Com isto em mente, nota-se que a influência sofrida por Vieira pela
conjuntura histórica em que vive tem dois aspectos fundamentais. O primeiro diz
respeito ao sentido de lhe ter sido transmitido, pela leitura, pela educação e
tradição valores que fazem parte da concepção acerca da noção de justiça
presente na Segunda Escolástica Ibérica da Paz. O segundo aspecto diz respeito
à influência sofrida por ele através do momento histórico em que vive. Tal
influência que teria gerado em si uma limitação, a qual frequentemente seu nome
é evocado, sobre sua indiferença ou apoio a escravidão negra.42
É relevante tratar deste tema sob a perspectiva de que, como já
afirmado, o sermão é um processo educativo, e considerado, muitas vezes
enquanto, uma educação com finalidade de garantir a submissão dos escravos. 43
Recorrendo à doutrina da Escola Ibérica da Paz, onde Vieira é destacado
integrante, é perceptível um interesse significativo no tema da “escravidão”,
tendo sido discutido nos trabalhos de Luís de Molina. Este condiciona a
escravidão a situações de “guerra justa”44 bem como Fernão Rebelo que afirma

semelhante poder, enquanto não seja trasladado a um indivíduo por meio de uma instituição e eleição humana.”
(SUAREZ, 1965)
42 SCHWARTZ, S. Segredos Internos: Engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Companhia das Letras,

2005. p. 215.
43 MENEZES, S. L. Escravidão e Educação nos escritos de Antônio Vieira e Jorge Benci. Diálogos, Maringá, v. 10, n.

3, p. 215-228, 2006.
44 De Iustitia et Iure, tomo I, Liv. I, disp. XXXII, Cuenca, 1593, Luis de Molina.
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que “não se justifica o mal para obter o bem”45 pois “todos os homens foram
criados livres por Deus”46.
Assim sendo, por mais que Vieira tenha sido influenciado pela estrutura
socioeconômica naquele momento, e pela quase total inexistência de noção
abolicionista em todo o mundo, inclusive na África e entre os nativos do Brasil,
este também foi, naturalmente, influenciado pelas ideias dos teóricos ibéricos.
Por uma perspectiva logica, sendo Vieira parte desta escola de
pensamento tende-se a desacreditar a concepção de que ele praticava uma
“pedagogia da escravidão”47 em seus Sermões. Tal afirmação se fundamenta em
grande parte pelas “contradições” observáveis no discurso de Vieira, embora isto
por si só não possa sustentar o descrédito a sua postura antagônica à
escravidão. Tendo em vista que, como qualquer sujeito na história, se comporta
de acordo com a circunstância em que vive, podendo adotar posturas adequadas
a cada uma delas, é algo natural, que não o torna equivocado ou hipócrita.
Vieira, evidentemente em seus Sermões, do ponto de vista educativo,
pregava mudanças profundas nas mentalidades, considerando a liberdade
enquanto o maior valor. Neste sentido defendeu os indígenas, os judeus,
cristãos-novos, insistindo na necessidade de mudança e atacando as injustiças
(NATÁRIO, 2011).
Destacado orador, algo que aparenta ser um consenso entre os
estudiosos, Vieira pode exercer um processo educativo eficiente, graças a seu
conhecimento de várias línguas, e pelo contato com os valores que ecoavam
naquele tempo dentre os catedráticos e clérigos ibéricos. Transmitiu esta
educação aos seus fiéis ouvintes, agradando os que estavam aptos a ouvir
(Como demonstrado no “Sermão de santo Antônio aos peixes”), e gerando
desconforto nos que exerciam o poder pela injustiça, o que ocasionou a
perseguição que sofreu e pela inquisição. Afirma Vieira:
Se quando os ouvintes percebem os nossos conceitos, têm
diante dos olhos as nossas manchas, como hão de conceber
virtudes? Se a minha vida é apologia contra a minha doutrina, se
as minhas palavras vão já refutadas nas minhas obras, se uma
coisa é o semeador e outra o que semeia, como há de fazer
fruto? (VIEIRA, 1945. p. 15)
Para vieira, os princípios educam, sendo assim, torna-se possível formar
valores e transformar o conjunto da sociedade a partir da exteriorização da
doutrina. E para tal deve a pregação ser destinada não somente a Deus, mas de
modo que agrade e transforme o homem.

Estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o


estilo da pregação; muito distinto e muito claro. E nem por isso
temais que pareça o estilo mais baixo; as estrelas são muito
distintas e muito claras, e altíssimas. O estilo pode ser muito
claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem
e tão alto que tenham muito que entender os que sabem. O
rústico acha documentos nas estrelas para sua lavoura e o

45 A Escola Ibérica da Paz nas Universidades de Coimbra e Évora (Século XVI) Volume I, direção Pedro Calafate,
Almedina, Lisboa, 2015. Pág. 21.
46 Ibidem.
47 JR., A. F. A pedagogia da escravidão nos Sermões. Estudos, Brasilia, v. 84. 2003. p. 43-53
78

mareante para sua navegação e o matemático para as suas


observações e para os seus juízos. De maneira que o rústico e
o mareante, que não sabem ler nem escrever, entendem as
estrelas; e o matemático, que tem lido quanto escreveram, não
alcança a entender quanto nelas há. Tal pode ser o sermão: –
estrelas que todos vêem e muito poucos as medem (VIEIRA,
1945, p. 18)

Portanto, propõe Vieira que o discurso do pregador seja “claro”, devendo


haver didática, de modo que a variedade de elementos no discurso não confunda
o ouvinte, mas que o esclareça e o eduque. Conclui este raciocínio:
Se o lavrador semeara primeiro trigo, e sobre trigo semeara
centeio, e sobre o centeio semeara milho grosso e miúdo, e
sobre o milho semeara cevada, que haveria de nascer? – Uma
mata brava, uma confusão verde. Eis que acontece aos sermões
deste gênero. Como semeiam tanta variedade, não podem
colher cousa certa. Quem semeia misturas, mal pode colher trigo
(VIEIRA, 1945. p. 19)
Vieira foi um exímio pregador e simultaneamente um excepcional
propagador dos valores fundamentais do pensamento ibérico aquele tempo,
portanto, um educador distinto na História humana.
É justo destacar o que talvez seja a mais marcante passagem dos
sermões de Vieira, e que, para a História luso-brasileira e ainda para os desafios
da contemporaneidade são de extrema relevância:
Assim como o espanhol ou genovês cativo em Argel é, contudo,
vassalo do seu rei e da sua republica, assim o não deixa de ser
o índio, posto que forjado e cativo, como membro que é do corpo
e cabeça política da sua nação, importando igualmente para a
soberania e liberdade, tanto a coroa de penas como a de ouro,
e tanto o arco como o cetro. (VIEIRA, 1694)48

Vieira em seus sermões fala em “semear”. Deve-se notar, portanto que


o próprio foi um exímio semeador de valores. Padre Antônio Vieira gera ainda
hoje grande repercussão, portanto é previsível que as palavras do ilustre padre
filosofo há de ecoar por muito tempo através da História. Morreu como alguém
que, independente de ponto de vista, não simplesmente passou pela história,
mas permaneceu e permanecerá nela! Por fim, com a palavra, Padre Antônio
Vieira:
Nascer pequeno e morrer grande, é chegar a ser homem. Por
isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas
para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer toda a
terra. Para nascer, Portugal: para morrer, o mundo49 (VIEIRA,
1998)

48 VIEIRA, Antônio, “Voto sobre as dúvidas dos moradores de São Paulo acerca da administração dos
índios” (1694), in Escritos sobre os Índios, coord. Ricardo Ventura, Obra Completa, dir. José Eduardo
Franco e Pedro Calafate, Lisboa, Círculo de leitores, t. IV, vol. III, 2014, p 276-286.
49 VIEIRA, A. Sermão de Santo Antônio. Lisboa: Presença, 1998, p.64.
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Abstract: By means of the thesis that the "Sermons" have an educational purpose, it is
sought in this work to establish the relation between the discourse of Father Antonio
Vieira and the principles of the "Iberian School of Peace", the professors of the Iberian
universities, Jesuit missionaries and others that were compatible with the doctrine of the
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second Iberian scholasticism. A doctrinal unit that is evidenced by the literary collection
of the universities in question, and the presence of books of other institutions of the
peninsula, which demonstrates to dynamic of exchange of knowledge and ideas among
the Iberian masters. In Vieira's ideas it is possible to perceive strongly similar elements
to what the Jesuit Francisco Suarez, to professor in Coimbra, theorized. At first, it seeks
to highlight the doctrine of Iberian theology at that time and historically insert Vieira within
this context. Presenting some of his most remarkable sermons is evidence of his interest
and ability to convey values and shape a new mentality for his faithful listeners.
Considering the dispute that exists around the definition of what Father Antônio Vieira
means for Luso-Brazilian history, it is sought to use a historiographic perspective that
considers him as a man inserted in a society in a certain time and space, which
consequently influences in the their way of seeing and dealing with the world its relacted
with this condition. From this observation one can seek to understand the dimension of
Vieira's work and his position as an educator.

Keywords: Iberian History, Iberian Philosophy, Luso-Brazilian History.

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