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3.3.1.

2 – Efeitos da concentração/ dispersão


A evolução da urbanização no sentido da litoralização do povoamento traduziu-se no
crescimento das grandes cidades em detrimento das de menor dimensão, nomeadamente nas
áreas do interior. Com a litoralização, as atividades económicas têm-se concentrado cada vez
mais na faixa litoral, especialmente nas principais cidades.
Economias de aglomeração
As áreas urbanas atraem as atividades económicas, e estas, por sua vez, contribuem para a
expansão das áreas urbanas. As vantagens das grandes concentrações urbanas advêm do facto
destas funcionarem como economias de algomeração – a população e as várias empresas
utilizam as mesmas infraestruturas de transporte, comunicação, distribuição de água, energia,
etc, para além de beneficiarem das respetivas relações de complementaridade. Aplica-se aqui
o princípio das economias de escala – racionalizar os investimentos de forma a obter o menor
custo unitário.
Deseconomias de aglomeração
Os problemas resultantes da excessiva aglomeração de população e atividades refletem-se no
crescimento muito acelerado das cidades, que as autoridades locais não conseguem
controlar, acabando a evolução das infraestruturas e dos equipamentos por se revelar
insuficiente para satisfazer as necessidades da população e das empresas. Surge então a
necessidade de melhorar as infraestruturas, os equipamentos e os serviços, para responder às
novas necessidades.
As empresas , ao localizarem-se próximas umas das outras, beneficiam de:

 uma maior especialização, o que se traduz em maior eficiência;


 disponibilidade de mão de obra qualificada e diversificada para cada tipo de atividade;
 uma maior possibilidade de acesso privilegiado a matérias-primas.
Quando as desvantagens da concentração se tornam superiores às vantagens, gera-se uma
deseconomia de aglomeração. para se restabelecer o equilíbrio é necessário criar novas
infrastruturas e equipamentos, o que obriga a acréscimo nos investimentos, gerando-se por
vezes uma deseconomia de escala - os custos da concentração passam a ser superiores aos
seus benefícios. Os efeitos da deseconomia de aglomeração verificam-se em muitos centros
urbanos do litoral e poderão ser minimizados com o desenvolvimento de outras aglomerações
urbanas não congestionadas.
Consequências da concentração urbana
A procura de economias de algomeração levou a um processo de urbanização que se traduziu
num padrão muito difuso, com fracas acessibilidades. O resultado foi o desenvolvimento de
uma rede urbana macrocéfala. Este padrão tem um conjunto de consequências, que se
transformaram em deseconomias de algomeração:

 A redução do nível de serviço às populações e atividades;


 A maior dificuldade na circulação da informação;
 A inexestência de alternativas de localizaçãorelativamente às áreas de maior
concentração demográfica e populacional;
 A difícil integraçãodas cidades portuguesas na rede urbana europeia;
 A perda de competitividade económica no quadro internacional;
 O agravamento do congestionamento das áreas metropolitanas.

3.3.2 – A reorganização da rede urbana


3.3.2.1 – O papel das cidades médias
Para maximizar os benefícios das economias de aglomeração e evitar situação de
deseconomia, a principal aposta tem sido o desnvolvimento urbano no sentido de um sistema
mais policêntrico, assente num maior número de cidades de média dimensão, em detrimento
do sistema monocêntrico. A forte concentração do sistema urbano em torno das áreas
metropolitanas de Lisboa e Porto e a escassez de centros intermédios obrigam a repensar as
estratégias de ordenamento do território com vista a um desenvolvimento mais equilibrado.
As cidades de menor dimensão têm surgido como alternativa às grandes áreas urbanas para a
implatação de atividades económicas e de modo a tornarem-se mais atrativas à fixação da
população. Apresentam como grandes vantagens uma melhor qualidade de vida assente na
maior mobilidade, no menor preço de habitação, na vida cultural e social, na melhor
qualidade ambiental e na maior segurança.
Os desequilíbrios do sistema urbano têm levado à necessidade de se reorganizar a rede
urbana, por meio da política de ordenamento do território, com medidas que podem passar
pela promoção:

 Da desconcentraçãodas áreas urbanas do litoral;


 Da fixação em centros urbanos mais pequenos e com potencial de crescimento;
 Das acessibilidades entre as várias cidades da rede urbana portuguesa e os grandes
eixos de circulação que ligam às principais cidades europeias;
 Da estruturação de redes de cidades a partir da existêcia de clusters de cidades médias.
A política de cidades
A atual política de ordenamento das cidades (Polis XXI) engloba instrumentos que se destinam
à melhoria da competitividade e inovação das redes urbanas (RUCI – Redes Urbanas para a
Competitividade e Inovação) e que se destinam aos Equipamentos Estruturantes do Sistema
Urbano Nacional (EESUN).
As RUCI aplicam-se às cidades com mais de 20 mil habitantes. Os seus objetivos são orientados
para a inovação e competitividade das cidades a nível nacional e internacional. Para tal,
procura-se reforçar as funções de nível superior, qualificando as infraestruturas tecnológicas e
desenvolvendo os fatores de atração de atividades inovadoras e competitivas. Este programa
reforça também o estímulo à cooperação interurbana para a valorização dos recursos,
potencialidades e conhecimento; e a promoção e inserção da cidade em redes, afirmando a
sua imagem internacionalmente.
Por sua vez, os programas EESUN abrangem as NUT II Norte, Centro e Alentejo, e as suas
operações são aplicáveis a cidades classificadas como “ Centros Urbanos Regionais”. Nos seus
objetivos estão presentes as ideias da coesão territorial através do desenvolvimento
policêntrico dos territórios, do reforço da competitividade territorial e da criação de novas
centralidades especializadas, com base em equipamentos de elevada raridade ou grande área
de influência, que ultrapasse o âmbito sub-regional.
3.3.2.2 – A complementariedade cidade-campo
Um maior equilíbrio territorial exige a reorganização e o desenvolvimento de uma rede
urbana policêntrica e equilibrada, em que exista articulação e complementaridade funcional.
O desenvolvimento equilibrado do território nacional supõe a existência de relações de
complementaridade entre as áreas urbanas e as áreas rurais e, naturalmente, a conceção e
implementação de planos favoráveis ao desenvolvimento do interior, uma vez que grande
parcela do território nacional encontra-se em manifesto declínio há já algumas décadas, em
resultado de um processo de despovoamento a que vulgarmente se tem chamado de
desertificação.
O desenvolvimento das áreas rurais é considerado de grande importância na organização
territorial do espaço da União Europeia, nomeadamente na articulação com o crescimento
urbano, privilegiando os aspetos económicos, os equipamentos e infraestruturas e o acesso à
informação.
Durante muito tempo, o desenvolvimento rural foi, em larga medida, condicionado pelas
políticas e estratégias definidas para o setor agrícola. Na atualidade, é entendido como
fundamental na reorganização das novas relações cidade-campo, reforçando a solidariedade
entre uma cidade e as sedes de concelho e os espaços rurais vizinhos com os quais mantenha
relações fortes de proximidade. A cidade, ao nível regional, é o espaço capaz de reunir o
conjunto de fatores que podem fixar a população e de ser, ao mesmo tempo, o motor da
dinamização do desenvolvimento regional. Por sua vez, às áreas rurais são dadas outras
funções além da agrícola, que tradicionalmente as caracterizam, nomeadamente as que se
prendem com o parimónio natural e cultural.
A VALORIZAÇÃO DAS ÁREAS RURAIS

O desenvolvimento das áreas rurais depende em muito do desenvolvimento das cidades


existentes na região. Nas áreas rurais localizadas no interior do país, com menor densidade
populacional, o abandono da população conduziu a degradação da paisagem agrária e à
diminuição dos serviços oferecidos às populações. As parcerias entre as cidades e o mundo
rural, visando a renovação económica e social, têm apostado na valorização do respetivo
património natural e cultural, por meio do fomento do turismo e do lazer, sendo a cidade e o
centro polarizador desta dinâmica.
Nas áreas do litoral, mais densamente povoadas, onde existe uma maior interligação e um
cruzamento mais intenso das áreas rurais centram-se principalmente na pressão da
urbanização a que estão sujeitas. Assim, a concentração de população origina: a perda das
características rurais dos lugares, o desaparecimento da paisagem rural, a redução da
exploração florestal e da agricultura extensiva, a poluição das águas e a contaminação dos
solos.
A parceria entre as áreas urbanas e as áreas rurais (parceria urbano-rural) procura,
frequentemente, estebelecer formas de complementaridade entre ambas, aumentando a
interação espacial, o que permite aos habitantes das áreas rurais beneficiar da oferta de
serviços da cidade, enquanto os habitantes da cidade podem, por sua vez, desfrutar do
património paisagístico e natural, para o lazer e repouso.
3.3.3 – O papel das redes de transporte
No sentido de um maior aprofundamento das relações entre as áreas urbanas e as rurais tem
sido dado um papel importante ao investimento em equipamentos e infraestruturação básica
do território, possibilitando o acesso da população a:

 rede telefónica;
 serviços de correio;
 ligação à sede de concelho por transporte público;
 serviços bancários e de seguros;
 serviços de apoio sociocultural.
O investimento nas redes de transportes rodoviários e ferroviários tem contribuído de forma
decisiva para ultrapassar desfasamentos das redes existentes perante as novas necessidades
da população, reduzindo os tempos de deslocação, aumentando o conforto e permitindo uma
organização do território mais equilibrada, que promova a desconcentração e o
descongestionamento urbano do litoral do país e dê maior importância às cidades de pequena
e média dimensão.
Se, por um lado, as redes de transporte principais possibilitam a estruturação do território e a
sua ligação ao resto da Europa e ao Mundo, por outro lado,a maior complementariedade entre
as áreas rurais e as áreas urbanas conduziu à necessidade de reforço de redes de transporte
secundárias, em conexão com as anteriores, e ao desenvolvimento dos sistemas de
transportes regionais mais eficazes.
O crescimento da mobilidade e a multiplicação dos equipamentos têm levado a uma menor
oposição entre a cidade e o campo. A elevação do nível de vida, a preocupação acrescida com
a higiene, a ampla difusão das técnicas e a instalação de população urbana em muitas aldeias,
procurando conjugar as vantagens da maior aproximidade da natureza com as vantagens da
cidade, proporcionaram progressivamente ao mundo rural as mesmas redes de equipamentos
coletivos que já beneficiam as cidades: a distribuição de água generalizou-se, assim como a de
eletricidade ou a rede de saneamento. Este facto tornou-se importante, particularmente nas
aldeias em que a proximidade de vias rápidas lhes permite ligar-se facilmente às cidades para
as quais desenvolvem migrações diárias.
A composição dos espaços rurais tem-se modificado de forma significativa. Na atualidade, o
facto de se viver numa aldeia não obriga a ter um modo de vida diferente daquele que se tem
numa cidade. As áreas rurais deixam, assim, de ser áreas êxodo de população e passam a
participar num espaço regional de mobilidade no qual o seu papel se vai transformando. Esta
transformação reflete-se, por exemplo, no tipo de habitações que vão sendo construídas de
novo, bem como nas antigas que são o objeto de reconstrução. Em ambos os casos é notória a
preocupação com a melhoria do conforto. Outro exemplo desta transformação é a cada vez
mais frequente adaptação do automóvel as zonas rurais.
Não obstante as transformações que vão ocorrendo nas áreas rurais, as mesmas não impedem
que subsistam diferenças entre a aldeia e a cidade.

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