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O tamanho demográfico e econômico da Rússia

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

A Rússia é o maior país do mundo em termos geográficos, com 17,1 milhões de km 2, mais do
dobro da área do Brasil. Também é uma potência militar. Porém, tem uma dimensão bem
menor em termos demográficos e econômicos.

O gráfico abaixo, da Divisão de População da ONU (projeções de 2019), mostra que a


população da Rússia já vem caindo desde 1993, quando atingiu o pico populacional de 148,4
milhões de habitantes. Em 2020, a população russa era de 145,9 de habitantes, representando
uma queda de cerca de 3 milhões de pessoas entre 1993 e 2020. Para 2050 as projeções
(realizadas antes da pandemia) apontavam para uma população de cerca de 135 milhões e
para 2100, cerca de 126 milhões de habitantes. Nota-se que a população russa em 1950 era de
103 milhões, quase o dobro da população brasileira da época.

A pirâmide por sexo e idade da Rússia de 1950 mostra de maneira clara o impacto das duas
grandes Guerras Mundiais. O número de homens de 30 anos e mais é bem menor do que o
número de mulheres, refletindo a sobremortalidade masculina que ocorreram nas duas
guerras. O dente apresentado no grupo etário 30-35 anos reflete a queda da natalidade que
ocorreu durante a 1ª Guerra Mundial. A redução do tamanho do grupo 5-9 anos reflete a
redução da natalidade durante a 2ª Guerra Mundial. O aumento relativo do grupo 0-4 anos
reflete uma certa recuperação da natalidade no pós guerra (1946-50).

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Já a pirâmide de sexo e idade de 2020, mostra que houve uma grande redução da natalidade
na década de 1990, logo após o fim da União Soviética. Mas nos anos 2000 houve uma certa
recuperação das taxas de fecundidade e houve um crescimento dos grupos etários mais
jovens. Mas a natalidade deve cair na década de 2020-30 devido ao efeito da pandemia, da
guerra da Ucrânia e pela diminuição da proporção de mulheres no período reprodutivo.

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O gráfico abaixo, com base nos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), mostra que o
Produto Interno Bruto (PIB) da Rússia era de apenas US$ 92 bilhões em 1992 (logo depois do
fim da União Soviética), enquanto o PIB brasileiro era de US$ 382 bilhões e da Coreia do Sul de
US$ 355 bilhões. Em 2022, a Coreia do Sul passou a ter o maior PIB, com US$ 1,9 trilhão, maior
do que o PIB da Rússia, com US$ 1,8 trilhão e do Brasil com US$ 1,6 trilhão. Estes três países
possuem um PIB de cerca de 2% do PIB mundial.

Considerando a renda per capita, em preços constantes em paridade de poder de compra


(ppp), os três países possuíam renda per capita abaixo de US$ 20 mil em 1992. Mas, em 2022,
a Renda per capita da Coreia atingiu US$ 45 mil dólares, a Rússia US$ 28,5 mil e o Brasil,
somente US$ 15 mil. Assim, o Brasil é classificado como renda média baixa, a Rússia como
renda média alta e a Coreia do Sul como renda alta (estando no grupo dos países ricos). O
Brasil tem renda per capita abaixo da média mundial e a Rússia pouco acima. A Coreia do Sul
bem acima.

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Os dados acima mostram que a Rússia, a despeito de ter o território mais extenso do mundo,
tem uma população que é menos de 2% da população mundial e um PIB que é cerca de 2% da
economia global. Desta forma, o poderio militar russo vai muito além do peso demográfico e
econômico do país. É claro que a Rússia tem um peso demográfico, econômico e militar muito
maior do que a Ucrânia. Mas uma ação bélica da dimensão atual deve apresentar um algo
custo para a Rússia. O livro “Ascensão e Queda das Grandes Potências” de Paul Kennedy
mostra que a disjunção entre poderio militar e poderio econômico leva ao declínio dos
impérios.

As projeções econômicas indicam uma queda muito grande do PIB da Rússia em 2022 em
função da guerra e em função das sanções econômicas. Mas toda a fraqueza econômica e
demográfica da Rússia não parece abalar Vladimir Putin que deu um “ultimato” não só para a
Ucrânia não entrar na OTAN, mas apresentou a exigência de revisão das “perdas” que lhe
foram impostas depois da dissolução da União Soviética. A URSS tinha 5 milhões de
quilômetros quadrados e 140 milhões de habitantes a mais do que a Rússia atual. Ou seja, a
URSS tinha, em 1989, cerca de 6% da população mundial e mais de 10% do PIB global.

E como vimos, a Rússia atual tem menos de 2% da população mundial e cerca de 2% do PIB
global. Os gastos militares da Rússia em 2020 foram de US$ 67 bilhões, enquanto os gastos dos
EUA foram de US$ 777 bilhões. Portanto, Putin não tem condições de reestabelecer o poderio
da URSS e nem de se tornar um novo Stalin. No máximo poderá invadir alguns países vizinhos e
provocar a morte e o deslocamento de milhões de pessoas. Além de degradar o meio
ambiente.

O melhor caminho para a Rússia seria aprofundar uma aliança pacífica com a China e o mundo.
A “declaração conjunta” da Russa e da China, no dia 7 de fevereiro de 2022, propondo uma
“refundação” da ordem mundial estabelecida depois da Segunda Guerra Mundial poderia ser
levada à frente em um planejamento de longo prazo para “vencer” o Ocidente pela via
pacífica, avançar na democracia, na concorrência comercial e no avanço científico e
tecnológico. O primeiro passo para superar a atual governança global e o sistema interestatal
criado, fundamentalmente, pelo Ocidente depois da Segunda Guerra é promover uma
desmilitarização do mundo e redirecionar os gastos militares e de guerra para a área social e
ambiental.

Referências:
ALVES, JED. O Brasil é o país do BRICS mais afetado pela pandemia, Ecodebate, 25/01/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/01/25/o-brasil-e-o-pais-do-brics-mais-afetado-pela-
pandemia/
ALVES, JED. A população da Rússia em 2100, Ecodebate, 05/10/2012
http://www.ecodebate.com.br/2012/10/05/a-populacao-da-russia-em-2100-artigo-de-jose-
eustaquio-diniz-alves/

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