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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CENTRO TECNOLÓGICO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

DISCIPLINA: INSTALAÇÕES ELÉTRICAS PREDIAIS


Prof.a: CARMINDA CÉLIA MOURA

CAPÍTULO 4- ATERRAMENTO

4.1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Aterramento é a ligação intencional de um sistema ou de um


equipamento a terra visando:

- proporcionar um meio favorável e seguro ao percurso de correntes


elétricas de falta e de fuga, protegendo os usuários contra contatos
com partes metálicas da instalação energizadas acidentalmente.

- garantir a segurança de atuação da proteção, através de uma maior


sensibilidade que proporcione uma rápida isolação da falta à terra.

- proteger as instalações contra descargas atmosféricas

Além da baixíssima resistência elétrica, todo sistema de


aterramento deve ser dimensionado para resistir às solicitações
térmicas, termomecânicas e eletromecânicas provenientes da passagem
das correntes de falta e deve ainda ser adequadamente robusto, ou
possuir proteção mecânica apropriada, para fazer face às condições de
influências externas (temperatura, umidade, corrosão, vibrações).

4.1.1-ALGUMAS DEFINIÇÕES

1- Parte viva de um componente ou de uma instalação: é a parte


condutora que apresenta diferença de potencial em relação a terra.

2- Massa de um componente ou de uma instalação: é a parte condutora


que pode se tornar viva em condições de faltas ou defeitos (Ex.:
condutos metálicos; carcaças metálicas dos motores; caixas dos
transformadores).
3- Elemento condutor estranho à instalação: elemento que, mesmo não
fazendo parte da instalação elétrica, pode, em caso de defeito,
introduzir na mesma um potencial (geralmente o da terra).
4- Ligação equipotencial: destina-se a colocar no mesmo potencial as
massas e os elementos condutores estranhos à instalação.

5- Choque elétrico: mal estar provocado pela passagem de corrente


elétrica pelo corpo de uma pessoa ou de um animal.

- Choque elétrico provocado por contato direto: quando existe


contato direto com partes vivas sob tensão do equipamento ou
sistema.

- Choque elétrico provocado por contato indireto: quando existe


contato com a massa do equipamento, que ficou sob tensão
devido a uma falha de isolamento.

4.1.2- TIPOS DE ATERRAMENTO

 Aterramento funcional: ligação a terra de um dos condutores do


sistema - geralmente o neutro - com o objetivo de garantir
funcionamento correto dos equipamentos ou para permitir o
funcionamento seguro e confiável da instalação.

 Aterramento de proteção: ligação das massas (carcaças metálicas


de quadros de distribuição, transformadores, motores e eletrodutos
metálicos) e dos elementos condutores estranhos à instalação
(estrutura do prédio, canalizações metálicas de água e gás) a terra,
visando a proteção contra choques elétricos provocados por contato
indireto.

4.2- COMPONENTES DE UM SISTEMA DE ATERRAMENTO

O conjunto de todos os condutores e peças condutoras que


constituem um aterramento em um determinado local é denominado de
sistema de aterramento. Considera-se a terra como uma superfície de
referência – de potencial nulo - para as tensões elétricas.

A figura 4.1 identifica os principais componentes de um


sistema de aterramento, que são definidos a seguir:

Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento 2


1. Condutores de proteção das massas : responsáveis pelo aterramento
das massas dos equipamentos desde a sua localização até o
condutor de proteção.

2. Condutor de proteção (PE): condutor que liga as massas e os


elementos condutores estranhos à instalação entre si e/ou a um
terminal de aterramento.

3. Condutor PEN: é aquele que resulta da combinação do condutor de


proteção (PE) e do condutor neutro (N) em um único condutor. Não é
considerado um condutor “vivo”.

4. Condutores de equipotencialidade: são utilizados para interligar as


massas e/ou os elementos condutores estranhos à instalação, para
evitar diferenças de potencial entre os mesmos. Classificam-se em:

- Condutores de equipotencialidade principais : ligam ou


interligam as canalizações metálicas não elétricas de
abastecimento de um prédio (como água, gás, ar condicionado)
e os elementos metálicos acessíveis da construção.
- Condutores de equipotencialidade suplementares : interligam ao
terminal de aterramento principal os eletrodos de aterramento
da antena externa de TV e do sistema de proteção contra
descargas atmosféricas, quando os mesmos possuírem
sistemas de aterramento separados.

5. Condutor de proteção principal: é aquele ao qual são ligados,


diretamente ou através de terminais de aterramento, os condutores
de proteção das massas, o condutor de aterramento e,
eventualmente, os condutores de equipotencialidade.

6. Terminal de aterramento principal: é aquele ao qual são ligados o


condutor de aterramento, o condutor de proteção principal e os
condutores de equipotencialidade principais.

7. Eletrodo de aterramento: parte colocada diretamente em contato com


o solo, com o objetivo de dispersar a corrente.

8. Condutor de aterramento: é aquele que interliga o terminal de


aterramento principal ao eletrodo de aterramento.

Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento 3


9. Dispositivo de verificação do sistema de aterramento: dispositivo
situado em local acessível que tem por finalidade desligar o condutor
de aterramento e permitir a medição da resistência de aterramento do
sistema (resistência elétrica total medida entre o terminal de
aterramento principal de uma instalação e a terra).

Elemento
condutor
Condutores de
Terminal de
proteção
aterramento

Massa

Condutor de proteção
principal
Massa

Condutores de
Terminal de
equipotencialidade
aterramento principal
suplementares

Condutor de equipotencialidade
principal (tubulação metálica)

Dispositivo de verificação

Caixas de inspeção

Condutor de
aterramento

Condutor de equipotencialidade
principal (estrutura do prédio)
Eletrodos de aterramento

Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento 4


Figura 4. 1: Componentes de um sistema de aterramento

4.3- ELETRODO DE ATERRAMENTO

 Consiste em um condutor ou um conjunto de condutores em contato


direto com a terra.

 Quando o eletrodo de aterramento é constituído por uma barra rígida,


ele é denominado de haste de aterramento.

 Um conjunto formado pela associação de hastes e condutores de


aterramento é denominado de malha de terra.

Os eletrodos utilizados nas instalações elétricas de baixa


tensão podem ser (de acordo com a NTD-01):

 Tubos de aço zincado por imersão a quente de 25mm de


diâmetro nominal.
 Haste cantoneira de aço zincado por imersão a quente de
25x25x5mm
 Haste cobreada de 13mm (5/8”) de diâmetro nominal.

 O número mínimo de hastes para sistemas de aterramento deverá


ser 1.

 valor da resistência de aterramento deverá ser de 10, não devendo


ultrapassar 25 em qualquer época do ano.

 Caso os valores recomendados não sejam atingidos, deverão ser


dispostos em paralelo tantos eletrodos quantos forem necessários,
interligados entre si com a mesma bitola do condutor de aterramento
ou deverá ser efetuado tratamento adequado do solo, até se obter a
resistência desejada.

Observações:

Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento 5


1- Deverão ser previstas para cada eletrodo de aterramento caixas para
inspeção e medição, em local de fácil acesso.
2- As hastes de aterramento deverão ter comprimento mínimo de 2 m.
3- O afastamento mínimo permitido entre hastes em paralelo deve ser
igual ao comprimento da haste.
4- Não é permitida a colocação de eletrodos de terra sob revestimentos
asfálticos, argamassa ou concreto, e em poços de abastecimento
d’água e fossas sépticas.
5- O condutor neutro deve sempre ser aterrado na origem da instalação
do consumidor.
6- Para melhorar a resistência de terra pode-se:
 Aumentar o número de eletrodos enterrados e interligá-los
por condutor (malha de terra).
 Aumentar a profundidade dos eletrodos já enterrados.
 Aumentar a espessura dos eletrodos.
 Submeter o solo a tratamento químico.

4.4- SEÇÃO MÍNIMA DOS CONDUTORES DE PROTEÇÃO

Tabela 4. 1 : Seção mínima dos condutores de proteção


Seção dos condutores fase (S) Seção do condutor de
(mm2) proteção (mm2)
S  16 S
16 < S  35 16
S>35 S/2

Observação: A seção de qualquer condutor de proteção que não faça


parte do mesmo cabo ou do mesmo invólucro que os condutores vivos
deve ser, em qualquer caso, não inferior a:

 2,5mm2 se possuir proteção mecânica.


 4,0mm2 se não possuir proteção mecânica.

4.5- SEÇÃO MÍNIMA DO CONDUTOR NU DE ATERRAMENTO

 Condutor de cobre: 16mm2 (solos ácidos)


25mm2 (solos alcalinos)

 Condutor de ferro: 50mm2

Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento 6


4.6- ESQUEMAS DE ATERRAMENTO
A NBR 5410 permite os esquemas de aterramento descritos
a seguir. Em cada esquema, a simbologia utilizada representa:

 Primeira letra: situação da alimentação em relação a terra:


- T: um ponto diretamente aterrado
- I: isolação de todas as partes vivas em relação a terra ou
aterramento de um ponto através de uma impedância.

 Segunda letra: situação das massas da instalação em relação a


terra:
- T: massas diretamente aterradas, independentemente do
aterramento eventual de um ponto da alimentação.
- N: massas ligadas diretamente ao ponto de alimentação
aterrado (em CA, normalmente o neutro).

 Outras letras: disposição do condutor neutro e do condutor de


proteção:
- S: funções de neutro e de proteção asseguradas por condutores
distintos.
- C: funções de neutro e de proteção combinadas em um único
condutor.

 Esquema TN-S: condutor neutro e condutor de proteção separados


ao longo de toda a instalação (figura 4.2).

L1
L2
L3

N
PE
Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento 7
Aterramento da
alimentação

massa massa
Figura 4. 2: Esquema TN-S
 Esquema TN-C: condutor neutro e condutor de proteção combinados
em um único condutor ao longo de toda a instalação (figura 4.3).

L1
L2
L3

PEN

Aterramento da
alimentação

massa massa

Figura 4. 3: Esquema TN-C

 Esquema TN-C-S: condutor neutro e condutor de proteção


combinados em uma parte da instalação (figura 4.4).

L1
L2
L3

N
PE

Aterramento da
alimentação

massa massa

Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento 8


Figura 4. 4: Esquema TN-C-S

 Esquema TT: condutor neutro aterrado independentemente do


aterramento das massas (figura 4.5).

L1
L2
L3

Aterramento da
alimentação PE

massa

Figura 4. 5: Esquema TT

 Esquema IT: não existe nenhum ponto da instalação diretamente


aterrado e as massas possuem terra próprio (figura 4.6).

L1
L2
L3

impedância

Aterramento da
alimentação
PE
massa

Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento 9


Figura 4. 6: Esquema IT

 Deve-se escolher o sistema de aterramento mais adequado à


instalação, levando-se em consideração a natureza e o
funcionamento do local e em atendimento às normas técnicas.

 No entanto, as observações a seguir devem ser levadas em


consideração quando da escolha do tipo de aterramento, visando a
seleção mais adequada de um deles e a sua correta aplicação:

 Todo consumidor atendido em baixa tensão a partir da rede


pública de alimentação deve ter o condutor neutro aterrado na
origem da instalação, portanto, o esquema IT não pode ser
utilizado.

 Em locais com riscos de incêndios ou explosões (indústrias


petroquímicas, depósitos de materiais inflamáveis, etc.) não é
recomendável escolha de um dos esquemas TN, devido ao
elevado valor das correntes de falta.

 Em locais onde a continuidade do serviço é fundamental, como em


hospitais, deve-se optar, quando possível, pela utilização do
esquema IT, pois nesse, a corrente resultante de uma única falta
fase - massa não possui intensidade suficiente para provocar o
surgimento de tensões perigosas, não havendo interrupção
imediata da energia.

 Nos esquemas TN, toda corrente de falta direta fase – massa é


uma corrente de curto – circuito, havendo interrupção imediata do
circuito e no esquema TT as correntes de falta fase - massa são
inferiores a uma corrente de curto - circuito, podendo, todavia,
provocar o surgimento de tensões perigosas).

 Deve-se evitar a escolha do esquema TT em instalações com


equipamentos que apresentem correntes de fuga consideráveis,
devido a possibilidade de disparos freqüentes dos dispositivos de
proteção contra correntes diferenciais residuais, quando esses são
utilizados.
Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento 10
4.7- MEDIÇÃO DA RESISTÊNCIA DE ATERRAMENTO
A resistência de terra de um sistema de aterramento já
existente deve ser determinada em várias épocas do ano, considerando-
se as variações que ocorrem no ambiente.
Quando ocorre um curto-circuito envolvendo a terra, uma
parte da corrente de seqüência zero retorna pelo cabo de cobertura do
sistema de transmissão ou pelo cabo neutro do sistema de distribuição
multi-aterrado. O restante da corrente retorna pela terra (figura 4.7).
Essa última é limitada pela resistência de aterramento do sistema.

Icc
Icc

Malha de
terra
Figura 4.7: Caminho da corrente de curto-circuito

Em um sistema elétrico cujo aterramento é feito por meio de


hastes, a densidade de corrente junto as mesmas é máxima. Após uma
certa distância das hastes, a densidade de corrente é praticamente nula.
Considera-se, então, que a resistência de terra de uma haste
corresponde somente aquela obtida na região do solo onde as linhas de
corrente convergem. Existe, no entanto, uma determinada distância, a
partir da haste considerada (ou para qualquer tipo de aterramento), em
que a resistência de terra é constante, independentemente da distância.
Esse valor corresponde, efetivamente, ao valor da resistência de terra
que se queria determinar.

Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento 11


Para obter o valor da resistência de terra pode-se utilizar um
equipamento do tipo MEGGER, conforme o esquema mostrado na figura
4.8.

MEGGER

C1 P1 P2 C2

I
I

A P B
V

Figura 4.8: Esquema de medição utilizando o MEGGER

Conforme mostra a figura 4.8, os terminais C 1 e P1 devem ser


conectados.
Deseja-se determinar a resistência de terra relativa ao ponto
A, sendo a haste B uma haste auxiliar que possibilita o retorno da
corrente I. O aparelho, então, injeta no solo, pelo terminal C 1, uma
corrente I, que retorna através da haste auxiliar B, pelo terminal C 2.
A tensão correspondenteEgao ponto P da figura 4.8 (a uma determinada
+ -
distância entre as hastes A e B) é processada
A internamente e o valor da
resistência no ponto A (resultante da relação entre a tensão medida
entre A e P Ie a corrente injetada) é indicada. I
Uma outra formaV de medir a resistência de terra é mostrada
na figura 4.9:
A P B

Resistência

Ra

Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento


distância 12
Figura 4.9:
De acordo comMedição
esseda resistência
método,de terra
utilizando-se uma fonte
geradora de corrente, injeta-se no solo uma corrente (da ordem de
Amperes, para tornar desprezíveis as interferências de outras correntes
na terra) que irá circular entre a haste principal de aterramento (haste A)
e a haste auxiliar (haste B). Deslocando-se uma terceira haste (P) entre
A e B, obtém-se a curva de resistência de terra em relação ao
aterramento principal, produzido pela haste A - conforme mostra a figura
4.9.
Deve-se ressaltar que o deslocamento da haste P não irá
alterar o valor da corrente. Para cada posição dessa haste deve ser lido
o valor da tensão no voltímetro e calculado o valor da resistência (V / I).
A haste P deve ser deslocada até que se obtenha um valor constante da
resistência de aterramento R.

Instalações Elétricas Prediais - Capítulo 4: Aterramento 13

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