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O Cinema Nazista

A arte cinematográfica da Alemanha nazista (1933-1945) foi amplamente utilizada como forma de
propaganda do regime e se apresentou como uma arma vital na dominação do governo sobre o seu
povo.

Os cineastas alemães da época usavam com perfeição a estética cinematográfica. A composição das
cenas, o jogo de luzes e sombras, os planos, os movimentos de câmara e os ângulos de tomada,
complementados por recursos técnico-artísticos como a cenografia, a fotografia, o vestuário, a
decoração, a música, a dança, a pintura e os truques, eram feitos com brilhantismo, exatos em
detalhes para divertir o público e, ao mesmo tempo, propagar o sentimento nacionalista e o heroísmo.

O governo nazista usava o cinema como um instrumento audiovisual de forte impacto e longo alcance,
cuja imagem era cuidadosamente trabalhada no sentido de combinar espaço e tempo para obter um
ritmo narrativo que possibilitasse a transformação da realidade em espetáculo.

Os filmes fascistas, muitas vezes documentários jornalísticos, invadiram basicamente o âmbito do


sistema imaginário, criando um reflexo condicionado na população, um hábito positivo de aceitação de
qualquer ordem ou informação vinda do regime. Os temas eram atentamente elaborados para ir de
acordo com as expectativas do povo e adequados ao momento histórico e ao inconsciente alemão,
como o arianismo, a pureza do sangue e a superioridade da raça; os enfoques dados às notícias eram
fiéis à ideologia do partido e provocavam uma emoção de euforia junto às massas; o culto à figura do
líder Adolf Hitler, que chegava a ser comparado aos grandes personagens da história mundial como o
rei da Prússia, Frederico, O Grande, aparecia sempre como um messias em cenários suntuosos,
exaltado de maneira heróica. O governo articulava as informações da forma que lhe interessasse,
multiplicava slogans e estereótipos que fixavam seus ideais dogmáticos, além de acusar repetidamente
e sem fundamentação as nações comunistas e democratas.

O início dos anos 30 foi decisivo para a indústria cinematográfica alemã. Com a chegada dos nazistas ao
poder, em 1933, o ministro de Propaganda Joseph Goebbels, também conhecido como “o patrono do
cinema alemão”, descobre o cinema como a “melhor mídia já inventada, um dos meios mais modernos
e científicos para agir sobre a massa”, ou seja, um instrumento poderoso e eficaz de manipulação
popular que exerce influência sobre o espectador, que “ingenuamente” aceita as informações dos filmes
como verdades absolutas. No mesmo ano, toda a indústria do cinema ficou inteiramente subordinada
aos interesses do Estado. Mesmo com Hollywood dominando o mercado internacional e, apesar do
controle estatal, o cinema nazista continuou sendo comercializado. A produção se limitou a alguns
filmes de longa metragem e se concentrou no documentário e no cine-jornal que apresentavam com
exclusividade a versão oficial da atualidade sócio-política. O resto dos filmes divulgava também a
ideologia, mas de forma menos direta. Em 1934, uma nova legislação baniu, proibiu e confiscou tudo
aquilo que fosse contrário ao regime. Entre 1937 e 1942, todas a produtoras independentes foram
sistematicamente eliminadas do mercado. E, em 1938, a indústria cinematográfica alemã estava
completamente integrada ao aparelho de propaganda do Terceiro Reich.

A cinematografia nazista caracterizou-se por apresentar, em sua maioria musicais e comédias com
diálogos conformistas e com pouca profundidade, ausência de qualquer espécie de crítica ao regime e
uma narrativa clássica. Entre os diretores que se destacaram e desenvolveram um cinema totalmente
aliado aos ideais nazi-fascistas estão Leni Riefenstahl (“Triunfo da Vontade”, 1935, e “Olimpíadas”,
1936) e Veit Harlan (“O Judeu Süss", 1940).

“O Triunfo da Vontade” (1935) de Riefenstahl, foi um dos primeiros filmes do Partido Nazista,
apresentando uma parada militar, o povo ariano e o líder Adolf Hitler em discurso e teve como objetivo
fazer uma propaganda positiva do regime, com a intenção de seduzir o espectador a vestir a camisa do
nazismo. A diretora impressiona com as imagens grandiosas da população durante a marcha, com
cartazes mostrando a suástica. Enfatiza a unidade, a superioridade e o carisma do seu líder, cultua a
virilidade, a saúde e a pureza do povo alemão, como também a perfeição do corpo humano e da
arquitetura nazista. Cada aparição de Hitler era meticulosamente estruturada como uma peça teatral.

“Olimpíadas” (1936), foi rodado durante as Olimpíadas que aconteceu no mesmo ano. Neste filme cheio
de recursos técnicos e materiais, Leni Riefenstahl documentou, em 4 horas, a raça humana ariana em
seu melhor preparo físico. Esta produção do pré-guerra impulsionou o povo alemão a acreditar que a
sua raça era superior às demais e que era possível realizar o sonho da dominação mundial, criando uma
mentalidade em que os “criminosos comunistas” e as “demoníacas nações democráticas ocidentais que
pretendiam destruir a Alemanha” deveriam ser banidos do planeta.

O cinema anti-semita alemão do período nazista igualava os judeus a ratos, cogumelos venenosos e
doentes. O filme que focaliza este pensamento é “O Judeu Süss” (1940), baseado em fatos verídicos,
mostrando os alemães como homens justos que dão um tratamento “merecido” a um judeu que havia
monopolizado o poder em sua comunidade, e que, também, causou o suicídio de uma jovem ariana
depois de tê-la submetido a uma desonra “pior que a própria morte”.
BIBLIOGRAFIA:

BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema. Ed. Brasiliense. São Paulo, 2000.

COSTA, Antônio. Compreender o cinema. Editora Globo. São Paulo, 1989.

| Claudia Farias, Crítica de cinema, estudante de Jornalismo da UNP.

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