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Copyright © 2014 Paulus Gerdes

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2
Paulus Gerdes

Geometria Sona de Angola

Volume 3:
Estudos Comparativos

ISTEG
Belo Horizonte
Boane
Moçambique
2014

3
Ficha técnica

Título:
Geometria Sona de Angola
Volume 3: Estudos comparativos

Edição original em Português (1994):


Geometria Sona – Reflexões sobre uma tradição de desenho em
povos da África ao sul do Equador
Volume 2: Estudos comparativos (Universidade Pedagógica, Maputo,
1993)

Autor: Paulus Gerdes


Centro de Investigação Etnomatemática & ISTEG, Boane,
Moçambique (paulus.gerdes@gmail.com)

Revisão linguística: Ana Maria Branquinho [Faculdade de Línguas,


Universidade Pedagógica]

Edição em Francês:
Une tradition géométrique en Afrique – Les dessins sur le sable
Volume 3: Analyse comparative (L’Harmattan, Paris, 1995)

Edição em Alemão:
Ethnomathematik dargestellt am beispiel der Sona Geometrie
Terceira parte: Vergleichende Studien (Spektrum Akademischer
Verlag, Heidelberg / Berlin / Oxford, 1997)

Edição em Inglês:
Sona Geometry from Angola
Volume 3: Comparative Studies (ISTEG, Boane, Moçambique, em
preparação)

4
Edição: Instituto Superior de Tecnologias e Gestão (ISTEG)
Av. de Namaacha 188, Belo Horizonte, Boane, Moçambique

Distribuição internacional:
Lulu, Morrisville NC, EUA
http://www.lulu.com/spotlight/pgerdes

© 1994, 2014 Paulus Gerdes

5
6
Índice do Volume 3:
Estudos comparativos

Página

Introdução ao terceiro volume de Geometria Sona 11

Capítulo 1:
SOBRE ALGUNS ALGORITMOS GEOMÉTRICOS NO EGIPTO
ANTIGO

Escarabeus 13
Ziguezagues com laços 14
Serpentes pintadas em túmulos 15
Três classes de padrões relacionados 18
Primeira classe: um laço maior 18
Segunda classe: dois laços maiores 20
Terceira classe: três laços maiores 25
Aves nos seus ninhos 28
Um padrão-de-fita-trançada 31
Vários outros padrões em escarabeus 32
Um vaso ornamentado 35
Considerações finais 38
Bibliografia 39

Capítulo 2:
SOBRE PADRÕES-DE-FITA-TRANÇADA E OUTROS MOTIVOS
MONOLINEARES NA MESOPOTÂMIA ANTIGA

Cobras em selos na Mesopotâmia Antiga 41

7
Fitas trançadas ou padrões desenhados ? 45
Bibliografia 49

Capítulo 3:
SOBRE ALGUNS ALGORITMOS GEOMÉTRICOS NA ÍNDIA

3.1 Reconstrução e extensão de simetrias perdidas: 51


exemplos dos Tamil do Sul da Índia
Introdução: desenhos de soleira Tamil 51
Análise e reconstrução de um desenho “pavitram” 54
Um segundo exemplo 56
Regras de transformação 58
Reconstrução dos padrões denominados 58
“pulverizador de água” e “mesa giratória”
O padrão “pavitram” revisitado 65
Extensões 66
Extensões do padrão “pavitram” reconstruído 72
Exame do nó de Brahma 75
Fonte de inspiração 80
Observações finais 86
3.2 Desenhos kolam 87
Padrões com simetria 88
Séries de padrões monolineares 92
Confirmação de hipóteses 96
Padrão “pavitram” 96
Nó de Brahma 100
Mais um exemplo de reconstrução 104
Simetria e monolinearidade: possível conflito de 105
valores
Degradação ou coexistência 107
Bibliografia 108

8
Capítulo 4:
BREVE EXCURSÃO PARA OUTROS CONTINENTES

4.1 Padrões-de-nó dos Celtas 109


4.2 Desenhos na areia nas Ilhas Vanuatu 114
4.3 Sobre padrões monolineares no seio de índios norte- 117
americanos
Bibliografia 121

Capítulo 5:
REGRESSO A ÁFRICA
123
Bibliografia 130

Agradecimentos 133
Índice do Volume 1: Matemática duma tradição africana 137
Índice do Volume 2: Explorações educacionais e matemáticas 141
de desenhos africanos na areia

O autor 145
Livros de Paulus Gerdes em Português 147

9
10
Volume 3: Estudos Comparativos

Introdução ao terceiro volume de Geometria Sona

Quando os Cokwe do Nordeste de Angola se reúnem no centro


das suas aldeias ou nos acampamentos de caça, costumam sentar-se à
volta de uma fogueira ou à sombra de árvores frondosas, e passar o seu
tempo em conversas ilustradas no chão por desenhos, chamados sona
(sing. lusona). A maior parte destes desenhos pertencem a uma longa
tradição; referem-se a provérbios, fábulas, jogos, adivinhas, animais,
etc. e desempenham um papel importante na transmissão do
conhecimento e da sabedoria de uma geração a outra. Os desenhos
devem ser feitos lisa e continuamente, porque qualquer hesitação ou
interrupção por parte do desenhador é interpretada pelo público como
imperfeição ou falta de conhecimento. Para facilitar a memorização
dos seus pictogramas ou ideogramas padronizados, os akwa kuta sona
– especialistas em desenho – inventaram um recurso mnemónico
interessante: após limpar e alisar o chão, começam por marcar com as
pontas dos dedos uma rede ortogonal de pontos equidistantes; o
número de linhas e colunas depende do motivo a ser representado.
No primeiro volume de Geometria Sona de Angola foram
analisados e reconstruídos conhecimentos matemáticos inerentes à
tradição dos sona: padrões de linhas obedecendo a algoritmos
geométricos, abraçando pontos duma grelha referencial. Partindo de
valores culturais salientes na tradição dos sona, como seja a simetria e
a preferência por padrões compostos de uma única linha
(monolineares), estudaram-se as particularidades de diversas classes de
sona e as regras do seu encadeamento, preservando determinadas
características.
Um dos objectivos da investigação etnomatemática consiste na
procura de possibilidades de enquadrar melhor o ensino da Matemática
no contexto cultural dos estudantes e professores. Pretende-se uma
Educação Matemática que consiga valorizar as raízes científicas
inerentes às culturas africanas, utilizando-as como alicerces para
11
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
ascender melhor e mais rapidamente ao património científico de toda a
Humanidade. É neste sentido que se apresentam no segundo volume
algumas sugestões para uma exploração educacional e matemática dos
sona.
O estudo e a análise dos sona estimulou-me a encontrar e
reflectir sobre outras tradições que se assemelham, em certa medida e
dum ponto de vista técnica, à tradição dos sona. No terceiro volume
apresento algumas dessas tradições doutras épocas e doutras zonas de
África e do Mundo.
No Capítulo 1 analisam-se alguns algoritmos geométricos
desenvolvidos no Egipto Antigo. Motivos monolineares e padrões-de-
fita-trançada que aparecem em selos carimbados e em outros artefactos
da Mesopotâmia Antiga são apresentados no Capítulo 2. O Capítulo 3
dedica-se à análise de desenhos kolam da Índia, em particular, no que
diz respeito à simetria e monolinearidade. Uma breve excursão para
outros continentes tem lugar no Capítulo 4. Analisam-se,
sucessivamente, alguns aspectos de padrões-de-nó dos Celtas (Ilhas
Britânicas), de desenhos na areia nas Ilhas Vanuatu (Oceânia), e de
padrões utilizados pelos índios Navaho e por outros povos da América
de Norte. No último capítulo voltamos a África, apresentando alguns
padrões que aparecem bordados ou carimbados em roupa, pintados em
paredes, esculpidos em madeira, etc.
Ao apresentar essas tradições doutras épocas e doutras zonas de
África e do Mundo, não estou a sugerir uma origem comum ou ligação
histórica entre a tradição dos sona e elas. Através da sua apresentação
e à luz dos primeiros dois volumes da Geometria Sona pretendo
incentivar a uma investigação mais aprofundada dessas tradições e a
uma exploração educacional e matemática das mesmas.
Tal como no caso dos dois primeiros volumes da Geometria
Sona, aconselho o leitor a desenhar as figuras apresentadas para poder
entender e apreciar o terceiro volume.

Paulus Gerdes

3 de Abril de 1994

12
Volume 3: Estudos Comparativos

Capítulo 1
SOBRE ALGUNS ALGORITMOS GEOMÉTRICOS NO
EGIPTO ANTIGO

Neste capítulo apresentaremos alguns algoritmos geométricos


usados na construção de padrões que aparecem gravados em
escarabeus e pintados em paredes e vasos do Egipto Antigo.
Selecionámos aqueles algoritmos que levam a padrões compostos por
uma ou mais linhas contínuas.

visto de baixo visto de cima visto de lado


a b c
[Ward, 1978, Folha XV: nº 370]
exemplo dum escarabeu
Figura 1.1

Escarabeus

O escarabeu é o selo egípcio típico na forma de um escaravelho


do género de “Scarabaeus sacer”. A Figura 1.1 dá um exemplo. Os
escarabeus eram feitos de pedra (em particular esteatite), de faiança e
até, às vezes, de prata ou de pedras semipreciosas. Já eram utilizados
como amuleto no Império Antigo (c. 2686-2181 a.C.). A face plana
dos escarabeus começou a ser ornamentada a partir do Primeiro
Período Intermediário (c. 2181-2040 a.C.), gravando-se neles
hieróglifos e diversos desenhos, em particular, espirais. Já na XII
dinastia (1991-1782 a.C.) começam a aparecer ornamentações
13
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
geométricas que se tornam amplamente difundidas no período dos
Hicsos (c. 1663-1555 a.C.). Durante o Novo Império (c. 1570-1070
a.C.) produziram-se massivamente escarabeus com os nomes dos reis
(cf. Bianchi, 1984). A principal ideia expressa pelas ornamentações
geométricas e, em particular, pela espiral, era, segundo Petrie (1925,
p.12), a de nefer, ou seja, excelência física ou mental, ou beleza. Os
escarabeus geométricos foram mais utilizados durante a XII dinastia
do que durante qualquer outro período.
Dos milhares de escarabeus que tivemos a oportunidade de ver
em livros e no Museu Egípcio do Cairo, algumas dezenas apresentam
figuras geométricas compostas por uma ou mais linhas contínuas que,
de certa forma, se assemelham ao tipo de padrão dos sona da África ao
Sul do Equador.

Ziguezagues com laços

A Figura 1.2 mostra um escarabeu (largura: 9 mm) em que


aparece gravado um ziguezague vertical com laços aplicados nos
vértices.

[Petrie, 1925, Folha VIII: nº 171]


Figura 1.2

Dois desses ziguezagues abertos podem-se juntar para obter um


padrão monolinear fechado, como mostra a Figura 1.3a. É nesta forma
que se encontra em vários escarabeus uma ornamentação em redor dos
hieróglifos gravados no centro (vide o exemplo na Figura 1.3b) (cf.
Fraser, 1900, p. 15: nº 112; Newberry, 1906, Folha XVII: nº 13;
Steindorff, 1936, Folha V: nº 160). O número de laços é variável: 6
(Fraser; Martin, 1971, Folha 16: nº 31), 7 e 6 (Newberry), 11 e 9
(Steindorff).
14
Volume 3: Estudos Comparativos

[Fraser, 1900, p. 15: nº 112]


a b
Figura 1.3

Figura 1.4
15
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Uma variante consiste num ziguezague contínuo em redor das


inscrições, como ilustra esquematicamente a Figura 1.4. Nesta forma a
decoração é encontrada num escarabeu do período da XIII à XVII
dinastias (vide Newberry, 1907a, Folha V: nº 79 e reproduzido em
Martin, 1971, p. 96 e Folha 16: nº 32).

Serpentes pintadas em túmulos

Em paredes de túmulos dos faraós da XIX dinastia (c. 1293-1185


a.C.) e da XX dinastia (c. 1185-1070 a.C.) aparecem diversas
representações pintadas de serpentes. Na Figura 1.5 mostram-se,
esquematicamente, cinco dessas serpentes construídas de acordo com
o mesmo algoritmo geométrico. A variação consiste no número de
colunas de laços em ziguezague e no número de pares de laços em
cada coluna:

número de número de cf. fotografias ou desenhos


colunas pares de laços publicados, entre outros
por coluna livros, em
a 2 3 Magi, 1992, p. 62
b 2 6, 4 Magi, 1992, p. 62
c 1 8 Bessy, 1964, nº 249
d 4 3 Diop, 1981, p. 417
e 4 6 -

As Figuras 1.6 e 1.7 ilustram outros algoritmos utilizados na


representação de serpentes, a saber no túmulo de Séti II (1199-1193) e
no de Ramsés IX (1126-1108), respectivamente.

16
Volume 3: Estudos Comparativos

Túmulo de Ramsés I Túmulo de Ramsés I


(1293-1291 a.C.) b
a

Túmulo de Séti I (1291-1278 a.C.)


c

Túmulo de Séti I
d

Túmulo de Ramsés III (1182-1151 a.C.)


e
Figura 1.5
17
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Túmulo de Séti II Túmulo de Ramsés IX


[Simpkins, 1992a, p. 14] [Magi, 1992, p. 48]
Figura 1.6 Figura 1.7

Três classes de padrões relacionados

Primeira classe: um laço maior

O sinal egípcio (Figura 1.8a), snt (senth), significando “plano”


ou “fundação” (Rowe, 1936, p.10), é muito parecido com o lusona que
representa um morcego com asas recolhidas (vide a Figura 1.8b; cf.
Vol. 1, Fig. 76): O desenho Cokwe aparece invertido, quer dizer,
rodado sobre um ângulo raso, e para a sua execução utilizou-se uma
grelha de seis pontos de referência. O hieróglifo é um padrão
monolinear, sendo composto por três laços pequenos – do lado inferior
dois laços paralelos e um terceiro verticalmente oposto entre os dois
primeiros – e um laço maior do lado superior, exterior relativamente
ao laço pequeno no meio. Invertido, o sinal constitui o menor elemento
duma classe de padrões monolineares.

Hieróglifo egípcio Lusona cokwe


a b
Figura 1.8
18
Volume 3: Estudos Comparativos

A A A
1 2 3

A A
4 5
Figura 1.9

A Figura 1.9 apresenta os primeiros cinco elementos desta


classe. Do terceiro elemento encontrámos três exemplares em
escarabeus, tendo dois sido datados, por Petrie (1889, Folha XVIII;
1895, p. 28) (vide a Figura 1.10) e Matouk (1971, p. 185), na XVIII
dinastia, reinado de Tutmósis III (c. 1504-1450 a.C.).

[Petrie, 1895, p. 27] [Petrie, 1934, Folha IX: nº 290]


Figura 1.10 Figura 1.11

19
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
O quarto elemento aparece num escarabeu mais antigo,
provavelmente da XIII dinastia (c. 1782-1650 a.C.) segundo Rowe
(1936, p. 10). Achamos dois exemplos de escarabeus em que se gravou
o quinto elemento. O primeiro é ilustrado na Figura 1.11. O segundo
exemplo foi fabricado entre a XII e XVIII dinastia (Newberry, 1906,
Folha XX). O segundo elemento da classe foi encontrado apenas numa
forma incompleta (vide a Figura 1.12a) e numa variante (vide a Figura
1.12b). A versão incompleta data do Império Médio (c. 2040-1782
a.C.) segundo J. Ward (1902, Folha X).

[J. Ward, 1902, [W. Ward, 1978,


Folha X: nº 107] Folha XIII: nº 340]
a b
Figura 1.12

Segunda classe: dois laços maiores

Sobrepondo o primeiro (A1) e o segundo elemento (A2) da


classe analisada na secção anterior, de tal modo que se prolonguem
ligeiramente os segmentos rectos que ligam os laços menores, obtém-
se o padrão 2-linear apresentado na Figura 1.13. Do lado superior tem
5 laços menores, enquanto que no meio tem 3 laços menores. Do lado
inferior há dois laços maiores. Este motivo aparece em toda uma série
de escarabeus. A Figura 1.14 ilustra o escarabeu na colecção do autor,
1
proveniente do período da XV à XVI dinastia (c. 1650-1540 a.C.).
A sua parte superior contém o símbolo para a “união dos dois países”,
quer dizer, do Baixo e do Alto Egipto. A informação relativa à datação
dos outros cinco exemplares que encontrámos é apenas que provêm do
extenso período entre a XII e XVIII dinastias (c. 1991-1293 a.C.). Um

1
Adquirido por Maurice Bazin (Exploratorium, San Francisco,
EUA) na Galeria Nefer de Arte Antiga (Zurique, Suíça) e
oferecido ao autor em Paris, Julho de 1993.
20
Volume 3: Estudos Comparativos
exemplar apresentado por Newberry (1907b, p.103) é da XVII dinastia
(c. 1663-1570 a.C.). A Figura 1.15 ilustra o escarabeu apresentado por
Newberry (1906), contendo o mesmo padrão acompanhado por
espirais.

Figura 1.13

[Colecção do autor]
Figura 1.14

21
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Newberry, 1906, Folha XX, nº 32]


Figura 1.15

B5
Figura 1.16

22
Volume 3: Estudos Comparativos
Quando se sobrepõem, de modo análogo, o segundo (A2) e o
terceiro (A3) elementos da classe analisada na secção anterior, obtém-
se de novo um padrão 2-linear (vide a Figura 1.16). Este padrão
aparece por duas vezes, em posições simetricamente opostas, num
escarabeu exposto no Museu Egípcio do Cairo (vide a Figura 1.17),
padrão executado com alta precisão num vidrado azul de dimensões
reduzidas (comprimento: 18 mm; largura: 12 mm). Provém do início
da XVIII dinastia (c. 1500 a.C.).

[Museu Egípcio: nº 36370; Newberry, 1907b, Folha XIII, nº 36370]


Figura 1.17

Comparando os padrões 2-lineares das Figuras 1.13 e 1.16,


observamos que do lado superior têm 5 e 7 laços, e, no meio, 3 e 5
laços, respectivamente. Variando o número de laços do lado superior e
do meio de tal modo que o primeiro número seja igual a 2 mais o
segundo número, podemos considerar os padrões das Figuras 1.13 e
23
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
1.16 como o terceiro (B3) e o quinto (B5) elemento de uma classe de
padrões, sendo o primeiro (B1) e o segundo (B2) elementos
apresentados na Figura 1.18 e o quarto elemento (B4) na Figura 1.19.
O primeiro elemento é também 2-linear, mas o segundo e o quarto são
monolineares. No B1 aparece uma nova Figura que podemos
considerar A0 (vide a Figura 1.20). O quarto elemento aparece gravado
num escarabeu proveniente da XVI dinastia (c. 1600 a.C.; cf. Rowe,
1936, p. 62).

B1 B2
Figura 1.18

B4 A0
Figura 1.19 Figura 1.20

Abrindo os laços maiores do primeiro elemento como ilustrado


na Figura 1.21a e, em seguida, duplicando-o, obtém-se o desenho 2-
linear da Figura 1.21b, que aparece num selo cilíndrico egípcio.

24
Volume 3: Estudos Comparativos

[Petrie, 1917, Folha VI, nº 143]


a b
Figura 1.21

Figura 1.22

Terceira classe: três laços maiores

Sobrepondo o segundo elemento da segunda classe (B2) (Figura


1.18b) e o primeiro elemento da primeira classe (A1), ou seja, o sinal
snt invertido (Figura 1.8), alongando os segmentos rectos dos mesmos,
obtemos o padrão 2-linear ilustrado na Figura 1.22: do lado superior
tem 6 laços pequenos; no meio três laços pequenos e do lado inferior
tem três laços maiores, respectivamente. Na Figura 1.23 mostram-se

25
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
três escarabeus em que aparece o padrão sob consideração. O terceiro
data da XVIII dinastia (c. 1570-1293 a.C.; Newberry, 1907a, p. 50).
De igual modo podemos sobrepor outros elementos das duas
classes, levando-nos à suposição de que uma terceira classe era
conhecida no Egipto Antigo. Na Figura 1.24 mostram-se os primeiros
dois elementos dessa classe. São também bilineares. O padrão da
Figura 1.22 constitui o terceiro elemento (C3).

[Petrie, 1895, p. 27]


a
Figura 1.23

26
Volume 3: Estudos Comparativos

b: [Newberry, 1906, Folha XX: nº 33]

c: [Newberry, 1907a, Folha XVII: nº 9]


Figura 1.23
27
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

C1 C2
Figura 1.24

Aves nos seus ninhos

A Figura 1.25a representa o lusona que ilustra duas aves nos


seus ninhos (cf. Vol.1, Figura 72a). Sem os pontos de referência (vide
a Figura 1.25b) encontra-se este motivo como padrão de base para
todo um conjunto de representações gravadas em escarabeus no Egipto
Antigo (vide as fotografias e desenhos em: Newberry, 1907a, Folha
XVIII: nº 12, 14, 15; Petrie, 1925, Folha VIII: nº 147, 148, 149, 150,
257; Petrie, 1934, Folha VII: nº 202, 241, 269, Folha IX: nº 378;
Rowe, 1936, Folha II: nº 84, Folha X: nº 404, Folha XXVI: nº S6;
Downes, 1974, p. 61: nº 153h).
Rowe (1936, p. 23, 99) informa que se trata de escarabeus
produzidos durante a XII e XIII dinastias. A Figura 1.26 dá um
exemplo. A Figura 1.25b constitui o segundo elemento duma série da
qual encontrámos também o quinto e o sexto elementos representados
em escarabeus (vide a Figura 1.27).

Lusona cokwe
a b
Figura 1.25
28
Volume 3: Estudos Comparativos

[Wilson, 1986, p. 96]


Figura 1.26

[Newberry, 1907b, Folha XIII: nº [Newberry, 1907b, Folha XIII: nº


36400] 36653]
a
Figura 1.27

O lusona das aves nos seus ninhos está relacionado com o lusona
que representa as patas dum antílope (vide a Figura 1.28a, cf. Vol. 1,
Fig. 73). É interessante notar que no Egipto Antigo a mesma variante
também aparece, obviamente sem serem visíveis pontos de referência
(vide a Figura 1.28b). Os três escarabeus com este desenho foram, de
acordo com Petrie (1925, p. 14), fabricados durante a XIII dinastia ou
um pouco mais tarde. Ele nota que a forma deste padrão é similar à
que se encontra nos trabalhos com fios soldados na XII dinastia, onde,
provavelmente, ainda segundo Petrie, se deva procurar a origem deste
estilo. Infelizmente até este momento não nos foi possível encontrar
exemplos destes trabalhos de soldadura de fios.
29
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Lusona cokwe Padrão egípcio


Figura 1.28

Uma variante com mais dois laços, um do lado superior e outro


do lado inferior, encontra-se gravada num escarabeu apresentado por
Wilson (vide a Figura 1.29a). A Figura 1.29b ilustra uma versão em
que o centro é substituído por uma circunferência.

[Wilson, 1986, p. 96; cf. [Ward, 1978, Folha XV: nº 377]


Petrie, 1925, Folha VIII: nº 126] b
a
Figura 1.29

Substituindo os laços do padrão da Figura 1.29a por um conjunto


de três laços, obtém-se um motivo, igualmente monolinear (vide a
Figura 1.30), que aparece também em escarabeus (cf. Petrie, 1925,
Folha VI: nº 126a; Ward, 1978, Folha XV: nº 376).
30
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 1.30

[Museu Egípcio, Cairo:


nº J51026] b
a
Figura 1.31

Um padrão-de-fita-trançada

No Museu Egípcio do Cairo encontrámos exposto um escarabeu


achado num cemitério em Saqqara, em que aparece gravado um
padrão-de-fita-trançada de dimensões de 4 por 3. A trança contém
31
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
alguns erros: em alguns cruzamentos onde uma parte da trança devia
passar por cima da outra, acontece o contrário (vide a Figura 1.31a e
compare com a Figura 1.31b em que se indica como devia ter sido).

[Newberry, 1906, Folha XX: nº 14; Newberry, 1907b, Folha XIII: nº


36718; Museu Egípcio: nº 36718]
Figura 1.32

Vários outros padrões em escarabeus

A Figura 1.32 mostra um escarabeu em que se encontram


cadeias de 6 e 7 “olhos” respectivamente. Noutros aparecem cadeias
de 4 (vide Ward, 1902, Folha XII: nº 377; Rowe, 1936, Folha VI: nº
218, Folha X: nº 418; Museu Egípcio, nº J 45669) e de 3 “olhos” (vide
Newberry, 1907a, Folha XVII: nº 16; Rowe, 1936, Folha I: nº 32).
A Figura 1.33a ilustra um padrão que aparece numa série de
escarabeus (cf. Petrie, 1891, Folha VIII: nº 84; Newberry, 1907a,
Folha XVIII, nº 6; Petrie, 1925, Folha VI: nº 151); a Figura 1.33b
apresenta a versão presente no Museu Britânico em Londres. Uma
variante em que o cruzamento no centro desapareceu encontra-se
noutros escarabeus (vide a Figura 1.34).

32
Volume 3: Estudos Comparativos

[Petrie, 1891, Folha VIII: nº 84; [Wilson, 1986, p. 96]


Newberry, 1907a, Folha XVIII: nº b
6; Petrie, 1925, Folha VI: nº 151]
a
Figura 1.33

[Petrie, 1925, Folha VI: nº 152, 153]


Figura 1.34

Três padrões bilineares apresentam-se na Figura 1.35. Em cada


caso sobrepuseram-se motivos monolineares congruentes, obtendo
figuras com dois eixos de simetria perpendiculares entre si.
A Figura 1.36 mostra quatro padrões monolineares com a mesma
simetria dupla. A Figura 1.37 mostra um outro exemplar bilinear.
Um padrão monolinear bastante complicado, apenas com
simetria rotacional de 180o e que igualmente aparece num escarabeu
do Egipto Antigo, é apresentado na Figura 1.38.
33
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Petrie, 1925, Folha [Newberry, 1907a, [Ward, 1978, Folha


XVIII: nº 1354] Folha XVIII: nº 9] XV: nº 375]
a b c
Figura 1.35

[Petrie, 1925, Folha VI: nº 141] [Petrie, 1934, Folha IX: nº 178]
a b

[Petrie, 1934, Folha VII: nº 220] [Ward, 1978, Folha XII: nº 302]
c d
Figura 1.36
34
Volume 3: Estudos Comparativos

[Petrie, 1934, Folha IX: nº 1748] [Downes, 1974, p. 63: nº 245, 7]


Figura 1.37 Figura 1.38

[Petrie, 1930, Folha XLI]


Figura 1.40
Figura 1.39

Um vaso ornamentado

A Figura 1.39 apresenta um padrão monolinear desenhado (ou


gravado) num vaso. Infelizmente a fonte não data o objecto; apenas
informa que provém do Egipto Antigo (Petrie, 1930, XLI).
35
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
A a
B b
C c
D d

a A
1b B 1
1c C 1
1d D 1
1 1

Figura 1.41

Na Figura 1.40 reproduz-se o mesmo padrão, tendo sido


carregados alguns segmentos. Estes constituem uma rede quadrática
(vide a Figura 1.41), de extremidades A, B, C, D, a, b, c, d, A1, B1, C1,
D1, a1, b1, c1, e d1. Comparando o padrão egípcio com os sona
monolineares triangulares de Angola (vide o Vol. 1, Cap. 5), somos
levados a supor que o motivo egípcio pode ter sido construído, de
forma sistemática, a partir da rede quadrática, percorrendo-a, a partir
do ponto P, na sequência
Pa1aAA1b1bBB1c1cCC1d1dDD1P,
juntando, do lado superior, quatro laços que ligam simetricamente as
extremidades a com A, b com B, c com C e d com D, e, do lado
inferior, três laços que ligam, desta vez “saltando de fase”, as
extremidades A1 com b1, B1 com c1 e C1 com d1. Sem a assimetria
dos saltos, o padrão final não teria sido monolinear.
O algoritmo da construção suposta do padrão egípcio sob
consideração pode ser generalizado. Na Figura 1.42 apresentam-se o
primeiro, o segundo e o quarto elemento, respectivamente, da série da
qual o desenho egípcio constitui o terceiro elemento. Foram
construídos a partir de redes quadráticas de dimensões 1×1, 2×2, e
4×4, respectivamente (vide a Figura 1.43). É provável que para além
do terceiro elemento da série, o primeiro e o segundo tenham sido
conhecidos no Egipto Antigo e talvez também o próprio algoritmo de
construção geométrica tenha sido compreendido na sua generalidade.
36
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 1.42

37
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Figura 1.43

Considerações finais

Como dissemos na introdução, relativamente poucos escarabeus


do Egipto Antigo apresentam figuras geométricas compostas por uma
ou mais linhas contínuas que, de certa forma se assemelham ao tipo do
padrão dos sona da África ao Sul do Equador. Por um lado, esta
frequência baixa e, no entanto, por outro lado, o seu aparecimento
durante centenas de anos em escarabeus de reduzidas dimensões (em
geral com a largura inferior a 1,5 cm e o comprimento inferior a 2 cm),
fazem-nos supor que havia uma tradição fora do contexto da
fabricação e ornamentação de escarabeus em que se desenvolveram os
respectivos algoritmos geométricos. O facto de que não é fácil gravar
estas Figuras nos escarabeus sem ter a figura presente noutro material,
reforça a nossa hipótese.
Vimos que a tradição dos desenhos na areia da África central-
austral era muito mais variada e rica do que as imagens noutros
materiais como têxteis e madeira nos levam a crer à primeira vista.
Talvez se tenha verificado um processo semelhante no Egipto Antigo.
O aparecimento de algumas figuras compostas por uma linha contínua
e construídas conforme o mesmo algoritmo, pintadas em túmulos de
faraós e o único padrão monolinear desenhado num vaso que
encontrámos reforçam também, por sua vez, a nossa suposição. Talvez
uma tal tradição de desenho tenha tido a sua origem e inspiração no
entrelaçamento de esteiras e de assentos de cadeiras, ou,
possivelmente, como Petrie sugeriu, na soldadura de fios metálicos.
Encontram-se aqui pistas para novas pesquisas.
Além da geometria dos papiros ainda existentes, como o Papiro
Rhind (Papiro de Ahmes) e o Papiro Moscovo, e da geometria
“escondida” nas construções das pirâmides e outros edifícios, pode ter

38
Volume 3: Estudos Comparativos
havido no Egipto Antigo uma tradição de desenho em certa medida
similar à tradição dos sona da África ao Sul do Equador.

Bibliografia

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supernatural, Spring Books, Londres.
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Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
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Wilson, Eva (1986). Ancient Egyptian designs, British Museum,
Londres.

40
Volume 3: Estudos Comparativos

Capítulo 2
SOBRE PADRÕES-DE-FITA-TRANÇADA E OUTROS
MOTIVOS MONOLINEARES NA MESOPOTÂMIA ANTIGA

Cobras em selos na Mesopotâmia Antiga

Já no 6º milénio a.C. se utilizavam, na Ásia ocidental, selos


carimbados. Desde o início do 3º milénio a.C. empregam-se também
selos em forma de um cilindro, em cujo exterior se gravavam as
representações desejadas. Ao desenrolar o cilindro em barro húmido
aparece uma banda ilustrada (compare Herrmann, Vol. 1, p. 313;
Wooley, p. 48, 51). A cobra é um dos animais usado como motivo
nestes selos. Em comparação com outros animais, a serpente
desempenha um papel relativamente subordinado (vide Amiet, 1961,
p. 134). Contudo, o que atraiu a nossa atenção não é tanto a frequência
do seu aparecimento nos selos, mas a forma com que é representada
nos selos cilíndricos: a forma de uma fita trançada (Vide Vol. 1).

[Amiet, 1961, Folha 95: nº 1253]


a
Figura 2.1

41
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Douglas van Buuren, 1935, p. 57: nº 12]


b
Figura 2.1

As fitas trançadas apresentadas na Figura 2.1, pertencem à classe


1
A. Têm por dimensões 2×3 e 3×4. A cobra, ilustrada na Figura 2.2,
num selo da cidade de Ur (2300/2200 a.C.) pertence igualmente à
classe A. Ela apresenta, no entanto, erros de entrelaçamento na zona da
6ª e 8ª colunas primárias. Devia verificar-se: f1 = 5, f2 =4, c1 = 9 e c2 =
8.

2
[Amiet, 1961, Folha 95: nº 1247b]
Figura 2.2
1
Cf. as figuras ilustradas em Douglas van Buren (1935, p. 57, nº
11) e em Hogarth (sem ano, T. a, nº 13).
2
Cf. Legrain, 1951, Fotografia nº 63.
42
Volume 3: Estudos Comparativos

[Amiet, 1980, p. 199 e Figura 42g]


Figura 2.3

[Amiet, 1961, Folha 95: nº 1247A]


Figura 2.4

A Figura 2.3 mostra duas cobras esculpidas em pedra que são


representadas por um padrão-de-fita-trançada da classe A, de
dimensões 2×4.
3
A cobra ilustrada na Figura 2.4 pertence à classe B.
Numa fotografia em Douglas van Buren (p. 57, Fotografia nº 9)
apresenta-se uma serpente na forma duma fita trançada da classe C
(vide a representação esquemática na Figura 2.5).
A opção do artesão para uma ou outra classe depende de ele
pretender que a cabeça e a “cauda” do animal fiquem juntas ou
afastadas. Além disso, o artesão tem de escolher as dimensões da rede
3
Um outro exemplo encontra-se em Amiet (1961, T. 95, nº 1251).
43
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
com cuidado. Recordemos, por exemplo, que um padrão-de-fita-
trançada da classe A é monolinear se, e somente se, os números f1 e c1
são primos entre si.

Figura 2.5

[Amiet, 1961, Folha 95: nº 1248]


Figura 2.6

O artesão que fabricou o selo da Figura 2.6 enganou-se


visivelmente. A sua cobra consiste em duas linhas em vez de apenas
uma. Aparentemente ele parece ter trocado dois padrões-de-fita-
trançada das classes A e B, ou copiado mal um outro selo. A Figura
2.7 apresenta três padrões-de-fita-trançada bastante parecidos com o
da Figura 2.6. Talvez um deles lhe servisse de exemplo. Pode também
ter acontecido que o artesão se tivesse enganado na contagem.
Se o desenho na Figura 2.8 corresponde de facto ao selo original,
parcialmente reconstruído a partir de alguns pedaços de barro, então o
artesão enganou-se na escolha das dimensões. Sendo f1 =3 e c1 = 6
(classe A), precisa-se de três linhas; o resultado não é apenas uma
única curva como o desenho nos sugere.

44
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 2.7

[Amiet, 1972, Folha 63: nº 6]


Figura 2.8

Fitas trançadas ou padrões desenhados?

Não é fácil trançar uma fita composta por apenas uma única tira:
por exemplo, onde se deve dobrar a tira pela primeira vez?
A Figura 2.1b mostra que o seu produtor não trançou de modo
nenhum. As partes de tira numa direcção ficam sempre de baixo das
outras na direcção perpendicular à primeira, em vez de,
alternadamente, passarem “por cima – por baixo”. Outros artesãos
tiveram dificuldades em imitar e gravar cobras trançadas (vide o
exemplo na Figura 2.4).

45
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
As fitas realmente trançadas constituíam o exemplo a ser
imitado? Os esteireiros eram os investigadores das propriedades das
fitas trançadas das classes A, B, C e D?
Algumas representações de cobras não são fitas trançadas. A
Figura 2.9a mostra uma serpente num selo da 1ª dinastia de Ur
(2600/2400 a.C.) e a Figura 2.9b mostra uma parte da representação de
uma cobra proveniente de Kish. Na Figura 2.10 vê-se a impressão dum
selo cilíndrico encontrado num túmulo real em Ur. Estas imagens de
cobras correspondem a outros algoritmos geométricos.

[Amiet, 1961, Folha 81: nº 1079]


a

b
Figura 2.9

Na localidade actual de Shahr-i Sokhta (Irão) foi encontrado um


jogo de tabuleiro cujas vinte casas são abraçadas por uma serpente
(vide a Figura 2.11). O tabuleiro data de 2300 / 2200 a.C. (cf.
Giacardi, p. 145, 146). Pode-se dizer que ele é composto por duas fitas
trançadas. Contudo, na realidade, já não se trata de um entrelaçamento:

46
Volume 3: Estudos Comparativos
onde as duas fitas trançadas se unem, as partes de cobra não são
entrelaçadas, mas giram em espiral, uma em torno da outra. Na criação
desta cobra de tabuleiro houve considerações que ultrapassam o
contexto do trançar. O criador teve consciência duma regra de
encadeamento de padrões-de-fita-trançada monolineares (compare
Vol. 1, Cap. 6)? Um padrão monolinear gravado num cilindro (c. 2800
a.C.) proveniente da cidade suméria de Lagash (vide a Figura 2.12a)
reforça a ideia de que as regras de encadeamento eram conhecidas. No
padrão uniram-se quatro exemplares do mesmo motivo de base (vide a
Figura 2.12b), garantindo tanto quatro eixos de simetria como uma
simetria rotacional de 90o (cf. a construção de um lusona com simetria
rotacional de 90o analisada no Vol. 1, Cap. 9).

[Amiet, 1961, Folha 80: nº 1068]


Figura 2.10

[Giacardi, 1979, p. 147]


Figura 2.11
47
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Petrie, 1930, Folha XLI]


a b
Figura 2.12

Figura 2.13

48
Volume 3: Estudos Comparativos
Numa tábua de barro de Schuruppak, c. 2500 a.C., encontra-se
4
um desenho riscado cuja versão reduzida e topologicamente
equivalente se apresenta na Figura 2.13. Trata-se (sem contar com as
“cabeças”) de um padrão-de-fita-trançada da classe A, composta por
duas linhas horizontalmente simétricas.
A possibilidade de compor serpentes trançando fitas pressupõe o
conhecimento das propriedades dessas fitas. Em particular, o produtor
de selos devia saber quais são as fitas trançadas das classes A, B, C e
D que são constituídas por apenas uma única fita: que valores de f1, f2,
c1, c2 são possíveis? Para poder adquirir este saber, é muito mais fácil
desenhar as fitas do que trançá-las!
O desenho gravado representado na Figura 2.13 reforça a nossa
suposição de que existia, na Mesopotâmia Antiga, uma tradição de
desenho, que não só se inspirou, pelo menos parcialmente, na imitação
das fitas trançadas, mas também a superou, como vimos no caso da
tradição dos Cokwe. Desenhar em barro ou na areia é uma actividade
muito mais “livre” que trançar: podem ser pesquisadas formas difíceis
de se trançar; assim como podem ser elaboradas figuras “intrançáveis”,
estimulando a reflexão matemática.

Bibliografia

Amiet, Pierre (1961): La Glyptique mésopotamienne archaïque, Paris.


Amiet, Pierre (1972): Glyptique Susienne des Origines à l’Époque des
Perses Achéménides, Librairie Orientaliste Paul Geuthner, Paris.
Amiet, Pierre (1980): La Glyptique mésopotamienne archaïque
(edição revista e corrigida), Centre National de la Recherche
Scientifique, Paris.
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Giarcardi, L.; Roero, S. & Viola, T. (1979): Ipotesi sull’ esistenza di
una mathematica magico-sacrale presso gli antiche Sumeri, in:
Arithmos-Arrythmos, Skizzen aus der Wissenschaftsgeschichte,
München, 143-160.
Herrmann, Joachim (1984): Lexikon früher Kulturen, Leipzig.

4
Vide a fotografia em Herrmann, 1984, Vol. 2, p. 245.
49
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
Hogarth, D. C. (sem ano): Hittite seals, Londres.
Legrain, L. (1951): Ur excavations, Vol.10, Seal cylinders, Nova
Iorque.
Petrie, W. M. Flinders (1930): Decorative patterns of the ancient
world, University College, Londres.

50
Volume 3: Estudos Comparativos

Capítulo 3
SOBRE ALGUNS ALGORITMOS GEOMÉTRICOS NA ÍNDIA

Neste capítulo analisaremos alguns desenhos de soleira


tradicionais e desenhos chamados kolam da Índia. O capítulo é
composto por duas partes. Na primeira parte reproduz-se um artigo
1
publicado em 1989, em que se investigarão desenhos de soleira
Tamil relatados por Layard (1937) que não satisfazem o tradicional
ideal cultural da monolinearidade. Apresentar-se-á a hipótese de que
estes padrões são versões “degradadas” de padrões originalmente
monolineares. As possíveis versões originais são reconstruídas e o seu
potencial matemático é explorado. Na segunda parte analisar-se-ão
desenhos kolam e comparar-se-ão os resultados com as hipóteses
formuladas na primeira parte.

3.1 Reconstrução e extensão de simetrias perdidas: exemplos dos


Tamil do Sul da Índia

Introdução: desenhos de soleira Tamil

Durante o mês das colheitas de Margali (de meados de


Dezembro a meados de Janeiro), as mulheres Tamil no sul da Índia
costumavam fazer desenhos na frente das soleiras das suas casas, todas
as manhãs. Margali é o mês no qual é suposto ocorrerem toda uma

1
A secção 3.1 foi originalmente escrita em Inglês e publicada na
revista internacional Computers & Mathematics with
Applications” (Vol. 17, p. 791-813, Oxford / Nova Iorque,
1989), traduzida por Joaquina Silva, docente do Departamento
de Matemática na Delegação do Instituto Superior Pedagógico
na Cidade da Beira, Moçambique
51
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
espécie de epidemias. Os desenhos têm o propósito de apaziguar o
deus Siva que preside aos destinos durante o mês de Margali.

a b

c d
[Layard, 1937, p. 137]
Figura 3.1

Para preparar os seus desenhos as mulheres varrem um pequeno


espaço com cerca de uma jarda quadrada e borrifam-no com água ou
untam-no com estrume de vaca. Sobre a superfície limpa, humedecida,
colocam uma rede rectangular de referência com pontos equidistantes.
Então a(s) curva(s) que forma(m) o desenho é (são) feita(s) segurando
52
Volume 3: Estudos Comparativos
farinha de arroz entre os dedos e, com um leve movimento destes,
deixam-na cair numa linha fechada, suave, à medida que a mão é
movida nas direcções desejadas. As curvas são desenhadas de tal
maneira que rodeiam os pontos sem os tocar. “O desenho ideal é
composto por uma única linha contínua” (Layard, p. 123). Por outras
palavras, monolinearidade constituía o ideal.

a b

c d

[Layard, 1937, p. 132]


Figura 3.2

A Figura 3.1 mostra exemplos de desenhos que exibem uma (a),


duas (b, c) ou quatro (d) simetrias bilaterais. Contudo existem outros
desenhos tradicionais de soleiras que não se conformam com as
normas Tamil, sendo compostos por dois, três ou mais caminhos
fechados sobrepostos. A Figura 3.2a mostra um exemplo, feito com
53
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
três linhas fechadas separadas (Figura 3.2b, c, d). De acordo com
Layard, estes desenhos “representam de uma maneira clara um espírito
de desenvolvimento artístico, ... mas são tecnologicamente
degradados” (Layard, 1937, p. 149). São “imitações”; podem apenas
dar a impressão de terem sido compostos por uma única curva “que
nunca termina”. Residirá a “degradação” realmente no fracasso de
criar padrões monolineares mais intrincados?
Nesta secção (3.1) será apresentada uma hipótese alternativa:
muitos dos padrões formados por uma “pluralidade de linhas que
nunca terminam”, analisados por Layard, podem ser versões
degradadas de figuras que originalmente eram compostas por uma
única linha fechada.

Análise e reconstrução de um desenho “pavitram”

Os nomes dados a desenhos formados por uma única linha “que


nunca termina” são normalmente pavitram, que significa anel e
Brahma-mudi ou nó de Brahma. “O objectivo dos pavitram é afugentar
gigantes, espíritos do mal ou demónios” (Layard, p. 138). Não é
estranho que o desenho na Figura 3.2a, embora composto de três
caminhos fechados sobrepostos, mesmo assim seja chamado pavitram?
Será possível construir um desenho semelhante ao da Figura 3.2a mas
feito de uma única linha?

a b
Figura 3.3

54
Volume 3: Estudos Comparativos
Por um lado, a parte exterior do desenho exibe uma simetria
rotacional de 90o (vide a Figura 3.3a), mas, por outro lado, a parte
interior exibe só uma simetria rotacional de 180o (vide a Figura 3.3b).
Como podemos remover esta inconsistência entre as partes interna e
externa?

a b

c
Figura 3.4

Verticalmente, passam à volta do centro dois segmentos de curva


“sinusoidais” (compare Figura 3.4a). Se acontece o mesmo
horizontalmente (vide a Figura 3.4b), então parece ser possível
completar um desenho (Figura 3.4c) que não só exiba uma simetria
rotacional de 90o (olhando da direita ou da esquerda, de baixo ou de
cima, a Figura fica sempre a mesma) mas seja também semelhante ao
pavitram (Figura 3.2a). Além disso, o padrão resultante (Figura 3.4c) é
monolinear!

55
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
Os dois desenhos, o primeiro referido por Layard (Figura 3.2a) e
o outro reconstruído por nós (Figura 3.4c), diferem só em dois
detalhes, como está ilustrado na Figura 3.5. Quando na Figura 3.4c os
segmentos de curva chegam tão próximos em P e Q que quase se
tocam, podem criar a falsa impressão de que P e Q constituem pontos
de intersecção, como na Figura 3.5a.

P P

Q Q

Figura 3.5

O padrão monolinear da Figura 3.4c é provavelmente o desenho


original. O padrão polilinear referido (Figura 3.2a) é uma degradação
da Figura 3.4c, uma consequência de deficiente transmissão de uma
geração para a outra, causada, por exemplo, por um desenhar não claro
ou memorização imprecisa, uma vez que “nenhuma tentativa é feita
para preservar os padrões. Eles são pisados quase imediatamente
depois de terem sido feitos e são logo destruídos” (Layard, p. 123); a
transmissão torna-se facilmente deficiente.

Um segundo exemplo

O desenho de soleira anónimo, que se mostra na Figura 3.6a,


composto de cinco curvas fechadas (Figura 3.6b, c, d), exibe uma
simetria rotacional de 90o. Pode-se supor que o original deste padrão
foi formado por uma única linha fechada e exibia a mesma simetria
rotacional. Eliminando em cada lado uma junção “falsa”, como no
exemplo anterior (junções P e Q), quatro desenhos resultam ser o
possível padrão original (vide a Figura 3.7).

56
Volume 3: Estudos Comparativos

a b

c d
[Layard, 1937, p. 141]
Figura 3.6

Figura 3.7

57
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
Regras de transformação

Antes de avançar com a reconstrução de outros desenhos de


soleira tradicionais dos Tamil, parece apropriado analisar o que
acontece, sob determinadas condições (cf. Vol. 2, Capítulo 5), com o
número de linhas fechadas, quando se introduz ou elimina uma junção
passando de um padrão para outro.
Quando se introduz uma junção juntando duas curvas distintas, o
número de linhas diminui de uma [regra 1]. Quando se elimina uma
junção formada de duas curvas distintas que se cruzam, então o
número de linhas decresce em uma [regra 2]. A seguinte tabela
sumariza as regras de transformação:

número de
natureza situação antes situação
regra linhas depois
da da depois da
da
transformação transformação transformação
transformação
introdução
1 duma -1
junção
eliminação
2 duma -1
junção

No exemplo de reconstrução do desenho pavitram, aplicámos a


segunda regra duas vezes. A mesma regra foi usada quatro vezes no
segundo exemplo, diminuindo o número total de linhas de cinco para
uma.

Reconstrução dos padrões denominados “pulverizador de água” e


“mesa giratória”

Damos agora duas aplicações da primeira regra de


transformação. O padrão do “pulverizador de água de rosas” (vide a
Figura 3.8a) é composto de quatro curvas fechadas (Figura 3.8b, c, d,
e). Introduzindo junções em P, Q e R no eixo vertical, obtém-se um
desenho muito semelhante (vide a Figura 3.9), composto por um único
caminho fechado.
58
Volume 3: Estudos Comparativos

[Layard, 1937, p. 147]


a
Figura 3.8

59
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

b
Figura 3.8

60
Volume 3: Estudos Comparativos

c, d, e
Figura 3.8
61
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Figura 3.9

62
Volume 3: Estudos Comparativos
O desenho de soleira chamada “mesa giratória”, ilustrado na
Figura 3.10 é formado por três linhas “que nunca terminam”
sobrepostas. Quando se criam junções em S e T no eixo horizontal de
simetria, aparece o provável padrão original feito com uma única linha
(vide a Figura 3.11). Uma outra possibilidade é apresentada na Figura
3.12.

S T

[Layard, 1937, p. 145]


Figura 3.10

63
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Figura 3.11

Figura 3.12
64
Volume 3: Estudos Comparativos

R
S

a b
Transformação pela introdução de junções em P, Q, R e S
Figura 3.13

O padrão pavitram revisitado

Transformámos os desenhos de soleira anónimos, apresentados


na Figura 3.6a, em padrões monolineares, eliminando quatro junções
por aplicação da regra 2. O processo “inverso” é também realizável:
quatro novas junções podem ser introduzidas com a regra 1. Como
ilustram as Figuras 3.13 e 3.14, há duas possibilidades para fazer isso
de tal modo que o desenho final exiba a mesma simetria rotacional de
90o, como na Figura 3.6a, e seja formado por uma única linha “que
nunca termina”.

U
V

Z
W

a b
Transformação pela introdução de junções em U, V, W e Z
Figura 3.14
65
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

O caminho fechado na Figura 3.14b constitui um outro original


possível para este desenho de soleira anónimo (vide a Figura 3.6a),
pois ambos os padrões são ainda bastante semelhantes.
Surpreendentemente, a Figura 3.13b é idêntica à nossa reconstrução
(Figura 3.4c) do desenho pavitram (Figura 3.2a), mas sem a
ornamentação do rebordo. Nesta forma o padrão pode ser facilmente
estendido, como será mostrado depois de uma breve referência à noção
de extensão inerente à tradição de desenho Tamil.

a b
[Layard, 1937, p. 137]
Figura 3.15

Extensões

Os desenhos de soleira Tamil que se apresentam na Figura 3.15,


feitos com uma única curva fechada, são bastante semelhantes na sua
estrutura. Podem ambos ser considerados como padrões
“rectangulares” (vide a Figura 3.16) com ornamentação “circular” nos
pontos exteriores que não são vértices do rectângulo. Neste sentido, a
Figura 3.15b pode ser chamada uma extensão ou generalização
possível da Figura 3.15a. A Figura 3.17 constitui o passo seguinte.

Figura 3.16

66
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 3.17

A Figura 3.18a é outra extensão possível do padrão Tamil que se


mostra na Figura 3.15a. Por sua vez, este padrão foi usado como um
elemento na construção do desenho de soleira “berço”, visto na Figura
3.18b. O padrão elaborado da “mesa giratória” que analisámos antes
(Figuras 3.10-3.12) pode ser considerado como uma justaposição e
sobreposição parcial – e portanto uma extensão – dos elementos
monolineares mostrados na Figura 3.19.
O original do nó de Brahma da Figura 3.20, formado por quatro
curvas suaves fechadas, pode ser facilmente reconstruído. Como está
ilustrado na Figura 3.21, basta alongar os segmentos de curvas
próximos do centro. A nossa hipótese torna-se ainda mais credível se
compararmos este nó de Brahma reconstruído com o desenho de
soleira tradicional Tamil na Figura 3.22. Ambos “obedecem” ao
mesmo algoritmo geométrico. A Figura 3.23b mostra uma extensão
posterior destes padrões, neste caso com oito pontos de cada lado do
quadrado. Estas curvas fechadas são construídas com quatro “ramos”,
de tal modo que dois ramos consecutivos são simétricos em relação
aos eixos horizontal ou vertical.

67
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Layard, 1937, p. 140]


b
Figura 3.18

68
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 3.19

[Layard, 1937, p. 147]


Figura 3.20

69
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Figura 3.21

[Layard, 1937, p. 137]


Figura 3.22
70
Volume 3: Estudos Comparativos

b
Figura 3.23
71
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

a
Figura 3.24

Extensões do padrão pavitram reconstruído

O padrão do pavitram reconstruído, reduzido (Figura 3.13b)


pode ser facilmente estendido, como está ilustrado na Figura 3.24 para
os casos p=9 e p=17, onde p designa o número de pontos do lado da
rede de referência quadrada. O desenho do primeiro quarto do padrão
no caso de p=13, como está ilustrado na Figura 3.25, mostra muito
claramente que um algoritmo geométrico relativamente simples
assenta na base de um desenho bastante intricado à primeira vista.
Depois de completar cada quarto, roda-se à volta do canto e repete-se
o desenho. Isto explica a simetria rotacional de 90o que os padrões
finais (Figura 3.13b e 3.24a, b) exibem. Não são só possíveis
extensões de padrões quadrados: a Figura 3.26 mostra uma extensão
não-quadrada de 17×9, onde 17 designa o número de pontos na
primeira fila e 9 o número de pontos da primeira coluna. Geralmente, o
padrão pode ser estendido para todas as redes de referência
rectangulares (4m+1) × (4n+1), onde m e n representam números
naturais arbitrários. Todas as versões estendidas podem ser
consideradas como construídas com “células” parcialmente
sobrepostas. As células são os desenhos pavitram reconstruídos sem a
decoração exterior (Figura 3.13b); parcialmente sobrepostos no sentido
de que duas células vizinhas têm uma fila (ou coluna) de pontos,

72
Volume 3: Estudos Comparativos
exterior, comum. A Figura 3.27 mostra a extensão 9×9 do padrão
pavitram reconstruído, completado com uma ornamentação exterior.
Todas as extensões consideradas são monolineares.

b
Figura 3.24

73
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Figura 3.25

Figura 3.26

74
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 3.27

Exame do nó de Brahma

“Nó de Brahma” é geralmente um nome dado só a certos padrões


monolineares. O nó de Brahma na Figura 3.28 é, contudo, formado por
cinco curvas fechadas sobrepostas (vide a Figura 3.29). Como, além
disso, duas destas cinco passam sobre os pontos P e Q em vez de os
contornarem, torna-se altamente provável que não se trata aqui do
padrão original. A chave para a redescoberta do padrão Tamil original
parece assentar na curva fechada periférica (Figura 3.29a). É possível
modificar esta curva de modo a “preencher” também o interior da
grade quadrada de pontos?

75
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Layard, 1937, p. 144]


Figura 3.28

Em cada “lado” da linha periférica, a mesma “aselha” (vide a


Figura 3.30) repete-se três vezes. Que acontecerá se houver só uma ou
duas destas aselhas em cada “lado”? No primeiro caso (Figura 3.31),
uma única curva “que nunca termina” “preenche” todo o quadrado de
referência. Embora isto não aconteça no segundo caso (Figura 3.32a),
a grade quadrada pode ser “preenchida” (Figura 3.32b) introduzindo
quatro vezes um elemento bastante semelhante à aselha e que já
encontrámos na Figura 3.6c, d. Agora, se aplicamos a primeira regra
de transformação em S, T, U e V, obtemos o padrão monolinear com
eixos de simetria horizontal e vertical que se mostra na Figura 3.32d.

76
Volume 3: Estudos Comparativos

P Q

(duas vezes) (duas vezes)


a b
Figura 3.29

77
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Figura 3.30

Figura 3.31

78
Volume 3: Estudos Comparativos

S T

V U

b c

d
Figura 3.32

79
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

e
Figura 3.32

Os ramos (Figura 3.32e) que foram introduzidos por estas


junções não são estranhos à tradição Tamil, pois encontrámo-los antes
no modelo do “pulverizador de água de rosas” (Figura 3.8) e aparecem
também no padrão pavitram reconstruído e estendido (ver, em
particular, Figura 3.25). Usando o mesmo algoritmo geométrico no
caso de três aselhas em cada lado, obtém-se o padrão com simetria
dupla, ilustrado na Figura 3.33, que é provavelmente o nó de Brahma
original.

Fonte de inspiração

A curva fechada periférica da Figura 3.29a tem eixos de simetria


horizontal e vertical. É possível modificar a orientação das aselhas nos
dois lados opostos de tal modo que uma nova linha periférica apareça
1
(Figura 3.34). Esta exibe uma simetria rotacional de 90o. A Figura

1
Num kolam apresentado por Durai (1929, Folha E) aparece uma
linha periférica desta natureza com duas aselhas em cada lado.
80
Volume 3: Estudos Comparativos
3.35 mostra o que acontece no caso de uma aselha em cada lado. As
Figuras 3.36 e 3.37 ilustram as extensões que podem ser obtidas
quando se “preenche” o interior, nos casos de duas ou três aselhas em
cada lado. Todos estes padrões são monolineares.

Figura 3.33

81
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Figura 3.34

Figura 3.35
82
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 3.36

Figura 3.37
83
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

A -A
a b
Figura 3.38

Regressemos à Figura 3.14b e designemos este padrão por A.


Por uma reflexão deste padrão à volta do eixo vertical de simetria
obtém-se o modelo da Figura 3.38b (representação - A). Se se juntar
agora dois elementos A e dois -A de acordo com o esquema

-A A
A -A

de tal modo que duas “células” vizinhas tenham uma fila (ou coluna)
de pontos exteriores comum, descobre-se o interessante padrão
monolinear da Figura 3.39 com eixos horizontal e vertical de simetria .
Se se “isolar” o seu centro 5×5, obtém-se um outro padrão monolinear
(Figura 3.40a). Designe-se por B este padrão. Por uma reflexão de B à
volta de uma das suas diagonais, obtém-se a Figura 3.40b
(representação BT). Construindo analogamente um modelo de acordo
com o esquema

BT B

B BT

inventa-se o padrão monolinear da Figura 3.41. O isolamento do


centro 5×5 conduz-nos de novo ao padrão A.
Muitas outras variações são possíveis.
84
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 3.39

B BT
a b
Figura 3.40

85
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Figura 3.41

Observações finais

A maioria dos desenhos de soleira nos quais o estudo de Layard


se baseia foram publicados em Madras em 1923. Nesse tempo a
tradição Tamil para desenhar padrões na frente das soleiras das suas
casas durante o mês de Margali estava em declínio. Os desenhos
polilineares que analisámos parecem versões “degradadas” de padrões
originalmente monolineares. Estes padrões não “caíram do céu”, não
foram ocasionalmente descobertos; pelo contrário, uma análise
sistemática conduziu à sua invenção. Regras de transformação, assim
como algoritmos geométricos, têm sido descobertos. Consolidaram-se
noções de simetria bilateral e rotacional. Os seus inventores
desenvolveram (ou dispuseram de) ideias claras de extensão e
generalização. Construíram padrões que tiveram que satisfazer certos
critérios escolhidos como monolinearidade, continuidade, suavidade e
simetria.
A nossa análise revela o alto potencial matemático da tradição
que conduziu aos modelos de soleiras Tamil. Investigação futura sobre
a sua origem e possível influência no (talvez antigo) desenvolvimento
matemático (e artístico) na Índia (ou em qualquer outra zona do
mundo) parece necessária. Exigem também estudos futuros os factores
sociais, educacionais e técnicos que contribuíram para a já mencionada
“degradação”, i.e., para o desenvolvimento de desenhos que não
86
Volume 3: Estudos Comparativos
obedecem à norma cultural da monolinearidade. Em alguns casos (e.g.
Figura 3.6a), a “degradação” talvez tenha facilitado a memorização.
Pode ser sugerido o uso dos desenhos de soleira Tamil nas aulas
de Matemática (cf. Gerdes, 1988a, b).

[Trivedi, 1990, p. 378]


Figura 3.42

3.2 Desenhos kolam

Num artigo sobre simetria na filosofia hindu, Trivedi apresenta


um padrão alpana (vide a Figura 3.42), informando que
“existem vários tipos de padrões puramente abstractos
duma natureza simbólica... que são desenhados por
mulheres no chão e nas paredes das casas com farinha de
arroz ou com cores em pó, durante festivais e cerimónias
religiosas. Estes padrões são conhecidos sob vários nomes,
como alpana, rangoli ou kolam, e são encontrados por
toda a Índia” (1990, p. 378, 379).
Enviámos ao autor, para além do artigo reproduzido na primeira
parte do Capítulo 3, algumas publicações sobre sona, o que o levou a
87
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
mandar-nos seis brochuras populares sobre os kolam (vide na
bibliografia: [KA], [K2], [K3], [K6], [K8] e [K9]). Cada uma das
brochuras contém 24 páginas e o único texto que acompanha os
desenhos são os nomes de alguns deles. Na maioria dos kolam nelas
apresentados, as linhas passam pelos pontos de referência (vide o
exemplo na Figura 3.43). Na minoria dos casos, as linhas abraçam os
pontos tal como no caso dos padrões analisados na primeira parte deste
capítulo: dos 893 motivos apresentados nas brochuras, 222 são do tipo
em que as linhas abraçam os pontos do sistema referencial; destes,
apenas 29 são monolineares, ou seja, 3% do total.

[K3, p. 6]
Figura 3.43

Padrões com simetria

Alguns kolam monolineares encontrados nesta colecção de seis


brochuras são (quase) iguais a alguns padrões apresentados por Layard
e reproduzidos no nosso primeiro estudo. A Figura 3.1d aparece
rodada sobre um ângulo de 45o em [KA, p. 18], [K2, p. 9] e [K8, p. 8];
a Figura 3.1c ligeiramente arredondada em [K3, p. 23] e a Figura 3.15a
em [K2, p. 9]. A existência do suposto kolam da Figura 3.18a é
confirmada em [K8, p. 8]. Da Figura 3.18b (monolinear) aparece uma
88
Volume 3: Estudos Comparativos
variante (vide a Figura 3.44) que não só é polilinear, como também
perdeu a dupla simetria, tendo ficado apenas com uma simetria
rotacional de 90o. Aparentemente, para o(s) autor(es) / desenhador(es)
da referida colecção de brochuras, a monolinearidade constitui um
valor a ser transmitido menos importante que no passado (cf. Layard,
1937).

[K2, p. 2; K8, p. 4]
Figura 3.44

Na Figura 3.45 apresentam-se três kolam monolineares com


simetria axial, e na Figura 3.46 três kolam monolineares com uma
simetria rotacional de 90o. Um kolam, igualmente monolinear, mas
com apenas uma simetria rotacional de 180o, é apresentado na Figura
3.47.

89
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[K2, p. 9; K2, p. 9; K2, p. 19]


Figura 3.45

90
Volume 3: Estudos Comparativos

[K9, p. 18]
Figura 3.46

[K2, p. 9; K9, p8]


Figura 3.47

[KA, p. 12; K2, p. 9; K9, p. 8]


Figura 3.48

O kolam 3-linear apresentado na Figura 3.48 é muito parecido


com o lusona que ilustra uma capoeira para o transporte de galinhas
(cf. Vol. 1, Fig. 159): o quadrado no centro é curvilíneo em vez de
rectilíneo e as figuras são verticalmente reflectidas.

91
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[KA, p. 17]
Figura 3.49

Séries de padrões monolineares

Na Figura 3.49 apresenta-se um kolam monolinear com uma


simetria rotacional de 90o; o desenho é executado quadrante por
quadrante. Este padrão constitui o sexto elemento duma série. Os dois
primeiros elementos ilustram-se na Figura 3.50.
Na Figura 3.51 apresentamos dois kolam monolineares que
constituem o segundo e o terceiro elemento duma série, da qual o
conhecido lusona denominado tshingelyengelye é o primeiro elemento
(vide a Figura 3.52; cf. Vol. 1, Fig. 70). O quarto elemento é ilustrado
na Figura 3.53. Considerando, no entanto, os dois kolam apresentados
92
Volume 3: Estudos Comparativos
como primeiro e segundo elemento, então o kolam mostrado na Figura
3.54 – diferente da Figura 3.53 – pode constituir o elemento seguinte
dessa nova série.

Figura 3.50

93
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Durai, 1929, p. 77; KA, p. 18; Layard, 1937, p. 164]


a

[K3, p. 18]
b
Figura 3.51
94
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 3.52

Figura 3.53

95
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[K2, p. 6]
Figura 3.54

Confirmação de hipóteses

Padrão pavitram

A existência na tradição dos kolam do algoritmo por nós


reconstruído para obter um padrão pavitram monolinear (vide a Figura
3.4) e aplicado para produzir toda uma série de motivos monolineares
(vide as Figuras 3.24, 3.25, 3.26, 3.27, 3.35, 3.36 e 3.37), é confirmado
pelo kolam monolinear reproduzido na Figura 3.55. É quase igual a um
dos desenhos que incluímos no livro Lusona: Recreações geométricas
de África (Gerdes, 1991, p. 69): ao último desenho faltam,
96
Volume 3: Estudos Comparativos
relativamente ao kolam da Figura 3.55, os quatro laços pequenos nas
extremidades esquerda, superior, direita e inferior. O kolam constitui o
terceiro elemento duma série. Na Figura 3.56 apresentam-se o
primeiro e o segundo elemento.

[K2, p. 9]
Figura 3.55

O mesmo algoritmo pode levar também a uma variante


monolinear (vide a Figura 3.57) do kolam 9-linear apresentado na
Figura 3.58. Talvez as duas variantes tenham coexistido: a versão
polilinear mais simples, a ser executada por principiantes – ou num
contexto em que o número de linhas é pouco importante – , e a versão
monolinear apenas por desenhadores preparados e experientes. Ambas
as variantes apresentam uma simetria rotacional de ordem 4; apenas a
versão polilinear goza de simetrias axiais (quatro eixos).

97
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Figura 3.56

98
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 3.57

[K2, p. 10; K9, p. 10]


Figura 3.58

99
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Figura 3.59

Nó de Brahma

O algoritmo por nós reconstruído na Figura 3.32 (vide o


esquema na Figura 3.59) aparece de facto nos kolam, como mostra a
Figura 3.60. Este desenho tem as mesmas dimensões que o nó de
Brahma, reconstruído na Figura 3.33: quinze pontos numa diagonal.
Apenas no rebordo os dois desenhos são diferentes.
Na Figura 3.61 mostram-se as versões com 7 e 11 pontos em
cada diagonal, respectivamente. São igualmente monolineares.
Quando se pretende aplicar o algoritmo no caso de 5, 9, 13, etc. pontos
na diagonal, surgem desenhos polilineares. A Figura 3.62 ilustra o
caso de 9 pontos na diagonal. Trata-se de um kolam composto por 7
linhas.
A Figura 3.63 mostra dois kolam parecidos, compostos por cinco
linhas fechadas. Introduzindo quatro novos cruzamentos (cf. Figura
13), de tal modo que se mantenha a simetria dupla, obtém-se o padrão
da Figura 3.64, em que de facto se aplica o mesmo algoritmo que é
representado esquematicamente na Figura 3.59. Rodando a Figura 3.64
sobre um ângulo de 90o, observa-se que se trata do mesmo algoritmo
que o do “estômago do leão” dos Cokwe (cf. vol. 1, Figuras 123 e 124;
versão curvilínea). Na Figura 3.65 apresenta-se um kolam 17-linear

100
Volume 3: Estudos Comparativos
que de maneira análoga pode ser transformado num padrão
monolinear.

[K2, p. 9; K9, p. 18]


Figura 3.60

101
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

Figura 3.61

102
Volume 3: Estudos Comparativos

[K6, p. 22]
Figura 3.62

[KA, p. 17; K9, p. 18]


Figura 3.63

Figura 3.64
103
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[K2, p. 16]
Figura 3.65

[K3, p. 23]
Figura 3.66

Mais um exemplo duma reconstrução

A Figura 3.66 mostra um kolam monolinear ao qual falta uma


simetria rotacional global de 90o; apenas no centro apresenta uma
simetria rotacional local de 90o. Não nos parece o kolam original.
Reconstituindo a simetria global, obtemos dois possíveis originais
(vide a Figura 3.67). Surpreendentemente, o segundo é igual à Figura
3.35.

104
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 3.67

[K8, p. 22]
Figura 3.68

Simetria e monolinearidade: possível conflito de valores

Como vimos no estudo dos sona, os valores de simetria e


monolinearidade nem sempre são compatíveis. O kolam na Figura 3.68
apresenta uma simetria dupla, mas é polilinear: composto por onze
105
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
linhas. Em ambas as diagonais tem 13 pontos. Se numa das suas
diagonais tivesse, em contrapartida, 14 pontos, o padrão tornar-se-ia
monolinear, perdendo, no entanto, um eixo de simetria (vide a Figura
3.69). Alterando ligeiramente o algoritmo podemos, neste caso,
recuperar a simetria dupla, sem perder a monolinearidade, como
mostra a Figura 3.70.

Figura 3.69

Grande parte dos desenhos kolam apresentados nas seis


brochuras consideradas é simétrica e polilinear: polilinear porque as
simetrias desejadas ou as dimensões não facilitem monolinearidade, ou
porque se prefere um algoritmo simples, em que se repete por diversas
vezes um elemento de base.

106
Volume 3: Estudos Comparativos

Figura 3.70

Degradação ou coexistência

Na primeira parte deste capítulo apresentámos a tese de que


grande parte dos desenhos polilineares relatados por Layard eram
versões degradadas de desenhos originalmente monolineares. É, de
facto, possível. Uma outra hipótese sugerida ao analisar as seis
brochuras com desenhos kolam, reside na suposição da coexistência de
várias tradições e vários níveis de conhecimento, por exemplo,
desenhos polilineares com algoritmos relativamente simples,
conhecidos por mais pessoas, e desenhos monolineares mais
complicados, conhecidos por especialistas, tal como no caso dos
“akwa kuta sona”. Esta “degradação ou coexistência” pode variar de
zona e de período, e merece um estudo mais aprofundado.

107
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
Bibliografia

Anónimo (sem ano): Kolam, Gollapudi Veeraswamy Son Publishers,


Fort Gate - Rajahmundry-1, 24 p. [KA]
Gerdes, Paulus (1988a): Descobrir as Figuras que faltam. Série de
exercícios inspirados em desenhos tradicionais dos Quiocos do
Nordeste de Angola e dos Tamil do Sul da Índia, TLANU-
minibrochura 1988-1, Maputo, 10 p.
Gerdes, P. (1988b): Find the missing figures. A series of geometric
problems inspired by traditional Cokwe sand drawings (Angola)
and Tamil threshold designs (India), Mathematics Teaching,
Derby (GB), Vol. 124, 18-19, capa e contra-capa.
Gerdes, P. (1989): Reconstruction and extension of lost symmetries:
examples from the Tamil of South India, Computers and
Mathematics with Applications, Nova Iorque, Vol. 17, nº 4-6,
791-813, e in: Hargittai, I. (coord.), Symmetry, Unifying human
understanding, Pergamon Press, Nova Iorque, Vol. 2, 791-813.
Gerdes, P. (1991): Lusona: Recreações geométricas de África,
Instituto Superior Pedagógico, Maputo.
Kumar, K.Prasanna (sem ano): Kolam, Gollapudi Veeraswamy Son
Publishers, Fort Gate - Rajahmundry-1, Vol. 2, 24 p. [K2]
Kumar, K.Prasanna (sem ano): Kolam, Gollapudi Veeraswamy Son
Publishers, Fort Gate - Rajahmundry-1, Vol. 3, 24 p. [K3]
Kumar, K.Prasanna (sem ano): Kolam, Gollapudi Veeraswamy Son
Publishers, Fort Gate - Rajahmundry-1, Vol. 6, 24 p. [K6]
Kumar, K.Prasanna (sem ano): Kolam, Gollapudi Veeraswamy Son
Publishers, Fort Gate - Rajahmundry-1, Vol. 8, 24 p. [K8]
Kumar, K.Prasanna (sem ano): Kolam, Gollapudi Veeraswamy Son
Publishers, Fort Gate - Rajahmundry-1, Vol. 9, 24 p. [K9]
Layard, J. (1937): Labyrinth ritual in South India: threshold and tattoo
design, Folk-Lore, Londres, Vol. 48, 115-182.
Trivedo, Kirti (1990): Symmetry in Hindu philosophy, Symmetry,
culture and science, Budapest, Vol. 1, nº 4, 369-386.

108
Volume 3: Estudos Comparativos

Capítulo 4
BREVE EXCURSÃO PARA OUTROS CONTINENTES

[G. Bain, 1951, p. 45]


Figura 4.1

4.1 Padrões-de-nó dos Celtas

Artesãos no seio dos Celtas (Ilhas Britânicas), em particular os


da escola Píctica, costumavam ornamentar pedras, joalharia e os
rebordos das páginas de livros com padrões compostos de diversos
nós. A Figura 4.1 apresenta um exemplo. George Bain (1951)
reconstruiu os métodos de construção de vários tipos destes padrões-
1
de-nó. Muitos têm a sua origem em fitas trançadas que são
transformadas, eliminando alguns pontos de intersecção (cf. Vol. 2). A
Figura 4.2 apresenta um exemplo duma tal transformação.

1
Cf. I. Bain, 1986.
109
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[G. Bain, 1951, p. 45]


Figura 4.2
110
Volume 3: Estudos Comparativos
O padrão monolinear final (VI) com dois eixos de simetria
perpendiculares é o resultado duma transformação dum fita trançada
da classe A de dimensões 5x6, em que se eliminaram quatro pontos de
intersecção. Se a tentativa de reconstrução por George Bain fosse
correcta, como supomos, então poderíamos conjecturar que os artesões
célticos desenhavam os padrões-de-nó primeiramente como linhas
normais que se intersectam, e só depois representavam os padrões
como nós, entrelaçando-os “por cima – por baixo”. Neste processo,
determinadas regras de transformação podem ter sido descobertas.

[G. Bain, 1951, p. 27]


a b
Figura 4.3

Nem todos os padrões-de-nó célticos podem ser construídos


imediatamente a partir de fitas trançadas pelo referido método de Bain.
Em alguns casos parece-nos que os padrões-de-nó foram gerados por
um encadeamento sistemático de elementos monolineares. A Figura
4.3 apresenta esquematicamente um exemplo onde o padrão-de-nó é
composto por elementos de fita trançada da classe B. Do mesmo
modo, a Figura 4.4 fornece dois exemplos em que se juntaram
elementos de fita trançada das classes A e D, respectivamente. Isto
leva-nos a crer que os inventores célticos tenham conhecido
determinadas regras de encadeamento de padrões monolineares, tal
como os “akwa kuta sona” (cf. Vol. 1, Cap. 6).
O padrão na Figura 4.5a não corresponde a uma fita trançada.
Tal como vimos no caso de sona comparáveis (cf. Vol. 1, Cap. 5),
supomos que também aqui se juntou somente no fim a “ornamentação”
dos catetos do “triângulo” (vide a Figura 4.5b), escolhendo os laços de
tal modo que se gerasse um padrão monolinear.

111
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Jones, 1856, Folha LXIV, nº 1 e 2]


Figura 4.4

[Jones, 1856, Folha LXIV, nº 9]


Figura 4.5

Noutros casos quer-nos parecer que os padrões-de-nó constituem


extensões, conscientemente construídas, de padrões monolineares já
inventados. No caso do padrão na Figura 4.6, trata-se do quinto
elemento (A5) duma série de padrões que satisfazem o mesmo
algoritmo geométrico. A Figura 4.7 mostra A1, A2 e A3,
respectivamente.
No caso do padrão com simetria dupla, apresentado na Figura
4.8, estamos perante o quarto elemento (B4) duma série de padrões.
Nota-se que nesta série o segundo elemento é trilinear e não
monolinear (vide a Figura 4.9).
112
Volume 3: Estudos Comparativos

[Jones, 1856, Folha LXIV, nº 10]


Figura 4.6

A A
1 2

A
3
Figura 4.7

Seria interessante continuar a investigar a tradição de


ornamentação dos Celtas no que diz respeito a conhecimentos
2
aritméticos, geométricos e gráficos nela ocultos.

2
Cromwell (1993) avançou com um estudo sobre simetria nos
padrões-de-nó célticos, em particular, do ponto de vista da teoria
de padrões-de-fita.
113
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Jones, 1856, Folha LXIV, nº 3]


Figura 4.8

B B
1 2

Figura 4.9

4.2 Desenhos na areia nas Ilhas Vanuatu

No Volume 1 apresentámos um desenho na areia (Figura 288),


proveniente da Ilha de Malekula em Vanuatu (anteriormente Novas
Hébridas) na Oceânia, cujo algoritmo era o mesmo que o dum lusona.
Nos anos 1926 e 1927, Deacon (1934) recolheu 118 desenhos. Tal
como no caso dos sona, os mais difíceis eram executados por homens,
especialistas em desenho, que os utilizavam como ilustrações. Eles
transmitiam o seu conhecimento a um ou mais filhos. Em geral,
gozavam de preferência desenhos duma linha contínua e suave e/ou
simétricos. A execução tinha de ser rápida e qualquer paragem no
meio era considerada uma imperfeição. Para facilitar a sua execução,
os mestres de desenho costumavam marcar primeiramente um
114
Volume 3: Estudos Comparativos
referencial composto por uma rede de quadrados ou por uma rede de
pontos. A maioria dos desenhos constituem representações de plantas,
pássaros, peixes e outros animais. Recentemente Ascher (1988, 1991)
e Nissen (1988) analisaram aspectos da matemática dos desenhos
3
tradicionais das Ilhas Vanuatu. A título comparativo apresentaremos
aqui apenas alguns exemplos desta rica tradição de desenho.
Nota-se a presença de padrões-de-fita-trançada monolineares,
tanto na forma de Figuras completas como na forma de partes de
Figuras mais complicadas. Da classe A observámos padrões de
dimensões de 6×5 (Deacon, Fig. 89) e de 5×3 (Nissen, Fig. 1).

[Deacon, 1934, Figura 63] b


a
Figura 4.10

Na base do desenho ilustrado na Figura 4.10a, encontra-se uma


união de três padrões-de-fita-trançada de classe A de dimensões 2×9,
3×3 e 3×3 (vide a Figura 4.10b). Será que o seu inventor sabia que
“colando” padrões-de-fita-trançada da classe A de dimensões n×n
(neste caso 3×3) a um padrão-de-fita-trançada monolinear da mesma
classe, se mantinha a monolinearidade? (Compare a quinta regra de
encadeamento analisada no Vol. 1, Cap. 7)
Na base do desenho ilustrado na Figura 4.11a encontra-se um
padrão-de-fita-trançada da classe B: f1=f2=5, c1=6, c2=5 (vide a
Figura 4.11b).

3
Struik (1948) foi provavelmente o primeiro historiador da
Matemática a chamar atenção para a Geometria dos desenhos
das Ilhas Vanuatu.
115
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Deacon, 1934, Figura 81] b


a
Figura 4.11

No desenho apresentado na Figura 4.12 encadearam-se dois


padrões-de-fita-trançada da classe D: f1=1, f2=2, c1=3, c2=2 (cf. o
lusona ilustrado no Vol. 1, Fig. 238).
Na Figura 4.13 dá um exemplo dum desenho Figurativo
monolinear, representando o coração.

[Deacon, 1934, Figura 52]


Figura 4.12

116
Volume 3: Estudos Comparativos

[Deacon, 1934, Figura 44]


Figura 4.13

4.3 Sobre padrões monolineares no seio de índios norte-


americanos

No seio dos índios Navaho (ou Navajo) no Arizona e Nova


México existe uma tradição bem conhecida de desenho e pintura na
areia. Os desenhos produzidos no século 20 que vimos nas publicações
de Foster, Reishard e Newcomb, e Nailor (1975, p. 208-216) são
abstracto-Figurativos. No entanto, alguns motivos que aparecem em
produtos de artesanato mais antigo, deixam-nos supor que, no passado,
pode ter havido uma tradição de desenhos (na areia) abstracto-
geométricos. A Figura 4.14 mostra um pequeno tapete Navaho,
fabricado por volta de 1930. No centro observa-se um padrão-de-fita-
trançada monolinear da classe A de dimensões 3×7. A distinção entre
as duas cores presente neste padrão torna bem visível o algoritmo
geométrico envolvido. A sua aparência num tapete pressupõe que o
117
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
artesão já sabia, duma maneira ou doutra, que com estas dimensões se
obtém, de facto, um padrão monolinear. A ornamentação do rebordo é
igualmente constituído por um motivo monolinear com simetria dupla.

[Wilson, 1984, Folha 33]


Figura 4.14

Wilson, 1984, Folha 30]


Figura 4.15
118
Volume 3: Estudos Comparativos

Wilson, 1984, Folha 41]


Figura 4.16 Figura 4.17

Uma cobertura Navaho no estilo clássico do século 19 apresenta-


se na Figura 4.15. O padrão central pertence à classe B dos padrões-
de-fita-trançada. As dimensões (f1=4, f2=3, c1=c2=5) tinham sido
escolhidas de tal modo que o padrão seja monolinear. Mais uma vez
isto pressupõe um conhecimento de, e uma experimentação com tais
padrões. E esta experimentação é mais fácil se se desenhar as linhas do
que quando se trançar a fita.

119
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
Na Figura 4.16 apresenta-se um padrão de uma cinta de índios
da região dos Grandes Lagos. Data do século 18 ou 19. No rebordo,
tanto à esquerda como à direita, vê-se um padrão monolinear simples e
fechado. A parte central é composta por uma única linha aberta, cujo
algoritmo de construção se ilustra na Figura 4.17. Pode ser que o
algoritmo tenha a sua origem numa técnica de fabrico de redes de
pesca. Quando se continua a execução do algoritmo no sentido
contrário (cf. o exemplo do algoritmo do lusona “estômago de leão”,
Vol. 1, Fig. 124), obtém-se um motivo fechado (vide a Figura 4.18),
constituindo um padrão-de-espelho regular (cf. Vol. 2, Cap. 5).

Figura 4.18

Parece-nos interessante procurar mais possíveis vestígios de


pensamento algorítmico e da presença de valores como o da
monolinearidade na tradição de desenhos (na areia) e de artefactos dos
4
índios das Américas.

4
Num pequeno artigo recente Morales sugere a existência de
padrões-de-fita-trançada em mosaicos dos Maya (1993).
120
Volume 3: Estudos Comparativos
Bibliografia

Ascher, Marcia (1988): Graphs in culture: a study in ethnomathematics


I, Historia Mathematica, Nova Iorque, Vol. 15, 201-227.
Ascher, Marcia (1991): Ethnomathematics, a multicultural view of
mathematical ideas, Brooks & Cole Publ. Company, Pacific
Grove Ca.
Bain, George ([1951] 1990): Celtic art: The methods of construction,
Constable, Londres, 164 p.
Bain, Iain ([1986] 1991): Celtic knotwork, Constable, Londres, 115 p.
Cromwell, Peter (1993): Celtic knotwork: Mathematical Art, The
Mathematical Intelligencer, Vol. 15, nº 1, 36-47.
Deacon, A.Bernard (1934): Geometrical drawings from malekula and
other islands of the new Hebrides, Journal of the Royal
Anthropological Institute, Londres, Vol. 64, 129-175
Foster Kenneth (sem ano), Navajo sandpaintings, Window Rock.
Jones, Owen ([1856] 1986): The grammar of ornament, Omega Books,
Hertfordshire.
Morales, Leonel (1993): Mayan geometry, Newsletter of the
International Study Group on Ethnomathematics, Albuquerque,
Vol. 9, nº 1, 1-4.
Nailor, Maria (1975): Authentic Indian designs, Dover, Nova Iorque.
Nissen, Philip (1988): Sand drawings of Vanuatu, Mathematics in
School, 10-11.
Reishard, Gladys & Newcomb, Frank (1937): Shooting chant:
sandpaintings of the Navajo, Nova Iorque.
Struik, Dirk (1948): Stone Age Mathematics, Scientific American,
Vol. 179, 44-49.
Wilson, Eva (1984): North American Indian Designs, British Museum,
Londres.

121
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

122
Volume 3: Estudos Comparativos

Capítulo 5
REGRESSO A ÁFRICA

a b c d

g
[Baumann, 1929, p. 61]
Figura 5.1

123
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
Segundo Baumann (1929, p. 61), os padrões ilustrados na Figura
5.1 são “tipicamente africanos”, e podem ser encontrados em diversas
partes do continente. Já encontrámos os padrões relacionados 5.1a e
5.1b entre os Cokwe e os (Ba)Kuba (cf. Vol. 1, Figuras 59, 70 e 317).
A Figura 5.2 apresenta duas variações em que estes motivos se
repetem. Nesta forma aparecem em roupa da etnia Haussa (Nigéria). A
Figura 1c constitui um padrão-de-fita-trançada da classe A. Aparece,
por exemplo, bordada numa túnica do Benin (cf. Prussin, p. 91).

a b
[Baumann, 1929, p. 135]
Figura 5.2
Encontrámo-la também na forma ilustrada na Figura 5.3 como
um dos carimbos adinkra com os quais se decoram têxteis no Gana:
representa o “nó dum sábio”.

[Prussin, 1986, p. 241]


Figura 5.3

A Figura 5.1d é um padrão-de-fita-trançada da classe A de


dimensões 2×3. Encontrámo-la elaborada de diversas maneiras nos
124
Volume 3: Estudos Comparativos
sona ilustrados na Figura 37 do Vol. 1. Da mesma classe são diversos
padrões bordados em túnicas do Mali (dimensões 7×3, 6×3, 6×2; cf. as
figuras em Prussin, p. 92), esculpidos em portas e vários outros
objectos de madeira e de outros materiais entre os Yoruba na Nigéria
(2×5, 4×5, 2×11 [Baumann, p. 127]; 4×5, 4×4, 2×7, 4×6, 6×7, 2×3,
2×17 [Denyer, p. 89]; 2x2, bronze [Millon, p. 245]), esculpidos numa
campaínha de marfim do século XVI do reino do Benin (2×2, 2×3
[Millon, p.269]), feitos de missangas aplicadas em roupa (Yoruba, 4×9
[Millon, p. 238]), em tecidos de algodão no Burkina Fasso (3×8; vide a
Figura 5.4), bordado como “quadrado mágico” em roupa de mulheres
em Tombouctou no Mali (3×3; vide a Figura 5.5), aplicado num pente
ornamentado com missangas dos Yao no Malawi (3×4, 3×3 [Carey,
1986, p. 29]).

[Etienne-Nugue, 1982, p. 169]


Figura 5.4

[Prussin, 1986, p. 147]


Figura 5.5

125
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Prussin, 1986, p. 222]


Figura 5.6

A Figura 5.6 mostra a ornamentação da fachada duma casa em


Zinder no Niger, onde se nota a utilização dum padrão-de-fita-trançada
de 3×3 (classe A). Padrões-de-fita-trançada encontram-se também,
segundo Baumann (1929) nas regiões do Lago Tchad, dos rios Congo
e Zambezi e na Somália. Segundo informação oral de N. Langdon
(1988), crianças no Gana costumam desenhar padrões-de-fita-trançada
na areia como passatempo. Na ornamentação das paredes observam-se
também padrões-de-fita-trançada na Tanzania (3×3) e entre os Venda
na África do Sul (2×n, cf. Denyer, p. 121). A Figura 5.7 mostra um
padrão-de-fita-trançada não-rectangular feito de missangas numa
cadeira dos Yoruba.

126
Volume 3: Estudos Comparativos

[Carey, 1991, p. 28]


Figura 5.7

A Figura 5.1e tem semelhança com os sona ilustrados nas


Figuras 66 e 69 (Vol. 1) Aparece esculpida em portas de madeira e em
facas cerimoniais de marfim dos Yoruba (dimensões 5×3, 6×3 e 3×4;
cf. Denyer, p. 89; 2×3, 3×3, cf. Figura 56 em Fagg & Pemberton). A
Figura 5.8 mostra a variante 3×3 numa túnica dum guerreiro Fulbe
(Senegal). Um outro padrão monolinear mais elaborado na mesma
túnica apresenta-se na Figura 5.9.

[Prussin, 1986, p. 90]


Figura 5.8

A Figura 5.1f pode ser vista esculpida em bronze num vaso do


século XVI ou XVII e numa galinha dos meados do século XVI,
ambos do Reino de Benin (Millon, p. 257, 265).
A Figura 5.10 ilustra uma parte dum padrão monolinear bordado
num vestido da Serra Leoa. A Figura 5.1b reaparece na Figura 5.11.
Trata-se de dois padrões sobrepostos (vide a Figura 5.12) que decoram
túnicas provenientes da Etiópia.
127
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Prussin, 1986, p. 90]


Figura 5.9

[Prussin, 1986, p. 92]


Figura 5.10

Além de padrões-de-fita-trançada, encadeados de diversas


maneiras, encontrámos padrões como os dois ilustrados na Figura
5.13, bordados em panos de Sokodé no Togo.
Pode-se constatar que, espalhadas por toda a África, se
encontram tradições de utilização de padrões-de-fita-trançada e de
outros motivos compostos por uma ou mais linhas construídas
conforme determinados algoritmos geométricos – e neste sentido
possivelmente mostrando certas semelhanças com os sona. Parece-me
que estas tradições merecem ser estudadas e valorizadas artística,

128
Volume 3: Estudos Comparativos
educacional e cientificamente. Que a trilogia Geometria Sona possa
constituir um estímulo para tais estudos!

[Leib, 1993, p. 32]


Figura 5.11

Figura 5.12

129
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

[Etienne-Nugue, 1992, p. 183]


Figura 5.13

Bibliografia

Baumann, Hermann (1929): Afrikanische Kunstgewerbe, in: H.


Bossert (dir.), Geschichte des Kunstgewerbes aller Zeiten und
Völker, Berlim, Vol. 2, 51-148.
Carey, Margret (1986): Beads and Beadwork of East and South Africa,
Shire, Buckinghamshire.
Carey, Margret (1991): Beads and Beadwork of West and Central
Africa, Shire, Buckinghamshire.
Denyer, Susan (1978): African traditional architecture, Heinemann,
Londres.
Etienne-Nugue, Jocelyne (1982): Artisanats traditionnels en Afrique
Noire: Haute-Volta, InstitutCulturel Africain, Dakar.
Etienne-Nugue, Jocelyne (1992): Artisanats traditionnels en Afrique
Noire: Togo, Institut Culturel Africain, Dakar.
Fagg, William & Pemberton, John (1984): Yoruba: sculpture of West
Africa, Collins, Londres.

130
Volume 3: Estudos Comparativos
Leib, Marianne (1993): International Film Festival in Berlin, Afrika,
Review of African-German Relations, Pfaffenhofen, Vol.
XXXIV, nº 5-6, p. 32.
Millon, Werner (1984): A short history of African art, Penguin,
Londres.
Prussin, Labelle (1986): Hatumere: Islamic design in West Africa,
University of California Press, Berkeley.

131
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

132
Volume 3: Estudos Comparativos

Agradecimentos

Chegado ao fim do terceiro e, por enquanto, último volume da


Geometria Sona, gostaria de agradecer a todos os colegas e amigos –
muitos mais do que será possível mencionar aqui – que estimularam o
desenvolvimento desta linha de investigação em que me envolvi desde
os princípios de 1986.
Agradeço aos colegas e estudantes do Instituto Superior
Pedagógico (ISP) [desde 1995 Universidade Pedagógica] que
participaram com tanto entusiasmo nos “círculos de interesse” sobre a
Geometria Sona. Agradeço igualmente aos colegas da equipa de
pesquisa do Projecto de Investigação Etnomatemática o ambiente de
debate frutífero.
Diversos tópicos da Geometria Sona constituíram temas de
palestras proferidas e de seminários orientados em diversas partes do
Mundo: Maseru (Lesotho, 1986), Rio Claro, Campinas, São Paulo, Rio
de Janeiro, Nova Friburgo (Brasil, 1988), Arusha (Tanzânia, 1989),
Cidade de Cabo (África do Sul, 1989), Sevilha (Espanha, 1990),
Kouba-Alger (Argélia, 1990), Nairobi (Quénia, 1991), Florianópolis,
Blumenau (Brasil, 1992), Kwaluseni (Suazilândia, 1992),
Yamoussoukro (Costa de Marfim, 1993), New York, Newark, Ithaca,
Newton, Boston, Waltham, San Francisco, Berkeley (Estados Unidos
da América, 1993), Zaragoza (Espanha, 1993), Mbabane (Suazilândia,
1993), Gaborone (Botswana, 1993). Agradeço aos organizadores
destes eventos a amabilidade de me terem convidado para falar sobre a
Geometria Sona, e o ambiente e debates estimulantes que me
proporcionaram.
Alguns capítulos e secções da Geometria Sona foram publicados
em revistas, outros apareceram em “pre-prints”. Em revistas
internacionais como Educational Studies in Mathematics (1988),
Computers and Mathematics with Applications (1989), For the
Learning of Mathematics (1990), e Symmetry: Culture and Science
(1990), revistas continentais como Discovery and Innovation (1991) e
Afrika Mathematika (1991), revistas regionais e nacionais como
133
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
Abacus (Nigéria, 1988), Namnaren (Suécia, 1988), Mathematics
Teaching (Grã Bretanha, 1988), Boletim de Educação Matemática
(Brasil, 1989), Boletim da Sociedade Portuguesa de Matemática
(1991), Plot (França, 1991), e Radical Teacher (Estados Unidos da
América, 1993). Agradeço aos directores destas revistas os convites
que me formularam para colaborar, e as suas sugestões e comentários
valiosos.
Agradeço igualmente
* às minhas irmãs Miriam [1955-2014] e Caroline e a vários
amigos e colegas as fotocópias que me enviaram de fontes
importantes;
* a Gerhard Kubik (Universidade de Viena, Austria), Marcia
Ascher [1935-2013] (Ithaca College, EUA) e Claudia Zaslavsky
[1917-2006] (New York, EUA) pelo envio de artigos seus e pelo
encorajamento;
* a Eduardo Medeiros (Departamento de Antropologia, ISP) pela
leitura do manuscrito do primeiro volume e pelos comentários
etnológicos;
* a Arthur Powell (Universidade Rutgers, Newark, EUA e, em
1993, professor visitante no ISP) pelos diálogos estimulantes
sobre a tradição e exploração dos sona;
* a Gert Schubring (Universidade de Bielefeld, Alemanha e, em
1992, professor visitante no ISP) pelas fotocópias enviadas e
pelas conversas encorajadoras;
* a Robert Lange (Universidade Brandeis, Waltham, EUA) pelo
seu entusiasmo, pela invenção dos mosaicos-sona e pela
sugestão do problema 2 na secção 5.3 do segundo volume;
* a Maurice Bazin [1934-2009] (Espaço Ciência Viva, Rio de
Janeiro, Brasil e, actualmente, Exploratorium, San Francisco,
EUA) pelas fotocópias e fotografias, pelos diálogos estimulantes
e pela oferta dum escarabeu egípcio (vide Vol. 3, Cap. 1);
* aos responsáveis da Biblioteca do Museu Egípcio no Cairo pela
ajuda na procura de documentação sobre desenhos no Egipto
Antigo, e ao colega Daniel Soares [1961-2011] (Departamento
de Matemática, ISP, Beira) pelo acompanhamento e apoio no
trabalho de investigação realizado no Egipto (vide Vol. 3, Cap.
1);

134
Volume 3: Estudos Comparativos
* a Peter Damerow [1939-2011] (Instituto Max Planck, Berlim,
Alemanha) e Robert Englund (Universidade Livre, Berlim,
Alemanha) [Universidade de California em Los Angeles, EUA]
pelo apoio na procura de fontes sobre a Mesopotâmia Antiga
(vide Vol. 3, Cap. 2);
* a Kirti Trivedi (Instituto Indiano de Tecnologia, Bombay) pelo
envio de brochuras populares sobre os kolam (vide Vol. 3, Cap.
3);
* a Ana Maria Branquinho (Faculdade de Línguas, ISP, Maputo)
pela revisão linguística;
Agradeço o apoio financeiro dado pela Agência Sueca para a
Cooperação com os Países em Vias de Desenvolvimento no Âmbito da
Investigação Científica (SAREC) à realização das actividades do
Projecto de Investigação Etnomatemática em geral, e à investigação da
Geometria Sona em particular.
Agradeço à minha filha Lesira o interesse permanente nos
“desenhos do papá”, como lhes chama desde que começou a falar.
Agradeço aos “akwa kuta sona” que inventaram e
desenvolveram a tradição dos sona, e aos antropólogos e missionários
que a relataram, pelo prazer imenso e intenso que me proporcionaram
e pela possibilidade que me deram de poder contribuir para a
reanimação e valorização matemática e educacional desta rica tradição
geométrica africana.

Maputo, aos 3 de Abril de 1994

Paulus Gerdes

135
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

136
Volume 2: Estudos Comparativos

Índice do Volume 1:
Matemática duma tradição africana

página
Prefácio (Arthur B. Powell) 9
Introdução 13
Agradecimentos 17
Fontes das ilustrações 18
1 Os Cokwe e outros povos bantu do grupo 19
Cokwe-Lunda
2 A tradição de desenho 23
3 Simetria e monolinearidade como valores 31
culturais
3.1 Simetria como valor cultural 31
3.2 Monolinearidade como valor cultural 32
3.3 Simetria e monolinearidade: valores 33
complementares
3.4 Simetria ou monolinearidade: conflito de valores 41
Amuleto de caça 41
Mata da doninha 45
Ilhota 46
3.5 Simetria e assimetria 47
Vista doente 47
Mina de sal-gema 49
4 Classes e algoritmos 53
4.1 Padrões-de-esteira-entrecruzada 53
Classe A 54

137
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
Classe B 60
Classes C e D 65
Excursão: Padrões-de-esteira-entrecruzada 66
no seio dos Bushongo (Bakuba)
4.2 Outras classes 69
Casal deitado 69
Porco-espinho 72
Galinha em fuga 76
Fogo 80
Árvores de culto ancestrais 83
Cabeça de elefante 87
4.3 Reconstrução de classes provavelmente perdidas. 89
Possíveis extensões
Vara de transporte 90
Luta entre chefes rivais 91
Povoação protegida 91
Armadilha de pesca 94
Morto 95
Aves em voo 95
Lenha do visitante 97
Saco de transporte 99
Estômago de um leão 99
Cobertor de casca 101
Armadilha para formigas 102
O circuito 103
Sol e Lua 104
Palmeira 106
Ave e leopardo 107
Saiote para dança 110
Aranha na teia 112
Aranhão 113

138
Volume 2: Estudos Comparativos
Teia de aranhão 114
Capoeira e ninho 115
5 Construção sistemática de padrões 119
triangulares monolineares com laços
6 Regras de encadeamento 129
6.1 Primeira regra de encadeamento 129
Aves na floresta 130
6.2 Segunda regra de encadeamento 133
6.3 Terceira regra de encadeamento 136
Mahamba-templo 138
Autofundição? 146
6.4 Quarta regra de encadeamento 148
6.5 Regra de eliminação 156
7 Polilinear ou monolinear 159
Uma armadilha de pesca 159
Uma ave e um cesto 161
Cinco morcegos 165
Figura humana 168
Encontro 168
Casal 169
Cabeça de elefante 170
Enfermaria 171
Uma leoa com dois filhos 173
Quinta regra de encadeamento 175
Dançarino 176
Outro estômago de leão 178
Cemitério 180
Sarna 184
Erro ou outra regra de encadeamento 187
8 Classes com olhos 189
Um olho 189

139
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
Dois olhos 194
Quatro olhos 196
9 Construção de um lusona com simetria 205
rotacional de 90º
Epílogo 211
Bibliografia 215
Apêndice:
Investigação matemática inspirada pela 221
tradição sona: O exemplo de curvas-de-
espelho, Lunda-designs e matrizes cíclicas
Matemática e matemáticos de África 221
Investigação matemática inspirada pela 222
tradição dos sona
Curvas-de-espelho 223
Lunda-designs e matrizes 225
Liki-designs 227
Matrizes cíclicas 231
Comentário final 233
Referências 235

O autor 239
Livros do mesmo autor 240

140
Volume 2: Estudos Comparativos

Índice do Volume 2:
Explorações educacionais e matemáticas de desenhos
africanos na areia
Página

Prefácio 11
Mohamed El Tom
Introdução ao segundo volume 13

Capítulo 1:
ALGUMAS SUGESTÕES PARA A UTILIZAÇÃO DOS SONA NA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

1.1 Introdução 19
1.2 Relações aritméticas 20
Primeiro exemplo 20
Progressões aritméticas 21
Um trio pitagórico 27
1.3 Ideias geométricas 28
Simetria axial 28
Simetria axial dupla e simetria central 29
Simetria rotacional 29
Semelhança 30
Determinação geométrica do máximo divisor 34
comum de dois números naturais
Rumo ao algoritmo euclidiano 37
Grafos de Euler 37
1.4 Observações 42
1.5 Bibliografia 43

Capítulo 2:
RECREAÇÕES GEOMÉTRICAS

2.1 Introdução 47
141
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
2.2 Recreações do tipo “Encontre os padrões que faltam” 50
2.3 Bibliografia 50

Capítulo 3:
EXPLORAÇÃO DO POTENCIAL MATEMÁTICO DOS SONA: UM
EXEMPLO PARA ESTIMULAR A CONSCIÊNCIA CULTURAL
DURANTE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE
MATEMÁTICA

3.1 Introdução: necessidade de uma educação orientada 63


pela cultura
3.2 Investigação etnomatemática e a formação de 64
professores
3.3 Exemplos da exploração do potencial matemático dos 65
sona na formação de professores
Regras de composição 65
Construção sistemática de desenhos 67
monolineares
Quantas linhas são necessárias? 73
Padrões preto-brancos subjacentes 81
3.4 Observações finais 86
3.5 Bibliografia 92

Capítulo 4:
SOBRE O NÚMERO DE LINHAS DO TIPO “GALO-EM-FUGA”

4.1 Introdução 93
4.2 Experimentação 94
4.3 Extrapolação 96
4.4 Formulação de uma hipótese 97
4.5 Demonstração 99
Descrição do algoritmo para a construção de 99
linhas do tipo “galo-em-fuga”
Demonstração do Teorema 1 104
Demonstração do Teorema 2 107
Demonstração do Teorema 3 111
Demonstração do Teorema 4 117
Demonstração do Teorema 5 122

142
Volume 2: Estudos Comparativos
Capítulo 5:
SONA E A GERAÇÃO E A ANÁLISE DE PADRÕES-DE-
ESPELHO
5.1 A caminho de uma descoberta 127
5.2 Alguns teoremas sobre padrões-de-espelho lisos e 137
monolineares
Introdução 137
Definições 137
Teorema 1 143
Teorema 2 145
Teorema 3 147
Teorema 4 148
5.3 Implicações e questões para reflexão 150
Padrões-de-fita-trançada da classe A 150
Generalização do conceito de padrão-de-espelho 153
Contagem módulo 2 154

Capítulo 6:
GERAÇÃO E CONTAGEM DE PADRÕES-DE-ESPELHO
REGULARES, MONOLINEARES E UNIFORMES

6.1 Geração e contagem de padrões-de-espelho regulares e 161


monolineares
Problemas e questões 163
6.2 Padrões-de-espelho uniformes 166
Problemas e questões 168

Capítulo 7:
ALGUNS EXEMPLOS DE PADRÕES-DE-ESPELHO
REGULARES, MONOLINEARES E UNIFORMES E DOS
RESPECTIVOS ALGORITMOS GEOMÉTRICOS
173

O autor 187
Livros de Paulus Gerdes em Português 188

143
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

144
Volume 2: Estudos Comparativos

O autor

O professor catedrático Paulus Gerdes tem leccionado nas


Universidades Eduardo Mondlane e Pedagógica (Moçambique).
Desempenhou os cargos de Director da Faculdade de Educação (1983-
1987) e da Faculdade de Matemática (1987-1989) da Universidade
Eduardo Mondlane e de Reitor da Universidade Pedagógica (1989-
1996). De 2000 a 2005 foi conselheiro do Ministro da Educação. Em
2006/7, foi o Presidente da Comissão Instaladora da Universidade
Lúrio, a terceira universidade pública de Moçambique, com sede em
Nampula. Actualmente desempenha as funções de conselheiro para
pesquisa no Instituto Superior de Tecnologia e Gestão (ISTEG) em
Boane.
Entre as suas funções ao nível internacional constam as de
Presidente da Comissão da União Matemática Africana para a História
da Matemática em África (1986-2013) e de Presidente da Associação
Internacional para Ciência e Diversidade Cultural (2000-2004). Desde
2000, desempenha as funções de Presidente do Grupo Internacional de
Estudo da Etnomatemática.
Foi eleito, em 2001, membro da Academia Africana de Ciências
(sede em Nairobi) e, em 2005, membro da Academia Internacional
para a História da Ciência (sede em Paris). De 2005 a 2014 foi Vice-
Presidente da Academia Africana de Ciências, responsável para a
região da África Austral. Em 2014 foi Secretário Geral Interino da
mesma Academia.
O professor Paulus Gerdes escreveu diversos livros sobre
geometria, cultura e história da matemática, tendo recebido vários
prémios.
Na comemoração dos 50 anos de ensino superior em Moçambique
(1962-2012), foi outorgado ao professor Paulus Gerdes o Prémio
Excelência no Ensino Superior (Docência e Investigação) pelo
“excepcional contributo dado ao desenvolvimento do Ensino Superior
em Moçambique”.
145
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

146
Volume 2: Estudos Comparativos

Livros de Paulus Gerdes em Português

# Geometria Sona de Angola. Volume 1: Matemática duma


*
Tradição Africana, ISTEG, Boane, 2012, 244 p. (Edição a cores)
(Prefácio: Arthur B. Powell, Rutgers University, Newark NJ, EUA)
[Edição atualizada a preto e branco: Lulu, 2008, 244 p. *; Primeira
edição: Geometria Sona, Projecto de Investigação Etnomatemática
(PIE), Universidade Pedagógica (UP), Maputo, 1993]
# Geometria Sona de Angola. Volume 2: Explorações educacionais
e matemáticas de desenhos africanos na areia, ISTEG, Boane,
2014, 192 p. *
[Primeira edição: PIE-UP, 1993]
# Geometria Sona de Angola. Volume 3: Estudos Comparativos,
ISTEG, Boane, 2014, 152 p. *
[Primeira edição: PIE-UP, 1994]
# Viver a matemática: Desenhos de Angola, Edições Húmus,
Ribeirão, Portugal, 2013, 64 p. (Colorido) (Livro infantil)
(Prefácio: Joana Latas, Associação de Professores de Matemática,
Lisboa, Portugal)
[Edições anteriores: Desenhos de Angola: Viver a matemática,
Editorial Diáspora, São Paulo, Brasil, 2010; Desenhos da África,
Scipione, São Paulo, Brasil, 1990 (Prémio Alba Mahan, 1990,
menção honrosa]
# Lusona: Recreações Geométricas de África: Problemas e
Soluções, Lulu, 2012, 216 p. (Colorido) *
(Prefácios: Dirk Huylebrouck, Colégio Sint-Lucas, Bruxelas,
Bélgica; Jaime Carvalho e Silva, Universidade de Coimbra,
Portugal)

*
Distribuição pela editora Lulu, Morrisville NC:
http://www.lulu.com/spotlight/pgerdes
147
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
[Edições anteriores a preto e branco sem soluções: Moçambique
Editora, Maputo & Texto Editora, Lisboa, 2002, 128 p.; PIE-UP,
Maputo, 1991]
# Da etnomatemática a arte-design e matrizes cíclicas, Editora
Autêntica, Belo Horizonte, Brasil, 2010, 182 p.
(Prefácio: Marcelo Borba, Universidade Estadual de São Paulo, Rio
Claro, Brasil; Posfácio: Ubiratan D’Ambrosio, Universidade de São
Paulo, Brasil)
# Tinhlèlo, Entrecruzando Arte e Matemática: Peneiras Coloridas
do Sul de Moçambique, Alcance Editores, Maputo, 2012, 132 p.
(Colorido)
(Prefácio: Aires Ali, Primeiro Ministro de Moçambique)
[Primeira edição: Lulu, 2010, 132 p.] *
# Otthava: Fazer Cestos e Geometria na Cultura Makhuwa do
Nordeste de Moçambique, ISTEG, Boane, 2012, 292 p. (Colorido)
*
(Prefácio: Abdulcarimo Ismael, Universidade Lúrio, Nampula,
Moçambique; Posfácio: Mateus Katupha, antigo Ministro da
Cultura de Moçambique)
[Primeira edição a preto e branco: Universidade Lúrio, Nampula,
2007] *
# Geometria e Cestaria dos Bora na Amazónia Peruana, Centro
Moçambicano de Pesquisa Etnomatemática (CMPE), Maputo,
Moçambique, 2013, 176 p. (Colorido) *
(Prefácio: Dubner Tuesta, Instituto Superior Pedagógico de Loreto,
Iquitos, Peru)
[Edições anteriores a preto e branco: Geometria dos Trançados
Bora na Amazônia Peruana, Livraria da Física, São Paulo, Brasil,
2011; CMPE, Maputo, 2007]
# Etnogeometria: Cultura e o Despertar do Pensamento
Geométrico, ISTEG, Boane, 2012, 230 p. *
(Prefácios: Ubiratan D’Ambrosio, Universidade de Campinas,
Brasil; Dirk Struik, Massachusetts Institute of Technology,
Cambridge MA, EUA)
[Edições anteriores: Sobre o despertar do pensamento geométrico,
Universidade Federal de Paraná, Curitiba, Brasil, 1992; Cultura e o

148
Volume 2: Estudos Comparativos
Despertar do Pensamento Geométrico, PIE-UP, Maputo, 1992;
Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Maputo, 1986]
# Etnomatemática: Cultura, Matemática, Educação, ISTEG, Boane,
2012, 172 p. *
(Prefácio: Ubiratan D’Ambrosio, Universidade de Campinas)
[Edição anterior: PIE-UP, Maputo, 1992, 115 p.]
# Mundial de Futebol e de Trançados, Lulu, 2011, 76 p. (Colorido)*
(Prefácio: Maria do Carmo Domite, Rodrigo Abreu, Eliane dos
Santos, Universidade de São Paulo, Brasil) (Livro infantil)
# Mulheres, Cultura e Geometria na África Austral, Centro
Moçambicano de Pesquisa Etnomatemática, Maputo, 2011, 200 p. *
# Pitágoras Africano: Um estudo em Cultura e Educação
Matemática, CMPE, Maputo, 2011, 118 p. (Colorido) *
[Primeira edição a preto e branco: PIE-UP, Maputo, 1992]
# Aventuras no Mundo dos Triângulos, Alcance Editores, Maputo,
2013, 104 p.
(Prefácio: Marcos Cherinda, UP, Maputo, Moçambique)
[Edições anteriores: Lulu, 2008 *; Ministério da Educação e
Cultura, Maputo, 2005]
# Aventuras no Mundo das Matrizes, Lulu, 2011, 258 p.
(Prefácio: Sarifa Magide Fagilde, UP, Maputo)
# Exemplos de aplicações da matemática na agricultura e na
veterinária, Lulu, 2008, 72 p. *
[Primeira edição: UEM, Maputo, 1982]
# Os manuscritos filosófico-matemáticos de Karl Marx sobre o
cálculo diferencial. Uma introdução, Lulu, 2008, 108 p. *
[Primeira edição: Karl Marx: Arrancar o véu misterioso à
matemática, UEM, Maputo, 1983]
# Etnomatemática: Reflexões sobre Matemática e Diversidade
Cultural, Edições Húmus, Ribeirão, Portugal, 2007, 281 p.
(Prefácio: Jaime Carvalho e Silva, Universidade de Coimbra,
Portugal)
# Sipatsi: Cestaria e Geometria na Cultura Tonga de Inhambane,
Moçambique Editora, Maputo & Texto Editora, Lisboa, 2003, 176
p. (Cap. 1: Gildo Bulafo) (Edição actualizada)

149
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola
(Prefácio: Alcido Nguenha, Ministro da Educação de Moçambique)
[Primeira edição: Sipatsi: Tecnologia, Arte e Geometria em
Inhambane, PIE-UP, Maputo, 1994, 102 p.]
# A ciência matemática, ISTEG, Boane, 2014, 60 p. *
[Primeiras edições: Ministério da Educação e Cultura (MEC),
Maputo, 1980; Instituto Nacional para o Desenvolvimento da
Educação (INDE), Maputo, 64 p.]
# Teoremas famosos da Geometria (coautor Marcos Cherinda), UP,
Maputo, 1992, 120 p.
# Trigonometria, Manual da 11ª classe, MEC, Maputo, 1981, 105 p.
# Trigonometria, Manual da 10ª classe, MEC, Maputo, 1980, 188 p.
# Teses de Doutoramento de Moçambicanos ou sobre Moçambique,
Academia de Ciências de Moçambique (ACM), Maputo, 2011, 177
p. (Segunda edição)
(Prefácio: Orlando Quilambo, Presidente da ACM)
[Primeira edição: Ministério da Ciência e Tecnologia, Maputo,
2006, 115 p. (Prefácio: Venâncio Massingue, Ministro da Ciência e
Tecnologia de Moçambique)]

Livros de puzzles:
# Aprende brincando: Puzzles de bisos e biLLies, Alcance Editores,
Maputo, 2014, 208 p.
# Mais divertimento com puzzles de biLLies, Lulu, 2010, 76 p. *
# Divertimento com puzzles de biLLies, Lulu, 2010, 76 p. *
# Divirta-se com puzzles de biLLies, Lulu, 2010, 250 p. *
# Jogo dos bisos. Puzzles e divertimentos, Lulu, 2008, 68 p. *
# Puzzles e jogos de bitrapézios, Lulu, 2008, 99 p. *
# Jogos e puzzles de meioquadrados, Lulu, 2008, 92 p. *
# Jogo de bissemis. Mais que cem puzzles, Lulu, 2008, 87 p. *
# Puzzles de tetrisos e outras aventuras no mundo dos poliisos,
Lulu, 2008, 188 p. *

Livros organizados:
# A numeração em Moçambique: Contribuição para uma reflexão
sobre cultura, língua e educação matemática, Centro

150
Volume 2: Estudos Comparativos
Moçambicano de Pesquisa Etnomatemática (CEMPE), Maputo,
2008, 186 p. *
[Primeira edição: PIE-UP, Maputo, 1993, 159 p.]
# Matemática? Claro!, Manual Experimental da 8ª Classe, Instituto
Nacional para o Desenvolvimento da Educação (INDE), Maputo,
1990, 96 p.

151
Paulus Gerdes: Geometria Sona de Angola

152

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