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ISCTEM

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Tópicos de matérias da disciplina de Economia Politica
Preparados por: Prof Doutor Benjamim Alfredo,
para apoio aos estudantes de Direito- 1º ano, Turmas A e B - e leccionadas
via on line através do programa Microsoft Teams – dia 14 de Abril de 2020
das 7 as 11horas. (durante o período de aulas on line em face do COVID 19)

1. ALGUMAS TEORIAS DA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÓMICO

1.1. História económica e do pensamento económico

O estudo ou conhecimento da evolução histórica dos fenómenos económicos e das ideias


económicas, tal como se apresentaram ao longo dos tempos, enquadra-se no que se designa
de História de pensamento económico.

Este conhecimento, pode apresentar-se do ponto de vista metodológico, e, em face do


conceito supra, sob duas perspectivas:
 Evolução dos factos económicos;

 Evolução das posições assumidas pelos diversos autores, ou das concepções das
diversas escolas, acerca dos Problemas Económicos.

1.1.1. Teorias e doutrinas

O estudo da história económica de acordo com as perspectivas acima indicadas, coloca-se


em dois planos bem distintos:

 Abordagem daquilo que é (como resultado de investigações dedutivas ou indutivas, mais


ou menos apuradas) estudo e enunciação do encadeamento dos fenómenos económicos
sem exprimir desejos ou preferências – aqui estamos no plano das teorias económicas,
em que predominam os juízos de realidade. Ex. Teoria da renda de Ricardo1.

 Abordagem daquilo que deve ser. Neste caso, e, normalmente na base de determinadas
teorias previamente enunciadas, expressam-se as preferências sobre como é que se
deve conceber a realidade económica. Neste caso está-se no plano das doutrinas
económicas. Exemplo: Doutrina do justo salário dos escolásticos (justo preço).
Enquanto que no plano das teorias económicas, coloca-se muitas vezes ao nível do rigor
lógico, alcançando nesse caso, a dignidade científica. No plano da doutrina, exprime-se
uma vocação perceptiva ou pragmática, afastando-se normalmente de qualquer rigor
científico.

1.1.2. Sistemas, estruturas e conjunturas

Quando na base de determinadas teorias e doutrinas, são traçados grupos de preceitos,


regras, normas ou princípios, pretensamente válidos para todos os tempos e latitudes,
esta’-se em face de um sistema. Ex. Sistema capitalista, sistema colectivista, sistema
socialista, comunista, etc.

a) A Grécia antiga

Introdução.
Não obstante a ausência de estudos especificamente virados para a ciência económica 2 no
tempo da Grécia antiga, remontando ao período homérico (reflexões relacionadas com a
vida económica em Xenofonte e Aristóteles, onde se abordavam problemas de natureza
monetária, etc.) há’ uma velha querela entre princípios individualistas e colectivistas, na
posição entre os sofistas e os socráticos.

Vários pensadores, dentre os quais se destacam Platão e Aristóteles tiveram a coragem de


abordar aspectos relacionados com a vida económica e de forma embrionária produziram
algumas teorias económicas. Vamos então e de forma sumária abordar algumas das teorias
defendidas por estes pensadores.

1
Segundo Ricardo: Veja in: Teoria do Imposto e da Renda.- Obra recomendada
2
Compreensível, dada a natureza generalista dos filósofos da época.
a1) Platão
Através dos seus diálogos na abordagem sobre a “República” e, nas “Leis”, este filósofo,
tem sido considerado como o percursor das ideias socialistas3.

Platão idealiza um tipo de sociedade em que o ideal político se identifica plenamente com o
ideal ético, através de quatro virtudes: O saber, a força, a justiça, e a temperança.

Neste tipo ideal de sociedade, haveriam três classes sociais:


 Classe dos filósofos – Com funções de governo da cidade, legislação e educação;
 Classe dos auxiliares e dos guardiões – com funções de defesa da comunidade.

Estas duas primeiras classes viveriam em plena comunhão de bens, inclusive de perpetuação
da espécie (mulheres), com vista a garantir; (i) Afastamento em relação a preocupações de
natureza material que pusessem o bom governo da cidade; (ii) selecção dos mais aptos.
Uma outra classe, poderia, também ser considerada:
 Classe dos artífices e dos agricultores – Dedicada a funções de natureza material,
designadamente, a criação de meios de subsistência. Estas classes, não estariam sujeitas
ao regime comunitário.

Na medida em que o comunismo deveria, segundo este autor, na sua obra “República”,
cingir-se à classe aristocrática, o comunismo de Platão poderia passa a ser considerado
aristocrático.

Entretanto, na sua obra “As leis”, Platão adopta uma concepção de cidade-Estado, mais
realista e concreta; não tendo, apenas a preocupação de ser um Estado governado por
filósofos. Com efeito, ele defende: (i) Que a terra deve ser repartida entre todos, mas tais
direitos não seriam transmissíveis por herança; (ii) Os produtos de trabalho são
distribuídos pelo Estado4, sendo inútil a figura de comerciante (iii) a propriedade é
reconhecida em relação aos bens de uso corrente, não se consentindo a poupança, nem a
acumulação de riqueza (inimigas da virtude); (iv) a usura é uma prática ilegítima; (v) pelo
que deverá haver na cidade uma organização racional, que deverá ir ao ponto de limitar o

3
Embora se diga que tal socialismo é de origem ética e não económica.
4
Platão distingue aqui, entre artes produtivas e artes aquisitivas, manifestando preferência pelas primeiras.
nº de famílias ao necessário para a defesa da cidade e para a administração eficiente da
cidade; sendo essa limitação conseguida via distribuição de terras de cultivo, e controlo da
natalidade via educação e consciência dos cidadãos; (vi) a moeda não reflecte um valor
real, a não ser para pagamento a outros Estados.

Concluindo: (i) Tanto na “República) como nas “Leis”, Platão reflecte uma doutrina de
moderação económica, onde os objectivos de natureza ética sobrepõem-se aos de natureza
material; (ii) nas “Leis”, Há’ uma tendência para a economia de direcção central, do estilo
socialista/comunista (iii) as concepções não são economicamente fundamentadas, mas sim
têm a ver com objectivos de natureza ética.

a2) Aristóteles
Este filósofo, tem concepções diferentes das de Platão; com efeito: para ele a cidade não é
fruto de um ideal, mas sim uma organização derivada da natureza gregária do homem. Nas
cidades é reconhecida a mais ampla propriedade sobre a terra, e autonomia individual, e o
Estado deveria intervir na economia apenas nos seguintes casos:

 Defesa

 Justiça

 Promoção do bem-estar comum

Ele defende o valor real ou intrínseco da moeda 5; distingue o valor de uso do valor de troca;
(vi) defende que o preço justo é o que se estabelece no mercado, entretanto, sem interferência
do Estado, nem das forças de monopólio; (vii) condena no entanto a usura,- o juro, por ser
contrária à justiça e `a religião, contudo, aceita que o trabalho desenvolvido na produção de
um bem deve ser remunerado e, por isso, se pode aceitar o justo rendimento, sem, contudo,
se referir especificamente a aceitação ou não de um juro remuneratório.

Aristóteles é mais frontal que Platão. Entretanto , porque este e’ estagirita 6: (i) subordina
a economia à política e à moral, não analisando os fenómenos económicos em si.
Estranhamente, ambos consideram normal a escravatura, por serem os escravos necessários
à subsistência e prosperidade das comunidades, tese esta, que acabou não sendo aceite, pois,

5
Ou seja, o Estado deveria apenas designar : (i) o bem que haveria de servir de moeda, (ii) as suas características.
6
Porque oriundos de Estagira, região da antiga Grécia.
viu-se que a escravatura era uma das formas hediondas de convivência entre os seres
humanos.
Alias, para Aristóteles a propriedade dos bens era fundamental para o desenvolvimento
económico.

b) As ideias económicas dos romanos.


A contribuição de Roma para o pensamento económico, foi muito menos importante que a
dos filósofos gregos. Para os romanos, a economia e’ a essência do Poder do Imperio. Todos
devem trabalhar para fortalecer o Imperio. A gestão dos recursos cabe tao somente ao
Imperador.

Do que se pode referenciar, podemos apenas apresentar comentários isolados em certas


obras, que visam: (i) Ministrar conselhos de ordem agronómica; (ii) criticar o modus vivendi
dos romanos do tempo do império, recomendando o regresso à vida simples e às virtudes
ancestrais; (iii) estabelecimento de comparações sobre as vantagens e as desvantagens de
explorações extensas ou de reduzida dimensão, trabalho livre ou escravo, exploração directa
ou em regime de colonato, guerras, orgias, etc.

b1) Economia medieval e concepções económicas então dominantes.


b2) Enquadramento histórico.
A fase medieval do pensamento económico foi sendo acompanhada no domínio factual, por
uma estrutura económica com as seguintes particularidades:
 Estruturas económicas fechadas, de base acentuadamente agrícola;
 Invasão de povos bárbaros e consequente organização social em economia de castelo, e
laços de servidão (servos – senhores dos castelos – senhores feudais);
 Insegurança das vias de comunicação e fecho dos mercados;
 Feudalismo, em que o domínio senhorial constituía ao mesmo tempo centro de produtor
e consumidor autónomo;
 Expansão do cristianismo.

b3) O cristianismo e as concepções económicas escolásticas.


O cristianismo transformou muito as concepções económicas dos povos durante a idade
média, sobretudo a partir do séc. XIII com S. Alberto Magno e S. Tomás de Aquino, já que
do ponto de vista económico, as suas correntes de pensamento se baseavam nas seguintes
máximas:

 Desprendimento em relação aos bens de natureza material e às riquezas em geral, a


favor dos ideais da pobreza, da castidade e da obediência.

 Carácter funcional e geral dos bens materiais:

 Os bens materiais foram criados por Deus para benefício de todos os homens, não
podendo estes, deles se apropriarem no seu interesse exclusivo. O que equivale à
negação da máxima romana do ius utendi, ius fruendi, et abutendi.

 Defesa da propriedade privada como a preferível, por permitir maior estímulo e


aproveitamento dos bens que corresponde mais à liberdade dos homens, e permite maior
liberdade dos homens em relação ao poder político. Entretanto, dadas as limitações atrás
referidas segundo esta concepção, os homens são responsáveis perante Deus pelo uso que
dos bens fizerem, na terra.
 Defesa da dignidade do trabalho manual. Com a indicação de que mesmo a escravatura,
apesar de não ser perfeita, permite pelo menos o reconhecimento da personalidade natural
do escravo. É um mal menor, apesar de no entanto, àquele não ser reconhecida
personalidade jurídica.

 Os conceitos escolásticos de justo preço e de justo salário são o reflexo da concepção


dominante na idade média (por força do cristianismo) e que defendiam a moderação no
gozo dos bens materiais.

b5) A condenação do juro.


A usura é condenada pelo pensamento económico da idade média, na medida em que o juro
é uma remuneração que se deve ao uso, através da moeda (que para os escolásticos é um
simples meio intermediário geral de trocas), de um bem comum, dado a todos os homens por
Deus.
( vide’ os posicionamentos de Platão e de Aristóteles).
Os canónicos repetiam e acolhiam esta concepção, não só com base no fundamento acima
indicado (uso do tempo), mas, sobretudo, por uma questão de justiça: Os devedores a quem
normalmente se exigia o pagamento dos juros, costumavam ser economicamente mais débeis
que os credores, (os que exigiam os juros).

c) O mercantilismo
c1) A renascença e o surgimento do mercantilismo
Devido às transformações políticas, materiais e intelectuais que ocorreram na Europa a partir
do séc. XV, os problemas económicos, que eram na idade média encarados com um certo e
agudo espírito de análise, influenciada pelos escolásticos, passaram a ser substituídos, senão
por uma doutrina económica no verdadeiro sentido da palavra, pelo menos por uma crença
ou convicção generalizada em determinados conceitos de natureza económica, que iriam
dominar as políticas dos Estados, até aos fins do séc. XVIII.

Essas transformações tiveram a ver sobretudo com mudanças e surgimento de novas formas
de encarar a vida económica com realce para:

d) A Renascença
(i) Que causou mudanças radicais às ideias sobre o sentido da vida e aos móbeis da
actividade humana; (ii) a ideia de moderação económica dos gregos e dos escolásticos, foi
substituída por um sentido naturalista e prático da vida; (iii) os bens naturais e a ciência e a
técnica, deveriam ser usados para proporcionar ao homem, condições de vida o mais amenas
possíveis.

d1) Formação de grandes Estados Europeus


(ii) Que substituíram a Europa fragmentada politicamente, com o seu regime feudal e tendo a
igreja como o principal unificador; (ii) Reforço do poder temporal e da autoridade central dos
Estados, com crescente independência religiosa; (iii) Derivado da descoberta da rota marítima
para o oriente, e consequente redução dos preços das especiarias.

d2) Reformas religiosas


Sob o ponto de vista ético económico, e com a maneira como os problemas relativos à
riqueza passaram a ser encarados, neste séc. da renascença o espírito capitalista adquire
enorme vigor; (i) desenvolvimento da economia monetária, (ii) generalização do conceito de
lucro como índice de eficácia económica, (iii) aceitação do risco como preço e eficácia do
lucro, (iv) desenvolvimento do espírito de iniciativa individual contra o conservantismo
social, económico e técnico da economia de mester, (v) o conceito de que no domínio
económico deve dominar o princípio da racionalidade da acção com vista à obtenção do
máximo de utilidade e riqueza.

É neste ambiente que surge e se desenvolve o chamado Mercantilismo, cujas características


principais são as seguintes: (i) Espírito capitalista na gestão da política geral, como forma de
fortalecimento do poder económico, e daí militar dos Estados, (ii) ilusão crisoedónica,
segundo a qual nos metais preciosos reside a essência da riqueza, ou pelo menos, neles reside
o índice de riqueza, (iii) dirigismo estatal, (iv) proteccionismo no comércio internacional.

e) As políticas de comércio externo durante o período mercantilista


Para o mercantilismo, o Estado tem de adoptar uma política relativa à riqueza, de que
depende a prosperidade e o poderio da nação, baseada na grande acumulação de metais
preciosos.

e1) O mercantilismo bulionista


Segundo os estudos da evolução do pensamento económico, esta foi a forma de
mercantilismo cujos cultores mais associaram a noção e a essência de riqueza baseada na
posse e acumulação de metais preciosos.
Esta modalidade teve o seu apogeu na Espanha, durante a época dos descobrimentos.

e2) O mercantilismo industrial ou colbertismo.


Esta modalidade, foi característica da França, no tempo de Colbert, Ministro de Luís XV, e
consistia, mais do que na adopção de medidas indiscriminadas sobre toda e qualquer entrada
e saída de bens do país, num sistema proteccionista mais selectivo.
Esta modalidade, caracterizou-se pelo fomento da exploração de produtos de alto valor
acrescentado, produzidos na França, como forma de captação de moeda em metais preciosos
do estrangeiro, e impondo-se em contrapartida enormes barreiras à exportação de produtos
agrícolas, que constituem matéria prima para a produção industrial7.

e3) O mercantilismo comercial e marítimo

Esta forma de mercantilismo foi característica da Inglaterra e da Holanda, nos meados do séc.
XVIII.

Segundo esta corrente, mais do que impor restrições ao comércio internacional, e mais do
que a adopção de medidas de fomento da produção local, era o controlo e o domínio das rotas
comerciais que proporcionaria aos Estados, o reforço do seu poderio económico8.
O controlo do comércio internacional, implicando a institucionalização de fontes de
pagamento flexíveis e seguras, sistemas de compensação e o desenvolvimento do crédito,
acabaram proporcionando a estes países, fontes autónomas de rendimentos.

f) Pensamento económico fisiocrático:


Para eles existem apenas três classes sociais:

 classe produtiva (agricultores),

 classe dos proprietários (donos das terras), e

 classe estéril (todas as actividades diferentes da agricultura). Tendo em conta que a única
classe produtiva era a agricultura, dado que toda a riqueza nova provinha da terra;
Para os fisiocratas, apenas quando a natureza contribui para a produção, é que o rendimento
excede o valor do trabalho do homem. O excedente da produção sobre o trabalho do homem,
proporcionado pela força da natureza, constitui o “produto líquido”, ou “produto líquido a
terra”.

Os fundamentos da construção do pensamento fisiocrata assentam portanto nos seguintes


elementos:
(i) Ordem natural,
7
Este facto, e as reacções de protesto desencadeadas pela classe dos agricultores, são tidas como uma das fontes do
grande impacto que tiveram posteriormente as correntes fisiocratas, defensoras, como adiante se verá, da livre
circulação de mercadorias.
8
Esta corrente coincide com o famoso “Acto de Navegação”, decretado por Oliver Cromwell, Segundo o qual, todo
e qualquer tráfico de mercadorias de e para a Inglaterra, e para os seus imensos domínios, deveriam efectuar-se
apenas através da frota naval britânica.
(ii) produto líquido da terra.

g) Conclusões de política económica e fiscal.


Os fisiocratas concluíam o seu raciocínio enunciando as seguintes medidas de política
económica e fiscal:

O Estado deveria lançar impostos apenas sobre a classe dos agricultores, dado que só estes
produziam riqueza; e que pelo mecanismo da repercussão, o imposto incidirá também sobre
as outras classes;
Pelo que as actividades económicas deviam desenvolver-se em regime de plena liberdade.
Daí o atribuir-se a eles o adágio “laisser faire, laisser passer”;
Os legisladores devem abster-se de regulamentar de forma nociva a agricultura.
A crítica que se faz à fisiocracia é a seguinte: Nem sempre e dadas as condições do mercado,
a repercussão se opera. Ex: Quando as condições de vendas são adversas.

EXERCICIO PRATICO

“Na base do estudo efectuado e, na pesquisa bibliográfica que efectuou, usando a bibliografia
recomendada no pano temático distribuído, identifique os diferentes períodos da evolução do
pensamento económico, e sintetize as teorias e doutrinas e a construção do objecto de
economia”.

Nota: este trabalho e’ individual e, todos serão chamados a apresentar nas aulas seguintes.

Maputo, 14 de Abril de 2020


Docente:
Prof Doutor Benjamim Alfredo

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