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Tópicos de matérias da disciplina de Economia Politica
Preparados por: Prof Doutor Benjamim Alfredo,
para apoio aos estudantes de Direito- 1º ano, Turmas A e B - e leccionadas
via on line através do programa Microsoft Teams – dia 14 de Abril de 2020
das 7 as 11horas. (durante o período de aulas on line em face do COVID 19)
Evolução das posições assumidas pelos diversos autores, ou das concepções das
diversas escolas, acerca dos Problemas Económicos.
Abordagem daquilo que deve ser. Neste caso, e, normalmente na base de determinadas
teorias previamente enunciadas, expressam-se as preferências sobre como é que se
deve conceber a realidade económica. Neste caso está-se no plano das doutrinas
económicas. Exemplo: Doutrina do justo salário dos escolásticos (justo preço).
Enquanto que no plano das teorias económicas, coloca-se muitas vezes ao nível do rigor
lógico, alcançando nesse caso, a dignidade científica. No plano da doutrina, exprime-se
uma vocação perceptiva ou pragmática, afastando-se normalmente de qualquer rigor
científico.
a) A Grécia antiga
Introdução.
Não obstante a ausência de estudos especificamente virados para a ciência económica 2 no
tempo da Grécia antiga, remontando ao período homérico (reflexões relacionadas com a
vida económica em Xenofonte e Aristóteles, onde se abordavam problemas de natureza
monetária, etc.) há’ uma velha querela entre princípios individualistas e colectivistas, na
posição entre os sofistas e os socráticos.
1
Segundo Ricardo: Veja in: Teoria do Imposto e da Renda.- Obra recomendada
2
Compreensível, dada a natureza generalista dos filósofos da época.
a1) Platão
Através dos seus diálogos na abordagem sobre a “República” e, nas “Leis”, este filósofo,
tem sido considerado como o percursor das ideias socialistas3.
Platão idealiza um tipo de sociedade em que o ideal político se identifica plenamente com o
ideal ético, através de quatro virtudes: O saber, a força, a justiça, e a temperança.
Estas duas primeiras classes viveriam em plena comunhão de bens, inclusive de perpetuação
da espécie (mulheres), com vista a garantir; (i) Afastamento em relação a preocupações de
natureza material que pusessem o bom governo da cidade; (ii) selecção dos mais aptos.
Uma outra classe, poderia, também ser considerada:
Classe dos artífices e dos agricultores – Dedicada a funções de natureza material,
designadamente, a criação de meios de subsistência. Estas classes, não estariam sujeitas
ao regime comunitário.
Na medida em que o comunismo deveria, segundo este autor, na sua obra “República”,
cingir-se à classe aristocrática, o comunismo de Platão poderia passa a ser considerado
aristocrático.
Entretanto, na sua obra “As leis”, Platão adopta uma concepção de cidade-Estado, mais
realista e concreta; não tendo, apenas a preocupação de ser um Estado governado por
filósofos. Com efeito, ele defende: (i) Que a terra deve ser repartida entre todos, mas tais
direitos não seriam transmissíveis por herança; (ii) Os produtos de trabalho são
distribuídos pelo Estado4, sendo inútil a figura de comerciante (iii) a propriedade é
reconhecida em relação aos bens de uso corrente, não se consentindo a poupança, nem a
acumulação de riqueza (inimigas da virtude); (iv) a usura é uma prática ilegítima; (v) pelo
que deverá haver na cidade uma organização racional, que deverá ir ao ponto de limitar o
3
Embora se diga que tal socialismo é de origem ética e não económica.
4
Platão distingue aqui, entre artes produtivas e artes aquisitivas, manifestando preferência pelas primeiras.
nº de famílias ao necessário para a defesa da cidade e para a administração eficiente da
cidade; sendo essa limitação conseguida via distribuição de terras de cultivo, e controlo da
natalidade via educação e consciência dos cidadãos; (vi) a moeda não reflecte um valor
real, a não ser para pagamento a outros Estados.
Concluindo: (i) Tanto na “República) como nas “Leis”, Platão reflecte uma doutrina de
moderação económica, onde os objectivos de natureza ética sobrepõem-se aos de natureza
material; (ii) nas “Leis”, Há’ uma tendência para a economia de direcção central, do estilo
socialista/comunista (iii) as concepções não são economicamente fundamentadas, mas sim
têm a ver com objectivos de natureza ética.
a2) Aristóteles
Este filósofo, tem concepções diferentes das de Platão; com efeito: para ele a cidade não é
fruto de um ideal, mas sim uma organização derivada da natureza gregária do homem. Nas
cidades é reconhecida a mais ampla propriedade sobre a terra, e autonomia individual, e o
Estado deveria intervir na economia apenas nos seguintes casos:
Defesa
Justiça
Ele defende o valor real ou intrínseco da moeda 5; distingue o valor de uso do valor de troca;
(vi) defende que o preço justo é o que se estabelece no mercado, entretanto, sem interferência
do Estado, nem das forças de monopólio; (vii) condena no entanto a usura,- o juro, por ser
contrária à justiça e `a religião, contudo, aceita que o trabalho desenvolvido na produção de
um bem deve ser remunerado e, por isso, se pode aceitar o justo rendimento, sem, contudo,
se referir especificamente a aceitação ou não de um juro remuneratório.
Aristóteles é mais frontal que Platão. Entretanto , porque este e’ estagirita 6: (i) subordina
a economia à política e à moral, não analisando os fenómenos económicos em si.
Estranhamente, ambos consideram normal a escravatura, por serem os escravos necessários
à subsistência e prosperidade das comunidades, tese esta, que acabou não sendo aceite, pois,
5
Ou seja, o Estado deveria apenas designar : (i) o bem que haveria de servir de moeda, (ii) as suas características.
6
Porque oriundos de Estagira, região da antiga Grécia.
viu-se que a escravatura era uma das formas hediondas de convivência entre os seres
humanos.
Alias, para Aristóteles a propriedade dos bens era fundamental para o desenvolvimento
económico.
Os bens materiais foram criados por Deus para benefício de todos os homens, não
podendo estes, deles se apropriarem no seu interesse exclusivo. O que equivale à
negação da máxima romana do ius utendi, ius fruendi, et abutendi.
c) O mercantilismo
c1) A renascença e o surgimento do mercantilismo
Devido às transformações políticas, materiais e intelectuais que ocorreram na Europa a partir
do séc. XV, os problemas económicos, que eram na idade média encarados com um certo e
agudo espírito de análise, influenciada pelos escolásticos, passaram a ser substituídos, senão
por uma doutrina económica no verdadeiro sentido da palavra, pelo menos por uma crença
ou convicção generalizada em determinados conceitos de natureza económica, que iriam
dominar as políticas dos Estados, até aos fins do séc. XVIII.
Essas transformações tiveram a ver sobretudo com mudanças e surgimento de novas formas
de encarar a vida económica com realce para:
d) A Renascença
(i) Que causou mudanças radicais às ideias sobre o sentido da vida e aos móbeis da
actividade humana; (ii) a ideia de moderação económica dos gregos e dos escolásticos, foi
substituída por um sentido naturalista e prático da vida; (iii) os bens naturais e a ciência e a
técnica, deveriam ser usados para proporcionar ao homem, condições de vida o mais amenas
possíveis.
Esta forma de mercantilismo foi característica da Inglaterra e da Holanda, nos meados do séc.
XVIII.
Segundo esta corrente, mais do que impor restrições ao comércio internacional, e mais do
que a adopção de medidas de fomento da produção local, era o controlo e o domínio das rotas
comerciais que proporcionaria aos Estados, o reforço do seu poderio económico8.
O controlo do comércio internacional, implicando a institucionalização de fontes de
pagamento flexíveis e seguras, sistemas de compensação e o desenvolvimento do crédito,
acabaram proporcionando a estes países, fontes autónomas de rendimentos.
classe estéril (todas as actividades diferentes da agricultura). Tendo em conta que a única
classe produtiva era a agricultura, dado que toda a riqueza nova provinha da terra;
Para os fisiocratas, apenas quando a natureza contribui para a produção, é que o rendimento
excede o valor do trabalho do homem. O excedente da produção sobre o trabalho do homem,
proporcionado pela força da natureza, constitui o “produto líquido”, ou “produto líquido a
terra”.
O Estado deveria lançar impostos apenas sobre a classe dos agricultores, dado que só estes
produziam riqueza; e que pelo mecanismo da repercussão, o imposto incidirá também sobre
as outras classes;
Pelo que as actividades económicas deviam desenvolver-se em regime de plena liberdade.
Daí o atribuir-se a eles o adágio “laisser faire, laisser passer”;
Os legisladores devem abster-se de regulamentar de forma nociva a agricultura.
A crítica que se faz à fisiocracia é a seguinte: Nem sempre e dadas as condições do mercado,
a repercussão se opera. Ex: Quando as condições de vendas são adversas.
EXERCICIO PRATICO
“Na base do estudo efectuado e, na pesquisa bibliográfica que efectuou, usando a bibliografia
recomendada no pano temático distribuído, identifique os diferentes períodos da evolução do
pensamento económico, e sintetize as teorias e doutrinas e a construção do objecto de
economia”.
Nota: este trabalho e’ individual e, todos serão chamados a apresentar nas aulas seguintes.