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AS EMPRESAS DO SIMPLES NACIONAL E A ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL

João Luiz Ferreira¹


RESUMO

O tema deste artigo é a obrigatoriedade da escrituração contábil para as empresas do Simples


Nacional. O objetivo é analisar as bases legais que tratam da obrigatoriedade da escrituração
contábil para as empresas optantes do Simples Nacional, para uma correta interpretação do
artigo 27 da Lei Complementar 123/2006. O objetivo surge diante do possível risco de
interpretação equivocada do artigo 27 da Lei Complementar 123/2006, que trata da escrituração
contábil para essas empresas. O método científico utilizado foi o estudo de documental,
utilizando como base a Constituição Federal, o Código Civil, a Lei Complementar nº 123/2006
e resoluções do Conselho Federal de Contabilidade e do Comitê Gestor do Simples Nacional.
Os resultados encontrados podem esclarecer dúvidas existentes acerca da obrigatoriedade de
escrituração contábil, para as empresas optantes do Simples Nacional.

Palavras-chave: Escrituração. Obrigatoriedade. Regime. Simples.

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¹Bacharel em Ciências Contábeis – Universidade Estadual de Goiás de Anápolis, Goiás em 2011 - Analista
Tributário da empresa Granol Indústria, Comércio e Exportação S/A desde 2008.
joao.luiz.1985@hotmail.com
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1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem como tema, o estudo da obrigatoriedade da escrituração contábil para as
empresas do Simples Nacional. O alcance do estudo pretende fornecer elementos para a correta
interpretação do disposto no artigo 27 da Lei Complementar 123 de 2006. Conforme os artigos
970 e 1.179 da Lei 10.406/2002, que institui o Código Civil do Brasil, a escrituração contábil
no Brasil é obrigatória a todas as empresas independente de seu porte, ou regime tributário, com
exceção ao pequeno empresário e ao produtor rural. Além dos artigos supracitados, também
existem fundamentos na Constituição Federal, Lei Complementar 123/2006, Código Tributário
Nacional, Normas Brasileiras de Contabilidade. O artigo 27 da Lei Complementar 123 de 2006,
diz:
Art. 27. As microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Simples
Nacional poderão, opcionalmente, adotar contabilidade simplificada para os registros
e controles das operações realizadas, conforme regulamentação do Comitê Gestor.
(Efeitos: a partir de 01/07/2007)

O termo “opcionalmente”, se referindo à contabilidade das empresas optantes do


Simples Nacional, que pode gerar uma dupla interpretação quanto à obrigatoriedade das
empresas do Simples a manterem ou não a escrituração contábil. Pode gerar o entendimento de
que as empresas optantes do Simples Nacional poderão opcionalmente, fazer uma escrita
contábil completa ou simplificada ou não fazer nenhuma escrita. Em 2008 a então presidente
do Conselho Federal de Contabilidade, Maria Clara Cavalcante Bugarim, destacou em uma
publicação do órgão:

No âmbito empresarial, um passo importante na história da área foi dado pelo


Conselho Federal de Contabilidade ao editar a Norma Brasileira de Contabilidade –
NBC T 19.13, que dispõe sobre os procedimentos da Escrituração Contábil
Simplificada para Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, publicada em
dezembro de 2007. Essa edição desfez um equívoco da Lei Complementar nº 123/06,
que registrava como alternativa às empresas optantes do Simples Nacional a adoção
da “contabilidade simplificada”, quando, na realidade, desejava se referir à
simplificação da escrituração contábil.
Para este trabalho, o CFC constituiu uma comissão técnica com experientes
profissionais da área contábil para estudar e propor sugestões, visando à edição da
referida norma. A Resolução CGSN nº 28/08 do Comitê Gestor do Simples Nacional
estabeleceu que, para essa finalidade, devem ser atendidas às disposições do Código
Civil e das Normas Brasileiras de Contabilidade.
Esta publicação apresenta o resultado dos estudos desenvolvidos pela comissão
técnica cujo conteúdo é imprescindível aos profissionais que atuam nessas empresas,
uma vez que descreve, esclarece e orienta quanto à obrigatoriedade de se manter
contabilidade completa pelas diversas legislações vigentes, ainda que a escrituração
seja simplificada. (SCHNORR; et al. 2008, p.3)

O objetivo é analisar as bases legais que tratam da obrigatoriedade da escrituração


contábil para as empresas optantes do Simples Nacional, para uma correta interpretação do
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artigo 27 da Lei Complementar 123/2006. Para a construção dos argumentos da pesquisa foram
utilizadas leis, livros de contabilidade, normas contábeis e publicações do Conselho Federal de
Contabilidade, com foco obrigatoriedade da escrituração contábil para as empresas optantes do
regime tributário Simples Nacional, excluindo-se a análise de outros regimes tributários
existentes no Brasil. Foi utilizando como abordagem, o método dedutivo partindo do geral para
o particular. As análises foram qualitativas, que conforme Prodanov e Freitas (2013), o
pesquisador faz uma abstração, além dos dados obtidos, buscando possíveis explicações
(implícitas nos discursos ou documentos), para estabelecer configurações e fluxos de causa e
efeito. Ainda segundo Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa documental, e pode ser confundida
como pesquisa bibliográfica:
Pesquisa documental: a pesquisa documental, devido a suas características, pode ser
confundida com a pesquisa bibliográfica. Gil (2008) destaca como principal diferença
entre esses tipos de pesquisa a natureza das fontes de ambas as pesquisas. Enquanto a
pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições de vários autores
sobre determinado assunto, a pesquisa documental baseia-se em materiais que não
receberam ainda um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo
com os objetivos da pesquisa. (PRODANOV; FREITAS, 2013, p.55)

Diante do risco da uma dupla interpretação do artigo 27 da Lei Complementar 123/2006,


esta análise visa contribuir com os profissionais contábeis, acadêmicos e empresários. Os
fundamentos legais da obrigatoriedade da escrituração contábil a todas as empresas no Brasil
estão elencados na Constituição Federal, Lei Complementar 123/2006, Código Civil, Código
Tributário Nacional, Normas Brasileiras de Contabilidade, Resoluções do Comitê Gestor do
Simples Nacional (CGSN) e Resoluções do Conselho Federal de Contabilidade. Para que a
construção do raciocínio base deste trabalho pudesse ser construído de forma coerente, a
pesquisa buscou fundamentar a obrigatoriedade da escrituração contábil para as empresas do
Simples Nacional de forma metodológica dedutiva, ou seja, partindo do geral para o particular.
Desta forma, obedecendo essa abordagem, a fundamentação partiu da Constituição Federal,
sendo esta, a Lei Suprema do Brasil.
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2. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Para que a o raciocínio lógico desta pesquisa pudesse ser construído, a bases legais que
fundamentam a obrigatoriedade da escrituração contábil para as empresas do Simples Nacional,
partiram da Constituição Federal de 1988. O artigo 5º da Constituição Federal de 1988, declara
que todos são iguais perante a lei e que ninguém será obrigado ou desobrigado a algo, se não
em virtude de lei.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei;

O artigo 146 da Constituição Federal de 1988, determina que cabe à lei complementar
dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, entre outras disposições. A alínea “d” do inciso III, do artigo
146, apresenta previsão legal para dispositivos da Lei Complementar 123/2006:

Art. 146. Cabe à lei complementar:


I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente
sobre:
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos
discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo
e contribuintes;
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;
c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades
cooperativas.
d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as
empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do
imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13,
e da contribuição a que se refere o art. 239.

O artigo 179 da Constituição Federal de 1988, prevê às microempresas e a empresas de


pequeno porte definidas em lei, um tratamento jurídico diferenciado, simplificando suas
obrigações administrativas, tributarias, previdenciárias entre outras, assim posto:

Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão as


microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento
jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações
administrativas, tributarias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou
redução destas por meio de lei.
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2.1. OBRIGATORIEDADE DA ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL PARA EMPRESAS


OPTANTES DO SIMPLES NACIONAL NA LEI COMPLEMENTAR 123 DE 2006

O Simples Nacional foi criado pela Lei Complementar 123 de 2006, que entrou em vigor
em 2007, com o objetivo de unificar a arrecadação dos tributos devidos pelas micro e pequenas
empresas brasileiras, nas esferas do governo federal, estadual e municipal. A Lei Complementar
123 de 2006, também instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno
Porte, também conhecido como a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. Criada a partir de
medida provisória que foi convertida Lei nº 9.317, de 1996, pelo Governo do Brasil cujo
objetivo é facilitar o recolhimento de contribuições das microempresas e médias empresas.
A Lei Complementar 123/2006 estabelece normas gerais relativas ao tratamento
diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte no
âmbito dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em
consonância com os artigos 146 e 179 da Constituição Federal de 1988.
O inciso primeiro e segundo do artigo 3º da Lei Complementar 123 de 2006 determina
com base na receita bruta, a classificação das empresas para efeitos da lei:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou


empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa
individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da
Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no
Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme
o caso, desde que:
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou
inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta
superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou
inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). (Redação dada
pela Lei Complementar nº 155, de 2016) Produção de efeito

O artigo 14 da Lei Complementar 123 de 2006 declara:

Art. 14. Consideram-se isentos do imposto de renda, na fonte e na declaração de ajuste


do beneficiário, os valores efetivamente pagos ou distribuídos ao titular ou sócio da
microempresa ou empresa de pequeno porte optante pelo Simples Nacional, salvo os
que corresponderem a pró-labore, aluguéis ou serviços prestados.
§ 1o A isenção de que trata o caput deste artigo fica limitada ao valor resultante da
aplicação dos percentuais de que trata o art. 15 da Lei no 9.249, de 26 de dezembro
de 1995, sobre a receita bruta mensal, no caso de antecipação de fonte, ou da receita
bruta total anual, tratando-se de declaração de ajuste, subtraído do valor devido na
forma do Simples Nacional no período.
§ 2o O disposto no § 1o deste artigo não se aplica na hipótese de a pessoa jurídica
manter escrituração contábil e evidenciar lucro superior àquele limite.
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O disposto no artigo 14 da Lei Complementar 123, favorece as microempresas e


empresas de pequeno porte, que matem a escrituração contábil regular, mesmo que
simplificada, pois o controle dos resultados, possibilita a distribuição dos lucros, com
diminuição da carga tributária, ao passo que, o parágrafo primeiro do artigo 14, considera os
valores pagos ou distribuídos ao sócio da microempresa ou empresa de pequeno porte,
mensurados por presunção dos lucros subtraído o imposto pago, relativamente à parcela do
imposto de renda devido nos termos do Simples Nacional, isentos do IRF e também na
declaração anual de ajuste. O parágrafo segundo, prevê que não se aplica o disposto no
parágrafo primeiro do artigo 14, caso a pessoa jurídica mantenha escrituração contábil regular
de forma a evidenciar lucro efetivo superior àquele limite. Desta forma, todo o lucro apurado
pela escrituração contábil pode ser distribuído aos sócios com isenção do imposto de renda na
fonte e também na declaração anual de ajuste da pessoa física beneficiada,
Quanto ao microempreendedor individual, o artigo 18-A da Lei Complementar 123 de
2006 define:
Art. 18-A. O Microempreendedor Individual - MEI poderá optar pelo recolhimento
dos impostos e contribuições abrangidos pelo Simples Nacional em valores fixos
mensais, independentemente da receita bruta por ele auferida no mês, na forma
prevista neste artigo. (Incluído pela Lei Complementar nº 128, de 19 de dezembro de
2008) (efeitos: a partir de 01/07/2009)
§ 1º Para os efeitos desta Lei Complementar, considera-se MEI o empresário
individual a que se refere o art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
Civil), que tenha auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$
60.000,00 (sessenta mil reais), optante pelo Simples Nacional e que não esteja
impedido de optar pela sistemática prevista neste artigo. (Redação dada pela Lei
Complementar nº 139, de 10 de novembro de 2011) (efeitos: a partir de 01/01/2012)

A Lei Complementar 123/2006, na seção VII – Das Obrigações Fiscais Acessórias,


estabelece as obrigações acessórias dentre elas a prevista no artigo 25:

Art. 25. A microempresa ou empresa de pequeno porte optante pelo Simples Nacional
deverá apresentar anualmente à Secretaria da Receita Federal do Brasil declaração
única e simplificada de informações socioeconômicas e fiscais, que deverá ser
disponibilizada aos órgãos de fiscalização tributária e previdenciária, observados
prazo e modelo aprovado pelo CGSN e observado o disposto no § 15-A do art. 18.
(Redação dada pela Lei Complementar nº 139, de 10 de novembro de 2011, (efeitos:
a partir de 01/01/ 2012)

No artigo 26, parágrafo 2º, a Lei Complementar 123/2006, traz o dever de manter o
livro-caixa, onde deverá constar a escrituração da movimentação financeira e bancaria.

§ 2º. As demais microempresas e as empresas de pequeno porte, além do disposto nos


incisos I e II do caput deste artigo, deverão, ainda, manter o livro-caixa em que será
escriturada sua movimentação financeira e bancaria. (Efeitos: a partir de 01/07/2007)
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O artigo 27 da Lei Complementar 123/2006, faz menção à escrituração contábil para as


microempresas e empresas de pequeno porte:

Art. 27. As microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Simples


Nacional poderão, opcionalmente, adotar contabilidade simplificada para os registros
e controles das operações realizadas, conforme regulamentação do Comitê Gestor.

Atendendo a previsão existente no artigo 27, o artigo 65 da Resolução CGSN Nº


94/2011, (anteriormente Resolução CGSN Nº 10), destaca:

Art. 65. A ME ou EPP optante pelo Simples Nacional poderá, opcionalmente, adotar
contabilidade simplificada para os registros e controles das operações realizadas,
atendendo-se às disposições previstas no Código Civil e nas Normas Brasileiras de
Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade. (Lei Complementar
nº 123, de 2006, art. 27)
Parágrafo único. Aplica-se ao empresário individual com receita bruta anual de até R$
60.000,00 (sessenta mil reais) a dispensa prevista no § 2º do art. 1.179 da Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002. (Lei Complementar nº 123, de 2006, art. 68)

No texto do artigo 27 da Lei Complementar 123 de 2006, a palavra “opcionalmente”


referindo-se à escrituração contábil para as empresas do Simples Nacional, pode gerar uma
interpretação equivocada quanto à obrigatoriedade da adoção da contabilidade simplificada
para os registros e controles de operações realizadas pela entidade.
A parte final do artigo 27 da Lei Complementar 123 de 2006 atribui ao Comitê Gestor
do Simples Nacional (CGSN) o poder de regulamentação ao que se refere à escrituração
contábil. Em 2008 foi emitida a Resolução CGSN 28/08, alterando a Resolução CGSN Nº 10
de 2007, determinando que as empresas do Simples Nacional, devem observar o que o Código
Civil Brasileiro e as Normas Brasileiras de Contabilidade determinam sobre a escrituração
contábil. A Resolução CGSN 28/08 que traz em seu texto:

Art. 2º Fica acrescido o art. 13-A na Resolução CGSN nº 10, de 28 de junho de 2007,
com a seguinte redação:

Art. 13-A. As microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Simples


Nacional poderão, opcionalmente, adotar contabilidade simplificada para os registros
e controles das operações realizadas, atendendo-se às disposições previstas no Código
Civil e nas Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de
Contabilidade.

Atendendo ao previsto no artigo 2º da Resolução CGSN 28/08, e ao artigo 65 da


Resolução CGSN Nº 94/2011, (artigo 13 da Resolução CGSN Nº 10), em 2007 o Conselho
Federal de Contabilidade, emitiu a Resolução CFC 1.115/2007, que aprovou a NBC T 19.13 –
Escrituração Contábil Simplificada para Microempresa e Empresa de Pequeno Porte.
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Em 2009, foi emitida a Resolução CFC Nº 1.255/2009, que aprovou a NBC T 19.41 –
Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas, tendo esta, sua sigla alterada para NBC TG
1000 pela Resolução CFC 1.329/2011. Em 2011, a Resolução CFC 1.330/2011 revogou a NBC
T 19.13, e aprovou a ITG 2000 – Escrituração Contábil.
As Normas Brasileiras de Contabilidade, regulamentadas na Resolução CFC nº
1.328/11, são classificadas em normas Profissionais e Técnicas. Atualmente a norma que trata
das microempresas, pequenas e medias empresas, é a NBC TG 1000, aprovada pela Resolução
CFC nº 1.255, de 10 de dezembro de 2009, que substituiu a antiga NBC T19.13 aprovada pela
Resolução CFC nº 1.115, de 14 de dezembro de 2007.
O artigo 68 da Lei Complementar 123 de 2006 define que dispositivos do Código Civil
Brasileiro que tratam da escrituração contábil devem ser observados:

Art. 68. Considera-se pequeno empresário, para efeito de aplicação do disposto


nos arts. 970 e 1.179 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), o
empresário individual caracterizado como microempresa na forma desta Lei
Complementar que aufira receita bruta anual até o limite previsto no § 1º do art. 18-A

2.3. CÓDIGO CIVIL

O atual Código Civil do Brasil foi instituído pela Lei 10.406 de 2002. Em seu artigo
186, determina que, aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

O artigo 935 declara que, a responsabilidade civil é independente da criminal, não se


podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando
estas questões se acharem decididas no juízo criminal:

Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo


questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando
estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

Os artigos 970 e 1.179 determinam, que a escrituração contábil é obrigatória a todas as


empresas independente de seu porte, ou regime tributário, com exceção ao pequeno empresário
e ao produtor rural:
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Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao


empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí
decorrentes.

Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema


de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus
livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente
o balanço patrimonial e o de resultado econômico.
§ 2º É dispensado das exigências deste art. o pequeno empresário a que se refere o art.
970.

O artigo 1.009 do Código Civil, dispõem sobre a distribuição de lucros, e para que um
sócio não incorra na distribuição de lucros ilícitos ou fictícios em uma empresa do Simples
Nacional, só é possível se esta empresa possuir escrituração contábil, mesmo que simplificada:

Art. 1.009. A distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acarreta responsabilidade


solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que os receberem,
conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade.

O profissional contábil desempenha um trabalho de grande importância para empresário,


já que é sua a função de escriturar, manter e assinar os balanços contábeis das organizações
incumbidas a eles. Conforme o Código Civil, o profissional contábil é um pressuposto da
sociedade e deve ser tratado juridicamente como tal.

Art. 1.169. O preposto não pode, sem autorização escrita, fazer-se substituir no
desempenho da preposição, sob pena de responder pessoalmente pelos atos do
substituto e pelas obrigações por ele contraídas.

De acordo com os artigos 1.177 e 1.178 do Código Civil, o contador pode violar
preceitos legais em suas funções, de duas formas, de modo voluntario e involuntário, são eles
quem caracterizam a responsabilidade do agente. Supondo que a escrituração contábil hoje deve
ser desempenhada pelo contador, mesmo que de forma simplificada, a não escrituração pode
levar o profissional contábil a responder civilmente.

Art. 1.177. Os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos
prepostos encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedido de
má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele.
Parágrafo único. No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente
responsáveis, perante os preponentes, pelos atos culposos; e, perante terceiros,
solidariamente com o preponente, pelos atos dolosos.
Art. 1.178. Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos,
praticados nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não
autorizados por escrito.
Parágrafo único. Quando tais atos forem praticados fora do estabelecimento, somente
obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos por escrito, cujo instrumento
pode ser suprido pela certidão ou cópia autêntica do seu teor.
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O artigo 1.179 estabelece o dever do empresário e da sociedade empresaria de levantar


anualmente o balanço patrimonial. Sobre a balanço patrimonial, o Código Civil, dispõem nos
artigos 1.188 a 1.190:
Art. 1.188. O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a
situação real da empresa e, atendidas as peculiaridades desta, bem como as
disposições das leis especiais, indicará, distintamente, o ativo e o passivo.
Parágrafo único. Lei especial disporá sobre as informações que acompanharão o
balanço patrimonial, em caso de sociedades coligadas.
Art. 1.189. O balanço de resultado econômico, ou demonstração da conta de lucros e
perdas, acompanhará o balanço patrimonial e dele constarão crédito e débito, na forma
da lei especial.
Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou
tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o
empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as
formalidades prescritas em lei.
Parágrafo único. É permitido o uso de código de números ou de abreviaturas, que
constem de livro próprio, regularmente autenticado.

O artigo 1.180, dispõem que a adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado
para o lançamento do balanço patrimonial e do resultado do econômico.

Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que
pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.
Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o
lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico.

O artigo 1.181 determina que, salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e,
se for o caso, as fichas, antes de postos em uso devem ser autenticados no Registro de Empresa
Mercantis ou seja na Junta Comercial de Goiás, em nosso caso. A autenticação não se fará sem
que o empresário esteja inscrito, ou a sociedade, que poderá fazer autenticar livros não
obrigatórios.
Art. 1.181. Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o caso, as
fichas, antes de postos em uso, devem ser autenticadas no Registro Público de
Empresas Mercantis.
Parágrafo único. A autenticação não se fará sem que esteja inscrito o empresário, ou
a sociedade empresária, que poderá fazer autenticar livros não obrigatórios.

O artigo 1.183, determina que a escrituração deverá ser feita em idioma e moeda
corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos
em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens. É
permitido o uso de código de números ou abreviaturas, que constem de livro próprio,
regularmente autenticado.

Art. 1.183. A escrituração será feita em idioma e moeda corrente nacionais e em forma
contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem
entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens.
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2.4. CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL

O Código Tributário Nacional, Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, expressa no


parágrafo único do Artigo 195 a importância da manutenção da escrituração contábil, quando
menciona que os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal e os comprovantes dos
lançamentos realizados, devem ser conservados até que ocorra a prescrição dos créditos
tributários a que se referem. Além dos demais livros exigidos pelo Código Tributário nacional
especificamente no artigo 195, o Diário é indispensável, e que pode ser substituído por ficha
nos casos de escrituração mecanizada ou eletrônica

Art. 195 Para efeitos da legislação tributária não tem aplicação quaisquer disposições
legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos,
documentos, papeis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes, industriais ou
produtores, ou da obrigação destes de exibi-los.
Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal e os
comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão conservados até que ocorra a
prescrição dos créditos tributários decorrentes das operações a que se refiram.

2.5 LEI Nº 11.101 DE 2005 - PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A Lei nº 11.101 de 09 de Fevereiro de 2005, regula a recuperação judicial, a extrajudicial


e a falência do empresário e da sociedade empresária, e oferece um benefício ao empresário.
Através de um plano de recuperação judicial, a empresa pode se reerguer financeiramente sem
ter que encerrar suas atividades. Conforme o artigo 51 da Lei nº 11.101/2005, para que a
falência não seja considerada fraudulenta, a empresa precisa demonstrar na petição inicial, a
situação econômica e financeira por meio da escrituração contábil e dos livros mercantis, sob
pena de implicações e sanções aos sócios, administradores e prepostos vinculados:

Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com:


I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da
crise econômico-financeira;
II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as
levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita
observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:
a) balanço patrimonial;
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;

Quando o Plano de Recuperação Judicial se direciona para as Microempresas e


Empresas de Pequeno Porte o artigo 70 dispõe que:
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Art. 70. As pessoas de que trata o art. 1º desta Lei e que se incluam nos conceitos de
microempresa ou empresa de pequeno porte, nos termos da legislação vigente, sujeitam-
se às normas deste Capítulo.
§ 1o As microempresas e as empresas de pequeno porte, conforme definidas em lei,
poderão apresentar plano especial de recuperação judicial, desde que afirmem sua
intenção de fazê-lo na petição inicial de que trata o art. 51 desta Lei.

Com base nos artigos 51 e 70 da Lei 11.101/2005, uma empresa optante do Simples
Nacional, caso não esteja com a escrituração contábil regular, correrá o risco de perder o
benefício da recuperação judicial em caso de falência. Caso o contador não cumpra o que foi
definido pelo art. 51 da lei 11.101/05, ele responderá ao art. 168 da mesma lei citada
anteriormente, estendendo ao empresário:

Art. 168. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a
recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que
resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar
vantagem indevida para si ou para outrem.
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Aumento da pena
§ 1o A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente:
I – elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos;
II – omite, na escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles deveria constar,
ou altera escrituração ou balanço verdadeiros;
III – destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou negociais armazenados em
computador ou sistema informatizado;
IV – simula a composição do capital social;
V – destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escrituração
contábil obrigatórios.
Contabilidade paralela
§ 2o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o devedor manteve ou
movimentou recursos ou valores paralelamente à contabilidade exigida pela legislação.

2.6. OBRIGAÇÕES E PENALIDADES PARA O PROFISSIONAL CONTÁBIL


QUANTO À ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL

O artigo 1º da Resolução do CFC N.º 750 de 29 de dezembro de 1993, determina que é


obrigatória a observância dos Princípios de Contabilidade e das Normas Brasileiras de
Contabilidade por parte do profissional contábil:

Art. 1º. Constituem PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE (PC) os enunciados por


esta Resolução. § 1º. A observância dos Princípios de Contabilidade é obrigatória no
exercício da profissão e constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de
Contabilidade (NBC).

De acordo com o artigo 25 do Decreto-Lei Nº 9.295, De 27 De Maio de 1946, que cria


o Conselho Federal de Contabilidade, define as atribuições do Contador e do Guarda-livros, e
13

dá outras providências, é atribuição do profissional contábil escriturar os livros de contabilidade


obrigatórios e a elaboração de balanços e demonstrações

Art. 25. São considerados trabalhos técnicos de contabilidade:


a) organização e execução de serviços de contabilidade em geral;
b) escrituração dos livros de contabilidade obrigatórios, bem como de todos os
necessários no conjunto da organização contábil e levantamento dos respectivos
balanços e demonstrações;
c) perícias judidais ou extra-judiciais, revisão de balanços e de contas em geral,
verificação de haveres revisão permanente ou periódica de escritas, regulações
judiciais ou extra-judiciais de avarias grossas ou comuns, assistência aos Conselhos
Fiscais das sociedades anônimas e quaisquer outras atribuíções de natureza técnica
conferidas por lei aos profissionais de contabilidade.

No artigo 1º da Lei Nº 10.268, de 28 de Agosto De 2001, que altera os artigos 342 e 343
do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), constitui-se crime contra
a administração da justiça, o profissional contábil fazer afirmação falsa, passível de pena de
reclusão, de três a quatro anos, e multa.

Art. 1o Os arts. 342 e 343 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código


Penal, passam a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito
policial, ou em juízo arbitral:
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante
suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em
processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração
pública direta ou indireta.
§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o
ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade." (NR)
"Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar
ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação:
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido
com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em
processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta."

Nos artigos 297 e 298 do Decreto-Lei Nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código


Penal), constitui-se crime contra a falsificação de documento público, com pena de reclusão, de
dois a seis anos, e multa, e crime a falsificação de documento particular, com pena de reclusão,
de um a cinco anos, e multa:

Falsificação de documento público


Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento
público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
aumenta-se a pena de sexta parte.
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§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de


entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de
sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983,
de 2000)
I - na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer
prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado
obrigatório;(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que
deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que
deveria ter sido escrita; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
III - em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as
obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da
que deveria ter constado. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o,
nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de
trabalho ou de prestação de serviços. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Falsificação de documento particular
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento
particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

No artigo 24, da Resolução CFC Nº 1.370/2011, que trata do Regulamento Geral dos
Conselhos de Contabilidade, prevê que constitui infração, no inciso “V” transgredir os
Princípios de Contabilidade e as Normas de Brasileiras de Contabilidade. Ao passo que, como
apresentadas os fundamentos legais e normas brasileiras de contabilidade, deixar de fazer a
escrituração contábil de uma empresa optante do Simples Nacional, constitui infração.
Analisando ainda o inciso “XII” da Resolução CFC Nº 1.370/2011, observa-se também
que, não havendo escrituração contábil regular de uma empresa optante do Simples Nacional,
e considerando situações listadas neste trabalho em que se faz necessário apresentação de
demonstrações, como por exemplo o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultado do
Exercício, constitui infração, emitir peças contábeis com valores divergentes dos constantes da
escrituração contábil. Em outras palavras, se o profissional contábil não dispor de elementos
para a elaboração de demonstrações, estará cometendo infração se considerar valores irreais ou
divergentes.
Art. 24.Constitui infração:
V - transgredir os Princípios de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Contabilidade;
XII - elaborar peças contábeis sem lastro em documentação hábil e idônea;
XIII - emitir peças contábeis com valores divergentes dos constantes da escrituração
contábil;

Com base No artigo 25, da Resolução CFC Nº 1.370/2011, as penas consistem em:

Art. 25.As penas consistem em:


I - multas;
II - advertência reservada;
III- censura reservada;
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IV - censura pública;
V - suspensão do exercício profissional;
VI - cassação do exercício profissional.
§ 1ºOs critérios para enquadramento das infrações e da aplicação de penas serão
estabelecidos por ato do CFC.
§ 2ºPara conhecer e instaurar processo destinado à apreciação e à punição, é competente
o CRC da base territorial onde tenha ocorrido a infração, feita a imediata e obrigatória
comunicação, quando for o caso, ao CRC do registro principal.
§ 3º A suspensão do exercício profissional por falta de pagamento de multa cessará,
automaticamente, com a satisfação da dívida.
§ 4ºOs sócios respondem solidariamente pelos atos relacionados ao exercício da
profissão contábil praticados por profissionais ou por leigos em nome da organização
contábil.
Art. 26.Cabe, privativamente, aos Conselhos de Contabilidade, Federal e Regionais,
dentro dos limites de suas competências, aplicarem penalidades a quem infringir
disposições deste Regulamento Geral e da legislação vigente.
Parágrafo único. Os Conselhos de Contabilidade atuam e deliberam, de ofício, sem
necessidade de representação de autoridade, de qualquer de seus membros ou de terceiro
interessado, por meio de processo regular, no qual será assegurado o amplo direito de
defesa e ao contraditório.
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3. CONCLUSÃO

Diante da possibilidade de uma interpretação equivocada do artigo 27 da Lei


Complementar 123 de 2006, quanto a obrigatoriedade de escrituração contábil para as empresas
optantes do Simples Nacional, todas as bases legais elencadas neste artigo, com ênfase
principalmente no artigo 1.179 do Código Civil, observa-se que a escrituração contábil é de
fato obrigatória a todas as empresas, independentemente de seu regime tributário. A falta de
escrituração, gera consequências negativas para o empresário e para o contabilista, no aspecto
gerencial, civil e penal, como por exemplo, perder o benefício da recuperação judicial. Outras
consequências negativas, podem ser citadas, havendo prejuízo no planejamento tributário,
impossibilidade de mensuração do patrimônio da empresa entre outros. Para o profissional
contábil, conforme os dispositivos levantados, lhe é imputada infração com responsabilidade
civil e penal, passiva de censura profissional e prisão, nos casos de omissão e falsificação de
documentos, podendo o empresário responder solidariamente com o contabilista.
Para alcance do objetivo principal deste trabalho, e formar uma linha de raciocínio
concreta, no levantamento das bases legais que confirmam a obrigatoriedade de escrituração
contábil em empresas optantes do Simples Nacional, e eliminam argumentos para um possível
equívoco na interpretação do artigo 27 da Lei Complementar 123 de 2006, foram elencados os
dispositivos legais de forma hierárquica, com início na Constituição Federal. A classificação de
pesquisa documental foi respeitada tendo este trabalho foco de seu levantamento na maior parte
em leis e normas, visando dar um tratamento menos subjetivo aos fatos levantados e analisados.
Como exposto, há harmonia entre os dispositivos apresentados, desde a Constituição
Federal que contém previsão ao tratamento diferenciado às micro e pequenas empresas, e a
previsão de lei complementar, para regular esse tratamento, no caso a Lei Complementar Nº
123/2006. Importante destacar que a Lei Complementar 123/2006, não dispensa as empresas
optantes do Simples Nacional da escrituração contábil, e em vez disso, prevê que essa
escrituração poderá ser simplificada, e através das resoluções do Comitê Gestor do Simples
Nacional, esse aspecto foi ratificado, instruindo a observar o disposto no Código Civil e nas
Normas Brasileiras de Contabilidade. Desta forma, não resta dúvida que não há dispensa da
escrituração contábil para as empresas optantes do Simples Nacional, ao passo que, ainda
obedecendo ao previsto na Constituição Federal, o tratamento dado pelas normas brasileiras de
contabilidade, de fato é diferenciado e, pois tais normas para micro e pequenas empresas
apresenta uma contabilidade “simplificada” e não tão complexa como a forma de escrituração
contábil a que estão sujeitas as empresas de grande porte, as chamadas sociedades anônimas.
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REFERENCIAS

BRASIL. Presidência da República. Lei n.º 10.268, de 28 de agosto de 2001. Altera


dispositivos do Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal.

BUNRS, E. M. et al História da civilização ocidental. Tradução de Donaldson M. Garschagen.


29. ed. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1996. Título original: Western Civilizations: their history
and their culture.

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em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm > Acesso
em 01 de Novembro de 2016, às 23:33

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Brasileiro. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
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Faculdade de Alta Floresta – Revista Eletrônica REFAF. Disponível em


<http://faflor.com.br/revistas/refaf/index.php/refaf/article/view/164/html> Acesso em 30 de
Outubro de 2016, às 12:34

Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995. Altera a legislação do imposto de renda das pessoas
jurídicas, bem como da contribuição social sobre o lucro líquido, e dá outras providências.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9249.htm> Acesso em: 10 de
Outubro de 2016 às 23:45

Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil brasileiro. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm > Acesso em 31 de Outubro de
2016, 13:45

Lei n.º 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a


falência do empresário e da sociedade empresária. Disponível em: <
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm > Acesso, em 01
de Novembro de 2016, às 21:00

Lei Complementar n.123, de 14 de dezembro de 2006. Dispõe sobre o Estatuto Nacional da


Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp123.htm >. Acesso em: 31 de Outubro de
2016.
18

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normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em: <
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dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade Disponível em: <
http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_1282.doc > Acesso em 10 de Outubro de 2016, às
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