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4 - CRITÉRIOS DE ESCOAMENTO

Quando um corpo é submetido a um sistema de forças externas se deforma devido


às tensões criadas. Quando as forças são removidas se o corpo retorna à sua forma
original a deformação é chama de reversível ou deformação elástica. As relações entre as
tensões e as deformações são chamadas de relações elásticas. Contudo, as forças externas
podem assumir valores tão altos que quando removidas as deformações não são
inteiramente reversíveis e a forma inicial não é restituída. Neste caso, ocorreu uma
deformação não-reversível ou deformação plástica. As tensões então atingiram um valor
que excedeu aquele requerido para deformações elásticas e o material é dito ter escoado.
Um material é homogêneo se suas propriedades não variam de um elemento para
outro e o material é isotrópico se suas propriedades não variam dependendo da orientação
do sistema de referência escolhido. Em processos de conformação os materiais são
considerados homogêneos e isotrópicos, embora de acordo com as deformações impostas
estas hipóteses podem se distanciar da realidade. Neste texto são abordados dois critérios
usados para prever o estado de tensões no qual os materiais dúcties, homogêneos e
isotrópicos escoam, devido a um estado de deformação plástica.
Um critério de escoamento pode ser definido como uma hipótese a respeito do
limite deformação elástica devido a qualquer possível estado de tensão. Pelo critério de
escoamento é possível então decidir se a deformação plástica acontece, ou se de fato é
possível. Qualquer critério de escoamento deve ser verificado experimentalmente.
Se o material é isotrópico, escoamento plástico só pode depender da magnitude
das três tensões principais e não de sua direções. Sendo assim, um critério de escoamento
pode ser expresso na forma:
φ (J 1 , J 2 , J 3 ) = 0 (4.1)

Onde Ji são os invariantes de tensão no tensor σij.


Foi demonstrado experimentalmente por Brdgman, por meio de testes de tração
em materiais metálicos e não-metálicos, sujeitos a altos valores de pressão hidrostáticas,
da ordem de 25000 atm, que alguns materiais pode ser altamente comprimidos. Para a
faixa de pressões normalmente usadas em processos de conformação o grau de
compresibilidade foi constatado ser muito pequeno.
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Pode-se afirmar que para pressões hidrostáticas moderadas, de tração ou


compressão, e aplicadas isoladas ou superimpostas, em um estado combinado de tensões
o escoamento d um metal não se altera. Diante desta constatação a Eq. (4.1) pode ser
simplificada em termos de invariantes do tensor de tensão, ou seja:
φ (J 2′ , J 3′ ) = 0 (4.2)

Um material idealizado também não apresenta o efeito Bauschinger, de modo que a


magnitude da tensão de escoamento na tração é igual na compressão.

4.1 - CRITÉRIO DE ESCOAMENTE DE VON MISES

Foi sugerido por VonMises em 1913 que o quadrado do invariante do tensor


desviatório, J 2′ deveria ser considerado como um critério de escoamento. Desde que J 2′
seja menor do que um valor característico do material, k2, o material não escoará e a
deformação será elástica. Se não houver efeito de endurecimento de acordo com a
deformação então J 2′ não excederá jamais o valor k2 quando o material escoar. Assim:

J 2′ < k 2 durante a deformação elástica

J 2′ = k 2 durante o escoamento
Em termos de componentes de tensor de tensões:

J 2′ = ⎨
[(
⎧⎪ σ x − σ y ) + (σ
2
y −σz ) + (σ
2
z −σx)
2
] + (τ 2
)
⎫⎪
+ τ yz2 + τ zx2 ⎬ = k 2 (4.3)
xy
⎪⎩ 6 ⎪⎭

Em termos de tensões principais:

J′ =
2
[(σ 1 − σ 2 ) + (σ 2 − σ 3 ) + (σ 3 − σ 1 )
2 2
= k2
2
] (4.4)
6
O valor característico do material pode ser estimado por meio de um teste de tração
uniaxial, quando o material escoa. Desta forma, se a tensão de escoamento do material
em um teste de tração uniaxial for σx=Y, com todas as outras tensões igual a zero, tem-se:

[(Y − 0) + (0 − 0) + (0 − Y ) ] + (0 + 0 + 0) = k
2 2 2
2

6
2Y 2 = 6k 2
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Y
k= (4.5)
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Por outro lado se em um teste de cisalhamento puro a tensão de escoamento for τxy=Scs, e
todas as outras tensões iguais a zero, tem-se:
[(0 − 0) + (0 − 0) + (0 − 0) ] + (S
2 2 2
2
cs )
+ 0 + 0 = k2
6
k = Scs
Ou seja, o valor característico k é igual à tensão de cisalhamento em um teste de
cisalhamento puro. O mesmo resultado seria obtido em termos de tensões principais,
porém neste caso σ1=-σ3 e σ2=0. Este critério foi, mais tarde, interpretado por Hencky
como: o escoamento se inicia quando a energia de cisalhamento atinge um valor crítico
correspondendo àquela encontrada no escoamento em um ensaio de tração uniaxial.

4.2 - CRITÉRIO DE ESCOAMENTO DE TRESCA

Tresca sugeriu em 1864 que o escoamento acontece quando o máximo valor do


extremo da tensão de cisalhamento do material atinge um valor característico. O valor
extremo da tensão de cisalhamento é dado pela Eq. (2.38) e seu máximo valor é dado pela
Eq. (2.42). É igual à magnitude de metade da diferença entre o máximo e o mínimo valor
das tensões principais.

τ máx = ±
1
(σ 1 − σ 3 ) ⇒ (σ 1 − σ 3 ) = 2τ máx = Smáx (4.6)
2
Em um teste de cisalhamento puro σ1=-σ3=k e σ2=0 tem-se de acordo com Eq. (4.6):
[σ 1 − (−σ 1 )] = Smáx ⇒ Smáx = 2 k
S máx
k= (4.7)
2
Ou seja, o valor da tensão de escoamento em um ensaio de cisalhamento é metade do
valor de tensão para escoamento, segundo o critério de Tresca. Em um ensaios de tração,
onde σ1=Y tem-se que:
σ 1 = Y = S máx
e usando-se a Eq. (4.7):
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Y
k= (4.8)
2
O valor de tensão de escoamento no ensaio de tração é a metade daquele no ensaio de
cisalhamento, segundo o critério de Tresca.

4.3 - SUPERFÍCIE DE ESCOAMENTO PARA UM MATERIAL ISOTRÓPICO E


PERFEITAMENTE PLÁSTICO

Com os critérios de escoamento dados pelas Eq. (4.4) e (4.6) descrevem uma
superfície de escoamento. Desde que o estado de tensões é envolvido pela superfície de
escoamento, a condição de escoamento não é atingida e a deformação é elástica. Se o
estado de tensão descreve um ponto na superfície de escoamento então o escoamento se
inicia. Para um material isotrópico e perfeitamente plástico, escoamento continuará e a
superfície não muda com o fluxo plástico. Em certos casos, metais sofrem de
endurecimento durante a deformação a temperaturas abaixo da temperatura de
recristalização e, em certos casos, subseqüente superfícies de escoamento pode ser
necessárias dependendo da história anterior de deformação plástica. Se um estado bi-axial
de tensões é assumido, inicialmente, com σ3=0, tem-se pelo critério de VonMises, que
(σ 1 − σ 2 )2 + (σ 2 − 0)2 + (0 − σ 1 )2 = 6k 2 = 2Y 2 (4.9)

2σ 12 − 2σ 1σ 2 + 2σ 22 = 6k 2 = 2Y 2 (4.10)
Portanto:
σ 12 − σ 1σ 2 + σ 22 = Y 2 (4.11)
Dividindo-se por Y2 ambos lados:

⎛ σ 1 ⎞ ⎛ σ 1 ⎞⎛ σ 2 ⎞ ⎛ σ 2 ⎞
2 2

⎜ ⎟ − ⎜ ⎟⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ = 1 (4.12)
⎝ Y ⎠ ⎝ Y ⎠⎝ Y ⎠ ⎝ Y ⎠
Esta e a equação de uma elipse, conhecida como elipse de VonMises quando marcada em
um gráfico σ1, σ2.
Quando se aplica o critério de Tresca com σ3=0, tem-se:
σ1 − σ 2 = Y se σ1>0 e σ2<0

σ 1 − σ 2 = −Y se σ1<0 e σ2>0
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σ2=Y se σ2> σ1 >0


σ1=Y se σ1> σ2 >0
σ1=-Y se σ1< σ2 <0
σ2=-Y se σ2< σ1 <0
Quando estes valores são colocados num gráfico σ1, σ2 resulta no hexágono de Tresca. A
Figura 4.1 mostra estas figuras de forma admensional.

Elipse de
Hexágono de 1 VonMises
Tresca

−1 σ1/Y
1

−1

Figura 4.1 – Critérios de escoamento de acordo com VonMises e Tresca.

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