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domingo, 19 de dezembro de 2010 | 06:10

Conversa com leitor-comentarista sobre os primórdios da


Segunda Guerra Mundial, o surgimento da URSS e o
surpreendente fim da Guerra do Vietnã, a maior derrota
sofrida pelos Estados Unidos.
Hélio Fernandes (respondendo ao leitor Miguel Carqueija), blog Tribuna da
Imprensa, Rio de Janeiro

Miguel Carqueija: “Hélio, sobre seu comentário em relação à Guerra do Vietnã,


essa história é, hoje, muito mal conhecida. Não foram os EUA – independente
dos erros que cometeram – que iniciaram o conflito na Indochina. A guerra
começou em 1940, com a invasão japonesa; portanto como um segmento da II
Guerra Mundial, que aliás nem iniciou em 1939, pois já em 1937 o Japão invadia
a China e essas hostilidades depois se emendaram com tudo o que constituiu a
Grande Guerra.
Posteriormente veio a guerra de independência contra a França, a divisão do
país em dois e a infiltração do Vietcong no Sul, levando à intervenção norte-
americana e de outras nações (o Vietcong, braço armado do Norte comunista,
era abastecido por URSS, China, Tchecoslováquia). Quando os americanos se
retiraram em 1975, a guerra não acabou (como as pessoas em geral pensam) pois
o Vietnã unificado e agora todo comunista atacou o Camboja recém-dominado
pelo sanguinário Pol Pot, e pela primeira vez duas nações marxistas brigaram
entre si. O Vietnã só se retirou do Camboja em 1989 e, pelo que eu sei, houve
conflito em solo cambojano até 1998, quando consta que Pol Pot foi liquidado.
Nem tenho certeza se ainda existem hostilidades internas naquela região até
hoje, pois é uma área esquecida pelo noticiário”.

Comentário de Helio Fernandes:

Muito bem, Carqueija, a Indochina está em guerra há tanto tempo, que é até
impossível precisar. Mas a chamada Guerra do Vietnã, foi provocada, iniciada e
desesperadamente concluída pelos EUA. Vários presidentes se envolveram,
entraram e saíram com as hostilidades no auge, só a fuga em massa dos
americanos de Hanói mostra que não era Indochina e sim Vietnã mesmo.

Que guerra começou em 1940? Se foi o ataque a Pearl Harbour, 7 de dezembro de


1941. E se você vai reverter ou recuar no tempo, lembrando a invasão do Japão à
China em 1937, para “justificar” a Segunda Guerra Mundial, então é preciso
muito mais do que isso.

1936 é muito mais importante e cruel, pois alemães, italianos e japoneses se


aproveitaram militarmente da Guerra Civil da Espanha, para treinarem e se
apresentarem ao mundo como invasores. Foi o aparecimento do que se chamou
de nazi-nipo-fascismo. E não nos esqueçamos, o Japão, com grande população e
quase nenhum território, já invadira a Mandchuria em 1905. Não é tão longe,
Carqueija.
Essa invasão foi excepcional, por causa da terrível batalha de Porto Arthur,
quando os japoneses apresentaram a espantosa qualidade de se “auto-
imolarem”. (O que depois se tornou rotina entre os árabes, até hoje).

Nessa guerra, os “revolucionários da Rússia” criaram os comitês  identificados


como S-O-V-I-E-T-S, que chegariam ao Poder antes de terminada a Primeira
Guerra Mundial, 1917. Com o estranho acordo da “PAZ EM SEPARADO”,
defendido pela Rússia, Alemanha e os aliados.

Confirmada essa PAZ EM SEPARADO, os alemães dispararam para defender


Berlim. Os aliados dispararam para assaltar e “tomar” Berlim.

Os russos, depois de perderem 800 mil homens na batalha de Tannemberg,


entraram em Moscou, acabaram com “a Mãe de todas as Rússias”, e
estabeleceram a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). UNIÃO, pela
primeira vez, depois dos 300 anos dos Romanoffs. REPÚBLICAS, era o que
pretendiam. SOCIALISTAS, exatamente o regime que estavam implantando, nada
de “comunismo ou marxismo”. SOVIÉTICAS, pois era o objetivo definitivo, a
conquista tão esperada e jamais alcançada.

Desculpe, Carqueija, é difícil falarmos na Segunda Guerra Mundial, já que a


Primeira não existiu, poucos países participaram. Os Estados Unidos entraram
precisamente em 1917, quando o primeiro-ministro francês Clemenceau
implorava aos americanos que mandassem óleo.

Os americanos tinham 13 mil homens na Europa, abasteceram os aliados. A


Primeiro Guerra Mundial (como é chamada) só teve importância, quando acabou.
Não por causa da vitória, mas porque em Versailhes, surgia, aí sim, a Segunda
Guerra Mundial.

No Tratado de Rendição Incondicional, que os aliados impuseram à Alemanha, em


11 de novembro de 1918, as condições (irrefutáveis) eram discricionárias,
draconianas, ditatoriais. A miséria que se implantou na Alemanha já estabelecia
e deixava visível, que o primeiro aventureiro que aparecesse, dominaria o país e
incendiaria o mundo. Foi Hitler.

***

PS – Foi a Suprema Corte dos Estados Unidos que acabou com a Guerra do Vietnã.
Muitos generais americanos encheram ainda mais o peito com tantas medalhas.
Mas sofreram a maior derrota da História dos EUA.

PS2 – Por que a Suprema Corte e não o Exército para dar fim a uma guerra? Pouca
gente conhece (você conhece, tenho certeza) um homem chamado Daniel
Ellsberg, jornalista, escritor, até mesmo a favor da Guerra do Vietnã.

PS3 – Trabalhava como estrategista para uma empresa ligada ao Departamento de


Estado. Descobriu coisas importantes, foi ao Vietnã para confirmar, resolveu
arriscar e revelar tudo.

PS4 – Tinha em mãos o que se chamou de “Documentos do Pentágono, ia mostrar


ao país, foi preso, acusado de TRAIÇÃO, condenado à morte.
PS5 – Recorreu à Suprema Corte, tinha certeza de que sairia dali para o “corredor
da morte. Multidão assistindo o julgamento.

PS6 – Por U-N-A-N-I-M-I-D-A-D-E, a Suprema Corte invocou a PRIMEIRA EMENDA,


decidiu que, em vez de TRAIDOR, Ellsberg servia à Pátria.

PS7 – E o país inteiro, empolgado e emocionado, foi para as ruas, não havia mais
guerra, nem condições para hostilidade.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010 | 06:08

Na disputa internacional, os EUA não foram vencedores, a


União Soviética é que foi derrotada. Por imprudência,
incompetência, inconseqüência. Não percebeu o objetivo e o
alcance do Plano Marshall.
Ricardo Lopes: “Helio, é preciso colocar as coisas em ordem. Os EUA estão aí, a
URSS quebrou 30 anos depois e Bush foi recebido com flores”.

Comentário de Helio Fernandes:


Ricardo,  a URSS quebrou nos anos 80, mas começou a ser derrubada em 1944,
em Bretton Woods. Acabaram com o ouro, “inventaram” a moeda sem lastro e
sem garantia, que não por acaso, era o dólar, moeda dos EUA.

Aí, passaram a fabricar (na cidade de Omaha, com máquinas gigantescas, dois
tipos de dólar. O verdadeiro, que circulava internamente, e o falso, que
financiava o que bem entendiam, logicamente no exterior.

Stalin não percebeu nada. Kruchev, a partir de 1952 (morte de Stalin), só se


preocupou em demolir, destruir e desalojar todos os monumentos que
“engrandeciam o guia genial”.

Talvez não fosse heresia acabar com a “adoração” a Stalin, que na verdade foi
um carrasco completo. Mas era indispensável que a União Soviética “prestasse
atenção” na atuação dos EUA. O Plano Marshall foi uma jogada inteligente e
audaciosa dos americanos, mas ninguém na União Soviética percebeu.

O primeiro cheque de “ajuda à Europa”, que chegou em 1947, foi de 13 BILHÕES
DE DÓLARES, na época montanha de dinheiro. E continuou chegando, nenhuma
generosidade, amor à coletividade ou espírito de solidariedade. Foi apenas
reconhecimento da realidade, e a utilização do que foi decidido em Bretton
Woods, sem participação da União Soviética. Que só soube do que acontecera,
muito tempo depois.

Registre-se: a Segunda Guerra Mundial ainda não acabara, a “rendição


incondicional” só aconteceria em 8 de maio de 1945, repetindo o 11 de Novembro
de 1917. No mesmo vagão ferroviário de Versalhes.

A Europa totalmente destruída, humilhada, faminta e sem futuro, se renderia à


União Soviética. Dominando a Europa, a União Soviética dominaria o mundo. Os
americanos perceberam o fato, e imediatamente tomaram providências.
O próprio Stalin, que mal sabia ler e escrever, era um gênio em matéria de
tomada e manutenção do Poder. Mas não sabia mais nada. Uma das sábias lições
de Marx: “O regime socialista não se aguentará se ficar restrito a um país”.

O órgão encarregado disso na URSS era o  Kominform. Stalin acabou com esse
órgão internacionalizado, criou o Komintern, de âmbito interno.
(Notem: nem Marx falava em marxismo, só dizia Socialismo, que seria o objetivo
principal e a grande conquista).

Não satisfeitos, os americanos implantaram a “Guerra Fria”, a maior farsa da


História moderna. Os EUA se divertiam, perseguiam seus objetivos, a União
Soviética se enterrava. Calmamente os EUA foram jogando a União Soviética na
luta para ver quem tinha MAIS E MELHOR ARMAMENTO.

A União Soviética ingênua e amargamente foi “derrotando” os EUA nas


“conquistas militares”. Os soviéticos construíram submarinos nucleares, antes dos
americanos. Não perceberam que tudo isso era planejado. E de que adiantavam
submarinos que não podiam ser utilizados? Os soviéticos foram os primeiros a
irem ao espaço, não foram à Lua, mas Gagarin foi quem disse, “visto lá de cima,
a terra é azul”.

Os soviéticos “progrediam” empurrados pelos americanos, mas esse progresso não


servia ao povo, só aumentava o poderio americano. Não conseguiam fabricar um
liquidificador, importavam automóvel, o que construíram, (o Lada) era uma
carroça desprezível.

Chega, Ricardo, quando os soviéticos constataram que 70 por cento do orçamento


estava comprometido em armamento, não aguentaram mais. A União Soviética
“acabou”, muita gente lá de dentro já sabia, enriqueceram de forma fantástica.

O arsenal de armamento da União Soviética levou quase três anos para ser
liquidado. A guerra Irã-Iraque foi combatida com armamento soviético dos dois
lados. Logo depois da União Soviética desaparecer, na lista dos 100 homens mais
ricos da revista Forbes, 17 eram ex-comunistas, que sabiam de tudo,
participavam desse “haraquiri” militar que mudou o mundo. São os
chamadosBILIONÁRIOS, que deveriam ser identificados como TRILIONÁRIOS.�

                                                                          ***

PS – Isso é história pura, Ricardo, e nunca fui simpatizante. Quando aos 13 anos
entrei na revista “O Cruzeiro”, (que se transformou na maior de todos os tempos)
não era nem pensava em ser jornalista. Apenas um emprego melhor. Mas tinha
que acontecer.

PS2 – Desculpe, Ricardo, não entendi a razão das flores para Bush. Podia ter ido
primeiro para o canastrão-delator Reagan, para o Bush pai (ficou só 4 anos), até
mesmo para o Clinton. Para o Bush propriamente dito? Desculpe, não dá.

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