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Análise Psical6gica (1987), 4 (V): 609-542

Sobre os problemas
do comportamento na adolescência:
Observações de campo e avaliação longitudinal

RAINER K . SILBEREISEN (*)


PETER NOACK (*)
MATTIAS REITZLE (*)

I. INTRODUÇÁO cura, evidentemente, negar os riscos para


a saúde e para o bem-estar psicológico re-
Será o uso de substâncias como o álcool, sultante do uso de substâncias legais e ile-
a nicotina ou mesmo a marijuana bom para gais. Essa perspectiva salienta, contudo, que
os adolescentes? Embora pareça fácil rejei- os problemas comportamentais dos jovens
tar uma resposta positiva para esta questão, só .podem ser adequadamente compreendi-
queremos demonstrar que um mão)) radical dos no contexto mais geral do desenvolvi-
pode obscurecer as formas intrincadas com mento normal do adolescente. A centração
que tais problemas de comportamento e o nos problemas comportamentais como o uso
desenvolvimento normal e adaptativo do de substâncias comummente designadas pelo
adolescente se relacionam. termo «droga» pode levar a uma concepção
Na transição da infância para o estado que vê neles uma maneira de dominar difi-
adulto, os adolescentes enfrentam uma va- culdades desenvolvimentais normais.
riedade de pedidos e de desafios que se Dado a relação postulada, esperaríamos
espera que dominem. Na maioria dos casos, encontrar prevalência sistematicamente di-
eles têm ainda de encontrar estratégias e ferente do uso de substância ao longo da
adquirir habilidades apropriadas para o fa- vida. Tal como alguns estudos longitudinais
zer. Por isso, a adolescência torna-se um prospeçt ivos demonstraram (Magnusson,
período da vida sujeito a tensões especiais. Duner & Zetterblom, 1975; Huba & Ben-
Tais dificuldades temporárias no desenvol- tler, 1983; Kandel & Logan, 1984; Jessor,
vimento não se confinam a grupos especí- 1986), quando se examinam amostras repre-
f i m de problemas, mas podem ser consi- sentativas da população geral mais do que
derados uma característica geral. grupos em risco particulares, o uso de subs-
A nossa perspectiva, que acentua a fun- tância manifesta-se de facto em episódios
ção construtiva dos problemas comporta- relativamente curtos que apresentam um
mentais na forma de lidar com exigências padrão de prevalência surpreendente ao
e dificuldades próprias da idade, não pro- longo do curso de vida. Este padrão está
menos relacionado com a idade cronológica
(*) Technical University of Berlin (West). do que com as transições normativas da vida.

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Por exemplo, Yamaguchi e Kandel (1985) 11. DESENVOLVIMENTO E PROBLEMA
descobriram que o uso de marijuana dimi- DE COMPORTAMENTO:
UMA ESTRUTURA CONCEPTUAL
nui ou mesmo desaparece após o casamento
ou a maternidade/paternidade. Correspon-
A. Iniciativa e auto-reguloçção
dentemente, para jovens que fumam mari-
juana, 'esta transição biográfica acontece Nos últimos anos, a iniciativa pessoal tor-
mais tarde do que em sujeitos não fuma- nou-se cada vez mais um tema central nas
dores. conceptualizações psicológicas e ~ ~ 0 1 6 g i C a S
Uma linha comparável de argumentação dos processos em jogo no desenvolvimento
pode ser utilizada para outros problemas (cf. L e r n e r & Busch-Rossnagel, 1981;
como a delinquência e a depressão (Elliott, Brandtstadter, 1984, Silbereisen & Eyferth,
Ageton, Huizinga, Knowles & Canter, 1983; 1986). Tal como os modelos heurísticos em
Rutter & Garmezy, 1983): trata-se de pra- geral, ((desenvolvimento como acção em
blemas essencialmente episódicos com par- contexto)) não constitui uma teoria especí-
ticular incidência durante períodos de tran- fica, mas serve para delinear objectivos
sição como a adolescência. para investigação futura e ajuda a identifi-
Na linha da orientação anterior, na expo- car estratégias empíricas para os prosseguir.
sição sistemática que segue, primeiro apre- Uma exposição completa dos detalhes da
sentamos brevemente uma estrutura con- abordagem em temos de teoria de acção
ceptuaí e alguns resultados de investigações de investigação sobre o desenvolvimento
relativas a relação entre desenvolvimento humano está para além dos objectivos do
do adolescente e problemas comportamen- presente trabalho; o leitor pode referenciar-
tais. Referimos esta concepção em termos -se a análise recente de Brandtsttidter (1984)
de ((desenvolvimento como acção em con- e Silbereisen (1986).
texto)) (Silbereisen & Eyferth, 1986). >Em Para nós, esta ênfase na acção orientada
segunda lugar, analisaremos dados de um para objectivos nas ciências humanas, pode
estudo naturalístico dos settings de tempos ser vista como sendo paralela As mudanças
limes do adolescente, para mostrar o papel sociais mais importantes que ocorreram
que estes settings podem ter para o domínio nas sociedades ocidentais em geral. Como
pelos adolescentes das tarefas desenvolvi- foi assinalado em análise sociol6gicas (Beck,
mentais e a função do uso de substância 1983; Siegert & Chapman, no prelo) as
neste processo desenvolvimental. Em ter- identidades Sociais enfraqueceram cada vez
ceiro lugar, o modelo de relações dinâmicas mais a sua dependência estreita em relação
entre auto-estima, algumas orientações de ao nível cultural ou a classe social. Este
tempos livre, e o uso de substância será fenómeno de ((individualização)) caracteri-
formulado e testado utilizando uma grande zou-se pela atribuição de uma maior liber-
amostra longitudinal. Uma atenção especial dade para os indivíduos modelareai a sua
será dada A questão de saber se os padrões pr6pria biografia, enquanto ao mesmo tem-
observados de mudança são consistentes po o peso da responsabilidade e do risco
nos dois sexos, nos diversos coortes de ida- para o sucesso na vida incide cada vez mais
de, e em contextos educacionais contrasta- nos próprios indivíduos.
dos. Finalmente, sugerimos diversas direc- Analisando a situação actual dos adoles-
ções para investigações futuras acerca dos centes, Zinnecker (1985) vê o carácter da
múltiplos papéis do uso de substância e adolescência como um período moratória
outros problemas comportamentais nos pro- dando lugar a uma mais precoce confron-
cessos de desenvolvimento durante a ado- tação com exigências e obrigações contra-
lescência e o início da idade adulta. ditórias. Embora o controle individual w
bre o desenvolvimento possa ser mais fic- postos de ciclos mais curtos. Assim sendo,
ção do que realidade, esta ideia aproxima-se o objectivo de um passo intermédio poderia
da percepção subjectiva do adolescente, ser o resultado de um intervenção desenvol-
mesmo quando a iniciativa individual é im- vimental prévia que por seu turno era diri-
pedida por condições altamente restrictivas. gida por orientações desenvolvimentais mais
Por exemplo, os jovens ao deixarem a es- abstractas abarcando pontos no futuro mais
cola, na Alemanha Ocidental, insistem em distante. Estes processos regulativos entre
ver-se a si pr6prios como responsáveis indi- sados poderiam simultaneamente lidar com
viduais do seu sucesso no mercado de tra- diversos domínios de objectivos.
balho, apesar de realmente existirem Sérios
limites no número de estágios disponíveis
nas empresas (Heinz, 1986). B. Problemas comprtmentais numa pers-
Apesar de se ver o desenvolvimento em pectiva desenvolvimental
termos de acções orientadas para objectivos
e consequentemente colocar a iniciativa e Os comportamentos são considerados pro-
planeamento do adolescente em foco, isto blemáticos quando entram em conflito com
certamente não implica que o indivíduo te- normas sociais ou criterios funcionais do
nha o controle completo do seu desenvolvi- bem-estar (v. Brandtstiidter, 1977). Por isso,
mento. Uma forma de caracterizar o con- o uso de substância pode ser chamado p r e
trole sobre o desenvolvimento é a que reside blema comportamental quando uma idade
no conceito de auteregulação (Carver & legal de consumo é violada e/ou quando
Scheier, 1982; cf. Silbereisen & Kastner, tal uso conduz a consequências que com-
1987). 10s indivíduos gradualmente formam prometem a saúde.
orientações relativas a objectivos e passos Entendido numa perspectiva de desenvol-
no seu futuro desenvolvimento, que reflec- vimento, os problemas comportamentais
tem as expectativas sociais normativas (ata- podem ser vistos como um esforço para do-
refas desenvolvimentaisw; v. Havighurst, minar dificuldades típicas da idade no cres-
1952; Petersen & Spiga, 1982), e tamMm cimento psicológico. Isto não implica que o
as suas aspirações pessoQis. Estas orienta- usa de substância ou a deliquência tenham
ções desenvolvimentais funcionam como sempre por objeotivo ganhar controle sobre
campo de referências para a acção ulterior. o desenvolvimento. Muitas razões podem
Se o estado presente do desenvolvimento for existir para que um adolescente fume mari-
visto como desviante em relação Aquelas juana ou tome parte num pequeno crime.
orientações, a pessoa procura responder Mais ainda que os problemas comportamen-
mudando as sua c o n d i ç ~internas e con- tais sejam uma tentativa de lidar com difi-
textos externos, o que pode reduzir a dis- culdades desenvolvimentais, a relação é
crepância. Tal acção pode conduzir a uma complexa: um problema específico pode ser
mudança no estado do desenvolvimento, que uma forma de lidar simultaneamente com
por seu turno é comparado com a orienta- diversas dificuldades desenvolvimentais, e,
ção correspondente. Claro que cada laço do do mesmo modo, uma dificuldade desenvol-
controle está sujeito a outras influências no vimental determinada pode conduzir a di-
sistema, interno e externo. versos problemas comportamentais.
A auteregulação do desenvolvimento é Há poucas abordagens teóricas que tra-
organizada de uma forma ((hierárquica- tem sistematicamente do papel construtivo
-sequencial», isto é, mudanças de longo dos problemas comportamentais no desen-
termo como o estabelecimento de relações volvimento do adolescente. A teoria da
de pares ou o treino profissional são com- ((propensão para problemas mmportamen-
tais)) introduzida por Jessor e Jessor (1977), meio da adclescência sugere que a violação
é uma expressão. A função do problema de normas ao fumar marijuana, mais do que
comportamental, seja o uso do álcool ou a simplesmente reflectir influências sociais
experiência sexual p r e m e , é vista como negativas ou atitudes desviantes, representa
uma tentativa para consumar a transição GS esforços das raparigas para ajustar o seu
para a idade adulta de uma maneira demons- comportamento social a mudanças biológi-
trativa, nos a s 0 5 em que outras formas de cas concomitantes. As raparigas parecem
adopção dos privilégios do adulto estejam regular a discreplncia entre a rapidez da
vedadas ou sejam simplesmente inacessíveis. maturação física e as suas menos avançadas
Uma observação terminológica pode aju- orientações desenvolvimentais, concentran-
dar agora. Falar da ((função)) de um pro- dc-se em aspectos que podem controlar, isto
blema comportamental não é o mesmo que é, formando o seu comportamento em con-
assumir que os indivíduos prosseguem cons- textos sociais mais parecidos com o do
oientemente o objectivo de, por exemplo, adulto (e isto significa comportamentos con-
partilhar privilégios bebendo bebidas alcoóli- tra-normativos em termos da sua idade
cas. Embora isto possa ser verdade em mui- cronológica).
tos casos, por função referimo-ncs a dis-
tinção entre aquilo que 05 etólogos chamam
causas últimas («Zweck», Bischof, 1985, C . Tempos livres como contexto para o
181) em oposição a causas próximas de um desenvolvimento do adolescente
comportamento individual. Acentuar uma
perspectiva funcional não é equivalente a Neste trabalho, aplicamcs o nosso mo-
supor uma qualquer intencionalidade de um delo do ((desenvolvimento como acção em
dado Comportamento. contexto)) a um fenómeno desenvolvimental
Só recentemente a investigação empírica particular: a inter-relação entre pessoa e
rigorosa foi aplicada às complexas relações contexto na picogénese do uso de substân-
entre problemas compartamentais e dificul- cia na adolescência. 0 s contextos fornecem
dades desenvolvimentais. Um exemplo disto instigações para a formação de orientações
é a maturação precoce, que, na nossa a b r - desenvolvimentais e oportunidades para a
dagem, pode ser compreendida como uma realização de acções cujo objectivo é o de-
instância, de deterioração da auto-regulação senvolvimento. Apesar deste aparente truís-
devido a perda de controle pelo adolescente mo, a investigação sobre o desenvolvimento
dos resultados dos seus próprios esforços do adolescente tem duas fraquezas maiores:
desenvolvimentais, ou seja, as mudanças negligência dos processos além da família
verificadas não podem ser interpretadas e da escola, e inadequação dos paradigmas
como consequências de acções próprias. de investigação dominantes. Alguns comen-
Magnussca, Stattin e Allen (1985) verifica- tários breves sobre estes aspectos podem ser
ram que o início precoce da mentsruação úteis.
está associado com o consumo de marijuana A psicologia do desenvolvimento está ex-
no meio da addescência. No início do es- cessivamente preocupada com os dois con-
tado adulto contudo, esta relação desapa- textos tradicionais de desenvolvimento - a
rece. Além disso, uma relação similar com família e a escola (Bronfenbrenner & Crou-
outras variáveis (por exemplo sucesso es- ter, 1983). Por isso, a investigação sobre os
colar) mantinham-se estáveis ao longo da outrcs contextos desenvolvimentais negli-
fase inicial d o estado adulto. De acordo com genciados merece atenção particular. Para
a sua argumentação, a restrição da relação o desenvolvimento do adolescente, Iwais de
entre maturação precoce e marijuana no tempos livres estão entre esses contextos

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que têm sido bastante p u c o observados na A inadequação nos paradigmas de inves-
investigação (Silbereisen & Noack, 1986). tigação existe mesmo nos casos em que am-
A primeira vista, isto pode parecer sur- bos os tipos de influência ao desenvolvi-
preendente, se se considerar a tradição de mento -pessoa e contexto -d o integrados
estudos sociológicos qualitativos desde os nas abordagens empíricas. Tais estudos são
anos 30, sobre o espaço urbano de vida dos conduzidos sobretudo em termos do que
jovens. Quando estes estudos são examina- Bronfenbrenner e Crouter (1983) chamam
dos, torna-se óbvio, contudo, que a ênfase modelos da indicação social: embora o con-
incide em g r u p periféricos da sociedade, texto seja tido em conta, figura como pouco
e em contextos psicologicamente pobres nos mais do que um nome, «com nenhuma
quais esses jovens vivem. O trabalho deta- atenção dada a questão de saber como é
lhado de Thrasher (1927) sobre gangs de o meicl, que pessoas nele vivem, o que fa-
jovens é disso um exemplo. Ele vê a estru- zem, ou como estas actividades podem in-
tura dos papéis no gw.g comol uma com- fluenciar a criança))(pp. 382-383). Na nossa
pensação p r a a {{desorganizaçãosocial)) de opinião, a preferência por modelos simples
áreas desfavorecidas da cidade. Da mesma é em parte devida a pobreza conceptual
forma, a investigação no (Centropara Estu- relativa aquilo que o contexto propicia (cf.
dos Culturais Contemporâneos 'em Birm- Gibson, 1977) ao desenvolvimento. Falta-nos
ingham (Brake, 1980; Willis, 1977) revelou portanto conceitos teóricos que descrevam
pedidos situacionais e correspondentes colm-
os meios usados pelos jovens nas suas sub-
petências pessoais (Fuhrer, 1985; Kaminski,
culturas particulares para lidarem com pro-
1986).
blemas colectivos que estão enraizados na Uma estratégia específica ganhou corpo
situação do seu grupo etário e também na última década na investigação sobre o
na posição social determinada pela cultura papel dos problemas comportamentais na
ou classe dos seus pais. adolescência: conduziu estudos prospectivos
Reorientando a atenção de grupos de longitudinais em populações normais não
jovens desviantes para os meios quotidianos seleccionadas, antes da emergência dos com-
de adolescentes normais, Becker, Eigen- portamentos problemáticos {cf. Kandel,
brodt 'e May (1984) aplicaram a abordagem 1980). Como assinala Magnusson { 1983, um
teórica e metodológica de Birmingham no espectro mais largo de atributos pessoais e
seu estudo de salões de casa de gelados e ambienciais tem de ser medido ao longo de
vários outros contextos de rua. Um impor- uma parte considerável da vida a fim de
tante foco deste estudo reside nas mudanças analisar a interacção entre adaptação e pro-
desenvolvimentais na {(apropriaçãode espa- blemas do comportamento.
ços públicos)) (cf. Harms, Preissing & Rich- Idealmente, estudos prospectivos lmgitu-
termeier, 1985). Este interessei em fenóme- dinais em populações normais deveriam em-
nos desenvolvimentais não é partilhado pela pregar instrumentos de medida bem estan-
maior parte dos estudos sobre contextos tais dardizados e eficientes. Contudo, em con-
como ruas, parques e recreios (e. g. Cooper sequência da falta de conceitos e de atri-
Marcus, 1974; Grabow & Salkind, 1976; butos oontextuais relevantes no plano desen-
Payne & Jones, 1977; Holahan, 1978; Eick, volvimental a maior parte dos estudos estão
1979; Medrich, Roizen, Rubin, & Buckley, longe de satisfazer quanto a informação que
1982). Nestas condições, delinear a ecologia fornecem sobre o impacto dos contextos de
de oportunidades desenvclvimentaisdos ado- tempos livres.
lescentes é uma tarefa que ainda está por Pelo menos por agora, o que parece mais
fazer. apropriado é uma abordagem a vários ní-
veis-que combine a medida representa- que defendem entrevistas narrativas opõem-
tiva de locais de tempos livres como proce- -se aos defensores da observação de campo
dimento de exploração, com análise quaii- (cf. Bertaux & Kohli, 1984). Quando o
tativa em profundidade de locais selecci+ desenvolvimento é conceptualizado como
nadm. Curiosamente, o trabalho de Martha acção em contexto, essa polarização toma-
Muçhow (1935; cf. Wohlwill, 1985), que -se inadequada e contraprodutiva. A acção
caiu em esquecimento durante quase meio dirigida para objectivos é por natureza
século, aproxima-se bastante destes impe- multifacetada, e por isso uma compreensão
rativos. Entrevistas com estudantes acerca adequada só pode ser atingida se aspectos
da dimensão das seus movimenta fora de tão diferentes como a sua organização in-
casa e das suas actividades em locais de terna, comportamento observável, e signi-
tempo livre, conduziram-na A selecção de ficado sucial forem examinados como parte
diversos locais significativos (sobretudo l c ~ de um conjunto integrado (v. Granach,
cais de rua e um grande estabelecimento), Kalbermatten, Indermiihle & Gugler, 1982).
onde extensas observações foram feitas. Ela Para nm aproximarmos deste desidera-
descreveu o estabelecimento como um local tum, combinámos entrevista e observação:
onde se pode ganhar uma orientação para as entrevistas semidirectivas conduzidas em
o mundo do consumo, e como um local de locais de tempo livre incidem particular-
exercício onde os adolescentes poderiam mente nos objectivw que motivam os ado-
tentar agir como clientes adultos. No esta- lescentes para visitas a tais locais e nas
belecimento também se realizavam os pri- estratégias que usam para atingir esses
meiros tímidos contactos com o outro sexo, objectivas. Deste modo, pode-se compreen-
incluído literalmente o empurrão prático der melhor o significado desses locais de
facilitado pela existência de multidões. tempo livre como contextos desenvolvimen-
No n m ((Estudo Longitudinal sobre o tais a 'partir do ponto de vista dos adoles-
Desenvolvimento do Adolescente em Ber- centes. A observação sistemática serviu
lim» (Silbereisen & Eyferth, 1985) aceitá- para medir a frequência e o dvo (outro
mos a ideia de uma abordagem a vários sexo, par) de padrões típicos do comporta-
níveis tal como foi feito no estudo de Mu- mento do adolescente em ordem a perceber
chow. Estão a decorrer observações anuais melhor as condições contextuais e os awn-
dos locais de tempos livres favoritos e mais tecimentos que os adolescentes encontram
frequentados, com uma grande amostra ao dirigirem-se para um local de tempo
representativa da juventude de Berlim 0 s livre. Ainda foi registada a prevalência do
te. Os dados resultantes orientaram a selec- uso de substância nesses locais, tanto para
ção de locais para análises ulteriores. os cigarros como para o álcool.

111. QUESTÕES DESENVOLVIMENTAIS A. Um estudo por entrevista das perspec-


EM LOCAIS DE TEMPO LIVRE: tivas dos ouiolescentes
ESTUDO NATURALÍSTICO DE CAMPO
Um dos grandes objectivos da entrevista
Nesta secção apoiamenos numa série de consistia em identificar quais as tarefas
estudos naturalísticos de campo em locais desenvoivimentais normativas que se reffec-
como discotecas e centros comerciais. Há tem nos objectivos pessoais daqueles que
uma discussão em curso, no terreno da visitam os locais de tempos livres. Forne-
investigação sobre juventude, acerca da cendo o referente para as orientações sub-
melhor abordagem metodológica. Aqueles jectivas dos adolescentes, as tarefas desen-

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volvimentais que são consideradas, na lite- lá levado. O entrevistador teria de julgar
ratura, cruciais p a esta idade, são, por pela resposta espontânea do adolescente se
exemplo, contactos com o outro sexo e existiria associada ao motivo da visita algu-
integração no grupo de pares (e. g., Ha- ma tarefa desenvolvimental e qual era. Os
vighurst, 1952; Newman & Newman, 1979; objectivos julgados importantes pelw ado-
Dreher & Dreher, 1983). A integração do lescentes eram depois explorados no sentido
grupo de pares, por exemplo, refere-se aos de constatar qual a sua relação com o local:
esforços do adolescente para se tornar mem- se o objectivo era um assunto de conversa
bro de uma clique, e assumir e manter uma neste local, e quais os problemas encontra-
certa posição em tal grupo. A taxanomia dos para se atingir o objectivo.
comum, contudo, capta o nível conceptual A sequência de questões era apresentada
abtracto de tarefas a longo termo. Para as de forma flexível de maneira que se pudesse
entrevistas orientadas para sujeitm concre- transformar numa conversa livre. Cada en-
tos que se dirijam a locais de tempos livres, trevista durava entre 15 e 45 minuta e
aquelas tarefas têm de ser compreendidas posteriormente era descodificada a partir
de forma a permitir relacioná-las com objec- da gravação. As categorias utilizadas na
tivos de acções quotidianas. Assim sendo, codificação dos objectivos consistiam em
a aspiração a longo termo de ter m a rela- contactos com o outro sexo, integração
ção heterossexual estável transforma-se no num grupo de pares, formação de um estilo
desejo de conhecer um rapaz ou uma rapa- pessoal, exercício físico e desenvolvimento,
riga, ou de resolver um problema em m- escolha de um papel de consumidor e uso
junto com um novo companheiro. de substância. As categorias agregavam os
objectivos dos adolescentes em termm de
orientações pessoais para o desenvolvimen-
METODOLQGIA to. Estas orientações referiam-se a tarefas
desenvolvimentais normalmente considera-
Amostra -Os dados apresentados são em das importantes durante o período da ado-
190 entrevistas dirigidas, efectuadas a ado- lescência (6. Havighwt, 1952; Newman
lescentes (idade entre 11 e 18 anos) em dez & Newman, 1979). Breves descrições das
locais onde os jovens passam os seus tempos categorias podem ser encontradas no Ane-
livres, discotecas, centros comerciais, rin- xo A.
gues de patinagem no gelo, piscinas cobertas As categorias que especificam os meios
e ao ar livre. Fstes locais foram selecciona- de persecução dos objectivos acima mencio-
dos tendo por cbase as escolhas indicadas nados de contacto com o outro sexo e de
pelos adolescentes perante um questionário integração em grupos de pares, foram o
avaliativo das suas preferências (para uma contacto verbal, a oferta de subtâcia, o
descrição desta amostra ver Secção IV). As contacto visual, a apresentação por amigos,
entrevistas com os adolescentes foram efec- a utilização de equipamentos ou progra-
tuadas aleatoriamente nos locais já descri- mas dos locais onde se encontravam, o cha-
tos. Assim, a distribuição entre idades e mar a atenção, a mudança para outros lu-
sexo abarcou uma população bastante hete- gares e os atributos pessoais. Partindo das
rogénea, o que poderia não acontecer se o informações sobre as ideias dos adolescentes
local seleccionado fosse só um. acerca das formas para atingir 06 objectivos
desenvolvimentais que eram inferidas a par-
Procedimento -Quando os adolescentes tir de um questionário de avaiiação (Noack,
entravam num dos locais deginados eram Muchowski & Silbereisen, 1986), as respos-
inquiridos acerca dos motivos que os tinham tas dos adolescentes foram resumidas em

515
termos das categorias já apresentadas. Ao crição do índice actual destas categorias
estabelecer categorias, chegámos a um nível aparece no Anexo B. Outras informações
de abstracção que capta o que se passa nas acerca da técnica específica da entrevista
situações cclncretas e é ao mesmo tempo e do procedimento de codificação poderá
aplicável a contactos entre membros do ser coasultado de forma mais exaustiva num
mesmo sexo e do sexo oposto, bem como manual (Schuhler & Kastner, 1985).
aos diferentes t i p s de locais analisados.
Assim, contactar com alguém, que não se
conhece, perguntando-lhe se é um frequen- RESULTADOS
tador habitual do local (contacto verbal), é
uma estratégia que perdite iniciar a con- Objectivos - A distribuição das respostas
versação com pessoas dd mesmo e de outro às entrevistas de acordo com oç objectivos
sexo, podendo ser utilizada numa discoteca, que os ado!escentes referiram para a sua
num centro comercial ou em qualquer outro visita aos locais é apresentado no Quadro 1
local. As categorias obtidas estão em p r a - (os resultadcs são agrupados através de dois
lelo com a distinção que geralmente se faz exemplos por local-tipo não sendo apresen-
entre esforços individuais, ajuda externa e tado as anomalias correspondentes a locais
a sujeição a situações autónomas, que sir- individuais). O uso de substâncias legais 6
vam o progresso desenvolvimental referido, também apresentado quando mencionado
de Dreher & Dreher (1983). Uma curta des- como objectivo da visita.

QUADRO 1
Número de entrevistas nas quais os objectivos relacionados com tarefas de desenvolvimento foram
indicaias pelos adolescentes como motivação para a visita a locais de tempos livres (O)

Ringue de
Centro Piscina Piscina patinagem Total
Objectivo Discoteca comercial coberta ao ar livre no gelo Linha
.._...___..
I

Contactos com o outro sexo 24 22 1 10 10 67


Grupo dc pares (integraçáo) 14 5 19 15 22 75
Formação de uin estilo pessoal 10 1 O O O 11
Exercício físico e desenvolvimento O O 23 7 6 37
Adopção de papel de consumidor O 15 O O O 15
Uso de substância 1 O O O O 1

(9 Múltiplas respostas possíveis; categoria ausente devido as células vazias.


(b) Em parênteses o número total de instâncias onde os objectivos relacionados com as tnrcfas dcs-ii\.olv;r!:c:ii.ii\
foram referidas no geral.

516
QUADRO 2
Percentagens das estratégias indicadas pelos adolescentes como forma de atingir .os objectivos
dos contactos com o outro sexo e da integrqão do grupo de pares (?
...............................................................
Discoteca Centro comercial
b
Estratégias Outro sexo Pares Outro sexo Pares

Contacto
Verbal

Oferta de
Substância

Contacto
Visual

Apresentaçao
por Amigos

Ut i1ização
de Equipamento
ou Programa

Chamar a
Atençáo

Mudança para
outros locais

Outro (ex.
Atributos Pessoais)

A A A A A A A A
30 15 r.1 15 30% 30 15 o%
4

A
o
A
15
A
aca -SO
A A
15
A
i1
A
15
A
30%
A
o
A
15
A
30%

.....................................................................
(.) Número total de estratégias por objectivo num local-tipo = 100 70.
(b) Percentagens omitidas se o número de estratégias é inferior a 20.

518
Os resultados revelam uma clara diferen- próprias sem necessidade de apoios extras
ciação entre as r a p t a s dos adolescentes. do tipo tctu és o tipo de pessoa ideal)).
Por um lado, existem locais que são esco- Apesar de, geralmente este padrão ser
lhidos em função de objectivos específicos, bimodal, ocorrem algumas diferenças em
ou seja, existem locais onde só se vai para diversos locais. Em todos os locais despor-
se atingirem objectivos específicos como tivos, pOr exemplo, a participação conjunta
prática de exercício físico, formação de um em actividades é considerada como desen-
estilo pessoal e compras. Por outro lado, cadeadora de interacções. As discotecas são
existem objectivos relacionados com as no- 05 únicos locais onde a actividade (dançar)
vas amizades e as actividades entre grupos desempenha um papel em termw de apoio
de pares em que os locais escolhidos são directo nos contactos com o outro sexo.
mais indiferenciados. Num dos centros As discotecas são também os locais onde
comerciais, por exemplo, os contactos com mais se considera poder chamar a atenção
o outro sexo eram frequentemente aponta- do outro sexo. Neste sentido todo o am-
dos como um dos objectivos. Noutro centro biente de discoteca proporciona a oportu-
comercial, esta vertente era também refe- nidade de uso de roupas que chamem a
rida, mas a oportunidade de fazer boas atenção, tendo em vista esse objectivo. Para
compras a um preço acessível era mais além disso, cinco minutos passados na casa
importante. de banho de u m a discoteca, com uma sufo-
Somente nalgumas entrevistas, o uso de cante nuvem de sprays perfumados, con-
substância, foi referido pelos adolescentes, vencerão qualquer observador de que os
e apenas uma vez foi considerado um objec- adolescentes investem na discoteca e no
tivo suficientemente motivante para a visita chamar a atenção, como forma de conhecer
a um dos locais. Assim, o uso de substância e atrair o outro sexo.
não se pode considerar como um objectivo Enquanto, em geral, a referência a uma
importante de entre os indicados. estratégia de contacto verbal pode ser assu-
mida, incluindo a oferta de substância,
Meias - As estratégias ao serviço dos alguns adolescentes explicitavam este com-
objectivos desenvolvimentais apenas são re- portamento como forma de estabelecerem
feridas para contactos com o outro sexo e a interacção com outros adolescentes; em
integração no grupo de pares, tendme veri- 30 entrevistas (21 '90 dos contactos verbais)
ficado que estes eram os objectivos mais os adolescentes indicavam que a primeira
importantes em quase todos 06: locais ana- frase dirigida a outra pessoa estava relacio-
lisados. Isto torna possível a comparação nada com o álcool ou o tabaco. No entanto,
entre os diferentes tipos de locais. O Qua- a extensão em que esta estratégia era utili-
dra 2 mostra os resultados totais. zada parece ser específica de alguns locais.
Enquanto a forma preferida para estabe Este factor parece depender da permissão
lecer contactos com o outro sexo i5 clara- ou não do uso de uma substância e dos
mente o contacto verbal directo, 06 meios hábitos de consumo de um determinado
que levam a contactos entre membros do local, bem como da possibilidade de uso de
mesmo sexo é visto normalmente em ter- outras estratégias, tais como pedir uma toa-
mos de atributos pessoais, como a aparência lha emprestada numa piscina.
externa, as atitudes ou características da
personalidade. Frequentemente as relações €3. Observação sistemática de campo
de amizade entre elementos do mesmo sexo
parecem ser conduzidas pela suposição tá- As extensas observações sistemáticas in-
cita de que as coisas acontecerão por elas cluíram a recolha de diversas características

519
dos locais, tais como número de visitantes e são necessariamente mutuamente exclusivos
padrões do uso do espaço. Um aspecto1 im- (por exemplo, dar uma volta, contacto cojr-
portante das observações foi a avaliação da poral e tagarelar podem ocorrer simulta-
dimensão e do objectivo (outro sexo, pares) neamente).
das actividades dos adolescentes nos seus Para os mesmos intervalos, os observa-
locais. dores registaram quais os contactos estabe-
lecidm com outras pessoas. Um contacto
era registado se um participante na situação
METODOLOGIA de observação começava a falar com, ou
era solicitado For um não participante. Em
Amostra-Um total de 386 períodos de todas as observações, os contactos envol-
10 minutos de observação foram efectuados vendo adclescentes do mesmo sexo eram
em dez locais de pesquisa. Visitantes iso- distinguidos dos contactos com outro sexo,
lados bem como observação de grupos face- e os contactos entre os adolescentes que se
-a-face. A selecção de adolescentes para conheciam anteriormente eram também dis-
observação foi estratificada de acordo com tinguidos dos contactos que envolviam ado-
a situação tipo (por exemplo, sair, dançar lescentes que até aí se não conheciam.
e casais em discotecas; Noack, 1985). Nor- O uso de substâncias legais era registado
malmen te eram seleccionadas aleatoriamente se pelo menos um participante na situação
dez situações exemplificando cada situação- fumasse um cigarro ou bebesse áIcool du-
-tipo observada num determinado local. Ao rante um intervalo de observação.
longo dos dez locais, as situações observadas 0 s observadores tentavam proceder de
mostravam uma distribuição equitativa res- forma a intervir o menos possível na situa-
peitando as idades e os sexos dos adolescen- ção. Assim, os dados eram registados após
tes participantes. o intervalo de observação ter terminado,
sendo as notas transferidas mais tarde para
Procedimento-No sentido de se cons- grelhas, fora da local de tempos livres. De-
truírem perfis de comportamento dos locais talhes adicionais podem ser encontrados em
em que se desenvolvia cada actividade foi Noack (1985).
construída uma escala de cinco pontos para
verificar por quanto tempo ocorriam, du-
rante m intervalos de dez minutos, 06 RESULTADOS
seguintes comportamentos: olhar para as
pessoas, tagarelar, contacto corporal, dar O Quadro 3 mostra a mediana de todas
uma volta e falar em g r u p . As categorias as observações relativas a listagem de com-
são baseadas num estudo-piloto efectuado portamentos de cada local-tipo (no= não
(Noack & Silbereisen, 1982) e noutros con- ocorrência, short = menos de 1 minuto,
tributos observacionais de ocupações de long = 1 4 minutos, por cada período de
tempos livres dos adolescentes (Brower, 10 minutos).
1974; Cooper Marcus, 1974; Harms et al., Paralelamente aos resultados das entre-
1985). Embora as categorias sejam de certo vistas, emerge uma distinção entre estes
modo semelhantes as estratégias que servem comportamentos que são típicos de todas
os objectivos desenvolvimentais, estão con- as situações de tempos livres examinadas
finadas a comportamentos observáveis e ca- (pcr exemplo, tagarelar, contacto corporal),
recem de orientação intencional, tal como e aqueles que são específicos d e alguns locais
é tentado p r intermédio das nossas entre- (por exemplo, actividades desportivas). Uma
vistas. Os diferentes comportamentos não tríade comportamental consistindo em taga-

520
QUADRO 3
Perfil de comportamento para cinco locais-tipo de tempos livres de adolescentes
..............................................................................................................................................
Ringue' de
Centro Piscina Piscina patinagem
Comportamentos Discoteca comercial coberta ao ar livre no gelo
..............................................................................................................................................
Observando pessoas long short short long long
Tagarelar long long long long long
Contacto físico long short short short short
Andar ao acaso long no no short no
Passear short long no no no
..............................................................................................................................................
N.?de situações observadas 78 60 80 80 86

no = não ocorrência; short = 0-1 minuto; long = 1-4 minutos em média por um período de observação de 10
minutos.

relice, contacto corporal e observação de casuais parece ser considerada mais impor-
outras pessoas domina as situações em todos tante do que a própria função específica de
os locais. 'Outros comportamentos impor- cada local.
tantes estão mais directamente relacionados O Quadro 4 mostra as frequências e per-
com as oportunidades que alguns locais, em centagens de situações olxervadas nas quais
particular, oferecem, tais como actividades OIS contactos eram estabelecidos entre do-
desprtivas em ringues de patinagem sobre lescentes participando na situação e não
o gelo ou como olhar para monstras em participantes na situação. (Os números fo-
centros comerciais. No conjunto, em todos ram calculados ao longo de todos os locais,
06 locais analisados, a função de local de não sendo apresentadas as anomalias de
encontro como ocasião para interacções cada local).

QUADRO 4
Frequência das situações com os participantes tomando contacto com outros adolescentes

Ringue de
Centro Piscina Piscina patinagem
Discoteca comercial coberta ao ar livre no gelo
Tipo de contacto VO qo olo qo olo

Conhecido 27 (34.5) 3 (5.0) 9 (11.3) 20 (25.0) 24 (27.3)


Mesmo sexo
Desconhecido

Conhecido 25 (32.1) 3 (5.0) 3 (3.8) 1 1 (13.8) 25 (28.4)


Outro sexo
Desconhecido 10 (12.8) 4 (6.7) 3 (3.8) 0 (0) 0 (0)
-..._..___.--..______.__...____..........................................................................
_-.____________________.__________.
N.! de situações observadas 78 60 80 80 88
......................................................................................................................................... ___
Em parênteses situações, onde os contactos foram estabelecidos, como percentagem de todas as situações obser-
vadas.

521
O início da interacção curta ou longa Em alguns locais, todos as contactos regk-
com grupos de pares constitui um aspecto tados entre adolescentes que não se ccmhe-
quantitativamente irnportant e de situações ciam previamente verificou-se nas discote-
de tempos livres dos adolescentes. Existem, cas. Durante estas observações era muito
no entanto, diferenças bastante claras entre difícil distinguir se estas entradas em con-
os diversos locais-tipo examinados. As dis- tacto resultavam de interacções anteriores
cotecas são 0s. locais onde o número de ou do facto de se conhecerem de vista du-
contactos efectuados é maior, logo seguido rante a frequência habitual das discotecas.
dos ringues de patinagem no gelo. i3 sur- Em qualquer dos casm ambas as hipóteses
preendente que tenha a situação menos anteriormente levantadas revelam-se essen-
ocorrência, noutros locais vocacionaúos para ciais para iniciar uma conversa.
a prática do desporto, tais como piscinas O Quadro 5 mostra o número de situa-
cobertas, e que aparecem nos últimos luga- ções em que os ciganos e o álcool foram
res da lista. Em muitos locais o número de utilizados durante os intervalos de obser-
contactos entre membros do mesmo sexo vação (as anomalias correspondentes a locais
e do outro sexo foram semelhantes. individtualizadosnão são apresentadas).
A maioria dos contactos em todos os A mais alta proporção de situações em
locais envolvidos procesa-se entre adoles- que se verificou o uso de cigarros e áIcool
centes que já se conheciam anteriormente. foi observada em discotecas. Estas situações

QUADRO 5
Frequência das situações com participanies fumando cigarros ou bebendo álcool (3
,._.
Ringua de
Centro Piscina Piscina mtimmm
Discoteca comercial coberta ao ar livre no gelo
Substância qo VO Vo VO %

Cigarros 30 (38.5) 17 (28.3) 0 (0) 8 (9.1) 3 (3.8)


Alcool 20 (25.6) -0 (0) 0 (0) 2 (2.3) 0 (0)

N.? de situações observadas 78 60 80 80 88

(9 Em parênteses situações de fumar e beber como percentagem dei todas as situações observadas.

foram registadas em cerca de um terço das xima da das discotecas (acrescente-se ainda
situações observadas, havendo um número que é proibido fumar em centros comer-
bastante superior de si'tuações envolvendo ciais).
o uso de cigarros do que de bebida. Noutros
locais o álcool não era tão importante, um C. Discussão
facto que tem necessariamente a ver com
as possibilidades de consumo. Em contraste, Tomando todos 06 dados em conjunto,
os cigarros podem ser fumados em qualquer parece razoável caracterizar os contextos da
local excepto nas piscinas cobertas. A quan- tempos livres estudados como instrumentos
tidade de cigarros fumados varia bastante, para alcançar alguns objectivos desenvolvi-
verificando-se que a percentagem encon- mentais, em particular, a integração em
trada em centros comerciais é muito pró- grupos de pares e o estabelecimento de con-

522
tactos com pessoas de outro sexo. Neste que esse reconhecimento envolve variáveis
sentido, as inf.ormações recolhidas pelas com grande impacto emocional que podem
entrevistas onde eram referidas as opiniões não ser assumidas. Por outro lado, podem
subjectivas dos adolescentes, apontam no conhecer-se outras pess;oas através de ami-
mesmo sentido das observações levadas a gos comuns. Finalmente, pode ainda conhe-
cabo nos mesmos locais; isto é, podemos cer-se uma pessoa pelo facto de a ter visto
descrever os locais de tempos livres como frequentemente no mesmo local ou por
sendo, na sua maior parte, locais onde os intermédio de contactos visuais anteriores.
contactos sociais entre adolescentes têm um Só raramente a visita a um local foi m+
papel mais importante. Mesmo nos caso5 tivada directamente pelo uso de substâncias.
onde a designação oficial do local tem um Um adolescente pode não estar autorizado
propósito mais específico, tal coma os que a fumar em casa e pode facilmente mnsu-
se ligam ao desporto ou às cumpras, aca- mir bebidas alcoólicas m locais de lazer.
bam por servir também para que aconte- Assim, do ponto de vista dos adolescentes,
çam esses contactos sociais. Estes resulta- o uso de substâncias viria corno facto siecun-
dos confirmam os obtidos por Harms et al. dário em relação a frequência de um local.
(1989, num estudo realizada em dois bairros Um aspecto importante do uso de substân-
vizinhos de Berlim Ocidental, em que as cias está aparentemente relacionado com o
entrevistas eram orientadas duma forma mtabelecerem-se contactos pedindo ou ofe-
mais qualitativa, seguidas ainda de obser- recendo cigarros e goles de bebidas. Um
vação directa. Estes autores descrevem como jovem de 16 anos expõe esta função tácita
alguns grupos de jovens adolescentes, per- dos cigarros: «A melhor maneira, quando
tencentes ao sexo masculino utilizavam um pedes um cigarro a alguém, é tirar o filtro
estabelecimento público como local de lazer, e depois esmagar o cigarro -ela fica logo a
apesar de tal facto dar origem a conflitos saber que queres algo mais)). Desta maneira,
com os funcionários que tentavam fazer pelo menos de um ponto de vista subjectivo
cumprir as regras oficiais e não oficiais o cigarro funciona cmmo um passaporte para
destinadas a proteger e facilitar a utilização tornear dificuldades neste domínio do de-
normal do estabelecimento. Do mesmo m e senvolvimento dos adolescentes.
do, Harms et al. chamavam a atenção para Um significado p s i c o 1 6 ~suplementar
~
a importância dos ringues de patinagem no do beber e do fumar em locais de tempos
gelo como l d s de encontro entre grupos livres e que em todos os locais observados
de pares, onde um dos mais importantes os adolescentes prestam bastante atenção a
objectivos é de estabelecer contactos entre a tudo o que se passa A sua volta. As obser-
rapazes e raparigas. Quanto mais velhos vações sistemáticas mostram que olhar A
fossem os adolescentes maior era o seu inte- volta B para aqueles que estão nas proximi-
resse pela actividade desportiva, em relação dades é uma das activiúades mais impor-
ao interesse pelo desencadeamento de um tantes. Isto mostra que os adolescentes são
conhecimento novo. altamente susceptiveis a influências exter-
Nos nossos estudos em campos de jogos, nas. O uso de substâncias em determinadas
as olbservações mostram que os contactos situações contextuais não passa, no entanto,
acontecem preferencialmente entre jovens despercebido (como @e ser visto através
que se conhecem previamente, o que vem de alguns depoimentos das entrevistas; por
um pouco contra os resultados das entrevis- exemplo, «As pessoasl por aqui &bebembas-
tas. Esta discrepância pode ser devida ao tantes bebidas alcoólicas)) - rapariga, 16
facto de não se assumir claramente que se anos, discoteca I; «Muita gente aqui bebe
está a cortejar um desconhecido, uma vez para se afirmar de uma determinada ma-

523
neira))-rapariga, 15 anos, discoteca 11). do desenvolvimento, é considerado o mais
f i t e facto é frequentemente uma condição importante factor de auteiniciação ao de-
essencial para que beber e fumar se ,tornem senvolvimento (por exemplo, Baltes, Reese
modelos de comportamento. & Lipsitt, 1980; Elder, 1984; Lerner, 1985).
Na nosso modelo, as difiiculdades desenvol-
vimentais são consideradas como pertuba-
IV. AUTO-ESTIMA, ORIENTAÇÕES doras da auto-estima. Esta relação promove
DE TEMPOS LIVRES E USO
DE SUBSTÂNCIAS: UM MODELO
algumas orientações de ocupação de tempos
DE EQUAÇÃO ESTRUTURAL livres que encorajam contactos mais atrei-
tos com os grupos de pares, o que pode levar
Os nossos estudos de campo permitiram ao incremento do uso de substâncias. Corno
uma maior compreensão daquilo que os resultado, a auto-estima aumenta, o que p
adolescentes procuram nas situações de lazer derá servir de suporte para a ultrapassagem
analisadas e daquilo que eles de facto lá de o u t r a tipos de dificuldades desenvolvi-
encontram. Embora a oportunidade de usar mentais.
substâncias legais não desempenhe um papel Uma forma específica de orientação dos
central na decisão de visitar certos locais de tempos livres é aquilo a que se chama ((aoti-
lazer per se, isso surge como resultado de vidades catárticas)). Este tipo de actividade
várias actividades, tais como fazer amigos, de lazer provoca uma redução da tensão num
ou outros objectivos que parecem estar no espaço curto de tempo, surgindo como resui-
centro do desenvolvimento na adolescência. tado da vontade do sujeito em alterar com-
No entanto, os resultados agora apresenta- pleta e imediatamente o estado de espírito
dos são apenas uma primeira aproximação. do sujeito, após experenciar s i t u a ç k de
Até que ponto certos tipos de actividades de frustração, por exemplo, quer em casa
lazer têm de facto um impacto no curso do quer na escola. Extraindo de Labouvie
desenvolvimento é uma questão que se man- (1986) a definição de coping em termos de
tém em aberto. Apesar de termos a vanta- de (trepert6rios hierarquicamente organiza-
gem de utilizar informa@s autênticas os dos de tendências de acção)), podemos
nossos estudos apenas podem apoiar como compreender a grande preferência pelas
plausível a noção de que o uso de substân- actividades catárticas de resposta a situações
cias é um meio utilizado pelos jovens para frustrantes como uma forma directa de a u t e
a resolução dos problemas de desenvolvi- -regulação dirigida para uma coping baseada
mento. Uma medida segura para avaliar o na emoção (cf. Lazarus, Kanner & Folk-
papel construtivo destes problemas de com- mann, 1980; Moos & Billings, 1982). Exem-
portamentos requeriria uma investigação plos de actividades catárticas incluem ma-
minuciosa de inter-relação a longo prazo nifestações nos estááios de futebol, ou no5
entre as dificuldades de desenvolvimento e concertos de rack, ou ainda vaguear pelas
o uso de substâncias. ruas {ver Secção IVD, para uma compa-
ração entre orientações catárticas e orien-
tações de lazer mais dirigidas a longo prazo).
A. Para um modelo de processamento Neste momento, as nossas conclusões
apenas confirmam parte da sequência dos
Começamos por apresentar a nossa abor- postulados apresentados. Caspi e Silbereisen
dagem teórica do problema. &te modelo de- (1986) mostraram existir relação entre as
fende que existe uma relação bidireccional dificuldades desenvolvimentais e a auto-
entre o indivíduo e o seu contexto, o que -estima. No problema crítico central, ou
em algumas abordagens da actual psicologia seja, a incompatibilidade entre os desejos

524
e a realidade nos contactos com o outro pares e em comportamentos que se desviam
sexo, observaram uma auto-estima substan- dos padrões de socialização dos adultos. Os
cialmente mais baixa nos adolescentes que estudos acerca do papel das actividades de
tendo desejado estabeleoer uma relação tempos livres neste campo são ainda insu-
estável o não coaseguiram. ficientes. Investigações levadas a cabo sobre
No seu modelo de ((desvio em defesa do o impacto do desenvolvimento da persona-
eu» Kaplan (1980) relacionou as alterações lidade no local de trabalho, durante a pas-
da auto-estima com o uso de substâncias. sagem 'para a idade adulta (cf. Kohn &
Se os adolescentes continuamente experi- Schooler, 1983) caracterizam as actividades
mentavam fracassos na persecução de objec- de lazer como uma oportunidade de aliviar
tivcs de acordo com as normas e expectati- tensões criadas no local de trabalho (Hoff,
vas de determinadas faixas etárias, e se con- 1985). Não existem estudos que investiguem
sideravam os representantes dessas normas o papel correspondente das actividades de
- tais como pais e professores -responsá- tempos livres no desenvolvimento dos ado-
veis pelos seus problemas de auto-estima, lescentes e que sublinhem os processos psi-
então os teenugers começavam a dar aten- cológicos envolvidos. Uma excepção pode
ção a grupos e a comportamentcs desviantes ser encontrada na investigação sobre o im-
dessas normas. Se o seu comportamento pacto da rede social na saúde (ver Cohen
fosse adequado a este novo contexto, encon- & Syme, 1985). Wills e Vaughn (1985) =tu-
travam reconhecimento e eram capazes de daram as redes sociais acessíveis aos adoles-
conquistar uma auto-estima positiva. Alguns centes, nomeadamente, a prontidão com
resultados empíricos confirmam estas con- que pedem apoio e ajuda aos membros dos
clusões. Kaplan, Martin e Robbins (1984) grupos de para que se debatem com pro-
foram capazes de demonstrar que A rejeição blemas semelhantes. Os que utilizam este
manifestada por pais, professores e colegas apoio, mostrando frequentemente optarem
de escola corresponde uma fraca auto-esti- par soluções semelhantes às dos seus com-
ma, mas pelo contrário, é um factor facili- panheiros que estiveram em situações idên-
tador do uso de substâncias ilegais mais ticas, mostram um considerável acréscimo
tarde. Este uso de substâncias ilegais pode, no uso de cigarros, particularmente durante
no entanto, elevar a auto-estima. Huba e a adolescência média. As formas como as
Bentler (1982) verificaram que o consumo actividades de grupos de pares influenciam
de c m b i s durante a adolescência engen-
o uso de substâncias foi equacionado por
drou maior auto-aceitação quatro anos mais
Jessor e Jessor (1977), e Kandel, e M e w -
tarde.
Actividades de tempos livres que envol- lies (1978). Estes últimos estudos mostram
vem pares e/ou atributos da cultura de como os modelos de comportamento nos
pares, como «ouvir música pop em altos locais que os adolescentes frequentam, são
berrow, é considerado no nosso modelo cs priiicipais responsáveis por esse efeito.
como estando intimamente ligado ao enfra- As já referidas possíveis consequências
quecimento da auto-estima e como preditor positivas do uso de substâncias na auto-
do futuro uso de substâncias. Problemas -estima e na ultrapassagem de problemas
ao nível da autuestima resultantes da in- desenvolvimentais pode ser explicado de
compreensão das normas dos adultos e das diferentes formas, ainda que complementa-
expectativas etárias podem fortalecer a res. Hull (1981) advoga uma teoria segundo
busca de desprendimento emocional. Estes a qual a prevenção e o cuidado consigo pró-
prc~blemasipodem também servir para cen- prio é menclr nos indivíduos que abusam de
trar a atenção dos adolescentes no grupo de bebidas alcoólicas em casos de fracasso, (4

525
que vai resultar numa crescente auto-ava- por com o quotidiano (cf. Lazarus, 1986),
liação negativa. Assim, uma depreciação a o que, no nosso caso, está claramente rela-
longo prazo da auto-estima é defendida neste cionado com problemas nonnativos típicos
trabalho. A influência positiva que se pode deste grupo etário. Esta ideia está também
fazer sentir nas dificuldades desenvolvimen- de acordo com a compreensão do apoio
tais pode ser atribuída geralmente, a mais entre pares posta em evidência por Wills e
baixa vulnerabilidade, as dificuldades e ao Vaughn (1985).
stress devido ao aumento de auto-estima
(Werner & Smith, 1982). Como Labouvie
(1986) apontava, o uso de substâncias -no- B. Metoddogica
meadamente o consumo de bebidas a l d l i -
cas num grau baixo ou moderado -acon- Amostra -Os participantes pertenciam a
tece em contextos de grande emoção como uma coorte média de adolescentes (idade
festas de convívio ou de celebrações. Isto próxima dos 14 anos) consistindo num total
pode levar a que individualmente os sujeitos de 504 estudantes pertencentes aos graus 7,
acreditem que o uso de substâncias é um
8 e 9 e com uma distribuição aproximada-
elemento imprescidível nestes contextos.
No estudo te6rim de Hull(1981), uma fraca mente igual de ambos os sexos. Este grupo
auto-estima seguida de consumo de álcool era representativo para Berlim (Oeste) em
coincide com sentimentos de simpatia, simi- termos de percurso w o l a r ~ )e zonas da
laridade e unidade com os outros em situa- cidade. As observações foram feitas com
ções de grupo (Hull & Young, 1983). Assim, um intervalo de 12 meses.
deve-se esperar uma função directa do uso
de substâncias, tal m o foi salientado no
início do artigo e que pode ser confirmado
(l) Os graus escolares alemães são mantidos
pelos nossos estudos: o uso de substâncias no sentido de evitar confusões com o uso da
tais como 'beber e fumar facilitam o con- nomenclatura inglesa, que é referente a um sis-
tacto social e são pé-requisitos para alcan- tema escolar diferente. No sistema escolar de
çar muitos dos objectivos desenvolvimentais, Berlim, Hauptschule não é orientado para a
durante a adolescência. universidade; Reaischule inclui os graus entre 7
e 10 sendo n o entanto mais orientado para a
O estudo seguinte é um teste parcial ao universidade do que a Hauptschule; «Gymna-
modelo teórico apresentado. Queremos sium» inclui os graus entre 7 e 13 sendo a ins-
essencialmente mostrar que as orientações tituição pré-universitária tradicional da Alema-
catártias de tempos livres que compreen- nha. Gesamtschule inclui os graus entre 7 e 13
demos como preferências por focss emocicL oferecendo acesso para ambas as vias, universi-
tária e não universitária.
nais de imitação (Labouvis, 1986), são O Ainda que a transição da escola primária
mediador crucial entre a auteestima e o para a secundária ocorra tal como nos Estados
uso de substâncias numa amostra extraída Unidos após o Grau 6, a qualidade da mudança
da população de adolescentes. De acordo não pode ser comparável. Implica não só uma
com a amostra, não podemos esperar um mudança na ecologia social (escola elementar da
efeito directo da auteestima negativa no vizinhança centrada na criança versus grande
futuro uso de álcool, que s6 pode ser um- escola secundária centrada nos programas escola-
res), mas tam,bém a colocação de acordo com os
siderado relevante para os adultos com pro- resultados escolares anteriores. Este problema
blemas de excesso de bebida (Cappell & leva usualmente a efeitos disruptivos maiores
Herman, 1972). O nosso conceito de orien- (fenómeno top-dog) do que aqueles que sã01
tações catárticas de tempos livres examina conhecidos nos Estados Unidos (cf. Blyth, Sim-,
o papel da actividade na tentativa de com- mons & Carlton-Ford, 1983).

526
Vnriáveis - Auto-estima (quatro items) importância. Esta importância foi testada
foi avaliada utilizando items como «Estou através da comparação de um modelo que
satisfeito comigo próprio)) (Silbereisen, Rei- incluía todas as linhas temporais com o mo-
tzle & Zank, 1986). Para estabelecer orien- delo que incluía apenas linhas entre as duas
tações catárticas de tempos livres (seis medidas por constructo (modelo de estabi-
items), os adolescentes eram convidados a lidade); d) simultaneamente, a amostra foi
indicar aquilo que preferiam fazer para dividida de acordo com o génerol e o per-
afastar a frustração de um dia marcado pelo curso escolar. Métodos multigrupo de má-
insucesso na escola ou em casa, as opções xima verosimilhança foram então aplicados
eram: vaguear pelas vizinhanças, jogar aos para medirem a invariância das relações
flippers ou nos jogos de video, ir a um con- estruturais ao longo destes grupos.
certo rock, ouvir música em casa com o Os modelos testados pressupõem efeitos
volume muito alto e outras do mesmo gé- temporais entre constructos o p t o s a efei-
nero. Um exemplo pode ser ol seguinte: tos contemporâneos. Isto pode apenas ser
((Tiveste um mau dia. A escola, os teus justificado em terrenos de plausibilidade:
pais -tudo, de facto, te pôs nervoso. Agora, novos ganhos na autorestima positiva como
pensa que tens a oportunidade de deitar fora ccrnsequência dum aumento do uso de álcool,
todas as tuas frustrações assistindo a um por exemplo, é algo que apenas pode acm-
fantástico concerto de música ao vivo.)) tecer ao fim de alguns meses e não de alguns
A primeira medida de dados efectuada em dias. Detalhes sobre o modelo estatístico e
1982 avaliava o uso de suhstância em ter- a sua análise podem ser encontrados em
mos de prevalência ao longo da vida e a Silbereisen, Reitzle e Dwyer (1986).
segunda medida avaliava as prevalências
relativas aos 12 meses anteriores. Era per-
guntado aos participantes a %equência do C. Teste do modelo
consumo de vinho, cerveja, [',-ores fortes
e/uu consumo de cigarras. Na nossa primeira análise, examinámm
a reIação existente entre auto-estima e uso
A d l i s e - O s modelos de equação estru- de álcool (vinho e cerveja). Nesta análise
tural (ver Figura I) das relações entre os nenhuma diferenciação será feita entre ida-
três construdos de ambos os pontos de de, género e percurso escolar.
medida foram postuladas separadamente
para cada tipo de substância. Estes modelos Uso de akcml-O modelo estrutural de
foram analisados utilizando LISREL V (JO- auto-estima, orientações de tempos livres e
reskog & Sorbom, 1981) de acordo com os uso de álcool é mostrado na Figura 1. Ape-
passos seguintes: a) os modelas de medida nas as linhas significativas são descritas(").
dos contructos foram testados utilizando
análises factoriais de confirmação. Como
(') Utilizando o máximo de probabilidades
todos os modelos de medida pocliam ser
de análise, o modelo para o dcool foi estimado
considerados adequados, são omitidos mais de forma que todas as condutas entre os cons-
detalhes acerca deste passo; b) o nível de tructos (auto-estima, orientações catárticas de
afastamento entre o modelo estrutural e os tempos livres, uso de álcool) fossem parâmetros
dados obtidos foi testado utilizando méto- livres. Dando um exemplo, a adequação quali-
dos probabilísticos de máxima verosimilhan- tativa do modelo era aceitável (ch? = 168,40;
df = 95; p < 0,001). A hipótese nula de que não
ça; c) de acordo com a nossa hipótese, um existiam relações entre os constructos foi testada
padrão particular de linhas temporais entre comparando este modelo com um modelo alter-
os diferentes constructos, seria de grande nativo que incluía apenas condutas estáveis.

527
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528
Como pode ser visto pelo padrão de relações tem efeito positivo na auto-estima (.13):
temporais entre os constructos, os resultados aqueles que bebem mais tenderão a ter me-
confirmam a .nossa hipótese em direcção e lhor opinião a seu respeito.
sentido.
Quanto mais baixo a auto-estima dos ado- -
Fumm Qual a situação para o fumar?
lescentes, mais as suas orientações eram Não devemos esquecer que poucas diferen-
voltadas para actividades catárticas de tem- ças existirão na prevalência destes dois com-
pos livres (- .14); quanto mais predilecção portamentos na adolescência média. Ambas
existisse mais álcool seria consumido no1 as actividades são quase-normativas (cf. Kas-
futuro t.20). Finalmente, o uso de álcool tner, 1985). Os resultados do modelo estru-
tural são tamjbém apresentados na Figura 1.
Em paralelo ao uso de álcool, existe uma
A diferença na adequação qualitativa foi sig- linha a partir das orientações prévias de
nificativa (delta chi’ = 190,45-168,40 = 22,OS;
d f = 101-95 = 6; p < 0,005) e assim o modelo
tempos livres para o consumo ulterior de
incluindo o intervalo temporal é interpretável. cigarros (.lO). O já postulado efeito positivo
No entanto apenas as condutas significativas são na autcu-estima, no entanto, não se verifica
apresentadas na Figura 1. Os testes de signifi- no consumo de cigarros: nenhuma linha
cância utilizados são baseados em estimações significativa foi encontrada. Consequente-
standard dos erros. Perturbações na covariância mente, existe uma diferença no padrão de
não são apresentadas. Duas das perturbações
aquando da primeira medição foram significa- mudança e portanto na função psicológica
tivas: entre auto-estima e Orientações de tempos entre o uso de álcool e Y) consumo de cigar-
livres (- .14) e entre orientações de tempos livres ros que está para além da diferença entre as
e uso de álcool (.24). estabilidades respectivas (.56 a comparar
No sentido de evitar a possibilidade que cm- com .70). Embora as orientações catárticas
zamentos de linhas de intervalo temporal dife-
rentes no modelo fossem devidas a diferenças de de tempos livres incentivem o uso de am-
idade, a amostra foi dividida em três grupos etá- bas as substâncias, apenas o consumo de
rios. Depois disso um modelo assumindo todos álcool parece ter efeitos sobre a futura auto-
os cruzamentos de linhas invariantes nos grupos -estima.
foi comparado com um modelo não envolvendo A luz das diferenças de estabilidade entre
tais limitações. A diferença na adequação entre
os modelos não foi significante (delta chi’ = fumar e beber, pode-se assumir que uma
= 10,78; d f = 12; p > SO). maior habituação a nicotina parece ter tido
A lógica utilizada no caso do álcool foi tam- lugar; assim sendo um ganho na auto-
bém aplicada ao modelo que inclui os cigarros. -estima caso tenha acontecido teria morrido
A diferença na adequação qualitativa entre o anteriormente. Na adolescência média am-
modelo de estabilidade e o modelo que incluía
o cruzamento de todas as linhas foi significante
bos os comportamentos são induzidos pelo
(delra ch? = 135,40-119,59 = 15,81; df = 72- contexto das actividades de tempos livres,
-66 = 6; p < .025). Também aqui mais pertur- mas apenas o álcool tem um efeito signifi-
bações ao nível da covariância foram significa- cativo na auto-estima.
tivos: entre orientações catárticas de tempos
livres e uso de cigarros em ambos os momentos
de medição (.29 e .O7 respectivamente); para a GÉNERO E PERCURSO ESCOLAR
primeira medição entre auto-estima e orientações
de tempos livres (- .15) e entre auto-estima e Diferenças específicas entre subgrupos na
uso de cigarros (- .17). O modelo é invariante estrutura do modelo não foram encontra-
em relação A idade (delta chi’ = 14,56; df = 12; das(3). O padrão temporal postulado de
p < .025).
Todos os testes utilizados se referiam a mo-
delos que tinham em linha de conta as variáveis (’) Modelos assumindo todas as linhas cruza-
exógenas (idade, sexo, percurso escolar). das como invariantes ao longo dos grupos foram

529
relações entre auto-estima, orientação de D. A verificação da validade descriminativa
tempos livres e usoi de substâncias mostram
ser estruturalmente invariantes, tanto para Para confirmar o papel das orientações
rapazes e raparigas como para os estudantes catárticas de tempos livres como um me-
com vários percursos escolares. diador específico entre os problemas de
Houve, no entanto, algumas diferenças auteestima e o uso de substâncias, compa-
quanto ao nível de dependência dos referi- ramos os seus efeitos com um outro tipo de
dm conctructos em relação ao sexo e per- orientações de tempos livres que também
curso escolar, tal como foi indicado na procura compensar experiências negativas
Figura 1c). Particularmente impressivo foi e constrangimentos da vida quotidiana dos
o contraste entre os graus mais baixo e mais adolescentes. Entendemos por ((orientações
alto do percurso escolar (Hauptschtcle vs. subtitutivas de tempos livres)) uma prefe-
Gymnm-um). Estes dados apoiam clara- rência por actividades caracterizadas por
mente investigações anteriores que indica- reorientação peculiar no domínio dos objec-
vam que estudantes colocadas em graus mais tivos. Embora mantendo o objectivo domi-
baixos mostram uma auto-estima mais bai- nante, o sucesso, os objectivos original-
xa, mais altas preferências por actividades mente perseguidas são substituídos por ou-
catárticas de tempos livres, e bebem á I m l tros. Assim, depois de terem experienciado
mais frequentemente (Dusek & Flaherty, insucesso na escola, os adolescentes podem
1981; WMalley & Bachman, 1983; Schwar- substituir tópicos escolares por outras acti-
zer, 1983; Fischer, Fischer, Fuchs & Zin- vidades motivados para o sucesso.
necker, 1981). Durante O ano em que d m r - Nas nossas avaliações @os aos ado-
reu o noss<4 estudo, os sujeitos no nível lescentes para indicarem até que ponto se
escolar mais alto superaram o consumo de implicariam na renovação de um centro de
áIcool mas também se tomaram mais segu- juventude nas vizinhanças, na ajuda da or-
ros de si próprios. Uma particularidade do ganização de um campo de férias, tocar
consumo de cigarros, sugerida pela litera- num grupo musical, organizar uma equipa
tura anterior (Johnston, O’Malley & Bach- desportiva ou actividades desite tipo. Um
man, 1984) também se confirmou. As rapa- exemplo: «Num exame importante a nota
rigas fumavam mais do que os rapazes. Este
obtida não correspondeu aquilo que tu e os
efeito foi ainda acentuado ao longo do ano .
teus colegas esperavam. Se pudesses prepa-
de investigação.
rar parte de um programa da festa escolar
juntamente com outros alunos, prepararias
comparados com modelos que não envolviam a tua contribuição muiitto bem, dispendendo
estas limitações. A diferença encontrada na ade-
muito do teu tempo livre para fazeres da
quação entre os modelos não foi significativa
para o sexo (álcool: delta chia = 437; d f = 6 ; festa um sucesso?))
p < 50; cigarros: delta ch? = 7,50; df = 6; Apesar das óbvias diferenças, orientações
p < .25) e percurso escolar (álcool: delta ch? = catárticas e subtitutivas de tempos livres
= 23,49; d f = 18; p < .10; cigarros: delta partilham de aspectos comuns. São ambas
ch? = 25,W;df = 18; p < .lO).
(“) Para a análise, os quatro percursos foram «inventivas» (Bisçhof, 1985), no sentido em
((efectivamente codificados)) (cf. Cohen & Cohen, que se relacionam com as relatadas ten-
,1975), isto é, codificados em três variáveis tri- tativas dos adolescentes em compor com
cotómicas: no ((percurso baixo)) os scores são experiências frustrantes explorando e cons-
ffauptschuie = i , Gesamtschule = 1, Realschu!e
truindo alternativas (em vez de, por exem-
e Gymnasium = O. Similarmente «percurso mé-
dio» (Realschule = 1, etc) e ((percurso alto» plo, terem reacções mais «primitivas» tais
(Gymnasium = 1, etc.) foram medidos. ccmo comportamentos agressivos). Tendo

530
em mente estas ideias, não devemos, no portamentos desviantes das normas do6
entanto, ignorar as diferenças entre estas adultos.
duas orientações que tornam o contraste As análises das relações entre a auto-
entre elas instrutivo no presente contexto. -estima e as orientações substitutivas foram
Enquanto as orientações catárticas de tem- feitas utilizando a mesma metodologia e
pos livres são predominantemente dirigidas mostra que foram utilizadas no caso das
para uma regulação a curto tempo da emo- orientações çatárticas.
ção (cf. Labouvie, 1982) as orientações O modelo estrutural incluindo os coefi-
substitutivas de tempos livres são mais cen- cientes significativos são apresentados na
tradas nos problemas e exigem uma pers- Figura 2.
pectiva temporal mais larga (cf. Moos & Embora a relação entre auto-estima e
Billings, 1982, Labouvie, 1986). Para além orientações suktitutivas de tempos livres
disso, as orientações catárticas representam não seja significativa, enquadra-se nas nos-
mais preferência pela busca de estimulação, sas expectativas quanto ao sinal (relação
enquanto orientações substitutivas são mais negativa; ver nota na Figura 2). A linha
reflectidas e menos activas. negativa (- .88) entre orientações substitu-
As olrientações substitutivas devem pois tivas e usa de substâncias indica que este
jogar um papel diferente das orientações tipo de orientação dos tempos livres inibe o
catárticas, tal como foi colocado no modelo subsequente consumo de cigarrm um ano
anterior. Antes de mais, ultrapassar a frus- mais tarde.
tração pela procura de objetivos alternativos O impacto positivo do álcool na a u t e
não implica o risco de excesso no uso de -estima mantém-se o mesmo, como no mo-
substâncias. Em lugar de ser um factor de delo apresentado, mas não é mediado pelas
risco, podemos considerar que as orienta- orientações de tempos livres no caso da
ções substitutivas de tempos livres represen- substituição. De novo e não surpreendente-
tam uma protecção contra o uso de subu- mente, não se encontrou nenhuma influên-
tâncias. Alguns argumentos suportam a cia directa da auteestima no uso de subs-
nossa suposição. Uma vez que as nossas duas tâncias.
orientações de tempos livres vão no sentido Os resultados confirmam a n a assump
daquilo a que Pulkkinen (1983) chamava ção de que as orientações catárticas de tem-
aimpulsividade vs. controle)), podemo-nos pos livres constituem um laço específico
apoiar nos seus resultados. A autora con- entre 05 problemas de auto-estima e o au-
seguiu realizar prediçõed acerca do uso de mento do uso de substâncias, enquanto as
substâncias em adolescentes, a partir dos orientações substitutivas de tempos livres
seus scores em impulsividade na infância. têm um efeito o p t o , especificamente em
Um argumento ainda mais convincente é relação ao tabaco, não estando relacionadas
fornecido pelo facto de as orientações subs- com a auto-estima. Assim, é s6 a alta pre-
titutivas não levarem os adolescentes tão ferência por soluções de curto prazo e por
frequentemente a lugares onde o uso de lugares típicos dos jovens, em que se desen-
substância é característico. Por outro lado, rolam actividades correspondentes, que le-
a organização de campos de férias ou a vam a uma maior intensidade no uso de
prática do desporto em equipas escolares substâncias por parte dos adolescentes.
enquadram-se nas expectativas conformistas
da sociedade adulta. Não expressa uma ati- E. Discussão
tude positiva em relação a grupos de refe- A relação entre auto-estima, e orienta-
rência alternativos nem em relação a com- ções catárticas de tempos livres parece ser

531
cri
Lu Percurso
hJ Baixo

Percurso .18 (.15) Percurso


Alto
Sexo Alto

Idade n.s. ( - 1 1 ) Idade


(Meses) (Meses)

Percurso
Baixo
Percurso
Medio
Percurso
Alto
Sexo n.s. ( - 0 6 ) Sexo

idade
(Meses)

a coeficiente é do mesmo sinal que no aModelo-Catártico~:-.06 (-.07) Alcool : chi2 = 124.02; df = 95


_ _ _ _ - _--..----------
__- - - --------
b coeficiente é do mesmo sina)l e magnitude embora não significabivo
Cigarros: chi2 = 108.53; df = 66

Fig. 2 - Modelo estrutural para a auto-estima, orientação substitutivo dos tempos livres, e uso de substância. S ã o apresentados os coeficientes
estruturais significativos estandardizados entre constructos e os coeficientes de regressão estandardizados para experiências wtteriores. Não
são apresentadas covariâncias de perturbação
uma manifestação de um padrão desenvol- mesmo não acontece em relação ao con-
vimental universal: quanto mais baixa for sumo de cigarros, uma vez que não se veri-
a auto-estima, maior deverá ser a futura ficou qualquer relação com a auto-estima
orientação catártica. Esta relação parece futura. De acordo com Flay, Ryan, Best,
ser igualmente aplicável a rapazes e rapari- Brown, Kersell, D’Avernas e Zanna (1983),
gas, bem como, a sujeitos com a trajectória poderíamos tentar justificar esta discrepân-
escolar mais alta ou mais baixa. A desco- cia em termos de «estádios» do uso de subs-
berta de que as orientações catárticas de tâncias. O papel funcional do fumar (Flay
tempos livres correspondem a um aumento et al. não estudaram o caso do álcool) na
do consumo de álcool e cigarros, pode cla- integração no g r u p de pares pode ser mais
ramente ser ccmpreendido como um efeito proeminente no estádio de iniciação. A a d e
facilitador, a luz dos n w o s estudos no ter- lescência média pode, assim, ser um mo-
reno. Aqueles que ocupam o tempo livre em mento tardio para investigar esta relação,
discotecas ou estádios de rugby, só se sen- pelo que teríamos de estudar um grupo de
tirão bem se não existirem grandes discre- adolescentes mais jovens. De qualquer das
pâncias entre essa ecologia particular e o faarmas, tal como já foi referido (Silberrei-
seu próprio comportamento. Na tentativa sen & Noack, 1986) não foi esse o caso.
de ajustamento a pressões contextuais e O facto de não ‘termos encontrado dife-
adopção de hábitos apropriados, como fu- renças nos modelos analisados separada-
mar e beber, figurará como um aspecto mente para o sexo e percurso escolar não
essencial de «ligação» entre o indivíduo e deve ser sobreestimado. Ambas as variáveis
o contexto (ver Lerner, 1985). Acrescente- representam atributos pessoais e caracterís-
-se que c6 adolescentes que acentuam esta ticas sociais bastante indiferenciadas. Subse-
vertente da autwregulação Entrada na em@ quentemente, devido ao facto de que as
cão, ,podem utilizar o consumo de álcool nossas subamostras eram muito pequenas,
como redutores de sentimentos negativos, não analisámos diferenças no processo pro-
mudando de disposição rapidamente. Além posto (auto-estima - orientações catárticas
disso, o álcool provoca uma atmosfera faci- de tempos livres - uso de substâncias -
litadora dos contactos interpessoais nestes auto-estima) como função da interacção en-
locais (Labuvie, 1986; Hull & Young, tre sexo e contexto escolar. O último, repre-
1983). sentaria apenas aquilo que Bronfenbrenner
Orientações substitutivas de tempos livres (1986) tinha em mente quando considerou
enquadram-se melhor em padrões e expec- que os modelos ((pessoa- prwessol -con-
tativas normativas. Isto reflecte-se num texto» são a via regia na investigação do
efeito proibitivo, discreto mas significativo, desenvolvimento em contexto. Como seria
quanto ao uso de substâncias. de esperar, a relação inversa-em que as
A luz das considerações anteriores, a re- orientações de tempos livres sãs a conse-
lação entre auto-estima e uso de substâncias quência do uso de substâncias -não é sig-
dá origem a algumas especulações acerca do nificativa, de acordo com os resultados do
papel funcional de beber e fumar na a d e modelo estrutural. Isto não será surpreen-
lescência média. O uso destas substâncias dente, mesmo para as orientações catárticas,
pode ter como objectivo predominante a se pensarmos no5 objectivos indicados pelos
integração dos jovens nos contextos de adolescentes frequentadores de discotecas:
pares. Este efeito seria por seu turno o o uso de substâncias raramente foi indicado
responsável pelo oonsequente ganho na au- como orientação dominante. Uma vez que
to-estima. Enquanto os resultados do con- o consumo de álcool é quase normativo nes-
sumo de álcool apontam neste sentido, o tes locais, não havia problemas em reali-

533
zá-10. Assim, 05 resultados esperados seriam volvimento do que algumas dificuldades de
certamente diferentes para substâncias ile- desenvolvimento menos graves. O consumo
gais como a marijuana. de substâncias, e a adopção de um estilo
de vida correspondente podem aqui funcio-
nar como um referente actual e um subs-
V. PERSPECTIVA tituto de perspectivas positivas no desen-
volvimento. Geralmente, o resultado desen-
O exposto ao longo deste trabalho foi volvimental do uso de substâncias não
uma tentativa de ilustrar aquilo que desig- depende tanto da prevalência e intensidade
naríamos por perspectiva desenvolvimental p r se, mas sobretudo da função que desem-
genuína sobre os problemas de comporta- penha na auto-regulação do desenvolvhen-
mento na adolescência. O uso de substância to. O uso de substâncias como parte de um
é explicitamente visto como um comporta- sistema de valores, que regulam os principais
mento utilizado para ultrapassar dificuldades objectivos e o curso do desenvolvimento,
de desenvolvimento típicos desta idade. No não deve ser comparado com o uso de
sentido de clarificar o nosso ponto de vista, substâncias servindo funções instrumentais
exagerámos com certeza a universalidade na abordagem de objectivos intermédios de
do papel construtivo do uso de substâncias. desenvolvimento presentes, em contextos
quotidianos.
Limitaições - Reividicamos este argu- Funções desenvolvimentais equivalentes
mento para o muito prevalente, quase nor- de problemas de comportamento foram já
mativo, uso de substâncias legais como o postuladas nos trabalhos realizados por Jes-
álcool n a população normal de adolescen- sor e J m o r (1977), Elliott, Huizinga e Age-
tes, mas não para o abuso ou vício em ton (1985), tal como já foi mencionado. No
suóstâncias,que são normalmente típicos de entanto, as semelhanças entre diferentes
pequenas fracções de um grupo etário. problemas de comportamento podem ter
Mesmo nesses oam, contudo, a nossa insis- sido sobrestimados no passado, tal como
tência no papel construtivo dos problemas pode ser visto pelas diferenças encontradas,
de comportamento pode trazer alguma luz no processo desenvolvimental e seus resul-
quanto a certos aspectos, até aqui já des- tados, em relação com o álcool e uso de
prezados do uso de heroína, por exemplo cigarros no nosso estudo.
(Projektgruppe Tud.rop, 1984; Uchtenhagen Uma outra limitação, deriva do facto de
& Zimmer-Hofler, 1985). não termos medido directamente dificulda-
O nosso modelo foi elaborado para difi- des desenvolvimentais, e nos termos confi-
culdades desenvolvimentais, que represen- nado h medida da auto-estima global, um
tam discrepâncias menores entre os objec- indicador geral de ajustamento suciaI. Em-
tivos individuais e as oportunidades cmtex- bora Caspi e Silbereisen (1986) tenham en-
tuais, em domínios como a amizade entre contrado evidências, numa amostra compa-
pares e as relações íntimas. Como demons- rável, da sensibilidade da auto-estima, como
traram as observações efwtuadas em locais resposta as dificuldades desenvolvimentais
de tempos livres, oferecer cigarros pode na formação de amizades, e Bachman e
simplesmente jogar um papel de facilitador, O'Malley (1986) tenham confirmado a im-
vencendo a timidez, no início do contacto portância do sucesso educacional para a
com o outro sexo. Em contraste, a deterio- auto-estima dos adolescentes, seria arriscado
ração de valores (((percado sentido da vida», assumir que a nossa medida de auto-estima
Silbereisen & Kastner, 1987) criam um reflecte apenas resíduos de dificuldades
maior risco para a auto-regulação em desen- desenvolvimentais não resolvidas. Um dos

534
passos seguintes para tmtar o modelo de vação para o sucesso ou para a competência,
processo será dar mais atenção a este as- examinámos o papel das orientações substi-
pecto. tutivas de tempos livres. Tentativas orien-
tadas para o SU('RSSO noutros domínios como
Perspectivm na Prevenção - O aspecto o desporto ou outros hobbies podem ajudar
seguinte a focar, é um tbpico maior da nossa a novos ganhos na aubestima, podendo
agenda para futura investigação: existirão ainda reduzir o uso de substâncias. Pulkki-
equivalentes funcionais positivos ao uso de nen (1983) demonstrou que, adolescentes
substâncias, para ultrapawu dificuldades com um grau superior de controle de im-
desenvolvimentais? pulsos e/ou melhor nível de realizações,
Tendo em conta a nossa preocupação em mostram um uso menos intensivo de subs-
trabalhar com uma população normal de tâncias. O papel de orientação para o su-
adolescentes, podemas omitir grupos parti- cesso como factor proibitivo importante, é
culares .em que o uso de substâncias obvia- também sublinhado no trabalho de Jessor
mente funciona como um último recurso. & Jessor (1977).
Mas o que dizer da maioria dos casos em As nossas descobertas sobre o papel das
que mais cedo ou mais tarde esse consumo orientações substitutivas de tempos livres,
é bastante reduzido ou até abolido (ver fornecem a base para uma investigação pos-
Kandel & Logan, 1984)? Quais são as alter- terior de quais os equivalentes comporta-
nativas positivas, ou seja, comportamentos mentais concretos do uso de substâncias.
não problemáticas em termos de normas O envolvimento crescente dos adolescentes
sociais ou critérios de bem-estar, mas ser- com os computadores pode servir m o
vindo funções equivalentes para o d m - exemplo de esforços orientados para o su-
vdvimento? Existe uma falta de evidências, cesso, na ocupação dos tempos livres. Re-
empiricamente confirmadas no que diz res- solver problemas de computadores ou escre-
peito aos equivalentes funcionais entre pro- ver os seus próprios programas, pode ser
blemas de comportamento e comportamen- uma forma de elevar a auto-estima num
tos positivos, em termas da sua contribuição contexto normativo.
respectiva para a ultrapassagem das dificul- Deve-se no entanto não perder de vista
dades desenvolvimentais. Porque as (aiter- que, ao procurar equivalentes funcionais
nativas)) são um assunto que oada vez mais não devemos cair em estereótipos popula-
recebe a atenção dos designers de progra- res sobre uma actividade determinada. Um
mas (cf. Gulotta & Adams, 1982; Batvin, dos casos é ideia comum de que o desporto
1984; Perry & Jessor, 1985), isso representa é uma boa prevenção contra o uso de subs-
um sério obstáculo a uma mais efectiva tâncias pelos adolescentes. Um olhar mais
prevenção do uso de substâncias. atento revela-nos um quadro mais compli-
Como primeiro passo na procura de alter- cado. Como mostraram as nossas observa-
nativas, tentamos identificar orientações de ções, a integração em grupos de pares, joga
tempos livres equivalentes às orientações ca- nos adolescentes um papel comparável em
tárticas, que possam servir como meios para locais como discotecas e ringues de patina-
lida com problemas de autwzstima mul- gem. As expressões contextuais para o beber
tantes de insucessos escolares, não envol- em grupo e a sua função facilitadora podem
vendo contudo um aumento do uso de subs- ser mais ou menos similares. Outros tipos
tâncias. Uma vez que não acreáitamm que de actividades desportivas podem, no en-
problemas de autoestima, derivados de ex- tanto, oferecer protecção contra o fumar.
periências frustrantes na escola, tenham Numa perspectiva funcional dos proble-
necessariamente efeitos negativos na moti- mas comportamentais, medidas preventivas

535
complementares podem ser delineadas com balhos de Martha Muchow (1935) não tra-
base nos nossos resultados. Já que, uma fun- duz suficientemente bem este facto. Até
ção central do uso de substâncias, pcde ser agora, apenas tivemos oportunidade de rela-
a de estabelecer contactos com pares do tar num único aspecto, o laço metodológico
mesmo sexo ou do sexo oposto, uma maior entre análises de settings e avaliação repre-
ênfase na aprendizagem de habilidades so- sentativa por questionário. Os locais de tem-
ciais poderia reduzir dificuldades que são pos livres seleccionados foram escolhidos
de !outra forma dominadas com o uso de uma vez que foram os preferidos pela amos-
substâncias. tra representativa. Futuras análises poderão
Os esforços de prevenção não darão, pro- benificiar de ((fertilização mútua)) noutro
vavelmente, ungem a uma sociedade absti- aspecto também. Os objectivos perseguidos
nente. Os adolescentes aprendem muito cedo e os comportamentos observados nestes lo-
que o uso de certas substâncias faz parte cais guiaram uma extensão do questionário
do dia-a-dia (cf. Conger, 1977; Peyser, 1982). administrado ao painel. Perguntava-se a
O uso de drogas legais é frequentemente cada sujeito, qual o comportamento favorito
iniciado no contexto familiar (Kandel, 1980; no bcal de tempos livres preferido.
1986) e é, no caso do álcool, fortemente Como o uso de substâncias está sujeito
influenciado por modelos parentais. Os nos- a variações no tempo (ver Silbereisen &
sos resultados suportam a evidência de que Kastner, 1987), o formato metodol6gico e
o uso de álcool -que na nossa análise não o propósito das variáveis utilizadas no Berlin
6 equivalente ao uso ou abuso problemá- Longitudinal S t d y on Adolescent Develop
ticos-pode desempenhar um papel faci- ment (Silbereisen & Eyferth, 1985), foram
Iitador ou construtivo na gestão do desen- desenhados de forma a distinguir entre efei-
volvimento. No entanto, a importância da tos de idade e de coorte, quanto ao papel
prevenção e da investigação dos equivalen- construtivo do uso de substâncias na reso-
tes funcionais devem ser consideradas tare- lução de problemas desenvolvimentais. De-
fas prioritárias. Concordando com os argu- vido a isso, um desenho sequencial da coorte
mentos de Labouvie (1986), existem uma foi estabelecido, o que permitiu comparar
série de evidências teóricas e empíricas de o desenvolvimento dos adolescentes em
que o uso cclntrolado de substâncias, pode cmrtes, com distâncias respectivas de três
facilmente evoluir para o um porblemá- e seis anos. Este estudo está agora a ser
tico e a viciação, se se tornar um elemento replicado em Varsóvia, Pollónia. Uma vez
indispensável no repertório de acções do que existem diferenças nos valores parentais
indivíduo. Portanto, os equivalentes funcio- relativos a auto-direcção e obediências a
nais devem ser estabelecidos atempada- conformidade, entre a Polónia e outros pai-
mente. ses corno os Estados Unidos ou a Alemanha
Ocidental (cf. Alwin, 1984; Kohn, Slom-
Metotidogim de investiga@ -0 uso de czynski & Schoenbach, 1985; Silbereisen,
substâncias pelos adolescentes, visto como Boehnke & Reykowski, 1986), esta compa-
um exemplo de desenvolvimentocclmo acção ração será potencialmente de grande impor-
em contexto, requer uma combinação a tância para uma melhor compreensão do
vários níveis de abordagens fenomenológi- papel dos problemas de comportamento dos
ais e análises confirmativas de dados longi- adolescentes no desenvolvimento. Obvia-
tudinais sobre relações antecedente-conse- mente esta comparação intercultural requer
quente. A nossa forma de lidar com este também um estudo das famílias em vez de
problema só raramente foi utilizada no pas- obter informações, apenas, a partir dos
sado. A necessidade de referir aqui os tra- adolescentes. Felizmente, a família foi tra-

536
tada como uma unidade neste estudo (cf. BOTVIN, G. J. (1984) - Prevention rcsearch. In
Galambos & Silbereisen, in p r w a) e, na Secretary, Departament of Health and Human
Services (ed.) Drug abuse and drug abuse
verdade, os primeiros resultados apontam research. Rockville: National Institute on'
para a importância da tensão familiar nos Drug Abuse.
problemas de comportamento dos adoles- BRANDTSTADTER, J. (1977) - Normen. In
centes (Galambos & Silbereisen, in press b). T. Herrmann, P. R. Hofstatter, H. P. Huber
& F. E. Weinert (eds.) Handbuch psycholo-
gischer Grundbegriffe. Miinchen: Kosel.
NOTAS DO AUTOR BRANDTSTADTER, J. (1984) - Personal and
social controi over development: Some impli-
Os estudos dos autores foram subsidiados em cations of an action perspective in life-span
parte pela Bolsa Si 29611-1 do German Research developmental psychology. In P. B. Baltes &
Council através de 5 princípios de investigação: O. G. Brim jr. (eds.) Life-span development
R. K. Silbereisen e K. Eyferth. A investigação and behmior, vol. 6. New York. Academic
foi efectuada na Universidade Técnica de Berlim Press.
em colaboração com Peter Kastner. A qual bene- BRONFENBRENNER, U. (1986) - Interacting
ficiou da assistência assídua proveniente de Mech- systems in human development. Research
thild Nieman. Uma versão preliminar deste artigo paradigms: Present and future. Working pa-
.foi preparada durante uma licença sabática tor- per prepared for the SRCD Study Group on
nada possível pela Bolsa Si 29612-2 a R. K. Sil- ((Interaction Systems in Human Development))
bereisen do German Research Council. Estamos conducted at Cornell University, Ithaca, N.
gratos a Urie Bronfenbrenner pela útil discussão: Y., May 15-17.
BRONFENBRENNER, U., e CROUTER, A. C.
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