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Valoração Econômica das

Alternativas Tecnológicas
para Minimização do Risco
de Abastecimento de Água
na Região Metropolitana do
Estado do Rio de Janeiro

Elenice Rachid 1
Gustavo Aveiro Lins
Thiago Teixeira de Abreu
Josimar Ribeiro de Almeida
2
VALORAÇÃO econômica das alternativas tecnológicas para minimização
do risco de abastecimento de água na região metropolitana do
Estado do Rio de Janeiro / Elenice Rachid, Gustavo Aveiro Lins,
Thiago Teixeira de Abreu, Thamires Henrique Teles da Silva,
Tainá Pellegrino Martins, Josimar Ribeiro de Almeida. - 1. ed. -
Rio de Janeiro: Rede Sirius; OUERJ, 2015.
63 p. : il.

ISBN 978-85-88769-88-5 (E-Book)


1. Abastecimento de água – Rio de Janeiro (Estado). 2.
Recursos hídricos – Rio de Janeiro (Estado). I. Título.

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em diferentes áreas temáticas. Representa o trabalho de Pesqui-
sa, Magistério, Consultoria, Extensão e Auditoria de inúmeros
profissionais de diversas instituições nacionais e extra-nacionais.
O objetivo da biblioteca é ser útil como instrumentação e base epis-
temológica dos Graduandos, Pós-graduandos e profissionais das
áreas pertinentes aos temas publicados. Por ser um material didá-
tico público poderá ter uso público especialmente para treinamen-
to, formação acadêmica e extensionista de alunos e profissionais.
Evidentemente que cada caso da BIBLIOTECA OUERJ
deve ser encarado dentro de um contexto a que foi inicialmen-
6 te proposto. Especialmente deve-se levar em conta as limita-
ções vigentes do estado d’arte, das circunstancias e da finali-
dade inicial a que foi proposta. As derivações e extrapolações
podem ser adotadas desde que não se deixe de vislumbrar sem-
pre, estes limites de escopo inicial que norteou estes trabalhos.
Nós do OUERJ, agradecemos especialmente aos autores, a todos
os profissionais que compõem os Conselhos Editoriais, Executivos e
Consultivo do OUERJ. Agradecimento especial a REDE SIRIUS e a Pro
Reitoria de Extensão e Cultura da UERJ que possibilita esta publicação.

Diretoria do OUERJ
SUMÁRIO
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8
CENÁRIO 12
OCUPAÇÃO E AÇÕES DO GOVERNO 16
MÉTODOS DE VALORAÇÃO AMBIENTAL 20
CARACTERÍSTICAS DA ÁREA EM ESTUDO 26
VALORAÇÃO DAS ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS 34
FUNÇÕES DE DEMANDA POR ÁGUA 40
CONSIDERAÇÕES FINAIS 50
REFERÊNCIAS 54 7
INTRODUÇÃO

8
No momento em que o se utilizado desse tipo de ins-
Painel Intergovernamental so- trumento ao realizar a cobrança
bre Mudanças Climáticas (IPCC, pelo uso dos recursos hídricos.
sigla em inglês) divulga a segun- No Brasil, devido aos recentes
da parte do seu quinto relatório problemas causados pela seca
de avaliação, pode-se concluir nos estados de São Paulo e Rio de
através da versão preliminar do Janeiro - sem mencionar os esta-
Sumário para Formuladores de dos da região nordeste que já so-
Políticas que o planeta está mais frem há décadas com a escassez
quente, com nível do mar mais de água -, estamos vivenciado
alto, derretimento de geleiras e de forma penosa, as consequên-
maior variabilidade climática. cias da mudança no sistema de 9
Diante desse cenário, é fácil pre- gestão e cobrança dos recursos
dizer que será um mundo com hídricos. Mudanças que, infeliz-
milhões de pessoas sob risco de mente, têm sido implementadas
inundações, escassez de água po- nos momentos de crise, oneran-
tável, impacto sobre a segurança do de forma significativa as eco-
alimentar e extinção de espécies. nomias de estados, municípios
A escassez de água no mundo e, principalmente, do cidadão.
tem induzido muitos países a Baseada em pesquisa bibliográ-
adotar, além de outras medidas, fica sobre as experiências nacio-
instrumentos econômicos para nais e internacionais de adoção
reverter essa situação. desse instrumento de gestão e
Assim, os governos tem em métodos econômicos
de cobrança pelo uso dos recursos hídricos aplicados no Bra-
sil, realizou-se a aplicação da metodologia da demanda “tudo
ou nada” no objeto de estudo – a bacia hidrográfica do Rio
Guandu, na Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro.

10

Figura 1. Estação de Tratamento de Água Guandu


Fonte: Aquafluxus Consultoria Ambiental em Recursos Hídricos
11

Figura 2. Estação de Tratamento de Água Guandu


Fonte: Aquafluxus Consultoria Ambiental em Recursos Hídricos
CENÁRIO

12
A CEDAE, Companhia Es- lhões de litros de água por dia.
tadual de Águas e Esgotos, é a A manutenção dos níveis de po-
responsável pelo abastecimento tabilidade da água para abaste-
de água, coleta, tratamento e des- cimento vem demandando in-
tino do esgoto em grande par- vestimento cada vez maiores em
te do Estado do Rio de Janeiro, função da perda continua da qua-
comprometida, em seus serviços lidade das águas do Rio Guan-
prestados à população, a manter du. Essa redução da qualidade
a qualidade de água tratada den- da água do rio Guandu se deve,
tro dos padrões de potabilidade. principalmente, ao inadequado
Atualmente, uma das grandes planejamento do uso e ocupação
preocupações da CEDAE encon- da bacia do Guandu, provocando 13
tra-se em operar o seu maior um aumento progressivo da po-
Sistema de Tratamento de Água, luição, a partir do lançamento de
um dos maiores do mundo, a efluentes industriais, efluentes
ETA Guandu, o que impõe nú- domésticos, depósitos clandes-
meros grandiosos como o abas- tinos de resíduos e extração ile-
tecimento de oitenta por cento gal de areia dentre outras ações.
da população do município do Na bacia do Guandu (Figura 01),
Rio de Janeiro e Baixada Flu- as principais fontes de poluição
minense, correspondendo a, estão localizadas na porção infe-
aproximadamente, oito milhões rior do rio Guandu, nos rios dos
e quinhentas mil pessoas com Poços/Queimados e Cabuçu/Ipi-
três bilhões e quinhentos mi- ranga. O rio Guandu é o principal
contribuinte da baía de Sepetiba. do localizada a sua foz, próximo
Dentre as três sub-bacias da por- a tomada d’água do Guandu.
ção baixa do Guandu, a bacia do Em decorrência desse processo
rio dos Poços, destaca-se como a de degradação da qualidade da
maior com área aproximada de água que abastece a ETA Guan-
123 km até a confluência com du, em 1998 iniciou-se uma
os rios Queimados, recebendo, fase de discussão ampla sobre
principalmente, a contribuição o problema, envolvendo as ins-
dos esgotos das localidades de tituições ligadas a área ambien-
Eng. Pedreira e Jardim Marajoara. tal, em especial, aos recursos
O rio Queimados, com uma hídricos do Estado (SEMADS,-
bacia de aproximadamente de 48 CEDAE, SERLA e FEEMA), no
14 km, atravessa as áreas populosas sentido de se identificar alter-
dos distritos de Queimados e de nativas que pudessem, em cur-
Austin, recebendo efluentes do to prazo, reverter este quadro.
pólo industrial de Queimados, Baseando-se na preocupação
constituindo-se como o corpo com a vulnerabilidade do sis-
hídrico mais poluído da região. tema de captação e tratamen-
O rio Ipiranga, o menor to d’água que poderá em curto
dos contribuintes, com área de prazo comprometer o abaste-
drenagem de 47 km, recebe os cimento d’água do Rio de Ja-
efluentes domiciliares das loca- neiro, este trabalho tem como
lidades de Cabuçu, Jardim La- finalidade estudar compara-
ranjeira, Parque Ipiranga, estan- tivamente valorações de duas
alternativas de projetos para a perda de bem-estar da popu-
minimização deste dano. As al- lação abastecida através da ETA
ternativas apresentadas são: Guandu devido a uma interrup-
Alternativa A: construção de ção na operação da estação, oca-
dois sistemas de esgotos sani- sionada pela captação de água
tários e duas estações de tra- fora do padrão de qualidade esta-
tamento de esgoto(ETE) ur- belecido na legislação brasileira.
bano eficientes para os rios
Queimados, Poços e Ipiranga.
Alternativa B: mudança do pon-
to de captação de água da ETA
Guandu de acordo com o projeto
15
a ser apresentado neste trabalho.
A partir deste resultado a
valoração ambiental da qualida-
de das águas dos rios poderá ser
melhor representada, estando
baseada na solução técnica-e-
conômica a ser escolhida para
minimizar o risco de compro-
metimento do abastecimento
da Região Metropolitana do Rio
de Janeiro, e estimada visando a
possibilidade de se quantificar
OCUPAÇÃO E
AÇÕES DO GOVERNO

16
Discorrendo sobre os mento em que a cidade vem se
problemas de potabilidade da transformando em palco de vá-
água, não podemos deixar de ci- rios eventos importantes como
tar a origem das áreas poluido- a Jornada Mundial da Juventu-
ras e o alerta feito pelos pesqui- de, a Copa das Confederações, a
sadores sobre a possibilidade de Copa do Mundo e as Olimpíadas.
danos futuros. Levantamentos A História revela, por meio de
realizados demonstraram a ocu- fios condutores e interpreta-
pação das margens dos rios pela ções dos passados históricos,
população carente e o uso inten- múltiplos olhares para análise
sivo de água por indústrias ins- de todo o processo de desenvol-
taladas naquela área. Contudo, vimento, evolução e conceitos 17
a cúpula governamental mani- formulados por uma população.
festou-se de forma contrária, ig- No caso de Queimados, a
norando os alertas e focando na sua localização estratégica em
alocação da mão-de-obra de re- relação a via Presidente Dutra,
serva na região. Porém, o agrava- representa uma facilidade para
mento da situação logo foi cons- escoamento de produção e re-
tatado e, a cobrança de órgãos cebimento de insumos. Áreas de
internacionais e a divulgação baixo valor possibilitam a aqui-
dos índices de qualidade de água sição de terras e instalação com
pela mídia, tornaram os impac- baixo custo. Fatores logísticos
tos resultantes visíveis aos olhos favoráveis combinados com os
do mundo, exatamente no mo- incentivos fiscais e a proximi-
dade dos rios que passam pelo cisaria de moradia, saneamento
município, proporcionam uma básico, educação e um sistema
estrutura perfeita para a implan- viário de qualidade. Ocorre que,
tação de uma indústria no local. o uso inadequado do solo nas
Por outro lado, as indús- margens de mananciais pode
trias precisam de liberdade para acarretar diminuição signifi-
maximizar seu lucro, assim re- cativa da qualidade da água, o
duz custos utilizando grandes que dificultam e encarece o seu
quantidades de água e descar- tratamento. Ademais, os detri-
tando-a sem nenhum tratamen- tos das residências localizadas
to, fato este ignorado pelo gover- às margens têm destino certo.
no local, uma vez que fiscalização Cabe ressaltar que, este
18 ativa e aplicação de multas afas- não é um problema específico
ta o interesse das empresas. do município de Queimados,
Outro ponto em que o go- mas foi uma atitude generaliza-
verno fechou os olhos durante da dos governantes desta região,
um longo período da história foi buscando atrair investimentos
a da alocação da população, já e empresas para suas cidades,
que um município que tem sua sem se preocupar com as exter-
economia baseada nos polos nalidades geradas pelas indús-
industriais, precisa suprir a de- trias, ou com a infraestrutura
manda de mão-de-obra daque- necessária para a sua instalação.
las empresas, ignorou-se o fato
de que este fluxo de pessoas pre-
19

Figura 3. Estação de Tratamento de Água Guandu


Fonte: Aquafluxus Consultoria Ambiental em Recursos Hídricos
MÉTODOS DE
VALORAÇÃO
AMBIENTAL

20
A valoração ambiental Para o melhor entendimento
surge da necessidade de avaliar deste método deve ficar clara
impactos econômicos do uso ou a diferença entre preço e valor,
não-uso de ativos ambientais, tendo em vista que a forma-
dos benefícios dos serviços am- ção dos preços está relacionada
bientais, como forma de cálculo com o custo do bem e o lucro
de punições a agentes infrato- pretendido, além dos aspectos
res, entre outras funções, dentre mercadológicos como oferta e
as quais nos interessa uma em demanda dos bens, e a utilida-
particular, que é analisar as al- de atribuída por cada indivíduo
ternativas para melhoria do tra- ao bem em questão. Por ou-
tamento da água do Rio Guandu. tro lado, o valor está atrelado a 21
A importância da utiliza- possibilidade de um bem ofere-
ção destes métodos está con- cer benefícios ao usuário, como
tida na preocupação em anali- uma bela vista de um mirante,
sar como serão tratados estes o clima ameno nas proximida-
bens que não tem um valor de des de florestas, a diminuição de
mercado, visando assim a sua detritos nos rios pela manuten-
integração ao processo eco- ção das matas ciliares, e ainda,
nômico, uma vez que os ati- a importância das vegetações
vos ambientais são alterados de encostas que proporcionam
ou consumidos para as ativi- maior proteção contra a erosão
dades econômicas executadas e, consequentemente, menor
pela maior parte das empresas. probabilidade de deslizamentos.
Como vimos no parágrafo an- trutura, organização de entra-
terior, o valor depende do ati- das e saídas bem definidas, uma
vo analisado e dos parâmetros empresa que regula o horário de
escolhidos para a avaliação, já trabalho de seus funcionários,
que um grupo de indivíduos po- decide se no terreno de suas in-
dem preferir o calor ou frio e o dústrias serão construídas fábri-
efeito da floresta sobre o clima cas, lojas ou outro tipo de empre-
de determinada região pode endimento, da mesma forma as
ser positiva para uns e negativa modificações em florestas, man-
para outros, ou a possibilidade gues, rios e qualquer área de do-
de passear em um parque pode mínio público deve ser orienta-
ser valorosa para uns e indi- da pelo governo em suas várias
22 ferente para outros. Portanto, instâncias, dependendo do obje-
não há um único padrão para to. Nesse sentido, a Constituição
a execução de um trabalho de Federal de 1988, em seu artigo
valoração, a análise depende- 225, preconiza que todos têm
rá do bem e das variáveis leva- direito ao meio ambiente eco-
das em consideração no estudo. logicamente equilibrado, mas
Cabe então a inclusão do também define que a responsa-
direito de propriedade que pode bilidade de defendê-lo cabe à co-
ser facilmente entendido na de- letividade em conjunto com o Po-
finição do responsável por certa der Público, preservando-o para
região, seja uma casa em que a as gerações presentes e futuras.
família decide como será a es- Fica evidente então que a valo-
ração ambiental não tem como lar as possibilidades de utiliza-
função compreender o preço so- ção e tratamento das águas que
bre o ambiente, mas apresentar abastecem a Região Metropoli-
ao leitor aos diferentes efeitos tana do Estado do Rio de Janei-
das diversas formas de tratar o ro, tentando entender os bene-
objeto de estudo, fazendo a com- fícios trazidos para a população
paração com um vocabulário que daquela região na implemen-
seja acessível a todos, o dinheiro. tação de cada possibilidade de
Ou seja, quando damos um valor projeto, tendo em vista que não
ao recurso ou serviço, estamos basta que seja escolhida a for-
colocando em uma linguagem ma mais barata, primando por
financeira os impactos de cada custos, ou a mais rápida, pri- 23
tipo de utilização daquele bem, mando por resultados, a esco-
de acordo com os benefícios tra- lha deve levar em consideração
zidos a todos os usuários diretos todas as variáveis envolvidas na
e indiretos, no presente e no fu- situação, pois a mais importan-
turo, levando em consideração as te do que saber cuidar de bens
preferências de toda a sociedade importantes como o dinheiro
e relevância de existência da- e o tempo, é saber equilibrar
quele ativo ambiental para a so- todas as variáveis para cuidar
ciedade e para a própria existên- bem da vida daqueles que se-
cia saudável do meio ambiente. rão afetados por estas decisões.
Nas próximas páginas es-
taremos interessados em calcu-
Métodos Indiretos
Produção ou consumo
de um bem/serviço privado
quando afetado pela varia-
ção da quantidade/qualidade
de bens e serviços ambientais.

Despesas de Localização
É uma variante da
despesa de reposição.
Identificar as alternativas de
custos/benefícios, considerando
24 as despesas de realocar o recur-
so natural devido a uma mudan-
ça na qualidade/quantidade do
meio ambiente, para garantir um
nível aceitável de dano ambien-
tal. O custo de relocalização não
e uma avaliação subjetiva do po-
tencial do dano, e sim, o custo ver-
dadeiro de efetuar a localização.
25

Figura 4. Dragagem do Rio Queimados


Fonte: Prefeitura de Queimados
CARACTERÍSTICAS
DA ÁREA
ESTUDADA

26
A ocupação da bacia é A Zona de Uso Predominante-
caracterizada pela alternância mente Industrial (ZUPI) está lo-
entre os espaços densamente calizada no município de Quei-
urbanizados e aqueles onde pre- mados, às margens da BR-116,
domina o uso de feições rurais. dispõe de 1.903 ha, onde se lo-
calizam 13 indústrias. Apresen-
Uso Industrial ta várias áreas urbanizadas, com
A região de Queimados baixa densidade predial e pe-
e adjacências está classificada, quena porção com uso agrícola.
conforme o disciplinamento de
uso do solo estabelecido pelo Sistemas de Esgoto
Zoneamento Industrial Me- O atendimento à popula- 27
tropolitano – Portaria nº 176, ção da bacia quanto ao esgota-
de 21 de fevereiro de 1981. mento sanitário é inexistente.
A Zona de uso estritamente in- De maneira geral, os esgotos
dustrial (ZEI) é ocupado pelo Dis- domésticos são conduzidos a
trito Industrial de Queimados e fossas sépticas individuais, nor-
administrada pela Companhia de malmente sem sumidouro, ou,
Desenvolvimento Industrial do na maioria dos casos, conduzi-
Estado do Rio de Janeiro - CODIN. das para as galerias de águas
Possui área de aproximadamen- pluviais ou diretamente para va-
te 177 ha. O Distrito Industrial las a céu aberto ou para fundos
apresenta aproximadamente de vale e cursos de água locais.
50% de uso da área ocupada. Em geral, inexiste qualquer
programa voltado à conscien- Neste local, a ausência de um
tização das populações acerca tratamento eficaz e a completa
da necessidade de limpeza das falta de estrutura, fazia com que
fossas, o que acarreta a perda aproximadamente 10 mil tone-
de eficiência das mesmas, que ladas de lixo diários fossem acu-
se transformam com o tempo mulados naquela região localiza-
em simples caixas de passagem, da à beira da Baía de Guanabara
com pouca ou nenhuma depu- e ao lado da foz dos rios Sarapuí
ração dos esgotos.A produção e Iguaçu, obviamente degrada-
de esgotos sanitários na bacia dos por anos de contaminação.
do rio Poços/Queimados e Ipi- Com o intuito de mitigar os im-
ranga, da ordem de 33.500 m3/ pactos ao meio ambiente, em
28 dia, gera uma carga orgânica em junho de 2012, o maior aterro
torno de 10.000 Kg DBO/dia, da América Latina deixou de re-
lançada praticamente em sua ceber resíduos, os quais são re-
totalidade nos cursos d’água. direcionados para a Central de
Tratamento de Resíduos de Se-
Limpeza Urbana ropédica, que entrou em funcio-
O processo de tratamen- namento em 20 de abril de 2011.
to dos resíduos da região desde O processo de recupera-
1978, tinha como destinação ção e manutenção do aterro teve
final o Aterro Sanitário de Gra- seu início em 1996 e desde en-
macho (Figura 5), localizado no tão criou-se a Usina de Biogás
município de Duque de Caxias. (2009), o qual se utiliza dos ga-
ses provenientes da decomposi-
ção da matéria orgânica para a
captação de metano (CH4), gás
carbônico (CO2), entre outros
gases, evitando a emissão des-
tes no ambiente e produzindo
energia, podemos citar também
a Estação de Tratamento de Cho-
rume, que tem como objetivo tra-
tar até 1920m³ de chorume por
dia, evitando que este efluente
seja lançado nos corpos hídri- 29
cos próximos sem tratamento.
Enquanto o governo, des-
de 1996, vem investindo tempo
e dinheiro para tratar os efei-
tos das milhões de toneladas de
lixo tóxico, para o solo, o lençol
freático e a Baía de Guanaba-
ra, vemos o CTR de Seropédica
como a esperança de um futuro
mais limpo, com equipamen-
tos de alta tecnologia e trata-
mento dos resíduos em 360º.
30

Figura 5. Aterro de Gramacho


Fonte: O Globo
A falta do um local de des- na captação de água da CEDAE.
tinação próximo à área de co-
leta propiciava vazamentos do Sistema de Dragagem
lixo coletado em terrenos bal- O quadro de degradação
dios ou nas margens dos rios ambiental dentro das áreas ur-
que cortam a região. Esse lixo banas de Queimados e adjacên-
nos rios causa sérios problemas cias, e que originam as condi-
de obstrução de calha, inunda- ções propícias às inundações, é
ções e, principalmente, no caso decorrente de práticas de uso do
do rio Queimados, que deságua solo sem orientação adequada e
a montante da captação, maio- fiscalização, propiciando a ocu-
res custos, processos e tempo pação urbana precária dentro 31
para o tratamento desta água. de áreas alagáveis, o acúmulo de
O Distrito Industrial não lixo nos leitos dos rios e canais e
possui qualquer infraestrutu- o lançamento de esgoto domésti-
ra para a coleta e destinação de co “in natura” nos cursos d’água.
seus resíduos e as indústrias
aí localizadas lançam seus re- Ações Poluidoras na Bacia do
síduos em vazadouros de ou- Rio Guandu: Efeitos e Conse-
tros municípios, ou até mes- quências para a ETA Guandu
mo, em terrenos baldios e na O estudo de Adriano Gama
calha do rio Queimados, sen- Filho – Engenheiro Químico da
do responsáveis pelos proble- Divisão de Planejamento e Obras
mas já descritos, que ocorrem da ETA – CEDAE, apresentou
como proposta o estabelecimen-
to de um monitoramento próxi-
mo à tomada d’água da ETA guan-
du. De acordo com os resultados
desse estudo, foi possível identi-
ficar as fontes geradoras da de-
gradação da bacia do Rio Guan-
d1u, seus efeitos e consequências

32
33

Figura 6. Reservatórios que Abastecem o Rio de Janeiro


Fonte: O Globo
VALORAÇÃO DAS
ALTERNATIVAS
TECNOLÓGICAS

34
Alternativa A: Implantação obteve-se a distribuição espacial
de Sistema de Esgotamento da população na área em estudos.
Sanitário nas Bacias dos Rios, A partir desta distribuição, ex-
Poços, Queimados e Ipiranga trapolou-se as populações para
Conforme já comentado o ano de 2001, 2011 e 2021,
anteriormente, o crescimento correspondendo respectiva-
e a consequência concentração mente: ao início da implanta-
urbana, principalmente na ba- ção, a ampliação e período de
cia dos rios dos Poços e Quei- alcance do sistema, usando-se
mados, acarretou a degradação para tal, a taxa de crescimento
da qualidade da água desses para o município de Queimados
rios, uma vez que a região não no período 1980/1996, igual, 35
dispõe de sistemas de esgota- ou 0,89%a.a. Os setores censi-
mento sanitário. As águas ser- tários considerados correspon-
vidas são lançadas diretamente dem às áreas urbanizadas, de
nos referidos cursos d’água ou a acordo com as cartas do GEROE,
eles chegam através da rede de em escala 1:50.000, de 1995. As
drenagem pluvial ou por lança- áreas rurais foram expurgadas,
mentos em córregos tributários. bem como os setores censitá-
Com base nas populações rios com densidades popula-
dos setores censitários contidos cionais inferiores a 30 hab./ha.
nas áreas correspondentes às ba- Pelas características das
cias Poços/Queimados e Ipiran- bacias, deverão ser implantados
ga, definidas para o ano de 1991, dois sistemas de esgotamen-
to sanitários isolados, conten- Custo total: R$ 190.131.375,00
do cada um, coleta, transpor- Os custos de operação e manu-
te e tratamento dos esgotos: tenção (O&M) das unidades do
sistema poços/queima- sistema (rede, coletores e ele-
dos e sistema Ipiranga vatórias) e das estações de tra-
De acordo com o SNIS-Sis- tamento (TPQA), de acordo com
tema Nacional de Informação critérios do BIRD, alcançam, em
sobre Saneamento, baseando-se média, respectivamente, 5% e 6%
na estimativa de necessidade de ao ano, do valor do investimento.
recursos para investimento, o
custo per capita atribuído para Alternativa B: Mudança do
a implantação de um sistema Ponto de Captação de Agua da
36 urbano de esgotamento sani- ETA Guandu
tário é de U$ 250,00 (duzentos Este projeto tem o com-
e cinquenta dólares). Para os promisso de efetuar apenas o
sistemas Poços/Queimados e desvio da vazão de 2,5m3/s, dos
Ipiranga o valor do empreen- rios dos Poços/Queimados e Ipi-
dimento seria: 217.293 (Popu- ranga. O desvio, neste caso, será
lação total x U$ 250(custo per feito por meio de tubulações que
capita) = U$ 54.323.250,00 desembocarão no trecho do rio
Fazendo a conversão com câm- Guandu, a jusante da barragem
bio de U$1,00 = R$ 3,50(câm- principal, seguindo o traçado
bio em Outubro de 2002) -Fon- que se mostre mais adequa-
te: Regra Um – Net Dolar. do, técnica e economicamente.
No caso de escolha por essa mo- de diâmetro igual a 0,90m. Re-
dalidade de intervenção será composição da Margem Direita
imprescindível para o desen- do Rio dos Poços/Queimados
volvimento do projeto, efetu- A recomposição da margem di-
ar-se levantamentos topográ- reita do rio Poços/Queimados
ficos específicos e sondagens e Ipiranga com extensão pre-
para a definição do melhor vista de 1,0km e coroamento
trajeto da tubulação de des- em torno da cota 12,00m visa
vio. Um esquema dessa alter- garantir a separação dos esco-
nativa é apresentado em anexo. amentos desses cursos d’água,
Tubulação de Desvio do rio Guandu, para vazões bai-
O desvio do projeto será exe- xas. No caso de vazões mais 37
cutado no primeiro trecho, en- elevadas na bacia desses rios
tre o local de captação e a ilha, ocorrerá uma superação natu-
à direita da barragem principal, ral dessa margem e mistura com
através de dois tubos de polie- as águas da lagoa do Guandu.
tileno PEAD-PN4, com diâme-
tro externo igual a 0,90m, numa O custo de implantação
extensão de 110m. Para ultra- do projeto foi estimado nos re-
passagem da ilha e deságua no sultados do relatório GPS-RE-
braço do rio Guandu a jusan- -008-R0 elaborado no âmbito
te, numa extensão de 220m, do Projeto PROAGUA – Forta-
serão utilizados dois tubos de lecimento Institucional, fase
polietileno classe PESD-PN4, III – Sistema de Gestão da
Bacia do Rio Paraíba do Sul.
Os custos relativos a cada item
são apresentados a seguir em
planilha datada de Novembro de
2000, com base no índice EMOP.
Neste trabalho, buscando-se es-
timar os custos atuais do pro-
jeto, foi realizada uma inde-
xação em dólares americanos
da época em questão. Abaixo
os valores já corrigidos (Fon-
te: Regra Um – Net Dolar).
38
• R$
1.489.208,00/1,92(câmbio
em Novembro de 2000) = U$
774.822,06
• U$ 774.822,06 x
3,50(câmbio em Outubro de
2002 = R$ 2.711.877,21)
39
FUNÇÕES DE
DEMANDA POR
ÁGUA

40
A análise da deman- de água bruta e da inexistência
da insatisfeita por água trata- de preços sinalizadores do seu
da foi analisada pelo Censo de valor em cada uso. Não se dis-
2010, que apesar de não com- põe de dados estatísticos que
preender toda a RMRJ, indica possibilitem estimar o valor que
que a rede de distribuição ain- os seus usuários estariam dis-
da precisa de investimentos de postos a pagar por cada metro
grande porte para atingir to- cúbico de água em cada modali-
dos os municípios da região. dade de uso. Nesses casos, então
Com este objetivo a CEDAE vem há necessidade de se obterem
investindo na construção de no- novos métodos para avaliar os
vas adutoras de água bruta na benefícios das ações públicas. 41
Estação de Tratamento de Água Assim, um dos grandes
de Laranjal, melhoria no abas- problemas enfrentados pelo
tecimento de água tratada em analista na área de recursos hí-
São Gonçalo e Campos Elíseos, dricos é como estimar a função
Imbariê, Taquara, Jardim Pri- de demanda, dado que não exis-
mavera (Duque de Caxias), Bel- te o mercado de uso da água bru-
ford Roxo, entre outras áreas ta. A estimativa que será empre-
da Baixada Fluminense, a maior gada para o valor da água segue
parte ligadas ao Programa de a tradição neoclássica e se fun-
Aceleração do Crescimento. damenta na existência de uma
Por outro lado, devemos lem- curva de demanda por água,
brada inexistência do mercado certo valor ou um preço de uso.
São poucas as soluções conheci- Curvas de Demanda
das na literatura econômica para por Água Como
resolver esse tipo de problema. Bem de Consumo
A solução mais utilizada para Quando a água for utiliza-
superar o problema da indispo- da como bem de consumo, em
nibilidade do valor pelo uso da qualquer uma das várias moda-
água, cujo recurso não tem preço lidades de uso final, as curvas
de mercado, é o emprego da de- de demanda por água nesses
manda contingente. Essa técnica usos podem ser derivadas atra-
consiste em determinar a dispo- vés da teoria do consumidor,
nibilidade a pagar dos usuários importante segmento da teoria
da água, através de procedimen- econômica. Essa teoria postula
42 tos econométricos, baseados um comportamento otimizador
em dados obtidos via pesquisa por parte do consumidor, de
direta (aplicação de questioná- modo que as demandas são ob-
rios) com os próprios usuários tidas através da solução de um
envolvidos. Outra técnica co- problema de otimização condi-
nhecida é a demanda “tudo ou cionado. Nesse caso especifico,
nada”, que consiste em estimar o e a depender do postulado que
valor da água em cada modalida- seja feito, podem-se obter dois
de de uso através do seu preço tipos de demanda: (i) demanda
de reserva (ou custo de oportu- ordinária ou marshalliana ou
nidade), frente a uma interrup- walrasiana (ou renda nominal
ção na utilização desse recurso. constante, como também é co-
nhecida); e (ii) demanda com- a qual depende das quantida-
pensada ou hicksiana (ou ainda des de n bens e serviços que o
umilidade ou renda real cons- mesmo tem a sua renda nomi-
tante). A seguir, apresenta-se a nal, ou seja, condicionado à sua
teoria que fundamenta a fun- restrição orçamentária. Isto é:
ção de demanda ordinária, que
será considerada neste trabalho. Max L = u(x) + m-px

Demanda Ordinária Onde u(x) é uma relação funcio-


(Marshalliana ou nal que expressa a utilidade ou
Walrasiana) satisfação do consumidor, a qual
As curvas de demanda or- depende do valor x de quantida- 43
dinária (ou como também são de merca e serviços, que obvia-
conhecidas por curvas de de- mente contêm a água quando
manda marshalliana ou walra- utilizada; M = px, dados p e M,
siana) de um consumidor indivi- p é o vetor de n preços; M é a
dual são obtidas postulando-se renda nominal do consumidor
um comportamento otimizador por unidade de tempo; e u/x é
por parte do usuário. Nessa so- a utilidade marginal do bem,
lução, o consumidor escolhe as a qual supõe se ser a positiva
quantidades de bens e serviços (não saciante). Pode-se reescre-
de modo a maximizar sua fun- ver a equação acima da seguinte
ção de utilidade (ou satisfação), forma:
Max u=u(x), ∂u/ ∂x ≥ 0 V = 1, Curva de Demanda “Tudo ou
..., n Nada”
Ao tentar estimar as fun-
L é a função lagrangiana; e m é ções de demanda por água, o
uma variável auxiliar, mais co- maior problema que um ana-
nhecida como multiplicador de lista econômico enfrenta é
Lagrange. As condições necessá- como valorar a água, recur-
rias para um ótimo interior são: so natural escasso utilizado
em uma gama enorme de di-
L= u(x) – p = 0, V = 1, .... , n/L = ferentes usos, que não dispõe
Mpx = 0. de mercado, tam-
pouco de um preço
44 Essas condições necessá- deste resultante. Nesse sentido, a
rias formam um sistema n + 1 técnica de estimar as funções
equações e n + 1 incógnitas, que de demanda por água pode
quando resolvidas, fornecem ser interpretada como o esfor-
as n funções de demanda ordi- ço de simular a situação de um
nária, entre as quais estão as mercado hipotético. Uma so-
funções de demanda por água. lução conhecida na literatura
econômica para resolver esse
problema é o emprego da de-
manda contingente. O método
da demanda contingente con-
siste em determinar a disponi- derem a verdade, poderão obter
bilidade a pagar dos usuários um benefício extra. Outra solu-
da água através de procedimen- ção alternativa, que não apresen-
tos econométricos baseados em ta as desvantagens da demanda
dados obtidos via pesquisa dire- contingente e pode ser aplica-
ta com os próprios usuários en- da a qualquer uso da água, é a
volvidos. Esse método apresen- demanda “tudo ou nada”. As fun-
ta duas desvantagens básicas. ções de demanda ordinária po-
Primeiro, por envolver procedi- dem ser derivadas a partir das
mentos demorados e custosos funções de demanda tudo ou
associados com a elaboração nada, as quais podem ser obtidas
do questionário, o treinamento através do ajustamento de uma 45
dos pesquisadores e o proces- função linear que passa por dois
so de análise e processamento pontos, ou seja, dois pares preço
dos dados; e, segundo, por apre- de reserva versus quantidade.
sentar resultados imprecisos. Os preços de reserva da água em
Isto é, independentemente de cada uso, por sua vez, podem ser
os questionários terem sido obtidos admitindo-se uma inter-
bem elaborados e aplicados, rupção hipotética na utilização
não será possível fazer com desse recurso, de modo que os
que os usuários revelem preci- usuários teriam que buscar uma
samente o quanto eles estarão solução alternativa mais barata
realmente dispostos a pagar pelo (ou menos cara) que causasse o
uso da água, visto que, ao escon- mesmo efeito e suprisse suas ne-
cessidades de água. Além de senta a disposição a pagar por
ser uma solução simples e barata, uma dada quantidade q de água.
principalmente em relação à de- A função de demanda tudo
manda contingente, a principal ou nada em cada uso pode ser
vantagem desse processo de es- ajustada através de dois pares
timação é que o preço de reserva de pontos, obtidos através da
representa uma alternativa le- quantificação do preço de re-
gitima do valor social da água. serva ou custo de oportunida-
Pode-se demonstrar que as de da água. Desse modo, a fun-
demandas ordinárias e “tudo ou ção de demanda ordinária por
nada” estão relacionadas através água seria obtida derivando-se
de um processo de derivação ou a função de demanda de tudo
46 integração. Para isso, considera- ou nada. Por outro lado, o preço
-se a função de demanda ordi- de reserva da água pode ser es-
nária por água, representada na timado a partir de uma simula-
figura a seguir dada pela curva ção (ou situação hipotética), na
inferior, a qual é especificada por: qual se interrompe a oferta do
recurso para esse uso, de modo
p = p(q) com dp(q)/dq< 0 a fazer com que os usuários
procurem uma solução alterna-
Onde q é a quantidade demanda- tiva, ao menor custo possível.
da de água e p o seu preço. A altura O preço de reserva da água
da curva de demanda ordinária é então obtido através do cus-
em qualquer ponto, p(q) repre- to adicional que os usuários te-
interromper a utilização da água determinação do preço de re-
desse manancial. O preço de re- serva da água. Um exemplo de
serva da água é, portanto, o má- aplicação da técnica da demanda
ximo valor que os usuários esta- tudo ou nada foi na bacia hidro-
riam dispostos a pagar por cada gráfica do Pirapama em Pernam-
metro cúbico desse recurso e buco, para derivação das funções
estarem indiferentes entre con- de demanda ordinária nas várias
tinuarem a consumir essa água modalidades de uso da água.
ou buscarem uma solução alter-
nativa que cause o mesmo efeito. Preço da Reserva
Além de ser uma solução de Água
simples e barata, principalmen- O preço de reserva da 47
te em relação à demanda con- água em um dado uso estimado
tingente, a qual exige altos cus- a partir dos custos adicionais
tos com a pesquisa de campo, a de substituição por uma solu-
principal vantagem da disponi- ção alternativa, ao se interrom-
bilidade a pagar derivada a par- per o fornecimento ou a capta-
tir da demanda tudo ou nada é ção alternativa objetiva revelar
que o preço de reserva (ou cus- a máxima disposição a pagar
to da alternativa menos cara) pelo uso da água de cada usuá-
representa uma alternativa le- rio. Assim, o preço de reserva
gítima do valor social da água. da água é o máximo valor que
Apresenta-se, a seguir, o os usuários estariam dispos-
referencial metodológico para tos a pagar para continuarem a
utilizar a água, captado pelo Quantificação da Variação do
custo adicional da solução al- Bem-Estar (Excedente do
ternativa mais barata (ou me- Consumidor)
nos cara) disponível, e per- Quando a variação da dis-
manecem indiferentes entre ponibilidade de um recurso al-
essas duas soluções alternativas. tera seu preço de equilíbrio, en-
O preço de reserva da tão há de se medir a variação de
água no abastecimento huma- bem-estar resultante. Para tal,
no -pr ah, é o valor que os con- emprega-se o conceito de exce-
sumidores de água potável te- dente do consumidor, que re-
riam que gastar a mais barata fere-se ao ato de pagar por um
ou menos cara, e permanecerem bem um valor menor do que es-
48 indiferentes entre continuar a taria disposto a pagar. Este valor
utilizar a água da companhia de será calculado a partir da curva
abastecimento público de água. de demanda ordinária obtida
Seria o suprimento de água anteriormente. Em situação nor-
potável de outros mananciais mal de abastecimento através
via carros pipa, por exemplo. da ETA Guandu tem-se um con-
sumo de 41,45 m3/s a um custo
de R$0,44 por metro cúbico de
água captada. No caso de uma
interrupção de abastecimento
da região Metropolitana do Rio
de Janeiro, a alternativa mais
barata é o consumo d’água me- maiores custos e complexidade
diante poços a um custo de R$ de execução. Ao se aplicar o mé-
7,27/m3, que resultaria em uma todo da produtividade marginal,
vazão de 13,162 m3/s, obtida da quando a variação do recurso
curva de demanda ordinária. ambiental altera os preços de
A redução de 41,45 m3/s forma a ocorrer ajustes em ou-
para 13,162 m3/s acarretaria tros setores, verifica-se que es-
uma perda do excedente do con- tes ajustes produzem uma varia-
sumidor de R$ 16.124.946,26 ção no excedente do consumidor.
por dia em que a estação esti- Estes ajustes em outros merca-
ver paralisada, que correspon- dos somente podem ser identi-
de a área hachurada na figura ficados por intermédios de mo- 49
abaixo. Observa-se que este delos de equilíbrio geral de alta
valor está muito abaixo do cus- sofisticação estatística e que re-
to para relocalização das fozes querem enorme base de dados.
dos rios Queimados e Ipiranga No caso de alterações significa-
no rio Guandu. Conforme men- tivas no preço o recurso natural,
cionado anteriormente, foi em- o método da produtividade pode
pregado o método da demanda subestimar ou superestimar os
“TUDO OU NADA” para obter a valores da variação do bem-estar.
demanda ordinária, devido a sua
simplicidade e rapidez, quan-
do comparado com a valoriza-
ção contingente, que apresenta
CONSIDERAÇÕES
FINAIS

50
Um dos objetivos deste com elevados custos sociais e
trabalho é apresentar a metodo- econômicos, estimado em R$
logia da despesa de relocaliza- 16.124.946,26 por dia de su-
ção, que no caso foi apresenta- pressão no fornecimento. O cus-
da a opção de desviar (relocar) to de relocalização (desvio) das
os rios Queimados/Poços e Ipi- fozes é menor que o custo para
ranga, de modo que esses rios tratamento das fontes de polui-
passem a contribuir para o rio ção, com a implantação de siste-
Guandu a jusante da captação, mas de esgotamento sanitários.
junto a mesma. Os rios Queima- Para atender à situação emer-
dos/Poços e Ipiranga recebem gencial de poluição, hoje con-
alta carga poluidora e a reloca- figurada na região da captação 51
lização das fozes dos rios para do Guandu, verifica-se a impor-
o local mais a jusante da ETA, tância de implantação do pro-
implica na vantagem de se ter jeto básico de desvio dos rios
uma água bruta com melhor dos Poços, Queimados e Ipi-
qualidade para o abastecimento, ranga, como apresenta a Alter-
reduzindo o custo de tratamen- nativa B. O desvio dos rios dos
to e o risco de corte no forneci- Poços, Queimados e Ipiranga,
mento de água potável devido a inegavelmente trarão benefí-
um desastre. O lançamento aci- cios à tomada d’água e à ETA do
dental de uma indústria pode Guandu, que ficará livre, em boa
ocasionar a supressão do forne- parte do tempo, das águas polu-
cimento d’água por vários dias, ídas provenientes dessas bacias.
O problema configurado na ba- implementadas, tais como: a co-
cia do rio Guandu, insere-se na leta e tratamento dos esgotos do-
verdade, no contexto de um ce- mésticos, o tratamento correto
nário bem mais amplo da reali- dos efluentes industriais, siste-
dade brasileira. A poluição de- ma de coleta de lixo e disposição
corrente do não tratamento dos adequada dos resíduos sólidos. A
esgotos domésticos e industriais criação do comitê da Bacia Guan-
atinge a quase totalidade dos du, com o decreto n°. 31.178 de
cursos d’água que atravessam 03/Abr/02, foi um importante
áreas urbanas em todo o territó- passo para sanar os problemas
rio nacional. Aproximadamente ambientais e permitir a implan-
90% dos esgotos são lançados tação de sistema de gestão de re-
52 in natura nos corpos hídricos. cursos hídricos na Bacia Guandu.
A nova Política Nacional de Re- Para se atingir de forma mais rá-
cursos Hídricos, apoiada na Lei pida e eficiente, a redução dos
Federal n°. 9433, está sendo níveis críticos de poluição hídri-
implementada pela Agência Na- ca, será essencial a conscienti-
cional Águas (ANA), que vem zação dos usuários das bacias
concentrando esforços e desen- hidrográficas, sobre a necessi-
volvendo as primeiras ações, ni- dade de disciplinar o uso das
tidamente voltadas para rever- águas, e implementar as medi-
ter o quadro de degradação dos das necessárias para promover
mananciais que ora se apresenta. uma redução substancial da po-
Medidas estruturais devem ser luição, motivados pela cobran-
ça pelo uso do recurso hídrico.
Na avaliação do dano origina-
do pela poluição hídrica dos
rios Queimados/Poços, não foi
considerado a poluição pro-
veniente do lançamento de
efluentes industriais não tra-
tados, porque os custos de tra-
tamento dos efluentes devem
ser internalizados pelas in-
dústrias da bacia em questão.
53
REFERÊNCIAS

54
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59

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