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4 Educação Musical nos grupos - Conteúdo

Introdução

Autores e reflexões

Autores e práticas

Música como meio versus música como fim

Histórico do ensino coletivo de instrumento

Políticas públicas e inserção curricular

Fazer pressuposto versus fazer real

Interação, Socialização, Educação

Práticas e Identidades

Avaliação colaborativa

Música
Aplicada

Material elaborado para o Curso de Licenciatura em Música da UFRGS e Universidades Parceiras, do Programa Pró-Licenciaturas II da CAPES.
Produzido pela equipe do CAEF. Porto Alegre, 2010
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4 Educação Musical nos grupos - Conteúdo
Introdução

Até agora, você vem estudando conteúdos e realizando tarefas que procuram prepará-lo para a
aplicação de atividades junto a seus colegas de polo que estão cursando Conjuntos Musicais
Escolares. Sem dúvida, um grande e complexo desafio, mas o qual você terá plenas condições de
vencer, se seguir o passo-a-passo que estamos lhe oferecendo.

A cada nova UE deste semestre, um novo olhar sobre os momentos que lhe esperam foi sendo
lançado: Imagens Sonoras, Gestual de Regência, Dinâmicas de Ensaio e, aqui, Educação Musical
nos Grupos. Em Imagens Sonoras, você foi levado a manipular e refletir sobre expectativas diante
de fontes sonoras existentes e possibilidades reais de produção sonora em seu polo, para que
consiga compreender e valorizar cada pequeno êxito obtido. Com as duas unidades seguintes,
Gestual de Regência e Dinâmicas de Ensaio, você foi instrumentalizado com recursos que podem
favorecer seu próprio desempenho como músico e professor diante do grupo.

Agora, você será confrontado com a relevância de todos os passos anteriores diante dos previstos
para o grupo com o qual você vai trabalhar, discutindo contextos. A ideia é ajudá-lo a prever
possíveis reações de seus colegas e interiorizar eventuais encaminhamentos para elas. Assim,
revise as ideias de Schafer, Dalcroze e Willems, acrescentando a elas o que vai aprender de Orff,
no que se refere à metodologia de trabalho nos grupos, e o que já sabe sobre Heitor Villa-Lobos,
no que tange a políticas públicas para amparo destes grupos. Assim munido, prepare-se para um
futuro próximo, cheio de sucesso em suas iniciativas!

Música
Aplicada

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Autores e reflexões

A Educação Musical pode ser estudado sob distintos enfoques que, por sua vez, implicam bases
teóricas e campos científicos diversos. Nossa escolha por um ou mais deles é determinante para
o ato de educar por intermédio da música, sobre música, em música ou para a música.
Iniciaremos nossa aproximação deste debate com uma leitura do campo da Educação Musical
sob uma abordagem sociocultural, partindo de um processo de construção histórica.

Segundo Arroyo (2002), no início do século XX a educação musical em foco na sociedade


ocidental era a acadêmica / escolar, isto é, a educação musical que acontecia nos conservatórios
e nas escolas. A compreensão do ensino e da aprendizagem musical estava baseada em uma
lógica cartesiana e positivista, segundo a qual o que deveria ser ensinado e aprendido era o que,
na visão evolucionista, representasse o ápice da produção musical da humanidade: a música de
concerto dos séculos XVIII e XIX da tradição européia.

Paralelamente, diversas áreas de conhecimento provocaram rompimentos com essa visão,


influenciando o campo da Educação Musical. A Antropologia, por exemplo, trouxe à música
conceitos como relativização, que vincula a análise de um determinado fenômeno a seu contexto
sociocultural, e cultura, que implica uma teia de significados que conferem sentido à existência
humana.

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Autores e práticas

Os debates em torno de conceitos como relativização e cultura foram tomados como modelo nas
décadas de 1960 e 1970. Já nas duas décadas seguintes, o campo da música e da Educação
Musical foi influenciado pelas rupturas com a idéia de progresso e de objetividade incontestável da
ciência. Nessa fase, as grandes narrativas foram substituídas pela narrativa de todos; mas ainda
poder e saber estavam estreitamente relacionados. Estes eram debates do campo das Ciências
Sociais, explicando as modificações do pensamento na área da Educação Musical. Mas outros
aspectos influenciam também na construção de pensamentos sobre a prática da Educação
Musical. Podemos tentar compreender, por exemplo, a questão metodológica influenciada por
aspectos históricos, focando aqui as propostas de Orff e de Villa-Lobos.

O primeiro, que na realidade não tinha por objetivo ser um método, é um exemplo de adaptação
do ambiente educacional ao contexto decorrente do pós-guerra. Com a Alemanha destruída
(financeira, material e psicologicamente), Orff cria uma forma de aproveitamento do que
houvesse, em termos materiais, e, ao mesmo tempo, aproveita o potencial musical para
influenciar positivamente, devolvendo ao povo psicologicamente destruído, sua auto-estima.

O segundo exemplifica os desdobramentos políticos externos ao contexto educativo direto, mas


também decorrente de um momento histórico e de uma determinada maneira de compreender o
mundo, que as pessoas de então tinham. A imposição de um estado de ditadura determinava
repertórios de cunho ufanista, práticas musicais de massa e obediência confundida com disciplina,
por exemplo. Importa contudo saber que, em cada época, autores se levantam para explicar,
justificar, sistematizar práticas e crenças vigentes; e vice-versa.
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Música como meio versus música como fim
“Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À
parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” (Fernando Pessoa)

Para se estabelecer como Ciência, um campo precisa construir saberes e estabelecer suas
próprias verdades. Com a Educação Musical não é diferente. Se, por um lado, sabemos que as
práticas de educação musical transformam socialmente grupos que até então viviam às margens
da sociedade, diminuem a violência, contribuem para o aprendizado de outras disciplinas, e
tornam mais leve e divertido o aprender...

Por outro, sabemos que justificar o ensino de música neste sentido, apenas, desqualifica (no
sentido da Ciência com C maiúsculo) esta área de conhecimento como um campo que produz
saberes e, portanto, deve ser considerado autônomo e digno de ser tratado individual e
autonomamente. Na condição de campo científico, a Educação Musical traz a necessidade de
considerar o conteúdo musical em si, no aprendizado e no ensino de música.

Uma terceira forma de pensar a Educação Musical, e com a qual este curso está engajado, seria
o de compreender essas duas abordagens como complementares. A música na escola, portanto,
é tanto um meio de ensinar por intermédio dela, como também um fim em si mesma. Então,
também em projetos sociais e corais, onde a música é um meio para a socialização, o ensino do
conteúdo musical de qualidade deve estar presente. E vice-versa. Por isso preferimos substituir o
conceito de educação formal ou informal por ensino de música. Apenas.

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Histórico do ensino coletivo de instrumento

Conforme explicado no slide sobre autores e reflexões, o início do século XX foi marcado pelo
pensamento cartesiano e positivista. O ensino de música é, nesta época, o resultado de um
pensamento histórico apoiado no talento, no dom. Segundo essa compreensão, a pessoa
talentosa, que nasce para ser um virtuose, prescinde do ensino e é rara. Com estes princípios,
não é difícil imaginar porque o ensino de instrumento se fazia de forma individual, pois era
considerado algo possível de ser alcançado apenas por poucos eleitos.

Posteriormente, alguns educadores musicais mais próximos de nosso tempo, passaram a


perceber a música como um meio de educação integral do ser humano. É neste espírito que
nasce o ensino coletivo de instrumento, com suas preocupações com a formação musical no
sentido amplo, e não apenas do virtuose de técnica impecável e alma inexistente. Ou seja, mais
do que ensinar a tocar um instrumento musical, o ensino coletivo busca ensinar música por
intermédio de um instrumento musical.

Inúmeras são as razões para a defesa do ensino coletivo de instrumento, veja nos Anais I
Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumento Musical. Talvez, tantas quantas são as
críticas a essa modalidade. Nossa preocupação, neste momento, não é defender esta ideia,
presente, inclusive, neste curso, mas lembrar que, apesar de ser um aspecto sempre dito, a
metodologia empregada para a aula individual e a metodologia empregada para o ensino coletivo
não são as mesmas. Assim como também não são iguais os objetivos presentes historicamente
na opção de ensino do instrumento individual ou coletivo! Quais seriam então suas diferenças?!

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Políticas públicas e inserção curricular

Sejam quais forem as respostas dadas à pergunta da tela anterior, todas remetem a opções
políticas. A música, incluída na prática escolar com diferentes tendências e enfoques, mesmo
faltando professores especializados, materiais didáticos, propostas metodológicas claras, e em
situações onde impera a substituição de aulas de música por atividades consideradas mais „úteis‟
no currículo escolar, exerce influências decisivas nas relações sociais. Tanto mais em um
momento como o que estamos vivendo.

A promulgação da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) em


dezembro de 1996 deflagrou um movimento nacional referente aos currículos das várias áreas do
conhecimento escolar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) foram publicados em 1997 e
1998 com o intuito de promover uma base para as transformações desejadas para os currículos
de Estados e Municípios. A partir destes dois grandes documentos (LDB e PCNs), Estados e
Municípios brasileiros vêm promovendo a elaboração de suas propostas curriculares.

A nova LDB e os PCN trazem algumas possibilidades de reformulação deste quadro geral do
ensino de artes no país. Com a substituição do termo Educação Artística por Ensino de Artes,
implicando o fim da polivalência e a valorização da transversalidade, vive-se o raiar de um novo
período para a Arte nas escolas.

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Fazer pressuposto versus fazer real

Em pesquisa realizada por Del Ben e Hentschke (2002), foi possível averiguar que as práticas
pedagógico-musicais das professoras observadas configuravam formas que não são aquelas
expressas em suas concepções e ações. No contexto estudado, as professoras pareciam não
perceber os pressupostos implícitos em suas concepções frente a suas próprias ações.

Também não evidenciaram perceber as inconsistências e contradições subjacentes às mesmas


ações, porque, em seu trabalho cotidiano, possuíam um interesse fundamentalmente prático. Seu
principal propósito era ensinar música a determinados grupos em contextos específicos, e não
questionar os princípios que fundamentavam suas práticas pedagógico-musicais.

Esta conclusão nos leva a pensar sobre os fazeres docentes na escola: de um lado, o sentimento
de compromisso com o único propósito de ensinar música, o que leva a um distanciamento de
condições de auto-crítica e avaliação realmente atenta. Por outro, a importância de questionar
princípios e refletir sem que, contudo, um pensar vazio se imponha sobre necessidades
educativas práticas.

Estas duas condições são complementares, e não antagônicas nem mutuamente excludentes,
como uma interpretação leiga pode supor. Se junto aos alunos, cabe ao professor fazer música e
ensinar música musicalmente, no dizer de Swanick; se junto a seus colegas professores, cabe a
este mesmo professor o avaliar-se permanentemente, discutindo seus fazeres e construindo
proposições criativas.

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Interação, Socialização, Educação

O ensino de música em grupos pode englobar tanto a função social quanto educativa, atuando
como mediadora no processo de interação e aprendizagem dos jovens e adolescentes. A música
pode ser considerada como veículo transformador e criador de cultura; neste caso, relacionando-
se com a construção identitária do grupo com o qual se está trabalhando. Segundo Hall (2000), o
termo identidade deriva etimologicamente de “o mesmo”, “o que é igual a si”.

Na questão cultural esta identificação musical se acentua com a interação. Para Durkheim a
educação desempenha função de integração, que pode ser entendida como uma função de
homogeneização através do qual “um certo número de idéias, de sentimentos e práticas são
praticadas indistintamente... que compreende a preparação da criança para sua futura atividade
ocupacional ou profissional” (Durkheim, 1973, p. 15).

Este conteúdo identitário presente na cultura e na música aponta para as possibilidades de


formação musical que mobilizam o poder da cultura, considerando a escola enquanto processo de
construção social; e a música uma opção socializante poderosa para ajudar nesse processo de
construção social do conhecimento na diversidade cultural. Neste sentido, a nossa escola pode
não somente transmitir cultura às gerações mais novas, mas também pode modificar a cultura dos
envolvidos, articulada com o conhecimento e afinada com a ordenação do social.

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Práticas e Identidades

Para Oliveira (2006) a cultura, e a música como parte dela, imprime em nós uma identidade como
pessoas, cidadãos. Não podemos deixar de considerá-la como moldura e mobilização para as
ações educativas. É também um agente transformador. Não há uma definição universalmente
aceita de cultura, mas Merriam (1964) afirma que cultura é “o comportamento aprendido e
acumulado do homem”. Os sistemas social, econômico e político são parte da Cultura. Mas “para
que haja verdadeiramente cultura, não basta ser autor de práticas sociais; é preciso que essas
práticas sociais tenham significado para aquele que as realiza”. (CERTEAU,1995, p. 141).

O respeito e o trabalho com a cultura de um grupo não deve ser confundido com a permissão para
utilizar de forma equivocada um conjunto de conceitos. Por exemplo, se a intenção do grupo com
o qual o professor está trabalhando é compor uma canção cujo estilo é o de valsa, não é possível
aceitar que a métrica seja binária simples. É função do professor explicar os aspectos que
envolvem o tema que está sendo abordado, podendo, inclusive, extrapolar para outros tipos de
músicas, inclusive a dos próprios alunos.

É função do professor também, caso não saiba nada sobre o assunto, consultar os próprios
alunos ou colegas de fora que saibam mais do que ele. Desta forma, o professor poderia usar o
poder mobilizador da cultura para ensinar música, fazendo pontes com uma formação cidadã e
humana. Estas pontes criam e evidenciam significados. O comportamento artístico é um desses
significados universais na experiência humana.

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Avaliação colaborativa

Como você deve ter percebido, a proposta de trabalho de Música Aplicada e Conjuntos Musicais
Escolares é, também, um forma de Educação Musical nos grupos. Sua função, como aluno desta
ID é simultaneamente também a função de um professor. Sua sala de aula é, em alguns
momentos, a plataforma de ensino; em outros, é o polo. Nesta semana, você deve exercer os dois
papéis: o de quem aprende e o de quem ensina.

Vocês viverão uma forma de masterclass que, se não é inédita, é muito inovadora: ao gravar o
vídeo, sua sala de aula foi a sua casa. Você será criticado por um grupo de colegas e irá criticar
um grupo de colegas. Esta crítica será pautada por parecer geral redigido pelos professores
enviado previamente a vocês. Deste parecer geral, deverá sair um parecer individual de cada
vídeo. Esta é masterclass virtual e assíncrona!

Em conjunto com seus colegas de polo, lhe solicitamos aqui uma atividade de avaliação
colaborativa. O processo colaborativo traz consigo o ideal de ação sustentada por compreensão,
abertura, e flexibilidade ao ouvir críticas e elogios. Mas traz também o ideal de ação permeada por
sutileza, delicadeza, educação e respeito ao dizer para o colega o que se pensa que ele precisa
escutar!

A postura frente ao conteúdo elaborado deve ser de despreendimento e generosidade


acompanhadas de zelo e comprometimento, pois ele nunca “pertence” a alguém e, ao mesmo
tempo, é responsabilidade de todos.

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