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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL E ARQUITETURA
GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO I

CENTRO DE SAÚDE MENTAL PARA CIDADE DE TERESINA


O papel ativo da arquitetura no processo de cura

Matheus Carvalho de Andrade

TERESINA – PI
2018
Matheus Carvalho de Andrade

CENTRO DE SAÚDE MENTAL PARA CIDADE DE TERESINA


O papel ativo da arquitetura no processo de cura

Monografia apresentada à Universidade


Federal do Piauí (UFPI), como requisito para
conclusão da disciplina de Trabalho Final de
Graduação I, do curso de Arquitetura e
Urbanismo.
Orientadora: Nícia Bezerra Formiga Leite

TERESINA – PI
2018
LISTA DE SIGLAS

CAPS - CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL


CAPSADI - CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL PARA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES COM PROBLEMAS COM ÁLCOOL OU DROGAS
CAPSI - CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL PARA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
MOPS - MOVIMENTO POPULAR DE SAÚDE MENTAL
MTSM - MOVIMENTO DOS TRABALHADORES EM SAÚDE MENTAL
NAPS - NÚCLEO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE
PNASH - PROGRAMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS
HOSPITALARES
PVC - PROGRAMA DE VOLTA PARA CASA
RAPS - REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
SAD - SEASONAL AFFECTIVE DISORDER
SRTS - SERVIÇOS RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS
SUS - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
UPHG - UNIDADE PSIQUIÁTRICA EM HOSPITAL GERAL
UTI - UNIDADE DE TRATAMENTO INTENSIVO
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Esquema representativo da RAPS ...........................................................17


Figura 2 – Dados referentes aos CAPS do Piauí.......................................................18
Figura 3 – Indicador de Cobertura de CAPS..............................................................18
Figura 4 – Leitos SUS em Hospitais Psiquiátricos por ano....................................... 20
Figura 5 – Planta e corte do modelo Panóptico..........................................................21
Figura 6 – Sistematização da relação Usuário x Ambiente....................................... 24
Figura 7 – Cores e seus efeitos Psicológicos ........................................................... 29
Figura 8 – Localização e marcação do edifício...........................................................38
Figura 9 – Forma externa do edifício..........................................................................39
Figura 10– Materialidade do projeto............................................................................40
Figura 11 – Zoneamento............................................................................................ 41
Figura 12– Fluxos de acesso e circulação..................................................................42
Figura 13 – Localização do projeto............................................................................ 45
Figura 14 – Planta de situação...................... ........................................................... 46
Figura 15 –Planta do pavimento térreo.......................................................................47
Figura 16 – Detalhes da estrutura de madeira............................................................48
Figura 17– Imagens externas mostrando materialidade.............................................48
Figura 18 – Localização e marcação do projeto.........................................................50
Figura 19– Imagem externa e interna..........................................................................51
Figura 20– Relações entre setores............................................................................ 51
Figura 21 – (1) Planta baixa térreo (2) acesso e legenda .......................................... 52
Figura 22 – (1) Planta baixa subsolo (2) acesso e legenda.........................................52
Figura 23 – Localização do projeto e marcação no bairro Mangabeira......................54
Figura 24 – Planta de implantação.............................................................................55
Figura 25 – Planta baixa das unidades habitacionais................................................ 56
Figura 26 – Imagens da guarita e administração ........................................................56
Figura 27 – Imagens das áreas de vivência............................................................... 57
Figura 28 – Marcação do Bairro Santa Maria da Codipi............................................ 58
Figura 29 – Localização do terreno.............................................................................59
Figura 30 – Topografia e vegetação do terreno..........................................................60
Figura 31– Esquema de insolação nas fachadas do terreno..................................... 60
Figura 32 – Mapa de usos e do entorno imediato .......................................................61
Figura 33 – Mapas de vias, fluxos e pontos de ônibus ............................................. 61
Figura 35 – Fluxograma............................................................................................. 69
Figura 36 – Imagem ilustrativa do mobiliário............................................................. 75
Figura 37 – Perspectiva fachada principal................................................................. 76
Figura 36 – Perspectiva lateral e estacionamento...................................................... 76
Figura 38 – Perspectiva praça e Espaço-Noite.......................................................... 76

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Usos e recuos da Zona ZC4 ...................................................................... 62


SUMÁRIO
1-TEMA ....................................................................................................................... 8

2-INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

3-JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 11

4. OBJETIVOS .......................................................................................................... 13

4.1. OBJETIVO GERAL: ........................................................................................ 13

4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: .......................................................................... 13

5. METODOLOGIA.................................................................................................... 14

6-CONTEXTO HISTÓRICO DA LOUCURA .............................................................. 15

7- HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL............................................................ 19

7.1-REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL ......................................................... 21

7.1.1-EVOLUÇÃO SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ. ................................................ 23

7.1.2-REDE DE ATENÇÃO PSICOSOCIAL DO PIAUÍ ...................................... 24

8-ARQUITETURA DA SAÚDE .................................................................................. 30

10 - ESTUDO DE CASOS CORRELATOS ............................................................... 39

10.1 - HOSPITAL PSIQUIÁTRICO KRONTAD ...................................................... 39

10.2 – MORADIAS INFANTIS – FAZENDA CANUANÃ......................................... 46

10.3 - CENTRO DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL DE ALICANTE ................. 51

10.4 - CIDADE MADURA DA PARAÍBA ................................................................ 55

11 – LEVANTAMENTO DO TERRENO ESCOLHIDO .............................................. 60

11.1 - DEFINIÇÃO DO TERRENO......................................................................... 60

11.2 – ANÁLISE DO TERRENO ............................................................................ 61

12 - CONCEITUAÇÃO E DIRETRIZES DA PROPOSTA .......................................... 65

12.1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................ 65

12.2 – CONCEITO E PARTIDO ............................................................................. 65


12.3– IMPLANTAÇÃO ........................................................................................... 65

12.4 – PROGRAMA DE NECESSIDADES ............................................................ 66

12.6 – CIRCULAÇÃO E FLUXOS .......................................................................... 68

12.7 – SOLUÇÃO PLÁSTICA --- VOLUMETRIA E MATERIALIDADE .................. 68

12.8- ATIVIDADES................................................................................................. 69

12.9-FLUXOGRAMA .............................................................................................. 70

13.1 -TECNICAS CONSTRUTIVAS ....................................................................... 71

13.1.1FECHAMENTOS ...................................................................................... 71

13 .1.2 REVESTIMENTOS – PAREDES............................................................ 72

13 .1.3 - PISO .................................................................................................... 72

13.1.4 - SOLEIRAS ............................................................................................ 73

13.1.5 - RODAPÉS ............................................................................................ 73

13.1.6 FORROS ................................................................................................. 73

13.1.7 - ESQUADRIAS:...................................................................................... 74

13.1.8 - HORTA ................................................................................................. 75

13 .1.9 – TRILHA SENSORIAL .......................................................................... 75

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 77

REFERÊNCIAS DE IMAGENS ................................................................................. 81


8

1-TEMA
O tema a ser desenvolvido será referente à arquitetura institucional, com a
proposta de um centro de saúde mental, baseando-se em estudos psicológicos,
psiquiátricos contemporâneos fazendo comparação com a evolução dos espaços
destinados aos pacientes mentais, visando projetar um espaço com funções
terapêuticas e socais, que proporcione uma estadia de qualidade, apoio também às
famílias e a comunidade e sirva de auxílio na reinserção do indivíduo na sociedade,
utilizando conceitos de psicologia ambiental, relação com a natureza , luz e cores.
9

2-INTRODUÇÃO
As preocupações referentes a saúde mental são intrínsecas a história humana,
a loucura sempre representou uma área de pouco conhecimento e muita aversão
durante toda a história. As intervenções no campo da saúde mental possuíram
diversas metodologias e direcionamentos, a figura do louco era sinônimo de exclusão
e repudio, hoje as formas de tratamento e cuidados relacionados a psiquiatria buscam
quebrar com este passado negativo, e estabelecer um lugar na sociedade para as
pessoas com distúrbios mentais.
Nas últimas décadas o Brasil vem sendo palco da mudança do modelo de
tratamento utilizado por tanto tempo, baseado em hospitais psiquiátricos para um
modelo baseado na atenção psicossocial e terapias de tratamento. Essas mudanças
foram graças à luta antimanicomial que teve início nos anos 70-80 que resultou na Lei
Paulo Delgado ,10.216 de 2001, garantindo os direitos dos pacientes com transtornos
mentais, dando início a reforma psiquiátrica no Brasil, que almejava a melhoria nas
condições de tratamento e da metodologia vigente até então. (SANTOS,2004)
Busca-se com esse trabalho, propor um espaço arquitetônico, um centro de
saúde mental para a cidade de Teresina-Piauí, que proporcione qualidade de vida e
uma reinserção dos pacientes na sociedade. A ideia do centro veio para solucionar
um dos maiores problemas da atenção psiquiátrica atualmente no país, que é o
problema da moradia. Moradia esta que atende tanto a pacientes que passaram muito
tempo em instituições psiquiátricas e perderam vínculos familiares e sociais. Outro
grupo atendido são pessoas com distúrbios psiquiátricos em que a família busca
atenção especial e entender melhor como lidar com as pessoas com estes
transtornos. Por este motivo, a instituição, além dos espaços de moradia, apresentara
funções de amparo social para os pacientes e familiares e pessoas relacionadas a
estes.
Este trabalho é dividido em três partes principais. A primeira busca fazer um
apanhado histórico da loucura e dos espaços físicos relacionados à saúde mental
desde o início da história, buscando embasamento dos tratamentos e dos espaços
utilizados antigamente, buscando pontos positivos e evitando erros passados. A
segunda parte foca na reforma psiquiátrica ocorrida e ainda em andamento no Brasil,
visando entender e aplicar os novos parâmetros de atenção psicossocial. Um dos
objetivos desta análise é entender como o centro a ser proposto se encaixará e
funcionará dentro da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), e quais as funções que
10

esta nova instituição exercerá no contexto atual da saúde mental em Teresina e no


Piauí, já que as questões de saúde mental estão concentradas na capital do estado.
A terceira parte analisa os conceitos de psicologia ambiental, para entender e aplicar
no projeto, a importância da relação com a natureza e entender como funciona os
estímulos proporcionados pelo ambiente construído nos pacientes. Nesta parte ainda
se explora a relação da luz e das cores nos ambientes, visando proporcionar apenas
estímulos que sejam positivos ao tratamento, e minimizar ou extinguir os elementos
que possam impactar negativamente os pacientes.
Todos estes estudos destinam-se a embasar o projeto, para projetar-se o espaço mais
adequado para a moradia e desenvolvimento das atividades relacionadas ao
tratamento, bem como espaços abertos a sociedade e familiares buscarem mais
informações sobre os distúrbios mentais e as formas de tratamento, visando a melhor
transição do ambiente de cuidado para a volta ao convívio social.
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3-JUSTIFICATIVA
Este trabalho está direcionado para a área da saúde mental, com enfoque no
papel ativo da arquitetura no processo de cura e melhoria de vida dos pacientes com
transtornos psicológicos. Segundo os últimos relatórios da Organização Mundial de
Saúde (OMS) (BRASIL,2015), o número de pessoas com transtornos mentais e
comportamentais passa de 450 milhões em todo o mundo. A questão da saúde mental
é assunto em pauta desde o começo da história da humanidade, e mesmo sendo algo
que é intrínseco da condição humana, os transtornos mentais são tratados, ainda,
com preconceito e descaso, seja por parte da própria sociedade, ou por parte dos
gestores. Fato visível analisando-se os dados do Sistema Único de Saúde (SUS), em
que apenas 2,3% do orçamento anual é referente a saúde mental. A relação entre
arquitetura e saúde vem desde que houve a necessidade de assistência ao ser
humano, sendo o espaço construído utilizado de forma filantrópica e de caridade
(FONTES, 2003), e essa assistencialidade partiu inicialmente de instituições
religiosas, utilizando o espaço para abrigar não só os doentes, mas todos aqueles
necessitados.
O centro de saúde mental surge como um componente na Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS) ,que acumulasse funções de outros componentes da rede, como
os Centros de Apoio Psicossocial (CAPS), das unidades de acolhimento, urgência e
emergência, e as residências parte do Serviço Residencial Terapêutico (SRT)
(BRASIL, 2013), visando concentrar em um espaço toda infraestrutura e assistência
necessária para o atendimento de forma integral, com a combinação de ambiente de
moradia com os cuidados técnicos de um ambiente de saúde, como parte do processo
de desinstitucionalização.
Ao longo da história os cuidados oferecidos a pacientes com transtornos
mentais foram sinônimos de internação em hospitais psiquiátricos, diretamente ligado
a ideia de prisão, reclusão, retirada do convívio em sociedade. Panorama que foi
alterado devido a lei 10.216/2001, que ampara as diretrizes referente a reforma
psiquiátrica no Brasil. A lei de 2001 no Brasil foi fruto de uma longa luta por parte dos
profissionais e pacientes da área da saúde mental, em um movimento antimanicomial,
que viesse a quebrar o antigo regime de tratamento psiquiátrico vigente no brasil,
focado nos hospitais e na exclusão dos pacientes da sociedade (FONTES ,2003).
Busca-se aqui, atestar o papel ativo e positivo da arquitetura no tratamento
psiquiátrico, o espaço arquitetônico possui a função não só de abrigar, mas de
12

fomentar estímulos positivos no paciente (SILVA,2008). No livro Holocausto brasileiro,


a autora Daniela Arbex, enumera os horrores vividos pelos pacientes do Hospital
Colônia de Barbacena, enfatizando o caráter prisional e de clausura, e o impacto
negativo que o espaço possuía, somado com o medíocre tratamento oferecido no
hospital, explicitando o papel do espaço construído na saúde mental.
O panorama da saúde mental no Piauí mantinha o padrão nacional pré-reforma
psiquiátrica, seguia o modelo hospitalocêntrico seja ele público, no caso do Hospital
Areolino de Abreu, ou privado no caso do Sanatório Meduna. Porém o Piauí se difere
do resto do país pela tardia entrada no SUS que só ocorreu em 2003, esse atraso em
grande parte se deu devido a rejeição dos novos parâmetros por parte dos gestores
do estado. (ROSA et al, 2011).Segundo o Ministério da Saúde(2015), o Piauí possui
atualmente um satisfatório atendimento em relação a CAPS, com um total de 54
habilitados em todo o estado, porém ainda carece de maior cobertura de SRTs, pois
o estado apresenta apenas 5 atualmente, e de maior participação de programas de
reinserção de pacientes, principalmente os que tiveram longa permanência em
instituições psiquiátricas, uma dessas iniciativas é o Programa de Volta para Casa
(PVC) , que conta com 19 beneficiários no Estado do Piauí.
O foco deste trabalho é propor um espaço que atenda da melhor forma aos
usuários, baseando-se nos estudos de reforma psiquiátrica, e nas diretrizes da luta
antimanicomial, promovendo a arquitetura como parte fundamental do processo que
rege o tratamento da saúde mental. O impacto positivo desse tipo espaço esse será
visível visto que a gestão da saúde mental no estado se encontra de modo precário
em termos de estrutura física e organizacional. O centro contaria com características
de centros de apoio, de hospitais, e de residências terapêuticas, explicitando o caráter
de incentivo a convivência e o tratamento focado nas necessidades humanas. A
arquitetura voltada para os pacientes, aliadas aos novos parâmetros de assistência,
podem criar um espaço construído que interfere positivamente na vida e evolução do
tratamento dos pacientes.
13

4. OBJETIVOS
4.1. OBJETIVO GERAL:
Projetar um centro de saúde mental para a cidade de Teresina, com foco em
moradias de longa estadia e acompanhamento terapêutico e médico.

4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:


. Compreender a evolução dos espaços destinados ao tratamento da saúde
mental, compreendendo as técnicas e metodologias utilizadas ao longo do tempo.
. Explorar a importância do espaço construído nos ambientes de saúde,
reforçando o efeito positivo que a arquitetura pode possuir no processo de cura.
. Fundamentar o futuro projeto de um espaço arquitetônico que possua caráter
familiar aos pacientes, com foco no conforto (físico e mental) e na privacidade e
autonomia dos pacientes.
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5. METODOLOGIA
A metodologia a ser empregada para o desenvolvimento da pesquisa proposta
para o centro de saúde mental para a cidade de Teresina-PI
– PESQUISA BIBLIOGRÁFICA:
Leituras e fichamentos de materiais referentes ao tema, livros, monografias, teses,
documentos, legislações e artigos para embasamento do referencial teórico em
relação aos espaços arquitetônicos relacionados ao tema, além da relação entre
psicologia e arquitetura e como os espaços podem influir positivamente no processo
de cura.
Análise da estrutura do sistema público de saúde mental, e como o projeto pode ter
um impacto social além dos pacientes.
Entrevistas e conversas com funcionários, pacientes de instituições psiquiátricas,
profissionais da área, visando criar uma ideia geral sobre o tema, utilizando de dados
informais comparando com os dados obtidos.
-ANÁLISE PROJETUAL
Buscar em projetos similares às diferentes funções que o centro abrigará, visando
melhor projetar o espaço analisando as diferentes decisões e possibilidades
projetuais.
15

6-CONTEXTO HISTÓRICO DA LOUCURA


A história e a problemática da saúde mental segue a história da humanidade,
estando presente e evoluindo com esta. O livro A História da Loucura Na Idade
Clássica, de Michel Foucault é um bom ponto de partida para analisar esta questão.
Nesta obra o autor enumera a situação do louco nos diversos períodos e como se
encaixavam nas sociedades e quais métodos eram utilizados para se lidar com estas
pessoas. Os primeiros relatos são encontrados na cultura da Grécia antiga eram
opostos ao que vemos atualmente, pois a pessoa com insanidade mental era
valorizada e tratada com muito respeito e atenção pois se acreditava que as palavras
proferidas por estas pessoas eram transmissão de ensinamentos divinos e estes eram
os escolhidos para repassa-las.
Porém a relação Grega com os que sofriam de insanidade mental eram uma
exceção, pois nas civilizações e épocas seguintes, os doentes eram discriminados e
rejeitados da sociedade. Na idade média, os portadores de doenças mentais eram
isolados e jogados em espaços que abrigavam os portadores de lepra logo após a
diminuição da doença, eram removidos da sociedade junto com outros grupos como
bruxas e mendigo. Outro acontecimento recorrente era transportar os doentes mentais
em barcos de uma área a outra somente para tirá-los do convívio em sociedade,
reforçando o preconceito e segregação. (FOUCAULT,1999)
Somente durante o período do Renascimento que houve o início de um
tratamento mais racional à loucura, os próprios doentes passaram a tentar conhecer
melhor sua própria enfermidade; apesar dessa pequena evolução, os distúrbios
mentais ainda era vista como sinônimo de perigo e violência, visto que nessa época a
visão sobre a loucura ainda não era patológica e sim um problema de alma, e espirito
sendo assim não devidamente tratada como questão de saúde, deixando sob os
cuidados da igreja e organizações filantrópicas (BERTOLETTI,2011)
Com a evolução dos meios de produção e que a sociedade foi se tornando cada
vez mais centrada no comércio, os estigmas sobre os doentes mentais só
aumentaram, visto que agora caia sobre eles o peso de não participar do processo
econômico e não ser produtivo para a sociedade. Como dito por Machado
(...) na época clássica, as instituições que recebiam loucos, os critérios de
internação, a designação de alguém como louco e sua conseqüente exclusão
da sociedade não dependem de uma ciência médica, mas de uma
'percepção' do indivíduo como ser social; (...) a partir de critérios que dizem
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respeito não à medicina, mas à transgressão às leis da razão e da


moralidade. (MACHADO 1988, p. 63)

Foucault (1999) destaca o período chamado de “medicalização’’ no sec. XVIII,


representou o surgimento de vários locais e instituições voltadas especificamente para
a reclusão e aprisionamento dos doentes mentais, anteriormente os espaços
destinados ao tratamento desses pacientes eram alas nos hospitais gerais, porém
novamente remetendo ao surto de lepra do passado, o tratamento aos loucos herdou
os antigos leprosários abandonados com a diminuição do número de casos de
hanseníase. Nesse período houve o surgimento da instituição voltada a atuar no
parâmetro da saúde mental – o manicômio. Instituição esta, que presava por
disciplinar (por muitas vezes em forma de punição, seja esta física ou psicológica) e
vigiar do que propriamente focar no tratamento. Os manicômios tinham como função
proteger a sociedade contra o possível mal comportamento dos doentes e como
descreve Amarante (1995), o método de garantir isso era o isolamento sem a
preocupação com reabilitação.
Os manicômios eram sinônimos de despreparo, mal tratos, onde a forma
utilizada para manter os pacientes sob controle era acorrenta-los (FOUCAULT, 1985),
autoritarismo, sem qualquer ligação com a função primária que seria de dar
assistência e tratamento aos pacientes com transtornos mentais. Porém o cenário
começou a mudar no período da Revolução Francesa, sob os ideais iluministas, onde
começou um movimento de restruturação e reforma psiquiátrica. Destaca-se nesse
período a figura de Phillippe Pienel, médico considerado o pai da psiquiatria e defendia
o fim do isolamento e exclusão e a aplicação de tratamentos terapêuticos para os
pacientes com transtornos mentais. Encabeçados por Pinel, nesse período o
movimento considerado por Amarante (1996), como uma reforma do modelo
manicomial que presava pela punição e pelo uso da força, visando construir um
modelo de espaço com caráter médico e fundamentado em conceitos humanísticos.
Pinel estabeleceu nas instituições, onde trabalhou, o que ele denominou de
‘’tratamento moral’’, que implantaram nos cuidados aos pacientes novas técnicas e
uma melhoria na qualidade do tratamento, o que possibilitou inclusive novos estudos
científicos sobre os transtornos mentais ( o que em alguns casos foi algo negativo pois
alguns médicos abusavam mentalmente de pacientes os utilizando em pesquisas
antiéticas que prejudicavam a integridade física e mental dos doentes, acabando por
17

retroceder no tratamento e na busca pela cura. (AMARANTE, 2009 apud


BERTOLETTi , 2011)
Os conceitos implantados por Pinel, influenciaram não só no âmbito no
tratamento, mas também os espaços físicos destinados a saúde mental, como
descrito por Isaias Pessoti (1996) no seu livro O século dos manicômios, onde
analisava os escritos de Esquirol em 1838, que era discipulo de Pinel, na obra Des
Maladies Mentales (As Doenças Mentais), enumerava parâmetros a serem seguidos
no projeto de espaços destinados a saúde mental, detalhes como conforto térmico e
visual, dimensionamento de espaços, disposição de esquadrias, tudo isso reforçando
a importância da arquitetura e do espaço físico que abriga os cuidados da saúde
mental, no processo de cura.
O que pode ser analisado na obra de Pessoti, para Esquirol :

O manicômio ideal devia ser um conjunto de edificações no plano térreo,


separadas umas das outras. O conjunto dos edifícios incluía construções
especiais para banhos, “parelhos de vapo, oficinas, enfermarias, cada um
separado dos demais. (PESSOTI, 1996, p.169)

Um ponto marcante para a mudança de paradigma em relação a assistência


aos doentes mentais, foi o período pós Segunda Guerra, já que foi inevitável a
comparação entre os asilos destinados aos pacientes com transtornos mentais, com
os campos de concentração nazista, essa aversão pós todo horror vivido durante o
período de Guerra, forçou uma reforma nos espaços e nas metodologias de
tratamentos utilizados até aquela época.
Segundo a análise de Amarante (1995), o processo que visava a reforma
psiquiátrica pode ser dividido em 3 momentos cruciais que fundamentaram a busca
pela mudança no paradigma do tratamento psiquiátrico: o primeiro é o surgimento das
comunidades terapêuticas, que ocorreu um ano após o fim da Segunda Guerra
Mundial,1946. Nesse modelo de tratamento os pacientes eram distribuídos em grupos
onde o foco era interação e mantê-los em atividades e tarefas buscando desenvolver
as capacidades e aumentar a sensação de independência. As comunidades
terapêuticas seguiam o conceito recém proposto de psicoterapia institucional, que
consistia em uma fusão dos conceitos de psiquiatria e psicanalise, através do
potencial de cura da realização de atividades terapêuticas.
18

O segundo momento foi focado no conceito denominado de psiquiatria de setor


que consistia na delimitação de um espaço físico com a limitação de habitantes
(máximo de 70 mil habitantes) para cada unidade destinada aos momentos antes
durante e depois da internação, mantendo assim um controle melhor sobre os
cuidados. (AMARANTE, 1995). Esse segundo momento ainda teve como
característica a psiquiatria preventiva, que como o próprio nome já diz buscava a
atenuação do número de casos de doenças mentais, utilizando como instrumento a
profilaxia.
O terceiro período destacado por Amarante (1995) tem como grande expoente
outro nome que foi imprescindível para a luta a favor de uma reforma no sistema da
época, foi o psiquiatra italiano Franco Basaglia, novamente batendo na tecla da defesa
dos direitos e da cidadania dos pacientes. Este período foi marcado pelo surgimento
da Antipsiquiatria, movimento, surgido na Inglaterra, que buscava o total rompimento
com as metodologias e conceitos que estavam instaurados na psiquiatria praticada
até aquele momento, juntamente com o conceito de desinstitucionalização, que
representava uma mudança total na metodologia da época, e expandia o tratamento
para fora dos muros das instituições psiquiátricas.
Esse novo pensamento e novos conceitos inspiraram a luta para a reforma no
modelo psiquiátrico em vários países inclusive no Brasil.
19

7- HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL


A relação do Brasil com os cuidados psiquiátricos tem início ainda no período
imperial, no final do século XIX. Esses cuidados estavam divididos segundo a divisão
clara da sociedade brasileira da época, de um lado a minoria abastada compostas
pelos grandes proprietários de terra e do outro lado a imensa maioria da população,
pobre e escrava. Aqueles que precisavam de cuidados psiquiátricos pertencentes as
minorias privilegiadas eram tratadas pela própria família, já a maioria desamparada
eram reclusos em asilos, em sua maioria mantidos pela igreja, sem qualquer
tratamento. (SILVA, 2008).
Devido à pressão popular e dos profissionais e intelectuais da época sobre o
tratamento dado aos doentes, foi inaugurado em 1852 a primeira instituição especifica
para o cuidado da saúde mental no Brasil, o Hospital Pedro II, no rio de janeiro. Porém
ainda sem metodologias psiquiátricas e médicas, sendo administrado ainda pela
igreja. Segundo Santos (1994) as primeiras instituições que foram implantadas no
brasil, na realidade eram uma falsa ideia tratamento, pois os locais representavam
apenas espaços de reclusão, prisões mascaradas de hospitais.
O cenário só sofreu mudança significativa 32 anos depois quando em 1884
foram incluídos na grade das faculdades de medicina, disciplinas relacionadas a
psiquiatria, tratando as doenças mentais de forma isolada das outras doenças,
levando em consideração suas especificidades. (SILVA, 2008). Junto com a
proclamação da república em 1889, a administração do Hospital Pedro II, passou a
ser do estado e assim houve a inserção de médicos nessas instituições.
Mesmo com a presença de profissionais especializados no tratamento de
doentes mentais, as instruções ainda tinham o forte caráter de isolamento, e exclusão,
e junto com o processo de higienização em 1903, que visava melhorar a questão da
salubridade das cidades, na tentativa de diminuir surtos de doenças como febre
amarela e cólera, as instituições serviam como ‘’depósito’’ de todos aqueles que eram
indesejados e não se encaixavam nos parâmetros da sociedade, e que eram
considerados facilitadores da proliferação dessas doenças. O que era facilitado pelo
fato das instituições serem localizadas em terrenos afastados, então o estado
transferia as pessoas das ruas para estas instituições, e assim evitava gastos com
essas pessoas, deixando sob responsabilidades das instituições. (SANTOS, 1994).
Esse isolamento das instituições marcaram o início do século XX, com a
implementação dos hospitais seguindo o formato de colônias agrícolas, que o
20

psiquiatra francês Jean Pirre Falret, que era discípulo intelectual de Pinel, chamava
de filiais dos manicômios. Essas colônias se localizavam por todo o pais, com a
intenção de usar o trabalho agrícola como parte do processo de reinserção dos
pacientes na sociedade, mas que na realidade utilizava essa terra como meio de
trabalho (SILVA, 2008). Uma das instituições mais conhecidas dessa época foi o
Hospital Colônia de Barbacena em Minas Gerais, inaugurada em 1903, e que ao todo
na sua história morreram por volta de 60 mil pacientes, que recebeu o nome de O
holocausto brasileiro. Nomenclatura esta, que batizou o livro de Daniela Arbex ,
onde conta com detalhes todas as histórias por trás desta instituição. Arbex (2013)
narra que o Hospital tinha capacidade para 200 pacientes e em dado momento chegou
a possuir 5000 residentes, deste número, pelo menos 33 eram crianças. Os pacientes
eram enviados de diversas partes do país no que ficou conhecido como “ trem de
doido” (expressão criada pelo escritor Guimarães Rosa, que no vocabulário mineiro
representava algo positivo, porem nesse contexto, nas palavras de Arbex (2013)
“marcava o início de uma viagem sem volta ao inferno. ”
Segundo Arbex (2013) cerca de 70% dos pacientes não tinham diagnostico de
transtorno mental, apenas eram colocados lá pois eram indesejados pela família,
homossexuais, alcoólatras, prostitutas. As vezes apenas pessoa que perderam seus
documentos. Por muitas vezes tinham que se alimentar de ratos e insetos, até mesmo
dos seus próprios dejetos; os que não morriam devido ao mal tratos, morriam de fome,
frio ou das inúmeras doenças presentes ali no local, já que saneamento básico ali era
inexistente. Os vivos davam lucro aos administradores por meio do seu trabalho não
remunerado, e os mortos também, estes abasteciam as faculdades de medicina do
país, com seus corpos e órgãos.
A primeira repercussão nacional se deu em 1961, com a denúncia dos
repórteres Luiz Alfredo e José Franco, que expôs a realidade no Hospital Colônia de
Barbacena, na conhecida revista semanal O Cruzeiro. Mesmo com a repercussão
nacional da matéria, somente em 1979, com a visita do supracitado psiquiatra Franco
Basaglia, que após visitar o hospital mineiro, fez uma denúncia de tudo que viu para
a imprensa, o caso repercutiu em todo o pais e no mundo, o fato foi marcante para a
luta antimanicomial e para o início da busca conjunta de profissionais familiares e
pacientes pela Reforma Psiquiátrica no país. (ARBEX, 2013)
21

7.1-REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL


O movimento a favor da reforma psiquiátrica no brasil se deu início no final dos
anos 70, inseridas num contexto mundial de mudança de paradigmas em relação a
saúde mental. O modelo hospitalocêntrico e o caráter asilar do tratamento implantado
até ali estavam em crise, e com a pressão de movimentos sociais que defendiam a
manutenção dos direitos dos pacientes, o país iniciou o processo de mudanças no
contexto da época. Amarante (1995) destaca o surgimento de um movimento
primordial para a formulação de leis e propostas de reforma psiquiátrica em 1978, que
foi o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM). Esse foi apenas o
primeiro grupo que surgiu, essa união de profissionais, pacientes e familiares
formavam o movimento chamado de Antimanicomial, que lutava não apenas pela
reformas mas tudo que estava envolvido por trás como a chamada ‘’indústria da
loucura’’, termo utilizado quando houve o aumento significativo do número dos leitos
psiquiátricos, onde os pacientes sofriam agravamento do seu quadro médico visando
o lucro tanto das próprias industrias privadas que se beneficiavam com a permanência
dos doentes, quanto o lucro da indústria farmacêutica( BERTOLETTI, 2011).
No final da década de 80, devem ser destacados dois grandes marcos para a
estrutura da saúde mental no país: a implementação do primeiro CAPS e a reforma
da Casa de Saúde Anchieta, já que esta instituição em 1989 foi alvo de muitas
denúncias de maus tratos, superlotação e mais condições de infraestrutura. As
barbáries vistas nesta instituição serviram de fomento para as propostas de
substituição do modelo hospitalocêntrico. (AMARANTE, 1995)
Ainda no ano de 1989 o processo da reforma iniciou-se de maneira formal e
legal com a aprovação da Lei 3.657, elaborada pelo deputado Paulo Delgado, que
tinha como proposta a da extinção dos hospitais psiquiátricos no brasil de forma
gradual, vale ressaltar que essa lei abrangia somente os hospitais públicos e não
regulamentava sobre os hospitais estritamente de origem privadas que não prestavam
serviço ao estado. (AMARANTE, 1995).
Esta lei foi reforçada no ano seguinte pela Conferência Regional para a
Reestruturação da Atenção Psiquiátrica na América Latina , onde o brasil assinou a
“Declaração de Caracas”, adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
declaração esta que fundamentava e estruturava , técnicas e metodologias nos
cuidados e nas internações dos doentes mentais, ratificando a necessidade de uma
total desinstitucionalização das redes de saúde mental na américa .O maior marco e
22

o fruto da luta manicomial, que no ano 2017 completou 30 anos foi a lei federal
10.2016 de 2001, que foi a reformulação da lei original de 89 do deputado Paulo
Delgado.
[...] a Lei Federal 10.216 redireciona a assistência em saúde mental,
privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária,
dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais,
mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos
manicômios. Ainda assim, a promulgação da lei 10.216 impõe novo impulso
e novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil.
(BRASIL,2005, p.8) I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde,
consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e
respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar
sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III -
ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV – ter garantia
de sigilo nas informações prestadas; V – ter direito à presença médica, em
qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização
involuntária; VI – ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII
– receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu
tratamento; VIII – ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos
invasivos possíveis; IX – ser tratada, preferencialmente, em serviços
comunitários de saúde mental. (BRASIL, 2001)

O contexto pós lei 10.216, é marcado pelo Ministério Da Saúde criando


programas e prospectando novos investimentos, para os novos serviços extra
hospitalares e um uma administração que visasse diminuir do número de leitos
hospitalares psiquiátricos. Cria-se o programa chamado “De volta para casa”,
regulamentado pela Lei 10.708 do ano de 2003, onde se incentiva o retorno aos lares
de pacientes egressos de internações (pacientes com longa estadia, que eram
considerados moradores das instituições) através do pagamento de um auxílio
financeiro, chamado de auxílio-reabilitação psicossocial, tendo como principal objetivo
a desinstitucionalização (BRASIL,2005).

Os investimentos para serviços extra hospitalar, fomentou a formação da Rede


de Atenção Psicossocial (RAPS), que representa a estrutura da saúde mental
presente até os dias de hoje. Esta rede é dividida em três instituições primordiais:
23

1. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): que são unidades básicas de


saúde, que focam nas atividades terapêuticas e na interação dos pacientes
com os outros e com a sociedade, proporcionando cuidados médicos e sociais,
visando a reintegração dos pacientes na sociedade
2. Os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs): são moradias de longa
permanência, quando há necessidade de o paciente receber maiores cuidados,
principalmente quando existe a falta do suporte no meio familiar, as residências
devem estar sempre relacionadas aos CAPS. As residências terapêuticas
representam importante papel no processo de desinstitucionalização pois
representa um meio mais humanístico de lidar com pacientes que devem
permanecer por maior tempo sob cuidados. (BRASIL,2005)
3. As Unidades Psiquiátricas Em Hospitais Gerais (UPHG): quando existe a
necessidade de internações para casos mais graves ou delicados, ao invés dos
pacientes serem internados em instituições psiquiátricas eles são colocados
em unidades especificas nos hospitais gerais.
7.1.1-EVOLUÇÃO SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ.
Seguindo o contexto nacional, a saúde mental no estado do Piauí estava focada
no modelo hospitalocêntrico durante muito tempo, representados pelas instituições:
Hospital Psiquiátrico Areolino de Abreu e o Sanatório Meduna que tinha convênio com
o Sistema Único De Saúde .A história da saúde mental piauiense é marcado por atraso
e relutância em seguir os paramentos nacionais, o estado por muito tempo, mesmo
com o resto do pais focando na importância de uma reforma do tratamento
psiquiátrico, os hospitais do estado por muito tempo continuaram fortalecidos.
Os ideais de reforma psiquiátrica foram transmitidos do âmbito nacional para o
estado através da criação da associação Psiquiátrica do Piauí, em 1975. Associação
esta que iniciou os debates e a intenção de mudar o parâmetro dos cuidados dados a
saúde mental no estado, usando de exemplo outras regiões do pais. (ROSA et al,
2008).
Em 1986, a união de profissionais de medicina alternativa junto com a igreja
católica, houve o surgimento do Movimento Popular De Saúde Mental (MOPS), que
foi a luta popular parar pressionar mudanças e reformulação no sistema de gestão da
saúde mental, já que o poder público e administrações das instituições se
posicionavam contra o que acontecia no restante do pais. A falta de interesse em
implementar mudanças fez com que fosse necessário o Ministérios da Saúde
24

pressionar o estado para a diminuição dos números de leitos e pela implementação


dos serviços de atenção psicossocial.
Em 1997, houve a primeira quebra do sistema presente no estado, que focava
todos os seus recursos na capital Teresina, com a abertura de hospitais-dia (que são
é uma metodologia de assistência intermediaria entre a assistência ambulatorial
básica e as internações e períodos longos de permanência não superior a 12 horas
(MINISTÉRIO DA SAÚDE) em picos e Parnaíba fruto da pressão imposta pelo MOPS.
Todos esses momentos resultaram finalmente no reconhecimento da importância da
luta manicomial, e do debate sobre a reforma psiquiátrica, que só foi ganhar força no
estado a partir dos anos 2000. (ROSA, 2005).

A reforma psiquiátrica no estado do Piauí, é analisada por Macedo e


Dimenstein (2012) segundo dois momentos: o primeiro antes de 2001 que é
compreendido desde 1940 até a aprovação da lei 10.216 onde o foco do estado era
em fortalecer os dois hospitais principais da cidade de Teresina e manter foco quase
exclusivo na capital, contando com apenas cuidados básicos no interior do estado. O
outro momento analisado é o logo após 2001, onde o principal marco foi a ação do
Ministério Público Estadual em 2004, visando facilitar a reforma psiquiátrica, onde pela
primeira vez se houve demonstrações da implantação de um Rede de Atenção
Psicossocial no estado, seguindo as normas da Reforma Psiquiatria Brasileira vigente
7.1.2-REDE DE ATENÇÃO PSICOSOCIAL DO PIAUÍ
São objetivos gerais da Rede de Atenção Psicossocial: ampliar o acesso à
atenção psicossocial da população em geral; promover o acesso das pessoas
com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de crack,
álcool e outras drogas e suas famílias aos pontos de atenção; e garantir a
articulação e integração dos pontos de atenção das redes de saúde no
território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento, do
acompanhamento contínuo e da atenção às urgências. São objetivos
específicos da Rede de Atenção Psicossocial: promover cuidados em saúde
especialmente para grupos mais vulneráveis (criança, adolescente, jovens,
pessoas em situação de rua e populações indígenas); prevenir o consumo e
a dependência de crack, álcool e outras drogas; reduzir danos provocados
pelo consumo de crack, álcool e outras drogas; promover a reabilitação e a
reinserção das pessoas com transtorno mental e com necessidades
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas na sociedade, por meio
do acesso ao trabalho, renda e moradia solidária; promover mecanismos de
25

formação permanente aos profissionais de saúde; desenvolver ações


intersetoriais de prevenção e redução de danos, em parceria com
organizações governamentais e da sociedade civil; produzir e ofertar
informações sobre direitos das pessoas, medidas de prevenção e cuidado e
os serviços disponíveis na rede; regular e organizar as demandas e os fluxos
assistenciais da Rede de Atenção Psicossocial; e monitorar e avaliar a
qualidade dos serviços por meio de indicadores de efetividade e
resolutividade da atenção (BRASIL, 2011b).

Os dados estatísticos referentes a Rede de Atenção Psicossocial do Brasil e a


saúde mental em geral, foram retirados da 12ª Edição da Saúde Mental em dados,
publicada pelo Ministério da Saúde em outubro de 2015, juntamente com dados
referente a apresentação Panorama e Diagnóstico da Política Nacional de Saúde
Mental de Agosto de 2017.
Antes analisar os dados referentes a RAPS no Piauí, é necessário explicar a
atual estrutura da rede, e todos os seus componentes. A figura abaixo ilustra a
distribuição dos serviços da RAPS.
Figura 1 - Esquema representativo da RAPS

Fonte: BRASIL, 2017


26

O próximo passo para melhor entendimento é conhecer de forma aprofundada


cada um dos componentes da rede
CAPS: Como explicitado anteriormente nesta obra, os CAPS, são instituições
voltadas ao acolhimento de pessoas com transtornos mentais, com o foco no
tratamento interdisciplinar, visando a total reinserção dos pacientes na sociedade. O
Ministério da Saúde classifica os CAPS, de acordo com suas especificidades visando
a melhor assistência possível, essas modalidades são as seguintes:
 CAPS I: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e
persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou
regiões com pelo menos 15 mil habitantes.
 CAPS II: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves
e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou
regiões com pelo menos 70 mil habitantes.
 CAPS I: Atendimento a crianças e adolescentes, para transtornos mentais graves
e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e
ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes.
 CAPS ad Álcool e Drogas: Atendimento a todas faixas etárias, especializado em
transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, atende cidades e ou regiões com
pelo menos 70 mil habitantes.
 CAPS III: Atendimento com até 5 vagas de acolhimento noturno e observação;
todas faixas etárias; transtornos mentais graves e persistentes inclusive pelo uso
de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil
habitantes.
 CAPS ad III Álcool e Drogas: Atendimento e 8 a 12 vagas de acolhimento noturno
e observação; funcionamento 24h; todas faixas etárias; transtornos pelo uso de
álcool e outras drogas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil
habitantes. (BRASIL,2015)

Figura 2 - Dados referentes aos CAPS do Piauí

FONTE: BRASIL,2015
27

Para analisar se a quantidade de CAPS é suficiente para a região analisada, o


ministério da saúde estabeleceu o – Indicador de Cobertura de CAPS/100 mil
habitantes por ano e UF. Em relação ao Piauí os números foram os seguintes:
Figura 3 - Indicador de Cobertura de CAPS/100 mil habitantes por ano e UF

FONTE: BRASIL,2015

Os seguintes números analisados pelos


parâmetros ao lado, demonstram a evolução e os
numeros positivos em relação a cobertura dos
CAPS,no estado do Piauí.
Outro componente da rede, são as Unidades de Acolhimento, que são locais
com caráter residencial que devem funcionar 24 horas, oferecendo total suporte aos
CAPS, sendo subordinados a estes em todas as decisões. Estas unidades oferecem
suporte a pessoas com problemas relacionados a drogas, e/ou forte vulnerabilidade
social, o caráter do tratamento é transitório, com tempo máximo de permanência de 6
meses. As unidades são divididas em: UAA (adultos) e UAI (infanto-juvenil). Segundo
os dados do Ministério da Saúde existem 10 unidades integradas de saúde com
ambulatório de psiquiatria no Piauí, todas em Teresina.
O próximo componente da RAPS a ser analisado são os Serviços de
Residências Terapêuticas (SRT), que segundo a portaria nº 3.090 de 2011:
(..)configuram-se como ponto de atenção do componente
desinstitucionalização, sendo estratégicos no processo de desospitalização e
reinserção social de pessoas longamente internados nos hospitais
psiquiátricos ou em hospitais de custódia (...) (BRASIL,2011, p .1)

Assim como os CAPS, as SRTs são divididas em categorias, neste caso duas:
a primeira modalidade SRT tipo I, que é o modelo que oferece assistência básica de
acolhimento que deve acolher até no máximo oito moradores. As SRT tipo II, são para
casos onde existe a necessidade de cuidados mais específicos e deve conter uma
equipe especificada pela portaria, que é composta por 5 cuidadores de referência e
um profissional técnico de enfermagem para cada unidade residencial. Segundo
levantamento do Ministério da Saúde em 2017, o Piauí contava com 5 SRTs ativas, 4
destas do tipo I e 1 do tipo II, e todas localizadas na capital, Teresina.
28

Com o movimento que busca a desinstitucionalização, outro serviço primordial


presente na RAPS são os leitos destinados ao tratamento de pacientes com
problemas mentais, nos hospitais gerais. O serviço que ampara estes leitos é
chamado de Atenção Hospitalar, que oferece suporte aos hospitais gerais, focado nas
internações de curta permanência de pacientes com transtornos mentais, inclusive
aqueles relacionados a substancias psicoativas, dando atenção ao manejo das crises.
O hospital geral tem papel fundamental para o funcionamento desejado da rede,
principalmente pelo fato dos hospitais gerais em sua maioria serem localizados em
posições privilegiadas e de fácil acesso a população, e pela facilidade de acesso a
estrutura e profissionais de diversas áreas para auxiliar nos mais diversos tipos de
intervenção. O levantamento mais recente, de 2017, enumera 3 hospitais no Piauí
com leitos habilitados a saúde mental, totalizando 20 leitos.
O Brasil ainda está num processo gradual de desinstitucionalização total, o pais
ainda possui 167 hospitais psiquiátricos que estão distribuídos em 116 municípios por
23 estados do país. (BRASIL ,2015). O Piauí possui 160 leitos todos distribuídos no
Hospital Psiquiátrico Areolino de Abreu. Analisando o gráfico abaixo é possível ver a
significativa retração no número de leitos em hospitais psiquiátricos entre os 2002 a
2014, mostrando a tendência positiva a Desinstitucionalização.
Figura 4 – Leitos SUS em Hospitais Psiquiátricos por ano(Brasil, dez/2002 a dez/2014)

Fontes: Em 2002 e 2003: SIH/SUS, Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras
Drogas/DAPES/SAS/MS e Coordenações

Uma das Estratégias de Desinstitucionalização, que fazem parte da RAPs é o


O Programa De Volta Para Casa (PVC), instituído pela Lei Federal nº 10.708, de 31
de julho de 2003. É um programa federal em parceria com a Caixa Econômica Federal,
29

que tem como foco aqueles pacientes que tiveram longas estadias em instituições
psiquiátricas, objetivando a reintegração destes pacientes da melhor forma à família
e à sociedade, para exercer todos os seus direitos como cidadão brasileiro. Esse
programa é de suma importância para todo o contexto desde o início da luta
antimanicomial, dados de dezembro de 2014 enumeram que o programa já possuía
mais de 4300 pacientes cadastrados, com previsão otimista de aumento significativo,
no Piauí são um total de 19 beneficiários do programa (MINISTERIO DA SAÚDE
,2015)
30

8-ARQUITETURA DA SAÚDE
O objetivo deste capitulo é ressaltar a importância da relação do ambiente
construído para a saúde com a qualidade de vida e do tratamento dos pacientes, com
enfoque nos espaços destinados à saúde mental.
Como explicitado anteriormente neste trabalho, os espaços destinados a saúde
mental estavam ligados diretamente ao regime prisional e asilar, destinado a remover
do convívio social aqueles que não se enquadravam nos padrões impostos.
(FOUCAUlT, 1983)
Para reforçar o caráter de vigilância e punição (FOUCAULT, 2005) das
instituições, os espaços deveriam também transmitir e facilitar esta metodologia de
trabalho. A arquitetura utilizada nesses espaços foi baseada no modelo pan-óptico,
modelo arquitetônico criado por Jeremy Bentham, que permitia o melhor controle e
uma vigilância permanente, arquitetura que foi utilizada não só em hospitais, mas
fabricas, instalações militares e prisões e até mesmo escolas. O modelo (como pode
ser visto na imagem a baixo) representava uma construção em forma de anel, com o
interior em forma de pátio e a parte central uma torre de vigilância. A parte externa se
dividia em inúmeros compartimentos, em que todos poderiam ser observados com
visão total pelos funcionários localizados na torre central, já que estes compartimentos
tinham grandes janelas voltadas tanto para a face interna e para a externa (SANTOS;
BURSZTYN, 2004).
Figura 5 - Planta e corte do Panóptico, de Jeremy Bentham.

Fonte: Wikimedia Commons .2008


31

Segundo Foucault (1999), dentro do contexto do iluminismo, por volta do século


XVIII, houve a iniciativa de criação de espaços destinados exclusivamente ao
tratamento dos doentes mentais. O mais importante do período foi o Hotel-Dieu, em
Paris. Este hospital representou um marco para a reformulação da metodologia de
trabalho da época, após o incêndio em 1972.Este desastre foi resultado da falta de
planejamento, e organização da instituição. O evento trouxe a público todos os
problemas do hospital, e sua reconstrução foi uma oportunidade para a implantação
de novas técnicas e a mudança de paradigmas, surgiu um diálogo importantíssimo
para o futuro da arquitetura da saúde em geral, que foi o diálogo entre os profissionais
de todas as áreas envolvidas. (MIQUELIN, 1992 apud FONTES, 2003).
Silva (2001) explica a importância e a trajetória de Jacques Tenon, médico
francês, que estudou profundamente a situação não somente do Hotel-Dieu, mas
como vários hospitais franceses, e produziu diversões parâmetros e normas
arquitetônicos para guiar a concepção de espaços hospitalares. O resultado de seus
estudos, foi publicado na obra Mémoires sur les Hôpitaux de Paris, de 1788 e foram
base para um projeto arquitetônico para o Hospital Hotel-Dieu, em parceria com o
arquiteto Bernard Poyet. Devido ao contexto da Revolução Francesa, o projeto não foi
concretizado, mas os parâmetros e a preocupação da relação saúde, ambiente e
arquitetura foi marcante para o futuro das construções. Posteriormente, em 1854, foi
construído, na capital francesa o Hospital Lariboisiere, que se fundamentou nos
estudos de Tenon e Poyet, para a concepção e concretização do projeto (SILVA,2001)
Como explicitado por Fontes (2003) , a evolução dos espaços destinados a
saúde mental ocorreu de forma muito menos gradual, que a evolução da arquitetura
hospitalar geral, resultando ainda hoje em construções muito antigas e novos espaços
sendo criados nos moldes do século XIX .Uma causa possível deste retardo neste
desenvolvimento , se dá principalmente no fato da própria doença mental ser um
paradigma e um desafio para se tratar, pelo caráter subjetivo da doença mental,
diferente do que acontece nas doenças físicas, então pode se concluir que a lenta
evolução na história da psiquiatria está relacionado diretamente precariedade dos
espaços arquitetônicos destinados a saúde mental.
Um ano após a lei que regulamentava a Reforma Psiquiátrica no Brasil, em
31/01/2002, foi publicada a portaria número 251(BRASIL,2002), que regulamenta e
normatiza os espaços hospitalares destinados a saúde mental, mudando toda a
32

estrutura de saúde, classificando os hospitais segundo o porte e o tipo de serviço


prestado.
A lei definiu que hospitais psiquiátricos seriam aqueles em que a maior parte
dos leitos seria destinado a psiquiatria. E definiu as normas relacionadas a assistência
da saúde mental, destacando-se a seguir as que se relacionam aos espaços físicos:
foi proibida a existência de espaços restritivos, as chamadas celas-fortes, espaços
reduzidos que eram utilizados como punição para os pacientes. O hospital deveria
possuir uma enfermaria, com espaço mínimo de 6 m²/leito o e número de leitos igual
a 1/50 do total do hospital, com camas “Fowler”, que são camas especiais articuladas
utilizado em ambientes hospitalares, completamente equipadas com oxigênio,
vaporizador, aspirador de secreção e estruturas de apoio. Uma norma a ser destacada
é que a área dos espaços externos, destinados a lazer, deve ser superior ou igual a
construída. Além dos espaços externos, o hospital deve fornecer sala de estar, jogos,
com no mínimo 40m², com um acréscimo de 20m² para cada 100 leitos a mais ou
fração, equipada com dispositivos de entretenimento. (BRASIL,2002).
A portaria 251 (BRASIL,2002), estabeleceu a importância das atividades
terapêuticas no processo de tratamento, por meio da convivência, esta interação com
outros pacientes, e com os profissionais é um ponto fundamental para a reinserção
desses pacientes no âmbito sócia, por isso a importância dos espaços criados, frutos
da reforma psiquiátrica, destinados a este novo tipo de abordagem, os CAPS, as
Unidades de Acolhimento (como foram explicados anteriormente).
Como citado anteriormente nesta obra, segundo a classificação de Amarante
(1995) um dos principais momentos de mudança dos paradigmas em relação aos
cuidados aos pacientes de saúde mental, que podem ser observados também nos
espaços construídos, é o surgimento das comunidades terapêuticas, que ocorreu por
volta de 1946.A arquitetura passa de ser um mero instrumento de disciplina e reclusão,
para o caráter de abrigo, visando o bem-estar da saúde mental de seus usuários.
(FONTES,2003).
As unidades de atendimento que fazem parte da RAPS, atualmente,
desempenham cada uma, funções especificas almejando o processo total de
desospitalização. O foco é oferecer serviços extra hospitalares de maior qualidade e
com maior cobertura Segundo Fontes (2003). O investimento neste tipo de instituição
semi-hospitalar tem mostrado grandes resultados na busca da melhor qualidade de
vida dos pacientes e a volta destes ao convívio em sociedade.
33

Com esse enfoque no caráter não-hospitalar do tratamento dado aos doentes


mentais, os projetos de arquitetura para estes espaços começaram a utilizar do
conceito de humanização, onde o homem é o centro do projeto, onde busca-se
oferecer total conforto (físico e mental) e autonomia (VASCONCELOS, 2004). Esta
abordagem se encaixa perfeitamente no período e na intenção de criar novos espaços
para a saúde mental, onde estes muitas vezes perderam sua autonomia, seu convívio
social, e assim perderam sua humanidade.
Como dito por Vasconcelos (2004), a humanização dos espaços arquitetônicos
destinados a saúde mental leva em consideração diversos aspectos, como a relação
com as cores, revestimentos, mobiliário, iluminação e natureza. Este processo está
baseado na percepção que o ser humano tem acerca do ambiente no qual está
inserido.
Um conceito importante é a Psicologia Ambiental, que surgiu justamente para
compreender de forma total a relação do espaço arquitetônico e seu usuário. Este
estudo é relativamente recente, visto que demonstrações relevantes só foram vistas
a partir da década de 60, junto com eventos e publicações que divulgavam o conceito
para o mundo. É uma área de estudo multidisciplinar, considerando estudos de
sociologia, arquitetura, biologia, antropologia geografia e outros, afim de analisar o
comportamento humano em todas as suas nuances (SILVA, 2008).
Okamoto (2002), afirma que ao se analisar a relação entre o ambiente e seus
usuários a é perceptível a influência mutua. Baseando-se nesses conceitos, Silva
(2008), elaborou um esquema para entender melhor esta relação:
Figura 6-Sistematização das etapas do processo de relação Usuário x Ambiente

Fonte: Silva,2008 (Adaptado pelo autor)

Este esquema acima, simplifica os estudos Okamoto (2002), onde a etapa dos
estímulos transmitidos pelo ambiente, através de todos os elementos físicos que o
compõem, onde o usuário, através da percepção assimila estes estímulos, estes são
condessados no íntimo do sujeito junto com todas as suas características próprias e
únicas, criando uma consciência sobre esses estímulos recebidos, resultando em
ações que serão visíveis em seu comportamento.
34

De acordo com Silva (2008), a necessidade de se conhecer e entender a


importância dos estímulos ajuda a, por exemplo, não focar em um determinado
estimulo como: o visual, e acabar negligenciando outros estímulos recebidos pelo
usuário daquele espaço. O esquema da relação usuário x ambiente, apresentado
acima, resulta na compreensão da importância do comportamento humano no projeto
do espaço físico. Esse comportamento também é analisado nas interações entre
usuários de espaços comuns, onde a organização do espaço deve ser pensada para
evitar conflitos devido, falta de privacidade, a invasão do espaço individual.
Como explicitado por Bins Ely (2003), o espaço físico quando supre e atende
as necessidades dos seus usuários seja nos estímulos físicos quanto nos
psicológicos, é certo o impacto positivo para a vida dos pacientes e nas atividades
exercidas por eles. A ideia por trás do projeto de espaços relacionados a saúde mental
vai muito além e criar abrigo e espaço de transição, para os pacientes, a criação de
vínculos e a sensação de lar, é de grande importância no tratamento e todo processo
de reintegração social.
Os estudos de Silva (2008), ajudaram a compreender a importância e a relação
dos pacientes com a privacidade e individualidade. Nas instituições psiquiátricas por
questão normativa os pacientes não podem carregar ou guardar consigo objetos
pessoais, o que somado com a falta de variedades de atividades exercidas nesses
espaços, a rotina monótona tem impacto negativo na sensação de pertencimento e
de individualidade. Nas residências terapêuticas, em contrapartida, existe esse caráter
mais individual, de espaços onde o paciente possui sua privacidade, lhe
proporcionando além de uma convivência melhor com o espaço, uma maior
autonomia.
Os pontos de partida do desenvolvimento do projeto do centro de saúde serão:
privacidade e autonomia. Estes dois aspectos atrelados a todos os conceitos que os
compõem, representarão a busca do projeto de espaços arquitetônicos que tenham
participação ativa no tratamento e no processo de cura. A privacidade está ligada
justamente a sensação de conforto no ambiente no qual o paciente está inserido,
pacientes psiquiátricos possuem diferentes transtornos e devem ser tratados com
suas devidas particularidades. Segundo Malkin (1991, apud BERTOLETTI 2011) a
privacidade se torna mais fácil com o uso de dormitórios individuais, pois garante ao
paciente, sensação de domínio da sua situação, garantindo autonomia e privacidade.
35

Este tipo de preocupação, é aplicada nos SRTs, onde os pacientes possuem


atendimento especializado, incentivo a autonomia a partir das atividades domésticas
diárias. Contudo, apesar dos cuidados, a estrutura da RAPS no Brasil é insuficiente
para atender a demanda de pacientes. As residências terapêuticas como não estão
disponíveis em abundancia, tem o foco naqueles pacientes que passaram muito
tempo em instituições psiquiátricas, geralmente com idade avançada e com
problemas físicos devido as condições do tratamento e o uso de determinado tipo de
tratamento (BERTOLETTI ,2011).
Segundo o próprio Ministério Da Saúde em seus diagnósticos sobre a saúde
mental, um dos principais problemas a serem resolvido atualmente é a questão da
moradia e da longa permanência dos pacientes. O processo antimanicomial não se
concentra em apenas fechar as instituições psiquiátricas, muitos dos pacientes
perderam totalmente o vínculo com a família e sociedade, deste modo não estando
pronto para a reintegração social. Como destacado por Bertoletti (2011) o processo
de transição entre a saída das instituições para a volta a sociedade é de suma
importância, a mudança de paradigma de ‘’estar’’ para ‘’habitar’’.
Por este fato, é primordial o estudo e entender as relações do paciente com o
espaço físico. Ao se projetar deve se levar em consideração todos os aspectos e todos
os estímulos que o espaço pode provocar nos seus usuários, e quais os possíveis
impactos nestes. Segundo Silva (2008) um ponto chave para projetos desta área é a
ligação do interior com o exterior, não somente através de espaços livres, mas
espaços intermediários e principalmente o uso da iluminação natural de modo a
proporcionar uma sensação de conforto físico e mental.
Apesar da importância clara da interação social e com os espaços comuns,
Vasconcelos (2004) pondera:
O design interior do ambiente não pode forçar a interação social a ponto de
negar a condição de privacidade do paciente. Um arranjo ambiental que força
o contato social e nega a privacidade do indivíduo, torna-se estressante e
trabalha contra o bem-estar. (VASCONCELOS, 2004, p.41)

A integração entre o interior e exterior pode ser potencializada através do


contato com a natureza, como explicitado por Silva (2008), que incentiva a existência
de pátios e janelas com peitoris adequados para os pacientes contemplarem a
natureza mesmo quando em seus leitos. O contato direto com a natureza traz
36

inúmeros estímulos positivos e representam uma grande diferença em relação às


instituições psiquiátricas que possuíam pátios, mas não possuíam vegetação,
mobiliário, elementos como fontes, que mesmo sendo espaços livres, incentivavam o
isolamento e não a interação. A resposta dada a ausência destes elementos era
sempre relacionada a saúde e bem-estar físico dos pacientes, porém os profissionais
designados a projetar espaços dessa natureza, devem ter conhecimentos e técnicas
para projetar elementos que não ofereçam perigos a integridade dos pacientes.
Os estudos de Vasconcelos (2004), enumeram elementos importantes ao se
projetar espaços destinados a psiquiatria. São eles: luz, cor, forma, textura e som.
Neste trabalho o foco será nos efeitos e importância da Luz e Cor nos espaços
arquitetônicos destinados a saúde.
O primeiro elemento a ser analisado é a luz. Vasconcelos (2004), explica que
durante muito tempo a iluminação era utilizada em projetos de arquitetura apenas
como complementação estética, porém atualmente já se é de conhecimento os
benefícios a saúde da luz, principalmente a natural. Por questões logicas, o estudo
separa o estudo entre a iluminação natural e a artificial, os dois tipos possuem
importância em ambientes hospitalares, principalmente quando se há uma longa
permanência dos pacientes. Segundo Silva (2008), a luz tem influência direta no
organismo do paciente, já que faz parte do processo de regulação de alguns
hormônios e vitaminas, melhorando a capacidade física e aumentando os níveis de
oxigênio.
A luz natural, proveniente do sol, possui os melhores benefícios, mentais e
físicos no organismo dos indivíduos, e nos espaços arquitetônicos destinados a saúde
mental, devem ser explorados, através de elementos como pátios, janelas, domos e
claraboias. Silva (2008) destaca a importância da luz natural, usando como exemplo
a Seasonal Affective Disorder (SAD) (ou para o português Transtorno Afetivo Sazonal)
que é uma doença que ocorre quando o indivíduo possui pouco ou quase nulo acesso
a luz natural, que ocasiona uma baixa na produção de melatonina, e ocorre em lugares
do mundo onde em determinadas épocas do ano, a luz do sol é bastante reduzida.
Apesar de todos esses claros benefícios da luz natural, Vasconcelos (2004), alerta a
necessidade de que a quantidade de luz seja adequada às necessidades de cada
indivíduo, para não causar impactos negativos, por exemplo os idosos possuem a
necessidade de três vezes mais luz para realizar suas atividades, do que os jovens e
adultos. O ideal para atender melhor as individualidades dos pacientes e lhes
37

permitindo certa autonomia, é que estes possuam controle sobre os níveis de


iluminação nos seus espaços particulares, por meio de persianas, cortinas, controle
sobre a iluminação artificial.
A luz artificial, deve ser utilizada como complemento da luz natural durante o
dia, e indispensável no período da noite quando não há incidência solar. Segundo
Vasconcelos (2004) deve se evitar o uso de lâmpadas fluorescentes em ambientes
relacionados a saúde dos usuários, já que o corpo não detecta benefícios deste tipo
de iluminação, o considerando como escuridão. Contudo como destacado por Silva
(2008) os projetos de iluminação de espaços hospitalares estão sujeitos a dois fatores
que limitam as possíveis praticas positivas: as exigências mínimas das normas e a
tentativa constante de diminuição de custos, o que resulta no uso de lâmpadas mais
baratas.
A luz está ligada intimamente a outro elemento arquitetônico, a cor. Já que as
cores por si próprias não existem, elas são a percepção da incidência da luz em
objetos. Por este fato Vasconcelos (2004), atenta para a necessidade de estudos
sobre essa percepção e o efeito psicológico que elas possuem, quando se vai escolher
as cores para os espaços e para elementos presentes nesses espaços. As cores
provocam fortes estímulos nas pessoas, causando sensações positivas ou negativas
dependendo de como são exploradas no espaço. As cores se dividem em cores
quentes: como por exemplo laranja e vermelho e as cores frias: verde, azul e roxo.
Segundo Modesto (1986 apud VASCONCELOS 2004), as cores quentes passam a
sensação de proximidade, calor, e são estimulantes. As cores frias em contrapartida,
parecem mais distantes, leves e calmas.
38

Figura 7 - Cores e seus efeitos psicológicos

Fonte: Bertoletti ,2011 (Adaptado pelo Autor)

Baseado nos estudos dos efeitos psicológicos das cores nos indivíduos, é
possível utilizar estas da melhor maneira, seja nos espaços físicos ou em elementos
que mereçam destaque. Por exemplo, Bertoletti (2011) indica as tonalidades azul e
verde para os dormitórios pois são cores que remetem a tranquilidade e harmonia, e
são cores que a percepção de alargamento dos espaços, assim reduzindo o efeito de
clausura. Cores como laranja e amarelo, são cores vibrantes e estimulantes, e podem
ser utilizadas em áreas de convívio internas e nas áreas de refeição, pois
principalmente o amarelo, estimula o apetite. A cor vermelha deve ser aplicada com
cautela, pois possui fortes estímulos e deve ser evitada ou pouco utilizada, para não
causar efeitos negativos nos pacientes. Para espaços reduzidos como banheiros e
áreas de serviço, Silva (2008) recomenda o uso de cores claras, para reduzir
sensação de espaços menores, e por estes mesmos motivos os pisos e forros tendem
a seguir esta tonalidade, para não causar nenhum impacto negativo, e causar
confusão nos pacientes.
39

10 - ESTUDO DE CASOS CORRELATOS


10.1 - HOSPITAL PSIQUIÁTRICO KRONTAD
FICHA TÉCNICA
 Arquitetos: Origo Arkitektgruppe
 Localização: Bergen, Noruega
 Área: 12.500 m²
Ano do projeto: 2013
O objetivo da proposta foi o projeto de edifício público que integra as noções
do modelo democrático nórdico baseado no bem comum e no valor do indivíduo. O
mesmo objetiva oferecer valores positivos em um ambiente urbano desafiador:
ocupado e barulhento (Figura 01), ao qual deveria prover, também, a proteção
necessária aos seus pacientes.
Figura 8 – Localização e marcação do edifício

Fonte: Google Earth, 2018 (Adaptado pelo autor)

Para entender melhor o projeto é necessário analisar o prédio no contexto na


qual está inserido. Aproximadamente metade da população norueguesa irá sofrer com
algum tipo de problema emocional em algum momento de sua vida, sendo ansiedade
e depressão os mais recorrentes. Dessa forma, um dos serviços disponibilizados no
sistema de saúde da Noruega é o District Psychiatric Outpatient Service (DPS). Para
utilizar o serviço (DPS) é necessário que o paciente seja encaminhado para o centro
de tratamento através de um médico geral e aguardar o início do atendimento.
40

Existem hospitais que oferecem todos os tipos de serviços psiquiátricos, enquanto


outros oferecem serviços básicos. O Centro Psiquiátrico Kronstad (Distritc Psychiatric
Center - DPS) é um hospital local de saúde mental para adultos que executa serviços
especializados atendendo, principalmente, os bairros Bergenhus, Årstad e Ytrebygda,
no município de Bergen.
O centro contribui para que as pessoas com doenças mentais possam viver
uma vida normal, utilizando tratamentos que se baseiam na participação,
independência e domínio, um processo pessoal para os pacientes. Possui vários
níveis de tratamento: ambulatório, em grupo ou individuais; policlínica, serviços
ambulantes (que ocorrem em local acordado); internações, terapia ocupacional,
fisioterapia, assistência social, serviço religioso e atividades físicas que
complementam a recuperação do paciente. Possui também salas de bate-papo para
receber visitas e salas de entrevistas
O objeto de estudo segue uma categoria formal geométrica e tipológica. A
primeira ocorre devido à composição de um volume utilizando formas
paralelepipédicas simples, que facilitam a inserção do programa de necessidades
mais complexos como o hospitalar (Figura 02). A segunda acontece ao conter
algumas características muito utilizadas na arquitetura hospitalar moderna como o
esquema geométrico da planta, a modulação, o tratamento dos fluxos e volumes
geometrizados
Figura 9 – Forma externa do edifício

Fonte: Archdaily, 2014


41

No caso estudado, a estrutura metálica é utilizada e harmonizada com o vidro


utilizado nas aberturas. O uso desse sistema estrutural permite vãos maiores e a
independência das paredes, permitindo que um dos principais partidos adotados fosse
alcançado: a transparência e a leveza. É aparente tanto no interior quanto nas
fachadas através das colunas vistas no térreo.
O envoltório do edifício se constitui, basicamente, de painéis feitos de estrutura
de metal misto de aço e de alumínio enrolado em um têxtil cinzento médio em
diferentes padrões e cores, esse material é feito especialmente para o uso ao ar livre
e proporcionam o controle da luz solar (permeável ao tecido) e qualidade térmica. Não
possuem função estrutural, apenas de vedação. Assim como os painéis de vidro
envoltos em caixilhos metálicos utilizados para a iluminação natural, pensados de
maneira a garantir a segurança dos funcionários e pacientes. Possui também, fachada
feita em estruturas de metal cinza escuro expostas com grandes superfícies de vidro
em determinadas áreas (Figura 03).
Figura 10 – Materialidade do projeto

Fonte: Archdaily, 2014

A estrutura metálica utilizada no Centro Psiquiátrico Kronstad, apesar de


permitir outras configurações formais, influi diretamente na forma do mesmo: um
volume constituído por linhas e ângulos retos, excetuando-se a angulação presente
em um dos átrios. A escolha desse sistema permite reentrâncias nas fachadas, o que
dinamiza o volume e a criação de espaços com pé-direito diferenciado e aberturas na
cobertura que auxiliam na renovação doar e na iluminação.
O projeto do hospital tem uma forte ênfase em transparência e receptividade.
O zoneamento é bastante claro, basicamente as áreas de serviço são permeadas por
áreas comuns (Figura 04), e pelos três grandes átrios que são característica marcante
do projeto, e por onde as áreas mais protegidas são organizadas. A fachada principal
42

com invólucro de vidro abriga a parte do café e loja. As partes mais sensíveis, que
merecem maior cuidado, são localizadas na parte superior e possuem seus próprios
tetos jardim e espaços ao ar livre. As áreas íntimas de dormitórios dos pacientes se
encontram nos pavimentos superiores, o pavimento térreo possui caráter
administrativo e de serviços de apoio, consultórios, laboratórios, farmácias, depósitos,
salas para atividades, e sempre intercalados com áreas sociais.
Figura 11 – Zoneamento

Fonte: Archdaily, 2014 (Adaptado pelo Autor)

Os maiores fluxos são provenientes de duas áreas (Figura 05), a primeira é a


entrada principal (A) que é diretamente localizada em frente ao ponto de trem, e essa
entrada dá acesso direto a várias áreas tanto exclusivas para pacientes quanto áreas
de acesso para não-pacientes. O outro fluxo vem da fachada norte (B) onde se localiza
43

a praça pública, que adentra o prédio onde a parte revestida com vidro abriga um café
e loja, centro um ponto gerador de fluxo.
Figura 12– Fluxos de acesso e circulação

Fonte: Archdaily, 2014 (Adaptado pelo Autor)

Este edifício está localizado em um denso espaço urbano, uma área de grande
fluxo de veículos e pessoas. Devido a isto, houve uma grande ênfase na criação de
uma nova praça pública na área norte, que oferece um local confortável para a
interação e ocupação da população em uma área predominantemente dominada por
carros. Este espaço se alonga até os planos inferiores do hospital, exibindo a parte
interior através dos grandes painéis de vidro, proporcionando transparência e uma
maior abertura em termos de tratamentos médicos. A elaboração do projeto incentiva
não somente os funcionários e os pacientes, mas toda a população a conhecer e
admirar o local.
O hospital possui um significado real em relação à cidade, pois representa uma
obra de grande porte, localizada em uma área urbana densa, de tráfico intenso e
grandes áreas residenciais, contendo características da tipologia hospitalar e
importância de um equipamento público provedor de serviços de saúde,
acrescentando ainda características de espaço público de lazer e integração social.
Atende não somente à função hospitalar, como também de integração social.
44

O projeto se preocupou em trabalhar em duas escalas. A área externa em uma


escala maior, para enfatizar o caráter social e urbano do projeto como, a praça pública,
campo de atividades esportivas e os vários jardins e áreas livres para atividades
recreativas e ao ar livre. Na área interna a escala é reduzida para criar um ambiente
mais doméstico e passar a sensação de segurança e proteção, necessária a esse tipo
de espaço. Os vãos licores e espaços abertos tiram a ideia de clausura, presente na
má impressão que se tem em relação a hospitais psiquiátricos.
Quando a caracterização do espaço arquitetônico, pode-se dizer que os
espaços do hospital consistem em um espaço interior, público, fechado, coberto,
restrito e confinado. Além disso, constitui-se de um espaço isotrópico devido a
ausência de tensões tão evidentes, excetuando-se as circulações em que as linhas
dominantes convergem para um ponto principal formando espaços orientados. Eles
estão distribuídos em um sistema funcionalista, no qual os cômodos se distribuem ao
longo de corredores e áreas de convivência e recreação. Essas mesmas áreas de
convivência e recreação, envoltas em painéis de vidro quando inseridas no edifício e
abertas quando locadas na área externa, bem como a presença de grandes aberturas
(ainda que não formem uma composição de vazios contínuos), permitem a fluidez do
espaço e sua constate relação com o exterior, proporcionando uma passagem amena
do ambiente interno para o ambiente externo.
O projeto do Hospital Psiquiátrico de Kronstad se diferencia dos outros quando
dá ênfase em desmistificar o lugar para tratamento de doenças mentais como um
espaço enclausurado, tenso e insalubre, através da relação intensa entre o externo e
o interno, com áreas de lazer, esporte e a comunicação com o verde. A própria
arquitetura, nesse caso, serve como elemento para o tratamento dos pacientes. Além
disso, torna-se mais que um hospital ao convidar toda a população a conhecer e se
tornar parte do local, ao mesmo tempo que proporciona a privacidade necessária para
os usuários.
A preocupação com a criação de espaços de lazer, recreação e convivência
demonstra a mudança da tipologia hospitalar de acordo com a mudança dos métodos
utilizados para o tratamento das doenças mentais. São reflexos da necessidade de
privacidade e ao mesmo tempo contato com a sociedade, com o intuito de sentir
acolhimento, vistas nas fachadas e nas áreas de uso comum da cidade.
45

Outro aspecto positivo a ser comentado é a materialidade das fachadas e do


interior. A escolha dos painéis brancos e verdes passam a sensação de sobriedade,
leveza e esperança necessária aos pacientes que utilizam o local, além disso, não
necessitam de manutenção frequente o que garante o aspecto estético do local por
bastante tempo. Os espaços utilizam tons amadeirados e brancos que contrastam
com tons escurecidos de forma a não criar tensões desnecessárias e contribuir com
o processo de recuperação.

Nota-se, porém, que o projeto está inserido muito próximo à sua via de acesso
e, dessa forma, a apreensão do volume como um todo ocorre apenas quando se toma
distância do objeto. No entanto, sabe-se que essa implantação ocorre devido à
necessidade de curtas distâncias a serem percorridas pelo paciente no momento de
sua entrada. Outro aspecto projetual observado, é o dimensionamento de alguns
corredores que, por terem a abertura de suas portas voltadas para fora, dificultam o
fluxo; o que ocorre também em alguns pontos onde há a convergência de corredores.

10.1.1 – CONSIDERAÇÕES FINAIS


O primeiro estudo de caso é de um hospital psiquiátrico na Dinamarca, apesar
de representar um modelo que não é seguido atualmente no Brasil, o projeto
apresenta boas soluções referentes a materiais utilizados, dimensionamento dos
ambientes, a valorização dos espaços livres. Apesar de ser um hospital de grande
porte, as suas decisões projetuais proporcionaram um espaço transparente
visualmente, receptivo e aconchegante já que além de serviços ambulatoriais o
edifício também possui espaços de longa estadia.
46

10.2 – MORADIAS INFANTIS – FAZENDA CANUANÃ

FICHA TÉCNICA
 Arquitetos: Aleph Zero, Rosenbaum
 Localização: Formoso do Araguaia, TO, 77470-000, Brasil
 Arquitetos responsáveis: Adriana Benguela, Gustavo Utrabo
 Equipe: Adriana Benguela, Gustavo Utrabo, Pedro Duschenes, Marcelo
Rosenbaum
 Área: 23344.0 m2
 Ano do projeto: 2017

O projeto consiste na reforma do projeto Moradias Infantis, da Fundação Bradesco,


que convidou os escritórios Marcelo Rosenbaum e Aleph Zero, para esta obra,
localizada na zona rural do município Formoso do Araguaia (Figura 06), no estado do
Tocantins. O é projeto mantido pela Fundação Bradesco, existe há mais de 40 anos,
e briga crianças nas faixas etárias de 7 e 18 anos.
Figura 13- Localização do Projeto

Fonte: Google Earth, 2018

O objetivo da reforma era dar novos ares as instalações, e o maior desafio da


equipe responsável era criar um espaço que proporcionasse a sensação de lar além
dos locais destinados a ensino, servindo muito além de apenas um abrigo.
O Local anteriormente era uma antiga fazenda, então foi necessário a criação de
novos blocos, principalmente alguns blocos de sala de aulas e as moradias dos
47

professores. Um aspecto mantido do antigo local, foi a divisão do espaço em duas


vilas (Figura 07), dividindo os alunos por sexo (como pode ser visto na planta de
situação abaixo). Sendo os dormitórios organizados em 45 unidades, cada uma
contendo 6 alunos.
Figura 14 - Planta de Situação

Fonte : Rosebaum +Aleph Zero (Adaptado pelo autor) , 2017

Os espaços de convivência em geral são localizados próximo aos dormitórios,


e estes foram escolhidos juntamente com os alunos, visando uma criação de laços
mais fortes com a instituição e a moradia. Alguns dos espaços são: sala de Tv, espaço
para leituras e estudos, as varandas e pátios, auditórios, brinquedotecas entre outros.
O fato da região possuir chuvas frequentes foi o que influenciou a implantação dos
espelhos d’agua no térreo e estes quando transbordam devolvem a água pluvial aos
rios, sendo solução de conforto térmico em conjunto com os moçárabes, e a lã de
rocha utilizada nas lajes para isolamento acústico. (Figura 08)
48

Figura 15 – Planta do pavimento térreo

Fonte : Rosebaum +Aleph Zero (Adaptado pelo autor), 2017

Segundo entrevistas e materiais da equipe responsável, as escolhas dos


materiais foram reguladas pelos seguintes parâmetros: questão econômica, climática
e cultural. Sobre a questão econômica, o projeto se localiza numa região afastada dos
centros de produção e comercialização de matérias, o que afetaria por exemplo o uso
de concreto usinado, pela demora maior do que o recomendado para obras deste
porte. Por se localizar numa região de clima quente (seco no verão e úmido no
inverno) a questão do conforto térmico foi um ponto decisivo, juntamente com a
intenção dos projetistas de resgatar técnicas e materiais locais, auxiliando a criação
de laços emocionais por parte dos alunos e moradores do local. Então o material
escolhido foi madeira, que é predominante no projeto, e a estrutura é completada
pelas lajes de concreto e tijolos de adobe. Foi utilizada Madeira Laminada Colada,
(Figura 09) que permite a fabricação de peças suficientes para grandes vãos. Essa
tipologia possibilita diferentes seções, curvas, aumentando a variedade de usos da
madeira no projeto.
49

Figura 16 - Detalhes da estrutura de madeira

Fonte: Leonardo Finotti , 2017

A estrutura consiste em uma grelha estrutural de 5,9 x 5,9 metros, com 288
pilares quadrados com seção de 15 centímetros. O pé direitos variam em altura
(Figura 10), chegando em alguns pontos em até 8 metros, nesses casos os pilares
são reforçados nas extremidades. Como o clima é bem inconstante, é imprescindível,
as manutenções regulares, apesar de que a MLC possui bons resultados nestas
condições.
Figura 17 – Imagens externas mostrando materialidade e relação com o contexto.

Fonte: Leonardo Finotti , 2017

A ideia do projeto analisado é criar um espaço que possua às funções de


escola, e lar. O partido utilizado foi a própria natureza no qual o projeto está inserido,
50

incentivando o resgate da cultura e da relação com a história dos alunos e do local, a


utilização de técnicas construtivas e materiais locais, tudo isso para criar laços e a
sensação cada vez maior de pertencimento, já que os alunos veem de famílias com
poder aquisitivo muito baixo, e viviam anteriormente em casas sem a menor
infraestrutura.
A prioridade em criar a relação entre os alunos e o projeto é vista no modo
como a equipe responsável utilizou da participação dos próprios alunos e funcionários
no processo de decisões projetuais, como por exemplo, em uma dessas reuniões os
arquitetos levantaram o tema praça, onde o resultado foi o prédio assumir a função de
um pavilhão aberto, com o telhado inclinado em 5% em direção ao Rio Javaes
,juntamente com os grandes beirais de 4 metros, grandes pés direitos, passa essa
sensação de liberdade, e conexão com a natureza que está logo ali, além de
funcionarem como recursos de conforto ambiental. Até mesmo os tons do projeto,
materiais em seus tons naturais, crus, servem para criar uma melhor inserção e
implantação do prédio no seu contexto.
A interação e a participação dos estudantes, tendo contato com a beleza local,
as culturas e técnicas tradicionais da sua própria região, foi parte importante do
processo criativo e do desenvolvimento do projeto. Pequenos elementos como
quadros e elementos de decoração inspirados na cultura indígena ajudam a criar a
relação afetiva da moradia com os moradores.
10.2.1 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto de moradias infantis no Tocantins, que apesar de não ser ligado a
saúde mental, representa a criação de moradia para crianças provenientes de famílias
de baixo poder aquisitivo. Um dos principais pontos positivo desta obra, é a
participação dos moradores no processo de decisões, visto que estes são os maiores
interessados, já que o local é um misto de escola com moradia, então a intenção foi
proporcionar a melhor sensação de acolhimento possível. Outro ponto foi o uso da
madeira como material predominante, que somado aos pés direitos elevados, e aos
espelhos d’agua, ajudaram a resolver os desconfortos climáticos
51

10.3 - CENTRO DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL DE ALICANTE


FICHA TÉCNICA
 Arquitetos: Otxotorena Arquitectos
 Localização: Alicante, Espanha
 Arquitetos responsáveis: Juan M. Otxotorena, José L. Camarasa
 Área: 16657.0 m²
 Ano do projeto: 2014

O centro abriga duas funções principais, residência para pessoas com transtornos
mentais que não tem a necessidade de internação Centro de Reabilitação com Dentro
Diurno para casos de transtornos mentais graves. O projeto está implantado na malha
urbana de Alicante, em uma zona mista entre prédios de serviço, indústrias, porém é
predominantemente residencial (Figura 11). Analisando a implantação o edifício
acompanha a morfologia do lote e é disposto dando uma linearidade e continuidade
ao terreno.
Figura 18 - Localização e marcação do projeto

Fonte: Google Earth, 2018 (Adaptado pelo autor)

O edifício possui aproximadamente 150 metros de comprimento, é dividido


entre três setores principais. Para manter a conexão entre o interior e o exterior (Figura
12), os fechamentos são marcados pelas esquadrias predominantemente de vidro e
metal.
52

Figura 19 – Imagem externa e interna (respectivamente)

Fonte: Pedro Pegenaute,2014

Ao se analisar o layout e disposição dos setores é facilmente identificável que


a ideia de integração é conquistada pela disposição linear dos ambientes, com uma
circulação eficiente e clara integrando bem os setores (Figura 13). Os corredores
lineares podem provocar sensação de clausura e confinamento para os pacientes,
esse problema foi resolvido com pés-direitos elevados e aberturas zenitais no teto.
Figura 20 – Relações entre setores

Fonte: ArchDaily, 2014 (Adaptado pelo autor)

O zoneamento do edifício consiste em basicamente três setores principais, o


clinico, espaço dia, e área de internação. As figuras 14 e 15 ilustram as plantas baixas
dos dois pavimentos, onde é visível a setorização e a organização de forma linear e
formal dos setores, sempre procurando quebras nos volumes internos para não criar
corredores longos assim evitando impactos negativos nos pacientes. As circulações e
53

acessos são bem marcados e setorizados, harmonicamente em contexto com os


ambientes.

Figura 21– (1) planta baixa térreo (2) acesso e legenda

Fonte: ArchDaily, 2014 (Adaptado pelo autor)

Figura 22 – (1) planta baixa subsolo (2) Acesso e legenda

Fonte: ArchDaily, 2014 (Adaptado pelo autor)

O edifício é marcado pelo seu bloco único e sua linearidade, é marcado por
fechamentos verticais em vidro e metal, em harmonia com a estrutura e revestimento
externo em concreto branco. As aberturas e materialidade das fachadas, é utilizado
em grande parte do interior da obra, e juntamente com as aberturas zenitais, e tetos
elevados, quebram a formalidade do edifício.
54

Em termos de estrutura, esta consiste em colunas de aço e concreto e as vigas


e lajes em concreto, as divisórias dos ambientes são placas de gesso e vidro na maior
parte da construção, somente nas áreas molhadas o fechamento é feito por alvenaria.
Os vidros possuem isolantes térmicos, e o edifício ainda conta com placas solares e
automação no controle de energia elétrica obtendo um uso racional da construção
Devido a função relacionada a saúde mental, o edifico passa a sensação de
calma, paz e serenidade, sensação esta obtida com a união de todos os elementos,
tons, materiais, aberturas e setorização. O prédio possui um zoneamento simples e
organizado, uma ótima integração dos ambientes, facilitando o auxílio aos usuários
do espaço, e as soluções de aberturas, composições de cheios e vazios e a escolha
dos materiais, fazem com que o projeto cumpra bem as funções para qual foi
projetado.
10.3.1 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo analisa um centro de reabilitação, localizado na Espanha, que
abriga duas funções principais: residência para pessoas com transtornos psiquiátricos
não considerados graves, e um centro de acolhimento e reabilitação para os pacientes
com casos graves. Os pontos chave deste projeto são: a formalidade, e o zoneamento
bem definido que facilita a circulação dos funcionários e pacientes, e os materiais
utilizados, basicamente aço, concreto e vidro, que transmitem estímulos calmantes
aos pacientes, grandes aberturas, fazendo composição de cheios e vazios quebram
a monotonia e dão ao prédio mais dinamicidade. A organização do projeto e
setorização do projeto, ajuda os pacientes se localizarem e se deslocarem de uma
forma mais fluida e racional.
55

10.4 - CIDADE MADURA DA PARAÍBA

FICHA TÉCNICA
 Equipe responsável: CEHAP,SEDH
 Localização: João Pessoa, Paraíba, Brasil.
 Área: 50.700 m2
 Ano do projeto: 2015

Segundo dados do IGBE, entre os anos de 1980 e 2014 houve um amuamento de


14 anos na expetativa de vida do habitantes da Paraíba, Esse aumentou gerou a
necessidade de programas exclusivos para atender uma nova demanda da população
com mais idade, e que proporcionasse autonomia e independência dos
moradores.Com essa ideia a Companhia Estadual de Habitação Popular
(CEHAP),idealizaram o programa cidade madura, que visava proporcionar uma
melhor qualidade de vida, e liberdade à parcela da população com mais idade. O
Projeto se encontra em várias cidades da Paraíba, o analisado aqui se localiza em
João Pessoa. (Figura 16)

Figura 23 -Localização do projeto com marcação do condomínio no bairro Mangabeira

Fonte: Google Earth, 2018 (Adaptado pelo autor)


56

O local de intervenção é uma área de 5,97 hectares, localizada no bairro


Mangabeira, na capital da paraíba, João Pessoa. Esta região está localizada na área
de expansão territorial da cidade, e integrada a malha urbana, sendo facilitado o
acesso. Na primeira etapa foi utilizado 34% desta área, e o restante para futuras
ampliações. A primeira etapa foi entregue conforme a implantação abaixo.

O condomínio preza pela simplicidade e eficiência, a implantação foi feita de


forma a facilidade os deslocamentos e o acesso dos moradores aos serviços (Figura
17). Na parte central do terreno se encontram os equipamentos e locais de lazer e
assistência, como hortas, redá rios, praças equipadas com aparelhos de ginastica, e
ao longo do terreno espaços para caminhadas.
Figura 24 – Planta de implantação

Fonte: CEHAP, 2015 (Adaptado pelo Autor)

As unidades habitacionais são dispostas ao redor destes serviços, possuindo


20 blocos habitacionais, com duas residências em cada, totalizando 40 unidades. Na
imagem abaixo é possível analisar o projeto das residências, possuindo
aproximadamente 54 metros quadrados (Figura 18). Projeto simples porem bem
57

organizados, contudo a ressalva é que a planta é mantida para todos as unidades,


sendo assim algumas residências ficam deficitadas no quesito ventilação e insolação.
Outra ressalva é em relação as áreas livres que existe uma falta de vegetação alta,
que produza sombreamento, sendo esse feito pela cobertura dos espaços
construídos, limitando o uso a determinados horários.

Figura 25 – Planta baixa das unidades habitacionais

Fonte: CEHAP, 2015

Os critérios de seleção levam em consideração caráter socioeconômico, e


financeiros além dos etários, dos beneficiários, buscando atender da melhor forma
estes moradores, a acessibilidade é um ponto forte do projeto devido a necessidade
dos idosos, as unidades podem ser ocupadas por uma pessoa ou um casal, possuindo
total infraestrutura necessária para recebê-los da melhor forma. (Figura 19)
58

Figura 26 – Imagens da guarita e administração

Fonte: CEHAP, 2015


Já que a intenção do local é proporcionar uma vida de qualidade dos idosos, outro foco
foi a implantação de diversos locais para lazer e exercícios, estimulando a saúde e o convívio
entre os moradores (Figura 20)

Figura 27– Imagens das áreas de vivência

Fonte: CEHAP, 2015


59

O mérito deste projeto é voltar o olhar para uma parcela importante da


população que não possui suas especificidades atendidas pelos programas
habitacionais, tanto foi o êxito que o projeto está se expandindo em várias cidades na
Paraíba, e servindo de modelo para outros programas pelo pais.
O condomínio proporcionou moradia de qualidade, e infraestrutura para os
moradores exercerem sua autonomia, liberdade e individualidade, e dando toda
assistência e infraestrutura necessária, em um ambiente muito mais humano.

10.4.1- CONSIDERAÇÕES FINAIS


O projeto Cidade Madura, projeto do governo da Paraíba por meio da CEHAP,
que baseado nos dados do IBGE que evidenciavam o aumento significativo na
expectativa de vida da população paraibana, visava proporcionar melhor qualidade de
vida para os idosos. Este estudo de caso, mostra como um projeto relativamente
simples, porém bem organizado pode ter um impacto positivo marcante. O projeto
Cidade Madura, já está presente em várias cidades da paraíba, o que foi analisado se
encontra na cidade de João Pessoa. O grande acerto deste programa foi proporcionar
autonomia e liberdade para os idosos, já que cada morador possuía uma unidade
independente (organizadas de duas em duas), e dentro do condomínio fechado,
existia os equipamentos de lazer e assistência necessários para uma vida de
qualidade dos moradores.
60

11 – LEVANTAMENTO DO TERRENO ESCOLHIDO

Após a análise dos casos correlatos e a obtenção de informações sobre os


diferentes espaços relacionados a moradia tanto de pessoas com problemas mentais
ou pessoas com algum tipo de risco ou limitações, no caso dos estudos de casos da
residência infantil e condomínio para idosos. Fez-se a escolha do terreno a ser
utilizado na proposta, e o levantamento das condições urbanísticas, de legislação e
ambientais do local. Resultando na escolha de um local que se adeque à proposta do
centro de saúde mental, com foco em moradia e longa estadia.

11.1 - DEFINIÇÃO DO TERRENO

Com base na fundamentação teórica apresentada no referencial teórico, o


critério principal de seleção do local foi a localização, já que para a implantação de um
espaço arquitetônico direcionado a saúde mental, necessita-se de um local fora do
núcleo urbano, visando proporcionar maior tranquilidade e bem-estar para os
moradores do centro. Tendo isso em vista foi escolhido o terreno localizado no bairro
Santa Maria da Codipi, que é localizado no extremo norte da cidade de Teresina
(Figura 30)
Figura 28 – Marcação do Bairro Santa Maria da Codipi no mapa de Teresina

Fonte: PREFEITURA DE TERESINA, 201-.(Adaptado pelo autor).


61

11.2 – ANÁLISE DO TERRENO

O terreno toma maior parte de uma grande quadra que é margem da Avenida
Poty, avenida principal do bairro. A face principal do terreno é voltada para a Avenida
Min. Sérgio Mota, avenida de fluxo intenso em comparação com as outras (Figura 31).
A localização próxima a essas avenidas facilita bastante o acesso ao terreno.
O terreno é um losango irregular, e possui testadas que variam de 114 metros
(testada principal) à 117 metros (testada posterior), a testada direita possui 165 metros
e a testada esquerda 175 metros. Totalizando 19.770 m²
Figura 29 – Localização do terreno

Fonte: Google Earth, 2018. (Adaptado pelo autor)


Analisando a topografia do terreno, nota-se que é relativamente plano, possui
um desnível de 3 metros entre as fachadas leste e oeste, que é suave e por isso o
caráter plano do terreno. Apesar da proximidade do com o rio ,o terreno não é um
ponto de alagamento, não apresentando problemas de drenagem. Em relação a
vegetação existente, consiste basicamente em arbustos e plantas de baixo porte, com
apenas algumas palmeiras e árvore de maior porte na parte posterior do terreno,
sendo assim não necessários gastos com remoção de vegetação e a pouca que é
relevante pode ser facilmente integrada ao projeto.
62

Figura 30 – Localização do terreno

Fonte: PREFEITURA DE TERESINA, 201-.(Adaptado pelo autor).


Analisando os condicionantes ambientais de insolação e ventilação, percebe-
se que devido ao fato das grandes dimensões e do formato do terreno, vários tipos de
volumetria e soluções projetuais são possíveis para resolver os problemas com
insolação e ventilação, onde as maiores fachadas estão voltadas para o eixo Norte-
Sul que recebem menos insolação que faces Leste-Oeste.(Figura 32) .
Figura 31– Esquema de insolação nas fachadas do terreno

Fonte: LABEE, 2018 (Adaptado pelo autor)


Para entender melhor as relações com o contexto no qual o terreno está
inserido, foi feito uma análise do entorno imediato, onde se constatou que a região é
majoritariamente residencial, com a presença de outros usos. (Figura 33). O caráter
63

residencial é visível também no gabarito já que grande maioria apresenta gabarito


baixo, sendo positivo para o terreno em análise, pois nenhuma construção próxima
representa barreira para a luz do sol e os ventos.
Figura 32– Mapa de usos do entorno imediato

Fonte: PREFEITURA DE TERESINA, 201-. (Adaptado pelo autor).


As principais vias como dito anteriormente são as Av.Ministro Sérgio Mota, que
dá acesso a fachada principal do terreno e é marcada pelo grande canteiro central
arborizado., e a Av.Poty, via de ligação com as outras regiões da cidade. Fazendo
uma análise de fluxos, nota-se que essas são as vias com fluxos mais intensos, com
a maioria das vias do entorno de baixo fluxo, e apenas algumas com fluxo moderado.
Nota-se a presença de alguns pontos de ônibus no entorno (Figura 34).
Figura 33– Mapa de vias, fluxos e pontos de ônibus

Fonte: PREFEITURA DE TERESINA, 201-.(Adaptado pelo autor).


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Em relação a legislação, o terreno se encontra totalmente inserido dentro da


zona de comércio ZC4/04 (Figura 35), que segundo a Lei Complementar nº 3.560,
corresponde à área delimitada pelas Av. Poty e pelas ruas Francisco Nunes da Rocha,
Conceição Vieira, Marinópolis e João Conrado. Essa zona é caracterizada por centros
de média densidade para usos de comércio e serviços diversificados, uso misto ou
habitacional
Figura 34– Zoneamento de Teresina com marcação do terreno.

Fonte: PREFEITURA DE TERESINA, 201-.(Adaptado pelo autor).


O terreno por estar localizado nesta zona, pode possuir vários usos (Tabela 1),
e o Centro de Saúde Mental, se encontra dentro destes possíveis uso. A ZC4 apresenta
algumas especificações para as construções, como: em edificações de até quatro
pavimentos podem ter recuos laterais nulos, caso não haja nenhuma abertura na parede,
e a partir do décimo pavimento é necessário considerar algumas fórmulas prescritas na
lei para redefinição dos recuos mínimos. Com uma área total de 76.302 m², o terreno
possui uma área máxima para construção (de acordo com o índice de aproveitamento) de
228.906 m². Com uma taxa de ocupação de 60%,
Tabela 1– Usos e recuos da Zona ZC4
ZONA ZC4
USOS RECUOS MINIMOS
Habitacional H
Comercial C1 C2 I.A Frente Lateral Fundos T.O
Serviços S1 S2
Industrial I1 I2 3,00 2,50 1,50 e Zero 2,50 60%
Institucional E1 E2
Fonte: PREFEITURA DE TERESINA, 2006. (Adaptado pelo autor).
65

12 - CONCEITUAÇÃO E DIRETRIZES DA PROPOSTA


12.1 – INTRODUÇÃO
O presente memorial tem como objetivo esclarecer a proposta do Centro de
Saúde Mental para a cidade de Teresina, Piauí, como parte do Trabalho Final de
Graduação, da Universidade Federal do Piauí. O local escolhido para o projeto se
localiza no Bairro Santa Maria da Coibi, que se situa fora do eixo urbano e proporciona
a tranquilidade e bem-estar que o projeto necessita, além do caráter plano e
dimensões do terreno que concede liberdade projetual.
12.2 – CONCEITO E PARTIDO
A base para o projeto é o conceito de conexão, na medida que as pessoas
com problemas mentais encontram dificuldades para se conectar com outras pessoas,
com ambientes físicos, e com situações e por fim, se conectar consigo mesmo, e se
entender. Um sub conceito do projeto é visibilidade, relacionada à visibilidade dos
portadores de transtornos mentais dentro da sociedade, e o distanciamento de
sensações de segregação e/ou confinamento.

O partido do projeto foi entender qual a melhor organização dos espaços e


como seriam as conexões entre eles, criando espaços com circulações bem definidas
de acordo com a atividade exercida nele, permitindo autonomia e liberdade dos
moradores de circularem por vários ambientes sem a sensação de clausura. Pátios
internos são elementos de conexão tanto física entre os espaços como conexão do
espaço construído com a natureza. Uma das intenções projetuais é permitir que os
moradores tenham a maior visibilidade de todos os ambientes, então todos os
espaços e aberturas foram projetados visando permeabilidade visual novamente para
reforçar a sensação de liberdade, tanta visão para o ambiente externo, quanto para
os pátios internos, conectando os usuários tanto com o interior quanto o exterior.

12.3– IMPLANTAÇÃO
O terreno no qual o projeto está inserido é localizado em uma esquina
proporcionando acessos por dois lados, onde a fachada principal está localizada
voltada para a avenida de maior fluxo, onde ficou disposto o acesso para funcionários
e estacionamento privativo, com entrada controlada para caminhões e veículos de
maior porte. Na porção da esquina foi implantado um estacionamento que serve tanto
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para os usuários e visitantes do centro quanto para a população que queria usufruir
dos espaços abertos, como praça de atividades físicas, quadra de esportes e pomar.
Na porção posterior foi colocado uma trilha sensorial como mais uma opção de
atividade terapêutica, esta, também aberta ao público porem com controle e
organização de responsabilidade do centro.

A separação entre o que é privado e público é feito por cercas, camufladas na


vegetação, permitindo transparência, sem criar a sensação de clausura, mas ainda
sim servindo como divisória e controle dos fluxos.
Na região do terreno oposta a avenida lateral foi separado um espaço destinado á
futuras expansões do centro

12.4 – PROGRAMA DE NECESSIDADES

O centro contará com 30 moradores fixos, valor decidido de acordo com as


recomendações da Portaria nº 251/GM, de 31 de janeiro de 2002, em relação a equipe
necessária para estruturas relacionadas a psiquiatria. De acordo com o documento
citado acima, a quantidade de usuários diários (contabilizando funcionionários e
moradores) será de aproximadamente 60 pessoas. Baseado nisto, o programa de
necessidade consiste:
O setor ambulatorial: 1 sala de avaliação médica, 1 enfermaria, 1 sala de
observação, 1 bloco de banheiros
O setor administrativo: 1 farmácia, 1 depósito de material de limpeza, 1 sala
de administração, vestiários (masculino e feminino) e 1 bloco de banheiros.
O setor de atividades, denominado de Espaço Dia: 1 sala de música e dança,
4 salas de avaliação individual,1 academia, 1 sala de artes, 1 sala multiuso, 1
biblioteca, 1 refeitório, 1 salão multiuso, 1 trilha sensorial, 1 pomar,1 bloco de
banheiros.
O setor de serviço: 1 lavanderia, 1 vestiário, 1 sala para nutricionista ,1
despensas, 1 despensa fria,1 deposito de utensílios, 1 local para lavagem, 1 cozinha
industrial.1 oficina, 1 depósito, 1 local para funcionário vigia, 1 apoio para horta
O setor íntimo, das unidades habitacionais, denominado de Espaço Noite:
onde se localizam as 30 unidades habitacionais todas com banheiro, sendo 2 dessas
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adaptados para Pessoas Com Deficiência (P.C.D), e um local para horta terapêutica
e espaços de convivência no pátio interno.

12.5 – SOLUÇÃO FUNCIONAL -- PLANTA BAIXA

O projeto consiste em um local destinado à moradia de pessoas com doenças


mentais oferecendo tratamento por meio de terapias ocupacionais diversas, além de
acompanhamento médico e ambulatorial, estruturado em três setores principais:
Avaliação Clínica - Ambulatorial, exercido através do acompanhamento
individual de Psicólogos e/ou Psiquiatras; tratamento inicial em casos de necessidade
de transferência para unidades hospitalares.
O Espaço Dia, área destinada ao tratamento vespertino e matutino com
atividades de e arte terapia, dança terapia, musicoterapia ioga e atividades físicas.
Destinado a pacientes que possuem dificuldade de lidar com fatores psicossociais e
necessitem de um tratamento mais dinâmico dos que ofertados no tratamento clínico-
ambulatorial, mas que, no entanto, não possuem critérios de internação integral;
Espaço Noite, é a área destinada aos dormitórios, que consiste em unidades
habitacionais individuais, com áreas de integração no pátio interno, além de uma horta
que estimula mais integração, e sentimentos de conexão e pertencimento, e de
utilidade para os moradores.
Primeiramente, o paciente passará pelo setor de avaliação física e psicológica,
aonde será avaliado suas condições e o tratamento mais adequado, propondo-se um
plano terapêutico, este constatará todas as atividades sugeridas pelos especialistas
que em conjunto com o indivíduo serão decididas e efetivadas no decorrer do
tratamento.
Como suporte geral, o centro contará com um ambulatório, que possui como
finalidade fornecer apoio médico, contendo farmácia, e salas de observação. É neste
ambiente que serão recepcionados casos mais graves enquanto aguardam
tratamento ou transferência para os hospitais destinados aos casos de internação.
Além de fornecer suporte para os pacientes do centro.

Áreas de lazer e integração serão dispostas no decorrer de toda a edificação,


investindo-se assim nos espaços abertos, arejados e iluminados, dotados de cor,
aromas, texturas, formas e vegetação que transmitam a sensação de bem-estar ao
68

usuário. A edificação apresenta dois pátios internos, um no espaço dia e o outro no


espaço noite. O centro conta ainda com as áreas de lazer e atividades externas, uma
praça para atividades ao ar livre, quadra de esportes, e um setor ao fim do terreno
onde se localiza os espaços destinados a atividades sensoriais, um pomar, e uma
trilha sensorial.

12.6 – CIRCULAÇÃO E FLUXOS

A entrada é marcada por uma pequena praça com vegetação que abriga
também ponto de ônibus facilitando o acesso ao local. O hall de entrada apresenta pé
direito duplo para fomentar a ideia de conforto visual e acolhimento. O primeiro pátio
interno faz a ligação da parte de avaliação médica e ambulatorial com o setor onde as
atividades terapêuticas ocorrem, proporcionando conforto visual e climático pela
presença da vegetação.
A área de festas que é utilizada também para atividades de relaxamento como
ioga e pilotes, serve como um eixo de ligação entre o bloco principal e o setor
residencial do centro. Esta área também é dotada de pátio interno com circulação
semicoberta, e apresenta espaços de convivência, interação social e uma horta, que
atua como atividade terapêutica, ajudando os moradores a criarem conexões
sentimentais e aumentar o sentimento de utilidade e pertencimento.

12.7 – SOLUÇÃO PLÁSTICA --- VOLUMETRIA E MATERIALIDADE

A composição da volumetria foi feita por meio de adição de volumes,


fortalecendo o conceito de conexões, alternando e intercalando alturas, onde por
exemplo, se fez uso de pé direito duplo, e um pé direito elevado em relação ao padrão
do projeto. Nos locais de maior aglomeração como biblioteca e refeitório, o pé direito
foi elevado junto com a altura das esquadrias, buscando melhor permeabilidade e
conforto visual.
Nas fachadas as aberturas são marcadas por caixilhos em concreto colorido, e
a mistura de texturas, como tijolo aparente, revestimentos em pedra, e paredes de
cobogó que são utilizadas para reforçar a ideia de visibilidade. As linhas do projeto no
bloco principal são predominantes retas marcando a forma, que contrasta com as
69

linhas inclinadas dos telhados na região residencial do centro, definindo também pela
forma a organização das funções dos espaços. As cores das fachadas são
predominantes neutras com exceção da parede da entrada principal, que contrasta
pela cor, juntamente com as diferentes texturas das fachadas.

12.8- ATIVIDADES
As terapias ocupacionais são o foco do projeto em relação a tratamento para
os pacientes/moradores. As atividades foram divididas entre externas e internas. As
atividades externas são as que estimulam o contato com a natureza, e o ar livre. São
estas a praça de atividades físicas, que estimulam a interação com o exterior, o pomar
e a horta apresentam funções parecidas, que é o contato direto com o solo, com as
plantas, e com a produção de alimentos, onde estimula a sensação de utilidade e
pertencimento dos usuários. A outra atividade ao ar livre, que também pode ser
acessada pelo público, é a trilha sensorial, que consiste em um percurso onde os cinco
sentidos são explorados, por meio de aromas, sons, texturas, paladar, e elementos
visuais, o percurso pode ser feito com a privação da visão para acentuar os outros
sentidos.
O projeto conta também com atividades internas, como aula de música e dança,
que estimula criatividade, exercícios de laços, assim como pode ser visto nas aulas
de artes e artesanato, focados em trabalhos manuais, que estimulam se a noção de
vínculos com as peças criadas por eles. O centro ainda conta com uma academia
interna e espaço de festas que é utilizado também para prática de ioga, já que é um
espaço onde as aberturas podem ser controladas de acordo com a atividade a ser
desenvolvida.
Em todos os espaços existe o contato com o exterior, por meio de grandes e
aberturas, criando laços fortes entre o espaço construído e o natural. Os pátios
internos e externos são pontos importantes do projeto, por isso a vegetação a ser
escolhida tem que ser de crescimento rápido e compatível com o tempo de obra,
sendo primordial que o plantio da vegetação seja o primeiro passo a ser realizado, já
que a vegetação é de grande importância para a totalidade do projeto.
Outro ponto importante é com relação às vegetações externas as janelas das
unidades habitacionais voltadas para a rua lateral, visto que existe um espaçamento
para que a visão das janelas não seja completamente obstruída e ainda assim
controlada, para não existir contato visual direto com a rua.
70

Abaixo estão listadas opções de árvores que foram selecionadas para o projeto:

MUTAMBO: Guazuma ulmifolia ABACATEIRO :Persea americana


GUAPURUVU: Schizolobium parahyba BANANEIRA : Musa sp
ANDÁ-ASSÚ: Joannesia princeps PÉ DE CARAMBOLA : Averrhoa carambola
PAINEIRA-ROSA: Ceiba Speciosa MANGUEIRA : Mangifera indica
ORELHA DE MACACO: Enterolobium PÉ DE ACEROLA : Malpighia emarginata
contortisiliquum JABUTICABEIRA : Myrcia cauliflora
SABOEIRO: Sapindus saponária
CHICHÁ DO CERRADO: Sterculia Chicha LARANJEIRA : Citrus sinensis
PALMEIRA CICA : Cycas Circinalis MAMOEIRO : Carica papaya
BROMÉLIA : Guzmania Lingulata PÉ DE MARACUJÁ : Passiflora alata L.
PATA-DE-ELEFANTE : Beaucarnea Recurvata MACIEIRA : Malus domestica
FALSA-VINHA: Partenocissus Tricuspidata ACÁCIA: Acacia farnesiana
GRAMA-ESMERALDA : Zoysia Japonica
12.9-FLUXOGRAMA
Figura 35– Fluxograma
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13 – ESPECIFICAÇÕES DE MATERIAIS
Este memorial apresenta as normas e especificações a serem seguidas de
forma integral e rigorosa na execução da obra do presente projeto Ao presente
Memorial, referente ao Projeto Arquitetônico, deverão ser acrescidos os Projetos,
Memoriais e Especificações elaborados por Escritórios Especializados e relativos à
Estrutura, Fundações, Instalações Hidráulicas, Elétricas e outros.

13.1 -TECNICAS CONSTRUTIVAS


Como técnica construtiva, foi utilizado o sistema de viga, pilar e lajes em
concreto armado, principalmente pela facilidade do trabalho e mão de obra
especializada no material. O fato da construção ser térrea, representa uma liberdade
em relação a estrutura, pelos esforços e cargas reduzidos, proporcionando espaços
com alternância entre abertos e fechados de uma maneira facilitada.

13.1.1FECHAMENTOS
Os fechamentos serão compostos por alvenaria de tijolos de seis furos
fabricados segundo a NBR 7170 e ensaiados segundo a NBR 6460 e ou sucessora,
implantados na menor dimensão, visando melhor desempenho seguindo as normas
estabelecidas na NBR 15575.Na cobertura na maior parte da construção foi utilizado
laje em concreto armado, com telha metálica termo acústica com 10% de inclinação e
calha metálica de 50 cm de largura e rufo em concreto e platibanda com pingadeira
metálica. As exceções são o salão multiuso, que tem como cobertura telha cerâmica
colonial com 15% de inclinação, seguindo as especificações indicadas. No espaço
noite, as unidades habitacionais apresentam cobertura em telha metálica com
inclinação de aproximadamente 20% e calha metálica de 40 cm.
Visando proporcionar melhor visibilidade, alguns fechamentos são marcados por
cobogós cerâmicos de 25cm x 25 cm, em azul, na tonalidade pantone 292 c.
Na região externa ao edifício, como pode ser visualizado no projeto arquitetônico,
existe uma cerca metálica, que serve como controle, com alguns pontos onde existem
portões, tanto a cerca quanto o portão são em aço galvanizado com fios de 4mm de
diâmetro com pintura na cor verde para facilitar a camuflagem na vegetação, com
especificações seguindo os desenhos técnicos.
72

13 .1.2 REVESTIMENTOS – PAREDES


Todas as paredes internas deverão ser chapiscadas com argamassa mista de
cimento e areia no traço 1:3. As paredes, após receberem o chapisco, serão
emboçadas com argamassa pré-fabricada no traço 1:3 e aditivada com
impermeabilizante. A argamassa deverá ser aplicada com camada de espessura
uniforme com no máximo 20 mm, fortemente comprimida e acabada com
desempenadeira de madeira e feltrada
O revestimento das paredes possui reboco liso regular; pintura acrílica com massa;
acabamento fosco. A cor da parede varia de acordo com o ambiente. Na parede
principal onde se localiza a entrada, o revestimento é na cor azul na tonalidade
Pantone 292 c, as paredes externas serão revestidas na cor branco neve.
As paredes deverão ser lixadas com posterior aplicação de 02 demãos de selador,
externas deverão ser pintadas com 02 demãos de látex acrílico na cor que depende
do ambiente. A parede principal ainda apresenta detalhes de 1,00 m x 1,00 m
revestidos em filetes de pedra São Tomé.

Devido a implantação no terreno, uma face do espaço noite ficou voltada para o Oeste,
sendo assim uma problemática em termos de insolação. Visando a solução desse
problema, e mantendo o conceito e partido de não proporcionar a sensação de
reclusão e aprisionamento, foi implantado uma parede de cobogó de 4 metros de
altura, após as arvores do canteiro, estas na cor verde seguindo a tonalidade das
cercas metálicas usadas como fechamento. A parede de cobogó servirá para barrar a
incidência direta do sol na fachada dos as unidades habitacionais voltadas para o
pente.

13 .1.3 - PISO
Todo o ambiente interno deverá ser executado piso que apresentem as
características de alto desempenho e resistência a intempéries, atender as normas
técnicas NBR 13.919, caráter antiderrapante com coeficiente de atrito < 0,40. Os
rodapés deverão ser de cerâmica do próprio piso e assentados com argamassa mista.

Para os ambientes internos e circulação no centro dia serão utilizados piso


vinílico em manta vinílica, antiderrapante, espessura de 2 mm, referência ‘’ Beaulieu
XL Pu Pumice’’
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Para as áreas molhadas (banheiros e cozinha e lavanderia) e para o piso nas unidades
habitacionais (juntamente com o banheiro) será utilizado piso vinílico em placas de
0,30 cm x 0,30 cm, espessura de 2 mm, referência ‘’ Piso Vinílico em Placa Tarkett
Paviflex Chroma Concept 920’’

Nas áreas externas de circulação será implantado pisos cimentados (CI) serão
feitos com argamassa de cimento e areia 1:3, com espessura de 3 cm, bem
desempenada.Deverá ser previsto um desnível entre as áreas interna e externa de no
mínimo 2 cm. Em todos os locais onde tem porta externa, deverá ser prevista uma
rampa suave de acesso na largura da porta. O piso de todos os ambientes deverá ter
caimento adequado de forma a permitir escoamento das águas de limpeza. Deverão
ser observados e executados desníveis de piso na área interna, conforme indicado no
Projeto de Arquitetura

13.1.4 - SOLEIRAS
Serão colocadas soleiras em granito “Siena”, de 3 cm de espessura, polido e
lustrado nos vãos para portas em que ocorre a troca do tipo de piso. Todas as medidas
deverão ser tiradas “in loco

13.1.5 - RODAPÉS
Nas áreas onde é utilizado piso vinílico o rodapé será de Poliestireno, em peças
de 1,6cm x 240cm x 7cm na cor branca. A fim de prevenir trincas e rasgos
principalmente em cantos, não se permitirá vazios sob as placas vinílicas

13.1.6 FORROS
Nas áreas do projeto onde existem lajes, as mesmas deverão ser lixadas com
posterior aplicação de 01 demão de selador. Após a preparação, o forro deverá
receber 02 demãos de pintura em látex PVA na cor “branco neve”.1.3
Nos locais indicados no Projeto de Execução, serão executados
forros de placas de gesso de .60x.60m, do tipo estruturado, de 12,5mm de
espessura, fixado à laje através de tirantes de aço galvanizado
74

13.1.7 - ESQUADRIAS:
As janelas são predominantemente de aço galvanizado com vidro laminado
(na cor natural) com batentes do mesmo material., para compor melhor as fachadas
as esquadrias eram envoltas em caixilho de concreto de 10 cm de espessura,
seguindo a tonalidade Pantone 292 c. Ainda visando melhor composição estética das
fachadas, entre as janelas está revestido com filetes de pedra São Tomé
As portas são predominantemente em madeira de 35 mm de espessura, de 1ª
qualidade, na cor branco neve revestidas em ambas as faces com folhas de
compensado de cedro de 3 mm, com requadro em todo o perímetro, miolo de material
aglomerado, fixadas com baguetes de madeira, conforme as dimensões do projeto
básico de arquitetura, excetuando a porta de entrada e dos ambientes de atividades,
que são feitas de alumínio (anodizado corrugado na cor natural) e vidro. com batentes
do mesmo material. Será fixada ao batente por meio de três dobradiças de 3 ½”x 3”
seguindo as dimensões do quadro de esquadrias.

Porta Corta-Fogo para saída de emergência do tipo de abrir com eixo vertical,
é fabricada segundo a NBR 11742/97, fabricada em chapa de aço galvanizado ABNT
número 24 (0,65 mm de espessura) com frisos horizontais, obtendo assim maior
resistência mecânica. As Portas para saídas de emergência devem permanecer
sempre fechadas, com o dispositivo de fechamento automático, e nunca trancadas a
chave no sentido de evasão (fuga). Seguindo dimensões presentes no projeto
arquitetônico

13.1.8 – MOBILIÁRIO
O Mobiliário é um ponto essencial em instalações destinadas a saúde em geral, e em
relação a saúde mental, são necessários alguns cuidados. Em relação ao material das
prateleiras, armários e cama, é recomendado materiais sem cantos pontiagudos que
possam oferecer perigo e possibiidade de acidentes, deve ser composto por material
resistente que não gere ruptura ,resultando em partes cortantes, deve ser
impermeável e resistente aos imprevistos que possam a acontecer quando se trata de
pacientes sem total controle de suas ações.
Um dos principais pontos em relação ao mobiliário a se considerar, é em relação a
roupa de cama, pois é o principal ponto de acidentes e suicidios, é necessário roupa
de cama , que não permita nós e dobras.
75

Figura 36 – imagem ilustrativa do mobiliário

13.1.9 - HORTA
A horta terapêutica a ser instalada, será localizada no pátio central do espaço
noite, entre as unidades habitacionais. Para maior praticidade na instalação, no
preparo e no plantio, as hortaliças a serem cultivadas serão implantadas em nichos
de madeira nas dimensões de 1,00 m x 4,00 m, dispostas na parte central do pátio.

O material necessário será adquirido em lojas especializadas, incluindo,


ferramentas, sementes, mudas e o adubo utilizado, o projeto conta com um local
próximo à horta para o armazenamento desse material. Fica a cargo dos funcionários
o manuseio e acompanhamento dos moradores quando estiverem exercendo as
atividades nas hortas.

13 .1.10 – TRILHA SENSORIAL


A trilha sensorial se localiza na parte posterior do terreno, e segue o projeto
conforme pode ser analisado nos desenhos técnicos, e consiste em um local
demarcado por placa de madeira feita com paletes, na altura de 1,50. E consite em
um percurso com 3 metros de largura, onde os usuários entraram em contato com
estímulos aos seus sentidos.

O percurso consistirá em pisos dos mais diversos materiais, pedras, areia,


cimento, água, vegetação. Além de contar com paredes revestidas por plantas, e
painéis como estimulo visual, além de contar com sistema de som para maior imersão
durante o percurso
76

14 – PERSPECTIVAS EXTERNAS
Figura 37 – Perspectiva fachada principal

Figura 38 – Perspectiva lateral

Figura 39 – Perspectiva praça e Espaço-Noite


77

REFERÊNCIAS

AMARANTE, P. O homem e a serpente: outras histórias sobre a loucura e a


psiquiatria. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,1996.

____________ (org.). Loucos pela vida: a trajetória da Reforma Psiquiátrica no


Brasil. Rio de Janeiro: Panorama ENSP,1995

____________ (org.). Psiquiatria Social e Reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro:


Editora Fiocruz.1994

AMARANTE, Paulo. Saúde mental e atenção psicossocial. Rio de Janeiro: Fiocruz,


2007

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria que estabelece diretrizes e normas para a


assistência hospitalar em psiquiatria, reclassifica os hospitais psiquiátricos, define e
estrutura, a porta de entrada para as internações psiquiátricas na rede do SUS.
Portaria/GM nº 251, de 31 de janeiro de 2002.
Disponível em: < http://www.inverso.org.br/index.php/content/view/4124.html>
Acesso em:19 de março de 2018

_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação


Geral de
Saúde Mental. Reforma Psiquiátrica e Política de Saúde Mental no Brasil.
Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

_______. Panorama e Diagnóstico daPolítica Nacional de Saúde Mental .Brasília


:Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: <
http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/04/2a-Apresentacao-CIT-
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_______. Saúde mental em dados. Brasília, 2015. Disponível em:


<http://https://saudeecosol.files.wordpress.com/2012/03/saude-mental-em-dados-12-
ms.pdf>. Acesso em: 10 apr. 2018
78

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