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POR UMA CIDADE SEM POLUIÇÃO

VISUAL
"A experiência em cidades como São Paulo e
Curitiba mostra que é possível disciplinar e ao
menos evitar abusos no que se refere ao uso de
espaços públicos para a publicidade", diz Gilmar
Piolla
Os gregos definiam a casa como o espaço privado, da família,
onde moramos e nos protegemos de fenômenos externos,
como a chuva, o vento, o calor e o frio. Um local que nos
serve de abrigo e onde a nossa vida Foto: Divulgação
Gilmar Piolla é jornalista, superintendente
afetiva acontece. Ao mesmo tempo, a de comunicação social da Itaipu Binacional
cidade era considerada a pólis, o e presidente do Fundo Iguaçu

espaço público, de todos e de uso


comum, onde exercemos a cidadania, praticamos a política e
compartilhamos os nossos sonhos em sociedade, com os
relacionamentos que constituímos.
Esta concepção prevalece desde a antiguidade. São espaços
que se relacionam e se complementam. Por isso, podemos
afirmar, categoricamente, que a cidade é uma extensão da
nossa casa, e que devemos amá-la e cuidá-la como se a nós
pertencesse.
Mas para manter Foz do Iguaçu limpa e bem cuidada, como
se fosse a extensão da nossa casa, precisamos despoluir a
paisagem urbana, que é um bem público, um patrimônio de
toda a coletividade. A poluição visual degrada a nossa
paisagem com um número exagerado de elementos que
bloqueiam a visualização das características básicas do
desenho urbano e de seus símbolos arquitetônicos,
paisagísticos, artísticos e naturais.
Entre os principais agentes causadores da poluição visual,
poderíamos citar os equipamentos de mídia externa, como
outdoors, front-lights, painéis, placas, faixas, cartazes e
tabuletas; as fachadas e letreiros de identificação dos
estabelecimentos comerciais; os equipamentos de mobiliário
urbano, como paradas de ônibus, cabines telefônicas, gradis,
quiosques, dentre outros. Também podem ser considerados
agentes poluidores alguns equipamentos de infraestrutura
básica que, quando existentes em excesso, com baixa
qualidade ou aplicados desordenadamente, acabam por
degradar a paisagem, como a fiação elétrica, cabeamentos
em geral, lixeiras, e até mesmo placas de trânsito.
Esta é uma realidade constrangedora perante os visitantes
que vêm conhecer os nossos atrativos turísticos e, ao mesmo
tempo, contribui para derrubar a autoestima dos
iguaçuenses. O que pouca gente sabe é que a poluição visual
é considerada crime ambiental, assim como a poluição do ar,
da água, do solo e sonora. Cabe ao poder público municipal
fiscalizar e fazer cumprir a legislação.
Os danos que a poluição visual provoca, no entanto, vão além
da estética e do atentado ao bom gosto. Estudos científicos
mostram que a poluição visual provoca estresse, fadiga
visual, cansaço, irritabilidade e dor de cabeça. Isto se deve
ao funcionamento do nosso mecanismo ocular, que possui
uma visão central e outra periférica. A central é responsável
pelo foco principal da visão, enquanto a periférica responde
pela percepção mais instintiva, quase subconsciente. Como
somos treinados desde pequenos a identificar e decodificar
as cores e certos códigos, como os alfabetos, quando nossa
visão capta alguma mensagem com esses códigos, o cérebro,
automaticamente, inicia o processo de decodificação,
interpretação e conexão.
Numa caminhada pela Avenida Brasil ou num passeio de
carro pelas rotas mais contaminadas com publicidade, em
Foz do Iguaçu, o cérebro vai atuar ininterruptamente
enquanto estivermos expostos ao excesso de informações.
Não será surpresa se a pessoa sair dali já com dor de cabeça,
por exemplo. E quem se expõe todos os dias e até várias
vezes ao dia a esta situação, poderá sofrer um problema
ainda mais sério.

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