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Pequena cartilha para o macho


disposto a pensar

Beijo forçado de um Oficial da


marinha americana comemorando o final da 2ª Guerra
POSTED BY: TAYLISI 4 DE MARCH DE 2016
Meu primeiro artigo do mês da mulher é direcionado aos homens.
Sim, aos homens. Vocês, homens dispostos a refletir sobre o
machismo, precisam urgentemente rever seus comportamentos.
Enquanto o feminismo e a ruptura com a violência machista não se
transformarem em práticas, estaremos muito longe da construção de
uma sociedade menos contraditória e violenta. E, quanto mais eu
convivo com os homens, mais eu percebo a importância de
insistirmos neste debate. Eu afirmo categoricamente que todo
homem é machista, pois foi constituído identitariamente assim. Mas
isso não significa que os homens não possam lutar contra isso – lutar
contra seus próprios impulsos e práticas cotidianas. Sabemos que já
há, na internet, muitos textos com este teor, qual seja, apontar
comportamentos machistas naturalizados na dinâmica social.
Contudo, convivendo com homens, acredito que nunca é demais
insistir nesse ponto, especialmente, quando notamos
comportamentos violentamente machistas em homens que não se
consideram machistas. Esta cartilha (não tão pequena), obviamente,
não é direcionada para os porcos chauvinistas, que, provavelmente,
são analfabetos estruturais ou funcionais. Como o próprio título já diz,
esta cartilha é direcionada para os homens que estão dispostos a
olhar para o próprio machismo e a pensar sobre isso. Assim,
repensando suas práticas, quiçá, possam se tornar menos violentos.
Apesar deste texto ser direcionado a todo e qualquer homem,
especialmente, dirijo-me a quatro tipos de homens: ao bonzinho
romântico, ao hipster descolado, ao esquerdomacho, e ao gay. Esses
são os principais tipos de homens que creem piamente não serem
machistas.  O primeiro é aquele que está sempre sonhando com um
amor pra vida toda, apaixona-se perdidamente, escreve poemas, dá
flores, até cozinha, é carinhoso e, muitas vezes, emocionalmente
dependente das mulheres. Ele não acha que é machista porque não
se vê maltratando uma mulher jamais… é o clássico “em mulher não
se bate nem com uma flor”… Todavia, não percebe que essas
relações pautadas nos clichês dos papeis de gênero, a projeção
eterna da mamãe na mulheres com quem se relaciona, a obsessão
afetiva, a atenção sufocante etc. são também formas de violência e
de machismo.  O hipster acha que é muita vanguarda, um sujeito pós-
moderno, além dos padrões conservadores da sociedade tradicional,
antenado, descolado, e, por isso, pensa não ser machista. Porém, nos
seus relacionamentos, reproduz a pior dinâmica de verticalização
sexista, principalmente, no campo sexual, e, embora não se ache
preconceituoso, ao vomitar suas pretensas verdades (pois é um
sujeito cheio de opiniões sobre tudo), deixa escapar no discurso um
monte de perversidades homofóbicas, transfóbicas e misóginas. O
esquerdomacho é, para nós, mulheres comunistas e feministas,
especialmente agressivo, pois promete ser um sujeito revolucionário,
avesso ao capital e aos padrões de reprodução da sociedade
burguesa. Então, tolas, acreditamos que o machismo está incluído em
sua pauta de lutas, mas não precisamos conviver mais do que meia
hora com ele para assistir ao pior comportamento machista possível.
O sujeito não se acanha de nos paternalizar, cortar nossa fala, nos
tocar e elogiar nosso corpo enquanto estamos concentradas numa
discussão teórica ou na militância… Sério, não precisa ir nada longe…
O machismo do esquerdomacho é tão drástico e óbvio, que ele não
costuma nem lavar uma louça… Por fim, e muito importante, entre os
homens que não se veem como machistas, está o gay. Simplesmente
por haver rompido com a imposição heterossexual de uma sociedade
machista, o gay acha que não é machista. Ledo engano. Para
começar, romper com o padrão heterossexual não é romper com o
binarismo e a heteronormatividade. A imensa maioria dos gays não
suporta homens afeminados, pois o feminino é visto como inferior e
depreciativo. Além disso, muitos declaram ter nojo do corpo feminino.
Há maior misoginia que isso? Eu escolhi esses tipos porque acredito
que podem abranger pessoas realmente dispostas a pensar sobre
isso e a se tornarem machistas em desconstrução. Então, veja pelo
lado bom: se você, homem, identificou-se com um ou mais destes
tipos, eu acredito que você possa estar disposto a pensar e a rever
seu machismo. Se não, quem sabe você também não possa ser um
sujeito que pensa? Que tal tentar ler esta despretensiosa cartilha?
Mas um aviso: se você discordar de algum item abaixo, achando que
o que eu apontei como machismo não é machismo, mais um motivo
para você repensar seus comportamentos, pois isso só provará o
quanto você é machista sem se dar conta disso. Então, para te ajudar
nessa empreitada, aqui estão algumas breves dicas comportamentais
para você começar a aplicar hoje:
1 – Ouça às mulheres! Não é à toa que escolhi este como o
primeiro conselho. Claro que é fundamental você aprender a ouvir a
fala de uma mulher sem fazer interrupções, levantar a voz grave
sobre ela, assumir um tom professoral no discurso, e ignorar ou
ridicularizar o que ela está dizendo. Reconhecer a existência e a
importância de outra pessoa passa pela escuta da fala em primeiro
lugar. Isso é alteridade. Mas veja que eu não escrevi “ouça as
mulheres”, e sim “ouça às mulheres” de propósito, pois quero que
você entenda esse ouvir como prestar atenção. Atente à fala feminina
e respeite seus conteúdos, pense sobre o que ela diz, pondere, reflita.
E, no caso de uma feminista falando sobre feminismo e machismo,
ACATE. Isso mesmo! Quando uma feminista te disser algo sobre o
feminismo, você não tem como discordar, pois você não é mulher.
Respeite a vivência de quem sofre os processos de opressão e
violência. Você não tem que dar sua opinião sobre o feminismo. Se
você acha equivocada alguma abordagem, ou muito radical, guarde
para você. Aceite que, pelo menos em um assunto do mundo, o
protagonismo não é seu. Seu papel diante da agenda feminista é tão-
somente apoiar. Só! Se você não é capaz de apoiar, não se manifeste.
Se as feministas estiverem debatendo entre elas, não se meta. Não
se aproprie de discursos de mulheres antifeministas para ancorar seu
machismo. Fique na sua e deixe as minas debaterem entre elas.
Quando uma mulher te disser que algo é machista, uma fala, um
comportamento, uma imagem, ACEITE. Não tente rebater, pois você
estará apenas defendendo o machismo. Se for uma fala ou uma
atitude sua, ouça, não diga nada, vá para casa e reflita. Quem sabe
você é capaz de mudar… Apontarei alguns comportamentos
machistas abaixo. Se você discordar, achar que estou exagerando,
que isso não é machismo, APENAS PARE. Volte, releia, aceite que isso
é machismo e pense a respeito, ok?
2- Mude sua linguagem! Não se dirija a um grupo de pessoas que
incluir mulheres no masculino. Por exemplo: “boa noite a todos”.
Diga: “Boa noite a todas e todos”. Professor, diga: “minhas alunas e
meus alunos”. E assim por diante. Ao escrever informalmente, temos
os recursos do x e da @: todxs, amig@s, alunxs etc. Ao se referir a
pessoas trans, além de usar o nome social, utilize os artigos,
pronomes pessoais e adjetivos na flexão de gênero adequada. Por
exemplo, “Tammy é muito corajoso” ou “A Laerte é linda”.
Aproveitando: respeite a identidade de gênero, moço. Mulheres trans
são MULHERES (feministas que discordam disso, aguardem meu
próximo texto, obrigada). A linguagem é uma prática cultural
assentada que revela valores. Não é algo gratuito e banal. Se a língua
portuguesa é machista, isso é reflexo do machismo das sociedades
lusófonas. Não precisamos reproduzir isso, podemos mudar nossas
práticas de linguagem, ok?
3 – Não faça piadas machistas! Preste atenção nos discursos que
objetivam perpetuar dominação e violência. A piada é um artifício
importante do machismo, e precisamos combatê-la. Não faça piadas
de mulheres, loiras, “bichas”, travestis etc. Sequer reproduza esses
conteúdos. Repudie filmes e músicas com esse apelo.
4 – Não ria de piadas machistas! Se outros homens fizerem piadas
machistas, demonstre seu incômodo. Não ria para socializar com
outros machos. Esse é o comportamento social que sustenta, por
exemplo, a cultura do estupro. Quem ri é tão vil quanto quem faz a
piada. Seja intransigente e aponte a violência do seu coleguinha e/ou
retire-se da conversa. Se for a TV, mude de canal. Se for a
propaganda de um produto, evite seu consumo.
5 – Não julgue uma mulher pela roupa! Não julgue o caráter de
uma mulher pela roupa que ela veste. Se é curta, decotada,
justa, não significa um convite ao assédio. De outro lado, se a roupa
dela não é nada disso, não significa que a mulher é celibatária. Não
exija que a mulher seja feminina, usando roupas delicadas ou
provocantes, maquiagem e acessórios, e, de outro lado, também não
ache fútil uma mulher que usa tudo isso.  Cada mulher se expressa
esteticamente como bem entende e isso não revela sexualidade,
caráter, politização, erudição ou inteligência.
6 – Não faça comentários sobre a aparência das mulheres! Se
a sua opinião não foi solicitada, nunca diga a uma mulher nada sobre
a aparência dela. Comentários negativos são uma forma de abuso
psíquico sério. Comentários positivos são assédio. Apenas elogie uma
mulher se você realmente tiver intimidade para fazer isso. Não
comente sobre a aparência de uma mulher com outras pessoas,
principalmente, com outros homens. Essa é a clássica reificação do
corpo feminino, que transforma a mulher num objeto para fruição
masculina.
7 – Não assedie as mulheres! Não mexa com mulheres na rua!
Jamais! Não aborde uma mulher desconhecida em lugares públicos,
exceto se ela deixar bem claro, com olhares, sorrisos e gestos, que
está receptiva à sua abordagem. Não pergunte nome, nem peça
contatos, a não que que você já tenha desenvolvido uma conversa
respeitosa com uma mulher que esteja confortável em falar com
você. Nunca simplesmente chegue em ninguém, não incomode um
grupo de mulheres interagindo, não se intrometa em conversas de
mulheres sem ser solicitado. Não faça elogios gratuitos, não cante
ninguém. Não dê presentes, flores, chocolates, a não ser que esteja
em um relacionamento. NUNCA peça beijos, toques, afagos, abraços,
sexo, a não ser que esteja em um relacionamento, e, mesmo assim,
cuidado com a linguagem e a dinâmica relacional para não ser
opressor. Nunca xingue mulheres, cis ou trans, principalmente, com
ofensas tipicamente machistas, como “puta”, “vaca”, “vadia”,
“vagabunda”, “traveco” etc. Não trate sua companheira como sua
propriedade. Ciúme é algo para ser tratado no consultório do analista.
Se você é ciumento, saiba que isso não é normal… Além de
machismo, é patologia psíquica. Procure ajuda urgente!
8 – Faça serviços domésticos! As mulheres não estão no mundo
para te servir, não são suas babás, cozinheiras e faxineiras naturais.
NÃO ESCRAVIZE sua mãe ou sua companheira! Se você não sabe
cozinhar, aprenda urgentemente. Toda pessoa precisa desenvolver
essa competência mínima de subsistência. Faça tarefas domésticas
espontaneamente, sem que ninguém precise te pedir ou te sugerir
isso. É simples: bagunçou, arrume; sujou, lave. Não tem tempo?
Ninguém tem, mas, na sociedade machista, as mulheres são
obrigadas a arrumar, e vivem uma dupla, ou tripla jornada de
trabalho. Não é saudável viver na sujeira e na bagunça, então, tenha
iniciativa imediata de arrumar e limpar.  Não naturalize a função
doméstica feminina. Se você vir uma mulher realizando alguma
tarefa, comece a ajudar imediatamente. Cozinhe, lave sua roupa, e
faça faxinas mais pesadas semanalmente. Uma dica: não passemos
roupas, homens ou mulheres, porque isso é um desperdício de tempo
e energia, galera. Mas, se você não conseguir e for um engomadinho,
passe sua própria roupa. Se você morar com outras pessoas,
independente do gênero, poderá organizar uma escala de
responsabilidades.
9 – Seja pai!  Se uma mulher engravidar e você for o pai, saiba que a
decisão de ter ou não x bebê é dela. A gestação é no corpo dela, o
impacto mais significativo será sobre a vida dela, então, aceite que a
decisão é dela e apenas a apoie integralmente naquilo que ela
decidir. Não quer passar por isso? Preservativo. Nem preciso falar
sobre aborto masculino, né… Mas vamos lá: não abandone seus filhos
e suas filhas. Se você já tiver filhxs, ou pretende ter, saiba que ser pai
não é só contribuir financeiramente ou estar presente apenas na hora
de bagunçar e brincar. Não banque o amigo bonzinho, deixando para
a mãe o papel exclusivo de formar. Cuide dos seus filhos e das suas
filhas. Troque fraldas, dê banhos, cuide quando ficar doente, limpe a
baba e o nariz, repreenda, ajude na lição, ouça, ensine, aconselhe.
Seja um pai presente. Não discrimine seus filhos e filhas, não dê
vantagens aos meninos, não controle excessivamente as meninas,
não dê brinquedos diferentes, não castre sexualmente suas filhas,
não fiscalize a roupa das garotas, não impeça que elas namorem, não
incentive seus filhos a tratarem mulheres como objetos, e respeite a
identidade gay ou trans de suas filhas e filhos.
10 – Responsabilize-se pela contracepção! Se você se relaciona
sexualmente com mulheres cis, saiba que a obrigação de evitar filhos
não é delas. Os anticoncepcionais interferem na regulação hormonal
do corpo feminino, pelo que muitas mulheres não se sentem bem
com seu uso, porque realmente causam efeitos colaterais danosos, ou
simplesmente porque a mulher pode considerar essa interferência
artificial uma violência biológica. Não é uma obrigação da mulher
tomar anticoncepcional, ela pode simplesmente não querer fazer isso
e ponto. Nesse caso, se você não deseja ter filhos, use preservativo –
que também previne aids e dst´s. Não banque o moleque mimado,
dizendo que “transar com camisinha não tem graça”, que “é como
chupar bala com papel” e, depois, obrigue a mulher a tomar uma
pílula mais agressiva ainda, que é a pós-coito. Quem faz isso, além de
machista, é imaturo e cruel. Se um homem e uma mulher fazem sexo
sem camisinha, ambos sabem as consequências que daí podem advir
e as devem assumir em conjunto. Não é a mulher que tem que se
virar com isso sozinha, ok?
11 – Sexo não é agressão! Nem preciso dizer que não é não, certo?
Se uma mulher disser não, estiver muito bêbada e/ou drogada,
dormindo… ou seja, se de qualquer forma não consentir
expressamente, é estupro, mesmo que ela seja sua companheira ou
uma profissional do sexo. E, só pra reforçar: nenhuma mulher quer
ser estuprada, e meramente insinuar isso é o que de mais atroz pode
haver na misoginia. Combata a cultura do estupro, começando pela
linguagem. Nuca force a mão ou a boca de uma mulher para o seu
pênis. Quando for fazer sexo com alguém, não bata, não aperte, não
puxe o cabelo, não morda, não prenda, e não penetre vagina ou ânus,
a não ser que haja expresso consentimento.  Ainda assim, é preciso
ter cautela, pois pode haver vício nesse consentimento, devido à
própria natureza de uma relação desigual entre homem e mulher.
Então, a priori, busquemos relações mais simétricas. E, sim, é preciso
conversar sobre sexo, e ter autorização para essas práticas. O melhor
seria conseguirmos orientar nossas pulsões fora dos clichês
machistas e dos papeis de gênero, porém, como muitas e muitos de
nós ainda estão atados a isso, até mesmo para adotar uma posição
sexual que implica subjugação, converse antes a respeito.
12 – Não reifique a mulher! Nunca trate as mulheres como objetos.
Repudie  eventos como feiras de automóveis e motocicletas, em que
as mulheres são expostas ao lado das máquinas. Não consuma
propagandas como aquelas em que mulheres são vendidas ao lado de
cervejas, desodorantes etc. Uma mulher não é uma coisa, então, não
carregue uma mulher como se fosse um troféu ou chaveiro.
Apresente-a para as pessoas com quem você cruzar, e a deixe livre
passa socializar independente de você nos ambientes. Numa roda de
conversa com várias pessoas, não ignore a presença das mulheres,
dirigindo-se apenas aos homens. O mesmo vale para palestras, aulas,
reuniões, mesas de bar etc. NUNCA suponha que uma mulher é
menos capaz intelectualmente que homens ou que não pode realizar
as mesmas tarefas, ainda que dependam de força física. Não pense
que o corpo da mulher é um objeto na prateleira para ser consumido
ou não por você. Então, numa festa ou balada, pare de olhar cada
uma delas, apenas pensando “essa eu como; essa eu não como”,
“caçando presas”. Quem te disse que elas estão à sua disposição
para serem comidas? Só esse olhar já é uma violência, ok? Jamais
pense que a sexualidade lésbica é um espetáculo para o seu deleite.
Respeite o sexo e amor entre mulheres e saiba que você não foi
convidado. Não opine sobre aborto. O corpo da mulher não é uma
coisa que pertence a você, à sociedade ou ao Estado. Você não tem
útero, então, apenas escute e apoie o que as mulheres têm a dizer
sobre isso. Se você é gay, pare de dizer que tem nojo de vagina, isso
é extremamente violento. Seja feliz como gay, mas pare de erguer
um altar ao pênis, ao macho, a machos que amam machos como
maior expressão da evolução humana. Falocentrismo é misoginia. Se
você é hétero, não trate a mulher como um orifício, e aprenda a
compartilhar prazer com outra pessoa subjetivada na relação sexual.
13 – Não seja um cafajeste! Não seduza mulheres apenas para
obter sexo ou alimentar o seu ego. Se você pretende apenas fazer
sexo casual, saiba que muitas mulheres também possuem essa
intenção. Então, basta deixar isso claro, negociar os termos da
relação, e compartilhar prazer. Inclusive, é muito saudável ter alguém
em quem a gente confia e a quem a gente respeita para fazer sexo
de vez em quando e manter uma boa amizade. Então, não tenha
medo de manter contato com as mulheres com que você sai.
Ninguém vai aparecer na sua porta de véu e grinalda por isso. Pensar
que as mulheres sempre são carentes, frágeis e querem arrumar um
marido é muito machismo. Não pense que você é o tal porque sai por
aí “comendo” mulheres e sequer manda uma whatsapp no dia
seguinte. Provavelmente, a maioria delas também só queria te comer,
e você foi só um babaca incapaz de agir como uma pessoa adulta e
honesta, esclarecendo suas intenções. Justamente por isso, não
julgue mulheres que fazem sexo nos primeiros encontros, ou até
mesmo com desconhecidos. Isso é um machismo tosco e piegas.
Bem, se você acha que existe mulher para comer, e mulher para
casar, nem devia estar lendo este texto, pois não dialogo com gente
assim… Pare de fiscalizar a conduta (inclusive sexual) das mulheres.
Se você quiser sexo, basta deixar isso claro, e não tratar o corpo da
mulher como um orifício. Uma dica: melhore nas preliminares, porque
o que mais tem no mundo é homem ruim de cama. Agora, se você
promete amor e afeto a uma mulher para obter sexo, então, além de
machista, você é mau caráter. Não precisa disso, moço! Não magoe
pessoas voluntariamente. Melhore!
14 – Politize suas escolhas afetivas/sexuais! Gosto se discute
sim! Vamos repensar isso? Você pode acreditar que prefere mulheres
magras a gordas, ou homens másculos a afeminados por uma
questão de gosto, mas isso está longe de ser verdade… Gosto não é
simplesmente uma pulsão voluntária numa sociedade em que todos
os parâmetros estéticos são dados pela indústria cultural para
reproduzir o capital e a sociedade burguesa. Pense bem nisso. Para os
hétero, preferir mulheres brancas, magras, sem pelos, e “femininas”
faz parte da construção de uma sociedade eurocêntrica e racista, que
fiscaliza o feminino para subjugá-lo. A magreza é um parâmetro
estético extremamente difícil de ser alcançado, muitas vezes,
antibiológico, para mobilizar o consumo na lógica do capitalismo. A
indústria apresenta mulheres photoshop e isso domestica o desejo
dos homens. Tudo isso também está atrelado à reificação da mulher,
que deve ser uma boneca do prazer masculino, e à opressão de
princesinhas caladas, submissas e perfeitinhas.  Os esquerdomachos,
que se dizem tão revolucionários, só se apaixonam por barbies com
camiseta do Che Guevara… Que tal politizar suas escolhas e começar
a escolher parceiras pelo que oferecem enquanto pessoas? Gordas,
negras, masculinas… E, para os gays, preferir homens brancos,
musculosos, ricos, bem-sucedidos e másculos, além de racista e
caudatário dos padrões artificiais inalcançáveis da indústria cultural, é
o culto ao macho winner na sociedade machista-capitalista. Essa
predileção por homens não afeminados não é uma questão de gosto,
mas uma negação do feminino enquanto algo poderoso e atraente. É
a reafirmação de que o feminino é pior, inferior, feio, ridículo e fraco.
Gay, pense sobre isso… E viva a afeminada, a louca, a pão com ovo, a
bicha, a bichinha, o viado, as travestis!
15 – Rompa com papeis de gênero opressores! Quebrar o
binarismo é um excelente exercício de combate cotidiano ao
machismo. Comecemos por coisas óbvias, como não dar coisas azuis
e carrinhos para meninos, e bonecas e coisas rosas para as meninas.
Não achem que há trabalho de homem, como ser piloto, ou de
mulher, como fazer faxina… Todas as pessoas podem fazer todas as
coisas… Não fiscalizem mulheres que se sentam de pernas abertas,
enchem a cara, falam alto, e gritam muitos palavrões… Vão pra rua
ao lado das vadias apoiar sua marcha e garantam sua integridade na
luta quando elas mostrarem os seios. Depilem-se caso se sintam
melhores sem pelos e admirem mulheres que gostam de ficar
peludas. Apreciem a beleza do excesso de maquiagem ou da total
ausência dela. Reconheçam a beleza da pessoa, esteja uma mulher
de moletom ou mini saia, chinelo ou salto agulha… porque julgar
mulheres que usam maquiagem e salto agulha também é machismo,
ok? Respeitem mulheres que gostam de se embriagar ou que não
bebem nada, que fumam ou não, que comem muito ou pouco… E se
a mulher quiser mastigar de boca aberta e arrotar? Soltar pum? Se
achamos feio porque faltam o charme e a elegância da burguesia,
que os homens também sejam julgados e repreendidos por toda a
sociedade ao fazerem coisas do tipo! Faço, então, aqui um chamado:
homens, usem saia em dias e calor! Vocês verão o quão libertária
pode ser essa básica ruptura com o binarismo… Saiaço! Gay ou
hétero, não importa… Coloque um salto alto e saia por aí numa
noite… Monte-se, faça uma maquiagem leve num dia, uma
maquiagem drag numa festa qualquer… Aliás, usem base no dia-dia,
corretivo, pó… é uma maravilha pra quem tem olheira, marcas na
pele…  Façam as unhas se der vontade… Por que não? Coloquem
espartilho, meia-calça, cinta-liga, calcinha… Aquendem a neca uma
vez na vida! Homem, chore em público, bem alto, soluçando, abrace
seus amigos, seu pai, seus irmãos, diga-lhes que os ama… Se for
hétero, experimente dar selinhos em outros homens, ou beijos de
língua, talvez… Diga que tem medo, que quer colo, que não gosta de
ficar sozinho. Dance, rebole, requebre, desmunheque… Enfim, liberte-
se do machismo!
Uma mulher é vítima de estupro a cada 11 minutos no Brasil, conforme o último
Relatório Brasileiro de Segurança Pública de 2015. Porém, se os dados de saúde foram
incorporados, pode-se dizer que uma mulher é vítima de estupro a cada minuto. Santa
Catarina, que já ocupou a terceira posição em estupros no país, é atualmente o quinto estado
em duas situações, tanto em números absolutos de ocorrências, 2.878 casos, quanto nas
maiores taxas de estupro para cada 100 mil habitantes, com índice de 42.8%. A quantidade de
vítimas, porém pode ser muito maior, se levarmos em conta que os casos geralmente são
subnotificados.

Duas mulheres jovens de idades muito próximas foram vítimas de estupro coletivo quase no
mesmo dia, nos estados do Piauí e no Rio de Janeiro. Há um ano, também no Piauí, quatro
adolescentes foram estupradas torturadas e tiveram seus corpos mutilados, uma delas morreu.
Não estamos na Índia, tampouco no Paquistão. Estupros coletivos acontecem no Brasil e no
mundo. Onde há “machos” há estupro, piadas sobre estupro, feminicídio, culpabilização da
vítima, violência doméstica, criminalização do aborto e formas visíveis e invisíveis de
domesticar, controlar e violar os corpos das mulheres. Isso porque numa sociedade patriarcal
mulheres são propriedades dos homens, do Estado e da igreja _ sendo esses dois últimos
também dominados por homens.
O estupro é a exacerbação de toda uma violação cotidiana, permitida, banalizada e
naturalizada de tal forma que se torna imperceptível. O estupro não se encerra no ato. Ele
persiste no questionamento sobre a “índole” da vítima. De acordo com a roupa que a mulher
usava, seus hábitos e comportamentos, é possível para essa sociedade deduzir facilmente que
ela se insinuou ou, no mínimo, se expôs ao risco. Apesar de ter mais de 200 anos, o perfil
“bela, recatada e o lar” ainda é o filtro que define as que merecem ou não serem estupradas no
Brasil.
Os casos de estupro coletivo, especialmente do Rio de Janeiro, “chocam o Brasil” - como trata
a mídia. Os ânimos ficam à flor da pele, alguns pedem execração em praça pública, outros
tratam logo de se distinguir dos “machos” que estupram - porém sem abdicar de sua macheza,
afinal, ela é mantenedora de sua dignidade, enquanto ser viril.
Catarinas se solidariza com essas vítimas e questiona: não havia um homem entre os 33,
capaz de um gesto de humanidade? A resposta dada pelos fatos reforça a ideia do coleguismo
entre machistas incapazes de refletir sobre sua condição, em especial no momento de domar e
humilhar sua “fêmea”.
O machismo eleva o homem a um patamar de poder e supremacia sobre as mulheres. Para
essa cultura, homens têm instintos incontroláveis, especialmente sexuais. Esses são rudes e
não choram. Não brincam de boneca. São feitos para a guerra. Não lavam a louça e não
cuidam de crianças. São servidos na casa e na cama. Forçam suas mulheres a manterem
relações sexuais, mesmo sem o desejo delas. Acham justo que possam ter relações
extraconjugais, assim como aceitam, mesmo que veladamente, a morte de mulheres por seus
maridos numa situação de relacionamento extra-conjugal.
Não incluir o gênero no ensino das escolas é uma forma de não interferir na formação desses
homens misóginos e machistas e, assim na sociedade que aceita a cultura do estupro. A
Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres,
adotada pela resolução da Assembleia Geral da ONU em 1979, e ratificada pelo Brasil em
1984 reconhece que “é necessário modificar o papel tradicional tanto do homem, quanto da
mulher na sociedade e na família”. Uma das medidas acordadas é a “eliminação de todo
conceito estereotipado dos papéis masculino e feminino em todos os níveis e em todas as
formas de ensino”.
Outros acordos se seguiram em esforços mundiais para eliminar todas as formas de
discriminação. Recentemente, os países membros da ONU se comprometeram em garantir a
igualdade de gênero com a implementação da Agenda 2030.
Mesmo tendo assinado e se comprometido com os documentos, o Brasil está na contramão.
Além de não pautar o ensino, a perspectiva de gênero foi eliminada até mesmo do extinto
Ministério das Mulheres. O gênero é uma palavra que causa repulsa em legisladores e
religiosos. Esses têm o respaldo de pais que querem que seus filhos cresçam saudáveis e
“machos”. A machocracia é um legado da tradicional família judaico-cristã brasileira e mantê-lo
é uma questão de honra.
A machocracia não quer perder privilégios. Os estupradores não são monstros ou doentes, são
homens.
Há uma expectativa da sociedade do justiçamento que esses homens sejam presos e
transformados em “mulherzinhas” por outros “machos”. E assim, segue o ciclo das violências, a
concreta no caso covarde contra os vulneráveis dentro da prisão e a simbólica no discurso que
naturaliza o estupro contra mulheres.
Simone de Beauvoir conhecida por sua frase “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, avaliou
seu primeiro livro “O segundo sexo” depois de lançado e disse que acrescentaria a frase “Não
se nasce homem, torna-se homem”.
“Machos” estupram porque estuprar é coisa desse homem construído socialmente para
subjugar e odiar a mulher. Uma sociedade, cuja ideologia dominante é o patriarcado e cuja
cultura é machista e misógina, produz estupros. A barbárie é senão produto da civilização
machista.
Fonte: Catarinas

5 jeitos de desconstruir a criação


machista dos filhos – Você não precisa do
órgão genital para fazer tarefas
domésticas
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Esta postagem foi publicada em 15 de agosto de 2017

“A mulher pode ser definida como um


homem inferior.”
“Se o homem dissesse uma coisa e a mulher outra, a vida seria uma desgraça. Só o
homem deve dizer algo, e a mulher se dispor a fazê-lo.”
“Além de casar, o que a mulher mais gosta é de ser enganada de vez em quando.”
Frases como essas são proferidas o tempo inteiro pelos homens da nossa sociedade.
Você poderia dizer que são homens ignorantes, sem estudo, certo? Errado. A primeira
frase foi proferida por Aristóteles, filósofo grego e um dos maiores pensadores de todos
os tempos. Então você poderia dizer que são frases ditas por homens afastados da
espiritualidade, certo? Errado. O autor da segunda frase é ninguém menos do que
Mahatma Gandhi. Então são frases ditas apenas por homens, ponto. Certo? Errado. A
última frase pertence à autora Jane Austen.
Comportamentos machistas são fruto da construção da identidade feminina e masculina
ao longo da História da humanidade. Especialista em saúde da mulher, a professora da
USP Rosa Maria Fonseca, explica em artigo esse processo:
“Ao que indicam os estudos sociológicos e antropológicos, foi na sociedade de caça aos
grandes animais que se iniciou a supremacia masculina.”
Isso porque enquanto os homens saíam para caçar, as mulheres ficavam “em casa”
cuidando dos filhos.
Fonseca ainda destaca que “é provável que a dominação masculina tenha tido uma
origem lenta e gradual e tenha transformado as relações entre homens e mulheres à
medida que a divisão sexual do trabalho os separava cada vez mais”.
Hoje em dia, muitos pais e mães reforçam comportamentos machistas na criação de seus
filhos, repetindo o modo como foram educados. Estimulam hábitos e pronunciam frases
que vão naturalizando nas crianças a repetição desse padrão.
“Isso é coisa de menininha”, “esse aí vai dar trabalho, vai ser pegador”, “menina tem
que ajudar a mãe a cuidar da casa” e muitas outras frases que já estão enraizadas na
nossa cultura, fazem parte do cotidiano de muitas crianças, que vão introjetando e
repetindo essa conduta.
Em consequência dessas atitudes dos pais, muitos meninos crescem achando normal
objetificar mulheres e muitas meninas crescem achando normal serem objetificadas. A
naturalização desse comportamento machista, autorizado e ensinado pelos próprios pais,
é um dos principais motivadores da violência contra a mulher. De acordo com o Mapa
da Violência 2015, foram 4.762 mortes de mulheres no Brasil, em 2013, o que equivale
a 13 homicídios diários, pelo simples fato de ser mulher.
A Organização Mundial da Saúde coloca o Brasil em 5°lugar entre os países que mais
matam mulheres, com uma taxa de 4,8 homicídios por 100 mil mulheres. Para protegê-
las dessas estatísticas, autoridades vêm desenvolvendo campanhas e políticas públicas.
Em março de 2015 foi sancionada a Lei do Feminicídio. É considerado feminicídio o
assassinato em que há violência doméstica e familiar ou quando há evidência de
menosprezo ou discriminação à condição de mulher, caracterizando crime por razões de
condição do sexo feminino.
A Plan Brasil, ONG que defende os direitos das crianças, jovens e adolescentes,
realizou uma pesquisa com 1.771 meninas de seis a 14 anos em todas as regiões do
Brasil e descobriu a disparidade entre a distribuição das tarefas domésticas entre
meninos e meninas. Enquanto 81,4% das meninas arrumam suas camas, apenas 11,6%
dos meninos realizam essa tarefa. Entre as meninas, 76,8% lavam a louça e 65,6%
limpam a casa. Já entre os meninos, 12,5% lavam a louça e 11,4% limpam a casa. Outra
tarefa predominantemente destinada às meninas é a de cuidar dos seus irmãos: 34,6%
são responsáveis por essa função, contra 10% dos meninos.
Para confrontar esses padrões, o HuffPost Brasil lista para os pais cinco modos de
desconstruir a criação machista das crianças:

1. Órgão genital não lava louça


A pedagoga e educadora sexual Caroline Arcari enfatiza que “não precisa do órgão
genital para fazer tarefas domésticas”. Ela desenvolve projetos para crianças e
adolescentes com o objetivo de desconstruir o estereótipo da princesa submissa e do
herói agressivo e dominador. Arcari enfatiza a importância de não segmentar atividades
e brincadeiras entre “coisas de menino” e “coisas de menina”. Segundo a pedagoga, é
importante deixar que os meninos desenvolvam empatia, sensibilidade e permiti-los
chorar, assim como deixar a menina jogar futebol, porque fortifica a personalidade delas
em direção à igualdade.

2. Ele pode brincar de boneca, sim


Arcari ressalta que “muitas vezes, os meninos têm vontade de brincar com boneca, mas
não brincam, porque isso seria reprovado pelo grupo de colegas da mesma faixa etária e
também pelos adultos. Então, ao longo dos anos, eles vão tomando esses espaços, que
não são espaços saudáveis”.
Já a blogueira Pâmela Ghilardi, do blog Fofoca de Mãe, ensina seu filho Luca, de 5
anos, a brincar e realizar tarefas sem distinção de sexo. “O meu filho brinca de Barbie e
de Hello Kitty, assim como ele brinca de super-herói e carrinho. Outro dia, ele queria
uma cozinha de brinquedo e só tinha na cor rosa. O pai falou que não ia deixar e tive
que convencê-lo”, conta.
Conforme explica o psicólogo infantil Ricardo Gonzaga, “as crianças só vêem um
brinquedo, os adultos que atribuem significado de diferenciação das brincadeiras por
sexo. As crianças não vêem maldade nenhuma no brincar; elas não têm malícia”. Por
sua vez, os adultos estão o tempo todo repreendendo as crianças por explorarem
brinquedos que não consideram apropriados para seu sexo.
Pâmela enfrenta situações do dia a dia em que precisa explicar para os adultos sobre o
jeito de educar seu filho. Numa festa de aniversário, Luca juntou-se às amigas gêmeas
para brincar de boneca, quando sua madrinha disse que não podia deixar, que menino
tem que brincar de carrinho. “Eu disse: estou ensinando ele a cuidar de um bebê no
futuro, a ser um bom pai, não tem nada de errado nisso”.

3. A liberdade de experimentar o mundo


Pâmela é uma mãe na contramão da educação machista normalmente praticada pelos
pais. Ela sempre se depara com situações em que seu filho quer fazer “coisa de
menina”. E ela deixa.
“Esses dias, eu estava me maquiando e ele me pediu para passar batom… Eu deixei,
mas disse que só um pouquinho e só de vez em quando, porque não acho bacana criança
usar maquiagem, mas não por achar que é coisa de menina”.
Mas e se quando ele for adulto ele quiser passar batom? “Se quando ele for adulto, ele
quiser usar batom ou maquiagem, não tem problema nenhum. O futuro dele, ele que vai
decidir, quando ele for maior”.

4. As ‘coisas de menina’ ou ‘coisas de menino’


Muitos pais acreditam que permitir os meninos fazerem ‘coisas de menina’ ou meninas
fazerem ‘coisas de menino’, pode tornar seus filhos homossexuais. O psicólogo Ricardo
Gonzaga explica que isso não acontece: “As brincadeiras, tarefas ou estilo de roupa não
influenciam em nada na sexualidade das crianças. Ou elas são homossexuais ou não são.
E isso não é devido a nenhuma interferência externa”.
Quando Pâmela não permite que Luca realize alguma atividade feminina, não é por
motivo de machismo:
“Estava pintando as minhas unhas e ele pediu para pintar as dele. Ao invés de eu dizer
‘não pode, porque isso é coisa de menina’, eu disse ‘não pode, porque isso não é coisa
de criança’. Eu tirei do lado machista e coloquei para o lado de ser coisa de adulto,
porque é nisso que acredito,”

5. Amor e violência não andam juntos


É preciso ficar atento à criação dos filhos, tanto em casa, quanto na escola. Por mais que
os pais sejam bem intencionados, pode escapar o reforço de algum padrão machista,
como aconteceu com a pedagoga Arcari: “Eu mesma já falei para uma aluna minha, que
veio reclamar do colega, que quando o menino puxa o cabelo é porque está apaixonado.
Quando a gente fala isso para a menina, a gente está ensinando que violência e amor
podem andar juntos”.
Menina pode brincar de luta, de carrinho e de super-herói. Menino pode brincar de
boneca, pode colocar vestido e ver filme de princesa. Isso torna seus filhos humanos e
lhes ensina a ter empatia com qualquer pessoa, independentemente do gênero dela.

Sinais de que eu sou um

machista de esquerda
Não é só o cara conservador de direita que manifesta
comportamentos machistas

Luciano Ribeiro
Mente e atitude, Traduções




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COMENTÁRIOS

Nós vivemos em uma cultura construída sobre uma estrutura feita de


machismo. Historicamente, foram os homens que decidiram, na
maioria das vezes na base da força, as regras pelas quais vivemos
hoje.
É praticamente impossível desvincular quase tudo o que tomamos por
padrão comportamental desse fato, mesmo nos menores detalhes e
vieses que passam absolutamente despercebidos pra maioria das
pessoas.
Apesar de longe de ser uma guerra vencida, as mulheres fizeram e
fazem muitos avanços todos os dias na luta por um mundo mais
igualitário.
Uma dessas vitórias, pelo menos aos meus olhos (e vale lembrar que
isso não é uma unanimidade), é o fato de que cada vez mais homens
conseguem ver os benefícios para todos quando o assunto é o avanço
da igualdade de gênero.
Já há algum tempo andava com essa ideia no fundo da mente e, de
repente, acabei recebendo esse texto escrito por Danilo Castelli no
Medium, recomendação da Marília Moschkovich. Achei a proposta
bem interessante.
Eu mesmo não gosto de incorrer na culpa sobre o indivíduo. Nós não
existimos sozinhos no mundo e há mil fatores que vão, mais ou
menos, nos conduzindo a tomar algumas decisões ou a tomar certos
referenciais equivocados como base.
Porém, também não acho que devemos ser tão condescendentes
assim e penso que melhorar como indivíduos e entender os caminhos
mentais que nos levam a ser incoerentes em nossas ações cotidianas
faz parte de um processo de lapidação que nos leva a um
amadurecimento do nosso entendimento sobre essas pautas que nos
são importantes.
No Brasil, a pauta da igualdade de gênero costuma ser atribuída à
esquerda, que tem tendências mais liberais no que diz respeito às
liberdades e direitos individuais. E é justamente o "homem de
esquerda" que, uma vez que se considera um tanto mais entendido
no assunto, acaba perpetuando comportamentos não menos
violentos com as mulheres.
Um perigo no qual muitos acabam incorrendo, é o de achar que só
por que você se propõe a ser mais aberto à essa cartilha, está acima
de se enganar. Assim, você acaba sendo só um tipo mais sofisticado e
ardiloso de machista.
Essa lista aqui embaixo, ainda que seja focada em um grupo político
mais específico, tem grandes chances de doer e acertar uns nervos
sensíveis. Mas é justamente por isso que é valiosa.
É olhando pra isso, questionando e tentando ser verdadeiramente
críticos (e práticos) que conseguimos avançar, mesmo que em passos
de formiga.
Espero, de coração que essa lista doa o bastante ao ponto de
provocar umas mudanças por aí.

Sinais de que sou um machista de esquerda, por Danilo Castelli

Esta lista contém pensamentos e atitudes de machismo de esquerda,


algumas que eu tive, eu e outras que eu vi em outros. Ela vai sendo
atualizada à medida que eu encontro novas.

“Não tem nada tão parecido com um machista de direita quanto um machista de
esquerda.”

Quando eu sempre tenho o "burguês", "pequeno-burguês", "liberal" e


"pós-moderno" preparado para desqualificar o feminismo que me
incomoda, seja essa caracterização adequada ou não.
Quando eu minimizo ou rejeito as lutas feministas, dizendo "O
verdadeiro problema é o capitalismo" (e, dessa maneira, demonstro a
minha ignorância sobre como capitalismo e patriarcado se articulam e
a influência reacionária que o machismo tem sobre a classe
trabalhadora).
Quando, assim como a direita justifica a ordem social classista-
hierárquica com argumentos biologizantes, eu faço o mesmo com
relação aos comportamentos e papéis de homens e mulheres. Dessa
maneira eu contribuo para a invisibilização e, portanto, para a
marginalização de todas as pessoas que não se encaixam ou
desafiam a heteronorma e os papéis de gênero.
Quando eu não perco a oportunidade de dizer "O verdadeiro
problema é de classe" toda vez que dizem algo a partir de uma
perspectiva de gênero.
“Primeiro a questão de classe”

Quando, em vez de ouvir uma companheira para aprender, eu espero


a minha vez para falar.
Quando eu faço mansplaining e/ou gaslighting com as companheiras.
Quando eu só vejo o machismo nas suas manifestações mais visíveis
e explícitas (feminicídio, tráfico de pessoas, violência doméstica,
estupro, discriminação no trabalho) e me recuso a vê-lo em suas
manifestações mais sutis (assédio sexual na rua, desigualdade na
divisão das tarefas domésticas, microviolências, violência simbólica).
Quando denuncio com muita firmeza os atos de machismo cometidos
por burgueses, políticos, figuras públicas e até dirigentes de outros
partidos, mas me faço de distraído sobre o machismo na minha classe
social, no meu trabalho, na minha organização.
Quando só denuncio o machismo e a homo/transfobia de políticos,
empresários, comunicadores, policiais ou outros agentes diretos da
opressão e nunca questiono o machismo dos homens da classe
trabalhadora em geral, nem dos meus companheiros de partido em
particular.
Quando desqualifico as lutas feministas que me incomodam
dizendo "Feministas eram as de antigamente", que é uma maneira
mais politicamente correta de chamá-las de "feminazis".
Quando eu acho que a solução do machismo passa unicamente por
realizar certas reformas institucionais e um pouco de
"conscientização" e excluo a revisão dos meus privilégios masculinos
e a minha própria autotransformação.
Quando intelectualizo as discussões numa perspectiva de
"objetividade científica" como desculpa para não simpatizar com o
ponto de vista "demasiadamente subjetivo" das vítimas do machismo.
Quando eu dou mais valor para as minhas OPINIÕES sobre gênero e
diversidade sexual do que para as EXPERIÊNCIAS das mulheres e das
pessoas LGBT e as TEORIAS que existem a partir de estudos
rigorosos.
Quando banco o "cético" como desculpa para não pesquisar
propriamente sobre o assunto já que... Quem precisa de dados se já
tem A teoria revolucionária?
Quando ridicularizo as reivindicações feministas/LGBT dizendo que
são "exageradas", sem fazer o mínimo de esforço para me colocar no
lugar das pessoas marginalizadas.
Quando demonstro incômodo e fico hostil diante da crítica radical do
machismo, levando tudo para o pessoal e dizendo coisas como "Eu
não tenho culpa pelos séculos de opressão".
Quando todas as minhas posições sobre a questão são projetadas
para não ficar alinhado com a direita, mas sem que isso implique um
compromisso real da minha parte com essa causa.
Quando eu me acho no direito de emitir qualquer opinião ignorante,
preconceituosa e paranoica sobre questões de sexo/gênero, já que
elas não são importantes o suficiente para eu estudar.
Quando eu acho que são "os outros" que têm que me
convencer, e não eu que tenho que aprender.
Quando eu pesquiso só o suficiente para aprender alguns termos
(como "feminismo da terceira onda") e aparentar erudição com o
objetivo de conservar as minhas opiniões prévias.
Quando eu concordo com as pessoas de direita perguntando "Por que
feminismo e não igualismo?", o que indica que o assunto não me
importa nem sequer para fazer uma pesquisa no Google, mas eu me
sinto ameaçado ou deslocado por um movimento que prega liberdade
e poder para as mulheres.
Quando aponto o fato - verdadeiro - de que existem machistas nas
organizações de esquerda, porque seus membros também vêm da
sociedade capitalista e patriarcal que eles combatem, mas faço isso
para justificar esse machismo nos companheiros e não para colaborar
com a tarefa de desafiá-lo e erradicá-lo.
Quando eu digo "Depois da revolução nós vemos".

“Nada é mais parecido com um machista de direita do que um de esquerda”

Quando, assim como os machistas da direita querem negar o


patriarcado procurando exemplos de mulheres que agridem homens
ou denúncias falsas ou situações nas quais os homens sofrem mais do
que as mulheres, eu procuro situações nas quais há feminismo
burguês ou branco ou misândrico para justificar que a esquerda não
tem nada a aprender com o feminismo.
Quando eu sou muito revolucionário falando sobre capitalismo e
socialismo, mas me torno "pragmático e realista" falando sobre
machismo e feminismo.
Quando digo que o socialismo não tem nada para adotar do
feminismo, porque "a questão da mulher" já estava colocada em
algum texto socialista de séculos atrás.
Quando, diante de uma expressão de ódio e raiva pelos assassinatos,
os abusos e o discurso que minimiza a violência contra a mulher e as
pessoas LGBT, eu me coloco num lugar progressista e dou sermões
do tipo "Não é assim, nós temos que educar". Afinal, não sou eu
quem tem que conviver com a impotência e a tristeza de pertencer
ao grupo vulnerável.
Quando eu ponho mais ênfase em criticar o feminismo por causa de
como ele comunica as suas ideias do que em criticar a mente fechada
machista da maioria dos homens, produto de privilégios e não só de
"ignorância".
Quando eu me irrito com as propostas de discriminação positiva ou
de cotas para as mulheres e as pessoas LGBT e as recuso com
argumentos meritocráticos que acredito que são não burgueses
(idoneidade, esforço, luta).
Quando, do meu conforto como maioria simbólica, rejeito as medidas
de cotas femininas na política, dizendo que "ter mais mulheres na
política não vai melhorar a situação das mulheres trabalhadoras".
Quando eu reclamo que "Estou sendo discriminado por ser homem"
porque as mulheres têm espaços próprios nos quais homens não
podem entrar, me negando a entender por que ou para que elas
precisam disso. A mesma coisa com "Estou sendo discriminado por
ser hétero" em referência a espaços exclusivamente LGBT.
Quando eu digo que, como o socialismo é contra toda opressão, não é
preciso ser feminista.
Tudo o isso não é nenhum segredo. Muitas mulheres, gays e
pessoas trans já viveram isso: não tem nada mais parecido
com um machista de direita do que um machista de esquerda.
Este artigo foi criado na minha conta do Facebook em 26/10/2012.
Desde então, foi compartilhado em vários blogs e foi modificado
várias vezes. Esta versão é a mais recente.

Indicação de livros!

Precisamos saber como lidar melhor com as relações nos dias de


hoje. O PdH vai indicar dois livros bem recomendados para quem
quer saber mais sobre essa conversa.
 Sejamos todos feministas (da Chimamanda Ngozi Adichie);
 Como Se Ensina a Ser Menina (da Montserrat Moreno Marimón).
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