Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Duas mulheres jovens de idades muito próximas foram vítimas de estupro coletivo quase no
mesmo dia, nos estados do Piauí e no Rio de Janeiro. Há um ano, também no Piauí, quatro
adolescentes foram estupradas torturadas e tiveram seus corpos mutilados, uma delas morreu.
Não estamos na Índia, tampouco no Paquistão. Estupros coletivos acontecem no Brasil e no
mundo. Onde há “machos” há estupro, piadas sobre estupro, feminicídio, culpabilização da
vítima, violência doméstica, criminalização do aborto e formas visíveis e invisíveis de
domesticar, controlar e violar os corpos das mulheres. Isso porque numa sociedade patriarcal
mulheres são propriedades dos homens, do Estado e da igreja _ sendo esses dois últimos
também dominados por homens.
O estupro é a exacerbação de toda uma violação cotidiana, permitida, banalizada e
naturalizada de tal forma que se torna imperceptível. O estupro não se encerra no ato. Ele
persiste no questionamento sobre a “índole” da vítima. De acordo com a roupa que a mulher
usava, seus hábitos e comportamentos, é possível para essa sociedade deduzir facilmente que
ela se insinuou ou, no mínimo, se expôs ao risco. Apesar de ter mais de 200 anos, o perfil
“bela, recatada e o lar” ainda é o filtro que define as que merecem ou não serem estupradas no
Brasil.
Os casos de estupro coletivo, especialmente do Rio de Janeiro, “chocam o Brasil” - como trata
a mídia. Os ânimos ficam à flor da pele, alguns pedem execração em praça pública, outros
tratam logo de se distinguir dos “machos” que estupram - porém sem abdicar de sua macheza,
afinal, ela é mantenedora de sua dignidade, enquanto ser viril.
Catarinas se solidariza com essas vítimas e questiona: não havia um homem entre os 33,
capaz de um gesto de humanidade? A resposta dada pelos fatos reforça a ideia do coleguismo
entre machistas incapazes de refletir sobre sua condição, em especial no momento de domar e
humilhar sua “fêmea”.
O machismo eleva o homem a um patamar de poder e supremacia sobre as mulheres. Para
essa cultura, homens têm instintos incontroláveis, especialmente sexuais. Esses são rudes e
não choram. Não brincam de boneca. São feitos para a guerra. Não lavam a louça e não
cuidam de crianças. São servidos na casa e na cama. Forçam suas mulheres a manterem
relações sexuais, mesmo sem o desejo delas. Acham justo que possam ter relações
extraconjugais, assim como aceitam, mesmo que veladamente, a morte de mulheres por seus
maridos numa situação de relacionamento extra-conjugal.
Não incluir o gênero no ensino das escolas é uma forma de não interferir na formação desses
homens misóginos e machistas e, assim na sociedade que aceita a cultura do estupro. A
Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres,
adotada pela resolução da Assembleia Geral da ONU em 1979, e ratificada pelo Brasil em
1984 reconhece que “é necessário modificar o papel tradicional tanto do homem, quanto da
mulher na sociedade e na família”. Uma das medidas acordadas é a “eliminação de todo
conceito estereotipado dos papéis masculino e feminino em todos os níveis e em todas as
formas de ensino”.
Outros acordos se seguiram em esforços mundiais para eliminar todas as formas de
discriminação. Recentemente, os países membros da ONU se comprometeram em garantir a
igualdade de gênero com a implementação da Agenda 2030.
Mesmo tendo assinado e se comprometido com os documentos, o Brasil está na contramão.
Além de não pautar o ensino, a perspectiva de gênero foi eliminada até mesmo do extinto
Ministério das Mulheres. O gênero é uma palavra que causa repulsa em legisladores e
religiosos. Esses têm o respaldo de pais que querem que seus filhos cresçam saudáveis e
“machos”. A machocracia é um legado da tradicional família judaico-cristã brasileira e mantê-lo
é uma questão de honra.
A machocracia não quer perder privilégios. Os estupradores não são monstros ou doentes, são
homens.
Há uma expectativa da sociedade do justiçamento que esses homens sejam presos e
transformados em “mulherzinhas” por outros “machos”. E assim, segue o ciclo das violências, a
concreta no caso covarde contra os vulneráveis dentro da prisão e a simbólica no discurso que
naturaliza o estupro contra mulheres.
Simone de Beauvoir conhecida por sua frase “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, avaliou
seu primeiro livro “O segundo sexo” depois de lançado e disse que acrescentaria a frase “Não
se nasce homem, torna-se homem”.
“Machos” estupram porque estuprar é coisa desse homem construído socialmente para
subjugar e odiar a mulher. Uma sociedade, cuja ideologia dominante é o patriarcado e cuja
cultura é machista e misógina, produz estupros. A barbárie é senão produto da civilização
machista.
Fonte: Catarinas
1. Home
2. Destaque Lista de 4 Notícias
Esta postagem foi publicada em 15 de agosto de 2017
machista de esquerda
Não é só o cara conservador de direita que manifesta
comportamentos machistas
Luciano Ribeiro
Mente e atitude, Traduções
251
COMENTÁRIOS
“Não tem nada tão parecido com um machista de direita quanto um machista de
esquerda.”
Indicação de livros!