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ERA-UMA VEZ
ou
ENCANTAMENTO
Dissertação de Mestrado
apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Antropol~gia Social do
Museu Nacional da
Universidade Federal do
Rio de J41nelro.
Rio da J~neiro
197 4
-.",---' ,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
(Disserta:;:ão de I.1estrél.do apresentada ao Programa de Pós--Grél.duaçê:o em Antropologia
Social do Museu Nacional da Universidade 1974 _
iJ'edaral do Rio de JaH8iro -zyxwvutsrqponmlkji )
2 LI
RgSUMOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQ
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQP
f
Nossa dissertaç30 se propõe a aplicar os princípios que regem a anúli
sono-sem-fim" •
.ca dos estudos nêsf.e· camP9, aSE;Ím como de si tuá-lo com relt+ção às d ãver eas 1i
. um campo de ações. que se rlesenrola numa esfera doméstica que se compõe das re.;..
esfera pública que di~ respeito às relaçõeseentre membros de uma sociedade quo
temente do indivíduo ou podendo ser, muitas vê.zes, If12.nipulado por êste. Den tr-o
inicial, não narrada mas inferida pela narra~iva, passando por uma situ~~~o 10_
termediária de ocorrências confli tivas e opostas que reflete a pró· 'ri.:l Y:"))21;::()
-
€. .•.rt r-e o momento inicial e o final, que vem a ser a solução das oposiçõúrl ~rOP(H'-
tas.
...
Em suma, as duas narrativas que apresentamos para demonstrar a r.plL~n:,no
da anâ.I í.ee estrutural, de acôr-d. com nossa leitura dessa abordagem, rod,::·<;'·~ft'"
ve.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
encerrt.eda como um todo, (}ue tudo indica. possa ser tratada como o conto de
.
,
i
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I.
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I
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I
I
I
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Agradecimentos ...................................................................................... iii
.....................................................
INTRODUÇÃOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
IzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 1
II O ESTUDO DA NARRATIVA
A. Abordagens Diversas
1. A contribuição aZassificatória de Antti Aarne 4
2. A análise morfológica de V. ~J' . 4
3. O conto como testemunha da historia ••••••••••••••••••••zyxwvutsrqponmlkjihgfe
5
4. A _busca da identidade eetirubural: e o n{velzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
da rranifesta-
çao ..........................................................•............................
7
5. Os nlveis da nar2utiva e 08 estruturalistas •••••••••••• 9
Comentários ..
6.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 11 .
B. A Invariância Estrutural ............................................................. 12
......................
a proibição db fUso •••••••••••••••••••••••••••••••••
fJ zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 55
g) o pPÍnoipe e a be ta adormecida 57
hJ o desejo da rainha-velha ........................ 61
i) a opção final do prindpe - a farrr'i;Lia
reintegrada •••• 66
4. Comentéwios . . 68
IV CONCLUSÕES ................................................ 74
v BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 88
A G R A O E C I M E N TOSzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
. .
AgJr.a.deç.o pal[.tic.«ltVunente aozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV
conselho Na.cionai.
de Pe6qi.Ú6a..6 qu.e,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
pela. c.onc.e6.&ão de uma. Bo.l..&a.
de E6.tudo.& ,me po.&.&i..b.i..i.ftou. a. JteaU.za.ç.ão do
r: zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Nossa pe~quisa se propõe a aplicar 08 princípios-que regem a analise estru-
tur2l a uma determinada fórma. narrativa que faz parte do repertorio popular brasi-
leiro e uní.ve rsalzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
t o conto maravilhoso ou de encantamento.
tais oposições são utilizadas e valori;~d~~'~m um dos seus ítens nos-co~t~s~ a sua
frequ'ência e ~ecorrência~ 1105 indu?; a liúsear:áí;na·criáçeo do cotitadorpopular~to
da uma concepção do mundo e U9S Lgua Imente , entrever aspectos de uma
pe rmí t e , .. de-
terminada sociedade a que o conto.se refere~ ou que está sendo idealizada na mente
do. contador.
ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
interesse desses autores se centraliza bãsi.crunentena coleta de'contos da tri".d.i-
çÃo oral e em sua divuleaçio ~ara o público em r~r~l. Consideramos tàl trabalho
de grande valor e utilida~e, pois .nos fornece mzterial precioso para que possamos
da Antropoloeia ~ estudo das relações sociais ,
aplicar o moderno n~arnto teóricozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
como se pede entrever nos contos populares~ porem cremos que o estudo aprofundado
e científico de um material que di~ respeito ao Homem e a sua Cultura só pode ser
aclequadamente realizado por uma ciência do Homem que nos ofereça o .uporte teórico
e metodolôgico p~ra tal empreendimento.
cer nossa análise, apresentaremos uma apreeiação de eutro conto, que servira igual
mente de eontrole? Aesim como utilizaremos referências a outros quando julgarmos
neee8ssrio para ilustrar a incidência de deterninados aspectos, uma vez que em de-
terminados contos certos aspectos se apresentam mai8 enftttizados ou explícitos que
outros, fazendo com que, 80 sobrepormos os contos uns aos outros obtenhamos um pa-
drão nítido e eompleto de seu cesenho estrutural. Dessa forma, procuraremos atin-
gir a própria estrutura não de um conto mas de forma narrativa espeeífica que pode
ser tratada isoladamente como o conto ID~ravilhoso'ou de encantamento. Qualquer co~
to que possa sursir e contribuir para o nosso conhecimento deverá, assim pretende-
~, poder ser explieado por meio de n05so'modelo~ que devera ser bastante amplo
para dar.conta das variações poss!veis~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFE
'e, ao mesmo tempo, bastante .implificado
para que rOlsa ser uma ferramenta de trabalho ú~il e eficaz para nosso estudo~ Es-
ta pesquiaa permanece, ~ortanto~ eomo um ponto da partida para um estudo de maio -
res proporções e ?rofundidade sobre a estruturá do conto de encantamento co~ um
.todo~ projeto esse de implicações quê vao além 'dos objetivos limitados desta. dis -
sertaçao.
fiA Rainha e as Irmãs" e IfAPri:.!
Os contos que analisaremos neste trabalho -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
cesa do Sono'sem-'fim~;-foram extraídos de uma coletânea de contos organizadA.·-,.,:
Luis da Câmara Ces cudo , que nos Lnforma terem os dois conccs sido colhidosftO~.
Grande do Norte. Sabemos igualmentc p pelos dados de Cascudo~ que os contos per .-
tencem ã tradição oral univers~l$ sendo conhecidos em diversos outros país.os• Tr•••..
taremos~ portanto~ esse material como uma ctnografia e tentaremos~ assim, conhecer
a forma cômo um âeterminado erupolic~ com as diversas relações qu~ se estabelecem
entre os individuos~ a sociedade e o cosmos que os rodeia •
. ,
4
II - O ESTmX> DA NARRA!IVAzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
A. Abordasens DiversASzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1. A ccmtribuição ata8sificaténa de Antti.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGF
Aam.e
l -
gráfico de contos e variantes do mundo inteiro. em busca de uma classificação, se-
gunr,ioum conceito de sujeito denominado tipo por Aarne , O tipo consistia em umco!!,
I
to tradicional'. com exhtência independente? um significado próprio er:s r~~ ação aos
outros contos, e suseetível de ser contaao como uma narrativa completa. Cada
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA con-
to' teria em si uma certa unidade lógica assim como estétiea. Um dos méritos de
Aarne foi a introdução de sub-classes, que até então não haviam sido"estudadas. A
lista de contol assim elaborada permitiu sua adoção imediata internacionalmentez~
ças a ele, foi possível classificar os contos, na medida em que para cada tipo Aar
ne átribui um nUmero em seu Tndex , Convem observar que, embora de maneira intuiti
va, Aarne lançou iguálm.ent'7a idéia de motivos 'nos contos de encantarnentCl- q~e!
to que seria futuramel'1tebastante utilizado, comO por exemplo por VladbíÍr Prqpp.
apesar de sua definição sofrer algumas ~dificações. Para os representantes da e.'
cola finlandesa, o motivo aeria a menor unidade narrativa; consistiam nos clam2u-'
tos típicos de cada conto, podendo ser encontrados em aai. de um conto ou haver di
versos motivos em um mesmo conto.
" A.N.Ve~elov.ki (Apud Propp. 1970:21) 8'8irn como Aarne, utilizou a noção
de motivos p considerando que um motivo pode se referir a diversos nujeit05difaren
teso Segundo sua definição,' o moti,'W é uma unidade. básica, que não se decompõe.
Diz ele: "Por motivo7 eu entendo a unidade, mais simples de discurso." (Vcselovski,zyxwvutsrqpo
1913 apud Propp, 1970~ Ice. ~t.).
~. Bédier (1893zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
apud ProppzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
op.cit.) foi o ~rimeiro a reconhecer a exis-
tência no conto de uma certa relação entre seus valores constantes e seus valores
variáveis. Aos valores constantes. essenciais. Bédier chama eZementos. Serã a pa~
tir dessa noçÃo de valor de Bédier e das noções de tipo e de motivGS de Veselov.ki
e de Aarne - com as reformulaçõcs que apontamos':'"que Propp construirá sua própria
análise do conto maravilhoso. Seu conceito-chave e o de jUnçãol que, como tal, ê II
·l
um valor constante. Na maioria dos casos, a função sera designada por um substan-
tivo exprimindo a ação, o movimento. A ação não pode ser definida fora de sua .i-
.tuação no decurso da narrativa. Assim. a unidade de base do conto, sem a qual ele
não existe, ê a açãózyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
o~ o ~vimento, esse conto míni@O ~ue envolve uma oposição da
da em direção a uma oposição resolvida. Fropp coloca como termos-chave de.um lado,
o Herói, e d. outro, Antagonista/Objeto. O uso da idéia de movimento, propostapor
P1;OPP,' está em explicitar que é o de8~nrola~ da narrativa que tem por missão,ao di.
.envolver a situação dada, resolver a oposição que origina.
partes constitutivas e as relações dessns partes entre si e com o conjunto dos co~
tos. Esta tarefa 1evn, em última análise, a uma classificação. nizPropp: " ••• ê
preciso div~dir o'conjunto em muitas partes, isto é, classificá-Io. Uma classifi-
cação exata é um dos primeiros p"lSSOS da descrição científica." (Ibid: 111-112).
por " ••• uma situação geralmente tiradn da vida de todos os.dias e encerrada em i
1
I
umam:>ldura Qstreita.u (SoderhjelI:l.apudJourda. 1966:IX) e n ••• levando ã solução !
li
j.
'de um conflito individual dramatizado. ti (Meletinski, 1970b :242). li
-li
!J
Para Tcnc'!e, a importância do estudo do conto maravilhoso eatá, port&"\-
ro, dentro de uma perspectiva histórica. ou seja? li. ex,"ticaçãode ordem interna do
repertório tradicional dos contos deve ser bue~ada na históri~. Em sua hipótese,
as etapas sucessivas e paralelas dQ tal história do conto podem ser encontradas
pois elas aubs i stcm, justapostas. no conjunto atual. Segundo a autora, enquanto a
literatura letrada avança dando as costas ao que a pre.cedeu (de tl'.odo que não se tr~ .
tendo de obras escritas elas se perd~riam no tempo), a literatura oral daQ tradi-
ções populare8~ ao contrário, avança não somente se sobrepondo ma. também se just~
pondo ã que a precedeu de modo que, aejn em tr~nsparênd~, seja lado a Lado , as ca
madas ~teriore. subsist.::m. "Dai e e.peranç~, apelar de <lusência de um..:l conserve-
7zyxwv
a o menos os principais
ção pela escrita, de reeneontrar através da análise internazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW
cp.ci.t.: 103).
aspectos da história de nosso conto de tradição oral." (Tene~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
,eral, poder-I e-ia colocar que essa p2ssagem, no conto maravilhoso, de oposições
externas a oposições internas e , mai. além; do conto maravilhoso ã etApa do 'ro17Ja!!
C8'J ·seria uma tradução, na ordem do conto, da progressiva transf'ormação nos meios
(sociai.) da qualidade das relações com a natureza, por um lado, e por outro das
:ce1ações do indivíduo com a comunidade.1I (Loc.eit.).
,
e nno -' a
um aprofundamento em sua estrutura interna e na decifração de seu codigo, problema
que particularmente nos interessa nesta dissertação, embora as conclusões iniciei.
de Teneze sejam de grande importância para uma compreensão daprob1emâti,ca dit)$ ctt.'t
~
.tos maravilhosos como um tcdo, representandQ uma contribuição valiosa para o. .e~
estudo.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
dois eixos semânticos fundamentais, situados um em relação ao outro numa dupla re-
opo8ição- o sentido só sendo percebido graç~s às diferenças; e de
l~ç~o:'dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA com-
pZementaridade - os dois termos se conju~ando para definir um só espaço de siinifi
-
caçao. (Ibid.: 12).
- -- -
,•
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I'"
, . E
9zyxwvutsrqpon
definir'
~o~ceitos, apurâ":los para torna-Io!- ma{s ~peracionai; dentr; de sua metodologia a-
·~irti~a. Emoutras palavras, a leitura de Courtes nos di a entrever uma abertura
, analítica em'diferentes caminhos que,não somente .a,<lueles trilhados pelos fo.1elori!,
~téls_..da escola, finlandesa ou .pelos formalistas russos e_s,eus _segu_icJore.~"
.. En.tretanto,
.sua analise Se baseia na preocupação de conceitualizar e definir~~t~nsivamenteos
,;elementos com que deve lidar o estudioso do conto m~ravilho80t .em ap_rQs~ntar um ,,
"
,-.-
- -----
, '-
.... -- ..
-"
~.- ii- - '- _. -. ~ - "
,
I ções e o da narração ou discurse prop'r i amente dito
sua análise, como vimos acima"no nível das funções, jUnçãO u ••• a
entendendO' perzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYX
, ::açãe 'déum personagem. déffrifd<!dó 'ponto -de -vista de 'sua -~ignifieação-nodecorrer
da intriga." (Propp 9 1970:31) • Para eLe, entãO' as f~ções - ou ações dos person!:,
gens - constituem a parte imutnvel da narrativa, nn medida em que a personagens di
ferentes cabem as oesmas funções, em diversas nar r at Lvas , Dessa forma, as' f\.ttlções
dos personagens representam ns partes constitutivas do discurso, substituindo a no
.
'se, a apontar alguns padrões gerais recorrentes de itens folclóricos e a.firmam-que
um estudo estrutural nunca pode descrever um item folclórico exaustiv.'lmente,ha~a
!;
do diversos pontos de'partida Rara a abordage~ cio folclore, além da estrutur~: e
conteúdo (os temas), o eatilo p a função. ÇTbid.: 183).
6. Comentários
B. A lnvariância Estrutural
Cremos que no conto nara'nlhoso, assim como no mito ou qualquer outro ser
• sócio-linguistico~ ~odemos constatar a existência de determinados elêmentos cons-
tantes, que nos informam sobre ucm determinada estrutura. Consideramos estrutura
aqui,num modo geral,como determinado conjunto de elementos regidos por aer~as re-
gras de associação e transfarmação quc9 em um nível de abstração~ se relacionam en
,tre si de urna forma p~rticular, criando um todo de tal ordenação que pode ser idan
tificãvel. Através de uma análise estrutural cremos poder tentar penetrar na lôgi
ca de uma narrativa, ou conjunto de narrativas, e procurar um entendimento de sua
estrutura pccul~ar.
, .
No item anterior de nossa dissertação ~presentrunos a.lgumas abordagens estruturali~
tas que se concentram basicanent~ no aspecto formal da ànãlise estrutural. Dedicar
-oos-emOs agor~ especifica~nta ,ao problemtl da.invariância que ê o que, em última
instância 9 pretendemoo atingir ntrnvês de nosso as tudo ,
Não podel'ia1!SOs
tratar da invariâneia sem inicialmente mencionar o trabalho
pioneiro de Claude têvi-Strau5S, ao qual devemos todo um descortinemento quanto às
possibilidades de aplicação da abordagem es crut.ural s ta. a serví ço de uma compreen-
í
são e um aprofundcmento cnda VÇ:~ mais científico das diversas manifestações do es-
bnsicos para se
.
pírito humano. tévi-Strcuss nos forneceu os procedimentos i~olar
a estrutur~ d~
. ...
nr.rr~tlva mltlce~ em
.
pnl't~cular~ e nos abrlU um campo para a aborda
gem de out rns formas nerrati W\S em geral. De acordo com ele, para se chegar ao cn
tendimento do ~to, ~ necessnrio cor~ccermos n forma como os elementos que o com-
-
poem se cOMbiTh~m. lais el~~ntos consistem nes unida~es con~tituti~es (ou mitemas,
t com os denominou) e devem ser p rocurados ao nível dn or~ç;:;:o. A natwreza da unida
de constitutiv~ tcn o aspecto de u~~ relaç;o, n~ medida 'em que se trata d~ atribui
ção de 'um predico~o n um sujeito. E ê a partir de forma como se combinnm os con-
juntos de rel~ções - ou feixes de relações - que as próprias unidades adquirem um
zyxwvutsrqponmlkjihgfed
--~~~-- .. ----~~-------~-----_.
-
z
-----
'!";
13
significado. O mito, provindo da ordem da Lí.nguagem e sendo parte integrante des-
ta, atualiza, entretanto, ,sua linguagem através de propriedades específicas, cujo
i~ i
sentido só pode ser encontrado a um nfvel mais elevado de expressão linguística ~o i I
téria'é o instrumento, não'o objeto da significação. Para que ela se preste a tal
papel, ~ preciso de inído empobrecê-la: somente retendo dela um pequeno numero de:
elementos adequados a expressar contrastes~ é a formar pares de oposiçóes." (Lâvi~
Strauss, 1964:346-347).· E ainda: "O princípio lógico é de sempre poder opor ter-
mos que um empobrecimento previo da totalidade e~írica permite eonceber como dis
tintos." (têvi-Strauss,. 1910:98). -Dessa forma o conteúdo do mito torna-se
9 algo
simples~nte contingente e o seu sentido " ••• não pode se ator aos elementos isola
dos que entram em sua co~osição, mas ã maneira pela qual estes elementos se encon
tram combinados." (Lévi-Strauss, 19~;242). Quanto. a esse aspecto, afirma igual-
mente Edmund Leach: "Ns análise estrutural~ 08 elementos de um mito (os 'símbo-
los') nunca· têm nenhum sipnificsdo intrínseco. Um ele~ento só tem significado de-
vido a sua posição na estrutura global em relação aos outros elementos do· conjun-
to." (Leach, 1969:30). E acrescenta o autbr:" ••• a significincia deve ser enten-
dida somente nas relações entre a.
partes componentes da estória."zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW
(Ibid.: 28).
para uma anãlhe de seu sienifieado. Afirma e~te: "Tendo separado os códigos, ana
lisamos a estrutura da mensagem. 'Resta agora decifrar o significado." (Lêvi-
StrauS8, 1969b: 21). Não cremos que sem o isolamento da forma, ou seja, da obten-
ção do arranjo específico de uma determinada narrativa, possamos nos assegurar de
que nossa análise estejzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
li. dando conta do verdadeiro sentido que aquela visa expre.!
saro Somente através do desmernbramento das partes, num primeiro momento,percorre~
do o caminho inverso do 'construtor' do mito, pode-se" então, num momento poste-
rior, 'reconstruir' a estoria 'de dentro para foratzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYX
ou seja~ a partir dela mesma,
dos elenentos que ela fornece passo a passo ,no seu desenrolar. O resultado, alta-
mente recompensador , é o entendimento, em um nível de abst'ração geral, do signifi-'
cado das relações dos elementos entre si e em referência ao conjunto. Em outras
p,alavras, recorta-se num primeiro momento para montar-se ao final e obter, assim,a
armadura fundamental, despida de quaisquer acessórios que aenvolvem~ possivelmen-
te para dar a ilusão fantástica de·uma realidad~ magicamente ordenada - enquanto
que no seu ámago ela na verdade lida com oposiçõe,s Lnt rànaponfve s que na superfí- í
cie apárenta resolver.', E o resultado de nossa, análise poderá ·ser tanto mais con-
trolado na medida em que podemos comparar a mesma n~rrativa com outras que façam
parte do mesmo complexo. Já afirmara Lêvi~Stl"auss: 1f ••• não se insistirá j~is
demasiado sobre a absoluta neeeas Ldade de não omi tir nenhuma das varianteS que t-e-
nham sido recolhidas." (Levi-Strauss, 1967: 252). E a esse respeit::oLeac:h 4'4'.3-
centra: n ••• cada mito e parte de um complexo e qualquer padrão que ocorra em um
mito ocorrerá, na mesma variante ou ém variantes diferentes, outras partes em
do
complexo. A estrutura comum a·todas as variantes se torl19 aparente quando diferen ,, ,
"
tes versões são 'sobrepostas' uma sobre a outra." (Leach, 1959:22). Percebemos as
•im que, apesar d~8 diferenças aparentes, existe um substrato permanente que
.•
sera
,ia)
:l
sempre e cada vez mais' encontrado ,e enfatizado ã medida que cresce o conjunto: "Ozyxwvuts
orescimento do mito ê pois, contínuo'? em oposição a sua eetirutura, que permanece
lili
g
ISzyxwvuts
bras do grupo lociale procuram explicá-Ias através de mediações sucessivas que
à volt~ do grupo sob. con-
procuram aproximar o~ opostos e, a~sim, manter o cosmoszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM
trole, suprimindo-lhe o mistério, apropriando-se dele.
nol expllcitos em um 'caso sa tornam mais -expllcitos em outro~ e assim por diante~o
que vai reforçando a adequação do modelo estrutural que pudemos construir. A fim
de possibilitar um exe~lo dessa afirmação, apresentamos após a analise de nosso
texto básico um outro t~xto analisado que faz parte do mesmo complexo, que, embora
aparentemente diverso em seu dc:senrolar~ contem, como supomos, Um padrão estrutu-
ral semelhante· ao primeiro~ e que, como dissemos acima, nos ajuda a perceber eom
maior clareza 00 primeiro texto a existência de' certos elementos que ali ;,_,~."
aparentemente encobertos ou menos explícitosll embora latentes.
a partir desta nossa anâlise preliminar, parecem co~~or a narrativa maravilhosa. I"
1
i.•I•.
.,• I·.ti···~.·~
!.
Um c~clarecimento quanto a nossa metodologia: ria analise que se segue tra-
taremos as unidades básicas da narrativa princip&lmente como sendo referentes -as ~'.
:- ..
-.,
implicações e vinculações dos diversos elementos entre si e em relaçÃo ao desenvol J
vimento da própria narrativa) ou saj8~ sincronicamente~ observando as relações que '".~
A
ao longo da narrativa.
buição de um determinado
Interessa-rios primordialmente investigar
predicado a um sujeito e o como se efetivam
o poP que da atri .
as relações
1
'.
existentes entre O! diversos ele~ntosdo conto. Procuraremos chegar, assim, a um ~-
,.1.·.··.•
~
-- zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
16
i zy
!:
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I
!
I
I
III •.• ERA tn1A VEZ •••zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
namentos sociais com a esfera mâeica e as interpenetrações das duas esferas. Assim
a narrativa tratá por um lado, da integridade/não integridade da famrlia~ num caro-
pó de ações que se desenrola numa esfera domestica que se compõe das relações en-
tre seus membros; trata~ igualmente~ da ascensão- social de indivíduos9 com referên
cis a uma esfera pública que diz respeito às relações entre membros de uma socieda
de que constitui o universo social maior em que se inser~ essas pessoas; e trata
ainda da entrada do elemento encantado que se vincula. a urna esfera mais amplap a
um cosmos no qual se encontra o indivíduo e que exerce constantemente seu poder.i~
dependentemente do indivíduo OÚ podendo ser, às vezes, apropriado por este. T~e -
mos este último ponto.
1. O texto
"Era uma vez três moças muito bonita!! e trabalhadoras, órfãs de pai e
rãe e que morav~m juntas, vivendo de co.turar. Numa noite estavam trabalhando oui
to entretidas e para passar o tempo conversavam sobre casamentos. Vai a mais ve-
lha e diz assim:
- SQ eu casasse com o rei fazia para ele uma camisa que cabia na palma
da mão e ve.tindo o cobria todo.
A do meio respondeu:
~ Pois se eu casasse com o rei tecia e bordava uma camisa que cabiaden
tro de um ovo de pOãlba, e aberta forrava uma cama.
A terceira disse:
Eu tenho outra opinião. Se casasse com o rei teria três filhos,dois
meninos e uma menina-, todos comzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJ
UlM estrêla de ouro no meio da testa •
..
Aconteceu que o rei estava passeando justamente diante da casa e pa-
rou para ouvir toda a conversa das três moças. No outro dia mandou buscar as três
moça,. e se agradando muito d~ mais moça~ casou com ela e convidou as cunhadas para
ficnr no palácio como ~rincesas.
O rei e a rainha viviam muito bem mas as duas.irmã. ficaram contraria-
II~~
das com a sort~ da mocinha, casando com o'rei e sendo rainh~. Tiveram inveja e co
maçaram a imaginar um jeito de perder a irmã Q ume delas easar com o rei. - j~
I
Houve entêo umas guerras e o rei teve que ir, deixando a rainha Q$pe -
rendo uma crian~a. As dues cunhadas disseram que ele podia ir sossegado. No tempo
a'rai~n teve seu descanso que era um menino bonito como o dia, com uma estrela de
ouro na testa. As cunhadas do rei trocarem o menino por um lapo e esereveram ao
rei contando a mentirn. Encarregaram a 'uma criada que levasse a criança e sacudis-
se no mar. Foi a criada e? n;o tendo coragem, abandonou o menino junto de uma ár-
vore, perto da casa de um caçador. Este. logo depois, pas.ou e vendo aquela trou-
~ chorando, abaixou-se e viu que era ~ criança. Levou-a para SUA cas~ e como
uao tinha filhos ficou criando o enjeitado.
. Quando o r~i voltou ficou muito triste mas perdoou a rainha. As guer-
ras continuavam G ele foi guerrear. deixando ~ mulher grávida. Aa duas irmãs mal-
vadas tornerama fazer a mesma perversidade, mudando o outro menino, com a estrêla
de ouro na te$te, por um sapo horroroso e mandando avisar ao rei que a rainha tiva
ra um bicho em vez de um filho.
A mesma criada foi sac"tdi1:o menino no mar mas deixcu o enjeitado de-
baixo de uáa árvore. O masmo cnç~or encontrou e levou para C~Âa o pobrezinho.
Quando o rei veio de novo custou a perdoar a rainha mas sempr~ se con-
formou. Pela tereeira vez foi ele guerrearzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQ
Q as cunhadas fizerem a mesma maldade.
Desta feita veio UIDr. meninar linda como os amores, e as duas pestes dis.erem que a
irmã tivera um .apo, ~d~do essa noticia ao rei. A menina foi abandonada e o ca
çador, que já criav~ os dois meninos ficou criando os três filhos do rei.
p
der e botar para for!'.do reinndo. Como gOlltava muito dela, promQteu AÓ vestir de
br~co e nunca mais dar uma festa. ~ duas cunhadas faziam tudo para agradá-to e
uma delas calar com ele.
. O caçador criou os trê. enjeitadas com todo mimo. Já estav~ cresci
dinho •• A trRnina ajudava em ca.~ e o. doia i~ eom o caç.'1dOrparn a. lIllltas. Numa
~el'a.."eaç~.dal, longo de casa, vir~..meles UIM estrada estreitinha que subia para
um monta muito Alto. Perguntcram para onde ia aqu21e eaminhe.
~(Jzyxwv
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-- zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
22
2. A análise
a) atf trêszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
irmã~
o
conto se inicia narrando a situação de três moças, que possuem
carnctcr!sticas comuns: serem bonitas, serem órfãs de pai e mãe, morarem juntas e
exercerem 8 atividacezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
de costura. A composição da casa apresenta-se, entao, em
termos de um esquema familiar, incompleta. A orfandade atual das três moç~s remete
a uma situação -anterior, inferida, em que existiriam os pais. A orfandade neste
momento opõe~·Be, por tanco, li existência dos pais num momento anterior não narrado.
A famíli~~entnog que possuia uma estrutura-integral encontra-se agora incompleta.
Es~a deficiência ettrutural traduz-se p~r8 as moças em têrmos de que têm que costu
~ar (trabalho). Se d~8F~wbrarmos essas atividades tal como elas são apresentadas
_no conto: moças - trabalhadoras ••• vivendo de costurar~ poderLamos ligá-tas às fun
ções masculina .. trabalho (par a sustentar a família) - e feminina - atividade de
costura~ no lar. Assim? as tarefas tr~dicionalmentc eS6oci~dAS respectivamente ao
homem e ã mulher, cncon~r~-se aqui identific~das nas figuras femininas que assu -
mem e.mbosos encargos, para preencher uma deficiência existente ne composição fami
liar~ a ausência de pai e mãe. Temos, então, as se~uintes opCoiições apresentadas
de início no concor homem/mulher ~ tarefas masculinas Ittl.refasfemininas ~ ambos. os
A relação de diferenciaçno en'"
conjuntos de relàçõcs encontrando-~e iden~ifict:',doa.
tre os sexos ~~ aí, omitida. Ent;o~ uma situação neo-problemntica~ de integridade
femiliar~ passa para uma situa~eo problemãtic~f de femitia não-integral, mediada,
ent.recento , -pcl~ situação das moças que concent rom em si os aspectos que, numa. si
tuação ideal, se distribuirirunentre os diversos membros da ft'mília. Obs arvemos i-
gualmente e oposiçno de gerações -pais/filhos ~ que$ nesse momento~ fica obscureci-
da, uma vez que as moças têm que trabl'.lhare costurar como seus pais o teriam fei-
to num momento enterior.
A seguir? o conto nos dã. uni outro elemento importante, que pOdería-
mos dcnomínar , errborlldeficientemente .no momento» de "acaso" - equilo que ntlo ê
controlndo~ que nno é previsto - que õ introdu3ido através da passagem supostamen-
te ecidentnl do rei diante da cese das moças. Obscrvemoss entretanto, que a nerra-
tiva não fala em "acaso'", As coisas perecem ocorrer dentro de \IIIla determinada se-
·quêncin lógica, o que nos faz pensar na existência de uma significação mais profu~
dn, que envolveria ~ causalidede de carnter meia emplo e que se referem todos os
eventos. A aperente fortuidnde da passagem do rei pela case das moças se explica -
ria. portanto, pele própria natureza do d~sejo da mais moça, que vem corresponder'
exnt~nte às cXpectlltiv3S do rei: casar-se a ter filhos com o próprio sinal da rc
lllezn~dnndo continuidade n lir~a de d~scendência (as estrêles de ouro ne teste) •
24zyxwvut
te sociais •.
ComzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ó casamento com o rei, portanto, há uma nova tentativa de estru
eia total de poder em ambos os aspectos nas irmãs. Terl4mos, então, umacoropeti -
ção em dois nIvei!: poder/subordinação e fecundidade (maternidade)/esterilidade.
Hã ainda o~tro aspecto de especial relevância neste momento: a si -
tuação de 'casamento da mais moça com o rei repreeenta uma inversão da ordêm "natu-
se
ral" da famíliá original das três irmãs, em termos de sua idade relativa, ondezyxwvutsrqpo
e.peraria que A mais velha se casasse primeiro. Poróm a ordem de idade das três,i~
vertida pela relação da mais moça, como rainha, com as 'outras, como princesas, mo~
tra uma tendência a reestabelecer-se em períodos nos qUAis a relação mais forte(ho
mem/mulher) se encontra atenuad~ pela ausência do home~marido-rei. E ainda, essa
ordem de idade é uma especie de manifestação mais fraca da relação pais/filhos que
as duas irmãs sempre tentam impedir. A estaria nos conta nesse ponto que a família
sê apresenta mais \llll4 vez carente de elgum membro, afastando-se do modelo de estr~
tura de posições. O rei se afasta~ por mOtivo de guerras, ficando novamente as três
coças.'Mas a,sep~ração entre rei e rainha esta vinculada pela gravidez desta. A apa
rente estruturação da família" em têrmos de ~ridó e mulher, e agora a perspectiva
,de um filho tem, por outro Iedo a invej~ d8S dúas irmãs quê queriam ocuparzyxwvutsrqponmlk
B poti-
ção duplamente desejável da rainha. Assim, a.inveja· das irmãs, em termos da. lnvet .;
s:;oda ordem etéria e em termos da própria 'posi~ão da mais moça, como rainha, age
.
como elemento mais forte nesse momento, tendo maior peso que o laço pai-mãe-filho,
enfraquecido pela ausência do pai. .,
Podemos o~servar que o conto a partir daí trata &8 duas irmãs se~
pre como tlcunhada. do rei" $ ao in'yesde irmãs da rainha. Percebemos aí um desloca-
mento de anfaie da consanguinidad~ para a afinidade, ocorrendo especificamente em
períOdOS problemáticos 'quanto ã estruturação da família. Igualmente, no início da
narrativa, a. moças são narradas como "moças", não como irmãs, relação que só irã
se definir mais tardQ~ com 11 entrada do rei em 'eu universo, o que sugere que pen-
semo. que o papel da mulher, ou sua' determinada posição numa estrutura, define-se
,em função do elemento masculino, 8egundo essa sociedade. E a ambiguid~de se atua·:
liza principalmente porque quando se passa a tratar es irmãs o comport~
moças comozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV
mento das duas irmãs com relação ã outra, ao invés de revelar-se por união e soli-
dariedade - como parecia ler nntea o padrão de relacionamento entre irmãos e como
se concebe dentro da sociedade sobre a qual o conto nos informa (vida mais adiante
o relncionemcnto, este valorizado, entre o outro grupo de irmão.) - ê exatamente o
posto, vii ando ã desunião e à destruição da irmã.
Vimos como a inveja das dua. nnçrui. que se enfatiza com referência
ao que consideramol o eixo de mobilidade ,ocial - querer casal."com o rei e tornar-
-se rainha - extende-se pera umn inveja com relação ã maternidade da rainha. são
27zyxwvutsr
dois atributoQ que as:'dU49 moças não possuem, enquanto a mais jovem pode usufruí
-10s: ser r&inha a ser mãe. Assim ê que substituem os filhos da rainha por sapos ,
procurando negar sua mate'rnidade e, igualmente, a paternidade do rei.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
A ênfase es-
tituindo-ae por sapos; a criada, não tendo coragem, abandona-as junto a uma arvo-
re, perto da casa de um caçador. Observamos .aqu í ÚI!k'1 relação entre as crianças e
..•..~
~..~~~.'~C.8J~~,_"
..,.'.
~~\.,
•..~ ~..,;'~
tI. F. R. J. ~ \
~ M. N. .:·~~r
28
oeira, em que o caçador, como homem. está totalmente separado do animal, na socie-
dade; a segunda.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
durante a caçada ou pescaria onde ele se confunde com o ani
li ••• p
vamente a força negativa dos elementos que visam a destruição dos objetivos soci -
ais. Assim, as cr ençae ~ que tinham pai e mãe, ficaram sem nenhum dos pais, e ago
í
re adquirem um pai substituto. O caçador era um homem sem filhos, segundo a narra-
tiva, e agora possui filhos adotivos. Paralelamente, no palecio, ha o pai e a mãe
sem filhos e depois a separcção dos doisp e o rompimento total da integridade da
família que, em casae fica reduzida ao pai e às cunhadaS. Notemos que o elemento
.de ligação desses dois elementos está ausente (a mulher do cunhado, irmã das cunhe
MS) o que torna ~ relação pai/cunhadas uma relação va.zia, sem o elemento de liga-
ção, mediação. Hã, portanto, umk~ total não-estruturação da família, que se encon-
tra ca~ente dos membros que ocupam 8S posições estruturais-chave dentro de~a e que
a definem.
g) a 'marginaUdacle
filhos, só que leparados por obra da aspiração exacerbada veiculada pela inveja
d~ duas irmãs - apoiada pela frustraçÃo de IU~ descendência, pelo rei - que colo-
os membros da família, t emporariaaen t e , em estado de "ausência estrutural", ou
cazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
lIinvisibilidade", como diria Victor Turnar: 110 lujdto do ritual de passagem está.
no periodo liminar, estruturalmente, le não fisicamente, invisível". (Turner, 1969
:95). Os membros da fanlíliase encontram em UTJ poríodo liminar,marginal, de transi
çeo entre uma situação de família estruturnda, nno problemática, e uma outra sit~
ft~40 .·final,novamente de estruturaç.ão da ftu!lIUa,· em que 01\8 pessoas se encontram
em suas posições definidas frente o seu grupo d~8tico e ftente ã sociedade como
um todo (respectivamente, pai/m.le/filhOI c rei/t'dnha/príncipe) perrodo esse ~ i- p
racterísticas "f.nvi8{vei~" - assim como os neôfitos, clcs c3tno "em outro Iug ar" ,
nno aquele em que normalmente deveriam Citar, o.tão ausentes estruturalmente.A;uim
encontram-se numa situação que apresentn poucos ou nenhum dos atributos da situa -
ção anterior ou da seguinte: o rei catá SCln mulher o filhos, não frequenta festas
. .
e usasô branco (de acdrdo com n n~rrntivn. clQ p~ssou a usar só branco em conse -
quência de sua tristeza -:o branco como oin!.\l do uma neutralidade absoluta); a ra-
inha está sem seu marido e filhos, num outro lugnr ondc n;o cstaria em outras cir-
cunstâncins - num. convento -- pcd.índo esmolas, não tcm bens, título, posição social
ou de parentesco dcf i ní.da ; as cr ençns , igu:\lmcntet cs6io longe de casa , sem
í pai
lJ
(biológico)? sem mãe, iguc1mcntc ,em nob rcze, e Icm vcs t monto adequada - vide no
í
çador -, pai social - agem por conta,própria, deixando-o desesperedo por sua parti-
da. T31vez possamos ~ssinalar aqui um simbolismo que parece encontrar apoio no
desenrolGr da nnrretiva: a necessidade c a determinação das crianças em encontrar
a fonte de Água da Vide pode estar associada ã busca de suas origens. Afinal, a
!gua da Vid3 possibilitará, no t~rmino da estória, que reencontrem € restabeleçam
sua rGlaçno d8 filiaç~n e sua posição soci~l, ~urando o pai. N3 geração anterior,
é a nk,is jovem do grupo de irmãs que possibilita. através de seu casamento, uma
ação em direçna a uma estruturaçao da famrlia, no eixo da integridàde/não-inte
gr Ldade , Agora, é também a maie jovem que Lgua Iraence estaria agindo em direção ã
integridade, buscando e salvúndo seus irmãos, e J)ossibilitando a recomposição da
família de origem.
32zyxwvuts
palácio, do rei seu pai, que sem os membros da femilia ficara vazio .• o rei "ausen-
te" - atraves de suas auto-privações cie usar sÓ'branco e não participar de ativida
des - as cunhadas usurpando posiçõe$ de outrem e não tendo significação na famflia
como meobros essenciais, una vez que sua relação' com o rei (como cunhadas do rei,
como 530 t rat eda 5) só é explicade em termos de sua re.lação com e rainhn (irmãs
da rainha)] esta estando nuscnta, aquelas perdom seu sentido na estrutura d~ famr-
"
lia.
enfatiza. Temos a impresB~o dia que hE uma clara alusão ti função materna que se
extenderã mais adiante quando a menina dará luz aos olhos do pai~ iniciando o pro·
cesso de reunião da família o qual tem início aqui com a recomposição do grupo de
irmãos - exatamente o grupo de ir~i1ãos, o me s mo g r up o que na geração anterior
"decompôs" a famflia. j ã contem os elementos de uma si-
O nôvo padrão de posiçõeszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ
tunçao reestruturada que se eproxima.
'. Como vimos, o episódio da Água da Vide cont~m uma oposição bastan-
te significativa entre coí sas nnrur aí s e culturais, havendo uma valorizaçno positi
va do elemento cultural, de transformação, elaboração social. Assim, temos de um
lado a água fresca que os irmãos beberam e as frutas da árvore que comeram, el~IDen
tos nitidamente naturais; de outro, lado. notamos a abstenção da menina a respeito'
da comida e bebida, comendo o pão que trouxera e a água da garrafa, produtos 50 -
iJ a l-eunião
Ir
34
vez haja aqui, como apontaDOS acima, uma associação entre darzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW
ZU3 aos olhos do pai
e e~clareeer a.sit~~ção dos filhos com relnç~o a ele~ além de própria busca das
- zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
origens,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e a re-criaçao da fnnília, re-nasciBento. O pai estava cego, fisica.mente.
:ulS tambéu cego s Inbo l canent;eí pois não pode ver a situaçã.o real 41 sua volta, acre
ditando na t r ana das cunhadas. Seu desejo de manter sua posição de rei e de asse-
gurã-la 'por uma descendência de fil~cs com estrelns de ouro ~a testa foi impedido
de realização pelo f41to dos filhos naacercm suposta~ente sapos (poderírumos dizer
=~smo em oposição máxima ao seu des8jo, pois os sapos estariao numa escale diame -
t r alment;e oposta como seres a'lt ament e negat ívos e despr e aive s ~ ao passe que os fi í
lhos qu~ esperara ter. tinham características duplamente desejáveis: além de filhos
eo 'si, sua descendência biológica, pelas cstr;::lesde ouro na teste estnv:!l.
garanti-
da sua descendência ~eal - biolõ8ica 8 indelev0lnente oarcada!). A frustração. do
seu desejo foi mais forte do que a con~inuação do laço de aliança com a rnulherJro~
pendo-se o casnnento. O desejo~xcessivo de oobilidade, cono indica~os, ou e ma nu
tenção de uma pusição soc i al ~ agiu CO!:1Ç e Ienenco ocléfico: destruidor da integrida
de familiar. Agora os filhos, novido13 não pelo desejo de ascensão e qU:!l.lqucrcus-
to, mas de receber a bênção paterna (eu seja, serem reconhecidos como filhos) con-
seguem super-ar <,o esclnrecer a situnção ~ definindo 8· fanília. 2: necessário observa!.
mos a diferença entre os dois tipos de expect at Lve de ascensão social: um, tratado
nessa sociedade como negativ9~representado·pelas duas irmãs que a todo custo dese-
jam ascender, usurpando posiçõe~, destruindo qualquer obstáculo, visando unicamen-
te a neta a atingir. O outro, simbolizado pela rainha e filhos, um tipo de aspir~
çi!o de mobilidade em que snc aceitas as condições normais do papel da. mulher do
rei (isto 2~ ser ~2e possibilitando sua descendêncie) , o que torna sua ambição ju~
ta e controlada. ~ssim como os filhos i que essumeo sua filinção frente ao rei. das
p~rtando-o, sue própria paternidade, salvando-o da si-
como veremos ~diante, parazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tuação d~ obscuridade eM que se encontrcva frente n sociedade como um todo e ã fa-
oília en particular.
~ inportsnte V8r que, embora o rei tenha dito~3 crianças que pedi~
sem (\que quisessem, estas ;;ó lh~ pedi.rar.l
o reconhecimento da pnternidade. Note
mos, iguah1ente, que o rei põe ã disposição tudo qu~ possui para seus salvadoras •
Abre mão de sua riqu~za e poder - de tudo - afastando-se da sua aspiração anterio~
de mant~r sua posição socinl a qualquer custo, mesmo em detrimento do laço famili-
ar. A ambição excessiva é dcfinitívnncnte superada, e o desejo de mobilidade jus-
ta. controlada~ é realizado, o que abre cnmin~o par~ o triunfo da integridade da·
famllia, o Bem a alcançar, de acordo com os valores sociais expressos.
35zyxwvuts
2 interessante vermos que a narrativa nos diz que o rei ilficou sem
b .:1".
atar os S~VSJsa 1va~~~s.
11
ter onde O rei, desconhecedor ainda da verdadeira rela-
ção entre·ele e as crianças, não sabe onde colccn-Ias. A estrela do ouro na testa
estava coberta por gorrinhos. O rei neo pode encaixã-l~s em nenhum lugar, nenhu-
ma posição na es t ru tura social e de parenres co) , 1! preciso que as cr anças
í tirem
os gorros (disp~m-se de suas vestes "sociais H) aqpeçno sun bênção, revelando su~
p~ternidade, restabelecendo sua autoridad~ como pai, e tambGo sua realeza, pelo r~
flexo desta na testa dos filhos, pare que a situação se esclareça p~ra ele. para
que se defina, fi~aloente, a família.
Por outro ladog ofuto da vermos a criada querer ajudar a fazer a
"vont ede de Deus" e as crianças .verem lia mão de Deus no cesc" fa:;-'nospens~r que 8
vontade de Deus perec~ est~r nssoeinda aí ã re€struturaçno f~iliarp talvez em opo
siçoo a UtU11 suposta "vont ade do di~bon, associada ã aspiração maléfica e exacerba-
da de mobilidade social das cunhad8s~ seu inconformi~mo, seus atos d~strutivos pa-
ra coei a fa.IJ1ília,
agentes dessafo~ça negat í.va , As cr ançes
í t vendo. a mão de Deus
no caso, pressentem Gue as circunstâncias são favornveis para a utilização de
seus poderes sobr~naturais de cura - pel~ poss~ da Água da Vid~ - e agem como ins-
trwnentos da vontade divina - eles que já possuem certos atributos "divinos", so -
brenaturais, as estrel~s de ouro.
seu pnrentesco com 8 irmã é ~~fetado por seus atoi que destroem,
t~o pais.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA portan-
to, essa relação fraternal, e, por decorrência, não têm cunhado, nem sobrinhos.Sua
~$piração à realeza fica bloqueada' e assim, não tendo nenhuma base em que seapõiemzyxwvuts
~a estrutura de parentesco, na e~trutura doméstica e pública~ vêm-se obrigadas a
"desaparecer de cena", Seu "suí cfd í.o " torna-se uma perspectiva menos dolorosa do
~ue uma'conformidade ã realid3de de suas vidas, d~ frustração de suas ambições."E~
patifaram-se nos Laj ed os da rua"; igualmente uma alusão' à desorganização das rela-
ções que causaram, desraembr ando+as , espedaçando+as ; estragando-as (de acordo com o
verbete no dicionário são elas que. vêm desorgani:;adas~ es
para "espatifl'J.r")lIagora~
patifadns suas aspir~ções1 que C::lempor terra, assim como elas próprias.
Vemos como os dois eixos em redor dos qunis gira basicamente a asto
ria se cruzam par a , ao final, pr evatccer a integridade da frunília sobre .-z aspira -
ção sem limites - e essa é a moral. social que se quer transmitir.
ao ideal, ao valor social de integridade da família. Então, dã-se uoa justa corre
lação entre ,os dois tipos de desejo de Dobilidade.
37
O,conto t~rmintl. ~ntãoo ntl.rrandoti.situação da femI'lia. composta 8!;Ora
c. pai, cão e filhos, .ituaçeo elsa em quo todos sÃD felizes, unidos,aitu8çno nào-
rrobl~tica. o. problem88 forno resolvidos peia narrativa.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW
3. Comentáz.i06
d!,zyxwvut
Procurtl.OOsmostrar cone o conto "A Rainha e as Irmãs" possui umnzyxwvutsrqp
t~r:llnadn estrutura. Vimos de que modo esta ~e explícita 80 longo de toda a narra
tiva, sugerindo um padrão específico de crdcnsnento dos diversos elementos entre
.i e em rQlação ao todo.Apont~os certas oposições utilizadas pela narrativa que
sarvcc para reforçnr a. linhas principais que, eu nosso modo de ver, norteiam 8
óaJtória.
Hã, ainda, diversas outras relações que poderiam ser indicadas coco
I
••xi.tentes n~ste conto, entretanto, pensamos que sua enuneração seria, prioeiramc!!,
t~t por demais monótona - peio grande nooeto ele rep~tições - e~ em segundo lugar,
porque buscamos, em últiuá instância, o oodôlo oeis simples, que forneça a informa
,
çeo suficiente para dar cont~ da estrutura súb-jacente ao conjunto.
obrigam a separar-se do grupo. Da acordo çom Roberto Da Hatta, r;:g através desta
experiência do seu próprio isolamento e flagelação (ou auto-flagelaçRo cooe poda
ocorrer 2m alguns casos) que os heróis são forjados, e interpretam suas experi~n-
c'ias , Uas o dratUl do herói só pode ter sentido. quando êle cumpre determinados, Pt'J:
caitos. Assim, é preciso que êle evite ~eterminad05 alimentos, escape de certo8P2
rigos, decifre enigmas .pu use certos objetos.1i (Da Hatta, 1965: 243-244). Cratnoa
que, igualmente, em nossa anãlise j indicamos de que modo otrmembros, da família PQ!.
correm seu período de tranBição, de~afa8tamento,cnmprindo determinadas pre5~tiçõest
~;purificando-sel: coeo UIll8 preparação para sua nova entrada no seio de jua 80-
cied~de, munidos agora de uma visão reinterprctada, a partir de uma nova experiên-
cia de vida. A reestruturáção final da família teo p ~ntão, um caráter dQ livre QS
eolha em participar dela. Os membrOs que a cotlpõem"sâo ihomens novos' ~om suas p~
lições claramante definidas dentro do grupo feciliar e da sociedade mnis ampla. An
tas, tais c~racterísticas estavam apagada. agora são confirmadas e réforçada ••Foi
p
sueo podêres eobrenaturais, um objeto ~~gico (a Água da Vida) que agirá CODO rnedi~
der na soluçêo no conflito. O nâgico surge, assim, como elemento fundarnental e
eficiente quando nanipulado adequadamente, quando observados preceitos (vide o com
port araent;o da menina em relnção ao episódio da fonte de Egua da Vida).
Pensamos que, ã par da idéia de inveja dcs ímãs, e seu desejo de as-
censão pelo ceszmento , estnria o eIement.ode disponibilidade .pu não de parceiros
sexuais, ou de uoe carência do elemento masculino (de acôrdo com ~ narr~tivll). Mas,
pareceu-nos que, pelo fato daI meças almejarem o casamento com o rei, figura mâxi-
me de sua sociedade. a nao com qualquer outrq homem, fi ênfase estaria oais na mobi
"lidade, embora o fator da disponibilidade de per~eiros seja igualmente relevante.
A mulher recebe nessa soci~dade UIM. funçã'ode terminante • Podemos indi
car que, ~ geraçê~ dos pais, a mãe (a mais jG~ecldo grupo de irrnns) agira 8 pri~
eípio ativamente cama intermediária n~ dircç~o da reintegração da família; depois,
acomoda-se ã situação, que ã mais forte que o laço que ~ unia ao rei (cornojá indi
~~ canos). ~ preciso que outra nulher.--igualmente a cais jovem do grupo de i~s
assuma o papel ativo e efetue a solução dos problemas, surgidOS na geração anteri-
or. A importância da nulher ã aqui fundamental. Primeiramente, fi -que desejara ter
filhos - a maternidade cow) .!lspectofeminino por excelência - é que efetu~ a pri-
meira tentativa na reorganização da situaç~o familiar nno-integral; na geração se-
guinte, é fi ~enina que rec~õe fina~ente fi família, dando 'vida' a08 ir.mãos, ~
pai e re-criando a família. O pap~l da oulhar na concepção de filhos pode ter tan
to um caráter construtivo como destrutivo. t'Quendo o pot~ncial reprodutivo da mu
.lhér acarreta ~l b~nefício para a sociedad~~ como ocorre quendo sua gravidez ê nor
mal pela ·:Jrgenizarelilções socieis. ~es ecoe o potencial reprodutivo da mulher á
algo que o grupo n~o controla, pois ê dirigidO por procasscs naturais,existe sem-
pre a possibilidade da mulher desorganizar re!ações sociais e colocar em perigo a
vida de SU.'l ecauní.dede ••• " (Da t'43tta,1970:94) !t;laestória, 8S inlÃs tentaram
controlar a reprodução da mulher, trocendo seus filhos por anitntlis. Agirm, 8S-
-~",'
40zyxwvu
ria r~mete. Como indicamos, ~laa· v;o ilustrara importnncia do. ei~os principail:
a i.ntegridade/não-integridade da família e a oobilidade Bocial. com a manipulaç1io
do elemento enc~ntemento, Tai8 oposições encontram-se eucessivamente identifica-
das ou separadas ou mediadas .~porelemento., inte~diãrib8 que partilh41l Mlbiguatne!,.
te dos dois atributos opostos. simult~neamant~. Assim, temos, por exemplo, momen-
tos e:n que a fmn!lia estã completa ou incompleta, ou possui elementos dQ ·embo. 01
'estados', ou ~undo doméstico e público difQrc~ci8do8 ou identificados, como por
exemplo quando, ~través do c~samento as moça. entram em contato cóm o mundo social
i'úblico. indo mo~ar no paiácio, 'que passará igualmente a ser sua cala, .eu mundo
domZstico. Do ponto dQ vista do rei, o ~al~cio vincula-so a lua própria cesa. seu
mundo doméstico, as.im como o .ímbolo dQ seu mundo público, reaidência do rei, ch~zyxwvu
te do reinado i com sua ida para ca guerra., transfere-se p~ra lã o núcleo de .eu
mundo público, e assim por di~nte.. A oposiçeo dentro de cBla/longe 4Q casa, onde
A' caSa' t'ecebe valoriza.ção positiva e 'longe de cala' , locel em que podem ocorrer
coi.as estranhas e não contrcl~das - vida a .erda do rei para as guerras, longe de
casa ~ a .arda das crianças para as caçada., t~bQm longa da casa, e para a fonte
de Água da Vida, onde os irmãos são s~lvo. pela menina. (Notemo. que no caiO das
gue~rasp não é QxatamQnte o local afa$t~o qu~dQtona os acontecimantoa, ~. a au
sêneia, o afaStlUOOuto da pessoa de posiç;o-ch..we no parentesco). Pode haver madia
ção 'perto de casa', como no~omento das criançal eltarem debaixo de una &rvore
perto da casa do caçador, que age camo mediador po.itivo em direção ã ~econ.titui-
4 1 zyxw
nos são lMchos ou não machos, e pessoas do sexo 9posto são disponíveis como ~~rcei
rOI sexuais ou neO-disponíveis.Universalmente, essas sao as oposições Uk"\isfunda
mentalmente inportantes em toda a experiência humana. (Leách, 1969: 9-10)
li
42
c. A Princts& doSono-semrfim
- Nem vale a pena tanta sina boa para essa menina. Ela será tudo
isto mas durante pouco tempo. Quando se puser moça. irá visitar a quinta .doseu
pai ê aí furará a palma da mão com um fusO de fiar algodão e morrerá logo, sem
remédio nem jeito.
As fadas, que já tinham fadado e não podiam desmanchar o que a fa
da velha tinha feito, choravam, quando a fada-mais-moça saiu de detrás de uma
cortina e disse:
.,
- Nao posso des~char
- .' -
o que f01 fadado porque nao tenho poderes
~s como ainda não fadei, fado esta menina pára que, quando o fuso lhe ferir a
palma da mão, não morra mas fique dormirtdo cem anos, acordada que seja por um
prineipe, case e seja feliz. Acabou-se a festa c o rei proibiu, sob pena m mo!.
tQ, que algu~m fi~sse com o fuso no seu reinado. Apesar de todo cuidado, qu~-
do a princesinha inteirou os quinze anos, foram todos vi~itar outro palácio que
o rei possuía dentro de umas ~ta8 mais bonitas do mundo.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJI
A menina andava. para
cima e para baixo, corrigindo tudo, e la
num quarto esconso da casa, encontrou
uma velha aUk~ que estava fiando. Pediu logo para ver aquilo o que era e dese-
jou imitar. Assim que pegou no fuso, este saltou e varou sua mão. Nem marejou
sangue mas a princesinha caiu pAra trás, como mortA. Correram todos e deitaram
a menina numa cama, num quar to prepar ado de um tudo, cnpc Ihando de bonito. A f a
da moça veio voando e bateu a varinhe de condão na c~eira do palácio. Todo Õ
!Jlll!ll1iiiõ;;;;:',.". ~ _
.•
44zyxwvutsrqponmlkj
mundo que estava dentro, tirando o rei e a rainha, pegou ~o sono profundo.Os muzyxwvutsrq
com 08 instrumentos na boca e a mesma cozinheira agar-rou a dort~r
sieos ficaramzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
com a mão se~urando uma galinha que estava assando no fogo. O·rei e a rainha,
como aquilo era sina permitida por Deus, beijaram a filha, abençoaram e foram
embóra, com a fada, para o reinado. Por la norreram e o reinado deles acabou-
-se. Sõ ficou o palácio dentro do arvoredo, com a princesa dormindo o sono sem
fim. Era o que meu avô contava a meu pai e este me contou quando eu era menino.
O príncipe ficou alvoroçado eom a historia que o velho contou e
não dormiu pensando na princesa encantada. Pela manhã pegou um facão bem afia-
do e tocou-se para a mata, perto da casinha de velho. Chegou e meteu o facão,
abrindo uma picada, porque era tudo fechado, fechado. Ia abrindo e entrandop e
assim trabalhando, foi andando, ate que deu numa "roda de árvores enormes e no
meio estava o palácio coberto de cipós. sem nenhum rumor, parecendo morto. O
príncipe entrou pela porta principal e foi vendo soldados, músicos, damas e se-
nhores. ate cozinheiras e meninos. até os bichos, tudo parado, dormindo a sono
solto.
Depois de subir as escadas e passar as saias cheias de- gente ron-
'cando, viu deitada n~ua carna~ forrada de seda, a w~ça mais bonita que a terra
havi~ de comer, profundamente adormecida. O príncipe chegou para perto e pegou
na mao da princesa e esta logo abriu os olhos, dizendo:
- Oh príncipe! Como demoraste em vir! •••
O palácio estremeceu e ·todo mundo acordou. O príncipe ouviu as
. cornetas tocando, bichos be rrando, as pisadas ~os soldados, gritos, a músicaJe~
fim o barulho de gente viva ,
Veio um mordom~ nuito bem vestido anunciar que o jantar estava na
mesa e o 'prínc:';acomeu a galinha que estava 8e\.1dO assada há cem anos.
Ficou aí como num céu aberto. Veio o padre e casou os dois sem
perder tempo. Os dias voavam e a·princesa era feliz. O príncipe, sabendo a mãe
que tinha, ia ao palácio dar ordens e voltava, dizendo que estava caçando. Não
queria que ninguém o acompanhasse. No fim de um ano a princesa teve um filho
lindo que se chamou Belo-Dia; e no outro ano nasceu uma menina, batizada por Be
Ia-Aurora.
Apareceram umas guerras e o príncipe não podia deixar de ir com
as tropas. Como não queria deixar a mulher e os filhos naquele êrmo, resolveu
levar todos para casa. Foi na frente e contou·o que se passara a. sua mãe. A
rainha-velha só fazia· pigarrear, com a cara fechada como o rei Herodes. maginan
do cousas ruins. -
Antes de ir embora, o príncipe dividiu o palácio em duas partes •
A rainha-velha ficaria num canto e a mulher com os filhos noutro, todos comeria
dos e.conforto. Chamou o principe ao mordomo que era muito seu amigo, de toda
confiança, e pediu que vigiasse a família e tivesse cuidado comarainha-velha.
Assim que o ?rrn~ipe montou 8 cavalo e viajou, a rainha-velha co-
~çou a ter vontade de beber sangue e comer carne humana. Ficou mesmo bruta e
nao podendo passar o desejo, chamou o mordomo e mandou que lhe servisse Belo-
Din, com bom molho, no almoço no dia seguinte.
O mordomo só faltou morrer. Pensou, pensou, p rocurou a princesa.
CODtou tudo, levou Belo-Dia para sua c8sinha,longe do palácio e escondeu-o. N~
~hã do outro dia ~~tou uma lçbre, guizou-a bem e avisou que o almoço estava na
mesa. A rainha velha comeu a fartar lambendo os beiços e gabando tudo. Dias d~
pois, veio o desejo e ela mandou que o mordomo matasse Bela-Aurora. O mordomo
levou a menina para casa e assou uma paca. A rni~~a achou o prato gostoso por
demais. Dias passados, exigiu que a princesa fosse refogada em molho de tomate
e cebola, para o jantar, porque tinha a carne dura. O mordomo levou a princesa
para sua casa, juntou-a a05 filhos. bem escondidos, e matou uma ve ad'i.nha
, refo-
gando-a e preparou o jantar, com molho de tomates e cebolas. A rainha velha co-
45
saboreando.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
meu, zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
o~ dias Iam passandozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e a velha tornou a ter a cisma de carne huma
na de cristão e saiu de noite, como uma desesperada, farejando quem mandar ma-
tar para saciar sua sina. Ia p~ssando por uma rua longe do palácio. tarde da
noite; quando ouviu a voz da princesa sua nora e a dos netos, conversando derr-
tro duma. casa. Subiu na calçnda, eneostou o ouvido e soube que era ali a casa
do mordomo e que a princesa estava fazendo Belo":,,Dia. dormir, porque este perdera
o sono e acordara Bela-Aurora, todos com saudades do pp.i.
A rainha-velha, feia como uma coruja, nem coração tinha para es-
aas cousas,saiu babando de raiva e pela manhã mandou prenõer a nora, os netos
e o mordomo. Uma fogueira enorme foi feita diante do palácio, e quando o bra-
seiro estava escande ando de quente, a rainha-velha veio para a varanda assistir
a morte da mulher e dos filhos do seu filhó e do pobre mordomo. Já vinham to-
dos amarrados, no sol pegando fogo, quando ouviramzyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
li fortaleza salvar e o tro-
pel de cavalaria. Era o príncipe que vinha voltando com os seus soldados,morto
de saudades da mulher e dos filhos. Chegando na praça e vendo aquele horror, o
príncipe voou do cavalo em baixo, puchou a espada e livrou a esposa e os filhi-
nhos e o mordamo dM cordas, e bufando de raiva. gritou perguntando quem se a-
't.reve
re a por a mão no que ele quer a de mais em e.ima do Mundo.
í
,.
"'..
I
I
.
for\.:~
46
3. A análisezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
mãszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
fJ fl"Lho
b) o Vg . '.
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB
lho e o prineipe
48
Observemos a oposição que • apontada desde logo entre velhice
• juventude, em que o pri~~iro elemento, na figura da rainha-v~tha~ parece a-
juventude~ ê valo-·
trair para si toda a C6Iga negativa, e o segundo elemento, azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU
rizado positivamante. pelas características com que é qualificado o príncipe e,
mais adiante, com os atributos com que as fadas presenteiam a princesa. Nesse
8entido~ veremos como também azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB
fada-velha será alinhada na valoração negativazyxwvutsrq
da rainha-velha,
-.'
repartindo com esta a carga destrutiva da estor18 - que o prL~
.,
cipe,. como porta-voz do elemento positivo, neSSG momento, com sua bondade e va-
lentia. e sem tacha, irá neutralizar.
c) azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
pM:ncesa adormecida
sim co~ o sangue, mAncha natural. Cremo! que este elemento se impõe cada vez
mais como determinante na percepção de'um eixo que parece estar aubjacênte à
narrativa, associado ãproblemãtiea feminina dà juventud@ e da velhice. Igual-
mente, há não somente ênfase sobre o aspeeto de~nCha vermelha mas igualmente
quanto ao elemento t essa t ("parece-ndo um telhado de casa"), que leva ã idéia de
um lar, ,onde o príncipe antevê a po~!ibilidade de construir o seu, j~ que não
possui, na verdade, dentro das cireun8tâ~eias que o rodeiam no seu palácio. Az-
lim, a motivação de encontrar a ea~ que está ao l~nge está li~ada ao eixo de
reconstituição da família, objetiv~ a alcançar. E, igualmente, podemos colocar,
aqui um outro aapecto f que se apresenta mais velado neste conto (enquanto foi
mais enfati~ado no conto anterior), mas que entretanto pode ser apontado,com 8~
.F
51zyxwvut
f importante assinalarmos igualmente que o p~lãcio da princes~
ao longe, &istante do rein2do, perto da flcresta~ em local nio bem definido. i,!!.
sere as ocorrências num campo liminar, campo esse em que o encantamento opera
com sua maior força.
-
Certas expressoes na narrativa do vclho devem ser apontadas,c~
mo por Qxemplo eom referência ao rei e rainh.'\do palácio na floresta, os quais
"morriam de vontade" de ter filhos; embora esta expressão possa constituir for-
-- zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
52zyxwvutsrqpo
ç a de expressão como parte do repertório da própria lingua, e portanto ~OS8a e s zyxwvutsrqpon
tar r~fletindo uma determinada cultura popular, cremos que tem uma relação (in-
tencionalmente, cremos, pois nada aqui é acidental) com os elementos de vida e
morte tão ressaltados na estória. Da mesma forma, a idéia da rainha ter "des-
cansado uma menina", com referência-ao parto, expressa a crença popular do tra-
balho 'do parto (e, por associ~ção, da relação sexual e da gravidez), compensado
pelo "descanso" de UI!1 filho. Convém apontarmos a maneira velada como os elemen
tos liga.dos ã relação entre os sexos são tratados' nessa sociedade, e não somen-
te com referência 2. relação entre os sexos -mas também aos acontecimentos bioló-
gicos na ví da- de uma mulher, como primeira mens t ruaç ao , sua primeira rela-
.-
SU8.
â)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
os fados
que ela representa, agindo como catalizadora de todos os outros elementos que
possam por' em perigo li hegemonia do amor do fi 1~0 para com a mãe. Naturalmente •
.'ao fazarmos talassodação entre e Iereent.os distantes na' narrativa, em termos de
suasequência de apresentação - e não estarmos observando a sincronia da estó-
ria - estarnos agindo, entretanto, a partir ae uma perspectiva diacrôniea, para
dar conta de todas as relações entre os elementos, que a ,princípio podem pare-
cer inexplicãveis mas que se esclarecem, a partir de perspectivas diferentes de
análise. Portanto, no final da análise, veremos
mos agora passam a adquirir signifieado,
COMO
ao observarmos
as considerações
como a mãe do
que teee
prfncipe i
.ii
I
é colocada em oposição ã família de casamento deste, demonstrando mais nitida-
;
rno nos moltra o contador popular, pela existência de alguém como a rainha-velha.
Ou talvez' o nível dos fados e dons tenha .ido tão elevada que sua duração não
poderia ser longa - daí o aparecimento da fada mais velha.
~
"'\
h '·
I
í
'.·1"
l~
54zyxwvuts
l~
cesa, as f4das lhe desejAram coisas boas, ,orêrn 'Ó pOB.íveis desde que a prince-
sa,permaneceuezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
viva. O maior dom que lhe poderiam ter "fadado" seria o proprio
dom da vida, mas disto nao seriam ca?azes. haja visto que até as próprias fada.
podiam morrer (pQlo que se pode inferir do que supuseram ter ocorrido com & fada
mais ,velha). Em outras palavras, o dom por excelência não seria o dom da vida,
pois este a princesa já o tinha por seu na.eimento, ma. o dazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ
pe~;noiaem vid~
da conquista da morte. Como colocamos acima, a'narrativa le mantem em um nível
de eoi.a. pos.rveis, não a.sumindo proporções totalmente encantadas. O nível do
pOBs!vel e extendido até os limites do encantado, do mágico, mas sem penetrar to
~almentQ nele. O ponto de referência é sempre a esfera do humano, do limitado,
embora com earaet~rístiea8 muitas vezes exageradas ou metamorfoseadas, dando a a
parência do m&ravilholo.
A fada mais velha, sentida por não ter sido convidada para o bati-
zado, lança sua prediçÃo: "Quando se puser moça, irá visitar a quinta de seu pai
• ar furará a palma da mão com um fuso de fiar algodÃo e morrerá logo, Cem remé-
dio nem jeito. fi Parec.~nos haver uma clara referência ao fato da princesa se
tornar mulher, ou seja, na epoca 'de sua -primeira menstruação - "quando.e puser
moça". ' f interellante notarmGs que quando isto ocorre a narrativa nos diz que
"nem marejou sangue" com o ferimento do fuso (enbora em outras versões isto se
dê). Na verdade, vemos como a cultura local, refletida no conto, mantém seus pa
drões de 'moralidade' e de recato nas expressões que utiliza para falar sobre as
ocorrências normais na vida de ~a mulher; a tal ponto que, assim como vemo. uma
metáfora para tratar da menstruação, podemos inferir uma de proporçoes semelhan
te. em referência ã menopausa, a que já aludimos. Desenvolvendo o tema do fuso
de fiar algodão, perguntaríamos se não constitui este um instrumento tipica~nte
de uso feminino, envolvendo uma atividade feminina, a de fiar, de costurar, liga
da ã atividade caseira, doméstiea. Concluimos. portanto, que há uma dupla refe-
rência ã condiçã~ da mulher \eomo se uma não fosse cufieiente e o narrador achas
se por bem, frisar ainda mais o fato - o que nos fas pansar em sua importância.):
ficar "moça" (ou menstruada) e entrar em eontato C01ft um elemento de extrema im-
portância para seu pllpelde mulher. Igualmente, por que "ae. remédio nem jei-
to"? Porque não há remédio para a menina deixar de se tornar mulh~r e se desen-
volver normalmente no ciclo de vida. É inevitável. Parguntsr-nos-iam, certamen
te, como chegamos a tal eonclusão, tendo e1l1vista o conto falar justamente demo.! .
te e nós estarmos concluindo que na verdade se refere à vida. Cremos que o en-
cantamento opera muita. vezes por inversões, como já a.sinlllamos. Assim, penla-
55zyxwvutsrq
mo. que a morte imediata a que a fada mais velha faz referência e.taria ligada.
num .entl&o mais profundo - e estritamentt em termos dos elementos que a narra-
tiva no. fornece (vide "quando se puse r aoça") ao fato de que, ao se tornar mu
'lhar, deixa de ler criança, menina, ou seja, morre a menina e nalce a mulher.Ve
jamo'.bem: como diz a fada mais velha, para a morte não há remédio nem jeito,
tanto é que a fada maia moçe pode 'remediar' a situaçÃo que, portanto. não era
, como cremos
irreverslv.l em termos de vida, mâS em termos de 'ciclo de vidatzyxwvutsrqponmlkjih
que a narrativa está informando.
fJ a proibição do fuso
lher, tão vital que, se a menina dele se inteirasse, 'morreria' ou~ como nos é
informado Mais .adí.arrte, passaria a ser "moça". De acordo com Freud, "... uma
coisa que G proibidá com a maior Qnfase deve ser uma coisa que é de.ejada.1t
(Freud, 1964:69). E ainda: "Onde há uma proibição deve baver um desejo subja-
cen te." (Ibid.: 70).
""'!I ~-----=----~~:=;;;;;;;;,_.-
••....•..
-.•...
_-.:----~
, 51
de sancionar determinados atos, eamo a dG 'fiar' - que era tund~nt.l e eonsi-
atividade no rma I para os seus membros (tanto que para aboli-Io
deradozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA foi prec!,
50 a pena de morte. tal o nível de integração que teria no cotidiano das ativi-
dades) - ele lê torna uma atividade lfeseonta", escondida, repudiada pela moral
social. E, como já haviamos .ssinalado? o que o conto está afirmando parece
ler ,8 'mortQ' da menina, ficando "moça", e, eonsequentemente , seu afa.tamento da
geraçÃo dos pais - atrave.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
do 80no de cem ano. - e podenos concluir que, na ver
dade, o fUBo .e refere a dois 8spectos fundarnentaisna vida da mulher que eão
complementares: a ~nstruação, que da início ao ciclo realmente feminino e des-
perta a moça para a funçÃo que se eonsumará, depoia, no'ato sexual e, por conse
.quência, no seu potencial de maternidade, período em que, em termos biológicos,
"não marej a sangue".
Vemos, a seguir, que apos cair.para trás como morta, todos deitam
a menina numa cama, "num quarto preparado de um tudo, espelhando de boniton.Por
que .já preparado? Não havia sido proibido o fuso? Como sapiam que ia ocorrer?
Realmente, a estória' nos moetra que os esfo~ç08 do rei eram no sentido meramen-
te de adiar ~ acontecimento que já estava· irrefutavelmentemarcado. A fada v~
lha não havia l!Iencionadoidades, mas di.·s~"':"~
"quando se puser moça", o que pode
ocorrer dentro de uma faixa ampla na adolescência. O conto nos confirma tal su
posição, na medida em que~ como dissemos, o quarto já estava preparado;igualmen
te, ao afirmar que o rei e & rainha aceitam o fató, pois naquilo era sina permi
tida por Deus", ou seja, o destino contra o qual não adiantava lutar. Tanto é
que o rei e a rainha vão-se embora para o reinado, após beijarem e abençoarem a
filha. Podemo. obse rvar que essa aceitação. pasa va da ocorrência, por parte dos
í
pais (e note-se que .eles .ão os únicos que saem do palacio e depois morrem e ozyxwvut
.~ut'einado ee acaba). parece fazer alusão ao fato de que os pa s não •• is í têm
função na vida futura da filha; seria o ciclo da vida, das gerações p que eles
aceitaram conforrnadol,- era eina permitida por Deus •. Como vimos, o rQinado de-
,les Se acaba, ou sejtt9 nãG mais são necessários e imprelcindíveis ao desenrolar
do. acontecimentos, e a filha seguira SQU caminho como fôra predestinado, casa-
rà e sera feliz'- como 'fadarà' a fada maia moça. A geração dos pais 8e acaba,
para ser sucedid~ por outra, .eguindo a ordem da8 coisas.
g)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
o prlnaip. • a be la adormecida
mentos, mQsmo nesse que serill de felicidade, em que ele se casaria com a princ~
aa. A própria relaçÃo sexual ê nesse momeu.to aproximada ã morte fíeiea, na me-
dida em que o conto.nos apresenta tais elementos em uma sequência que os a.so-
cia diretamente, quando descreve a'entrada do príncipe ate encontrar a princesa
e, ao encontrá-Ia, pega-lhe a mão, um ato de amor que alude ao ato de atoor lite
ral, o ato sexual - que advirâ naturalmente em seguida com o casamento que logo
·se realizará, usam perQer tempo". Ao descrQver todos esses fatos com & sequên
cia e a proximidade com que faz, o contador popular não parece agir acidental-
mente; relaeiona, de fato, os elemento. porque e.tes estão relacionados na so-
ciedade. Morte, vida, sexo, amor, se ~sturam a cada momento da vida, estreita
mente relacionados.
----- ------
60zyxwvuts
A .eguir os doi. 'ta ealam cem pel'd3 de tempo -e .ue era o- tempo,
enfim, para quem dormira eem anos? A dimensã. temporal é eOftoebida no campo do
maravilholo da forma extremamente elastiea, mas eont~m os elemento. do real. em
i.
bora intensificados, neste caio. A narrativa ainda nos diz com refe~êneia azyxwvu
80 que os "dí as voavam", e aerescenta em seguida que. 4 princesa .ra feliz.Feliz
porqúe os dias voavam, p8sIavam rÃpido agora que estava easada, que era mulher,
que tinha marido? Feliz porque aeordara de seu"sono profundo, que durara cem
anos, e agora, despertando para a vida, ciente de lua eondição de mulher, podia
de.frutar do dom da vida enfim? Ou, mais provavelmente, porque cumprira sua'si
na', seu lacrifrci~, seu período de solidão, durante o qual perdera todo o con-
"tato eom a sociedade, estivera 'ausente', fora de toda a estrutura social, 'eon
gelada' soeialnente: sem pais, lem posição de parentesco, sem posição na socie-
dade ( o preprio reinado do rei, seu pai, se acabara), estava num palácio. ms$
dentro de uma floresta, em que homens e animais se associavam em seu sono,em r~
natureza~ernhora fO~8e princesa (cut~) e e.tive ••e~
lação, portanto, eom azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
mindoum 80no de proporções encantadas (8obrdnat~t).
-,..
61
é agora ameaçado com a perspecti va
família expresso e valorizado na narrativazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFE
a sua composição. Vemos como às guerras são
de ausência de um membro essencialzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFE
tratadas como uma ocorrência natural, aceita no cotidiano, sem causar sobressaI
to, apesar de frequenteme~e ocasionarem a desorganização do grupo familiàr.
I
na de gerar. Com sua partida, via-se frente ã esterilidade - a menopausa ~ e
dai sua ânsia de beber .angue e comer"carne humana. Vemol que como não pOdia
"passar o desejo" de beber sangue e comer carne huaana qui. comer Belo-Dia - o
filho-homem de seu filho (assim como este havia sido para ela). Observemos i-
gualmente a idéia da. 'desejo' - popularmente associada ã gravidez, ter desejo
de comer algo. Assim, não podendo engravidar, tem o prbprio desejo de colocar
dentro de sua barriga - seu ventre - uma criança: pelo ato de comê-Ia. E, vej.!,
mos bem, nao qualquer criança, ma. o filho de seu filho.
casa era o resultado de suas 'caçadas'. Agora, a rainha-velha quer comer o que
o filho ttou~gra da caçada, e o mordomo lhe ofe~ecet realmente, animais de ca-
ça: uma lebre, uma paca e uma veadinha.Para a rainha-velha, como vemos ao co-
mer os animais e não notar a diferença, o que parecia importar era que pensava
serem seres humanos, que constituiam sua 'caça', tinham sangue. Hã aqui uma o
posição de elementos naturais e culturais, refletida nas proprias característi-
guí.aada, assa-
cas da rainha-velha e mediadazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
pe.La forma de elaboração da carne:zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
da e refogada - o que indica uma gradação (de acordo com os critérios da narra-
tiva) a partir do mais 'mal-passado', prõximo ao cru,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM
naiural., ao mais 'bem-pa1!.
sado ", próximo ao coz í.do , mais elaborado ·cu1.tumz.mente·~ numa relação inversacom
a rainha-velha: quanto mais cultural se tornava p alimento, mais natural (ani-
mal) o comportamento da rainha-velha, ou seja, mais demonstrava sua animalidade~
matando e comendo mais pess'oas.O mordomo, parece··•.
los,··
procura equiparar o ali
mznto que prepara - atraves de sua gradativa elaboração (aproximando-o de um e-
lemento cultural) - ao alimento que ela desejava,. seres humanos (ou seja, igual
mente um elemento cultural).
A rainha ouve a voz da princesa sua nora e dOR netos - aqui ê es-
clarecido o parentesco existente entre estes ezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQ
8, rainha, justamente quando esta
pensava estarem eles mortos e comidos já por ela. Parece que, enquanto vivos,
ela só os podia conceber em relação ã afinidade; depois de mortos - ou de assim
pensar que estivessem - suas relações de parentesco podiam se esclarecer no sen
tido de uma consanguinidade, refletida no próprio fato de que ela pensava ter-
-lhes bebido o sangue e comido a carne (associação também com a ideia de comu-
nhão, que podemos acrescentar ã idéia de cristão acima: beber o sangue -:' vinho
- e o corpo de Cristo - pão)~seriam agora realmente do mesmo sangue e da mesma
carne: •consanguineQs , ! l~sBa forma completamente literal de considerar o pa-
rentesco de sangue como identidade de substância torna fácil entender a necassi
dada de ser renovado de tempos em tempos pelo processo físico da refeição 8&cri
fical." (Snuth, 1894: 1398zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
apud. Freud, 1964: 137-138).
humanos? Devido ã impossibilidade - por não ter mais marido e por ser velha -
ela xesoIve a problema de forma inversa, ,poré~ estruturalmente chegando aos me!,
mos resultados: o ato de comer torna-se seu ato 'sexual e a ingestão de pessoas,
ficando em sua barriga, seu ventre, lhe substitui uma gravidez que não mais po-
de obter - e não só por não ter marido como igualmente por necessitar de 'san-
Jgue' (vide sua,sina), alusão, segundo conc:lulramosde início, a sua menopausa.
Enfim. parece-nos haver uma critica ã condição, de viuvez na mulher, que se agr~
va com sua esterilidade; o desespero"que isso provoca dã margem a atitudes ani-
roalescas. Na verdade, a mulher tomou a si tanto a função masculina (representa
d~ pela busca do que comer~ da caça) como a feminina, de conservá-Ia em seu cor
po. Como naturalmente o processo não pode durar o tempo de uma gravidez e na
verdade esta não redun,danas consequências naturais (o parto, nascimento de fi-
lhos), é necessário que se repita seguidamente. Além disso» podemos acrescen-
tar o fator da nãO-disponibilidade de parceiros sexuais, a que já fizemos refe
rência no conto anterior. Assim, não havendo outro rei com quem ela pudesser~
lizar um casamento no seu nível social, a situação e irreversível. So havia no
reinado o príncipe ,seu próprio filho, com quem a relação seria naturalmente san
cionada pela sociedade. Assim, ela toma a si as próprias funções do filho (en-
quanto marido) e da princesa (epquanto esposa e mãe), na sua ânsia de comer se-
res humanoe , .Segundo Freud , "Uma mulher, cujas necessidades psico-sexuais en-
contr'ariam satisfação no seu casamento e na sua vida familiar, ê frequentemente
emeaçada com o perigo de ler deixada insatisfeita, porque a relação de casamen-
to chegou a um fim prematuro e por causa da'monótonia1 de lua vida emocional.
Uma mãe~ ã medida que envelhece; se salva dessa 8ituação colocando-se no lugar
de seus filhos, identificando-se com eles, e realiza isso tornando suas as expe
riências emocionais deba. ti (Freud, 1964: 15).
1. No zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
oPigir.a.Z "uneventfuZ.nes8 ti.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
: ,z
*'
66
do seu significado, até nos menores detalhes que reforçam as linhas principais.
i) zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a opção final, do p1!lncipe - a fa:mí.Ua l"einte~ada
validade existente entre, os dois~ com relaç~o às mesmas pessoas, o que nos mos I, ;
tra que a narrativa está nos dizendo a re~peito das atitudes exatamente opostas
de uma mãe para com a nora e os filhos desta. em relação a seu filho, O qual se
expr muu a respeito destes como "o que ele queria de mais em cima do ~undo"
mais do que à ~e, portanto. Podemos sugerir • a partir desses elementos que a
narrativa nos fornece, que um sentiménto muito forte movera a rainha a realizar
os atos que desejara, o ciÚme do filho (que ousara amar outras pessoas mais do
que a ele), a inveja do nora (moça; que podia ter filhos, que tinha um mar-ido, .
que não era es téri1), e das crianças, seus netos, que eram a prova concreta. de
sua velhice. de sua condição de,avo, e do fato de que não podia mais ter filhos.
67zyxwvu
que obteria se ficasse viva - e esse castigo, podemos concluir, seria a consciên
eia de sua rejeição pelo filho.
-----•.•.. ~
68
o mundo que o cerca, lutar pela superação dos obstáculos e reconstruir o futuro
a partir das bases agora lúcidas do presente. A separação e o risco de
perda
quase total e irreparãvel agem agora no sentido de uma união maior, porque foi
dado.ao indivíduo a possibilidade de optar.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM
4. Comentãrios
QualzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a estrutura de liA Princesa do sono-sem-fim"?
.
Em nossa op1n1ao, .-
é bastante semelhante ã de liA Rainha e as Irmãs". Em termos gerais, podemos cE-
locar a existência de certos momentos centrais que isolam os polos de intensa
dramaticidade da narrativa e nos permitem vê-la como um todo coerente. na medi-
da que esta propõe seus p rob Iemas e resolve passo a passo isuas oposições, a-
em
través de elementos mediadores q~e equilibram os conflitos de cada momento par~
ao final, propor uma solução globai que recr.í a a estória e a traz, novamente,pa
ra o o'rdenamento do modelo que sugere implicitamente no inl:cio (não narrado),~ <
deIo idealizado de integridade estrutural - ónde cada elemento tem seu lugarzyxwvuts
e
seu par correspondente e complementar, e a narrativ~ se completa em sua auto-su
.ticiência •
I
Esses momentos-seriam. similarmerlte aú conto anterior:
I
A mesma análise que efetuamos, ao comentarmos o primeiro conto pode
ser aplicada a este. Entretanto, embora consideremos que todo o conjurttode co~
tos ~ravil~osos tratem da mesma problemática, cre~s que em determinados con-
tos certos elementos' são mais· enfatizados enquanto outros se encontram menos de
I
senvolvidos- o que , na=ver dade , nos permí.t;eum ent.enddraen to maior de cada conto
e de seus elementos menos explícitos por teferência ao outro.
casado e, portanto, não terem tido filhos 1dentro da moral social, aparentemen-
te não permitido), no presente conto vemos como a rainha-velha vive a sua velhi
ce e sua esterilidade. na ambição - já irrealizãvel - de reaver uma condição fi
siológica que possuira antes e uma consequente posição doméstica de maternidade.
Em contraposição (e equivalência estrutural), vemos a princesa percorrer o C1-
elo de sua vida desde menina, até 'ficar moça' e, finalmente mulher e rnãc,ciclo
.--:-----..• zyxwvutsrqponmlkjihgfed
-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA - --_.~
5 j
70zyxwvuts
este já percorrido eagor& encerrado para a r~inha-velha, mas que esta luta de-
~perdd8mente por r~8ver. como pudemos concluir por sua necessidade, seu dese-
jo de sangue humano e de carne (carne jovem, principalmente, como pudemos cons-
tatar, por seu desejo de comer primeiramente as crianças e a própria princesa,
mulher jovem se seu filho - embora haja ambiguidade na pessoa desta, pois ê uma
moça que havia dormido cem anos). Procuramos mos~rar que o próprio desejo se
compara ao que popularmente se associa ao desejo das mulheres na gravidez. O fa
to de querer comer a nora e.os netos, a sua ânsia de 'incorporá-Ios' parece se
referir a um desejo desesperado (e insaciável) de reaver qualidades que teriati
do na juventude, de ser mulher jovem, fertil, poder ter filhos, etc. De acordo
com Freud, "Ao incorporar partes do corpo de uma pessoa atraves do ato de co-
~r. adquire-se ao mesmo tempo as·qualidades p05sui:das por ela." (Freud, 1964:
82) •
.
mente no anterior. Trata-se da atitude das pessoas frente aos acontecimentos ezyxwvutsrqponm
situações a que estão sujeitos em sua situação de vida~ Parece-nos que a narra
tiva n08 diz que exís'teurna conformação, uma aceitação dos fatos adversos que
ocorrem às pe8soas~ que não po4em mudar seu destino. Assim, o príncipe, e aque
,
1a sociedade em geral - como o demonstram a pas s í.ví
dade do velho, do mordomo
estão cientes da doençe da ~ainha-velha, mas não tomam nenhuma atitude quanto a
isso. O rei e a rainha se sujeitam ã sorte da filha- a partir dos fados - pOE
que "aquilo era sina permitida por Deus". O destino torna-se, ã primeira vista,
portanto, um elemento fora do controle humano - se for bom, como haviam sido os
fados das fadas boas, tanto melhor; se for mau, como o da fada mais velha, nao
há nada a fazer. A tentativa de evitar que se cumpra o que estava predestinado
não funciona - vide a proibição do fuso e o encontro da velha ama com a menina.
po, de modo que $UaB ambições sejam ~em sucedidas. Se o indivíduo age de 'acor-
do com os padrões estabelecidos'pela sociedade, observando seus preceitos e ps~
ticipando de seus valores, suas chances de sucesso são certas. Ao contrârio,se
age de acordo com seus próprios instintos individuais, abandonando as regras do
grupo, seus planos e ambições caem por terra e recebem, o desprezo social e a pu 11i
nição mereeida. Assim, o rei e a rainha se conformam com a 'morte' da filha U i!
'porque aquilo era sina permitida por Deus ~ poderiamos então equacionar ~~ui as
l".:::
,.'.
'.I
1,,1
Nesse sentido, vemos~ por exemplo, a forma como opera nesta narrati-
va o eixo da mobilidade social que, embora menos explícito que no conto ante-
rior,' nos fornece eLementos suficientes para percebermos sua importância, agin-
do a ambição de mobilidade, quando incontrolada, de modo a ir de encontro aos
objetivos valorizados definitivamente na narrativa, relacionados ã integridade
da família. O pr Incí.pe , por não poder deixar de ir com as tropas para a guerra,
preferc'a manutenção de sua heeemonia como chefe do'reinado, a exercer sua fun-
çeo de marido ~ de pai junto ã familia., Tal eixo, como vimos no conto anterior,
opera no sentido de minar ~ integridade da família. No presente conto, vemos
que é a partir da viagem do príncipe que sua família passa a correr perigo e -e
só com sua volta - e em decorrência exclusiva dela - que a situação se solucio-
na. Não esqueçamos, igualmenté, que, ao final. o príncipe nomeia o mordamo p.!.
ra vice-rei de um reinado que ganhara na guerra. A narrativa, mais uma vez,foE
nece sempre os elementos necessários para conter sua lógica: o príncipe fora ã
guerra, então, não simplesmente para assumir sua posição de chefe do reinado,c2,
mo parte de suas atividades como príncipe - o que seria de se esperar em termos
:l
72zyxwvu
.
ambição social exagerada age aqui em detrimento do eixo da integridade da. fami
... .
114, modelo nitidamente valorizado nessa sociedade. Entretanto, como o pr1nc1pe
era um homem bom e sem tacha, como foi descrito de in!cio, apesar de sua valen-
tia (atualizada, talvez~ com o fato de ir às guerras), foi capaz, ao final, de
salvar sua família ·eremediar a situação, tendo optado ao' mesmo tempo pela fa-
m!lia que constituíra através do casamento, uma yez que foi impossível conci-
liar a mãe com sua mulher e filhos, tendo em vista 08 impulsos puramente indivi
dua.is daquela, em detrimento da sobrevivência do grupo familiar. Quanto 8 esse
aspecto. vemos que foi preciso que visse os filhos e a mulher na fogueira para
finalmente compreender seu papel fundamental ao lado da família e 8 desorganiz!!
ção de relações que sua ausência desencadeara. No conto anterior, foi preciso
que os próprios filhqs, apôs terem sofrido igualmente a ausência e rejeição do
pai, restituissernrlhe a.visão, o entendimento das coisas que, em sua cegueira,
seu desligamento, deixara ocorrer, sem umá visão cr!tica sobre elas. No prese~
te conto, vemos como o elemento s~ parece demonstrar uma passividade frente
aos acontecimentos, um desligamento e um 'fechar de olhos', deixando que aS coi
aas ocorram como têm que ocorrer, sem i.ntervenção ou iniciativa pessoal. f pre-
ciso que elementos fortemente culturais - como a menina na narrativa anterior
ou o príncipe e também o mordomo nesta narrativa (que concentra os aspectos f~
damentais de valorização doa objetivos sociais, atraves da tentativa de manter
os membros da família unidos e da ausência de uma ambição social como único mo-
tivador de suas atitudes - recebeu o vice-reinado como prêmio e recomp~nsa pelo
bem que fizera e nno como resultado de uma ambição visando somente a satisfação
de um desejo pessoal de poder) - enfim, ê preciso que as pessoas que agem den-
tro dns normas e aspirações de caráter marcadamente social, tomem a iniciativa
de 'despertar' aos outros, de 1embrar-lhes, pelo seu exemplo, da importância da
ação do grupo como uma unidade, .para salvaguardar a própria sociedade e a conti
nuidade do próprio homem como ser cultura. e separá-Ia definitivamente da
dazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA na
tureza.
7 3 zyxwvutsr
IV - CONCLUSÕES
Como.nos propusemos a demonstrar, no início deste trabalhozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY
p cremos que
existe uma determinada estrutura, subjacente ao conto maravilhoso, que pôde ser
entrevista atraves de uma análise simbólico-estrutural. Nossa metodologia, em-
bora baseada nos procedimentos indicados por Levi-Strauss ã análise es-
quantozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV
trutural (Cf. Levi-Strauss, 1967) divergiu um pouco deste autor, na medida em
que ele propôs realizar-se, em primeiro lugar, o que seria a análise estrutural
propriamente dita, para depois poder-se atingir o nfvel do significado da nar+
ratizyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
v e: - como ele mesmo veio a realizar. em IILa Ges te d 'Asdiwal" t por exernp 10.P~
ferimos~ então, a~ontar, paralelamente ã separação do código do conto, igualme~
te a mensagem que este estaria expressando. Dessa forma, pudemos entrever pa~
so a passo a relação das partes entre si e em referência
todo que reflete, emúltima instância, e a um nível de explicação
ao conjunto como·
global, as re
um
I
':'
destinados originalmente a outros fins, ele realiza operaçoes tais que possam
75zyxwvutsrqponmlkj
1
Comreferência aos contos: "O pr{ncipe Zaga::t'tãoli~"Maria Gomee", "0 veado de
plumas", '~ px-inceea e o gifJanteN~ '~ princesa de Bambuluà",
77zyxwvutsrqponmlk
tros contosp em que, por exemplo, uma moça se propoe a ajudar a criar o prínci
pe que nascera com corpo de lagartop amamenta-o e posteriormente aceita casar-
-se com ele e salva-o do encant~ento, através da observação de um determinado
ritual com elementos religiosos (portanto culturais); ou como o rapaz que salva
una princesa encantada em jie por não ter tido asbições exacerbadas de enriqu~
car e por ter valorizado a'", ao in-
as qualidades de bondade e dedicação da IljIzyxwvutsrqponmlkjihgfedc
vés de sua feiura ou pobreza, por exemplo, casando-se coo ela e ainda ajudando
sempre sua própria família pobre, conseguindo,. ao final, desencantar a princesa
por·seus bons 3toS.2
I
bem a "punição 11
do s í.s t eraa , Veja-se ti. atitude das duas irmãs da rainha na pri-
meira estória, que querem destruir a relaçeo rei-rainha - marido-oulher e pais-
-filhos, ou seja; a frunl:1ia,categoria altamente valorizada na narrativa. As
irmãs são punidas no final. Igualmente, a rainha-velha, na segunda estôria,que
morre ao verem frustrados seus desejos cenibalescos de comer a todos os f!}Dilia
resmaí s queridos do filho, de st.rui.ndc sua família, por um interesse puramente
individual e instintivo, portanto marcadamente natural, em detrimento de um in-
tercsse de valor social, coletivo. Assimp os comportaoentos que visam sempre
a beneficiar os objetivos altm~ente sociais são sempre recompensados, e~;~ünto
os que visam prejudicá-los são sancionados. O que se quers em última instân-
cia, ê preservar o sisteQ8. As ações maléficas
-as
são atribuídas a indivíduos es-
.- .
pec~f1ccs que
. -
nno souberam se adaptar
.
regras do sistema. E o castigo sempre
.aparece nos contos da encantamento da mesma. forma que a recompensa pelos atos
praticados dentro das regras e eÀ~ectativas sociais -vide a criada e o caçador.
assim como o mordomo. Na
-
verdade, então~ não existe fortuid~de ou acaso nesse
sistema~ tudo ê previsto dentro de um determinismo inescapãvel.
2zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Caecuda ~ 1967: 86.
"A pl"inaes<1 jiazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Ii~
18
para aquilo que poderia ser também chamado de: "chance ", ac aso ,,, Mas .ns paI,!
vr as "chance " ou "acaso" são excluídas desta parzyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
t e do mundo fantástico •••• Po-
deríamos falar aqui de um deterrr..inismogeneralizadop umpan-determinismo:
dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
t~
,do, até o encontro de diversas séries causais (ou i1acaso"), deve ter sua causa,
no pleno sentido da palavra, mesmo se estll so puder ser de ordem sobrenatural".
(Todorov, 1970: 116) Nesse sentido, podemos entender como todos os elementos do
conto têm um significado entre si e se pode se~mpre buscar a explicação de ele-
mentos aparentemente menos explícitos, dentro' da própria lógica da narrativa.Já
postulara Lêvi-Streuss que, subentendido no sentido manifesto deve existir um
outro não-sentido~ uma mensagem envoltà num código. '~ã um não sentido subja -
ccnte em todo o sentido." (Lêvi-Strauss, 1973: 33). E a esse respeito, escre -
veu igualmente Todorov: " ••• Dk~is além do sentido primeiro, evidente, pode-se
sempre descobrir um sentido na s profundo í (uma llsurinterpretctionlf). 11 (Todorov,
1970: 118). E quanto ao que denominou dapan-determinismo acrescenta ainda es
te autor: IiOpan-determinismo tem como conseqüência natural o que se poderia
denominar de "pan-s,ignificaçãoii: pois, como as relações existem em todos 9S ní-
veis, entre todos os elementos do mundo~ este mundo torna-se altamente signifi-
cante.1I {Loa.ait.J
I
ficação geral da narrativa (dentro dos eixos em torno dos quais ela funciona e
dentro das valorizações que ela atribui a determinndos aspectos), nas' também os
ambientes e~ que ocorrem os fenÔmenos e os objetos que são manipulados. Todos
os elementos, portanto, "
adquirem um significado global dentro do todo narrativo,
tornando-o "a lt araenze s í.gní t icante ", E assim que as idéias de, casa, floresta,
i
ou perto de casa e' longe de casa, dentro do reinado ou fora dele, as guerras,ete,
e aproximação
I
adquirem importância específica nos diversos oomentos, eo relaçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR
ou d í.st anc'iaraento dos objetivos a e l.cançar en ultima instnncia - que se referem
sempre e relação básica de união entre homem e mulhêr~ ao nível de suas sexuali
dades "naturais" específicas, e ao nível de sua união "cul.rur.at ", pelo casamen-
·1
to.
A par desses aspectos apontados, cremos poder ver igualmente nos contos
maravilhosos a expressão de uma de tcrmí nada "mcr e'lid.ade"; as relações que se e~
tabelecem são'carregãdas de conotações positivlis ou nege.tivas (como os concei -
80
I
ciedade que o "narradorti, pode entendê-lo eu{ sua mensagem cifrnda. Nesse senti
do, o conto popular nar3vilhoso nos esta infornando sobre una determinada socie·
dade, ã qual ele se refere e na qual é divulgado, dando-nos a entrever diversos
aspectos desta, como te80s procurado demonstrar. Como vimos, percebe-se a im-
I
portância d.:lin~tituição doméstica, a fanília, e a união de seus menbros, como fi
I
obj e t í.vo ideal a s lccnçar , Qua Lque r un que aja con o propósito de abalar essa
8 1 zyxwvuts
bre o infrator.
"normaí s" de ascensão gradativa. A passagem, como era geral se dá no conro , de. j:
.'
pobreza para a riqueza e5 éonsequentenentc~ p~ra w~a posição social elevada que
implica eo 81g~ tipo de doninação~ só se efetua, cntno, através da ~nipulaçeo
de algum elemento que esteja fora do alcance hun~~ocooum ou social, o elemento
mngico, sobrenatural. E quanto" a este aspecto, ve~os toda uma dependência do
campo sobrenatural para se Lrenlizar tarefas que, de outra forma, estariam cer
ceadas ao sinples ser humano - muitas vezes õrfãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM
p ou carente de algum membro
da família, frequ~nt~~ent2 pobre - enfim, á~m.quàl~uer apoio estrutural. g as-
sim que a irmã mais moç1'!de "A rainha ~ as irmãs" .Jxpressu o desejo de Il ter fi-
U
lhos com estrelas de ouro na testa , e o rapaz de 110 espelho mágico" (Cascudo ,
1967:122) possui a cap~eidaQe de se esconder sem ser encontrado (pois já ê ór-
fão, sendo, portanto~ já "escondido" estruturalmente). O mágico. portanto, pa-
rece ser utilizado para transpor barreiras que, de outra forma, estariam fora
do alcance dos ,indivíduos, que seriam intransponíveis em termos meramente soei
ais, den t ro do que cona der amos o eixo da mobilidade.
í No caso do príncipe, que
já estava numa posiçêo saciel elevadap a problemática da mobilidade se da num
sentido de I!l8nutenç~o dessa posição de r::a.lezél garantindo p e assegurando o con-
trole qu~ j5 possui - em detrimento, entrotantop de aspecto doré~tico que, caco
I:
vimos, ficou ameaçado, pois a ambição de cnnquist~ foi exagerada em relnçã0 aos I;
limites.socielnente aceitos.
83
relação entre cultura e natureza, opçeo ambígua contida no próprio Homem:os con
tos parecem narrar e a oposição existente entre os dois conceitos antagônicos ,
coexistentes no ser humano , e as soluçces que procura dar em termos da livitórhf
do social da cuÚura, a ilusão da vida. Assim, no caso da princesa, que rece-
p
bera os dons das fadas - dons esses que lhe conferem um caráter não somente de
pessoa (mulher, cultura, diferente de a..'1imal),
COt:lO de urna pessoa muito espe-
cial: linda, boa , rica e sabia - ao ser "fadado" de norte prematur a , recebe aiE.
da um outro dom que vem nediar a oposição coloeada, o doa do sono e do desper -
tar'para a vida, o casamento e para a felicidade. Ou seja. ° conto estende o
alcance da experi~ncia h~3na ate um nível máximo de intensificação, de anplia-
'çã:o,embora dentro dos quadros do conhecido, do vpos s Ive l , Não foi fadado ã
nunca, simpLe sment;e que dormiria para acordarzyxwvutsrqpon
princesa que ela não '1'.orreria e
se casar c(~um príncipe e ser feliz p vindo a morrer 'só de velhice. Assim, o
lizável em termos dos ÜLlites 'bumanos (o que- ccrresponder a ao tipo de "m...'\ravi- 1,1
í
fiII
I
I
I'
jamos bem, o sono, por exemplo, embora seja e~ si una ocorrência natural, fai
utilizado no conto como um mçio,de prolongar a vid~~ de ?~iar a morte que havia
i~
sido fadada a ocorrer na juventude. E qual seria entno o papel da cultura fren
te à mortz? Naturalmente, nna seri~ aboli-Ia - tarefa hWilanamente impossível -
mas procurar ~eios de eonsel~ar o ser hum~~o em vida por Uô período mais longo.
Assio, o encant~mento 5, em última instQnci~, associado aocultural (quando ao
encantamento é dcd~ una conotaçeo positiva), conferindo um caráter, ~mbora apa-
rente aonente , de independência do Homem (ser social) na decisão sobre sua vida
e sua morte (fenômenos em última instância naturais).
.zyxwvutsrqponmlkjihg
1 Observemos que »epetridamentie nos contos 8~ compara a felicidade dos homens na
terra à de Deus ou dos anjos e santos no oéu - tial.uez iienhamoe aqui umoutr?r
aspecto' da ilusão da vida, embora extiremamente velado no conto: a·! aspiração.'
da eternidade, da imortaZidade. Entmetcmto , como Cl'C17l0S que o -contador popu-:
lar do maravi lhaeo eatá "com os pés na t.erra", na realidade, este tema perma-
nece em wn ní.vd. de aspiração somente, talvez aspil'ação essa voltada para lia
outra vida"; após a movtic; tema básico do catol.iciomo , religião a oicioe sUnbo I
Zoa 08 contos }:'requentemente reCOI'l'eJn.
85zyxwvutsr
A estrutura soci~l procura dar conta de tudo que ocorre sob seu coctrole
- o encantamento, 6pcrente~nte umn ocorrência não controlnda, na rcalidade~
titui UGl mo~~nto de negação dessa 'estrutura, por ele~cntos que coro ela não es-
86
Podcría~s afirnarp com Court~s~ que o conto maravilhoso" ••• õ menos uma
transcriçno dequilo que é do que daquilo que deve ser: porque, re-situndo áo nL
vel concreto G':: seu eXGrcício (narrador/ouvintes), o conto popular oaravilhoso
se propõe como uo ensinancnto·nor!il1l.tivo
dos "valoresil que devem ser mantidos p~
Ias pessoas. Meis que uma imagem da sociedade. el,e aparece como esse i1uais a-
lem" que .e funda e a garante» este espaço que a torna possível." (Courtes,1972:
40) 1. Ep acrescenta Cour t âs , se o conte) se denomina "maravd Ihoso", ê precisa -
mente porque ".••• o sobr enatur af 80 quaL ele recorre (ao nível dos meios poa-
lei que
tos em prática par a a obtenção do objetivo) parece o me Ihor suporte dazyxwvutsrqponmlkjih
ele ê suposto pror:rulgar.1I (Loc. oit.)
Assim, além da narrativa mar aví Ihos a expor uma prob lemât í.ca s ela resolve
problé;~~~~
explic~do aos indivíduos ~s contradições de sua condição huoana. ·e
I No ori~inaZ: est moinn une tranecription de ce qui eat que de oe qui doitzyxwvut
It •••
87 I
:1
ii
por nlio ter ~ceito a inevitabilidade do ciclo da vida e as norIDl'ls
culturnis;por 'i
)
ter ido de encontro aos próprios preceitos de sobrevivência do Homemzyxwvutsrqpon
i da Cultu-
ra.Igualmente~as irmãs invejosas morrem porque nno puderan aceitar as regras
de sua cultura (no caso, de que só atravcs do casamento poderiam ter filhos, de
é monogâmico, de que fi oobilidade social nao
que o casanento em zua sociedêdezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA -
funciona da forma como pretendiam, em detrimento da integridade da família. Em
88
v -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
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