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Filtragem analógica

Osmar Tormena Junior, Prof. Me.1 1


tormena@utfpr.edu.br

A filtragem analógica teve seu início com a construção de redes RLC


passivas, seguida da utilização de redes RC com componentes ativos
(primeiro válvulas, depois transistores). Embora largamente suplan-
tada por tecnologias do tempo discreto, como os filtros a capacitor
chaveado e filtros digitais, a filtragem analógica clássica se mantém
relevante em aplicações de alta frequência, além da faixa de operação
de transistores, e também como um passo necessário à digitalização de
sinais analógicos.

A filtragem seletiva em frequência é uma técnica necessária em


diversas áreas de aplicação, como: controle e automação, qualidade
de energia, instrumentação biomédica, telecomunicações, etc. A
filtragem seletiva em frequência é uma técnica de processamento de
sinais onde o espectro do sinal de entrada é modulado, de forma a
atenuar componentes indesejáveis do sinal, e com isso acentuar suas
características desejáveis.
A diferença de ganho relativo, entre as regiões de alto e baixo
ganhos do filtro, define a qualidade da filtragem. Filtros passivos, im-
plementados apenas com componentes reativos, embora não possam
realizar ganho efetivo sobre o sinal processado, são a única forma de
processar sinais de alta frequência. Já filtros ativos RC são a opção
mais comum no processamento analógico de sinais de baixa e média
frequências. Isso se deve à dispensa dos indutores em seu projeto,
bem como a possibilidade de realizar o ajuste da faixa dinâmica no
mesmo circuito.
O estudo dos filtros analógicos é justificado não só por suas apli-
cações diretas. Seu desenvolvimento historicamente precede suas
alternativas, ditando assim muitos dos passos da teoria de filtros se-
letivos em frequência. Excelentes filtros digitais podem ser obtidos
a partir de filtros analógicos, trazendo ainda mais relevância prática
para o seu estudo.

Motivação

Hoje, uma das aplicações mais difundidas de filtragem analógica é


no processo de digitalização de sinais. A correta digitalização de um
sinal analógico exige sua filtragem passa-baixa, no que é conhecido
como filtro anti-aliasing. Esse processo analógico limita o espectro do
sinal à metade da frequência de amostragem.
A Figura 1 representa um filtro passa-baixa ativo, na topologia
Sallen-Key, cuja função de transferência, obtida através da análise de
filtragem analógica 2

Laplace do circuito, é dada por


1
R1 R2 C1 C2
H (s) = 1 R1 + R2  1
. (1)
s2 + C1 R1 R2 s + R1 R2 C1 C2

C1 Figura 1: Filtro anti-aliasing.


R1 R2 y(t)
x (t) +

C2

Para o simples caso R1 = R2 = R e C1 = C2 = C, a função de


transferência se reduz para
1
R2 C 2
H (s) = 2 1
, (2)
s2 + RC s + R2 C2

que por sua vez, considerando R = 2k2 Ω e C = 3,3 nF,

1,8973 × 1010
H (s) = (3)
s2 + 2,7548 × 105 s + 1,8973 × 1010
cuja resposta em frequência, obtida através da análise de Fourier do
circuito, pode ser observada nas Figuras 2 e 3. A função afreq obtém
a resposta em frequência a partir de uma função de transferência
racional H (s).

0 Figura 2: Resposta em magnitude do


filtro anti-aliasing.
| H ( f )| (dB)

−10

−20

102 103 104 105


f (Hz)
filtragem analógica 3

·10−5 Figura 3: Atraso de grupo do filtro


1,5 anti-aliasing.

1
τg ( f ) (s)

0,5

0
102 103 104 105
f (Hz)

Como visto na Figura 3, embora os efeitos da distorção pelo atraso


de grupo sejam imperceptíveis2 , a atenuação mínima, vista na Figura 2
Uma situação comum em aplicações
2, oferecida pela resposta em magnitude do filtro não é satisfatória. de áudio.

Infelizmente, a teoria de análise de circuitos não oferece uma


caminho direto de como esse filtro pode ser alterado (valores de
componentes e/ou topologia) a fim de obter uma melhor seletividade
em frequência.
Para tal, faz-se necessário abandonar, por hora, a abordagem direta
de análise de circuitos, partindo para uma abordagem mais abstrata
através da função de transferência e outras representações.
Filtros analógicos são sistemas lineares, invariantes no tempo, cau-
sais e estáveis. Sua resposta em frequência é definida por seus polos
e zeros3 . Infelizmente a determinação de raízes não é um problema 3
Raízes do denominador e do numera-
bem-condicionado, assim, das duas representações dor, da função de transferência.

1,8973 × 1010
H (s) = ; (4)
s2 + 2,7548 × 105 s + 1,8973 × 1010
1,8973 × 1010
= , (5)
(s + 1,3774 × 105 )2

a última, chamada de representação em polos e zeros, é mais útil.


Nela percebe-se que o sistema possui dois polos reais e iguais em
−1,3774 × 105 , um ganho de 1,8973 × 1010 e não possui zeros.
A função ft_pz realiza a transformação da representação da fun-
ção de transferência racional para a representação em polos e zeros.
Por sua vez, a função zp_ft, realiza a transformação reversa.
Problemas mal-condicionados são difíceis de computar, pois os
erros dos resultados, mesmo trabalhando com várias casas decimais,
pode ser muito superior ao erro dos dados.
A representação no espaço de estados é útil por ser numerica-
mente robusta. Também, por ser baseada em matrizes de estado, são
filtragem analógica 4

facilmente implementadas em abordagens computacionais. O filtro


anti-aliasing abordado possui a seguinte representação no espaço de
estados:

x (˙t)1
" # "
−2,7548 × 105 −1,8973 × 1010 x1 (t)
#" # " #
1
= + u(t), (6)
x (˙t)2 1 0 x2 ( t ) 0
| {z } | {z } | {z } |{z}
ẋ(t) A x(t) B
" #
i x (t)
1
h
y(t) = 0 1,8973 × 1010 0 u ( t ),
+ |{z} (7)
| {z } 2 (t)
x
D
C
| {z }
x(t)

onde A, B, C e D são as matrizes de estado, u(t) é o sinal de entrada,


y(t) é o sinal de saída, x(t) é o vetor de estados e ẋ(t) sua derivada
temporal.
Na abordagem computacional que será dada a esta disciplina, a
representação no espaço de estados será frequentemente utilizada.
As funções tf_ee e zp_ee transformam representações da função
de transferência racional e de polos e zeros, respectivamente, na
representação por matrizes no espaço de estados. As funções ee_tf e
ee_zp, por sua vez, realizam as transformações reversas.

Especificação da resposta em frequência

Os filtros seletivos em frequência, definidos por sua resposta em


magnitude, podem ser4 : passa-baixa, passa-alta, rejeita-faixa e passa- 4
Filtros multi-banda e filtros passa-tudo
faixa. não serão abordados neste material.

A especificação de resposta em frequência é comumente dada em


termos do ganho relativo
| H ( f )|
| H ( f )|rel = , (8)
max(| H ( f )|)
de forma que a banda de passagem fica caracterizada por um pata-
mar próximo do ganho unitário (0 dB).
Os parâmetros relevantes na especificação da resposta em frequên-
cia de filtros são:

• Ripple na banda de passagem R p , em dB;

• Ripple na banda de rejeição Rs , em dB;

• Limite (ou limites) da banda de passagem f p , em Hz;

• Limite (ou limites) da banda de rejeição f s , em Hz.

As Figuras 4, 5, 6 e 7 representam especificações da resposta em


frequência para filtros passa-baixa, passa-alta, rejeita-faixa e passa-
faixa, respectivamente.
filtragem analógica 5

| H ( f )| (dB) Figura 4: Filtro passa-baixa.


0
−R p

− Rs

0 fp fs f (Hz)

| H ( f )| (dB) Figura 5: Filtro passa-alta.


0
−R p

− Rs

0 fs fp f (Hz)

| H ( f )| (dB) Figura 6: Filtro rejeita-faixa.


0
−R p

− Rs

0 f p1 f s1 f s2 f p2 f (Hz)
filtragem analógica 6

| H ( f )| (dB) Figura 7: Filtro passa-faixa.


0
−R p

− Rs

0 f s1 f p1 f p2 f s2 f (Hz)

Quaisquer curvas que não invadam as áreas pontilhadas das Figu-


ras 4, 5, 6 e 7 representam respostas em frequência que satisfazem as
especificações.
Nos casos dos filtros rejeita-faixa e passa-faixa, que possuem duas
bandas de transição, podem ser definidas duas frequências de corte
f 1 < f 2 , onde | H ( f 1 )| = | H ( f 2 )| = −3 dB, que caracterizam a banda
de 3 dB (em Hz)
BW = f 2 − f 1 . (9)
Isso define a largura da banda de passagem, ou rejeição, sobre a
frequência central f n , dada pela média geométrica entre f 1 e f 2

fn = f1 f2 . (10)
p

Protótipo passa-baixa normalizado

Um filtro passa-baixas tem a característica de transmitir as baixas


frequências de um sinal (banda de passagem) e atenuar suas altas
frequências (banda de rejeição). O protótipo normalizado tem esse
nome pois sua frequência de corte5 é normalizada para ωn = 1 rad/ 5
Limite (arbitrário) entre a banda de
s. passagem e a banda de rejeição.

Diferentes aproximações de filtragem têm diferentes figuras de


mérito em relação ao seu roll-off 6 e distorção7 . Esses dois parâmetros 6
Banda de transição.
são decisivos na escolha do filtro.
7
Variação no atraso de grupo.

Nesse material são abordadas as aproximações clássicas de Bessel,


Butterworth, Chebyshev e elíptica. Enquanto as aproximação de
Butterworth, Chebyshev e elíptica são projetadas para uma resposta
em magnitude otimizada, a aproximação de Bessel é projetada no
intuito de minimizar a variação do atraso de grupo.
filtragem analógica 7

Filtro de Butterworth
Filtros de Butterworth possuem resposta em magnitude maxima-
mente plana na banda de passagem e globalmente monotônica. Sua
curva suave de magnitude implica em um roll-off pouco abrupto,
comparado às aproximações de Chebyshev e elíptica.
O filtro de Butterworth é uma aproximação all-poles, cujas primei-
ras 2N − 1 derivadas da resposta em magnitude são nulas para ω = 0
rad/s. Sua magnitude quadrática é dada por
1
| H (ω )|2 = , (11)
1 + ω 2N
com corte de −3 dB.
A Figura 8 representa a magnitude da resposta em frequência de
um protótipo passa-baixa normalizado de Butterworth para ordens
N = 1, 2, 3 e 4.

Figura 8: Resposta em magnitude dos


1 N =1 filtros de Butterworth.
N =2
N =3
√1
2 N =4
| H (ω )|

ω (rad/s)
0
10−2 10−1 100 101 102

Analisando as curvas da Figura 8, é possível notar que a transição


torna-se mais abrupta com o aumento da ordem.
A Figura 9 representa o atraso de grupo dos protótipos passa-
baixa normalizados de Butterworth, também para ordens N = 1, 2, 3
e 4.
Analisando as curvas da Figura 9, nota-se que o aumento da or-
dem implica em uma maior variação do atraso de grupo na banda de
passagem, resultando em uma maior distorção.
A função pabutt retorna os zeros, polos e ganho de um protótipo
passa-baixa de Butterworth com ordem N.
Na especificação do protótipo passa-baixa, pode-se definir
fs
fa = > 1, (12)
fp
de forma que a banda de transição fica entre 1 e f a . A ordem do
protótipo passa-baixa pode ser calculada por
log(10Rs /10 − 1) − log(10R p /10 − 1)
 
N= , (13)
2 log( f a )
filtragem analógica 8

4 Figura 9: Atraso de grupo dos filtros de


N =1 Butterworth.
N =2
3 N =3
N =4
τg (ω ) (s)

ω (rad/s)
0
10−2 10−1 100 101 102

enquanto a frequência de corte do protótipo fica dada por

fa
f 0 = 2N
√ ; (14)
10 s /10
R −1
fn = f0 f p . (15)

A função parbutt calcula os parâmetros de um filtro de But-


terworth a partir das especificações da resposta em frequência.

Filtro de Chebyshev I
Filtros de Chebyshev I têm comportamento equiripple8 na banda de 8
Oscilam com amplitude constante.
passagem. O tipo I possui roll-off mais abrupto que o tipo II, porém
ao custo de maior distorção na banda de passagem.
O filtro de Chebyshev I também é uma aproximação all-poles, cuja
magnitude quadrática é dada por

1
| H (ω )|2 = 2 (ω )
, (16)
1 + ε2 TN

onde ε = 10R p /10 − 1 representa o ripple na banda de passagem,


p

TN (ω ) é o polinômio de Chebyshev de primeira ordem, definido


como
TN (ω ) = cosh( N cosh−1 (ω )). (17)
Assim, o filtro possui um corte de − R p dB exatamente em ω p .
A Figura 10 representa a magnitude da resposta em frequência de
um protótipo passa-baixa normalizado de Chebyshev I para ordens
N = 1, 2, 3 e 4.
Na Figura 10 também é possível notar como a transição se torna
mais abrupta com o aumento da ordem.
A Figura 11 representa o atraso de grupo dos protótipos passa-
baixa normalizados de Chebyshev I, também para ordens N = 1, 2, 3
e 4.
filtragem analógica 9

Figura 10: Resposta em magnitude dos


1 N =1 filtros de Chebyshev I.
√1 N =2
1+ ε2
N =3
N =4
| H (ω )|

ω (rad/s)
0
10−2 10−1 100 101 102

Figura 11: Atraso de grupo dos filtros


8 N =1 de Chebyshev I.
N =2
N =3
6
N =4
τg (ω ) (s)

2
ω (rad/s)
0
10−2 10−1 100 101 102

Analisando as curvas da Figura 11, nota-se que o aumento da


ordem implica em uma maior variação do atraso de grupo na banda
de passagem, resultando em uma maior distorção.
A função pacheb1 retorna os zeros, polos e ganho de um protó-
tipo passa-baixa de Chebyshev I, com ordem N e ripple de banda de
passagem R p .
Na especificação do protótipo passa-baixa, pode-se definir
ωs
ωa = > 1, (18)
ωp
de forma que a banda de transição fica entre 1 e ωa . A ordem do
protótipo passa-baixa pode ser calculada por
q
cosh−1
'
(10Rs /10 − 1)/(10R p /10 − 1)
&
N= . (19)
cosh−1 (ωa )
A função parcheb1 calcula os parâmetros de um filtro de Cheby-
shev I a partir das especificações da resposta em frequência.

Filtro de Chebyshev II
Filtros de Chebyshev II (também chamados de Chebyshev invertido)
são monotônicos na banda de passagem e equiripple na banda de
filtragem analógica 10

rejeição. Embora seu roll-off seja menos abrupto que o tipo I, os filtros
tipo II distorcem menos na banda de passagem.
O filtro de Chebyshev II possui magnitude quadrática dada por9 9
Obtida de um Chebyshev I passa-alta
(ω → 1/ω), subtraído da unidade, com
1 ε → δ.
| H (ω )|2 = 1
, (20)
1+ 2 (1/ω )
δ2 TN

onde δ = 1/ 10Rs /10 − 1 representa o ripple na banda de rejeição.
Assim, o filtro possui um corte de − Rs dB exatamente em ωs .
A Figura 12 representa a magnitude da resposta em frequência de
um protótipo passa-baixa normalizado de Chebyshev II para ordens
N = 1, 2, 3 e 4.

Figura 12: Resposta em magnitude dos


1 N =1 filtros de Chebyshev II.
N =2
N =3
N =4
| H (ω )|

√ δ
1+ δ2
ω (rad/s)
0
10−2 10−1 100 101 102

Na Figura 12, mais uma vez, é possível notar como a transição se


torna mais abrupta com o aumento da ordem.
A Figura 13 representa o atraso de grupo dos protótipos passa-
baixa normalizados de Chebyshev II, também para ordens N = 1, 2, 3
e 4.

Figura 13: Atraso de grupo dos filtros


N =1 de Chebyshev II.
40 N =2
N =3
N =4
τg (ω ) (s)

20

ω (rad/s)
0
10−2 10−1 100 101 102

Analisando as curvas da Figura 13, nota-se que o aumento da


ordem implica em uma maior variação do atraso de grupo na banda
de passagem, resultando em uma maior distorção.
filtragem analógica 11

A função pacheb2 retorna os zeros, polos e ganho de um protótipo


passa-baixa de Chebyshev II, com ordem N e ripple de banda de
rejeição Rs .
Na especificação do protótipo passa-baixa, pode-se definir
ωs
ωa = > 1, (21)
ωp

de forma que a banda de transição fica entre 1 e ωa . A ordem do


protótipo passa-baixa pode ser calculada por
q
cosh−1
'
(10Rs /10 − 1)/(10R p /10 − 1)
&
N= . (22)
cosh−1 (ωa )

A função parcheb2 calcula os parâmetros de um filtro de Cheby-


shev II a partir das especificações da resposta em frequência.

Filtro elíptico
Filtros elípticos10 são equiripple na banda de passagem e de rejeição. 10
Também chamados de filtros de
Em geral, atendem às especificações de uma resposta em frequência Cauer, porém essa nomenclatura é de-
sencorajada, para evitar confusão com a
com a menor ordem possível, porém ao custo de uma maior distor- topologia de Cauer, na implementação
ção do sinal. de filtros analógicos.
O filtro de elíptico possui magnitude quadrática dada por
1
| H (ω )|2 = , (23)
1 + ε2 R2N (ξ, ω )

onde ε = 10R p /10 − 1 representa o ripple na banda de passagem,


p

R N (ξ, ω ) é a função racional elíptica11 e ξ é o fator de seletividade. 11


Seu estudo está fora do escopo desta
A Figura 14 representa a magnitude da resposta em frequência aula.

de um protótipo passa-baixa normalizado elíptico para ordens N =


1, 2, 3 e 4.

Figura 14: Resposta em magnitude dos


1 N =1 filtros elípticos.
√1 N =2
1+ ε2
N =3
N =4
| H (ω )|

√ δ
1+ δ2
ω (rad/s)
0
10−2 10−1 100 101 102

Na Figura 14 também é possível notar como a transição se torna


mais abrupta com o aumento da ordem.
filtragem analógica 12

A Figura 15 representa o atraso de grupo dos protótipos passa-


baixa normalizados elípticos, também para ordens N = 1, 2, 3 e 4.

Figura 15: Atraso de grupo dos filtros


10 N =1 elípticos.
N =2
N =3
N =4
τg (ω ) (s)

ω (rad/s)
0
10−2 10−1 100 101 102

Analisando as curvas da Figura 15, nota-se que o aumento da


ordem implica em uma maior variação do atraso de grupo na banda
de passagem, resultando em uma maior distorção.
A função paelip retorna os zeros, polos e ganho de um protótipo
passa-baixa elíptico com ordem N, ripple de banda de passagem R p e
de rejeição Rs .
A função parelip calcula os parâmetros de um filtro elíptico a
partir das especificações da resposta em frequência.

Filtro de Bessel
Filtros de Bessel são caracterizados por um atraso de grupo pratica-
mente constante na banda de passagem, preservando a forma dos
sinais filtrados. Filtros de Bessel são monotônicos, como os filtros de
Butterworth. Comparado às outras aproximações, os filtros de Bessel
têm o roll-off mais lento, exigindo soluções de ordem mais alta para
atender as especificações da resposta em magnitude.
O filtro de Bessel é uma aproximação all-poles12 exclusivamente 12
O protótipo passa-baixa não possui
analógica. Se escalado para ser assintoticamente equivalente ao filtro zeros.

de Butterworth, possui corte com valor abaixo de −3 dB.


A Figura 16 representa a magnitude da resposta em frequência
de um protótipo passa-baixa normalizado de Bessel para ordens
N = 1, 2, 3 e 4.
Analisando as curvas da Figura 16, é possível notar que a transição
torna-se mais abrupta com o aumento da ordem.
A Figura 17 representa o atraso de grupo dos protótipos passa-
baixa normalizados de Bessel, para ordens N = 1, 2, 3 e 4.
Analisando as curvas da Figura 17, nota-se que o aumento da
ordem implica em uma menor variação do atraso de grupo na banda
de passagem, resultando em uma menor distorção.
filtragem analógica 13

Figura 16: Resposta em magnitude dos


1 N =1 filtros de Bessel.
N =2
N =3
√1
2 N =4
| H (ω )|

ω (rad/s)
0
10−2 10−1 100 101 102

Figura 17: Atraso de grupo dos filtros


N =1 de Bessel.
3
N =2
N =3
N =4
τg (ω ) (s)

ω (rad/s)
0
10−2 10−1 100 101 102

A função pabess retorna os zeros, polos e ganho de um protótipo


passa-baixa de Bessel com ordem N.

Transformações de banda

Embora o estudo das respostas em frequência através dos protótipos


passa-baixa normalizados seja simples, esses protótipos estão longe
de representar casos típicos em aplicações de filtragem seletiva em
frequência.
Os protótipos passa-baixa normalizados podem ser desnormaliza-
dos, e inclusive transformados em filtros passa-alta, rejeita-faixa ou
passa-faixa, através das transformações de banda.

Passa-baixa para passa-baixa


Considerando a função de transferência de um protótipo passa-
baixa normalizado H ( p), é possível desnormalizar o filtro, para uma
frequência de corte ωn qualquer, através da transformação
s
p= , (24)
ωn
filtragem analógica 14

resultando em um filtro passa-baixa H (s), de mesma ordem N que o


protótipo original, mas frequência de corte ωn .
Infelizmente essa transformação sobre a função de transferência
racional não é numericamente bem-posta. Por isso é utilizada uma
transformação na representação por espaço de estados:

A T = ωn A; (25)
B T = ωn B; (26)
C T = C; (27)
D T = D, (28)

onde as matrizes A, B, C e D representam o protótipo normalizado,


enquanto At , Bt , Ct e Dt o filtro transformado.
A função pb_pb implementa a transformação de banda de passa-
baixa para passa-baixa.

Passa-baixa para passa-alta


Considerando a função de transferência de um protótipo passa-baixa
normalizado H ( p), a transformação
ωn
p= , (29)
s
resulta em um filtro passa-alta H (s), de mesma ordem N que o pro-
tótipo original, e frequência de corte ωn .
No espaço de estados, a transformação é definida por:

A T = ω n A −1 ; (30)
B T = −ωn A−1 B; (31)
−1
C T = CA ; (32)
−1
D T = D − CA B, (33)

onde as matrizes A, B, C e D representam o protótipo normalizado,


enquanto At , Bt , Ct e Dt o filtro transformado.
A função pb_pa implementa a transformação de banda de passa-
baixa para passa-alta.

Passa-baixa para rejeita-faixa


Considerando a função de transferência de um protótipo passa-baixa
normalizado H ( p), a transformação
s
ωn
p= , (34)
Q ( ωsn )2 +1

resulta em um filtro rejeita-faixa H (s), de mesma ordem N que o


protótipo original, frequência central ωn e qualidade Q = ωn /BW.
filtragem analógica 15

No espaço de estados, a transformação é definida por:


ω n −1
" #
A ω n I N
AT = Q ; (35)
− ωn I N 0N
ω n −1
" #
Q A B
BT = − ; (36)
0 N ×1
h i
C T = CA−1 01× N ; (37)

D T = D − CA−1 B, (38)

onde as matrizes A, B, C e D representam o protótipo normalizado,


enquanto At , Bt , Ct e Dt o filtro transformado.
A função pb_rf implementa a transformação de banda de passa-
baixa para rejeita-faixa.

Passa-baixa para passa-faixa


Por último, considerando a função de transferência de um protótipo
passa-baixa normalizado H ( p), a transformação

Q ( ωsn )2 + 1

p= s , (39)
ωn

resulta em um filtro passa-faixa H (s), de mesma ordem N que o


protótipo original, frequência central ωn e qualidade Q = ωn /BW.
No espaço de estados, a transformação é definida por:
" #
ωn
Q A ωn I N
AT = ; (40)
− ωn I N 0N
" #
ωn
Q B
BT = − ; (41)
0 N ×1
h i
C T = C 0 1× N ; (42)

D T = D, (43)

onde as matrizes A, B, C e D representam o protótipo normalizado,


enquanto At , Bt , Ct e Dt o filtro transformado.
A função pb_pf implementa a transformação de banda de passa-
baixa para passa-faixa.

Projeto de filtros analógicos

O projeto de filtros analógicos segue um algoritmo em 3 passos:

1. Transforma as especificações da resposta em frequência para um


protótipo passa-baixa normalizado equivalente.
filtragem analógica 16

2. Calcula a ordem e obtém o protótipo passa-baixa normalizado.

3. Aplica uma transformação de banda sobre o protótipo normali-


zado, obtendo o filtro desejado.

As funções abutter, acheby1, acheby2 e aelip aplicam o algo-


ritmo de implementação, a partir das especificações da resposta em
frequência, dos filtros de Butterworth, Chebyshev I, Chebyshev II e
elíptico, respectivamente.
A função abessel aplica o algoritmo de implementação do filtro
de Bessel, a partir da especificação da ordem, frequência de corte e
banda.
Nessa disciplina serão abordadas as ferramentas matemáticas que
permitem essa análise, em paralelo à teoria de circuitos elétricos.

Referências

M. Abramowitz and I. A. Stegun, Handbook of Mathematical Functions.


Dover Publications, 1964.

A. J. Laub and B. C. Moore, “Calculation of transmission zeros using


QZ techniques,” Automatica, vol. 14, 1978.

T. W. Parks and C. S. Burrus, Digital Filter Design. New York, NY:


John Wiley & Sons, 1987.

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