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As ligas de ferro fundido branco alto cromo da norma ASTM A-532 são
comumente utilizadas em peças que necessitam de elevada resistência ao
desgaste. Tal escolha acontece devido à ótima dureza apresentada por tais ligas,
o que propicia uma maior vida útil dos componentes, reduzindo
consequentemente as paradas para manutenção. Entretanto, uma vez que o teor
de cromo utilizado possui grande influência no custo das peças, é importante
garantir que os tratamentos térmicos aplicados estejam otimizados para cada
composição de liga. Buscando atuar nesse sentido, este artigo analisou a
aplicação de diferentes configurações (diferentes tempos e temperaturas de
patamar) de tratamentos térmicos de desestabilização da austenita para duas
ligas da norma ASTM A-532. Após a realização de tratamentos térmicos, foram
estudadas a resistência ao desgaste e outras propriedades mecânicas e
metalúrgicas, tanto para uma das amostras tratadas (aquela que apresentou o
melhor resultado de macrodureza) quanto para seis amostras de FFBAC
fornecidas por diversas fundições nacionais. Os resultados demonstraram que
uma liga com 19,6 %Cr pode apresentar uma dureza até 11% maior do que o
verificado para ligas comerciais (com composição química similar) o que propicia
que tal liga apresente uma resistência ao desgaste até 1,7 vezes maior do que
as amostras provenientes da industrias. Além disso, verificou-se que ligas com
maiores teores de cromo apresentam menores valores de dureza e resistência
ao desgaste em comparação com a liga com tratamento térmico otimizado e
19,6% de cromo, o que viabiliza uma aplicação com maior vida útil e menor
custo.
Abstract
The high chromium white cast iron alloys from ASTM A-532 are commonly used
in parts which wear resistance are required. This choice happens due the great
hardness showed by these alloys, what propitiates a higher lifetime for the
components, consequently reducing the maintenance stops. However, once the
chromium content has great influence in the cost of the parts, it is important
ensure that the apply heat treatments are optimized for each alloy composition.
Aiming acting in this way, this article analyzed the application of different
combinations of times and temperatures on the austenite destabilization heat
treatments for two alloys from ASTM A-532. After the heat treatment, was
performed a study about the wear and other mechanical and metallurgical
properties, both for the treated sample (which one who showed the best result of
hardness) as for six sample (made with high chromium white cast iron) provided
for different companies in Brazil. The results shows that an alloy with 19,6%Cr
may have a hardness 11% higher than that obtained in commercial alloys (with
similar chemical composition), which makes possible this alloy shows a wear
resistance up to 1,7 greater than the samples from the industry. Besides that, it
was verified that alloys with higher chromium content shows lower hardness and
wear resistance values than those obtained in the alloys with optimized heat
treatment and 19,6% Cr, which allows an application with longer lifetime and
lower cost.
Key words: white cast iron; abrasive wear resistance; hardness; austenite
destabilization.
1. INTRODUÇÃO
(a) (b)
Fonte: Cubillos1
Figura 1. (a) Influência do teor de cromo e da temperatura de desestabilização na dureza da
liga de ferro fundido branco de alto cromo. (b) Seção isotérmica do sistema Fe-C-Cr.
Tendo em vista estes dois fatores preponderantes para obtenção de um
FFBAC otimizado à abrasão (configuração do tratamento térmico e teor de cromo
da liga), desenvolveu-se neste trabalho um estudo de avaliação de diferentes
tempos e temperaturas de desestabilização da austenita para duas ligas distintas
de ferro fundido da norma ASTM A532, a saber: Classe IID (aproximadamente
20%Cr) e IIIA (aproximadamente 25%Cr). Os resultados desse estudo foram
então utilizados para comparação direta com peças de ligas comerciais
adquiridas junto a fundições nacionais para utilização em componentes de
desgaste da indústria de mineração, sendo, portanto, possível uma avaliação do
teor de cromo e da configuração de tratamento mais adequados bem como a
verificação do incremento da resistência ao desgaste das ligas com durezas
otimizadas comparado às ligas comerciais.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Neste estudo foram analisadas duas ligas de ferro fundido branco da norma
ASTM A-532 (com diferentes teores de cromo) bem como seis amostras de
diferentes fundições nacionais. A metodologia adotada para os procedimentos
experimentais está descrita na Figura 2.
Fonte: Autor.
Figura 2. Organograma representativo da metodologia de ensaios utilizada.
Portanto, tem-se que este trabalho está dividido em duas principais linhas
de pesquisa, a saber:
Para realização dos tratamentos térmicos foram utilizados dez CP’s (cinco
de cada liga) para cada temperatura de patamar onde, à cada intervalo pré-
determinado de tempo de tratamento, duas peças eram retiradas (uma de cada
liga) e posteriormente resfriadas através de ar-forçado conforme curva de tempo-
temperatura demonstrada na Figura 5. A nomenclatura utilizada para cada
configuração de tempo e temperatura está descrita na Tabela 1.
Fonte: Autor.
Figura 5. – Gráfico indicando a metodologia de retirada das amostras de dentro do forno para
determinada temperatura de patamar “T” de tratamento térmico.
Tabela 1. Nomenclatura utilizada para tratamento térmico dos CP’s.
Temperatura de Taxa de 1° retirada 2° retirada 3° retirada 4° retirada 5° retirada
austenitização aquecimento (30 min) (1 hora) (2 horas) (4 horas) (6 horas)
[ºC] [ºC/h] Ti po A Ti po D Ti po A Ti po D Ti po A Ti po D Ti po A Ti po D Ti po A Ti po D
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Fonte: Autor.
Figura 7. Posição das ligas fundidas e comerciais na superfície liquidus do diagrama ternário
Fe-C-Cr.
3.2. Medições de dureza
69,0 0,5h - D
67,0 1h - D
2h - D
65,0
Dureza [HRC]
4h - D
63,0 6h - D
0,5h - A
61,0
1h - A
59,0 2h - A
57,0 4h - A
6h - A
55,0
800 850 900 950 1000 1050 1100 1150
Temperatura [°C]
Fonte: Autor.
Figura 8. Gráfico de Dureza versus Temperatura de patamar para as ligas A e D.
(a) (b)
Fonte: Cubillos5.
Figura 9. (a) Projeção do diagrama Fe-C-Cr para uma liga com 3%C e 15%Cr. (b) Influência da
temperatura de desestabilização na quantidade de austenita retida e na dureza da liga.
1000°C
63,0 1050°C
61,0 1100°C
59,0
57,0
55,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Tempo [h]
Fonte: Autor.
Figura 10. Gráfico de Dureza x Tempo de patamar para as amostras da liga A em diferentes
temperaturas de tratamento térmico.
DUREZAS LIGA IID
69,0
67,0 900°C
950°C
65,0
Dureza [HRC]
1000°C
63,0
1050°C
61,0 1100°C
59,0
57,0
55,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Tempo [h]
Fonte: Autor.
Figura 11. Gráfico de Dureza x Tempo de patamar para as amostras da liga D em diferentes
temperaturas de tratamento térmico.
64,7
65,0 A1 D15
Dureza [HRC]
59,7
60,0
56,7 Liga A
A28 D28
55,0 Liga D
50,7 49,9
50,0
45,0
40,0
Bruto de fusão Mínima dureza Máxima dureza
Fonte: Autor.
Figura 12. Comparação entre as durezas máximas, mínimas e “bruto de fusão” para cada liga
fabricada.
Fonte: Autor.
Figura 13. Gráfico comparativo entre as durezas das amostras comerciais e fabricadas bem
como de suas respectivas quantidades de cromo em liga.
3.3. Ensaios de desgaste
Tabela 5. Valores medidos e calculados com relação à resistência ao desgaste das amostras
ensaiadas.
Relação
Perda de Resistência ao resistencia ao
Amostra Densidade Perda volume Dureza
massa desgaste desgaste com
C1
C6 117,6%
C5 115,6%
C4 113,9%
A28 109,4%
A1 100,4%
C1 100,0%
D28 92,0%
Fonte: Autor.
Figura 14. Gráfico comparativo entre os percentuais de resistência ao desgaste das amostras
com relação à resistência ao desgaste da amostra C1.
′′
𝑃𝑣 −1
𝑄 = [ ] (1)
𝑑𝑖𝑠𝑡
Onde;
16,0
14,0
Perda de volume [mm³]
12,0
10,0 COMERCIAIS
TRATADAS - LIGA A
8,0
TRATADAS - LIGA D
6,0
4,0
30 40 50 60 70 80
Dureza [HRC]
Fonte: Autor.
Figura 15. Gráfico correlacionando a dureza com a perda de volume das amostras ensaiadas.
3.4. Microdurezas
70 1200
Microdureza [HV]
889,8 900
Dureza [HRC]
886
851 DUREZA
55 800
946,7
671,4
630 700 Microdureza Matriz
50 618,8
600
519,6 Microdureza
45 Carboneto
500
453
450,6
40 400
C4 C1 C5 C3 C6 C2 Melhor
resultado
(D17)
Fonte: Autor.
Figura 16. Gráfico relacionando os valores de dureza e microdurezas dos microconstituintes de
cada corpo de prova avaliado.
3.5. Metalografias
Equação de Maratray: FVCM (%) = 12,33. (%C) + 0,55. (%Cr) − 15,2 (2)
45,00%
40,00%
35,00%
Percentual de carbonetos [%]
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
Média experimental - IMAGEJ
10,00%
Maratray
5,00% Dogan
0,00%
C1 C2 C3 C4 C5 C6 D17
Amostra
Fonte: Autor.
Figura 17. Gráfico comparativo entre o percentual de carbonetos indicados na literatura e o
percentual obtido via análise no software IMAGEJ.
(a) (b)
Fonte: Autor.
Figura 19. Microconstituintes da amostra C2. (a) Aumento de 200x. (b) Aumento de 500x.
(a) (b)
Fonte: Autor.
Figura 20. Microconstituintes da amostra C3. (a) Aumento de 200x. (b) Aumento de 500x.
(a) (b)
Fonte: Autor.
Figura 21. Microconstituintes da amostra C4. (a) Aumento de 200x. (b) Aumento de 500x.
(a) (b)
Fonte: Autor.
Figura 22. Microconstituintes da amostra C5. (a) Aumento de 200x. (b) Aumento de 500x.
(a) (b)
Fonte: Autor.
Figura 23. Microconstituintes da amostra C6. (a) Aumento de 200x. (b) Aumento de 500x.
(a) (b)
Fonte: Autor.
Figura 24. Microconstituintes da amostra D17. (a) Aumento de 200x. (b) Aumento de 500x.
4. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
6 DESAI, W.M.; RAO, C.M.; KOSEL, T.H.; FIORE, N.F. Effect of carbide size on
the abrasion of cobalt-based powder metallurgy alloy. Wear, v. 94, p. 89-101,
1984.
8 GAHR, Karl-Heinz Zum. Abrasive wear of white cast irons. Wear, Michigan, v.
64, p. 175-194, nov. 1979.
14 SHETTY, H.R.; KOSEL, T.H; FIORE, N.F. A study of abrasive wear mechanisms
using diamond and alumina scratch tests. Wear, v. 80, p. 347-376, 1982.
16 TRABETT, C.P; SARE, I.R. The effecr of heat treatment on the abrasion
resistance of alloy white irons. WEAR, v. 203, p. 206-219, 1997.
17 ZHIGUO, Zhang et al. Microstructure and wear resistance of high chromium cast
iron containing niobium. Research & Development, Guangzhou, v.11, n.3, p.
179-184, Mai. 2014.