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INTRODUÇÃO
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Tradução Livre. Texto original disponível online em: https://plato.stanford.edu/entries/hermeneutics/
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Em latim: verum sensum a falso discernere
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considera Verdade e Método como uma obra de maturidade, pois foi escrita após Gadamer ter
lecionado, por mais de dez anos na Universidade de Heidelberg, várias disciplinas filosóficas
sobre os clássicos e a história das chamadas ciências do espírito, reconstituindo uma senda
que, remotamente, foi inaugurada no dualismo racionalista de Immanuel Kant (1724-1804);
atravessou a hermenêutica de Friedrich Schleiermacher (1768-1834); e, a partir daí, percorreu
os caminhos da filosofia do espírito de G.W.F. Hegel (1770-1831); do historicismo de
Wilhelm Dilthey (1833-1911); fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938); da
fenomenologia do saber de Max Scheler (1874-1928); assumiu a tônica weberiana do
existencialismo de Karl Jaspers (1883-1969); e, por fim, chegou até a investida ontológica de
Martin Heidegger (1889-1976). Sampaio (2000) indica que a Hermenêutica de Gadamer pode
ser interpretada como uma continuidade do pensamento de Heidegger em Ser e Tempo, em
contrapartida para Rohden (2011) ambas comungam de muitos conceitos, mas é verdade
também que são propostas filosóficas distintas. Com relação ao método filosófico, parece que
Heidegger é, por assim dizer, mais ‘analítico’, aristotélico, ao passo que Gadamer pauta-se
pelo dialógico, dialético, socrático-platônico. Embora o projeto filosófico gadameriano não
seja compreensível nem factível sem a contribuição de Heidegger, ele possui especificidades e
uma originalidade que precisa ser levada em conta quando nos adentramos no terreno da
hermenêutica. Uma dessas especificidades, segundo Vila-Chã (2000) é a insistência, de modo
muito especial, na relação entre pensamento e linguagem, o que se poderia daí resultar em
uma virada Hermenêutica3.
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Ver Vila-Chã, 2000, p. 305.
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preconceitos. Esses estão enraizados e, segundo Gadamer não há àquele que não o tenha, pois
ele configura as opiniões prévias de todo homem. Gadamer afirma que há formas básicas de
preconceitos que devem ser, não eliminadas, mas tornadas conscientes (Gadamer, 1997, p.
358). Devemos ter a consciência dos nossos preconceitos para que assim haja o afastamento
das opiniões arbitrárias, favorecendo assim, a compreensão. “Não é necessário que se
esqueçam todas as opiniões prévias sobre o seu conteúdo e todas as opiniões próprias. O que
se exige é simplesmente a abertura para a opinião do outro ou a opinião do texto.” (Gadamer,
1997, p. 358).
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preconceitos e se aproximar da verdade. Entende-se por ‘verdade’ algo como uma
verossimilhança de sentidos compartilhados por todos que participam de alguma forma do
discurso. Verdade, portanto, não tem o sentido de ‘certeza’, e sim de ‘jogo’. Nessa
perspectiva, a linguagem é um jogo que é jogado de diferentes maneiras, em diferentes
ambientes, há uma infinidade de jogos com diferentes ‘verdades’.
Para Gadamer, o uso da crítica hermenêutica não é suficiente para alcançar o ideal de
verdade. - É preciso que haja autorreflexão.
Mas uma consciência crítica pode se motivar pelo o que critica e assim permanecer
presa aos preconceitos. Assim, o ponto de partida coincide com o ponto de chegada, estão na
mesma esfera, não se produz nenhuma novidade. Entretanto, quando há autorreflexão estamos
partindo rumo às outras esferas, numa perspectiva meta-reflexiva, favorecendo assim, a
construção de uma consciência hermenêutica. “A reflexão hermenêutica exerce assim uma
autocrítica da consciência pensante que retraduz todas as suas abstrações, inclusive os
conhecimentos das ciências, para o conjunto da experiência humana de mundo” (Gadamer,
2007, p. 215).
A partir da breve exposição acima, onde apresento em linhas gerais o tema do projeto,
seguem os objetivos gerais e específicos que darão corpo ao trabalho.
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OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
JUSTIFICATIVA
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Ver Moreira, Lineuza Leite, 2017.
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Ver Amaral, Franco 2017.
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Ver Gusmão, 2018.
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com o andamento de outras abordagens filosóficas. Outro sintoma dessa incipiência é a
vigência de imprecisões relativas às distinções entre a hermenêutica cunhada por Heidegger e
a desenvolvida por Gadamer7.
Por outro lado, Gadamer não se propõe a eliminar completamente o método das
ciências naturais, pois reconhece que as estruturas da linguagem, embora não sejam reflexos
perfeitos da faticidade, são necessárias para o desenvolvimento humano. A crítica principal de
Gadamer diz respeito à tentativa de universalizar a linguagem, atribuindo valores fixos de
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Ver Rohden, 2011, p. 14-36
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verdade a todas as proposições, de todas as ciências. Ora, de fato, o próprio conceito de
‘verdade da proposição’ frente à Hermenêutica não deixa de ser um contrassenso.
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Ver Abbagnano, 2012.
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“Gadamer conducts his own critique of prejudice against prejudices in the spirit of the Luminaries. He puts into
question a prejudice that distorts the reality of historical understanding. There are therefore prejudices which
open up access to the thing, which makes understanding possible.” (Grondin, 2003, p. 84) Tradução livre.
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filosofia é esse exercício hermenêutico que quando unida à autorreflexão, permite o
surgimento de uma nova consciência. A medida em que há o reconhecimento dos
preconceitos, por meio da autorreflexão, há um favorecimento do desenvolvimento da
consciência hermenêutica. Eis que esse tal procedimento está aquém de qualquer escopo
meramente científico.
METODOLOGIA
Para alcançar o objetivo geral, qual seja, descobrir quais são as condições que tornam
o preconceito um caminho para o conhecimento, será articulada a reflexão em torno de quatro
abordagens: 1) inicialmente, a ideia é revelar aspectos marcantes da hermenêutica de
Gadamer, distanciando-a dos usos que mesma teve nos seus predecessores; 2) a seguir, será
evidenciado os aspectos divergentes entre as ciências naturais e as ciências do espírito, a fim
de preparar o terreno para inserir o termo ‘preconceito’; 3) em seguida, pretende-se voltar ao
século XVIII, a fim de recuperar no iluminismo todo o descrédito que foi conferido ao termo
preconceito, o que justificará a sua retomada por Gadamer sob uma outra ótica e 4) ao final,
de toda estrutura esclarecida em 1, 2 e 3, poderá se explicar porque o preconceito é
determinante na filosofia gadameriana e como este é fundamental no caminho para a
compreensão; para o conhecimento. O objetivo principal é de cunho especulativo de modo
que os conceitos serão apresentados em função das hipóteses de investigação apontadas nos
objetivos.
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CRONOGRAMA
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REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 2. éd. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912017000100011&ln
g=pt&nrm=iso>. acessos em 27 ago. 2019.
CORDEIRO, R. (2011). Heidegger e a verdade como síntese originária. Ítaca, 0(18), 180 -
196. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/Itaca/article/view/196/187 . Acesso em
09 de agosto de 2019.
GRONDIN, Jean. The Philosophy of Gadamer. Traduzido por Kathryn Plant, Roberto
Bernet. Continental European Philosophy. 2003.
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MANTZAVINO, C. (2016) Hermeneutics. Em Zalta, Edward. N. (ed.) The Stanford
Encyclopedia of Philosophy. Califórnia, EUA, 2016. Disponível em:
https://plato.stanford.edu/entries/hermeneutics. Acesso em 12 de agosto de 2019.
MOREIRA, Lineuza Leite; MOURA, Eliane das Neves. Gadamer & a Educação. Revista de
Educação Pública, [S.l.], v. 26, n. 61, p. 247-251, jan. 2017. ISSN 2238-2097. Disponível
em: http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/educacaopublica/article/view/3073.
Acesso em: 20 de agosto de 2019. doi: http://dx.doi.org/10.29286/rep.v26i61.3073.
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BIBLIOGRAFIA
GRONDIN, Jean. Qué es la hermenêutica? Traduzido por Antoni Martínez Riu. Barcelona:
Herder, 2008.
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HEIDEGGER, Martin. Lógica. La pregunta por la verdad. Traduzido por J. Alberto Ciria.
Madri: Alianza Editorial, 2004
HEIDEGGER, Martin. Introdução à filosofia. Traduzido por Marco Antonio Casanova. São
Paulo: Martins Fontes, 2009.
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