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* Esta entrevista foi realizada por ocasião da vinda de Ernesto Sábato a São
Paulo, em meados de 1995.
contra toda forma de tirania. Não há ditaduras más e outras benéficas: Todas
são igualmente abomináveis. O que me desagrada é quando são feitas em nome
de grandes ideais, como foi o caso, precisamente, da stalinista. Pelo mesmo
motivo, me repugnam as igrejas estabelecidas quem como no caso da religião
cristã, com um Deus onisciente e infinitamente bondoso, torturaram
horrendamente ou perseguiram até a morte seitas bondosas.
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ES - Sim, penso que Marx foi um dos que mais lutou com seus
livros contra a escravidão no mundo capitalista, e especialmente na
Inglaterra vitoriana com a qual conviveu, e tem partes filosoficamente de
valor. Para seus epígonos baratos, e no caso grotesco de Stalin, todas as
atividades do espírito foram reduzidas às forças econômicas. Em sua Crítica
da Filosofia do Direito de Hegel, afirma que não é a história que faz o
homem, mas sim o homem real e vivo que faz a história. Mas a escolástica
stalinista tergiversou e barateou suas ideais. Homens como Labriola, na
Itália, foram sufocados pela escolástica oficial. Talvez como resultado da
tradição hegeliana que na Itália se manteve por obra de Croce - filósofo
idealista - pode surgir um espírito tão admirável como Gramsci, que durante
seus seis anos de cárcere escreveu páginas que resplandecem em meio à
baixeza filosófica do stalinismo. Lutou contra a obra de Plekanov, que tanto
foi predicada em meus anos de estudante, quando defendia que a arte era um
"reflexo" da sociedade e que as condições econômicas "explicavam" os
sentimentos, as idéias e a arte. Bastaria lembrar que Marx recitava de
memória Shakespeare e os líricos ingleses e alemães, muitos deles
"reacionários", e ria de L'Insurgé, aquele romance "engajado" de um
militante da Comuna de Paris. E o que não teria dito da famosa arte
"proletária" incubada pelo stalinismo! Também devemos reconhecer, frente ao
homem abstrato de Hegel, alheio à terra e ao sangue, a frase de Marx : "O
homem não é um ser abstrato, fora do mundo: é o mundo dos homens, do Estado,
da sociedade". E sua consciência é uma consciência social, enunciando assim
um novo humanismo frente às enteléquias iluministas e racionalistas tipo
Voltaire. Nisto, há muito parentesco com o que fariam os existencialistas de
forma mais acabada. Mas ele compartilhava com os iluministas o mito da
Ciência e da Luz contras as potências obscuras. Essas potências obscuras que
constituíam o mais profundo e concreto da condição humana: a alma e suas
paixões, o inconsciente e suas verdades, a própria fonte dessa arte que
tanto admirava. Por alguma razão ele e Engels chamavam seu socialismo de
"científico", frente aos utópicos anarquistas, que são os que finalmente
tiveram razão. Demoliu implacavelmente Proudhon, mas agora compreendemos que
aquele socialismo não teria incorrido na massificação soviética, típica
tanto do capitalismo de massa como do socialismo de massa, ambos herdeiros
da ciência e da técnica, que conduziram a esta espantosa catástrofe de nosso
tempo.
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ES - Sim.
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cada vez que fazia alguma coisa de pintura, sentia uma espécie de culpa,
porque muitos me diziam que devia continuar escrevendo. Na realidade, ao
concluir Abadon, o Exterminador, em 1974, senti que havia dito tudo o que
tinha de dizer, a ponto de minha tumba aparecer no romance. Enfim, continuei
escrevendo alguns pequenos ensaios. Mas as grandes verdades, pelo menos as
que eu não consigo alcançar, já estavam ditas. Essas grandes verdades
existenciais, as quais não só escrevemos conscientemente mas, e
principalmente, com os ditados que vêm do mais profundo de nosso ser, do
inconsciente. A propósito, quero acrescentar algo que considero fundamental:
a pintura permite uma transmissão mais direta destas visões inconscientes. E
por isso é mais catártica, mais liberadora.
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acabava de morrer nunca... Há, além disso, a vantagem de ser algo mais
intuitivo e manual. Até o cheiro de terebentina me subjuga. Cada vez que
entrava no ateliê de pintura de um amigo meu sentia esse cheiro e um
sentimento de frustração. Alguma vez escrevi que lutamos contra o destino e
o destino por fim tem razão. Eu costumava dizer a Matilde: morrerei com uma
enorme nostalgia da pintura. A semicegueira me permitiu a pintura.
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