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Janer Cristaldo http://cristaldo.blogspot.

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¡Ay de aquel que navega, el cielo


oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o
sábado, abril 30, 2005
puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV
A MESMA ARROGÂNCIA
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Tiragem Uma leitora há horas insiste em que toda a verdade está na Bíblia. Se Deus disse,
como você pode duvidar? Ora, tal argumento pode ser empunhado contra quem
Janer Cristaldo escreve no acredita em Deus, e este não é meu caso. Fora da Igreja Católica não há salvação -
Jornaleco esta é a impressão que estas mensagens me deixam. O que está muito conforme à
Brazzil
Baguete Weltanschaaung do novo papa, Bento XVI. A Igreja católica não pode ser chamada
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de Igreja-irmã, porque é a Igreja-mãe. Só ela tem a verdade. Ratzinger tem fama
Livros do Janer de erudito, mas em seu fundamentalismo esquece que a Igreja pode ser mãe, mas
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antes disso é filha... do judaísmo. Este tipo de leitor, como Ratzinger, não concede a
Arquivos ninguém o direito de não crer. Estamos de volta às teocracias, no melhor estilo
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Dezembro 2003 islâmico.
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Abril 2004 Como pode alguém, em sã consciência, não ser católico? Esta é a mesma
Maio 2004
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arrogância que cultivavam os marxistas, antes do desmoronamento do comunismo
Julho 2004 e da União Soviética. Olhavam para os não-marxistas com piedade e desdém: "esse
Agosto 2004
Setembro 2004 coitado nada entende do mundo". E no entanto...
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Novembro 2006 Uma corte norueguesa sentenciou uma mulher a nove meses de prisão por
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Abril 2009
Maio 2009 a tomada de quatro policiais federais como reféns pelos índios macuxis na aldeia
Junho 2009
Flechal, na reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. Quando os índios, insuflados
Julho 2009
Agosto 2009 por ONGs e missionários estrangeiros, fazem reféns - até mesmo da Funai - para
Setembro 2009
Outubro 2009 exigir demarcação de terras, a própria Funai faz que nem viu e fica tudo por isso
Novembro 2009
Dezembro 2009 mesmo. Pois a intenção dos indigenistas é isolar os índios da civilização, mantê-los
Janeiro 2010
Fevereiro 2010 presos em gaiolas atemporais, para contemplação dos pósteros.
Março 2010
Abril 2010
Maio 2010
Agora é diferente. Os macuxis são contra a demarcação contínua da reserva
Junho 2010
Julho 2010 indígena Raposa/Serra do Sol, de 1,69 milhão de hectares, o que eliminaria o
Agosto 2010
Setembro 2010 contato com os brancos que lá vivem e trabalham, que têm o prazo de um ano para
Outubro 2010
Novembro 2010 entregar suas terras e sair da área. Os índios sabem que perderão escolas,
Dezembro 2010
Janeiro 2011 eletricidade, assistência médica e farmacêutica e todas as demais vantagens que o
Fevereiro 2011
Março 2011 contato com a civilização propicia. Preferem a demarcação por ilhas, o que
Abril 2011
permitiria a permanência do branco civilizador.
Maio 2011
Junho 2011
Julho 2011
Agosto 2011 Está finalmente surgindo no país uma consciência entre índios mais pragmáticos de
Setembro 2011
Outubro 2011 que afastar-se do branco não é bom. Para desespero e perplexidade da Funai, que
Novembro 2011
Dezembro 2011 prefere manter as populações indígenas na era da Pedra Lascada. Por trás disso
Janeiro 2012
Fevereiro 2012 tudo, ou melhor, embaixo disso tudo, pode estar a maior jazida de ouro do mundo,
Março 2012
além de outros minerais como diamantes, cassiterita, nióbio, tântalo e titânio, este
Abril 2012
Maio 2012 último matéria prima estratégica para usinas nucleares, indústria bélica e
Junho 2012
Julho 2012 informática.
Agosto 2012
Setembro 2012
Outubro 2012
Novembro 2012 A demarcação contínua eliminará do mapa uma faixa com cerca de 100 mil
Dezembro 2012
Janeiro 2013 hectares de terra produtiva que circunda a reserva e faz fronteira com Guiana
Fevereiro 2013
Inglesa, ao Norte do Estado. Esta faixa produz 70% das 160 mil toneladas de arroz
Março 2013
Abril 2013

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Junho 2013
industrializadas por ano em Roraima e vendido para o Amazonas, Pará e Rondônia,
Julho 2013 o que contribui com cerca de 10 % do PIB estadual. A Funai, agora com o apoio da
Agosto 2013
Setembro 2013 Presidência da República, quer destruir este trabalho todo. Prefere fornecer aos
Outubro 2013
Novembro 2013 índios uma proteção paternalista, desde que se mantenham afastados do universo
Dezembro 2013
Janeiro 2014 não-índio.
Fevereiro 2014
Março 2014
Abril 2014
Maio 2014
Acontece que os índios já experimentaram o bem-estar da civilização branca. E não
Junho 2014 querem mais apito.
Julho 2014
Agosto 2014
Setembro 2014
Novembro 2014 - Enviado por Janer @ 11:49 AM

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segunda-feira, abril 25, 2005

NEM OS SANTOS CONDENARAM


A SANTA INQUISIÇÃO

Em artigo para o MSM (http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=3557), Marcelo Moura


diz que afirmei que a Igreja desejava que quem dela discordasse fosse para o
inferno. E continua: "Essa é a razão pela qual falei da Inquisição, para explicar que
uma simples discordância nunca foi motivo para a existência da Inquisição". Não é
bem assim. Afirmei que ao declarar "Nós queremos que o Papa queime vivo no
inferno", Hebe de Bonafini demonstrou ser simpatizante dos métodos usados pela
Igreja na Idade Média. Mas atenção: inferno e inquisição são coisas distintas. O
inferno existe na mitologia grega (o Hades), nas religiões hebraica (Xeol ou Geena),
islâmica e até mesmo budista (o samsara). No catolicismo é concebido como um
lugar de condenação eterna. O inferno é criação de teólogos e sua origem se
esconde no início dos tempos.

Já a Inquisição tem data definida. É um mecanismo jurídico criado mais por


legisladores que por teólogos, daí porque afirmei ser a Idade Média dominada mais
por advogados do que por teólogos, sem que nisso estivesse embutida nenhuma
crítica à classe profissional dos advogados, como afirmas. A Inquisição é criada pela
bula Licet ad Capiendos, do Papa Gregório IX, em 20 de abril de 1233. Aliás, ao
citar James Hitchcock, Marcelo acaba confirmando o que eu afirmava: "os
inquisidores eram legisladores e burocratas profissionais que se aderiam a regras e
procedimentos". Coisa de advogados, portanto. Com a bula Ad Extirpanda, em
1252, o Papa Inocêncio IV instucionaliza o Tribunal da Inquisição e autoriza o uso
da tortura. Irá persistir até o século XIX, na Espanha.

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"Claro que nunca defendi e não defendo nenhum tipo de tortura", afirmas. Mas não
disseste uma única palavrinha contra a Inquisição, o que já denota cumplicidade.
Não bastasse não condenar a ignomínia, afirmas - e reiteras esta afirmação - que a
Inquisição foi um avanço para a época. Mas não bastasse tudo isto, no link para os
textos de D. Estevão Bettencourt, lá está: "É de notar que nenhum dos Santos
medievais (nem mesmo S. Francisco de Assis, tido como símbolo da mansidão)
levantou a voz contra a Inquisição, embora soubessem protestar contra o que lhes
parecia destoante do ideal na lgreja". Sem falar que São Francisco morreu em 1226
- o que depõe contra a erudição de D. Estevão - antes da instituição da Inquisição,
afirmar que os heróis da Igreja Católica jamais levantaram a voz contra a
instituição é defendê-la. Os santos homens da Igreja eram cúmplices do terror. O
primeiro passo para uma futura canonização, já o deste.

Afirmas que os cátaros constituíam um problema de Estado. Brilhante argumento.


Só não sei se notaste que foi o mesmo empregado por tiranos como Stalin ou Mao,
Envers Hodja ou Ceaucescu para massacrar seus conterrâneos. Ou, se não
quisermos ir mais longe, Fidel Ruz Castro. Os dissidentes dos regimes totalitários
sempre constituíram um problema para o Estado, é o que alegam estes senhores,
que encarnam o Estado. Assim argumentando, justificas não só a Inquisição como
também as tiranias deste século e do século passado.

Dizes ter sobre a Inquisição opinião semelhante à de Olavo Carvalho sobre a


ditadura militar brasileira: "apesar de todas as suas falhas, foi melhor que o banho
de sangue que ocorreria se a guerra civil se tornasse uma realidade". Em primeiro
lugar, a comparação não procede, pois não havia ameaças de guerra civil na época,
na França, Espanha, Alemanha, Itália e Portugal. Nem mesmo no Brasil, onde a
Inquisição também introduziu suas garras. Que mais não fosse, para os cátaros
estavam proibidas as guerras. Isso sem falar que o catarismo foi um fenômeno
francês do século XII, mais ou menos restrito à Ocitânia. Nada justificava a
extensão da Inquisição aos demais países europeus nem ao século XIX. Tratava-se
de manutenção do poder eclesial, e nada mais. É claro que a Inquisição matou
menos que as ditaduras do século passado. Os inquisidores não tinham um exército
a seu serviço e além do mais a matança era individual, homem a homem, o que
exige mais tempo.

Mas o horror não reside numa questão numérica. E sim no fato de justificar
oficialmente a tortura, o que nenhuma ditadura contemporânea jamais ousou. Os
ditadores costumam torturar, mas torturam em porões, às ocultas, sem dar
publicidade nenhuma a suas crueldades. Pelo contrário, sempre as negam, quando
acusados. Os inquisidores, não. Defendem abertamente, em livros assinados, a
prática hedionda, tida como recurso para a salvação da alma dos hereges. E este é
o aspecto mais perverso da Inquisição, a serena e convicta defesa da tortura. Se

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contentassem os inquisidores em eliminar seus adversários, até poderíamos


entender a Inquisição como um processo de luta pelo poder. Mas a tortura não pode
ser justificada.

Nos processos da Inquisição a denúncia era prova de culpabilidade, cabendo ao


acusado a prova de sua inocência. É uma roda que, uma vez acionada, dela
ninguém escapa. A identidade do denunciante era mantida oculta e a obrigação de
denunciar os hereges era permanente. O acusado era mantido incomunicável,
ficava acorrentado e era o responsável pelo custeio de sua prisão. Qualquer
semelhança com a China comunista, onde a família do fuzilado tem de pagar a bala
com que foi executado está longe de ser mera coincidência. A tortura só era
aplicada quando o crime, apesar das provas, era considerado provável, mas não
certo. Mesmo as testemunhas podiam ser torturadas caso se contradissessem.
Podiam ser torturadas tanto meninas de 13 anos como mulheres de 80. Como a
tortura somente podia ser infligida uma vez, os inquisidores - criteriosos
cumpridores do rigor da lei - criaram o subterfúgio do "adiamento" da sessão, para
que a tortura pudesse ter prosseguimento posterior. A privação de herança se
prolongava até a terceira geração do condenado. E se o acusado escapava pela fuga
à Inquisição, ou morria antes de ser julgado, era executado em efígie, isto é, tinha
sua imagem queimada. Ou seja, nem a morte salvava o infeliz da fogueira.
Vamos às fontes, ou seja, ao Directorium Inquisitorum ou Manual dos
Inquisidores, em bom português, de Nicolau Eymerich, complementado mais
tarde por Francisco de la Peña:

TORTURA-SE o Acusado, com o fim de o fazer confessar seus próprios crimes. Eis
as regras que devem ser seguidas para poder ordenar-se a tortura. Manda-se para
a tortura:

1. Um acusado que varia as suas respostas, negando o fato principal.


2. Aquele que, tendo tido reputação de herege, e estando já provada a difamação,
tenha contra si uma testemunha (mesmo que seja a única) a afirmar que o viu
dizer ou fazer algo contra a fé; com efeito, a partir daí, um testemunho somado à
anterior má reputação do Acusado são já meia-prova e índice bastante para
ordenar a tortura.
3. Se não se apresentar qualquer Testemunha, mas se à difamação se juntarem
outros fortes indícios ou mesmo um só, deverá proceder-se também à tortura.
4. Se não houver difamação de heresia, mas se houver uma Testemunha que diga
ter visto ou ouvido fazer ou dizer algo contra a Fé, ou se aparecerem quaisquer
fortes indícios, um ou vários, é o bastante para se proceder à tortura.

Segue-se a fórmula da sentença de tortura: "Nós, F... Inquisidor, etc, considerando


com atenção o processo contra ti instruído, vendo que varias as tuas respostas e
que há contra ti provas suficientes, com o fim de tirar da tua boca toda a verdade,

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e para que não canses mais os ouvidos dos teus juízes, julgamos, declaramos e
decidimos que no dia tal... à hora tal... sejas submetido à tortura"

Longas são as digressões de Eymerich sobre a tortura. Me permito mais algumas:

Lida a sentença da Tortura, e enquanto os Carrascos se preparam para a execução,


convém que o Inquisidor e outras pessoas de bem façam novas tentativas para
levarem o acusado a confessar a verdade. Os Verdugos procederão ao despimento
do criminoso com certa turbação, precipitação e tristeza para que assim ele se
atemorize; já depois de estar despido, leve-se de parte e seja exortado novamente
a confessar. Prometa-se-lhe a vida, sob essa condição, a menos que ele seja
relapso, pois neste caso não se pode prometer-lha.

Se tudo isso for inútil conduzir-se-á à tortura, durante a qual será submetido a
interrogatório, em primeiro lugar referente aos artigos menos graves em que seja
suspeito, pois que ele confessará as faltas leves de preferência às mais graves. No
caso de ele se obstinar sempre a negar, pôr-se-lhe-ão frente aos olhos
instrumentos de outros suplícios e dir-se-lhe-á que vai passar por todos eles, a não
ser que confesse toda a verdade.

Se enfim o Acusado nada confessar, pode continuar-se a tortura um segundo dia e


um terceiro, mas com a condição de seguir os tormentos por ordem e nunca repetir
os já praticados, não podendo ser repetidos enquanto não sobrevierem novas
provas, embora não seja proibido neste caso o continuar por ordem.

Se o Acusado tiver suportado a tortura sem nada confessar, deve o Inquisidor pô-lo
em liberdade mediante sentença na qual constará que após um cuidadoso exame
do seu processo, nada se encontrou de legitimamente provado contra ele, no
respeitante ao crime de que havia sido acusado.

Ou seja, se o coitado nada confessou ou não tinha mesmo o que confessar e nada
havia contra ele, é solto e fica tudo por isso mesmo. Afinal, como afirma Marcelo,
citando Bernard de Gui, "o Inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zelo
pela verdade religiosa, pela salvação das almas e pela extirpação das heresias". Em
1634, em Loudun, os Inquisidores torturaram com diligência - e até mesmo com
amor - Urban Grandier, antes de jogá-lo à fogueira. O exorcista jesuíta Jean-Joseph
Surin muito sofreu por não ter extraído de Grandier um Abjuro, o que pelo menos
teria salvado sua alma. Porque o corpo, este estava mesmo condenado às chamas.
A diligência e o fervor dos Inquisidores foi tanta, que mandaram inclusive uma
virgem de 19 anos para fogueira, em 1431, em Rouen, França. Chamava-se Joana
d'Arc e hoje é santa da mesma Igreja que a queimou.

Segundo Marcelo, reis como Frederico II e Henrique II combateram as heresias

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ferozmente, na maior parte dos casos, para ganhar os bens que eram confiscados
dos hereges. Pode ser. Mas os inquisidores não renunciavam a seu quinhão. Vamos
ao Manual. No capítulo sobre as multas e confiscações de bens, lemos:

Além das penitências, pode o Inquisidor impor penas pecuniárias, pela mesma
razão que pode ordenar peregrinações, jejuns, orações. O dinheiro das multas
deverá ser empregado em obras pias, tais como a sustentação e mantenimento do
Santo Ofício. É na verdade muito justo que o Inquisidor se pague de suas despesas
à custa daqueles que foram entregues a seu Tribunal, pois que (como diz São
Paulo, I, Coríntios, capítulo IX) ninguém é obrigado a fazer a guerra à sua custa.
(...) Sendo, entre todas as obras pias, a Inquisição a mais útil, poderão as multas
ser sem dificuldade aplicadas ao sustento dos Inquisidores e seus familiares. (...)
Efectivamente, é muito útil e vantajoso para a Fé Cristã que os Inquisidores
possuam muito dinheiro, para poderem manter-se, assim como às suas famílias,
para a busca e perseguição dos hereges.

Quanto às confiscações, os bens de um Herege deixam de lhe pertencer e são


confiscados pelo simples facto de ele ser um Herege. A comiseração pelos filhos do
Culpado, que ficam assim reduzidos à miséria, não deve ser nunca razão para se
abrandar a severidade, já que, segundo todas as leis divinas e humanas, os filhos
pagam pelas faltas dos pais.

Mais ainda, a ação contra o condenado não finda com sua morte. Poderá proceder-
se contra um herege mesmo depois da morte e declará-lo como tal, para efeitos de
confiscação de bens (ad finem confiscandi), tirar os bens àqueles que os possua,
até a terceira geração, e aplicá-los em favor do Santo Ofício.

"Depois da Inquisição foi criado um procedimento - diz Marcelo - (que, aliás, ainda
é praticamente o mesmo que é utilizado em inquéritos policiais no mundo
ocidental), onde se coletavam provas sobre o envolvimento da pessoa em heresias
e lhe concedia o direito de se defender". Tens toda razão, meu caro. Esse
procedimento ainda é praticamente o mesmo utilizado em inquéritos policiais no
mundo ocidental. Foi fartamente utilizado no Brasil, na Argentina, no Chile e até
hoje é utilizado em Cuba.

Mas, como dizia D. Estevão, nenhum dos santos medievais levantou a voz contra a
Inquisição. Seria esperar demais que Marcelo Moura o fizesse.

- Enviado por Janer @ 3:01 PM

7 of 14 09/12/2020 15:23
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domingo, abril 24, 2005

IMIGRANTE JAMAIS É CRIMINOSO

Às 09h23 do dia 19 passado, a UOL noticiava:

Mulher diz que provocou acidentalmente incêndio de Paris

Das agências internacionais

Uma mulher confessou ser a autora "involuntária" do incêndio que matou 23


pessoas em um hotel de Paris na sexta-feira passada, anunciou nesta terça-feira o
chefe de polícia ao Conselho de Paris. O chefe de polícia de Paris, Pierre Mutz,
declarou aos representantes do Conselho que se tratava de "um incêndio
involuntário", mas destacou que não podia apresentar outros detalhes das
investigações. A mulher que confessou a autoria do incêndio tem por volta dos 30
anos e seria namorada de um dos vigias noturnos do hotel. Ela foi detida após uma
denúncia anônima e estava presa desde a manhã de segunda-feira. "Ela estava no
local pouco antes do começo do fogo", informou Mutz. Os investigadores, que na
segunda-feira declararam descartar a pista do incêndio intencional, tentam
determinar com precisão a eventual presença da mulher no local e o papel que ela
teve na tragédia.

Esta é a notícia. Não dá o nome nem a nacionalidade da mulher nem de seu


namorado. Como conheço as manhas da imprensa internacional, comentei com
uma amiga: "aposto que a mulher é árabe". Minha amiga, defensora incondicional
dos ditos pobres e oprimidos, subiu em seus tamancos: "como podes afirmar isso?"

Fiquei à espera de novas notícias. Surgiram novos detalhes:

A mulher, de 31 anos, que mantinha uma relação com o vigilante noturno do hotel,
tinha instalado um dormitório improvisado na sala usada para servir o café da
manhã, no primeiro andar. No local, ela colocou uma dezena de velas para
improvisar uma iluminação para o ambiente, informou hoje a Procuradoria em
comunicado. Depois de "uma violenta disputa, que ela atribui ao fato de seu
companheiro estar bêbado, a mulher deixou o hotel irritada e jogou no chão vários
montes de roupa sem prestar atenção às velas ali situadas", acrescentou.

De novo, nenhuma informação sobre nomes ou nacionalidades. Mandei então um


e-mail para a defensora inccondicional dos pobres e oprimidos: "E tem mais: aposto
que ela se chama Fátima". Dia seguinte, continuei acompanhando a notícia na
imprensa brasileira, questão de ver se trazia nomes. Nada.

8 of 14 09/12/2020 15:23
Janer Cristaldo http://cristaldo.blogspot.com/2005/04/

Busquei então o jornal parisiense Libération. Lá estava: a mulher se chamava


Fátima e seu namorado Nabil. Ambos árabes. Mesmo assim, notícia alguma sobre a
nacionalidade.

Pelo que se vê, nossos bravos jornalistas já assumiram que é politicamente


incorreto responsabilizar muçulmanos por qualquer crime, mesmo que o tenham
cometido. Em meio a isso, acabo de comprar em Buenos Aires La Fuerza de la
Razón, o último ensaio de Oriana Fallaci, que mostra sobejamente o controle que
os muçulmanos estão exercendo sobre a Europa. E, pelo jeito, até sobre a imprensa
tupiniquim. O livro já foi traduzido em vários idiomas. Mas jamais será traduzido no
Brasil. Voltarei ao assunto.

- Enviado por Janer @ 10:55 PM

terça-feira, abril 19, 2005

LONGA VIDA AO PAPA BOCHE

Sem ter nada a ver com o assunto, me rejubilo com a eleição de Joseph Ratzinger
para papa. Quanto mais rígida e conservadora a governança da Igreja, mais os fiéis
dela se afastarão. Os ares do século se tornarão mais respiráveis.

A palavra boche surge na segunda metade do século XIX. Antes de designar o


inimigo alemão, significava tête de boche, ou seja, uma pessoa de cabeça dura.
Boche, em suas origens, é uma bola de madeira, daí bocha.

Louvado seja o Espírito Santo. Longa vida ao papa boche. Amém!

- Enviado por Janer @ 3:46 PM

segunda-feira, abril 18, 2005

DE VOLTA DO FIM DO MUNDO

9 of 14 09/12/2020 15:23
Janer Cristaldo http://cristaldo.blogspot.com/2005/04/

Por alguns dias, estive ausente deste espaço. Estou voltando do fim do mundo. Isto
é, de Punta Arenas, Ushuaia e Puerto Williams, lá onde o Atlântico se encontra com
o Pacífico. Naveguei pelo estreito de Magalhães e pelo canal de Beagle, por onde
andou pesquisando Darwin. Antes da viagem, reli a biografia de Magalhães por
Stephan Zweig, tentei ver o estreito com os olhos virgens do português. Nestes
dias de bestsellers, se você quer mergulhar numa leitura fascinante, procure
nalgum sebo ou biblioteca o livro de Zweig.

Mas hoje não dá mais. A passagem, já a conhecemos por fotos, filmes,


reportagens. Paisagens magníficas, muita neve, glaciares e fjordes. Mas o melhor
de tudo é que passei quase uma semana sem jornais nem TV, sem telefone nem
rádio, nem Internet nem carros, nem crianças nem adolescentes. Melhor ainda,
sem notícia nenhuma do Brasil, nem do mundo. E, suprema ventura, notícia
nenhuma do Lula. Por uma boa semana, cheguei a esquecer que o Supremo
Apedeuta existia.

Isso faz bem à alma. Junto aos glaciares, tomei uísque de doze anos, com uma
pedrinha de gelo de... doze mil anos. Claro que, para honrar a pedrinha milenar,
repeti com gosto as doses. Mas o melhor de tudo foi o isolamento total do mundo.

Voltei por Buenos Aires. Na Argentina, as manchetes dos jornais já me jogaram na


cara notícias do Brasil. Adeus glaciares e fjordes, adeus baleias e leões marinhos,
adeus ilhas e cormoranes. Ao leitor, uma dica: se você quer paz de encher a alma e
beleza de encher os olhos, não hesite. Vá logo.

- Enviado por Janer @ 9:10 PM

sábado, abril 09, 2005

NA CASA DO GRANDE CANALHA

Sempre considerei um canalha o homem que mente para sua


mulher. Claro que é um canalha menor que um comunista, que
mente para o mundo todo. Mas da mentira deste decorre a tirania e
a justificativa da tirania, a morte de milhoes e o ocultamento da
morte de milhoes. Da mentira do primeiro resulta apenas uma
mulher enganada. Mas quem engana a mulher com quem divide o
leito nao tem escrúpulo algum em enganar o resto do universo.

Estive ontem em La Chascona, em Santiago do Chile, uma das três

10 of 14 09/12/2020 15:23
Janer Cristaldo http://cristaldo.blogspot.com/2005/04/

casas de um destes magnos canalhas, Pablo Neruda. Nao é nenhum


Neuschwanstein, mas tampouco é casa para milionário botar
defeito. Como o mais vulgar dos burgueses, Neruda deu-a de
presente a Matilde Urrutia, sua amante, quando vivia ainda seu
segundo casamento. La Chascona porque assim era chamada
Matilde, sua teúda e manteúda secreta.

O grande humanista, mais tarde prêmio Nobel de Literatura, nao


tinha sequer a coragem de revelar à legítima seu caso com Urrutia.
Neruda tem mais duas casas magníficas no Chile, uma em Isla
Negra e outra em Valparaíso.

A casa, com formas que lembram um navio, é de um bom gosto


extraordinário. Neruda era homem de origem pobre. O que só
demonstra como pode ser lucrativo cantar os pobres e defender
tiranos como Stalin. E assim viveram muitos dos grandes ícones do
século passado.

- Enviado por Janer @ 12:06 AM

sábado, abril 02, 2005

REJUBILAI-VOS, CARÍSSIMOS!

Em A Peste, de Albert Camus, o padre Paneloux faz uma longa exposição sobre os
flagelos que acometeram os homens por vontade divina. Como o Cristo, ele aceita
passivamente o Mal, sem mesmo se interrogar sobre as eventuais motivações da
divindade. Se o Cristo, em um momento de sua agonia, deixa escapar o lamma
sabachtani, Paneloux morrerá sem uma só palavra nos lábios.

"Há muito tempo, os cristãos da Abissínia viam na peste um meio eficaz, de origem
divina, de se obter a eternidade. Aqueles que não haviam sido atingidos se
enrolavam nos lençóis dos pestíferos para terem a certeza da morte. Sem dúvida,
este desejo furioso de saúde não é recomendável, pois denota uma deplorável
precipitação, bem próxima do orgulho. Não se deve ser mais apressado do que
Deus. Tudo o que pretende acelerar a ordem imutável, estabelecida de uma vez por
todas, conduz à heresia. Mas este exemplo, pelo menos, traz sua lição. Para nossos
espíritos mais clarividentes, faz luzir este brilho delicado de eternidade que jaz no
fundo de todo sofrimento. Esta luz ilumina os caminhos crepusculares que
conduzem à libertação. Ela manifesta a vontade divina que, sem falhar, transforma

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Janer Cristaldo http://cristaldo.blogspot.com/2005/04/

o mal em bem".

Cristão não sendo, não vejo motivo algum para alguém enrolar-se em lençóis
pestilentos para apressar o encontro com a eternidade. Mas dou razão ao padre
Paneloux e aos cristãos da Abissínia. Se a eternidade é o sumo bem, melhor
apressar a viagem até ela. Neste gosto pela morte reside a lógica do cristianismo,
cujos praticantes bebem sangue, comem carne humana e têm como símbolo um
instrumento de tortura.

Com a morte, já tenho intimidade suficiente. Os três seres mais queridos que um
ser humano tem, ela já os ceifou. Agora só resta minha vida, o que para mim será
refresco. Não tenho veleidade alguma de eternidade. Aliás, considero que vida
eterna deve ser algo de uma monotonia insuportável. Suponho inclusive que o mais
ardente desejo de um homem que fosse eterno seria o de morrer logo.

Perdi recentemente minha mulher, a companheira que elegi em meus jovens anos e
que me acompanhou por quase quatro décadas - e por mais décadas me
acompanharia, não fosse a visita da Indesejada das Gentes. Em função de seu
trabalho, ela tinha relações no país todo. Mal começou a morrer, surgiram grupos
de oração em várias cidades, todos desejando sua pronta volta à saúde. E mais:
todos acreditando que teriam suas preces atendidas pelo tal de Ser Supremo. O
segredo, segundo os crentes, era manter uma disposição positiva ante a doença e
ela logo retornaria à vida plena. Para mim, que aceito a morte como uma
decorrência natural da vida, tais correntes me aborreciam. Mas evidentemente não
podia reclamar. Todas aquelas pessoas que oravam estimavam profundamente
minha mulher e, do fundo de seus corações, a desejavam de volta. Como reclamar?

Houve até quem dissesse: "Estamos gastando todos nossos créditos junto ao
Poderoso". A expressão até que me surpreendeu, pois jamais imaginei que o tal de
Poderoso funcionasse como uma espécie de banco. Se este alguém apostou
realmente todos seus créditos, hoje deve estar falido.

As preces foram inúteis, como são todas as preces. Por ocasião de seu passamento,
a visão dos crentes mudou em segundos. "Não te preocupa. Agora ela vai ter muita
luz. Vai se encontrar com a felicidade". Sem falar que minha Baixinha adorada era
fotófoba e não levara óculos escuros nesta sua última viagem, outra preocupação
me assaltou: mas se agora ela vai ser feliz, porque vocês oravam para que ela
permanecesse aqui sofrendo? Não seria um gesto de humanidade orar para que
morresse logo, para que seu sofrimento se abreviasse, para se encontrasse rápido
com a suposta felicidade? Pensei isto, mas nada disse. Não era o momento de
questionar a falta absoluta de lógica daqueles seres que, naquela ocasião, sofriam
junto comigo sua morte.

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Janer Cristaldo http://cristaldo.blogspot.com/2005/04/

Celebrar a morte - dizem os teólogos - é celebrar um encontro, o encontro pelo


qual ansiamos por toda a vida. Encontro com Deus, nosso Criador e Senhor. Assim
sendo, não consegui entender essas multidões chorando junto ao Vaticano e em
todas as capitais do mundo, rezando pela recuperação de Sua Santidade João Paulo
II. Já quase moribundo, o coitado tentava falar às multidões, quando mal conseguia
respirar. Em seu esforço desesperado para emitir algum som - desesperado e inútil,
pois sua garganta perfurada por uma cânula não mais o obedecia - sua boca
parecia a de um peixe estertorando fora d'água. Sua miséria física era tal, que as
autoridades vaticanas pediram aos fotógrafos evitar closes de seu rosto enrijecido
pela enfermidade. Orar para que permanecesse é, a meu ver, demonstração de
insólita crueldade. Pois nenhum leigo ignora que, se vivo permanecesse, o papa
estaria reduzido a um estado vegetal.

Com seu fascínio pelas multidões, João Paulo promoveu um show midiático, com o
exibicionismo de sua morte. A morte é algo pessoal, um momento privado, que o
Papa insistiu em tornar obscenamente público. Se orassem para que o homem
partisse, eu entenderia. Para que se libertasse desse sofrimento insano que se
abate sobre sua carcaça mortal. Sacerdote de tão santos propósitos, certamente
será recebido com todas as honrarias pelo deus do qual é vice. Se até o Deus
encarnado morreu, porque não morreria seu lugar-tenente?

"Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" -
pergunta-se Paulo em sua Iª Epístola aos Coríntios. Não se fazem mais Paulos como
antigamente. Quando a televisão nos mostra multidões choramingando a morte de
Sua Santidade, vemos que ninguém mais se deixa enrolar pela fanfarronice de
Paulo. Quando um católico reza para que um moribundo não morra é porque não
deposita muita confiança nessas promessas do Além.

Continua o apóstolo: "Quando este corpo corruptível se tiver revestido de


incorruptibilidade e este corpo mortal se tiver revestido de imortalidade, então
cumprir-se-á a palavra da Escritura: A morte foi tragada pela vitória". Se assim
fosse, a morte de João Paulo seria motivo de júbilo. Mas o pranto dos crentes
atesta a vitória incontestável da morte.

Confesso que acho muita graça na atitude destes senhores que crêem ser a morte
um encontro com o Eterno, mas na hora do Jesus-está-chamando recorrem a
medicinas de ponta. "Não se deve ser mais apressado do que Deus", dizia
Paneloux. Mas tampouco me parece que um cristão deva opor-se aos desígnios
divinos. A menos que queiram impor a João Paulo a agonia que foi imposta a outros
valiosos instrumentos de Estado, como Francisco Franco e o marechal Tito. Era
preciso mantê-los vivos enquanto não se decidia quem seriam seus sucessores. E
foram sendo esquartejados aos poucos, pelo encarniçamento médico.

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Janer Cristaldo http://cristaldo.blogspot.com/2005/04/

"Ele já vê e toca o Senhor", disse ontem o cardeal Camilo Ruini. Rejubilai-vos,


caríssimos. Alegrai-vos como me alegrei, quando o rosto de minha Baixinha querida
pendeu para o lado, a vida abandonou seu corpo que tanto sofria e ela rumou
serenamente ao Grande Nada.

Quanto a vós, católicos, o Todo-Poderoso assim o quis. Que mais não seja, mais
alguns dias e tereis outro para chorar.

- Enviado por Janer @ 5:19 PM

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