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Aula 3- Transtornos da personalidade

Uma das patologias psiquiátricas mais prevalentes.


Possui uma importância enorme não só com relação às manifestações mórbidas e patológicas
da maneira de ser do paciente, mas pelas importantes relações que tem com outras doenças
psiquiátricas e médicas.

Personalidade
- Definição:
Os estudos no campo da psicopatologia consideram vários conceitos, porem o conceito
estabelecido pela fenomenologia e pela psicopatologia é considerado o mais importante (pelo
Paulo Wood).
Cada pessoa tem um tipo de personalidade que não se diferencia qualitativamente das
patologias de personalidade. Ou seja, os portadores dos transtornos de personalidade
(patologias da personalidade) tem os mesmos elementos/componentes da personalidade
normal.
Então, a personalidade é definida como um padrão complexo de características psicológicas,
profundamente enraizadas na pessoa e que se expressam de forma automática praticamente
todas as áreas da atividade psíquica. A expressão automática significa que tanto o
comportamento e a atitude se dão quase que dispensando reflexão. A maneira de amar,de
tratar as pessoas, de se comportar, de pensar sobre a realidade, de entender a realidade e de
interagir com a realidade se expressa de forma automática, ou sem que nós reflitamos muito
sobre que nós estamos fazendo ou pensando. Em todas as áreas da atividade psíquica quer
dizer que a personalidade não é só a maneira de pensar, é a maneira de vivenciar, de se
comportar, de se relacionar com o mundo, de ter um senso moral, uma capacidade ou não de
amar as pessoas, de se relacionar, de ter qualidade de vida, de ter saúde mental e etc. Além
disso, a personalidade não pode ser vista em um dado período da vida, porque pessoas que
estão vivendo uma situação de calamidade (por exemplo) apresentam alterações de
personalidade (mais assustadas, isoladas, desconfiadas, limitadas,...). Mas isso não é uma
alteração de estrutura da personalidade, é apenas uma reação desses indivíduos diante do
momento.
Quando nos falamos de transtorno de personalidade, nos referimos a um conjunto estável e
imutável ao longo do tempo. Por isso, só podemos afirmar que uma personalidade esta
formada e que sua forma e o seu conteúdo tendem a se manter estável ao longo da vida a
partir dos 18-20 anos de idade. Assim, não podemos afirmar que uma pessoa de treze anos de
idade tem um transtorno da personalidade e nem que uma pessoa que esta passando por uma
depressão ou que esta com o comportamento psicotizado tem um transtorno da
personalidade. Trata-se, portanto, de um conjunto estável de modos de comportar-se,
vivenciar e pensar que permanece ao longo do tempo e faz referência a características
mantidas e definidas por um comportamento previsível e adaptado frente a várias situações.
Ou seja, se a personalidade é uma estrutura estável e imodificável que pode ter um grau
acentuado de um temperamento patológico ou de alguns elementos da personalidade,
conseguimos ter um grau de previsibilidade do que esta para acontecer e do que esta
acontecendo com o paciente nas diversas circunstâncias da vida. Por exemplo, uma pessoa
com uma personalidade obsessiva compulsiva tende a ser uma pessoa muito devotada/
dependente do trabalho. Essa pessoa, ao adoecer e precisar ficar parada muito tempo, pode
ter um sofrimento muito grande, que se compreende por meio dessa estrutura da
personalidade. Assim, essa pessoa, ao adoecer, terá maior risco de desenvolver certas reações
mal adaptadas à circunstancia e/ou patologias psiquiátricas. Esse quadro caracteriza um tipo
de depressão denominada melancolia evolutiva, na qual se tem como historia natural um
individuo muito devotado ao trabalho (centro da vida dele é o trabalho, não tira férias nunca,
por exemplo) e desenvolve uma depressão gravíssima. Isso faz entender a previsibilidade (é
esperada) da dificuldade desse paciente diante da aposentadoria.
Ou seja, conhecendo-se a estrutura personalidade e os elementos patológicos exacerbados da
personalidade, é possível prever as reações do individuo diante de certas situações.

- Dimensões da personalidade
Existem duas dimensões na personalidade: temperamento e caráter. Ou seja, a personalidade
é uma mescla de dois níveis de realidade particulares (tem uma ontologia própria cada um) e
individuais (não se mesclam), porem interagem entre si.
TEMPERAMENTO: Todos nós temos um temperamento um pouco mais depressivo, um pouco
mais emotivo, um pouco mais ciclotimico,... Ou seja, existem parâmetros de temperamento,
como se cada um nascesse com uma predisposição e uma formatação individual/pessoal de
temperamento. Apesar de todos funcionarem dentro do normal, existe uma variável de
resposta individual.
CARÁTER: o caráter é o elemento da personalidade que é construído ao longo da vida (tudo o
que fez parte da infância e da adolescência, experiências traumáticas, escolaridade,...). Enfim,
tudo o que faz parte da formação da pessoa compõe o caráter.
O temperamento remete a forma com que a personalidade vai se estabelecer. Por exemplo,
uma pessoa de temperamento depressivo criada em um ambiente de pouco estimulo, pouco
afeto e pouca valorização tem uma tendência a desenvolver uma personalidade depressiva.
Hoje, é possível individualizar e medir o temperamento a partir de escalas. Além disso, pode-se
entender os temperamentos característicos das diversas personalidades, como por exemplo a
bipolar. Ou seja, existem certos temperamentos que não chega a se manifestar como uma
doença bipolar, mas como uma característica de impulsividade, de hiperestimia, de
irritabilidade, de ciclotimia. A doença bipolar chega até a somatização e a morbidade da
personalidade. Isso não é apenas para a doença bipolar, mas para varias outras doenças
psicóticas como a esquizofrenia, outras doenças depressivas por exemplo.
Obs: enquanto a pessoas bipolares tendem a ter mais um temperamento ciclotimico e
impulsivo, as depressivas tendem a ter um temperamento mais depressivo. (dããã!)

- O estudo:
TRAÇOS
Então, o estudo da personalidade humana é feito por 2 tipos de avaliação. Primeiro, para você
falar de uma personalidade é necessário avaliar alguns elementos (elementos estes que
definem o que é ser homem). O professor considera como avaliação mais correta um teste
denominado MMTI. Esse teste estuda todos os elementos da personalidade, seriam mais ou
menos 10 elementos. Para facilitar o entendimento: da mesma forma que a respiração é
composta por vários elementos (inspiração, expiração, trocas gasosas,...), a personalidade a é
uma realidade composta também de vários elementos. Então, toda personalidade tem um
grau de depressividade, uma identidade sexual, um grau de perspicácia, um grau de
isolamento social, um grau de hipocondria, um grau de histrionismo. Por exemplo, toda
personalidade tem um grau menor ou maior de hipocondria, porque se não existisse o
mínimo/suficiente de preocupação consigo mesmo não existiria a capacidade preservada de se
preocupar com a própria saúde. Uma pessoa que é hipocondríaca ou está com hipocondria por
uma depressão, verifico que o item hipocondria está elevado no teste dela. Como avalio isso?
O teste é composto por 150 perguntas e cada pergunta é direcionada a um item: hipocondria,
depressão, lexitimia... Essas questões te dão uma medida de como está esses elementos da
personalidade.
Obs: Uma pessoa com hipocondríaca. Se essa hipocondria é transitória, em determinada
situação ela surge e pode ficar estabelecida. Então, essa pessoa esta hipocondrizada, ou seja,
esta um pouco mais preocupada do que deveria estar. Porém, existe uma doença/ transtorno
hipocondríaco que estabelece uma hipocondria permanente a partir dos 20/25 anos de idade.
A partir de então, essa pessoa estabelece um comportamento característico do padrão
transtorno hipocondríaco. Então você não esta diante de uma doença momentânea, mas de
um transtorno permanente.
Esses testes dão não apenas a personalidade da pessoa, mas também a psicopatologia. Por
exemplo, dependendo da personalidade de base de um paciente com depressão, ele pode ser
autorreferente quando deprimir (achar que as pessoas estão falando dela). Então, o MMTI vai
mostrar um grau de parodismo/surspicácia elevado. Mas ao tratar a depressão com o
tratamento, isso se reduz a um nível menor mas muitas vezes há um jogo patológico. Porque
com a surspicacia (preocupação com os estímulos externos, saber avaliar o vicio) se deve a
incapacidade de ter defesa...
Obs: Não há uma relação direta entre um tipo de personalidade e um tipo de patologia
psiquiátrica. Algumas relações existem. Por exemplo, não é correto dizer que uma paciente
que desenvolve TOC tem uma personalidade obsessiva, pois são duas realidades diferentes.
Portanto, o estudo da personalidade enquanto elementos estruturais (MMPI) é uma
metodologia de estudo que avalia os traços da personalidade que em uma personalidade
normal estão quantificados dentro de um patamar máximo e um patamar mínimo dentro de
um gráfico do MMPI.
REALIDADES TEMATICAS
Outra característica importante da personalidade são as realidades temáticas. Por exemplo, no
caso de uma personalidade com traço hipocondríaco muito acentuado, pode-se entender que
essa pessoa possa reagir de uma determinada maneira diante do adoecimento e do
envelhecimento. Já no caso de uma pessoa com personalidade com um traço histriônico de
grau elevado, prevê-se que certos temas ao longo da vida dela possam gerar descompensação,
crises, doenças psiquiátricas,... Em uma personalidade paranoide, é muito comum a
paternidade (envolve uma capacidade de integridade e segurança) gerar uma
descompensação já que esses pacientes são muito inseguros, tem um sentimento de
inferioridade grande e desconfiam muito morbidamente da fidelidade da esposa.
ELEMENTOS ESTRUTURAIS
Em suma, esses elementos estruturais normais ou patológicos podem atingir um grau
acentuado, mas não caracterizar um transtorno de personalidade. Por exemplo, posso ser uma
pessoa com um traço depressivo de personalidade, porem não chegar a ter um transtorno
depressivo de personalidade. Pois, para ser um transtorno depressivo é necessário que hajam
repercussões na vida pessoal, na capacidade de amar, de se relacionar, de trabalhar e etc.
Assim, dentro do campo do que é normal, existe uma elasticidade e, dentro do campo do que
é patológico, existem graus variáveis mensuráveis de psicopatia.
TEMPERAMENTO
O temperamento também deve ser estudado na personalidade, principalmente porque é no
temperamento que muitas vezes os psicofármacos agem no tratamento dos transtornos de
personalidade. Isso porque os temperamentos tem uma modulação biológica, como foi
mostrado em estudo na qual mulheres com histórico de ansiedade fizeram uso de inibidores
da recapitação da serotonina em doses subterapêuticas e apresentaram melhora.
BIOGRAFIA
Outro fator importante de se estudar na personalidade é a biografia. Como já dito antes, a
historia psiquiátrica é, basicamente, uma anamnese biográfica da pessoa. Por exemplo, uma
pessoa se torna hipocondríaca ou tem traços hipocondríaco terá uma historia característica na
vida da pessoa, pois se trata de traços da personalidade. Diferentemente disso, o
temperamento não se altera, é inato à pessoa, sua variação ao longo do tempo. Mas, a
biografia imprime um sentido aos traços de personalidade, ou seja, a biografia determina
como se estruturou a personalidade.

-Metodologia
Então, no estudo da personalidade, avalia-se:
a)Estudo da personalidade enquanto elementos estruturais- MMTI
b)Estudo do temperamento- Escalas de avaliação
c)Historia psiquiátrica e exploração psicopatológica
d)Provas de neuro-imagem
e)Entrevistas estruturadas (DSM)
Não se pode afirmar que uma pessoa que desenvolveu uma esquizofrenia tem um transtorno
da personalidade paranoide. Nesse caso, alterações da personalidade (do comportamento, do
pensar, do sentir) decorreram da esquizofrenia.
Exemplo de transtorno de personalidade: nos psicopatas, a área do sentimento não é ativada
diante de situações de degradação e sofrimento que fazem pessoas normais reagirem com
tristeza. Ou seja, eles não tem esse link do sentimento com a realidade, apesar de entenderem
o que esta acontecendo e de racionarizarem. Mas, o sentimento que gera compaixão e
sentimento de culpa é deficitário no psicopata.

-Etiologia:
Portanto, a etiologia dos transtornos de personalidade tem esse aspecto biológico, um aspecto
genético (a genética determina não só a predisposição como fator positivo, mas também como
fator negativo), influencia do meio, questão biográfica (família, escolaridade, cultura, abuso,
traumas). Sistemas colinérgicos e dopaminergicos, enzima MAO e metabolitos também tem
influencia nos transtornos de personalidade, como mostram estudos.

-A importância dos transtornos de personalidade:


FORMA E CONTEUDO DAS PATOLOGIAS
No campo da psiquiatria, os transtornos de personalidade tendem a dar a forma e o conteúdo
das patologias. Por exemplo, uma pessoa com personalidade histriônica, ao se deprimir, a
forma e o conteúdo ( a formatação) dessa depressão serão dados pela personalidade.
CURSO E PROGNOSTICO
Uma depressão leve ou um transtorno de ansiedade ou bipolar associados a um transtorno de
personalidade terão curso e prognostico serão muito mais influenciados pelo transtorno de
personalidade do que pelos demais transtornos. Então, todo paciente psiquiátrico deve ter sua
personalidade estudada
DIMENSOES DO ADOECER
Por exemplo, uma pessoa com traços depressivo bem caracterizados pode adoecer de uma
forma muito mais histriônica e ter muito mais necessidade de atenção do que o normal.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE
Essa personalidade irá determinar também a relação medico-paciente. Por exemplo, um
paciente com determinada personalidade terá uma relação medico-paciente de uma forma e
conteúdo bastante previsível e compreenssivel.
OUTRAS AREAS: Esse estudo também esta relacionado com a pratica medica, pois você tendo
o conhecimento das personalidades patológicas ou dos traços de funcionamento da
personalidade ajuda no exercer da medicina de maneira diferenciada.

Definindo Transtorno de personalidade


-Padrão estável ao longo da vida: Ou seja, não se pode dizer que uma pessoa ficou com uma
personalidade paranoide, porque o transtorno de personalidade ao longo da vida adulta.
- Previsibilidade dos acontecimentos, das reações, da adaptabilidade dessas estruturas ao
longo da vida. Exemplo, uma pessoa narcísica vai envelhecer de uma determinada forma
previsível. Uma pessoa histriônica irá reagir de determinada forma diante do casamento do
filho. Uma pessoa com personalidade borderline/limite ira ter uma reação previsivel diante de
uma ruptura afetiva por exemplo.
-Grau de objetivação: os transtornos psiquiátricos tem um grau confiável de objetivação. Ve-se
como funciona na realidade, em escalas medicas, em neuroimagem.
-Importância dupla: quer dizer, tem importância não só no estudo momentâneo. Por exemplo,
um paciente desenvolveu uma depressão que ocorre no contexto de uma estrutura obsessiva.
Ou seja, ele passou por uma situação temática difícil para uma pessoa com estrutura obsessiva
e isso fez desencadear a depressão como reação. Na cardiologia, é observado que os
hipertensos tendem a ter uma estrutura de personalidade mais próxima dos obsessivos. Uma
mãe de criança asmática ou epiléptica pode adquirir um transtorno de personalidade que
tenha uma ansiedade maior. Ou seja, isso te ajuda a entender o transtorno em qualquer
circunstancia da atividade medica.
- Relação medico-paciente

Exclui transtorno de personalidade


- Não há comprometimento amplo da pessoa: vida social, amorosa, laboral, atividade política.
Pois, se não há esse comprometimento, trata-se apenas de traços exacerbados. Por exemplo,
em um estudo de personalidade, todos da sala podem apresentar traços exacerbados da
personalidade (traços histriônicos, evitativos, obsessivos, alterações da identidade sexual),
mesmo que ninguém apresente um transtorno da personalidade. Esses elementos da
personalidade podem dar uma maior ou uma menor alexitimia, uma maior ou menor
capacidade de vivenciar melhor certos sentimentos que não de forma física (sem
somatização).
Em suma, as vezes você não tem um transtorno de personalidade, mas marcados traços de
personalidade que não comprometa tem uma impregnação tão comprometedora na vida do
sujeito de forma geral.
- apenas traços de personalidade e/ou temperamento
- se esse padrão disfuncional surge a partir de uma patologia psiquiátrica ou não, reversível ou
não: Por exemplo, paciente com depressão recorrente que, mediante a depressão, ficou uma
pessoa evitativa, passiva, com uma personalidade dependente. Ou seja, ele não tem um
transtorno de personalidade, mas um problema da personalidade decorrente da patologia do
humor.

Objetivos do estudo
Portanto, para se pesquisar e estudar uma personalidade normal ou patologica, questiona-se
porque uma pessoa funciona de determinada maneira. De maneira paranoide por exemplo.
Estuda-se, então, aqueles elementos gerais. Ou seja, quais os traços que estão exacerbados, os
elementos estruturais da personalidade, o temperamento, os mecanismos de defesa ausentes
ou pouco utilizados, as identificações. As vezes, a identificação de um rapaz com o pai pode ser
muito frágil, por exemplo.
Outra questão é como o paciente chegou a ter isso, uma personalidade paranóide como
exemplo. É claro que, nesse caso, houve a influencia do ambiente, uma carga genética, um
padrão biológico disfuncional, família e acontecimentos vitais que favoreceram isso. Dessa
forma, uma serie de elementos se associam, tornando difícil pesar qual foi o fator mais
determinante do desenvolvimento daquela personalidade.

Importância para a clinica psiquiátrica


Definição e esclarecimento de um padrão patológico de funcionamento, que faz o sujeito
padecer. Ou seja, o transtorno de personalidade faz o sujeito sofrer e esse sofrimento é
egossintônico (o individuo não reconhece que é um gerador de um sofrimento pra ele e para
os outros, pois essa estrutura da personalidade é criada para ocupar um déficit do sujeito. Há
uma disparidade existencial então entre a personalidade determinada, como a paranoide, e o
sentimento de inferioridade nesse caso. Assim, de alguma maneira, ele não reconhece isso
porque essa personalidade é patológica porque há um déficit por detrás disso.
Já, o sofrimento é egodistonico quando esta em choque com o ego. Por exemplo, se eu sinto
que minha impulsividade me incomoda e incomoda os outros, estou tendo um insight na qual
percebo que minha impulsividade é egodistonica.
- Essas pessoas ou essas patologias podem, em certos momentos biográficos compreensíveis
ou previsíveis, reagir de maneira sindrômica ou mal adaptadas. Não desenvolverem uma
síndrome passageira, mas a partir daquele acontecimento podem desenvolver uma doença
psiquiátrica, como a depressao por exemplo.
-A personalidade tbm influencia o curso, o prognostico, o tratamento enquanto comórbida das
outras patologias psiquiátricas.

 Grupo A (paranóides, esquizóides e esquizotípicos, o chamado grupo dos


"excêntricos-esquisitos"), grupo B (anti-socias, fronteiriços, histriônicos e
narcisísticos, o chamado grupo dos "dramáticos-emocionais-volúveis"), e o
Grupo C (evitativos, dependentes e obsessivo-compulsivos, o chamado
grupo dos "ansiosos-temerosos")

Grupo A dos transtornos de personalidade: Paranoide, Esquizoide, Esquizotipico. Porque foram


agrupados dessa forma? Porque ambas essas três palavras remetem a psicose. Alem disso,
percebeu-se que o grupo de pessoas com transtorno de personalidade desses três tipos tem
historias familiares muito específicas, padrões genéticos específicos. Ou seja, parece que eles
surgem de uma realidade muito diferente dos outros dois agrupamentos.
Na personalidade normal ou patológica, deve-se fazer essa ponte entre o que é manifesto e o
que é real.

Transtorno de personalidade paranoide


-Descreve-se como personalidade paranoide: indivíduos tensos, hipersensíveis, hipervigilantes,
que avaliam constantemente em busca de evidencia de possíveis ataques ou agressão
inexistente, são desconfiados dos outros, distantes, hostis e ressentidos com as relações
interpessoais.
Nos referimos a uma estrutura permanente ao longo do tempo. Pois, todos podem ter se
apresentado com algumas dessas características em determinado momento da vida.

-Critérios da personalidade paranoide: DSM-4


Padrão global de desconfiança e de suspeita em relação aos outros de modo que as intenções
são interpretadas como maldosas. Se manifesta no inicio da vida adulta e esta presente em
uma variedade de contextos e deve preencher 4 dos seguintes critérios.
 Suspeita sem fundamento suficiente de estar sendo explorado, maltratado ou
enganado por pessoas.
No caso pessoas de que se sentem assim constantemente ao longo de toda a vida,
deve-se questionar a partir de que momento isso iniciou. Essa suspeita não é apenas
um erro cognitivo na qual é possível ensinar a pessoa a pensar diferente. Isso vem de
fundamentos da existência do ser. Ou seja, são pessoas que tem um sentimento de
inferioridade muito grande. Esse sentimento é porque, as vezes, essas pessoas
passaram por experiências traumáticas que foram tão severas/marcantes que
ajudaram a impregnar isso na personalidade, interferindo no temperamento e em
todas aquelas outras características da personalidade.
 Preocupa-se com dúvidas infundadas a cerca da lealdade e da confiabilidade de
amigos e colegas
 Reluta em confiar nos outros por medo infundado de que essas informações possam
ser maldosamente utilizadas contra si
 Interpreta significados ocultos de característica humilhante ou ameaçador em
situações de caráter benigno
Então, observa-se essa hipervigilância, essa tendência em ficar procurando essa
demonstração uma aparência hostil. Na verdade, ele esta sempre se defendendo de
uma verdade interna muito dolorosa com esse comportamento, então ele prefere
projetar isso. Assim, o mecanismo de defesa dos paranoides é a projeção. Por
exemplo, se você esta com uma dor de ouvido, você prefere responsabilizar alguém
por isso para aliviar sua dor.
Dessa forma, apesar dos paranoides terem essa postura vigilante, eles são pessoas
extremamente frágeis e vulneráveis.
 Guarda rancores persistentes, ou seja, é implacável com insultos, injurias e delírio de
Eles percebem ataques a seu caráter e reagem de forma agressiva.
 Tem suspeitas recorrentes, sem justificativa, quanto a fidelidade do conjugue ou do
parceiro sexual.
Dessa forma, essas realidades fenomênicas podem dar muitos elementos para entendermos as
situações, os momentos e as realidades temáticas que podem desestabilizar uma pessoa.
Por exemplo, se um paranoide passa por uma experiência no trabalho na qual ele não recebeu
uma premiação, ao invés de ele reconhecer essa não premiação como algo normal e
justificável, ele pode interpretar isso como uma perseguição, como um ataque à sua dignidade.

-Traços estruturantes
Então, observamos nessas pessoas uma atitude hostil, porem defensiva. Alem de serem
extremamente ansiosos, surspicaveis, evitativos. E, a presença de um marcado sentimento de
inferioridade e uma marcada impulsividade.
Por exemplo, muitos desses pacientes batem no conjugue porque desconfiam de traição.

- Temperamento:
Explosivos ou hipertimicos (homens ou mulheres)

-Mecanismos de defesa mais utilizados:


Repressão (da realidade)
Negação (da realidade interna e subjetiva)
Projeção
Alem disso, certas realidades temáticas e existenciais são de maior complexidade. São elas:
sexualidade, direção, casamento, atividades de cunho filosófico ou religioso, fidelidade e
situações de humilhação. Essas situações podem ser extremamente sofríveis e
desestabilizadoras.

-Comorbidades
Os transtornos paranoides tendem a ter mais patologias psiquiátricas associadas, sendo elas:
Eixo 1
Transtornos delirantes (delírio de ciúmes, de grandeza e de perseguição, por exemplo)
Transtorno de ansiedade generalizada e Transtorno Obsessivo Compulsivo
Transtornos Bipolares
Dependência de substancias psicoativas

As vezes, o quadro do transtorno paranoide é tão grave que temos o que chamamos de
transtorno misto. Nesse caso, não só predomina o transtorno paranoide, mas também cumpre
critérios para outros transtornos. São eles as comorbidades eixo 2:
Eixo 2
Transtorno narcisista
Transtorno evitador/evitativo
Transtorno obsessivo compulsivo
Nesses casos de transtorno misto, a morbidade e a mortalidade são muito maiores.

Transtorno de personalidade Esquizóide


Também é um transtorno de personalidade desse expectro psicótico, porém menos frequente.
Anteriormente chamada “Personalidade Fechada ou Altista”, se caracteriza por uma profunda
deficiência das habilidades sociais e profunda evitação do contato com os demais. Por isso
altista, pois evita o laço afetivo.
Se isolam, carentes de afeto, desorganizados, frios, reservados e se incomodam quando
experimentam relações íntimas.
Utilizam a fantasia como mecanismo de defesa.

-Traços estruturantes
Distanciamento Afetivo
Isolamento Social
Redução da Sociabilidade
Pouca Expressão Afetiva
Às vezes, uma personalidade esquizoide é tão severa que pensamos estar diante de uma
esquizofrenia, dado o grau do retraimento, do altismo, do distanciamento afetivo, do
isolamento social e dos comportamentos estranhos. Além disso, dependendo da gravidade e
da historia de vida desse paciente, ele pode ter uma evolução muito parecida com a
esquizofrenia. Ou seja, é aquela historia de que muitas vezes a alteração pode não se
manifestar como doença, mas como um traço/uma mascara da personalidade.

-Temperamento
Aplanamento Afetivo

-Mecanismos de Defesa
Negação
Idealização Projetiva (fantasiam, ou seja, idealizam projetos)
Realidades Temáticas e Existenciais de maior complexidade: interação social, vida afetiva e
separação. Essas situações são extremamente complicadas e difícil para essas pessoas, pois há
um grande fracasso nas relações, a capacidade de afeto é muito pequena. Assim, é difícil
interagir com essas pessoas.

-Comorbidades
Eixo 1
Síndrome-Patologia Psicótica: TENSÃO (Ou seja, em situação de tensão, esses pacientes podem
desenvolver sindromicamente uma patologia psicótica)
Síndrome-Patologia de Despersonalização: podem desenvolver nessas situações de dificuldade
relacional, porque estranham a si mesmos e tem uma sensação de duvida do próprio eu
Síndrome-Patologia Disfórica: ficarem muito agitados
Síndrome-Patologia Dissociativa
Trata-se de uma síndrome ou patologia, ou seja, a pessoa pode desenvolver um transtorno
adaptativo versus uma patologia. O transtorno adaptativo tem uma periodicidade, uma
gravidade e uma intensidade. Já, a patologia como propriamente dita tem uma gravidade, uma
intensidade e uma durabilidade maior.
Por exemplo, o esquizoide pode em uma situação de tensão ficar psicótico por algumas horas.
Pode também ficar, em algum momento, com uma certa sensação de despersonalização. Isso
tudo é passageiro. Porem, ele pode em função dessa situação de tensão desenvolver um
transtorno de despersonalização. Ele desenvolve uma patologia diferente, nesse ultimo caso.
Dessa forma, podemos prever dessa falha, desse déficit a importância desses fenômenos da
personalidade na vida do sujeito.
Da mesma forma, podemos restituir esses acontecimentos na historia natural da enfermidade.
Por exemplo, nas pessoas com depressão o mais comum é encontrarmos os transtornos de
personalidade, de ansiedade, transtornos somatofóbicos,... Todas essas doenças são
acontecimentos que tem uma relação também com a historia da depressão. Outro exemplo,
no caso de uma pessoa obsessiva, ao vasculhar a historia biográfica, percebe-se um
acontecimento vital que, relacionado à estrutura da personalidade, desencadeou ou agravou
ou melhorou o quadro.

Eixo 2: Dependendo da gravidade os esquizoides cumprem critérios para: (transtornos mistos)


Esquizotípico
Paranóide
Esquiva ou evitativo
Limite (Borderline)
Esses quadros são mais graves e estão ainda mais próximos da esquizofrenia.

Obs: Historia familiar de depressão parece ser um fator protetor para o desenvolvimento de
esquizofrenia e quanto mais sintomas depressivos em um esquizofrênico, melhor o
prognostico. Apesar de serem patologias distintas.

- Critérios diagnósticos DSM4


A.Um padrão global de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão
emocional em contextos interpessoais, que se manifesta no início da idade adulta e está
presente em uma variedade de contexto, indicado por, no mínimo, quatro dos seguintes
critérios:
(1) não deseja nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte de uma família
(2) quase sempre opta por atividades solitárias.
(3) manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com um parceiro
(4) tem prazer em poucas atividades, se alguma
(5) não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não parentes em primeiro grau
(6) mostra-se indiferente a elogios ou críticas
(7) demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo
B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de Esquizofrenia, Transtorno do Humor Com
Características Psicóticas, outro transtorno Psicótico ou um Transtorno Global do
Desenvolvimento, nem é decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica
geral.

Transtorno de personalidade Esquizotípica

Pessoas com tendência a uma existência bizarra, desorganizados, voluntariosos, percepções


bizarras (sensação de presença de forças ocultas, espíritos ou pessoas ausentes).
Ou seja, é um transtorno do pensamento e da comunicação.
Socialmente ansiosos (tem a sensação de que estão falando dele ou olhando para ele), com
idéias de referência ou experiências estranhas (sexto sentido, telepatia e premonições).
Linguagem vaga e estranha (Metáforas) devido à dificuldade de comunicação e de afeto.
Da mesma forma que o esquizoide, ele tem muito o pensamento tangencial. Ao conversarmos,
expressamos sentimentos. Essas pessoas desviam o olhar ao falar com você. Isso esta
relacionado à dificuldade deles muito grande de revelar o seu mundo interior ou por terem um
mundo interior muito patológico ou por terem um déficit na expressão do afeto. Então, eles
tem uma linguagem muito característica, cheia de metáforas,pensamento tangencial, muitas
pararrespostas.

-Traços estruturantes
Comportamento bizarro
Afeto incongruente (em situações que devem cursar com sofrimento, eles dão risada)
Alterações do pensamento (tem a sensação de que as pessoas podem ler os pensamentos
deles. Semelhante à esquizofrenia). Tem muitas culturas e crenças religiosas que unem
pessoas com esse tipo de personalidade.
Alterações da Senso-percepção (sensação de que ouvem vozes, de que tem sexto sentido.
Lembra a esquizofrenia)
Alterações da Sociabilidade (pouco sociáveis)

-Temperamento
Impulsivo
Hipertimico
São os que mais tendem, ou seja, tem um alto grau de suicídio.

- Mecanismo de defesa
Negação
Dissociação
Clivagem

-Comorbidades
Eixo 1
Síndrome-Patologia de Ansiedade Generalizada – Quando passam por experiências Afetivas
muito dolorosas
Episódio Maníaco quando vivem situação de intensa tensão afetiva
Síndrome-Patologia Obsessiva Compulsiva – quando ficam muito sujeitos a isolamento social e
reflexões
Síndrome-Patologia Somatoforme – somatizam dentro dos vínculos de dependência
Vulneraveis a transtornos Psicóticos com o uso de Cannabis ou frustrações

Eixo 2: Pode associar com personaliddades:


Esquiva ou evitativa
Esquizóide
Dependente
Obsessivo Compulsivo

- Critérios diagnósticos DSM4


Critérios Diagnósticos
A. Um padrão global de déficits sociais e interpessoais, marcado por desconforto agudo e
reduzida capacidade para relacionamentos íntimos, além de distorções cognitivas ou
perceptivas e comportamento excêntrico, que se manifesta no início da idade adulta e está
presente em uma variedade de contextos, indicado por, no mínimo, cinco dos seguintes
critérios:
(1) idéias de referência (excluindo delírios de referência)
(2) crenças bizarras ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e não estão de
acordo com as normas da subcultura do indivíduo (p. ex., superstições, crença em
clarividência, telepatia ou ¨sexto sentido¨, em crianças e adolescentes, fantasias e
preocupações bizarras)
(3) experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões somáticas
(4) pensamento e discurso bizarros (p. ex., vago, circunstancial, metafórico, supernóstico ou
estereotipado)
(5) desconfiança ou ideação paranóide
(6) afeto inadequado ou constrito
(7) aparência ou comportamento esquisito, peculiar ou excêntrico
(8) não tem ambos íntimos ou cofidentes, exceto parentes em primeiro grau
(9) ansiedade social excessiva que não diminui com a familiaridade e tende a estar associada
com temores paranóides, em vez de julgamentos negativos acerca de si próprio
B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de Esquizofrenia, Transtorno do Humor Com
Características Psicóticas, outro Transtorno Psicótico ou um Transtorno Global do
Desenvolvimento.

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