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DIREITO CIVIL III – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES


PROF. DRA. VALÉRIA SILVA GALDINO. 2016

AULA 07

3 DO DIREITO MATRIMONIAL

3.1 DAS NOÇÕES GERAIS, CONCEITO E FINS DO MATRIMÔNIO


A união entre duas pessoas que se encontram livres nos moldes das
formalidades legais, com o objetivo de se auxiliarem moral, material, intelectual e
espiritualmente, ocorrendo assim a constituição de uma família, que não precisa
necessariamente ter filhos.1 As regras estabelecidas pelo Estado estão previstas no
arts. 226 e 227 da Constituição Federal, e no art. 1.511 e seguintes do Código Civil
e no artigo 2º, inciso I da Lei de Registros Públicos, tornando-o um ato solene e
formal.
A cerimônia de celebração do casamento deve ser realizada de forma
gratuita pela autoridade competente, segundo o art. 5º, inciso LXXVI da
Constituição Federal, o art. 30 da Lei de Registros Públicos e os arts. 1.512, 1.533
e 1.542 do Código Civil, ou seja, a habilitação matrimonial, o registro e a primeira
certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas para aqueles cuja pobreza
comprovar (por exemplo, a apresentação de holerite com parcos rendimentos,
certidão comprovando a ausência de propriedade de bens imóveis, etc.). Após a
apresentação da documentação exigida por lei, que consiste na certidão de
nascimento, o RG, a CPF, o comprovante de residência, a autorização por escrito
das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra,
certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de
anulação de casamento transitada em julgado, ou do registro da sentença de
divórcio, a qualificação de duas testemunhas parentes ou não para que o
procedimento de habilitação ocorra, juntar-se-á o requerimento de gratuidade do
casamento acompanhado com os documentos que atestam a hipossuficiência dos
nubentes. Deferido o pedido, o casamento será realizado sem que haja qualquer

DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 1051.
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custo, inclusive a expedição da primeira certidão de casamento (Lei n. 1.060/1950).
Há duas espécies de casamento em nosso ordenamento jurídico conforme os §§1º
e 2º do art. 226 da Constituição Federal: o civil e o religioso com efeitos civis. Este
último (arts. 1.515 e 1.516 do Código Civil), só tem eficácia se forem observadas
todas as formalidades legais. Nenhuma pessoa de direito público ou privado
poderá interferir (art. 1.513 do Código Civil) na constituição de uma família,
podendo os nubentes optar pelo regime de bens que achar melhor (art. 1.639 do
Código Civil), salvo as limitações previstas no art. 1.641 do Código Civil, tornando
aqueles responsáveis pelos encargos oriundos da família (art.1.565 do Código
Civil).

3.2 DA NATUREZA JURÍDICA DO MATRIMÔNIO


Inúmeras teorias tentam explicar qual seria a natureza jurídica do
matrimônio: Seria ele um contrato ou uma instituição? Há a teoria denominada
individualista que visualiza no casamento uma relação puramente contratual,
estabelecida pelo acordo de vontade entre os cônjuges. Logo, o casamento seria
um contrato civil, no qual se aplicariam as regras contratuais, sendo o
consentimento dos contratantes, o elemento essencial para a sua existência. Ao
longo do tempo, tal concepção foi alterada por alguns adeptos que passaram a
denominá-lo de contrato sui generis, porque em razão dos efeitos oriundos do
matrimônio e das relações específicas que o mesmo desencadeia, não poderiam
ser aplicados os dispositivos legais atinentes aos negócios jurídicos, no que
concerne à capacidade dos contraentes, aos vícios de consentimento, embora as
normas de interpretação dos contratos de direito privado possam ser aplicadas à
relação matrimonial.2
Ressalte-se, que visualizar o casamento somente como um contrato, não
haveria a necessidade de um procedimento judicial para a sua ruptura (art. 226, §
6º, da Constituição Federal), podendo um simples distrato ser utilizado para tal
intento. (art. 472 do Código Civil).

2
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: Direito de Família. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2013,
p. 54-55.

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Já a concepção institucionalista entende que o matrimônio consiste num
estado em que os nubentes ingressam, sendo o mesmo uma instituição social,
refletindo a vontade dos contraentes, mas cujas normas e efeitos se encontram
preestabelecidas pela lei. As pessoas são livres, podendo cada uma escolher com
quem quer contrair núpcias e uma vez decidida a realização do matrimônio, não
seria mais permitido discutir os direitos e os deveres, a ruptura do vínculo conjugal,
etc., ou seja, os efeitos da instituição são de ordem pública, não podendo os
cônjuges modificarem.3
Por fim, surgiu a doutrina eclética ou mista, que une o elemento volitivo ao
institucional, tornando o casamento um contrato no momento da formação e
instituição em relação ao conteúdo.4 Esta teoria é a que melhor define a natureza
jurídica do casamento, uma vez que este possui dois momentos distintos, o acordo
de vontade de ambos os nubentes e as normas cogentes que o disciplinam,
retratando o caráter institucional, onde os efeitos e a forma se encontram
estabelecidos em lei.

3.3 DOS CARACTERES DO MATRIMÔNIO


Como caracteres do matrimônio pode-se citar 5: a) a liberdade do nubente em
escolher com quem quer casar, independentemente do sexo e da orientação
sexual e pelo número de vezes que quiser; b) o ato é solene, porque há uma série
de prescrições legais que tem por início o processo de habilitação, após a
publicação dos editais em seguida a cerimônia e o registro em um livro próprio; c)
as normas são cogentes, não permitindo que os nubentes pactuem de forma
contrária ao que está disposto em lei; d) ser a união duradoura, enquanto houver
afeto, respeito, solidariedade e assistência mútua; e) ser a união exclusiva, ou seja,

3
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: Direito de Família. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2013,
p. 54-55.
4
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: Direito de Família. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2013,
p. 54-55.
5
Sobre os caracteres verifique: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: Direito de Família. 28.
ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 57-58; GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: Direito de
Família. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 43-46.

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apesar do adultério (artigo 240 do Código Penal 6 revogado) não ser mais crime,
continua sendo um motivo que pode ser alegado para a ruptura do relacionamento,
em decorrência da fidelidade imposta pelo art. 1.566 do Código Civil. Todavia, ser
fiel não é inerente ao ser humano, que muitas vezes acaba por manter
relacionamentos paralelos ao casamento, podendo os mesmos serem esporádicos
ou até duradouros a ponto de formar uma outra família. Logo, a exclusividade é
uma opção que alguns aderem, outros não.
Estabelece a comunhão plena de vida, com a base na igualdade de direitos
e deveres entre os cônjuges, estando relacionada ao princípio da igualdade
substancial, ou seja, respeita as diferenças entre os cônjuges e a consequente
preservação da dignidade das pessoas casadas, assim, com o casamento, ambos
os cônjuges assumem mutuamente a condição de companheiros, parceiros e
responsáveis por todos os encargos familiares. Portanto, não comporta termo ou
condição, constituindo um negócio jurídico puro e simples, ou seja, as pessoas
contraem núpcias de forma livre e espontânea, sem esperar qualquer ato ou atitude
do outro.
Assim, o nubente é livre, sendo um ato personalíssimo a sua manifestação
de vontade, uma vez que tutela um direito fundamental do indivíduo, contudo tem a
prerrogativa de nomear um procurador com os poderes especiais para em seu
lugar contrair núpcias.

6
Art 240 CP: Cometer o adultério. Pena de 15 dias a 6 meses § 1º Incorre na mesma pena o co-reu, § 2º A ação
penal somente pode ser intentada pelo conjugue ofendido dentro de 1 mês após o conhecimento do fato, § 3º A
ação penal não pode ser intentada pelo: I cônjuge desquitado, II cônjuge que consentiu no adultério ou perdoou
expressa ou tacitamente, § 4º o juiz pode deixar de aplicar a pena : I se havia cessado a vida em comum dos
cônjuges, II se o querelante havia praticado qualquer dos atos (art. 317 Código Penal).

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AULA 08

3.4 DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO MATRIMONIAL


Os princípios que norteiam o casamento são7:
Liberdade: Os futuros cônjuges são livres para escolher com quem quer
casar, independentemente do sexo e da orientação sexual, contudo devem ser
capazes, bem como emitir a manifestação volitiva, sem estar eivada de vício,
tampouco pode ser imposta uma condição ou termo.
Monogamia (artigo 1.521, inciso VI, e 1.548, inciso II, do Código Civil; e o
art. 235 do Código Penal): A fidelidade não é inerente ao ser humano, mantendo
muitas vezes relacionamentos paralelos que podem dar origem a uma outra
família.
Plena Comunhão de vida: o objetivo do legislador é que as pessoas ao
contraírem matrimônio por afeto sejam unidas não só no aspecto sexual, mas no
restante de suas vidas, partilhando as agruras, bem como as benesses do destino,
sendo solidários e respeitando um ao outro, como os demais entes familiares (art.
1.511 do Código Civil).

3.5 DOS ESPONSAIS OU DA PROMESSA DE CASAMENTO


O termo “esponsais” provém do latim sponsalia e pode ser definido como a
promessa em que os nubentes assumem um para com o outro de se casarem no
futuro.8
A finalidade desse instituto é possibilitar aos futuros nubentes a convivência
por um período, para que possam se conhecer melhor antes de contraírem
núpcias.

7
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: Direito de Família. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2013,
p. 57-58.
8
SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. São Paulo: Forense, 1975. v. 2, p. 623.

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Esse instituto pode ser conceituado como a promessa recíproca, realizada
por meio de um noivado ou não, em que duas pessoas assumem o compromisso
de contrair núpcias no futuro.
Acerca da natureza jurídica do instituto inúmeras teorias foram criadas com
o intuito de explicar qual seria a natureza jurídica dos esponsais.
Os precursores da teoria do fato entendem que a promessa de casamento é
uma relação fato9 podendo ser desmembrada em três outras subteorias: do fato
ilícito, da obrigação ex lege e da culpa in contrahendo. Para a teoria do fato ilícito, o
casamento não pode ser considerado um ato de comércio, logo não poderia ser
objeto de um contrato e requer que o consentimento ocorra no ato da celebração
do matrimônio. Portanto, só haverá indenização por danos materiais ou morais pelo
não cumprimento da promessa quando for detectado dolo ou culpa. 10
Para aqueles que defendem a teoria da obrigação ex lege, a obrigação de
indenizar possui natureza extracontratual que decorre da lei, ou seja, o nubente
tem o direito de romper a promessa, contudo terá a obrigação de indenizar os
gastos realizados e as obrigações contraídas pelo outro. 11
Já os defensores da teoria da culpa in contrahendo entendem que “o
promitente faltoso é obrigado a indenizar o outro promitente pelo chamado
interesse negativo do contrato.”12
Para os adeptos da teoria contratualista, os esponsais estabelecem um
vínculo de natureza contratual, mas os efeitos não são os mesmos de um contrato,
em decorrência de que o não-cumprimento da promessa acarreta apenas a
reparação quando o nubente inocente tiver assumido despesas e contraído
obrigações em prol do matrimônio.13
Lafayette Rodrigues Pereira ao discorrer acerca do tema entende que os
esponsais constituem um contrato, sendo aplicáveis as normas atinentes aos atos
jurídicos.14
9
SANTOS, Eduardo dos. Direito de Família. Coimbra: Almedina, 1999, p. 159.
10
SANTOS, Eduardo dos. Direito de Família. Coimbra: Almedina, 1999, p. 158-160.
11
SANTOS, Eduardo dos. Direito de Família. Coimbra: Almedina, 1999, p. 158-160.
12
SANTOS, Eduardo dos. Direito de Família. Coimbra: Almedina, 1999, p. 158-160.
13
SANTOS, Eduardo dos. Direito de Família.Coimbra: Almedina, 1999. p.159.
14
PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Tribuna Liberal, 2003 p. 3.

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Já José de Aguiar entende ser um contrato preliminar. 15Antônio Chaves
comungado mesmo entendimento ao afirmar que a natureza jurídica da promessa
de casamento está inserida no âmbito das negociações pré-contratuais, contudo
voluntário.16
O nosso ordenamento jurídico não regulamentou os esponsais, embora
possam dar margem a uma ação de indenização quando acarretarem prejuízos ao
outro nubente, sem que haja justo motivo. Nenhuma das teorias acima expostas
tem o condão de obrigar o nubente arrependido a se casar, sendo inadmissível a
propositura de ação tendente a compelir a parte arrependida ao cumprimento da
promessa, razão pela qual se conclui que tal instituto tem a natureza de uma
obrigação natural, desprovida assim da tutela jurisdicional.
Hodiernamente, trata-se apenas de um compromisso através do qual os
nubentes, movidos por sentimentos de afeição, carinho, ternura e lealdade, se
comprometem a contrair núpcias, dando ensejo somente, em algumas situações, à
ressarcibilidade, se não houver justo motivo para a ruptura. 17

3.5.1 DOS REQUISITOS


Os requisitos indispensáveis para a configuração da promessa de
casamento são: a) capacidade do agente, b) manifestação do consentimento, e c)
reciprocidade.
É evidente que a capacidade do agente é condição primordial para a
validade da promessa de casamento, nos termos art. 104 do Código Civil.
Admite-se a promessa de casamento para maiores de dezoito anos
completos, já que a menoridade cessa e a pessoa fica habilitada a prática de todos
os atos da vida civil.
A manifestação e livre e espontânea vontade dos nubentes é outra requisito
de vital importância para a configuração da promessa de casamento. Quanto a
forma pela qual a livre manifestação do consentimento ocorre, saliente-se que
basta a palavra recíproca dos dois nubentes, que pode ser formalizada em um
15
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995. v. 1, p. 135.
16
CHAVES, Antônio. Promessa de casamento. Revista dos Tribunais. São Paulo, n. 398, p. 35, 1966.
17
CARDIN, Valéria Silva Galdino. Danos morais no Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 77.

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noivado ou não repercutindo socialmente, ou seja, transcendendo as relações
personalíssimas dos noivos. Não bastando, para tanto, vãs promessas de
casamento futuro.
Se a manifestação da vontade de qualquer um dos nubentes estiver viciada
por erro, dolo ou coação, haverá nulidade.
Assim, não há uma fórmula para o julgador, que deverá verificar, através do
conjunto probatória apresentado pelo nubente abandonado, se a promessa de
casamento ocorreu e foi recíproca.
Logo, a mera manifestação unilateral não produz nenhum efeito jurídico,
sendo necessária a reciprocidade da promessa para que o compromisso tenha
validade.

3.5.2 DA PROVA DOS ESPONSAIS


A prova desse instituto deve ater-se à comprovação do cumprimento da
palavra empenhada e da liberdade incondicional no consentimento da realização
do matrimônio.
A prova da promessa de casamento, não exige nenhum ato formal.
Como esse instituto constitui ato meramente consensual, sua prova poderá
ser feita por todos os meios admitidos em direito, v.g., troca de presente, cartas,
cartões e bilhete durante o relacionamento, que possam fazer alusão à promessa
de casamento, doação de anel de noivado, comparecimento de ambos em eventos
familiares, sociais e laborais registrados através de fotos, filmagens ou jornais,
depoimento testemunhal, entrega de fotografias ou fitas de vídeo de um para o
outro, confissão de qualquer um dos noivos, etc.,
É evidente que a promessa de casamento, tendo em vista ser um ato
consensual dos promitentes, comprova-se por qualquer meio de prova admitido em
direito, não havendo que falar em prova específica.

3.5.3 DA RUPTURA DOS ESPONSAIS E DOS SEUS EFEITOS


A qualquer instante o(a) noivo(a) arrependido(a) poderá proceder à ruptura
ou desfazimento da promessa, uma vez que ninguém está obrigado a se casar.

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Os esponsais não passam de um “idílio sem consequência jurídica”, 18 por
não implicarem nenhuma obrigatoriedade, podendo ser desfeitos a qualquer tempo
pelos noivos, até mesmo por ocasião da cerimônia nupcial.
Não se pode negar que o rompimento da promessa de casamento causa
sérias repercussões no foro íntimo daquele que foi abandonado, em decorrência do
afeto que nutria pelo outro, ocorrendo o desmoronamento de um sonho, muitas
vezes acalentado durante meses e quem sabe durante anos.
A par da devolução dos presentes, o nubente que, sem justo motivo,
abandonar o outro poderá, também, ser responsabilizado por dano materiais e
morais.
Eduardo de Oliveira Leite ratifica que, além da devolução dos presentes, se
não houver justo motivo legitimador de tal atitude, o prejudicado terá o direito de
obter judicialmente a reparação dos danos materiais e morais resultantes da
quebra da promessa, cabendo ao lesado pleitear a reparação. 19
A ruptura não acarreta necessariamente prejuízos, os quais podem ocorrer
somente em situações excepcionais.20
Mesmo havendo plena liberdade para o desfazimento da promessa de
casamento, se um dos promitentes abandonar o outro sem justo motivo,
responderá por dano materiais e morais.
O nosso ordenamento jurídico não enumera qual seria a causa que ensejaria
a indenização por dano materiais e morais, outorgando ao magistrado, diante do
caso concreto, estabelecer ou não se houver “justo motivo”, para só então
determinar a indenização.
O “justo motivo” é aquele segundo o qual, se uma das partes soubesse, não
teria contraído a promessa de casamento.21

18
RAYMOND, Guy. Le consentement des époux au mariage. p. 11 apud PEREIRA, Caio Mário da Silva.
Instituições de direito civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979. v.5. p.49.
19
LEITE, Eduardo de Oliveira. Rompimento da promessa de casamento – reparação dos danos materiais e
morais. Revista AJURIS, Porto Alegre, n. 51, p. 79, 1991.
20
AMARANTE, Aparecida I. Responsabilidade civil por dano à honra. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 168.
21
CASTRO, Francisco José Viveiros de. Os delitos contra a honra da mulher. 3 ed. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1936. p. 218.

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Poder-se-ia indicar como motivo justo: enfermidade contagiosa ou não que
impossibilite a vida em comum, infidelidade, a utilização de entorpecentes, a prática
de crimes, a mudança de religião, desonestidade, insolvência civil dentre outros.
Na ausência de justo motivo, poderá o nubente abandonado, bem como
seus familiares – v.g., os genitores -, pleitear em juízo o ressarcimento pelos danos
materiais decorrentes das despesas do casamento e morais resultantes da
situação vexatória pela qual, todos passaram em razão da ruptura injustificada.
Mesmo havendo uma lacuna em nosso ordenamento jurídico, é evidente que
a quebra unilateral da promessa de casamento irá gerar, além da obrigação de
devolução dos presentes, das cartas e dos retratos, o direito a indenização, desde
que o rompimento ocorra de forma dolosa ou culposa.
O fundamento para o pleito da indenização por danos materiais e morais
esta no art. 5º, V e X da Constituição Federal, e no art. 186 do Código Civil.
Para propor a ação de responsabilização, faz-se necessário: 1) que a
promessa de matrimônio tenha sido manifestada pelo próprio noivo arrependido; 2)
que este não tenha motivo justo para a ruptura; e por fim, 3) que tenha havida
dano. Em face do rompimento injustificado do noivado, o juiz fixará uma
indenização:
Desde que haja rompimento injusto do noivado, pode o prejudicado, a
despeito do silêncio da lei, reclamar a indenização do prejuízo material e moral
sofrido. Contudo, se houver culpa concorrente, não há de falar em indenização.
A indenização deve ser a mais ampla e abrangente, tanto que devem ser
ressarcidos não só os dispêndios efetuados pelo noivo repudiado, como também
quaisquer prejuízos advindos da ruptura da promessa de casamento. 22
Acrescenta-se que podem ser pleiteado além dos danos materiais e morais
os lucros cessantes.

22
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família. 37 ed. São Paulo: Saraiva,
2004. p. 70-71. CASTRO, Francisco José Viveiros de. Os delitos contra a honra da mulher. 2. ed. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1932, p. 216-217. RUGGIERO, Roberto de. Instituições de direito civil. Campinas:
Bookseller, 1999. v. 2. p. 116-117. GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. São Paulo:
Saraiva, 1995. p. 56. VALLER, Wladimir. A reparação do dano moral no direito brasileiro. Campinas: E. V.
Editora, 1994. p. 163.

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Destarte, o nubente que for abandonado sem justo motivo poderá pleitear o
ressarcimento de todas as despesa efetuadas com o noivado e os outros prejuízos
oriundos da ruptura, tais como despesas no reparo de documentos para o
casamento civil, gastos com a cerimônia juntamente com os convidados, multas
contratuais dos pactos firmado com pessoas físicas e jurídicas contratadas para a
realização da cerimônia, compra de um pacote turístico para viagem de núpcias,
aquisição da futura moradia e objetos destinados a integrá-la, como adornos e
bens móveis utilitários, vestimenta da(o) noiva(o) e das daminhas de honra para o
cortejo, convites, lembranças do enlace, enxoval adquirido por qualquer um dos
noivos. Assiste ainda ao prejudicado o direito de pleitear judicialmente o
ressarcimento pela perda de um emprego em decorrência da mudança de
domicílio.
Ressaltem-se ainda, os danos morais oriundos do rompimento injustificado,
que poderão ser pleiteados pelo nubente abandonado, que, certamente, foi atingido
em seu foro íntimo, com danos irreparáveis no aspecto sentimental, sem falar das
explicações às pessoas com quem convive rotineiramente e com aqueles que
foram contratadas para a realização da cerimônia. Acrescente-se ainda que aquele
que foi abandonado sem justo motivo poderá pleitear os lucros cessantes.
Vê-se, pois, que compete ao magistrado, quando da prolação da sentença,
considerar a existência de prejuízo e o nexo de causalidade, e se houve justo
motivo na ruptura da promessa de casamento, para estabelecer o quantum do
ressarcimento material ou moral, bem como a obrigação de devolução dos
presentes.

3.6 DO CASAMENTO CIVIL E RELIGIOSO

Nosso direito anterior, na época do Império, apenas conhecia o casamento


católico, por ser essa religião a oficial do Estado. Com a presença crescente da

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imigração e de pessoas que professavam religiões diversas, instituiu-se, ao lado do
casamento eclesiástico, o de natureza civil, permitindo a união de casais de seitas
dissidentes, por lei de 1861. A partir de então, passou-se a permitir, além do
casamento religioso católico oficial do Estado, o casamento misto, entre católicos e
não católicos, realizando também, sob a disciplina canônica, e o casamento de
pessoas de outras religiões sem obediência às respectivas seitas.
Apenas no período republicano é introduzido o casamento civil obrigatório,
pelo Decreto n 181, de 24 de janeiro de 1890, como consequência da separação
da Igreja do Estado, situação consolidada pela promulgação do Código Civil.
Houve dificuldade de assimilação do sistema pelo clero e pela população de
maioria católica na época. Com isso, generalizou-se no país o costume do duplo
casamento, civil e religioso, que persiste até hoje com maior ou menor intensidade,
nas várias regiões do país.
O legislador buscou modificar a situação, procurando atribuir efeitos civis
aos casamento religioso, conforme a Constituição de 1934. A Constituição de 1988
também tratou da questão (art. 226 § 2º). A Lei n. 1.110/50 disciplina que o
casamento religioso equivale ao civil quando os consortes promovem o devido
processo de habilitação perante o oficial de registro, na forma da lei civil.
O Código Civil de 2002 estabelece no art. 1.515 a validade do casamento
religioso que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil,
equiparando-se a este, desde que registrado, produzindo efeitos a partir da data de
sua celebração.
 
3.7 DAS CONDIÇÕES DE EXISTÊNCIA, VALIDADE E REGULARIDADE DO
MATRIMÔNIO
Para que o ato nupcial exista, seja válido e eficaz, faz-se necessário o
preenchimento de algumas condições, contudo o Código Civil não estabelece, de
forma expressa, quais seriam, para que aquele ato seja reconhecido no mundo
jurídico. Hodiernamente, não se pode afirmar mais que o casamento entre duas
pessoas do mesmo sexo, é inexistente uma vez que com a decisão do STF ADI

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4277, da ADPF132, em maio de 2011, a união homoafetiva foi reconhecida como
entidade familiar, não se exigindo mais a diversidade de sexos como requisito.
O casamento realizado perante a autoridade incompetente não será
considerado inexistente, tampouco aquele que não for celebrado na forma prevista
em lei. Pode-se citar como exemplo, os artigos 1.533 a 1.535 do Código Civil.
Assim, se duas pessoas redigirem um instrumento particular ou se o ato nupcial for
celebrado por uma pessoa que se apresenta como um juiz ou ainda se o oficial de
registro lavrar um assento matrimonial sob ameaça ou coação, o ato não será
inexistente, mas sim anulável, conforme o inciso VI do art. 1.550 do Código Civil.
Acrescente-se, que se um dos nubentes não manifestar a vontade perante o
juiz, daí ter-se-á um casamento inexistente, assim como na hipótese de um dos
noivos se encontrar em estado de demência, embriaguez, hipnose ou estar sob o
uso de drogas, a ponto de não ter consciência do ato que está praticando.
Hoje, raríssimas serão as hipóteses que configurarão um casamento
inexistente. Diferentemente de outrora, que o casamento realizado perante
autoridade inexistente, assim como entre duas pessoas do mesmo sexo.
Pode-se enumerar como condições necessárias para que o casamento
tenha validade, a capacidade dos nubentes (art. 1.548, inciso I e 1.557, inciso IV do
Código Civil), a manifestação de vontade isenta de vícios, ou seja, de erro ou
coação.
O erro diz respeito a condição moral e pessoal de uma pessoa, além da
identidade civil ou social do nubente, em decorrência de que se um dos nubentes
tivesse conhecimento do defeito não teria contraído núpcias. (artigos 1.550, inciso
III, 1.556, 1.558 e 1.559 todos do Código Civil). Enquanto que a coação acarreta a
anulabilidade do casamento (art. 1558 do Código Civil), em decorrência de que o
consentimento não ocorreu pelo temor de um mal considerável ou iminente de vida,
saúde ou honra do nubente ou de seus familiares.
Por fim, existem as condições de ordem social e moral, sendo que aquelas
se referem à bigamia, porque a própria lei determina que se uma pessoa casada
contrair novas núpcias, esta será nula (art. 1.521, inciso VI do Código Civil).
Acrescente-se, que aquelas pessoas que estejam viúvas, ao manifestarem a

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intenção de se casarem deverão observar o disposto nos incisos I e II do art. 1.523
do Código Civil). Também os tutores e curadores, enquanto não saldadas as
contas e apresentadas (art. 1.523, IV do Código Civil) não podem contrair núpcias
sob pena de serem sancionados com a obrigatoriedade do regime de separação
legal de bens ou obrigatória.
Já as condições de ordem moral se reportam a proibição do casamento em
virtude do parentesco ou da afinidade, tornando o casamento nulo conforme o art.
1.521, incisos I a V do Código Civil, porque no dia a dia como seria se fosse
permitido que sogro e nora ou genro e sogra pudessem contrair núpcias ou sogro
com genro, etc. Na verdade, seria complicado para os demais entes familiares
compreenderem o relacionamento e continuarem vivenciando o que ocorre entre os
entes familiares. Mas não há como impedir os concubinatos impuros de pessoas
que tem este tipo de parentesco e eles existem em nosso cotidiano gerando
apenas os efeitos jurídicos que levariam ao enriquecimento ilícito ou acarretariam
malefícios a prole advinda deste. Pode-se afirmar ainda que a proibição do
matrimônio do cônjuge com aquele que tentou o homicídio ou cometeu em relação
ao outro consorte, daria vazão para que as pessoas ambiciosas e sem escrúpulos
se beneficiassem do patrimônio alheio sem qualquer punição. (artigos 1.521, inciso
VII e 1.548, inciso II do Código Civil).
Por fim, o consentimento dos ascendentes ou representantes legais também
está presente nesta condição, porque apesar de ser um ato pessoal, o poder
familiar confere aos pais, tutores ou curadores, por exemplo, dos pródigos, dos
toxicômanos, etc., o direito de outorgar ou não a autorização para o casamento dos
futuros nubentes (artigos. 1.517 e 1.550, inciso II do Código Civil), uma vez que os
mesmos muitas vezes não possuem a maturidade do qual necessitam para tal ato.
Todavia, o art. 1.519 do Código Civil admite o suprimento pelo juiz quando os
representantes legais não anuírem em decorrência de motivo injusto.

AULA 09

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3.10 DOS IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS E DAS CAUSAS SUSPENSIVAS

3.10.1 Dos conceitos

Os impedimentos matrimoniais podem ser conceituados como a ausência de


requisitos para que um casamento seja válido, ou seja, a lei enumera de forma
taxativa as hipóteses que impedem a realização de um casamento, em decorrência
de que a falta de legitimidade para a prática do ato daquelas pessoas se encaixam
no rol elencado pelo art. 1.521 do Código Civil.
Tais impedimentos possuem caráter absoluto e estão imbuídos de interesse
público, uma vez que protegem a instituição mais importante que compõe o Estado,
a família, que acaba por promover à estabilidade social. Portanto, a pessoa que se
casar infringindo os impedimentos terá o casamento nulo de pleno direito (art.
1.548, inciso II do Código civil).
Acrescente-se, que os impedimentos podem ser opostos desde o processo
de habilitação e até o momento em que for celebrado o casamento, após ainda que
invocado o casamento será nulo. Pode ser oposto por qualquer pessoa, desde que
tenha capacidade para argui-lo, por meio de uma declaração escrita e assinada,
instruída com as provas do fato que foi alegado. Se estas provas não forem
instruídas com a declaração, esta deverá apontar o local onde poderão ser
encontradas, no sentido de comprovar a veracidade do alegado (art. 1.529 do
Código Civil).
O parágrafo único do art. 1.530 do Código Civil dispõe que os nubentes
podem requerer um prazo razoável para realizar a prova em contrária aos fatos que
foram alegados, bem como promover as ações civis e criminais contra o oponente
que está de má-fé.
Hodiernamente, quem infringir as causas suspensivas previstas no art. 1523
do Código civil terá como sanção o regime de separação obrigatória de bens, ou
seja, caso prove que não haverá prejuízos poderá optar por outro regime de bens.
Portanto, não haverá nulidade, tampouco anulabilidade do casamento. A própria
expressão “não devem casar” inserida no caput do artigo supramencionado, indica

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que a restrição não acarreta as mesmas consequências dos impedimentos, visto
que aquelas, não têm caráter absoluto, gerando apenas efeitos sancionadores.
As causas suspensivas já foram denominadas de impedimentos impedientes
ou proibitivos do matrimônio no Código Civil de 1916, assim como os impedimentos
previstos no art. 1.521 do Código Civil eram nominados de dirimentes absolutos.
Por fim, o art. 1.524 do Código Civil determina que as causas suspensivas
possam ser arguidas somente pelos parentes em linha reta de um dos nubentes e
pelos colaterais até segundo grau, sejam consanguíneos ou afins.

3.10.2 Dos impedimentos e das causas suspensivas

Os impedimentos podem resultar do parentesco (art. 1.521, incisos I a V do


Código Civil), sendo que este se subdivide em consanguíneo, que se funda em
razões de ordem moral, ética e até biológica, ou seja, para que não ocorra o
casamento incestuoso e deste haja prole, portadora de enfermidades ou defeitos.
Logo, não podem casar os parentes em linha reta, de qualquer grau, tampouco os
irmãos, unilaterais ou germanos. No caso, do impedimento entre colaterais em
terceiro grau, tio (a) e sobrinho (a), haverá a possibilidade de aqueles contraírem
núpcias desde que haja um laudo médico favorável, conforme o art. 2º do Decreto-
Lei n. 3.200/1941, o Enunciado n. 98/2002 do CNJ e da Lei n. 5.891/1973. Já o
impedimento por afinidade previsto no art. 1.521, inciso II do Código Civil
estabelece que não podem casar os afins em linha reta. Faz-se necessário
esclarecer que os cônjuges não parentes são entre si, contudo cada um tem
parentesco com os parentes do outro cônjuge após o casamento. Assim, a sogra e
o genro, o sogro e a nora serão parentes enquanto viverem, não extinguindo com a
ruptura ou com a morte dos mesmos. Por motivos de ordem moral e ética este
impedimento deverá ser aplicado em relação aos padrastos, madrastas, enteados
e enteadas, no caso de ocorrer uma filiação sócio afetiva, ainda que de fato. O que
não ocorre em relação aos colaterais, que após a ruptura poderão se casar ou ter a
união estável reconhecida. (art. 1.595, e seus parágrafos, do Código Civil). A
adoção (arts. 1.521, incisos I, III e V, e 1.626, parágrafo único do Código Civil) gera

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este impedimento, porque o nosso ordenamento jurídico estabeleceu uma ficção
legal, em que os filhos adotivos possuem o mesmo status que os naturais. Logo, os
adotados não podem se casar com os adotantes, o adotante com o ex-cônjuge do
adotado, o adotado com o ex-cônjuge do adotante e o adotado com o filho do pai
ou da mãe adotiva, uma vez que são considerados juridicamente irmãos.
Já o impedimento de vínculo previsto no art. 1.521, inciso VI, do Código Civil
consiste na proibição da bigamia, embora a monogamia não seja inerente ao ser
humano, ou seja, as pessoas se tornam monogâmicos por opção, por questões
culturais ou religiosas. O primeiro casamento civil é que será válido e só se
extinguirá com a invalidade do casamento, com o divórcio ou com a morte.
Acrescente-se, que o casamento religioso anterior não constitui impedimento
enquanto não houver o registro no Cartório de Registro Civil.
O impedimento de crime (art. 1.521, inciso VII do Código Civil) tem
fundamento no fato de que o cônjuge sobrevivente não pode se casar com o
condenado por homicídio doloso, ou por tentativa, contra o seu consorte, por se
tratar de um impedimento de razões éticas e morais, afastando assim, a
possibilidade da realização de casamentos motivados pela prática do crime, exige-
se que esse crime seja doloso.
Já as causas suspensivas não proíbem o casamento, apenas acarretam a
imposição obrigatória do regime de separação obrigatória de bens, como uma
sanção pela não observância do que preceitua o art. 1.523 do Código Civil.
O inciso I do art. 1.523 do Código Civil estabelece que o viúvo ou a viúva
que tiver filho do de cujus, só poderá contrair novas núpcias se realizar o inventário
dos bens do casal, com a respectiva da partilha aos herdeiros. Este dispositivo tem
a finalidade de evitar que haja confusão patrimonial entre os bens deixados pelo de
cujus com os bens que possam ser adquiridos pelo novo casal. Logo, a Lei impõe
que seja determinado o que pertence a priori aos filhos do casamento anterior, para
que não haja qualquer prejuízo, sob pena de ser imposto o regime de separação
legal de bens (art. 1641, inciso I do Código Civil).
Acrescente-se, que o art. 1.489, inciso II do Código Civil dispõe que os pais
deverão realizar uma hipoteca legal em favor dos filhos, quando estes forem

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herdeiros, caso opte por se casar com outro regime que não o da separação legal
de bens. Caso não haja bens, o cônjuge sobrevivente poderá ingressar com o
inventário negativo demonstrando que não há bens a serem partilhados, logo não
haverá prejuízo para aqueles.
No mesmo artigo, o inciso II estabelece que não deve casar a viúva ou a
mulher cujo casamento tenha sido nulo ou anulado, até dez meses após o começo
da viuvez ou da ruptura da sociedade conjugal. A finalidade desse dispositivo é
evitar que haja um conflito de paternidade. Ressalte-se, que o art. 1.597 do Código
Civil estabelece a presunção de paternidade dos filhos concebidos durante o
casamento, ou seja, daqueles nascidos pelo menos cento e oitenta dias depois da
celebração ou até trezentos dias após sua dissolução por morte, nulidade,
anulação ou separação judicial. Todavia, essa presunção é relativa, admitindo
prova em contrário.
Já no inciso III exige que o divorciado antes de se casar outra vez, realize a
partilha dos bens do casal, impedindo assim que haja a confusão entre o
patrimônio anterior e do relacionamento posterior. Só que não haverá problema
caso o novo casamento seja realizado pelo regime de separação total de bens.
O inciso IV determina que o tutor ou o curador e os seus descendentes,
ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos não poderão se casar,
respectivamente com o pupilo e o curatelado, enquanto não cessar a tutela ou a
curatela e não saldar as respectivas contas. Tal impedimento tem o objetivo de
evitar que o casamento seja realizado com o fim de dilapidar os bens do tutelado
ou curatelado ou que os administradores não prestem contas da gestão.
O papel das causas suspensivas é evitar que o casamento das pessoas que
se encontram nas situações acima citadas, que optem por outros regimes que não
o da separação total de bens, sofram a sanção da imposição do regime obrigatório
da separação total de bens previsto no art. 1.641, inciso I do Código Civil.
A oposição das causas suspensivas dizem respeito somente a família dos
nubentes e só poderão ser arguidas pelos parentes consanguíneos, afins e civis
em linha reta, de um dos noivos. Os parentes colaterais, em segundo grau, sejam
eles consanguíneos (irmãos) ou afins (cunhados) também podem se opor.

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O representante do Ministério Público não poderá opor as causas
suspensivas.
Por fim, a oposição da causa suspensiva será realizada no curso do
processo de habilitação para casamento, devendo ser apresentada no prazo de
quinze dias a partir da data da publicação dos proclamas, conforme o art. 1.527 do
Código Civil, juntamente com provas documentais do grau de parentesco com o
nubente. O procedimento ainda deverá seguir o que está disposto no art. 1.530 do
Código Civil e no art. 67, §5°, da Lei de Registros Públicos. O opoente da causa
suspensiva poderá sofrer ações civis e criminais promovidas pelos nubentes
quando imputar de forma dolosa ou culposa a oposição, conforme o parágrafo
único do art. 1.530 do Código Civil.

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