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A Psicosofia que compõe a Animagogia

Adilson Marques

O que chamamos de Animagogia é um processo educativo espiritualista, de cunho


universal e ecumênico. Ela tem como fundamentos a Psicosofia (sabedoria espiritual) dos
principais mestres espiritualistas da humanidade. A Animagogia não deve ser confundida
com uma nova religião, pois não é doutrina e nem possui rituais. Seria melhor
contextualizada como a dimensão educativa ou prática de uma ciência espiritual que se
fundamenta nos ensinamentos de Lao Tsé, Buda, Krishna, Jesus, Maomé, Espírito de
Verdade, entre outros, e cujo objetivo é a espiritualização do ser humanizado, ajudando-o a
se compreender como um espírito eterno vivenciado uma experiência humana e não o
contrário.
Nesse sentido, da Psicosofia transmitida pelo Espírito de Verdade (de onde se originou a
doutrina espírita), a Animagogia compartilha o ensinamento de que Deus é a inteligência
suprema e a causa primária de todas as coisas; que o livre arbítrio foi exercido antes da
encarnação, quando o espírito escolheu o seu gênero de provas; que a caridade é o que
“liberta” o ser humano, entendendo que caridade é ser benevolente, indulgente e perdoar e,
por fim, que o egoísmo é o maior mal da humanidade.
Por sua vez, dos espíritos que se manifestam na seara umbandista, compartilha o
ensinamento sobre a horizontalidade dos espíritos, ou seja, que não existe espíritos
“superiores” ou “inferiores”, “civilizados” ou “selvagens”, mas que todos foram criados
puros e evoluem conforme vencem o egoísmo (que não está no espírito, mas é um agregado
criado para as provações do espírito, uma vez que o egoísmo é o que nutre a vida nos Orbes
denominados de Provas e Expiações, como é o caso da Terra), e compreende que as
entidades esclarecidas que se manifestam nos trabalhos mediúnicos utilizam posturas
simbólicas para se manifestar e colocar em prova nossos preconceitos e valores (pretos-
velhos, índios, crianças, etc.); e que o “bem” é viver em Deus, para Deus e com Deus e
“mal” é viver preso ao egoísmo, ao individualismo.
Dos ensinamentos que vêm do Islã compartilha aquele que nos ensina a submissão
completa aos desígnios de Deus e o fatalismo (MAKTUB), ou seja, que nada acontece no
mundo exterior por acaso e que “tudo está escrito”, uma vez que o mundo exterior ou os
fatos materiais são criados por Deus para nossas provações (lembrando que o gênero das
provas foi escolhido pelo espírito antes de encarnar, portanto, tudo o que ele vivencia na
Terra é fruto do seu livre arbítrio).
Dos ensinamentos de Krishna e de Lao Tsé compartilha a noção de Wu Wei, ou seja, o
correto agir ou a não-ação. O que não quer dizer inação, mas o agir desinteressado, não
alimentado pelo desejo. A ação sem buscar nada em troca ou se vincular aos frutos do
trabalho realizado (se o mundo exterior é criado por Deus para as nossas provas, somos,
necessariamente, os instrumentos de Deus, junto com os espíritos desencarnados, para criar
os cenários e as situações dessas provas morais). Mesmo quando não temos esta
compreensão, estamos agindo inconscientemente como instrumento do carma (ação) do
outro e vice-versa. Logo, uma força superior nos levará, naturalmente, a fazer o que deve
ser feito, pois cada um recebe exatamente aquilo que merece e necessita a cada novo
segundo de sua vida humanizada. Portanto, não há a necessidade de se pré-ocupar com o
futuro; julgar, criticar ou condenar o outro, lamentar o passado, alimentar paixões ou
desejos materiais, mas viver em felicidade incondicional a vida humanizada, independente
de estarmos vivenciando vicissitudes positivas ou negativas.
Dos ensinamentos do Buda compartilha aqueles que nos ajudam a vencer o Ego, a
iluminar-se, a tornar-se espíritos esclarecidos (bodhicittas), ou seja, vencer as ilusões
criadas pelos apegos materiais, sentimentais e culturais (as verdades racionalizadas pelo
Ego), a eliminar as paixões positivas e as negativas que criam vínculos ou aversões pelas
formas materiais (criadas em nossa mente através das percepções e das sensações), e a
destruir os desejos humanizados que nos impede de chegar a essência das coisas (os dois
princípios universais: o espírito – princípio inteligente - e a energia cósmica universal –
princípio material).
Por fim, dos ensinamentos do Cristo, vem o mais importante de todos: a necessidade do
amor incondicional e a “ressurreição” na carne (ou seja, renascer para a vida espiritual
enquanto estamos ligados a um corpo físico, não postergando para o futuro o que devemos
fazer hoje), ainda mais quando se sabe que essa é a nossa encarnação derradeira na Terra.
Ou seja, aqueles que não se libertarem do egoísmo nessa encarnação serão exilados da
Terra. Em outras palavras, continuarão suas encarnações em outros mundos de provas e
expiações e não mais no orbe terráqueo, que, em breve, mudará de estágio, não mais sendo
nutrido pelo egoísmo.
Assim, se até recentemente, no mundo de Provas e Expiações que é a Terra, os espíritos
que venciam o ego passavam a habitar mundos superiores, com a mudança de estágio que
se está se processando, aqueles que vencerem o egoísmo continuarão a encarnar por aqui e
serão exilados para outros orbes aqueles que ainda precisam vencer o egoísmo em futuras
encarnações.
A Animagogia, como apresentada acima, é uma prática educativa que não desmerece
nenhum mestre, mas não se constitui em uma nova doutrina. Lembremos que as doutrinas,
por suas próprias características, são, necessariamente, entrópicas, fechadas, absolutas. É
por isso que o filósofo Whitehead costuma discorrer sobre as diferenças entre a “doutrina”
e a “teoria científica”.
Assim, a Psicosofia que fundamenta a Animagogia é neg-entrópica e holonômica,
compreendendo que a parte (o individualismo) contem o todo (o universalismo) e, por isso
mesmo, não entra em conflito com nenhuma doutrina religiosa. Apesar de não gozar de
prestigio acadêmico, possui o mesmo grau de cientificidade que o marxismo, a psicanálise
e tantas outras abordagens ditas científicas.
Da mesma forma que para se formar um pedagogo (um educador de crianças) é necessário
estudar o saber sistematizado pela sociologia, pela psicologia, pela antropologia etc., para
se formar um animagogo (um educador de almas) é necessário estudar a Psicosofia,
portanto, os ensinamentos universalistas dos grandes mestres espirituais da humanidade. O
trabalho de um animagogo é sempre individualizado, tratando dos problemas espirituais de
cada ser humanizado, pois o foco de seu trabalho é sempre a mudança interior, a “reforma
íntima”. Assim, o trabalho do animagogo consiste em destruir as artimanhas do ego que
sempre tentará culpar o mundo exterior, ou seja, o pai, a mãe, o marido, a sociedade etc.
por um problema ou sofrimento cuja causa é sempre e exclusivamente interior. Eliminando-
se, gradativamente, os apegos e as aversões, as paixões e desejos que trazem alegria ou
sofrimento, prepara-se o ser humanizado para vencer o egoísmo e viver feliz
incondicionalmente sua vida humanizada, sem apegos materiais, sentimentais e culturais,
porém, com sua fé inabalável em Deus. Por não estar limitada por uma doutrina entrópica, a
Animagogia pode se valer de inúmeros recursos complementares como a arteterapia, o
passe (reiki, johrey, cura prânica etc.), a apometria, a conversa com espíritos, a psicografia,
a meditação, o yoga, os tratamentos florais, o t’ai chi chuan etc. Nenhum desses recursos é
“não-doutrinário”, pois o importante é utilizá-los de acordo com o problema enfrentado por
cada espírito humanizado, esteja ele encarnado ou não, ajudando-o a libertar-se do ego, ou
seja, espiritualizando-se, vivendo na Paz de Deus e amando-O acima de todas as coisas.

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