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Despedimento
por
inadaptação
à
Extinção
por
despedimento
A.
Despedimento
com
justa
causa
I.
Noção
de
justa
causa
de
despedimento
Na
sequência
da
consagração,
no
artigo
53º
CRP,
do
princípio
da
estabilidade
no
emprego,
vem
o
artigo
338º
CT
estabelecer
que
“é
proibido
o
despedimento
sem
justa
causa
ou
por
motivos
políticos
ou
ideológicos”.
Posto
isto,
urge
saber
qual
o
significado
de
justa
causa:
Em
termos
simples,
o
despedimento
com
justa
causa
corresponde
à
sanção
disciplinar
máxima
suscetível
de
ser
aplicada
ao
trabalhador.
Com
base
no
artigo
351º,
nº1
CT,
a
justa
causa
de
despedimento
assume
um
caráter
de
infração
disciplinar,
de
incumprimento
contratual
de
tal
modo
grave
que
determina
uma
perturbação
relacional
insuperável,
ou
seja,
insuscetível
de
ser
sanada
com
recurso
a
medidas
disciplinares
não
extintivas
(não
há
lugar
ao
uso
de
providências
de
índole
conservatória).
As
diversas
condutas
descritas
nas
várias
alíneas
do
nº2
do
artigo
351º
CT
vêm
permitir
uma
concretização
da
justa
causa
de
despedimento,
embora
seja
de
realçar
que
a
verificação
dessas
condutas
não
é
condição
necessária,
visto
que
a
enumeração
é
exemplificativa
e
não
taxativa,
nem
é
condição
suficiente,
uma
vez
que
em
cada
uma
das
alíneas
é
necessário
recorrer
à
cláusula
geral
do
nº1,
para
que
haja
justa
causa.
Assim
sendo,
a
justa
causa
traduz-‐se
num
comportamento
censurável
do
trabalhador,
numa
qualquer
ação
ou
omissão
que
lhe
seja
imputável
a
título
de
culpa
(não
se
exige
dolo)
e
que
viole
deveres
de
natureza
laboral
(ilicitude),
quando
esse
comportamento
seja
de
tal
modo
grave,
em
si
mesmo
e
nos
seus
efeitos,
que
torne
a
situação
insustentável,
sendo
inexigível
ao
empregador
que
lhe
responda
de
forma
menos
drástica.
Neste
domínio,
como
facilmente
se
percepciona,
ganham
particular
relevo
os
deveres
que
impendem
sobre
o
trabalhador
(artigo
128º
CT),
cuja
violação,
caso
assuma
a
gravidade
referida
supra,
poderá
vir
a
constituir
justa
causa
de
despedimento.
De
todo
o
modo,
vem
o
artigo
351º,
nº3
CT
dizer-‐nos
que
o
juízo
deve
ser
casuístico
e
guiado
por
uma
ideia
de
proporcionalidade
e
de
justiça
individualizante.
II.
O
procedimento
disciplinar
Em
sede
de
regime
jurídico
do
despedimento,
o
nosso
sistema
de
tutela
da
segurança
no
emprego
assenta
num
tripé:
i)
em
primeiro
lugar,
na
exigência
de
motivação
do
despedimento,
sendo
desde
logo
proibidos
os
despedimentos
sem
justa
causa
ou
por
motivos
políticos
ou
ideológicos;
ii)
em
segundo
lugar,
na
processualização
ou
procedimentalização
do
despedimento,
sendo
que
a
inexistência
ou
a
nulidade
do
processo/
procedimento
disciplinar
determinam
a
ilicitude
do
despedimento
que,
apesar
disso,
tenha
sido
proferido
pela
entidade
empregadora;
iii)
em
terceiro
lugar,
na
técnica
sancionatória
do
despedimento
contra
legem,
designadamente
através
da
ideia
de
invalidade
do
despedimento,
implicando,
entre
outras
consequências
a
estudar
adiante,
o
direito
à
reintegração
do
trabalhador
ilicitamente
despedido.
O
plano
procedimental
referido
mais
não
é
do
que
uma
expressão
do
princípio
do
contraditório,
o
que
vem
a
ser
demonstrado
pelo
artigo
329,
nº6º
CT.
No
caso
de
se
tratar
da
sanção
disciplinar
máxima
-‐
expulsiva
-‐
compreende-‐se
que
a
lei
seja
mais
exigente,
vindo
a
exigir
que
decorra
um
procedimento
disciplinar
em
ordem
a
habilitar
o
empregador
a
tomar
a
decisão
final.
As
fases
desse
procedimento
são
as
seguintes:
Defesa:
Após
o
trabalhador
ser
acusado
(pelo
empregador)
de
ter
cometido
determinada
infração,
é-‐lhe
reconhecida
a
faculdade
de
se
defender,
falando-‐se
aqui
num
direito
e
não
num
ónus
jurídico,
pelo
que
nada
impede
o
trabalhador
de
reservar
a
sua
defesa
para
as
instâncias
judiciais.
A
este
respeito,
refere
o
artigo
355º,
nº1
CT
que
o
trabalhador
tem
10
dias
úteis
para
consultar
o
processo
e
responder
à
nota
de
culpa.
Instrução:
Anteriormente,
o
trabalhador
podia
solicitar
as
diligências
probatórias
que
achasse
pertinentes
para
o
esclarecimento
da
verdade
mas,
pelo
artigo
356º,
nº1
CT
de
então,
o
empregador
não
estava
obrigado
a
corresponder
a
essa
solicitação
e
a
efetuar
essas
diligências
-‐
a
instrução
era
facultativa.
Contudo,
esta
norma
veio
a
ser
considerada
inconstitucional
por
violar
as
garantias
de
defesa
aplicáveis
a
qualquer
processo
sancionatório,
nos
termos
do
artigo
32º,
nº10
CRP.
Sucedeu
que
a
instrução
deixou
de
ser
facultativa,
isto
é,
o
empregador
passou
a
ter
que
proceder
sempre
às
diligências
probatórias
requeridas
pelo
trabalhador
na
resposta
à
nota
de
culpa,
a
menos
que
as
considere
dilatórias
ou
impertinentes,
devendo,
nesse
caso,
alegá-‐lo
fundamentadamente
por
escrito.
A
isto
corresponde
a
nova
redação
do
artigo
356º,
nº1
CT.
Decisão
do
empregador:
Recebidos
que
sejam
os
pareceres
das
estruturas
de
representação
coletiva
dos
trabalhadores
(ou
decorrido
que
esteja
o
prazo
para
esse
efeito),
tem
o
empregador
30
dias
para
proferir
a
decisão
de
despedimento,
sob
pena
de
caducidade
do
direito
de
aplicação
da
sanção
-‐
artigo
357º,
nº1
CT.
A
decisão
do
empregador
deve
ser
fundamentada
e
constar
de
documento
escrito
(artigo
357º,
nº5
CT),
nela
devendo
ser
ponderadas
as
circunstâncias
do
caso,
a
adequação
do
despedimento
à
culpabilidade
do
trabalhador
e
os
pareceres
dos
representantes
dos
trabalhadores,
não
podendo
ser
invocados
factos
não
constantes
da
nota
de
culpa
ou
da
resposta
do
trabalhador
(nº4
-‐
manifestação
do
princípio
do
contraditório,
o
qual
seria
violado
se
o
trabalhador
fosse
despedido
com
base
em
factos
em
relação
aos
quais
não
se
pôde
defender:
diz-‐
se,
pelo
exposto,
que
a
nota
de
culpa
fixa
o
objeto
do
procedimento
disciplinar;
se
o
despedimento
se
fundar
em
mais
factos
do
que
os
constantes
da
nota
de
culpa,
mas
também
nesses,
há
apenas
a
consequência
da
inatendibilidade
desses
novos
factos).
Estipula
o
artigo
357º,
nº7
CT,
em
linha
com
o
disposto
no
artigo
224º
CC,
que
a
decisão
vem
a
determinar
a
cessação
do
contrato
logo
que
chega
ao
poder
do
trabalhador,
é
dele
conhecida
ou
quando
só
por
culpa
dele
não
foi
por
ele
oportunamente
recebida.
Tratando-‐se
de
microempresas
(emprega
menos
de
10
trabalhadores),
a
lei
vem
simplificar
o
procedimento
disciplinar,
fazendo
desde
logo
deixar
de
intervir
as
estruturas
representativas
de
trabalhadores
(artigo
358º,
nº1
CT).
Os
critérios
orientadores
da
decisão
da
entidade
empregadora
são
os
que
valem
nas
restantes
empresas
(nº2),
dispondo
esta
dos
seguintes
prazos:
i)
se
o
trabalhador
não
responder
à
nota
de
culpa,
30
dias
a
contar
do
termo
do
prazo
de
resposta
para
a
mesma;
ii)
30
dias
a
contar
da
conclusão
da
última
diligência
probatória
realizada
(artigo
358º,
nº3
CT).
Não
cumprido
o
prazo,
o
direito
de
aplicar
a
sanção
caduca
(nº4).
A
decisão
deve
ser
comunicada
ao
trabalhador
mas
não
já
à
comissão
de
trabalhadores
(nº5).
B.
Despedimento
com
causa
objetiva
A
proibição
do
despedimento
sem
justa
causa
não
significa
que
o
nosso
ordenamento
jurídico-‐laboral
apenas
considere
lícito
o
despedimento
com
justa
causa.
Assim,
a
par
do
despedimento
com
justa
causa
(causa
subjetiva,
baseada
em
factos
imputáveis
ao
trabalhador),
a
lei
admite
e
regula
várias
modalidades
de
despedimento
por
causas
objetivas,
ou
seja,
por
motivos
da
esfera
da
empresa,
como
sejam:
despedimento
coletivo,
despedimento
por
extinção
do
posto
de
trabalho
e
despedimento
por
inadaptação.
I.
Despedimento
coletivo
O
despedimento
coletivo
-‐
artigo
359º,
nº1
CT
-‐
surge
como
um
mecanismo
de
resposta
a
situações
de
crise
empresarial,
em
ordem
a
assegurar
a
viabilidade
da
empresa,
ou
como
um
mecanismos
destinado
a
prevenir
a
crise
empresarial,
em
ordem
a
assegurar
que
a
empresa
permanece
saudável.
Os
motivos
de
mercado,
estruturais
ou
tecnológicos
a
que
se
refere
a
norma
referida
são
tidos,
conforme
o
nº2,
como
motivos
definidos
em
moldes
bastante
amplos
e
indeterminados,
que
revelam
especial
vocação
do
despedimento
coletivo
para
fazer
face
a
situações
de
crise
da
empresa
que
impliquem
a
reestruturação
desta,
bem
como
a
reorientação
estratégica
no
mercado.
Assim,
a
noção
legal
de
despedimento
coletivo
revela-‐nos
que
o
elemento
fundamental
de
distinção
entre
este
despedimento
e
o
despedimento
com
justa
causa
é
a
natureza
dos
motivos
subjacentes
a
cada
um
deles:
motivos
disciplinares
no
despedimento
com
justa
causa
e
motivos
económicos
lato
sensu
no
despedimento
coletivo.
Mas,
o
despedimento
contra
legem
não
se
limita
a
ser
um
ato
irregular,
desencadeador
de
uma
obrigação
indemnizatória
a
cargo
do
empregador.
O
despedimento
contra
legem
é
concebido
como
um
verdadeiro
e
próprio
despedimento
inválido
(artigo
389º,
nº1,
alínea
b)
CT).
O
trabalhador
que
seja
objeto
de
um
despedimento
ilícito
goza,
não
apenas
do
direito
de
ser
indemnizado
por
todos
os
danos
causados,
mas
também
do
direito
a
ser
reintegrado
na
empresa,
sem
prejuízo
da
sua
categoria
e
antiguidade.
O
princípio
geral
consagrado
no
CT
continua
a
ser
aquele
que
foi
acolhido
pela
CRP
de
1976:
ao
declarar
o
despedimento
ilícito,
o
tribunal
priva
este
último
do
seu
efeito
extintivo
da
relação
laboral,
pelo
que
tudo
se
vai
passar
como
se
o
despedimento
jamais
tivesse
sido
proferido
pela
entidade
empregadora.
O
trabalhador
tem
o
direito
de
retomar
a
sua
atividade
profissional
ao
abrigo
de
um
contrato
de
trabalho
que,
ao
invés
daquilo
que
o
empregador
pretendia,
não
foi
dissolvido
pelo
despedimento.
A
consagração
de
uma
tutela
de
tipo
reintegratório
entende-‐se
por
conta
de
se
mostrar
compatível
com
a
garantia
constitucional
da
segurança
no
emprego
(artigo
53º
CRP).
Qualquer
outro
sistema,
em
que
a
tutela
da
estabilidade
do
emprego
fosse
como
que
amolecida,
assentando
em
mecanismos
puramente
indemnizatórios,
ficaria
aquém
das
exigências
constitucionais.
II.2.
Os
salários
intercalares
Como
se
referiu
supra,
além
do
dever
de
indemnizar
o
trabalhador
por
todos
os
danos
patrimoniais
e
não
patrimoniais
causados
pelo
despedimento
ilícito
(artigo
389º,
nº1,
alínea
a)
CT),
o
empregador
deverá
ainda
compensar
o
trabalhador
pagando-‐lhe
os
chamados
“salários
intercalares”
ou
“salários
de
tramitação”,
visto
que
a
declaração
judicial
de
ilicitude/invalidade
do
despedimento
produz
efeitos
retroativos,
repondo
em
vigor
o
contrato
de
trabalho
que
o
empregador
havido
tentado
dissolver
por
via
do
despedimento.
Em
sede
de
salários
intercalares,
estamos
perante
o
cumprimento
diferido
da
obrigação
retributiva
a
cargo
do
empregador.
Tem-‐se
que,
em
princípio,
os
salários
intercalares
serão
devidos
desde
a
data
do
despedimento
até
ao
trânsito
em
julgado
da
decisão
do
tribunal
que
declare
a
ilicitude
do
despedimento
(artigo
390º,
nº1
CT).
Ou
seja,
os
salários
intercalares
(e
os
correspondentes
juros
de
mora)
serão
devidos
até
ao
trânsito
em
julgado
da
decisão
do
tribunal
e
não
apenas
até
à
data
da
sentença
da
primeira
instância;
e
isto
quer
o
trabalhador
tenha
optado
pela
reintegração
na
empresa,
quer
ele
tenha
optado
pela
chamada
“indemnização
de
antiguidade”.
É
claro
que
os
salários
intercalares
são
devidos
até
ao
trânsito
em
julgado
da
decisão
do
tribunal
nas
situações-‐
padrão.
No
entanto,
nada
impede
que
o
contrato
de
trabalho
se
extinga
antes
desta
última
data,
em
virtude
da
ocorrência
de
outros
factos
extintivos
do
mesmo
(falecimento,
reforma,
termo)
-‐
quando
tal
suceda,
os
salários
intercalares
serão
devidos
até
à
data
em
que
o
contrato
se
extinguiu.
Ao
montante
dos
salários
intercalares
deduzem-‐se
«as
importâncias
que
o
trabalhador
aufira
com
a
cessação
do
contrato
e
que
não
receberia
se
não
fosse
o
despedimento
-‐
artigo
390º,
nº2,
alínea
a)
CT.
Este
preceito
situa-‐se
na
linha
do
disposto
no
artigo
437º,
nº2
CT
de
2003,
e
este
na
do
artigo
13º,
nº3,
alínea
b)
LCCT
(o
qual
mandava
deduzir
ao
valor
dos
salários
intercalares,
o
“montante
das
importâncias
relativas
a
rendimentos
de
trabalho
auferidos
pelo
trabalhador
em
atividades
iniciadas
posteriormente
ao
despedimento”),
mas
não
deixa
de
apresentar
profundas
diferenças
de
redação
relativamente
a
este
último,
alimentando
algumas
dúvidas
em
torno
do
seu
exato
sentido
e
alcance.
Quanto
ao
revogado
artigo
13º,
nº2,
alínea
b)
LCCT,
pode
dizer-‐se
que,
ao
menos
nas
suas
grandes
linhas,
o
preceito
era
inequívoco:
se
o
trabalhador,
após
o
despedimento,
iniciasse
uma
nova
atividade
laboral,
por
conta
própria
ou
alheia,
os
rendimentos
provenientes
dessa
nova
atividade
laboral
deveriam
ser
descontados
na
importância
a
pagar
pelo
empregador
que
havia
procedido
ao
despedimento
ilícito.
Tendo
embora
uma
certa
justificação
e
alguns
defensores,
a
verdade
é
que
esta
disposição
legal
não
escapou
a
um
juízo
critico
bastante
severo
por
parte
da
doutrina
maioritária,
uma
vez
que
este
artigo
parecia
pressupor
a
existência
de
um
estreito
nexo
causal
entre
o
despedimento
ilícito
e
os
novos
rendimentos
do
trabalho,
como
se
estes
últimos
brotassem,
direta
e
inexoravelmente,
daquele
-‐
sabe-‐se,
porém,
que
assim
não
é
(não
são
consequência
direta
do
despedimento
ilícito).
O
legislador
opta
agora
por
uma
formulação
mais
genérica
e
prudente:
em
lugar
de
mandar
deduzir
o
montante
das
importâncias
relativas
a
rendimentos
de
trabalho
auferidos
pelo
trabalhador
em
atividades
iniciadas
posteriormente
ao
despedimento,
o
CT
limita-‐se
a
ordenar
a
dedução
das
importâncias
que
o
trabalhador
aufira
com
a
cessação
do
contrato
e
que
não
receberia
se
não
fosse
o
despedimento.
Com
efeito,
nos
termos
do
artigo
390º,
nº2,
alínea
a)
CT,
afigura-‐se
que
o
despedimento
tem
de
ser
condição
necessária
e
suficiente
dos
rendimentos
a
deduzir:
as
importâncias
suscetíveis
de
dedução
serão
aquelas
que
o
trabalhador
“não
receberia
se
não
fosse
o
despedimento”
(condição
necessária)
e
que
o
trabalhador
“aufira
com
a
cessação
do
contrato”
(condição
suficiente).
Sucede
que
esta
dupla
condição
não
se
preenche
no
tocante
aos
rendimentos
oriundos
de
um
novo
contrato
de
trabalho
entretanto
celebrado
pelo
trabalhador
despedido:
neste
caso,
o
despedimento
será
condição
necessária
para
a
obtenção
daqueles
rendimentos,
mas
não
condição
suficiente
dos
mesmos.
A
ser
correta
a
interpretação
(artigo
390º,
nº2,
alínea
a)
CT)
que
acima
se
propugna,
então
a
conclusão
mostra-‐se
inevitável:
o
campo
de
aplicação
desta
norma
é
muito
mais
limitado
do
que
o
do
revogado
artigo
13º,
nº2,
alínea
b)
LCCT.
A
respetiva
estatuição
aplicar-‐se-‐á
nos
casos
em
que
exista
um
forte
nexo
causal,
uma
conexão
intrínseca
entre
o
despedimento
e
as
importâncias
recebidas
pelo
trabalhador
(por
exemplo
na
hipótese
de
tais
importâncias
provirem
de
um
qualquer
seguro
que
o
trabalhador
tenha
efetuado
para
cobrir
o
risco
de
perda
involuntária
do
emprego),
sendo
que
tal
conexão
intrínseca
não
existe
quando
as
importâncias
são
recebidas
pelo
trabalhador
despedido
à
custa
e
como
contrapartida
do
esforço
laborativo
reclamado
pelo
cumprimento
de
um
outro
contrato
de
trabalho
por
ele
celebrado.
Há
outras
posições
que
sustentam
que
as
importâncias
a
descontar
no
montante
dos
salários
intercalares
abrangem,
não
apenas
os
rendimentos
do
trabalho
auferidos
pelo
trabalhador
em
atividades
iniciadas
após
o
despedimento,
mas
também,
por
motivos
de
justiça,
e
tendo
em
conta
a
razão
de
ser
do
preceito,
idêntica
dedução
deveria
efetuar-‐se
sempre
que
o
trabalhador
não
tenha
auferido
tais
importâncias
em
virtude
de
uma
recusa
manifestamente
injustificada
(não
aceitou
uma
oferta
de
emprego
compatível
ou
não
se
inscreveu
para
receber
o
subsidio
de
desemprego):
tal
recusa
injustificada
corresponderia
a
uma
hipótese
de
culpa
do
lesado,
verificando-‐se
um
agravamento
do
dano
derivado
de
facto
culposo
do
trabalhador
ilicitamente
despedido,
que
viabiliza
a
redução
da
indemnização.
Entretanto,
aquela
conexão
intrínseca
já
se
verifica
no
caso
do
subsídio
de
desemprego
auferido
pelo
trabalhador
em
consequência
do
despedimento
(artigo
390º,
nº2,
alínea
c)
CT),
o
qual
será
deduzido
na
compensação
devendo
o
empregador
entregar
essa
quantia
à
S.S..
Assim,
os
rendimentos
de
um
não-‐trabalho
resultantes
da
inatividade
involuntária
subsequente
ao
despedimento
serão
deduzidos
ao
montante
dos
salários
intercalares,
sem
que
o
empregador
que
despede
ilicitamente
se
locuplete,
pois
incumbir-‐lhe-‐á
entregar
essa
quantia
à
S.S..
Evita-‐se
o
locupletamento
injusto
do
trabalhador
despedido
(ocorreria
caso
o
subsídio
de
desemprego
não
fosse
deduzido
ao
montante
dos
salários
intercalares)
e
o
do
empregador
que
o
despediu
(ocorreria
caso
a
dedução
do
subsídio
revertesse
em
seu
benefício),
ficando
salvaguarda
a
posição
da
S.S..
Também
a
“compensação
de
inatividade”
paga
ao
trabalhador
despedido
em
cumprimento
de
um
pacto
de
não
concorrência
não
poderá
deixar
de
ser
deduzida
ao
montante
dos
salários
intercalares.
O
despedimento
proferido
pelo
empregador
fará
cessar
o
contrato,
implicando
que,
daí
em
diante
e
pelo
período
previamente
acordado,
o
empregador
deva
pagar
ao
trabalhador,
a
troco
da
limitação
da
sua
atividade
concorrencial,
a
compensação
prevista
no
artigo
136º,
nº2,
alínea
c)
CT.
No
que
concerne
ao
artigo
390º,
nº2,
alínea
b)
CT,
trata-‐se
de
uma
norma
que,
sem
privar
o
trabalhador
da
faculdade
de
impugnar
o
despedimento
dentro
de
um
prazo
mais
dilatado,
funciona
como
um
meio
de
pressão
para
propositura
da
ação.
Sendo
o
trabalhador
objeto
de
um
despedimento,
ele
disporá
do
prazo
de
60
dias
para
intentar
a
correspondente
ação
de
impugnação
(se
se
tratar
de
despedimento
coletivo
6
meses,
e
se
se
tratar
de
despedimento
verbal,
1
ano
e
corre
uma
ação
de
processo
comum).
Sobre
o
trabalhador
despedido
impende
o
ónus
jurídico
de
propor
tempestivamente
a
ação
de
impugnação,
em
ordem
a
fazer
valer
o
seu
direito
à
segurança
no
emprego
e
a
não
ser
despedido
sem
causa
juridicamente
bastante.
Além
do
ónus
de
impugnar
tempestivamente
o
despedimento,
para
que
o
tribunal
possa
sindicar
a
respetiva
conformidade
legal,
sobre
o
trabalhador
recai
o
ónus
suplementar
de
propor
a
ação
no
prazo
de
30
dias
para
não
ficar
sujeito
a
qualquer
dedução
no
montante
dos
salários
intercalares,
caso
o
tribunal
venha
a
declarar
ilícito
tal
despedimento.
O
termo
inicial
do
direito
a
salários
intercalares
coincidirá
com
+a
data
do
despedimento,
caso
o
trabalhador
impugne
no
prazo
máximo
de
30
dias,
ou,
no
caso
contrário,
com
o
trigésimo
dia
anterior
à
data
da
propositura
da
ação.
II.3.
A
reintegração
do
trabalhador
Na
ação
de
apreciação
judicial
do
despedimento,
o
trabalhador
poderá
optar
pela
reintegração
na
empresa
ou
pela
chamada
“indemnização
de
antiguidade”.
Essa
opção
pode
ser
feita
até
ao
termo
da
discussão
em
audiência
final
de
julgamento
(artigo
391º,
nº1
CT),
mas
julga-‐se
que
a
opção
uma
vez
exercida
é
irrevogável
(artigo
549º
CC).
Assim,
se
o
trabalhador
optar
pela
reintegração
não
poderá
mais
tarde
mudar
de
ideias
e
optar
pela
indemnização;
do
mesmo
modo
o
inverso.
O
mais
logico
será
que
o
trabalhador
não
opte
prematuramente,
visto
que
quando
ele
enceta
a
batalha
judicial
contra
o
despedimento,
ser-‐lhe-‐á
difícil
ter
ideias
claras
quanto
àquilo
que
desejará
quando
a
sentença
do
tribunal
vier
a
ser
proferida:
quando
o
trabalhador
impugna,
aquilo
que
deseja
é
que
o
tribunal
declare
a
ilicitude
do
despedimento,
e
só
mais
tarde
estará
em
condições
de
decidir
se
pretende
a
reintegração
ou
a
indemnização.
Em
termos
logico-‐jurídicos,
a
reintegração
detém
a
primazia,
constituindo
a
solução-‐regra
quando
um
despedimento
é
declarado
ilícito.
O
artigo
389º,
nº1,
alínea
b)
CT
estabelece
que,
em
princípio,
sendo
o
despedimento
declarado
ilícito,
o
empregador
será
condenado
a
reintegrar
o
trabalhador
no
mesmo
estabelecimento
da
empresa,
sem
prejuízo
da
sua
categoria
e
antiguidade.
A
reintegração
constitui
também
a
solução
legal
supletiva,
isto
é,
na
ausência
de
escolha
por
parte
do
trabalhador,
o
tribunal
condenará
o
empregador
na
reintegração.
Trata-‐se,
pois,
da
solução
que
melhor
se
compagina
com
a
ideia
de
invalidade
do
despedimento
e
com
a
própria
tutela
da
segurança
no
emprego
(artigo
53º
CRP).
O
nº
2
do
artigo
391º
CT
preceitua
que,
para
calcular
a
antiguidade
do
trabalhador,
o
tribunal
deverá
atender
“ao
tempo
decorrido
desde
o
despedimento
até
ao
trânsito
em
julgado
da
decisão
judicial”.
O
contrato
não
se
extingue
através
do
despedimento,
visto
que
este
foi
privado
de
eficácia
extintiva
da
relação
juslaboral
pela
decisão
do
tribunal.
O
contrato
cessa
por
iniciativa
do
trabalhador,
o
qual
opta
por
não
retomar
a
sua
prestação
laborativa
apesar
de
os
efeitos
do
despedimento
terem
sido
neutralizados
pelo
tribunal.
Nesta
perspetiva,
a
opção
indemnizatória
traduz-‐se
num
caso
particular
de
resolução
contratual
por
iniciativa
do
trabalhador.
O
nº
3
do
artigo
391º
CT
estabelece
um
limite
mínimo
que
deve
ser
sempre
respeitado,
isto
é,
independentemente
da
antiguidade
do
trabalhador,
a
indemnização
a
que
ele
terá
direito
não
poderá
ser
inferior
a
três
meses
de
retribuição
base
e
diuturnidades.
Questão
bastante
interessante
consiste
em
saber
que
efeitos
resultam
da
indemnização
por
antiguidade,
da
ocorrência
de
outros
factos
extintivos
da
relação
jurídico-‐laboral
na
pendência
da
ação
de
apreciação
judicial
do
despedimento.
Por
exemplo:
um
trabalhador
falece
após
o
despedimento
mas
antes
de
ser
proferida
a
decisão
judicial
que
o
declara
ilícito;
sendo
a
reintegração
impossível,
julga-‐se
que
o
empregador
não
deverá
ser
condenado
a
pagar
a
indemnização.
Com
a
morte
do
trabalhador,
o
contrato
extingue-‐se.
Cessa
por
caducidade
(artigo
343º,
alínea
b)
CT).
A
declaração
de
ilicitude
do
despedimento
que
mais
tarde
venha
a
ser
proferida
pelo
tribunal
implicará,
tão-‐só,
a
reposição
do
vínculo
contratual
até
à
data
da
morte
do
trabalhador.
Caducando
o
contrato
deixa
de
fazer
sentido
falar
na
reintegração
do
trabalhador
como
consequência
da
anulação
do
respetivo
despedimento,
pelo
que
neste
caso
não
há
opção
e
o
trabalhador
(ou
seus
herdeiros)
deixa
de
poder
pretender
extingui-‐lo
ao
optar
pela
indemnização.
O
que
se
diz
em
relação
à
morte
do
trabalhador
vale
também,
mutatis
mutandis,
para
os
outros
factos
extintivos
da
relação
laboral
(reforma
do
trabalhador).
A
indemnização
substitutiva
da
reintegração
é,
pelo
exposto,
composta
por
duas
espécies:
1.
A
espécie
tradicional,
em
que
a
indemnização
resulta
de
uma
opção
feita
pelo
trabalhador;
2.
Uma
nova
espécie,
em
que
a
indemnização
é
devida
ao
trabalhador
despedido
que,
tendo
optado
pela
reintegração
na
empresa,
vê
o
empregador
opor-‐se
a
essa
reintegração,
sendo
esta
oposição
julgada
procedente
pelo
tribunal
(artigo
392º
CT).
Como
se
viu,
o
trabalhador
despedido/
não
reintegrado
terá
direito
a
uma
indemnização
majorada
relativamente
ao
disposto
no
artigo
391º
CT:
caso
o
tribunal
exclua
a
reintegração,
a
indemnização
será
calculada
entre
30
a
60
dias
de
retribuição
base
e
diuturnidades,
tendo
como
limite
mínimo
o
valor
correspondente
a
6
meses
(artigo
392º,
nº3
CT).
Esta
majoração
indemnizatória
compreende-‐se,
uma
vez
que
o
trabalhador
foi
ilicitamente
despedido
e
pretende
ser
reintegrado,
mas
o
tribunal
acaba
por
sacrificar
o
seu
emprego
por
conta
de
conveniências
empresariais.
II.5.
O
despedimento
irregular
O
tribunal
não
se
limita
a
apreciar
a
licitude
do
despedimento,
também
aprecia
a
sua
regularidade
(artigo
387º,
nº1
CT).
Assim,
haverá
despedimentos
que
sendo
lícitos/válidos,
já
não
serão
regulares
(artigo
389º,
nº2
CT).
Ponto
de
partida
obrigatório
para
que
estejamos
perante
um
despedimento
irregular
é
o
de
que
se
trate
de
um
despedimento
materialmente
justificado:
trata-‐se
de
um
despedimento
lícito,
em
que
os
motivos
justificativos
invocados
para
a
decisão
foram
apreciados
e
confirmados
pelo
tribunal
(artigo
387º,
nº4
CT)
mas
em
que
os
vícios
desse
despedimento
irregular
se
situam
no
plano
adjetivo
e
no
plano
formal.
Repare-‐se
que
muitos
vícios
procedimentais
implicam
uma
verdadeira
e
própria
ilicitude
do
despedimento,
sendo
vícios
invalidantes
(artigo
382º,
nº2
CT).
A
contrario,
podemos
concluir
que
o
despedimento
irregular
existe
quando
no
mesmo
se
registam
vícios
procedimentais
de
segunda
linha,
não
invalidantes
(artigo
382º,
nº2
CT).
Tais
vícios
de
segunda
linha
serão
os
seguintes:
à
A
omissão,
sem
apresentação
de
fundamentos,
das
diligências
probatórias
requeridas
pelo
trabalhador
na
resposta
à
nota
de
culpa
(artigo
389º,
nº2
CT);
à
A
omissão,
com
apresentação
de
fundamento
julgado
improcedente,
das
diligências
probatórias
requeridas
pelo
trabalhador;
à
A
inobservância
do
compasso
de
espera
(do
período
mínimo
de
reflexão)
de
cinco
dias
úteis
exigidos
pela
lei,
nos
casos
em
que
o
empregador
opta,
licitamente,
por
não
realizar
a
instrução
(artigo
357º,
nº3
CT).
Estabelece
o
artigo
389º,
nº2
CT
que
“o
trabalhador
tem
apenas
direito
a
indemnização
correspondente
a
metade
do
valor
que
resultaria
da
aplicação
do
nº1
do
artigo
391º
CT”.
Ou
seja,
não
haverá
lugar
ao
pagamento
de
qualquer
outra
indemnização,
ao
pagamento
de
salários
intercalares,
à
eventual
reintegração
do
trabalhador.
Em
caso
de
despedimento
irregular
o
trabalhador
terá,
então,
direito
a
metade
do
valor
que
resultaria
da
indemnização
do
artigo
391º,
nº1
CT
(entre
7,5
e
22,5
dias
de
retribuição
por
cada
ano),
parecendo
que
o
tribunal
deverá
guiar-‐se,
dentro
da
referida
moldura
legal,
pelo
valor
da
retribuição
do
trabalhador.
Por
se
tratar
de
um
despedimento
irregular
mas
válido,
a
antiguidade
do
trabalhador
deverá
ser
calculada
até
à
data
do
despedimento
e
não
até
à
data
do
trânsito
em
julgado
da
decisão
judicial
(artigo
389º,
nº2
CT).
II.6.
Despedimento
ilícito
e
contrato
a
termo
O
contrato
a
termo
é
um
contrato
nascido
para
caducar;
é
um
negócio
jurídico
cuja
causa
normal
de
extinção
consistirá
na
verificação
do
respetivo
termo
resolutivo,
certo
ou
incerto,
cessando
então
o
contrato
por
caducidade.
Em
relação
aos
efeitos
da
ilicitude
do
despedimento
em
contratos
a
termo,
a
lei
previu
regras
especiais:
o
artigo
393º
CT
estabelece
uma
remissão
para
as
regras
gerais
referentes
à
ilicitude,
no
entanto
prevê
um
conjunto
de
regras
especiais
no
seu
nº2:
Por
força
da
alínea
a),
em
caso
de
despedimento
ilícito,
o
empregador
será
condenado
no
pagamento
da
indemnização
pelos
prejuízos
causados;
tendo
o
quantum
indemnizatório
como
limite
mínimo
o
valor
dos
salários
intercalares
devidos
ao
trabalhador
desde
a
data
do
despedimento
até
à
verificação
do
termo
do
contrato
ou
até
ao
trânsito
em
julgado
da
decisão
do
tribunal,
consoante
o
que
ocorra
primeiro.
Importa
não
esquecer
que
nos
contratos
de
duração
indeterminada
os
salários
intercalares
acrescem
à
indemnização
pelos
danos
causados
(artigos
389º,
nº1
e
390º,
nº1
CT),
ao
passo
que
no
âmbito
dos
contratos
a
termo
os
salários
intercalares,
sem
deduções,
funcionam
como
padrão
mínimo
da
indemnização.
No
artigo
389º,
nº1,
alínea
b)
CT,
o
empregador
que
despeça
ilicitamente
um
trabalhador
contratado
a
prazo,
deverá
também
ser
condenado
a
proceder
à
respetiva
reintegração
na
empresa,
sem
prejuízo
da
sua
categoria
e
antiguidade,
mas
isto
apenas
na
hipótese
de
o
termo
do
contrato
ocorrer
depois
do
trânsito
em
julgado
da
decisão
judicial
(artigo
393º,
nº2,
alínea
b)
CT).
Caso
o
termo
ocorra
depois
da
sentença,
nada
impede
que
o
trabalhador
opte
por
receber
a
indemnização
de
antiguidade
(artigo
391º
CT),
assim
como
nada
impede
que,
tendo
o
trabalhador
optado
pela
reintegração,
o
empregador
venha
a
requerer
a
exclusão
da
mesma
(artigo
392º
CT).
Estamos
perante
regras
gerais
de
cessação
do
contrato
(artigo
393º,
nº1
CT).
Não
haverá
lugar
à
reintegração
do
trabalhador
despedido
se
o
termo
do
contrato
ocorrer
antes
da
decisão
do
tribunal,
sendo
irrelevante
a
opção
que
este
tenha
tomado
ao
longo
da
ação
de
apreciação
judicial
do
despedimento.
A
declaração
de
ilicitude/invalidade
do
despedimento
reconstituirá
a
relação
jurídico-‐laboral
que
o
empregador
tentou,
sem
êxito,
dissolver,
mas
essa
reconstituição
apenas
valerá
até
à
verificação
do
evento
resolutivo
a
que
as
partes
haviam
subordinado
a
extinção
do
contrato.
O
contrato
cessará,
então,
aquando
da
verificação
do
termo,
por
caducidade,
pelo
que
o
empregador
deverá
ser
condenado
a
pagar
ao
trabalhador
uma
compensação
pela
caducidade
do
contrato
(artigos
344º,
nº2
e
345º,
nº4
CT).
Exemplo:
Imagine-‐se
um
contrato
celebrado
a
1/3/2016,
com
termo
previsto
para
1/3/2019;
o
trabalhador
foi
despedido
a
1/3/2017.
A
sentença
a
declarar
a
ilicitude
tanto
pode
ocorrer
antes
do
termo
(imaginemos
a
1/1/2018)
como
depois
do
termo
(imaginemos
a
1/5/2019).
-‐
Hipótese
da
sentença
ocorrer
a
1/1/2018,
ocorre
antes
do
termo:
Em
termos
de
ilicitude,
os
efeitos
gerais
previstos
não
sofrem
muitas
alterações:
os
salários
devem
ser
contabilizados
desde
o
despedimento
até
ao
transito
em
julgado
da
sentença;
há
direito
a
reintegração
pois
o
termo
ainda
não
se
verificou
(se
optar
pela
reintegração
cumpre
o
resto
do
contrato
e,
no
dia
em
que
o
contrato
caducar
terá
direito
a
receber
a
designada
compensação).
Pode
o
trabalhador
optar
por
indemnização
por
antiguidade.
-‐
Hipótese
da
sentença
ocorrer
a
1/5/2019,
ocorre
depois
do
termo:
Esta
é
a
situação
mais
comum
e,
em
termos
de
ilicitude,
comporta
efeitos
distintos
daqueles
que
se
dão
na
generalidade.
Aqui,
o
empregador
tem
que
pagar
os
salários
intercalares
até
à
data
do
termo
do
contrato
e
a
compensação
recorrente
da
caducidade
do
contrato;
não
há
reintegração
pois
o
contrato
já
terminou.
à
Extinção
por
iniciativa
do
trabalhador
(demissão)
A
demissão
é
uma
forma
de
extinção
do
contrato
de
trabalho
unilateral,
por
iniciativa
do
trabalhador.
Dentro
da
demissão
teremos
que
analisar
os
casos
de
denúncia,
resolução
com
justa
causa
e
abandono
do
trabalho.
Ao
passo
que
a
resolução
com
justa
causa
corresponde
à
figura
do
despedimento
por
justa
causa,
relativamente
à
denúncia
estamos
a
falar
de
uma
forma
de
extinção
que
é
exclusiva
do
trabalhador,
uma
vez
que
se
o
empregador
denunciar
o
contrato
de
trabalho
está
a
proceder
a
um
despedimento
ilícito.
A.
Demissão
com
aviso
prévio
I.
O
princípio
da
livre
demissão
O
princípio
da
livre
demissão
resulta,
no
fundo,
do
direito
ao
trabalho
consagrado
no
artigo
400º,
nº1
CT.
Num
ordenamento
jurídico
em
que
a
liberdade
de
trabalho
e
profissão
é
constitucionalmente
reconhecida
(artigo
47º
CRP)
e
perante
um
contrato
em
que
o
devedor-‐
trabalhador
compromete
tão
intensamente
a
sua
própria
pessoa
na
execução
da
respetiva
prestação,
compreende-‐se
que
ao
trabalhador
seja
reconhecida
a
faculdade
de
fazer
cessar
o
vínculo,
por
sua
iniciativa
unilateral,
sem
necessidade
de,
para
o
efeito,
invocar
qualquer
causa
ou
motivo.
Este
princípio
da
livre
demissão
vigora
quer
relativamente
aos
contratos
de
trabalho
de
duração
indeterminada,
quer
mesmo
no
tocante
aos
contratos
a
termo.
O
trabalhador
pode
matar
o
vínculo
contratual
em
ordem
a
recuperar
a
sua
liberdade
pessoal
e
a
obter
um
emprego
melhor.
No
entanto,
a
ruptura
brusca
do
vínculo
não
deve
registar-‐se
de
imediato,
sob
pena
de
gerar
fortes
prejuízos
para
o
empregador,
tendo
a
denúncia
que
obedecer
a
um
pré-‐aviso.
O
aviso
prévio
funciona
como
um
termo
suspensivo
aposto
à
denúncia
do
contrato,
pelo
que,
enquanto
decorrer
o
respetivo
prazo,
a
relação
laboral
mantem-‐se
em
vigor,
continuando
o
trabalhador
obrigado
a
prestar
o
trabalho
ajustado
e
o
empregador
vinculado
a
pagar
a
retribuição
correspondente.
Na
prática
é
frequente
as
entidades
empregadoras,
depois
de
receberem
a
comunicação
da
denúncia
pelo
trabalhador,
dispensarem-‐no
do
cumprimento
do
aviso
prévio.
Nestes
casos:
à
Ou
se
trata
de
um
ato
unilateral
do
empregador,
caso
em
que
a
dispensa
não
o
eximirá
de
pagar
ao
trabalhador
a
retribuição
correspondente
ao
período
de
aviso
concedido;
à
Ou
existirá
acordo
das
partes
no
sentido
de
não
submeter
a
denúncia
ao
termo
suspensivo
previsto
na
lei,
caso
em
que
o
vínculo
contratual
terminará
de
imediato,
não
ficando
o
empregador
obrigado
a
pagar
salários
para
além
dessa
data.
Tudo
dependerá
da
vontade
das
partes,
sendo
aconselhável,
até
para
facilitar
o
respetivo
apuramento,
que
a
dispensa
de
cumprimento
do
aviso
prévio
seja
reduzida
a
escrito.
A
duração
do
aviso
prévio
poderá
oscilar
em
função
de
diversos
fatores;
conforme
se
trate
de
um
contrato
por
tempo
indeterminado
ou
de
um
contrato
a
termo,
consoante
a
própria
duração
do
termo,
de
acordo
com
a
antiguidade
do
trabalhador
e
com
o
tipo
de
tarefas
desempenhadas.
Assim:
no
contrato
por
tempo
indeterminado
(artigo
400º,
nº1
CT);
trabalhador
que
ocupe
cargo
de
administração
ou
direção,
bem
como
funções
de
representação
ou
de
responsabilidade
(artigo
400º,
nº2
CT);
no
contrato
a
termo
certo
(artigo
400º,
nº3
CT);
nos
contratos
a
termo
incerto
(artigo
400º,
nº4
CT).
Apesar
desta
obrigação
de
aviso
prévio,
a
denúncia
sem
aviso
prévio
(artigo
401º
CT)
não
é
inválida:
o
ato
é
válido,
pelo
que
se
produz
o
efeito
esperado,
como
seja,
a
extinção
do
contrato
de
trabalho,
mas
é
irregular,
pelo
que
gera
consequências
indemnizatórias.
Posto
isto,
diz-‐se
que
a
consequência
do
incumprimento,
total
ou
parcial,
do
aviso
prévio
é
meramente
indemnizatória:
o
trabalhador
incumpridor
do
pré-‐aviso
deve
pagar
ao
empregador
uma
indemnização
de
valor
igual
à
retribuição
base
e
diuturnidades
correspondentes
ao
período
em
falta,
sem
prejuízo
de
eventual
indemnização
por
danos
causados
pela
inobservância
do
prazo
de
aviso
prévio
(artigo
401º,
nº9
CT;
o
empregador
poderá
fazer
prova
de
que
sofreu
danos
que
não
sofreria
se
o
trabalhador
tivesse
cumprido
aviso
prévio
-‐
por
exemplo:
apenas
aquele
trabalhador
trabalha
com
uma
determinada
máquina,
pelo
que
se
ele
se
vai
embora
da
empresa
sem
cumprir
aviso
prévio,
a
máquina
tem
que
estar
parada
até
que
o
empregador
encontre
substituto)
ou
de
obrigação
assumida
em
pacto
de
permanência
(havendo
uma
formação
paga
pelo
empregador,
é
natural
que
o
trabalhador
fique
vinculado
por
um
pacto
de
permanência
até
3
anos,
para
que
o
empregador
consiga
reaver
os
gastos
que
teve
-‐
artigo
137º
CT).
O
CT
admite
a
celebração
destes
pactos
de
permanência,
assumidamente
restritivos
da
liberdade
de
trabalho,
mas
a
verdade
é
que
não
deixa
de
acautelar
a
posição
do
trabalhador:
quer
no
que
diz
respeito
às
circunstâncias
em
que
os
admite
(empregador
tenha
suportado
despesas
avultadas
com
a
formação
profissional
do
trabalhador),
quer
no
que
tange
ao
plano
temporal
(não
pode
ter
duração
superior
a
três
anos),
quer
no
tocante
ao
quantum
indemnizatório
a
suportar
pelo
trabalhador
em
caso
de
inobservância
desse
pacto.
Trata-‐se
de
um
expediente
contratual
através
do
qual
a
lei
procura
conciliar
as
exigências
da
liberdade
de
trabalho
com
as
legítimas
expectativas
patronais
de
colher
os
frutos
do
forte
investimento
formativo
realizado
naquele
trabalhador.
A
lei
não
exige
a
redução
a
escrito
deste
pacto,
mas
será
de
toda
a
conveniência
celebrá-‐lo
por
escrito,
seja
para
facilitar
a
prova
da
existência
da
cláusula,
seja
para
evitar
as
dúvidas
quanto
ao
respetivo
conteúdo.
II.
A
revogação
da
denúncia
A
lei
concede
ao
trabalhador
uma
faculdade
de
proceder
à
revogação
unilateral
da
sua
declaração
demissória,
a
qual
parece
assentar
numa
dupla
ordem
de
considerações:
1.
Visa-‐se
garantir
que
o
trabalhador
pondere
devidamente
sobre
as
consequências
da
sua
declaração,
possibilitando-‐lhe
o
exercício
do
chamado
direito
ao
arrependimento
caso
conclua
que
aquela
foi
uma
declaração
precipitada
e
não
ajustada
aos
seus
reais
interesses;
2.
Tenta-‐se
dar
resposta
ao
fenómeno
do
chamado
despedimento
dissimulado,
isto
é,
ao
expediente
de
o
empregador,
aquando
da
celebração
do
contrato,
condicionar
a
admissão
do
trabalhador
à
assinatura
de
uma
declaração
demissória
sem
data,
assim
ficando
o
empregador
com
a
possibilidade
de,
mais
tarde,
determinar
livremente
o
momento
da
cessação
do
contrato,
datando
o
documento
em
conformidade
(artigo
402º,
nº1
CT).
Porém,
se
a
resolução
faz
cessar
imediatamente
o
contrato
(artigo
394º,
nº1CT),
já
a
denúncia
encontra-‐se
sujeita
a
um
aviso
prévio,
o
qual
funciona
como
um
termo
suspensivo
aposto
à
declaração
demissória
do
trabalhador.
B.
Demissão
com
justa
causa
(resolução)
I.
A
justa
causa
A
ocorrência
de
justa
causa
habilita
o
trabalhador,
não
tanto
a
dissolver
licitamente
o
contrato,
mas
sim
a
dissolvê-‐lo
imediatamente
-‐
artigo
394º,
nº1
CT.
A
ocorrência
de
justa
causa
exonera
o
trabalhador
do
dever
de
respeitar
o
prazo
de
aviso
prévio
previsto
do
artigo
400º
CT,
podendo
ainda
conferir-‐lhe
o
direito
a
uma
indemnização
pelos
danos
sofridos
(artigo
396º
CT).
Contudo,
é
necessário
distinguir
duas
modalidades
de
resolução:
à
O
nº2
do
artigo
394º
CT
consagra
hipóteses,
meramente
exemplificativas,
de
justa
causa
subjetiva
de
demissão
(situação
que
se
assemelha
ao
despedimento
com
justa
causa):
na
justa
causa
subjetiva,
o
trabalhador
tem
sempre
direito
a
indemnização
(artigo
396º
CT),
uma
vez
que
a
justa
causa
resulta
de
comportamento
ilícito
e
culposo
do
empregador
(violação
dos
direitos
e
garantias
dos
artigos
126º
e
129º
CT).
Atualizar
alínea
f)
-‐
lei
do
assédio
(lei
73/2017,
de
16
de
Agosto)
à
O
nº3
do
artigo
394º
CT
consagra
hipóteses,
aparentemente
taxativas,
de
justa
causa
objetiva:
estas
modalidades
de
justa
causa
podem
consistir
na
prática
de
um
ato
lícito
pelo
empregador,
ou
seja,
não
têm
já
na
sua
base
comportamentos
ilícitos
e
culposos
do
empregador.
Atualizar
alínea
d)
-‐
lei
14/2018,
18
de
Março
Destarte,
a
falta
de
pagamento
pontual
da
retribuição
perfila-‐se
(artigo
394º
CT)
quer
como
justa
causa
subjetiva
(nº2,
alínea
a)),
quer
como
justa
causa
objetiva
de
demissão
(nº3,
alínea
c)),
consoante
exista
ou
não
culpa
do
empregador
no
incumprimento.
Acrescente-‐se
que
o
artigo
394º,
nº4
CT
manda
interpretar
o
conceito
de
justa
causa
na
resolução,
com
as
devidas
adaptações,
no
sentido
de
justa
causa
no
despedimento
(artigo
351º
CT).
Assim,
nem
todo
o
comportamento
ilícito
e
culposo
constituirá,
necessariamente,
justa
causa
para
resolução
do
contrato,
devendo
atender-‐se
ao
grau
de
lesão
dos
interesses
do
trabalhador,
ao
caráter
das
relações
entre
as
partes,
etc..
Se
a
justa
causa
de
despedimento
se
circunscreve
hoje
ao
domínio
disciplinar,
já
a
justa
causa
de
demissão
abrange
um
espectro
de
situações
bastante
mais
diversificado,
incluindo
até
razões
de
todo
em
todo
alheias
ao
empregador
(artigo
394º,
nº3,
alínea
a)
CT),
o
que
recomenda
alguma
prudência
ao
interprete-‐aplicador
do
direito,
evitando
a
adoção
de
conceções
infundadamente
paritárias
nesta
matéria.
Mesmo
no
tocante
à
justa
causa
subjetiva,
convém
não
esquecer
que
o
despedimento
consistiu
apenas
uma
das
várias
sanções
disciplinares
ao
dispor
do
empregador,
ao
passo
que
o
trabalhador
não
dispõe,
em
regra,
de
outros
mecanismos
de
autotutela
para
além
da
resolução
contratual.
Todas
estas
circunstâncias
não
poderão
deixar
de
revelar
em
sede
de
apreciação
da
existência
ou
não
de
justa
causa
de
resolução
do
contrato
pelo
trabalhador,
aferida
em
termos
de
inexigibilidade
de
manutenção
do
vínculo
laboral.
II.
Procedimento
para
resolução
do
contrato
Não
é
indispensável
proceder
a
uma
descrição
circunstanciada
dos
factos,
bastando
uma
indicação
sucinta
dos
mesmos,
de
modo
a
permitir,
se
necessário,
a
apreciação
judicial
da
justa
causa
invocada
pelo
trabalhador.
Quanto
ao
prazo,
a
lei
determina
que
a
comunicação
da
resolução
deverá
ser
feita
nos
30
dias
subsequentes
ao
conhecimento
dos
factos
consubstanciadores
da
justa
causa.
Ou
seja,
perante
um
comportamento
do
empregador
constitutivo
de
justa
causa
de
resolução
do
contrato
pelo
trabalhador,
este
deverá
atuar
no
prazo
de
30
dias,
sob
pena
de
caducidade.
Este
prazo
de
caducidade
poderá
funcionar,
sem
dificuldades
de
maior,
para
as
infrações
de
tipo
instantâneo
(aplicação
de
uma
sanção
abusiva),
caso
em
que
a
resolução
deverá
ser
comunicada
ao
empregador
no
prazo
de
30
dias.
Há,
porém,
muitos
casos
de
violações
contratuais
continuadas,
as
quais
exprimem
um
incumprimento
patronal
que,
por
vezes,
a
passagem
do
tempo
só
torna
ainda
mais
grave
(falta
de
condições
de
segurança
e
saúde
no
trabalho)
-‐
neste
tipo
de
casos,
enquanto
se
mantiver
o
incumprimento
patronal,
não
poderá
correr
o
prazo
de
caducidade
da
faculdade
de
o
trabalhador
resolver,
com
justa
causa,
o
respetivo
contrato.
Em
matéria
de
falta
de
pagamento
da
retribuição
(artigo
394º,
nº5
CT),
o
prazo
para
resolução
conta-‐se
a
partir
do
termo
do
período
de
60
dias
ou
da
declaração
do
empregador
(artigo
395º,
nº2
CT),
ou
seja,
nestes
casos
parece
que
o
trabalhador
terá
de
resolver
o
contrato
algures
entre
o
61º
dia
e
o
90º
dia
de
mora
patronal,
sob
pena
de
esta
faculdade
caducar.
Quando
a
justa
casa
de
resolução
contratual
não
se
analisar
num
qualquer
comportamento
do
empregador,
mas
sim
numa
circunstância
atinente
à
esfera
do
próprio
trabalhador,
a
lei
determina
que
este
deverá
notificar
aquele
logo
que
possível
(artigo
395º
CT).
O
desrespeito
das
exigências
formuladas
no
artigo
395º
CT
virá
a
determinar
a
ilicitude/
irregularidade
da
resolução,
que
não
a
invalidade/
ineficácia.
Contudo
o
trabalhador
poderá
ainda
suprir
algumas
daquelas
lacunas
(artigo
398º,
nº4
CT).
III.
Indemnização
devida
ao
trabalhador
Verificando-‐se
a
resolução
do
contrato
por
iniciativa
do
trabalhador,
com
base
na
chamada
justa
causa
subjetiva,
aquele
terá
direito
a
uma
indemnização
(artigo
396º
CT).
Atualizar
artigo
396º,
nº5
CT
-‐
a
resolução
do
contrato
de
trabalho
pela
alínea
d)
do
artigo
394º,
nº3
CT
dá
direito
a
indemnização
(embora
em
termos
distintos
daqueles
previstos
no
artigo
396º,
nº1
CT)
IV.
Indemnização
a
pagar
pelo
trabalhador
Caberá
ao
trabalhador
fazer
a
prova
dos
factos
constitutivos
da
justa
causa
de
resolução
do
contrato
(artigo
342º
CT).
Não
se
provando
tal
justa
causa,
a
resolução
contratual
será
considerada
ilícita,
conferindo
ao
empregador
o
direito
a
uma
indemnização
pelos
prejuízos
causados
(artigo
399º
CT).
A
justa
causa
de
resolução
por
iniciativa
do
trabalhador
não
se
analisa
numa
condição
de
validade
da
mesma,
isto
é,
ainda
que
irregular
a
resolução
do
contrato
pelo
trabalhador
não
será
invalidada,
pelo
que
não
se
coloca
o
problema
da
eventual
reconstituição
da
relação
laboral
por
força
de
uma
qualquer
decisão
judicial
que
declare
a
ilicitude
da
resolução.
Se
o
dever
de
indemnizar
a
contraparte,
em
caso
de
resolução
contratual
ilícita
por
iniciativa
do
trabalhador,
não
sofre
contestação,
já
os
termos
da
remissão
efetuada
pelo
artigo
399º
CT
para
o
artigo
401º
CT
suscitam
alguma
perplexidade.
Afigura-‐se
lógico
proceder
à
equiparação
das
duas
hipóteses,
no
que
toca
ao
quantum
da
indemnização
se
o
trabalhador
resolver
o
contrato,
invocando
justa
causa,
mas
esta
não
se
provar,
ou
se
o
trabalhador
denunciar
o
contrato,
independentemente
de
justa
causa,
mas
sem
pré-‐avisar
o
empregador,
em
qualquer
destas
hipóteses
estaremos
perante
uma
ruptura
contratual
ilícita/irregular,
parecendo
que
a
indemnização
a
pagar
ao
empregador
deverá
ser
calculada
nos
mesmos
moldes.
A
lei
sugere
que
a
indemnização
calculada
ao
abrigo
do
artigo
399º
CT
poderá
ser
superior
à
calculada
com
base
no
artigo
401º
CT.
C.
O
abandono
do
trabalho
O
abandono
do
trabalho
surge
como
uma
hipóteses
de
ruptura
ilícita/
irregular
do
contrato
por
iniciativa
do
trabalhador.
O
abandono
do
trabalho
traduz-‐se
numa
rescisão
contratual
tácita
pelo
trabalhador,
o
qual
promove
a
dissolução
do
vínculo
sem
invocar
qualquer
justa
causa
para
o
efeito
e
sem
respeitar
o
competente
aviso
prévio.
Os
elementos
constitutivos
do
abandono
do
trabalho
são
dois:
i)
ausência
do
trabalhador
do
serviço
ii)
acompanhada
de
factos
reveladores
da
intenção
de
o
não
retomar.
Significa
isto
que
nem
toda
a
ausência
do
trabalhador,
mesmo
que
injustificada,
equivale
a
um
abandono
do
trabalho.
A
ausência
ao
serviço
corresponde
ao
elemento
objetivo
do
abandono,
ao
qual
terá
de
unir-‐se
o
elemento
subjetivo,
o
animus
extintivo
por
parte
do
trabalhador.
Por
seu
turno,
este
animus
extrair-‐se-‐á
de
factos
concludentes,
que
revelem
a
vontade
de
o
trabalhador
dissolver
o
contrato.
O
artigo
403º,
nº2
CT
estabelece
uma
presunção
juris
tantum
de
abandono
do
trabalho,
sendo
que
esta
mesma
presunção
pode
ser
ilidida
nos
termos
do
artigo
403º,
nº4
CT.
Valendo
o
abandono
como
cessação
irregular
(sem
justa
causa
e
sem
aviso
prévio)
do
contrato
por
iniciativa
do
trabalhador,
compreende-‐se
que
este
deva
indemnizar
o
empregador
pelos
prejuízos
causados
(artigo
403º,
nº5
CT).
O
nº3
do
artigo
403º
CT
traduz-‐se
na
comunicação
por
parte
do
empregador
para
dar
eficácia
da
dissolução
contratual
por
abandono.
Por
isso,
se
o
trabalhador
regressar
ao
serviço
ou
comunicar
a
ausência
antes
do
envio
da
comunicação
pelo
empregador,
então
o
contrato
deixará
de
poder
cessar
por
via
do
abandono
do
trabalho.
O
efeito
extintivo
do
abandono
só
se
verifica
se
e
quando
o
empregador
constatar
o
mesmo,
isto
é,
se
e
quando
ele
comunicar
ao
trabalhador
a
cessação,
por
carta
registada
e
aviso
de
receção.
Direito
coletivo
do
trabalho
-‐
sujeitos
coletivos
de
trabalho
O
princípio
fundamental
do
ordenamento
jurídico
laboral
é
o
princípio
da
segurança
no
emprego
(artigo
53º
CRP),
sendo
que
os
artigos
seguintes
da
Constituição
se
referem
a
estruturas
representativas
de
trabalhadores
(sindicatos
e
comissões
de
trabalhadores).
O
artigo
54º
CRP
refere-‐se
às
comissões
de
trabalhadores,
o
artigo
56º
fala
das
associações
sindicais
e,
entre
eles,
o
artigo
55º
refere-‐se
à
liberdade
sindical.
A
nível
coletivo
estabelece-‐se
que
o
conjunto
dos
trabalhadores
é
livre
de
constituir
ou
não
um
sindicato,
regular
o
seu
funcionamento
da
forma
que
entender
adequada,
eleger
ou
destituir
os
seus
dirigentes,
participar
nas
uniões
e
delimitar
as
formas
e
fins
da
ação
coletiva.
A
Constituição
refere-‐a
como
compreendendo
a
liberdade
de
constituição
de
associações
sindicais
a
todos
os
níveis
(artigo
55º,
nº2,
alínea
a)
CRP),
a
liberdade
de
organização
e
regulamentação
interna
(artigo
55º,
nº2,
alínea
c)
CRP),
o
direito
de
exercício
da
atividade
sindical
na
empresa
(artigo
55º,
nº2,
alínea
d)
CRP)
e
o
direito
de
tendência
(artigo
55º,
nº2,
alínea
e)
CRP).
à
O
direito
do
exercício
da
atividade
sindical
na
empresa,
artigo
55º,
nº2,
alínea
d)
CRP,
garante
aos
trabalhadores,
sem
qualquer
discriminação
o
direito
de
exercício
de
atividade
sindical
na
empresa;
o
artigo
460º
CT
executa
esta
disposição.
O
direito
de
exercício
de
atividade
sindical
na
empresa
implica
assim
o
direito
de
os
respetivos
trabalhadores
sindicalizados
nela
exercerem
a
respetiva
atividade.
Para
esse
efeito,
o
conjunto
de
trabalhadores
de
uma
empresa
ou
estabelecimento
filiados
no
mesmo
sindicato
constitui
o
que
se
denomina
de
secção
sindical
de
empresa
(artigo
442º,
nº1,
alínea
e)
CT),
funcionando
como
a
estrutura
de
base
o
sindicato
ao
nível
da
empresa.
A
representação
do
sindicato
na
empresa
é,
no
entanto,
assegurada
através
de
representantes
próprios,
os
delegados
sindicais,
os
quais
são
eleitos
e
destituídos
nos
termos
dos
estatutos
dos
respetivos
sindicatos,
em
escrutínio
direto
e
secreto
(artigo
462º,
nº1
CT),
sendo
que
por
norma
essa
eleição
é
realizada
pela
secção
sindical
da
empresa.
A
organização
dos
delegados
sindicais
do
mesmo
sindicato
na
empresa
ou
estabelecimento
constitui
a
comissão
sindical
da
empresa
(artigo
442º,
nº1,
alínea
g)
CT),
a
qual
pode
ser
constituída
por
decisão
dos
delegados
sindicais
(artigo
462º,
nº3
CT).
A
lei
reconhece
vários
direitos
aos
trabalhadores
sindicalizados
e
respetivos
representantes,
os
quais
são,
no
entanto,
limitados
a
um
número
máximo
de
delegados
sindicais,
consoante
a
dimensão
da
empresa,
nos
termos
do
artigo
463º
CT.
Entre
esses
direitos,
relevam
os
seguintes:
a)
Direito
de
reunião
(artigo
461º
CT);
b)
Direito
a
instalações
(artigo
464º,
nº1
CT);
c)
Direito
de
afixação
e
informação
sindical
(artigo
465º
CT);
d)
Direito
à
informação
e
consulta
(artigos
466º,
nº2
e
3
e
427º,
nº1,
2
e
7CT);
e)
Crédito
de
horas
(artigos
408º,
467º
e
468º
CT)
e
direito
a
faltar
justificadamente
(artigos
409º
e
468º,
nº5
CT);
f)
Direito
de
exercício
das
funções
em
caso
de
redução
do
período
normal
de
trabalho
ou
suspensão
do
contrato
(artigo
308º
CT);
g)
Proteção
em
caso
de
procedimento
disciplinar
e
despedimento
(artigos
410º,
nº1,
3,
4,
5
e
6
e
392º,
nº3
CT)
;
h)
Proteção
em
caso
de
transferência
do
local
de
trabalho
(artigo
411º
CT).
à
O
direito
de
tendência
é
reconhecido
pelos
artigos
55º,
nº2,
alínea
e)
CRP
e
450º,
nº2
CT.
O
direito
de
tendência
pressupõe
a
agregação
de
diferentes
correntes
de
opinião
no
âmbito
do
sindicato,
sendo
a
garantia
da
possibilidade
de
expressão
das
correntes
minoritárias
que,
de
outra
forma,
ver-‐se-‐iam
obrigadas
a
provocar
uma
cisão
ou
a
constituição
de
sindicatos
paralelos
-‐
assegura-‐se
o
pluralismos
a
nível
do
próprio
sindicato.
V.
Atribuições
das
associações
sindicais
Nos
termos
dos
artigos
56º
CRP
e
477º
CT,
para
defesa
dos
direitos
e
interesses
dos
trabalhadores
que
representam,
são
reconhecidas
às
associações
sindicais
as
seguintes
atribuições:
a)
Negociar
e
celebrar
convenções
coletivas
de
trabalho
-‐
constitui
uma
garantia
legal,
nos
termos
do
artigo
56º,
nº2
CRP.
A
contratação
coletiva
constitui
um
monopólio
sindical,
já
que
apenas
os
representantes
dos
sindicatos
as
podem
outorgar
(artigo
443º,
nº1,
alínea
a)
CT);
admite-‐se,
excecionalmente,
no
artigo
491º,
nº3
CT,
que
o
sindicato
possa
delegar
estes
poderes
a
comissões
de
trabalhadores
(e
a
outros
sindicatos);
b)
Prestar
serviços
de
caráter
económico
e
social
aos
seus
associados;
c)
Participar
na
elaboração
da
legislação
do
trabalho;
d)
Iniciar
e
intervir
em
processos
judiciais
e
em
procedimentos
administrativos
quanto
a
interesses
dos
seus
associados,
nos
termos
da
lei
-‐
para
esse
efeito,
é-‐lhes
atribuída
capacidade
judiciária
ativa
e
passiva
(artigo
2º-‐A
CPT)
e
legitimidade
processual
(artigo
5º
CPT);
e)
Participar
nos
processos
de
reestruturação
da
empresa,
especialmente
no
respeitante
a
ações
de
formação
ou
quando
ocorra
alteração
das
condições
de
trabalho
(artigo
443º,
nº2
CT);
f)
Estabelecer
relações
ou
filiar-‐se
em
organizações
internacionais
(artigo
443º,
nº1,
alínea
e)
CT);
g)
Declarar
a
greve
(artigo
531º,
nº1
CT)
-‐
esta
competência
é
quase
exclusiva,
atentos
os
apertados
requisitos
de
que
depende
a
sua
declaração
pelas
assembleias
de
trabalhadores
(artigo
532º,
nº2
CT).
VI.
Constituição,
estatutos
e
regulamentos
das
associações
sindicais
Como
vimos,
um
dos
elementos
da
liberdade
sindical
consiste
na
faculdade
que
é
atribuída
aos
trabalhadores
de
constituírem
sindicatos.
Daqui
resulta
que
não
seja
exigível
qualquer
número
mínimo
de
associados
ou
uma
percentagem
de
presença
na
assembleia
constituinte
relativamente
ao
número
de
trabalhadores
que
o
sindicato
pretende
representar
-‐
exigem-‐se
duas
deliberações
da
assembleia
constituinte,
uma
relativa
à
constituição
do
sindicato
e
outra
relativa
à
aprovação
dos
seus
estatutos.
O
artigo
450º,
nº1
CT
estabelece
um
conteúdo
obrigatório
para
os
estatutos
da
associação
sindical.
Além
disso,
o
sindicato
só
adquire
personalidade
jurídica
com
o
registo
dos
estatutos
no
Ministério
do
Trabalho
-‐
artigo
447º,
nº1
CT;
não
obstante
isto,
o
Ministério
do
Trabalho
não
pode
exercer
qualquer
controle
de
legalidade
dos
estatutos,
estando
este
reservado
aos
tribunais
(artigo
447º,
nº8
CT).
Além
dos
estatutos,
o
sindicato
pode
aprovar
regulamentos
(artigo
445º
CT),
os
quais
terão
que
ser
conformes
com
a
lei
e
com
os
próprios
estatutos.
B.
As
comissões
de
trabalhadores
I.
Generalidades
As
comissões
de
trabalhadores
constituem
outro
sujeito
das
relações
coletivas
de
trabalho
e
são
uma
estrutura
representativa
dos
trabalhadores
ao
nível
da
empresa,
para
defesa
dos
seus
interesses
e
intervenção
democrática
na
vida
da
mesma
(artigos
54º,
nº1
CRP
e
415º
e
ss.
CT).
A
comissão
de
trabalhadores
goza
de
personalidade
jurídica,
adquirida
pelo
registo
dos
seus
estatutos
no
ministério
responsável
pela
área
laboral
(artigo
416º,
nº1
CT).
Posto
isto,
não
pode
ser
considerada
como
um
órgão
da
empresa,
mas
antes
como
uma
estrutura
representativa
dos
seus
trabalhadores,
não
podendo
ser
financiada
pelos
empregadores
para
assegurar
a
sua
independência
-‐
artigo
405º,
nº2
CT.
As
comissões
de
trabalhadores
tiveram
inicialmente
uma
função
complementar
à
intervenção
das
associações
sindicais
na
área
da
empresa.
No
entanto,
o
atual
enfraquecimento
dos
sindicatos
e
o
crescente
individualismo
dos
trabalhadores,
mais
preocupados
com
a
situação
da
sua
empresa
do
que
com
a
sua
categoria
profissional,
poderá
aumentar
a
sua
importância.
Atente-‐se
ao
causa
da
Autoeuropa,
onde
se
tem
verificado
a
celebração
de
convenções
coletivas
de
trabalho
atípicas
por
parte
de
comissões
de
trabalhadores,
situação
que
o
legislador
veio
posteriormente
a
acautelar
através
do
artigo
491º,
nº3
CT
(justificou-‐se
a
alteração
legal,
uma
vez
que
a
Autoeuropa
representa
uma
grande
percentagem
do
PIB
nacional).
II.
Constituição
e
composição
das
comissões
de
trabalhadores,
subcomissões
e
comissões
coordenadoras
A
constituição
da
comissão
de
trabalhadores
é
um
direito
reconhecido
aos
trabalhadores
da
empresa
por
via
do
artigo
54º,
nº1
CRP.
O
artigo
415º,
nº1
CT
consagra,
porém,
o
princípio
da
unicidade,
ao
estabelecer
que
em
cada
empresa
apenas
pode
ser
constituída
uma
comissão
de
trabalhadores.
Vem
o
artigo
417º,
nº1
CT
estabelecer
um
número
máximo
de
membros
da
comissão
de
trabalhadores,
variando
este
consoante
a
dimensão
da
empresa.
Apenas
no
caso
de
haver
vários
estabelecimentos
geograficamente
dispersos
da
empresa
é
que
é
possível
constituir
subcomissões
de
trabalhadores
(artigo
415º,
nº2
CT);
o
artigo
417º,
nos
2
e
3CT
estabelece
um
número
máximo
de
membros
da
subcomissão
de
trabalhadores,
variando
este
consoante
a
dimensão
da
empresa.
Para
além
disso,
podem
ser
criadas
comissões
coordenadoras,
as
quais
visam
intervir
na
reestruturação
económica
da
empresa
e
na
articulação
das
atividades
das
comissões
de
trabalhadores
constituídas
nas
empresas
em
relação
de
domínio
ou
de
grupo,
visando
ainda
o
exercício
de
quaisquer
outros
direitos
legalmente
previstos
(artigos
54º,
nº3
CRP
e
415º,
nº4
CT).
O
artigo
417º,
nº3
CT
estabelecer
o
número
de
membros
que
a
comissão
coordenadora
pode
ter.
A
comissão
de
trabalhadores
é
constituída
em
cada
empresa
pelo
plenário
dos
trabalhadores,
onde
são
aprovados
os
respetivos
estatutos
e
demais
representantes,
bem
como
são
eleitos
(por
voto
direito
e
secreto
-‐
artigo
433º
CT)
os
membros
da
comissão
(artigos
54º,
nº2
CRP
e
430º,
nº1
CT).
Esse
plenário
é
convocado
com
a
antecedência
mínima
de
15
dias
por,
pelo
menos,
100
ou
20%
dos
trabalhadores
da
empresa
(artigo
430º,
nº3
CT).
III.
Atribuições
das
comissões
de
trabalhadores
As
atribuições
das
comissões
de
trabalhadores
encontram-‐se
no
artigo
54º,
nº5
CRP,
regulamentado
pelos
artigos
423º
e
ss.
CT
e
correspondem
ao
seguinte:
a)
Receber
todas
as
informações
necessárias
no
exercício
da
sua
atividade
(artigos
54º,
nº5,
alínea
a)
CRP
e
423º,
nº1,
alínea
a)
CT)
-‐
este
direito
possui
duas
vertentes,
devendo
distinguir-‐se
entre
o
direito
à
informação
(artigos
424º
e
427º,
nº1
e
2
CT)
e
o
direito
à
emissão
de
parecer
prévio
de
cariz
não
vinculativo,
relativamente
ao
exercício
de
certos
poderes
do
empregador
ou
de
decisão
de
gestão
mais
relevantes
(artigo
425º
CT);
b)
Exercer
o
controlo
de
gestão
nas
empresas
(artigos
54º,
nº5,
alínea
b)
CRP
e
423º,
nº1,
alínea
b)
CT)
-‐
este
poder
está
excluído
em
atividades
sensíveis
(artigo
426º,
nº3
CT).
No
artigo
426º
CT
a
lei
atribui
à
comissão
poderes
de
fiscalização,
promoção,
aconselhamento
e
defesa
dos
seus
interesses;
c)
Participar
nos
processos
de
reestruturação
da
empresa,
especialmente
no
tocante
a
ações
de
formação
ou
quando
ocorra
alteração
das
condições
de
trabalho
(artigos
54º,
nº5,
alínea
c)
CRP
e
423º,
nº1,
alínea
c)
CT)
-‐
este
direito
é
concretizado
no
artigo
429º,
nº2
CT;
d)
Participar
na
elaboração
da
legislação
do
trabalho
e
dos
planos
económico-‐sociais
que
comtemplem
o
respetivo
setor
(artigos
54º,
nº5,
alínea
d)
CRP
e
423º,
nº1,
alínea
d)
CT)
-‐
relevam,
nesta
matéria,
os
artigos
469º
e
ss.
CT,
em
especial
os
artigos
470º
e
474º
CT;
e)
Gerir
ou
participar
na
gestão
das
obras
sociais
da
empresa
(artigos
54º,
nº5,
alínea
e)
CRP
e
423º,
nº1,
alínea
e)
CT)
-‐
o
conteúdo
desta
obrigação
não
se
encontra
legalmente
concretizado;
f)
Promover
a
eleição
dos
representantes
dos
trabalhadores
para
os
órgãos
sociais
de
empresas
pertencentes
ao
Estado
e
a
outras
entidades
públicas,
nos
termos
da
lei
(artigos
54º,
nº5,
alínea
f)
CRP
e
423º,
nº1,
alínea
f)
CT)
-‐
corresponde
à
figura
da
cogestão,
apenas
prevista
para
os
órgãos
das
entidades
públicas
empresariais
(artigo
428º
CT);
g)
Outras
(artigos
144º,
nº1;
212,
nº3;
217,
nº2;
213,
nº3;
241º,
nº2;
156º,
nº2,
alínea
b);
231º,
nº7;
353º,
nº2;
299º
e
300º;
360º,
nº1
e
361º
CT
e
72º,
nº6
CIRE).
IV.
Proteção
dos
membros
das
comissões
de
trabalhadores
O
artigo
54º,
nº4
CRP
estabelece
que
os
membros
das
comissões
de
trabalhadores
beneficiam
da
proteção
legal
conferida
aos
delegados
sindicais.
Assim,
são-‐lhes
igualmente
atribuídos
o
direito
ao
crédito
de
horas
(artigos
408º
e
424º
CT),
o
direito
a
faltar
justificadamente
(artigo
409º
CT),
a
não
afetação
das
suas
funções
em
caso
de
redução
do
período
normal
de
trabalho
ou
suspensão
do
contrato
(artigo
308º
CT),
a
proteção
em
caso
de
procedimento
disciplinar
e
despedimento
(artigo
410º
CT)
e
a
proteção
em
caso
de
transferência
do
local
de
trabalho
(artigo
411º
CT).
Todavia,
vem
o
artigo
414º,
nº1
CT
estabelecer
que
o
membro
da
comissão
de
trabalhadores
não
pode,
através
do
exercício
dos
seus
direitos
ou
do
desempenho
das
suas
funções,
prejudicar
o
normal
funcionamento
da
empresa,
sob
pena
de
incorrer
em
responsabilidade
disciplinar,
civil
ou
criminal,
nos
termos
gerais
(artigo
414º,
nº2
CT).
O
direito
à
greve
I.
Conceito
de
greve
Na
greve
(artigo
57º
CRP)
é
o
trabalhador
que
se
recusa
a
prestar
trabalho,
já
no
lockout
é
o
empregador
a
impedir
a
prestação
de
trabalho
(o
lockout
é
proibido
-‐
nº4).
O
facto
do
artigo
57º
CRP,
que
consagra
o
direito
à
greve,
ter
uma
natureza
fundamental
–
estando
concretamente
inserido
nos
direitos,
liberdades
e
garantias
–
tem
muita
importância,
uma
vez
que,
desta
forma,
beneficia
de
um
regime
de
proteção
muito
privilegiado
que
consta
do
artigo
18º
CRP
(princípio
da
concordância
prática).
A
lei
não
nos
dá
uma
noção
de
greve
–
artigos
530º
e
ss.
CT
–
mas
é-‐nos
possível
assumir
que
o
modelo
português
de
greve
corresponde
à
conceção
clássica.
Assim,
a
greve
é
um
direito
dos
trabalhadores,
sindicalizados
ou
não,
competindo-‐lhes
definir
o
âmbito
dos
interesses
que
querem
defender
(artigo
57º,
nº2
CRP)
e
sendo
irrenunciável.
O
facto
de
haver
essa
proibição
constitucional
(artigo
57º,
nº2
CT)
no
sentido
da
limitação
dos
motivos
admissíveis
para
fazer
greve
poderá
estar
na
origem
da
inexistência
de
noção
legal,
uma
vez
que
definir
greve
implicaria
referir
o
elemento
finalístico,
o
que
poderia
redundar
em
limitá-‐lo
(vedado
pela
Lei
Fundamental
à
lei
ordinária).
Apesar
da
não
consagração
legal
da
noção
de
greve
e
de
haver
várias
modalidades
desta,
é
pacífico
entre
a
doutrina
que
a
omissão
do
legislador
resulta
na
adoção
da
noção
clássica
deste
fenómeno.
Assim,
a
greve
é
uma
suspensão
coletiva
e
concertada
da
prestação
de
trabalho
por
um
grupo
de
trabalhadores,
tendo
em
vista
exercer
pressão
no
sentido
da
obtenção
de
uma
finalidade
ou
objetivo
comum.
Para
além
disso,
trata-‐se
uma
abstenção
da
prestação
de
trabalho
por
parte
do
trabalhador,
que
tem
que
ser
total
nos
elementos
que
a
constituem.
Daqui
se
retira
que
não
há
greve
em
sentido
jurídico
se
não
se
verificar
uma
completa
cessação
de
trabalho,
ou
seja,
não
é
viável
realizar
uma
“meia
greve”
e
aspirar
à
tutela
do
direito
de
greve.
Os
interesses
a
defender
com
a
greve
não
se
reduzem
aos
interesses
meramente
profissionais,
não
têm
que
respeitar
à
relação
de
trabalho
(salários,
carreira
profissional,
etc.).
Apenas
deverá
tratar-‐se
de
interesses
próprios
dos
trabalhadores
enquanto
tais,
no
sentido
de
que
a
situação
que
se
pretende
ver
alterada
ou
mantida
tem
que
afetar
a
sua
condição
de
trabalhador
assalariado.
O
âmbito
de
interesses
é,
pois,
mais
amplo
do
que
o
pressuposto
na
noção
clássica
de
greve,
sendo
esta
hoje
entendida,
em
termos
praticamente
pacíficos,
como
instrumento
de
autotutela
dos
trabalhadores
perante
quaisquer
instâncias
que
adotem
decisões
suscetíveis
de
os
afetar.
Há
ainda
que
atender
às
consequências
da
greve
nas
relações
do
empregador
com
terceiros.
Ou
seja,
é
necessário
perceber
quais
os
efeitos
inerentes
ao
facto
da
greve
inviabilizar
o
cumprimento
de
obrigações
do
empregador
para
com
terceiros.
Há
quem
sustente
que
se
está
perante
um
caso
de
impossibilidade
da
prestação
por
causa
não
imutável
ao
devedor
-‐
artigo
790º
CC.
Assim,
sendo
terceiro
(trabalhadores)
que,
ao
fazerem
greve,
obstam
ao
cumprimento,
a
responsabilidade
do
devedor
(empregador)
seria
excluída.
No
entanto,
não
parece
ser
de
aceitar
esta
solução:
a
greve
deve
ser
considerada
um
facto
normal,
assimilada
aos
riscos
da
empresa,
devendo
os
empregadores
suportar
esses
riscos.
A
questão
deve,
por
isso,
ser
resolvida
segundo
as
regras
obrigacionais
do
risco,
pelo
que
se
aplica
aqui
a
presunção
de
culpa
do
devedor
prevista
no
artigo
799º,
nº1
CC
-‐
a
greve
não
exclui
esta
presunção
porque,
integrando-‐se
os
trabalhadores
na
estrutura
empresarial,
essa
integração
obsta
a
que
os
seus
atos
excluam
a
responsabilidade
do
empregador.
Assim,
se
o
empregado
não
cumpre
perante
o
cliente
em
virtude
de
greve,
será
responsabilizado.
VI.
Limites
da
greve
-‐
em
especial,
a
obrigação
de
serviços
mínimos
Os
artigos
537º
e
538º
CT
concretizam
o
artigo
57º,
nº3
CRP:
os
limites
do
direito
à
greve
são,
essencialmente,
os
designados
serviços
mínimos.
Só
há
serviços
mínimos
quando
a
greve
afete
aqueles
serviços
que
satisfaçam
necessidades
impreteríveis:
o
direito
à
greve
é
um
direito
fundamental,
irrenunciável
e
que
tem
que
ser
salvaguardado,
no
entanto,
é
perceptível
que
este
seja
limitado
ou
sacrificado
quando
outros
direitos
hierarquicamente
superiores
sejam
colocados
em
causa
(exigência
do
princípio
da
concordância
prática
-‐
artigo
18º,
nº2
CRP;
artigo
335º
CC).
O
artigo
537º
CT
diz-‐nos
quais
os
serviços
que
se
consideram
como
de
satisfação
de
necessidades
sociais
impreteríveis
-‐
esses
serviços
serão
aqueles
cuja
paralisação
total
ponha
em
perigo
no
imediato
a
satisfação
de
necessidades
essenciais
da
coletividade
-‐
e
impõe
que,
nas
empresas
ou
estabelecimentos
destinados
à
satisfação
dessas
necessidades,
os
sindicatos
e
os
trabalhadores
assegurem
a
prestação
de
serviços
mínimos.
Para
que
haja
serviços
mínimos
não
bastará,
contudo,
que
a
greve
se
verifique
numa
empresa
que
preste
serviços
para
satisfação
de
necessidades
sociais
impreteríveis,
sendo
necessário
perceber
se
aquela
função
em
específico
afetará
essas
mesmas
necessidades
-‐
por
exemplo:
se
a
contabilidade
de
um
hospital
fizer
greve,
não
terá
que
garantir
serviços
mínimos,
ainda
que
se
insira
na
alínea
b)
do
nº2
do
artigo
537º
CT.
O
mesmo
artigo
537º
CT
sobrepõe
o
interesse
geral
da
comunidade
aos
interesses
privados
de
um
grupo
de
trabalhadores.
No
entanto,
o
direito
à
greve
só
deve
ser
sacrificado
no
mínimo
indispensável
e
tem
de
concluir-‐se
ser
esse
o
único
meio
de
satisfazer
as
necessidades
de
interesse
e
ordem
pública
que
subjazem
aos
limites
que
lhe
são
assinalados.
Diz-‐nos
o
artigo
538º,
nº5
CT
que
se
devem
respeitar
os
princípios
da
necessidade,
da
adequação
e
da
proporcionalidade.
É,
em
primeiro
lugar,
necessário
atender
às
necessidades
impreteríveis
que
poderão
ficar
por
satisfazer
com
aquela
greve:
se
houver
meios
alternativos
(por
exemplo:
o
empregador
recorrer
a
trabalhadores
não
grevistas),
não
é
necessário
destinar
tantos
trabalhadores
à
prestação
de
serviços
mínimos.
O
processo
de
definição
dos
serviços
mínimos
no
CT
-‐
artigos
537º
e
538º
-‐
decorre,
desde
logo,
da
necessidade
de
respeitar
o
artigo
57º,
nº3
CRP.
O
artigo
538º,
nº1
CT
dispõe
que
os
serviços
mínimos
dever
ser
definidos
por
IRCT
ou
acordo
entre
os
representantes
dos
trabalhadores
e
os
empregadores
abrangidos,
acrescentando
o
nº2
que
se
não
houver
acordo
anterior
ao
pré-‐aviso
de
greve,
os
representantes
dos
trabalhados
e
dos
empregadores
serão
convocados
pelo
ministério
responsável
pela
área
laboral,
tendo
em
vista
a
negociação
de
um
acordo.
Na
falta
desse
acordo
no
3
dias
posteriores
ao
pré-‐aviso
(prazo
de
10
dias
nos
termos
do
nº1
do
artigo
534º
CT),
a
definição
daqueles
serviços
e
dos
meios
para
os
assegurar
é
estabelecida
nos
termos
do
nº4,
alínea
a)
ou
do
nº4,
alínea
b).
Definidos
os
serviços
mínimos,
é
necessário
vir
o
sindicato
designar
quais
os
trabalhadores
que
terão
que
os
assegurar,
informando
o
empregador
até
24horas
antes
do
início
da
greve
–
artigo
538º,
nº7
CT.
Poderá
o
empregador
fazer
esta
designação
se
o
sindicato
assim
não
o
fizer
–
artigo
538º,
nº7,
2ª
parte
CT.
Isto
significa
que
o
trabalhador
que
queira
fazer
greve
mas
for
designado
para
prestar
serviços
mínimos
não
o
poderá
fazer.
A
consequência
da
falta
de
trabalhador
convocado
para
serviços
mínimos
é
a
do
artigo
541º,
nº3
CT
-‐
requisição
civil.
Se
determinado
trabalhador
foi
escalonado
para
a
realização
de
serviços
mínimos
e
não
comparece,
o
empregador
não
pode
mover
um
processo
disciplinar.
O
referido
trabalhador
não
deverá
efetivamente
ficar
sujeito
ao
poder
disciplinar
do
empregador,
porque,
sendo
a
obrigação
estabelecida
no
interesse
dos
utentes
ou
do
público
em
geral,
e
não
no
interesse
da
entidade
empregadora,
muitas
dúvidas
se
suscitam
quando
ao
fundamento
de
um
tal
poder
privado
de
punir.
Assim
se
entende
que,
em
tal
caso,
se
admita
uma
intervenção,
não
no
plano
da
relação
privada
de
trabalho,
mas
a
nível
administrativo.
Dado
o
exposto,
o
não
cumprimento
desta
obrigação
apenas
legitima
a
entidade
patronal
a
providenciar,
junto
do
Governo,
a
requisição
civil,
medida
que
é
uma
verdadeira
privação
do
direito
de
greve
e
faz
nascer
um
vínculo
público
entre
o
requisitado
e
o
Estado,
implicando
a
prestação
obrigatória
de
serviços
sob
o
regime
disciplinar
que
a
respetiva
portaria
de
requisição
indicar.
Há
ainda
aquilo
que
se
designa
de
serviços
de
manutenção
e
segurança.
VII.
Ilicitude
da
greve
As
greves
ilícitas
podem
enquadrar-‐se
numa
de
diversas
situações.
Assim,
são
ilícitas:
as
greves
que
prossigam
fins
ilícitos;
as
desencadeadas
em
desrespeito
de
regras
imperativas
ligadas
à
legitimidade
para
a
sua
declaração,
ao
seu
processamento
e
aos
deveres
acessórios
que
durante
a
greve
hajam
de
ser
acatados;
e,
de
um
modo
geral,
as
que
violem
os
respetivos
limites.
Seja
o
vício
de
ordem
material
(greve
ilícita)
seja
formal
(greve
irregular),
as
condutas
dos
trabalhadores
aderentes
ficam
sujeitas
ao
regime
do
artigo
541º
CT
-‐
os
trabalhadores
incorrem
no
regime
de
faltas
injustificadas.
Contudo,
deve
ressalvar-‐se
a
posição
dos
grevistas
de
boa
fé,
isto
é,
a
conduta
dos
trabalhadores
que
não
conheciam
nem
lhes
era
exigível
que
conhecessem
o
vício
não
deve
ser
disciplinarmente
perseguida.
A
greve
ilícita
pode
ainda
gerar
responsabilidade
civil
dos
sindicatos,
por
via
contratual
ou
extracontratual.