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A Escrituração Contábil das Sociedades

Cooperativas
Regime de Competência - Conceito

As receitas/Ingressos e as despesas/dispêndios, devem ser


incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem,
sempre simultaneamente quando se correlacionarem,
independentemente de recebimento ou pagamento.

O Principio da Competência dos Exercícios.

Este principio estabelece que o reconhecimento de


receitas/ingressos e despesas/dispêndios, está identificado com
períodos específicos e associado ao surgimento de fatos geradores
de natureza econômica, legal e institucional, não sendo evento
fundamental para tal reconhecimento o desembolso de caixa ou o
recebimento de numerário.

As despesas/dispêndios do período corrente, incluem o custo dos


produtos vendidos, das mercadorias vendidas ou o custo direto dos
serviços prestados (despesas/dispêndios estes diretamente
associadas às Receita/Ingresso do período.

Desde que a Receita/Ingresso tenha sido reconhecida, todas as


despesas/dispêndios que tenham contribuído para a realização
daquela Receita/Ingresso, independentemente do período de
desembolso, devem ser reconhecidas e confrontadas com as
mesmas.

Data do reconhecimento da Receita/Ingresso

O momento do reconhecimento da Receita/Ingresso de vendas


deve ser, normalmente, o do fornecimento de tais bens ao
comprador.

No caso dos serviços prestados, as Receitas/Ingressos


correspondentes devem ser reconhecidas no período em que
efetivamente os serviços foram executados.

Fonte: Manual de  contabilidade  das sociedades por ações


FIPECAFI (Sérgio de Iudicibus, Eliseu Martins, Ernesto Rubens
Gelbcke) 2† Edição Editora Atlas 1989.

Regime de Caixa - Conceito

No Regime de Caixa, as Receitas são reconhecidas e registradas na


data da entrada de recursos (recebimento de numerários) seja pela
venda de bens ou pela prestação de serviços, e as despesas são
registradas na data da saída de recursos (pagamento).

Em nossa opinião as Sociedades Cooperativas devem escriturar


suas operações com base no "Regime de Competência",
recorremos a legislação para fundamentar nosso trabalho, vejamos:

No RIR/99 (Regulamento do Imposto de Renda) temos:

Art. 251 A pessoa jurídica sujeita a tributação com base no Lucro


Real deve manter escrituração com observância das leis
comerciais e fiscais (Decreto-Lei n† 1.598 de 1977, art. 7†).

Inobservância do Regime de Competência (Seção VIII do


RIR/99)

Art. 273 A Inexatidão quanto ao período de apuração de


escrituração de receita, rendimento, custo ou dedução, ou do
reconhecimento de lucro, somente constitui fundamento para
lançamento de imposto, diferença de imposto, atualização
monetária, quando for o caso, ou multa, se dela resultar.

Nota: No artigo acima fica claro que a Pessoa Jurídica optante


pelo Lucro Real deve escriturar suas operações pelo Regime de
Competência.

Na NBC T 10.8 (Norma Brasileira de Contabilidade Técnica 10.8)


Específica para Sociedades Cooperativas, encontramos:
10.8.1 – DISPOSIÇÕES GERAIS

10.8.1.1 – Esta norma estabelece critérios e procedimentos


específicos de avaliação, de registro das variações patrimoniais e
de estrutura das demonstrações contábeis, e as informações
mínimas a serem incluídas em notas explicativas para as
Entidades Cooperativas, exceto às que operam Plano Privado de
Assistência à Saúde conforme definido em Lei.

10.8.1.2 – Entidades Cooperativas são aquelas que exercem as


atividades na forma de lei específica, por meio de atos
cooperativos, que se traduzem na prestação de serviços diretos aos
seus associados, sem objetivo de lucro, para obterem em comum
melhores resultados para cada um deles em particular. Identificam-
se de acordo com o objeto ou pela natureza das atividades
desenvolvidas por elas, ou por seus associados.

10.8.1.3 – Aplicam-se às Entidades Cooperativas os Princípios


Fundamentais de Contabilidade, as Normas Brasileiras
de Contabilidade, especialmente a NBC T 2 e a NBC T 4, com as
alterações tratadas nos itens 10.8.5.1, 10.8.6.1 e 10.8.7.1, bem
como todas as suas Interpretações e os Comunicados Técnicos
editados pelo Conselho Federal de Contabilidade.

Os princípios fundamentais de contabilidade são:

Da Entidade
Da Continuidade
Da Oportunidade
Do Custo Histórico (original) como base de valor.
Da atualização monetária
Da prudência
Da competência
Do denominador comum monetário.

Fonte: Os princípios fundamentais de Contabilidade, As Normas


Brasileiras de Contabilidade
Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo, 26† Edição
1999.

Nota: Encontramos também na NBC T 10.8 a obrigatoriedade do


Regime de Competência.

Na Legislação do INSS IN 971/2009, encontramos:

Da Base de Cálculo da Contribuição do Segurado Cooperado

Art. 213. A remuneração do segurado contribuinte individual filiado


a cooperativa de trabalho decorre da prestação de serviços por
intermédio da cooperativa, a pessoas físicas ou jurídicas.

Art. 215. As bases de cálculo previstas nos arts. 213 e 214,


observados os limites mínimo e máximo do salário-de-contribuição,
definidos nos §§ 1º e 2º do art. 54, correspondem:
I - à remuneração paga ou creditada aos cooperados em
decorrência de seu trabalho, de acordo com a escrituração contábil
da cooperativa, formalizada conforme disposto no § 5º do art. 47;

Seção I

Das Obrigações

Art. 47. A empresa e a equiparada, sem prejuízo do cumprimento


de outras obrigações acessórias previstas na legislação
previdenciária, estão obrigadas a:

IV - lançar mensalmente em títulos próprios de


sua contabilidade, de forma discriminada, os fatos geradores de
todas as contribuições sociais a cargo da empresa, as contribuições
sociais previdenciárias descontadas dos segurados, as decorrentes
de sub-rogação, as retenções e os totais recolhidos, observado o
disposto nos §§ 5º, 6º e 8º e ressalvado o disposto no § 7º;

§ 5º Os lançamentos de que trata o inciso IV do caput, escriturados


nos Livros Diário e Razão, são exigidos pela fiscalização após 90
(noventa) dias contados da ocorrência dos fatos geradores das
contribuições sociais, devendo:

I - atender ao princípio contábil do regime de competência;

II - registrar, em contas individualizadas, todos os fatos geradores


de contribuições sociais de forma a identificar, clara e
precisamente, as rubricas integrantes e as não-integrantes do
salário-de-contribuição, bem como as contribuições sociais
previdenciárias descontadas dos segurados, as contribuições
sociais a cargo da empresa, os valores retidos de empresas
prestadoras de serviços, os valores pagos a cooperativas de
trabalho e os totais recolhidos, por estabelecimento da empresa,
por obra de construção civil e por tomador de serviços.

§ 6º As exigências previstas no inciso IV do caput e no § 4º não


desobrigam a empresa do cumprimento das demais normas legais
e regulamentares referentes à escrituração contábil.

Nota: Observamos no artigo acima que os fatos geradores das


Contribuições Sociais bem como as descontadas ou retidas dos
segurados devem ser escrituradas no livro Diário e Razão
atendendo ao princípio contábil do Regime de Competência.

Isto posto, ressaltamos que em nossa opinião as Sociedades


Cooperativas devem escriturar suas operações com base
no "Regime de Competência".

De um modo geral a escrituração contábil das sociedades


cooperativas é igual às demais empresas em geral, isto é,
observação aos princípios contábeis, bem como especificamente a
NBC T 10 – 10.8 – 10.8.2 que trata  dos registros contábeis para as
sociedades cooperativas.

Uma das particularidades a serem observadas na escrituração é a


utilização de nomenclatura contábil específica para as operações,
consideradas como “Atos Cooperados” e operações consideradas
“Atos Não Cooperados“, em rubricas contábeis que representam
resultado econômico. A movimentação econômico-financeira,
decorrente do ato cooperado, obrigatoriamente disposto no
estatuto social, são denominados de Ingressos e Dispêndios, e
aquelas decorrentes de atos não cooperados, de Receitas, Custos e
Despesas. Denominam-se ainda Sobras ou Perdas os resultados
obtidos, decorrentes de operações consideradas, de atos
cooperados, e Lucros ou Prejuízos as consideradas de atos não
cooperados.

As sobras ou perdas, apuradas em operações consideradas de Atos


Cooperados, apuradas ao final de cada exercício social e após a
constituição de fundos legais e estatutários, devem ser expostas à
disposição da Assembleia Geral, para deliberação pelos associados
presentes.

Se houver sobras, estas deverão ser rateadas entre os associados,


de acordo com sua produção de bens ou serviços por eles
entregues ou prestados, bem como também em função do volume
de fornecimento de bens de consumo e insumos, dentro do
exercício social, do qual foi apurada a sobra, salvo deliberação em
contrário pela Assembléia Geral.

Se houver perdas no exercício social, e o Fundo de Reservas criado


especificamente para a cobertura  de perdas não for o sufuciente
para a sua cobertura, o saldo remanescente deverá ser rateado
entre os associados, na forma do estatuto social.

Os lucros ou prejuízos, apuradas em operações consideradas de


Atos Não Cooperados, em cada exercício social, não serão
deliberados pelos associados, e sim, se houver lucros, o seu valor
será levado à conta do fundo legal, denominado de Fundo de
Assistência Técnica, Educacional e Social (FATES).

Se houver perdas no resultado de operações consideradas de atos


não cooperados, o seu valor será levado ao fundo legal,
denominado de Reserva Legal, e se esta for insufuciente, o seu
saldo remanescente será rateado entre os associados.

Outra particularidade da escritura contábil das sociedades


cooperativas é a criação obrigatória dos fundos legais,
denominados Fundos de Reserva. Esse fundo é calculado em
percentual mínimo de 10% da sobra líquida do exercício, com fins
específicos de cobertura de perdas em exercício, com fins
específicos de cobertura de perdas em exercícios posteriores, e
atender ao desenvolvimento de suas atividades, é indivisível.

Outro fundo legal é o Fates, calculado em percentual mínimo de 5%


da sobra líquida do exercício, destinado à aplicação em assistência
técnica, educacional e social de seus associados e familiares, que
podem ser desenvolvidos através de convênios, também é
indivisível.

Outra particularidade na escrituração contábil das sociedades


cooperativas e a questão do capital social, que é formado por cotas
partes, e que devem ser escrituradas de forma individualizada por
se tratar de sociedade de pessoas. Nestas sociedades a conta
contábil capital social pode ser movimentada pela admissão de
novos sócios, entegralizando quotas partes fixadas em estatuto
social. também pela nova subscrição de quotas partes de
associados já existentes, mediante retenção de produção ou
serviços, ou ainda pela capitalização de sobras ou incorporações de
reservas, exceto as indivisíveis. E também esta conta contábil pode
ser movimentada através da saída do associado mediante
demissão ou exclusão.

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