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Estéticas Literárias no Vestibular

Noções de crítica e análise para auxílio no estudo das obras da Fuvest

Encontro de 3 de outubro

Polidez e política em tempos de transição

Viagens na minha terra

Essas minhas interessantes viagens hão de ser uma obra prima,


erudita, brilhante, de pensamentos novos, uma coisa digna do século.
Preciso de do dizer ao leitor, para que ele esteja prevenido; não cuide
que são quaisquer dessas rabiscaduras da moda que, com o título de
Impressões de Viagem, ou outro que tal, fatigam as imprensas da
Europa sem nenhum proveito da ciência e do adiantamento da
espécie. Primeiro que tudo, a minha obra é um símbolo... é um mito,
palavra grega, e de moda germânica, que se mete hoje em tudo e com
que se explica tudo... quanto se não sabe explicar.
É um mito porque — porque... Já agora rasgo o véu, e declaro
abertamente ao benévolo leitor aprofunda ideia que está oculta
debaixo desta ligeira aparência de uma viagenzinha que parece feita
a brincar, e no fim de contas é uma coisa séria, grave, pensada como
um livro novo da feira de Leipzig, não das tais brochurinhas dos
boulevards de Paris.
Houve aqui há anos um profundo e cavo filósofo de além Reno,
que escreveu uma obra sobre a marcha da civilização, do intelecto —
o que diríamos, para nos entenderem todos melhor, o Progresso.
Descobriu ele que há dois princípios no mundo: o espiritualista,
que marcha sem atender à parte material e terrena desta vida, com
os olhos fitos em suas grandes e abstratas teorias, hirto, seco, duro,
inflexível, e que pode bem personalizar-se, simbolizar-se pelo famoso
mito do cavaleiro da mancha, D. Quixote; — o materialista, que, sem
fazer caso nem cabedal dessas teorias, em que não crê, e cujas
impossíveis aplicações declara todas utopias, pode bem representar-
se pela rotunda e anafada presença do nosso amigo velho, Sancho
Pança.
Mas, como na história do malicioso Cervantes, estes dois
princípios tão avessos, tão desencontrados, andam contudo juntos
sempre, ora um mais atrás, ora outro mais adiante, empecendo-se
muitas vezes, coadjuvando-se poucas, mas progredindo sempre.
E aqui está o que é possível ao progresso humano.
E eis aqui a crônica do passado, a história do presente, o
programa do futuro.
Hoje o mundo é uma vasta Barataria, em que domina el-rei
Sancho.
Depois há de vir D. Quixote.
(Do capítulo 2, Viagens....)

Não tem história antiga, disse; mas tem-na moderna e


importantíssima.
Que memórias aqui não ficaram da guerra peninsular! Que
espantosas borracheiras aqui não tomaram os mais famosos
generais, os mais distintos militares da nossa antiga e fiel aliada, que
ainda então, ao menos, nos bebia o vinho!
Hoje nem isso!... hoje bebe a jacobina zurrapa de Bordéus e as
acerbas limonadas de Borgonha.
Quem tal diria da conservativa Albion! Como pode uma leal
goela britânica, rascada pelos ácidos anárquicos daquelas vinagretas
francesas, entoar devidamente o God Save the King em um toast
nacional! Como, sem Porto ou Madeira, sem Lisboa, sem Cartaxo,
ousa um súdito britânico erguer a voz, naquela harmoniosa
desafinação insular que lhe é própria e que faz parte do seu
respeitável caráter nacional — faz; não se riam: o inglês não canta
senão quando bebe... aliás quando está BEBIDO. Nisi potus ad arma
ruisse. Inverta: Nisi potus in cantum prorumpisse... E pois, como há
de ele assim bebido erguer a voz naquele sublime e tremendo hino
popular Rule Britannia!.Bebei, bebei bem zurrapa francesa, meus
amigos ingleses; bebei, bebei a peso de oiro, essas limonadas dos
burgraves e margraves de Alemanha; chamai-lhe, para vos iludir,
chamai-lhe hoc, chamai-lhe hic, chamai-lhe o hic haec hoc todo, se
vos dá gosto... que em poucos anos veremos o estado de acetato a que
há de ficar reduzido o vosso caráter nacional.
Ó gente cega a quem Deus quer perder! Pois não vedes que não
sois nada sem nós, que sem o nosso álcool, donde vos vinha espírito,
ciência, valor, ides cair infalivelmente na antiga e preguiçosa rudeza
saxônia!
Dessas traidoras praias de França donde vos vai hoje o veneno
corrosivo da vossa índole e da vossa força, não tardará que também
vos chegue outro Guilherme bastardo que vos conquiste e vos
castigue, que vos faça arrepender, mais tarde, do criminoso erro que
hoje cometeis, ó insulares sem fé...

(Do capítulo 7, Viagens....)


Til
“...meu lugar é aqui, onde todos
sofrem.
Eu sou Til!...Til só!...”, p. 323

*estudos mais antigos: redução “regionalista” deviso às paisagens de Limeira, interior de


São Paulo.
*apelação para o público feminino leitor (“novela mexicana”): a mocinha Berta esconde
segredos do passado: quando menina morava com sua mãe e irmão de criação (Nhá
Tudinha e Miguel) em uma casa perto da rica fazenda Palmas. Fora adotada ainda bebê,
mas Miguel não a considera MAIS QUE irmã e quer algo mais com ela.
Em Palmas vivem o Senhor Luís Galvão, com sua esposa D. Ermelinda e os filhos
adolescentes, Afonso e Linda.
Há o capanga Jão Fera, um menino com problemas mentais (Brás), e uma negra louca
(Zana).
Os amores são inocentes e platônicos, tanto de Linda por Miguel como de de Afonso por
Berta; os quatro são amigos e passeiam sempre juntos pelos campos próximos ao rio.
Brás será alfabetizado por Berta:

Ela percebe que ele sente-se atraído pelo acento til (~) ao ser apresentado ao alfabeto e, partindo
daí, diz ao garoto que ela se chama Til, para aproximar-se mais e conseguir alfabetizá-lo.Muitos
segredos do passado envolvem a vida de Berta e ao longo da narrativa vamos
descobrindo que ela é uma menina especial, que está destinada a ajudar aqueles que
sofrem, sendo eles pessoas e animais.
Santa Francisca de Assis.
*as coincidências...

O capanga, p. 55
A linguagem é ricamente idealizada e romântica.

Leitura da p. 55-6, “Caminhavam...\ materno. - Bem longe do céu..., \lágrimas”. Muito apelo
natural. Apelo religioso e adequação ao público-leitor: a mulher burguesa carioca.
Narração de descrição: a paisagem, a natureza e as personagens aparecem integradas
numa mesma natureza fresca e cheia de vitalidade.
Ela, p. 64
Descrição física e psicológica de Berta:
Era ela de pequena estatura e tão delgada e flexível no talhe, que dobrava-se como o junco da
várzea. (...)
Servia-lhe de toucado um chapéu de palha de coco trançada, sob o qual escondia os lindos cabelos
negros cacheados, que às vezes, com os saltos, escapavam da prisão e vinham folgar sobre as
espáduas. Calçava grossos coturnos de couro de veado (...), onde, aliás, afogava-se o pezinho
buliçoso. (pág. 64) (...)
Os grandes olhos, negros, claros e serenos, como um lago cristalino imerso na sombra, não
podiam negar que fossem de mulher: tinham a diáfana profundidade do céu, cheia de enlevos e
mistérios.
A boca mimosa e breve, conhecia-se que fora vazada no molde do beijo e do sorriso. Mas quando o
brinco iluminava essa fisionomia, e o capricho quebrava-lhe a harmonia das linhas do suave perfil,
era cobrir-se com a máscara do rapazinho estouvado, que ela teria sido sem dúvida, se a natureza
não lhe trocasse o destino.
Nesse prisma da lindeza de Inhá reflete-se a sua índole. Aquela alma tem facetas como o diamante;
iria-se e acende uma cor ou outra, conforme o raio de luz que a fere.
Contradição viva, seu gênio é o ser e o não ser. Busquem nela a graça da moça e encontrarão o
estouvamento do menino; porém mal se apercebam da ilusão, que já a imagem da mulher
despontará em toda sua esplêndida fascinação. A antítese banal do anjo-demônio torna-se
realidade nela, em quem se cambiam no sorriso ou no olhar a serenidade celeste com os fulvos
lampejos da paixão, à semelhança do firmamento onde ao radiante matiz da aurora sucedem os
fulgores sinistros da procela. (pág. 65)

Monjolo, p. 68
O narrador apresenta a Fazenda das Palmas, cujo dono é o personagem Luis Galvão.

Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia com o Piracicaba, e à margem deste último
rio, estava situada a fazenda das Palmas.
Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura a mais vasta e frondosa, das que então
contava a província de São Paulo, e foram convertidas a ferro e fogo em campos de cultura.
Daquela que borda as margens do Piracicaba, e vai morrer nos campos de Ipu, ainda restam
grandes matas, cortadas de roças e cafezais.

Nessa trama paralela, ficamos conhecendo o personagem Monjolo. Um escravo de Luís


Galvão. Esse negro veio ao encontro de um homem para dar um recado de um pajem
(escravo Faustino). A conversa entre eles, a princípio, é meio enigmática, porém a seguir
é revelado que um certo Barroso havia contratado Monjolo e Faustino, escravos de Luís
Galvão, para que pudessem colaborar em uma cilada contra o próprio patrão, em troca de
dinheiro.
Aqui também é descrita a “azinhaga da Ave-Maria”, um lugar cercado de mistérios, com
caminho estreito e escuro, onde se dizia poder ouvir as vozes de almas penadas que ali
morreram em emboscadas.
A tocaia, p. 72
Embate psicológico depois da descrição geográfica romântica:
Jão Fera caminha no meio do mato fechado, em direção à azinhaga da Ave-Maria, vai
encontrar-se com um cavaleiro. Refletindo sobre sua condição de homem destinado à
maldade, conclui que é sua sina e pensa em Berta que ficará sabendo o que ele há de
fazer. Enquanto passa por essa agonia moral, ouve o tropel de um cavalo. Era um
rebuçado (homem disfarçado em capa preta), cujo animal assustou-se com uma cobra
urutu, mas o bugre conseguiu acertá-la com sua faca.

O marmanjo, p. 80
Passa-se uma cena entre a mucama Rosa que aparece na janela da casa grande e um
mestiço que, do lado de fora, faz gracejos. O pajem Faustino, fica enciumado e manda-a
servir a mesa.
Nesse capítulo, é apresentada a família que mora na Fazenda das Palmas: D. Ermelinda
tinha 38 anos, não era bonita, porém destacava-se em elegância e inteligência. Sr. Luís
Galvão era um homem bonito e jovial, fisionomia inteligente e regular estatura. Os filhos
gêmeos: Linda e Afonso.
Além dos membros da família, encontra-se também um menino de quinze anos que,
segundo o narrador,“era feio (...), mal amanhado e descomposto em seus gestos, (...) com
expressão indiferente e parva.” Sobrinho de Luís Galvão, órfão de pais e com problemas
mentais. Era Brás, o idiota. Nesse dia, ele derrubou café na camisa e a mucama Rosa
chamou-lhe a atenção. Em seguida, ele cravou-lhe um garfo na coxa.

Pressentimento, p. 85
D. Ermelinda mostra-se preocupada em excesso com a viagem que o marido haverá de
fazer a Campinas. Ela diz estar com maus pressentimentos naquele dia, mas não o
impede de partir. Refere-se às esperas (emboscadas) que têm acontecido por aquelas
estradas, fala de Jão Fera e do pavor que ele causa a todos. Mas o marido a tranquiliza,
lembrando que o capanga foi criado na casa de seu pai, Sr. Afonso Galvão, e não poderá
ser tão ingrato a ponto de fazer-lhe algum mal, pensa que ele o respeita.
Linda pede ao pai que não parta, pois a mãe está muito angustiada. Ele brinca dizendo
que se não for, ela ficará sem os vestidos e enfeites encomendados pela menina para a
festa de São João.
As amostras, p. 89
Luis Galvão parte e os filhos Linda e Afonso saem para passear, a pedido da mãe. Depois
de uns minutos, o marido, o pajem e um capanga que o acompanham regressam a casa.
Luis Galvão diz à mulher que se esqueceu da lista com as encomendas da filha, mas na
verdade ele pega às escondidas um papel e guarda-o no bolso. Segundo o narrador, esse
homem tinha um segredo e isso poderia estar revelado nesse papel.

Os gêmeos, p. 93
Os irmãos Afonso e Linda saem para passear. Pretendem ir ao encontro de Berta e
Miguel. Pelo caminho, provocam-se pelo fato de um saber do segredo de amor do outro.
Linda fica intimidada quando o irmão sugere que ela possa estar apaixonada por Miguel.

Tinha a beleza de Linda um doce alumbre de melancolia, que não era tristeza, pois coavam-se
através dos inefáveis contentamentos de sua alma; era sim matiz, que lhe aveludava a graça e
influía-lhe um mavioso enlevo. Irmã das flores que vivem nos recessos da floresta, onde se coalham
em sombra luminosa os raios filtrados pelo crivo das folhas, respira essa beleza o perfume casto da
violeta e da baunilha.

(leitura: “não se admira...”, p. 95)

Afonso era o retrato da irmã. Pareciam-se como gêmeos e gêmeos tinham nascido. Mas nele a
gentileza era um fogo de artifício; a índole jovial, que herdara do pai, lhe estava constantemente a
brincar no gesto prazenteiro e nas cascatas do riso cordial e folgazão.” (Pág. 96)

O narrador relata um fato envolvendo Afonso e Berta. Um dia, o moço disfarçou-se com
as roupas de sua irmã, Linda, e ao encontrar-se com Berta, encheu-a de beijos. Somente
quando ele descobriu os cabelos, foi que Berta percebeu a artimanha do rapaz.

No tanquinho, p. 97
Além, na assomada de uma colina frondava um vistoso ramalhete de palmeiras de diversas
espécies, entre as quais avultava o jeribá com seus lindos penachos.
Chamavam a este lugar o Palmar e dele proviera o nome à fazenda.”(pág. 97)

Linda e Afonso apressam-se para chegarem logo onde estão os amigos. Passam por
lugares agradáveis e sublimes, descritos de forma idealizada pelo narrador:

À margem do Tanquinho, bonito lago formado pela represa de um ribeirão, que saía gorgolando do
mais embrenhado da floresta e traçava meandros entre as palmeiras para perder-se no pasto, uma
figueira brava esfraldava os ramos, em esparavel, ensombrando a pelúcia de relva.(pág. 98)

Quando chegaram ao lugar combinado, próximo ao tronco de uma figueira, perceberam


que os dois amigos não estavam lá. Linda colocou a culpa em Afonso, que se demorou
com brincadeiras, porém este soltou um apito na tentativa de avisar Miguel e Berta da
chegada dele e da irmã.
Berta, que estava em um campo próximo, ouviu o apito e saiu correndo ao encontro de
Linda, porém Miguel, sempre com ciúmes, não respondeu ao amigo.
Ao se encontrarem, as amigas passaram a falar-se com animação, mas Afonso notou o
mau humor de Miguel. Berta o denunciou, contando que ele preferira caçar, por isso
estava com aquela cara. Linda mostra-se tímida quando Berta e Afonso sugerem que
Miguel não teria resistido a vir ao encontro somente para ver Linda. O moço recusa-se a
brincar.

Súbito no mato soou um grito bravio, e logo após a voz estranha, ao mesmo tempo saturada de dor
e impregnada de sarcasmo, lançou em uma gama estridente este clamor incompreensível:
- Til!... Til!... Til!... Oh! Til!...”(pág. 102)

Idílios, p. 102
O narrador dá-nos a entender que os pais de Linda e Afonso desconhecem esses
encontros que têm quase toda a manhã com Berta e Miguel. Discorre também sobre os
sentimentos de Afonso por Berta (Nhá) e de Linda por Miguel. Fica evidente que Berta é
carinhosa com todos e não demonstra preferências; porém Miguel só tem olhos para ela,
Berta.

Susto, p. 106
Depois do susto com os gritos de Brás, Linda e Miguel passam a conversar. A moça quer
saber se ele tem interesse em estudar, mas Miguel adianta-se em explicar a ela que lhe
falta dinheiro para isso. Linda sugere que ele possa emprestar de seu pai, o rico Luis
Galvão, porém o moço responde que não o poderia pagar depois.
Enquanto conversam, Berta observa o senhor Galvão que passa por uma esplanada.
Linda explica que o pai vai a Campinas e que a mãe anda preocupada por causa das
“esperas” de que tanto se têm falado e ,além disso, o tal Jão bugre andou rondando a
fazenda. Berta fica apavorada com essa notícia e enquanto Linda, Miguel e Afonso
conversam, ela desaparece no meio do mato.

A Vespa, p. 110
Lembrando-se do semblante cruel de Jão Fera, quando o encontraram pela manhã, Berta
sente que precisa livrar Luis Galvão da tocaia, desconfia que ele seja a vítima da vez.
Andando rapidamente pelo mato, cai em um buraco, livra-se de um animal que a
persegue e, enfim, chega até a azinhaga bem no momento em que o bugre pretendia
atacar o fazendeiro. Berta aproxima-se, pegando-o pelos cabelos, por trás, e sussurra em
seus ouvidos: “Malvado!”.
Como se fosse picado por uma vespa, Jão Fera vira furioso e encara a menina.

O relicário, p. 114
“Era medonha a catadura de Jão Fera quando voltou-se.
A fauce hiante do tigre, sedento de sangue, ou a língua bífida da cascavel, a silvar, não respirava a
sanha e ferocidade que desprendia-se daquela fisionomia intumescida pela fúria.” (pág. 114)

Berta, imbuída de coragem e fúria, pergunta ao capanga se ele está ali para matar
alguém. Diante da resposta positiva deste, ela continua questionando se ele não tem
vergonha de fazer isso. Jão Fera explica que estão a pagar-lhe para isso, mas a menina o
faz calar, ataca-o com palavras duras, acusando-o de monstro, ingrato.
Diante de sua fúria, o bugre defende-se e diz que se tivesse dinheiro, desempenharia a
palavra dada, mas não o tem. Então Berta tira do pescoço uma corrente de ouro (o
relicário de sua mãe) e entrega a ele. Pede para vendê-la e desistir de matar o pai de
Linda. Jão Fera fica transtornado diante dela e desaparece.

“Estalou com um grito horrível e bravio o peito de Jão Fera, que arremessando-se longe,
desapareceu nas brenhas.
Foi o tempo em que pela rampa do barranco despenhava-se um corpo humano, que veio cair
estrebuchando aos pés da menina, com a gorja a estertorar e os dentes a ranger.
Berta o reconheceu.
Era Brás, o idiota.”(pág. 120)

Parte II
A sura, p. 123
Já se passavam três dias depois que Berta interceptara Jão Fera, impedindo-o de matar
Luís Galvão. Estava uma manhã fria e brumosa e Berta vai até o quintal para tratar de
uma galinha sura (com rabo curto), cujos pés haviam sido roídos por uma ratazana. Lavou
suas penas em uma bica e depois a aconchegou em uma palhoça, protegendo a ave das
maldades diárias que alguns da casa praticavam com ela.

A visão, p. 130
Berta, sentada à porta da cozinha, rabisca o chão e observa Zana, que está
completamente alheia a sua presença.
De repente ouviu-se um barulho que vinha da mata e Berta esconde-se na cozinha. Ao
olhar para Zana, percebe que ela começa a reproduzir gestos imaginários: abana um fogo
que não existe no fogão, faz como se lavasse a louça. De uma hora para outra, como se
ouvisse um chamado, a negra vai até o quarto, olha pela janela e solta um grito de terror,
atirando-se ao chão feito uma pedra.

O desconhecido, p. 134
O narrador esclarece que Berta frequenta escondidamente a casa de Zana, pois sempre
fora proibida de se aproximar dela. Essa proibição despertou na menina uma curiosidade
ainda maior, o que a fez tornar-se amiga da doida, a cada dia.
Berta tinha 15 anos e sua madrasta Nhá Tudinha não escondia dela a condição de filha
adotiva, todavia amava-a tanto quanto a Miguel. Este nutria por Berta um profundo
sentimento, que ia além do amor de irmãos e não escondia isso dela.
Porém, Berta não se aproveitava desse encanto que exercia nos corações dos dois que a
criavam, ao contrário, evitava proporcionar qualquer tipo de preocupação à família. Assim,
o narrador justifica por que Berta podia ficar tanto tempo fora de casa.
O narrador retoma a cena em que Zana havia olhado pela janela e revela que ela teria
visto o Barroso (Ribeiro) o qual, saindo do mato, vinha em direção a casa dela. Zana, no
desespero em que se achou, levantou-se violentamente e deu com a cabeça na porta.
Berta também viu aquele desconhecido que a encarava, por isso recuou instintivamente.
Ao procurar Zana, deparou-se com uma cena terrível no terreiro: Brás tentava esganá-la
mas, ao ouvir os gritos de Berta, desaparece no meio do mato.
A menina tenta animar a negra e depois a ajuda levantar-se e recolher-se dentro de sua
casa em ruínas.

O bacorinho, 144
O “chefe” do bando de caipiras chamava-se Filipe e chegou faminto à pousada. Chico
fornece queijo, farinha e rapadura e eles comem com satisfação.
Enquanto comem, Gonçalo aproxima-se e tenta puxar conversa com o grupo. Oferece
fogo e cigarro e pergunta a origem deles. Explicam que são de Campinas, mas não são
caçadores de veado ou paca; estão no rasto de uma onça, um “tigre verdadeiro”.
Gonçalo descobre que esses caipiras estão sendo pagos para matar Jão Fera, pois este
havia matado um homem e, agora, o filho da vítima, um tal de Aguiar, queria vingar-se do
assassino.
Filipe quer saber se Gonçalo Pinta sabe onde se esconde Jão Fera, mas Gonçalo
transfere a resposta para Chico que prontamente diz desconhecer o paradeiro do bugre.
Nesse momento, entra na venda um bacorinho (porquinho) de pelo ruivo que se aproxima
de Tinguá, fossando em suas pernas, como se tivesse a chamá-lo para fora. O homem
desfere contra o bicho um tremendo pontapé, porém compreendendo o recado trazido
pelo bacorinho, sai disfarçadamente e embrenha-se pelo mato, seguindo o animal.

O trato, p. 148
O narrador descreve mais precisamente o personagem Gonçalo. Tinha ele um rosto
coberto de sardas, as quais lhe renderam o apelido de “Pinta”. Como não se agradava
com isso, acrescentou ao próprio nome outro apelido: “Suçuarana”.
Gonçalo invejava Jão Fera com sua valentia e sua fama, por isso planejava liquidá-lo.
Imaginou que Filipe poderia ser um bom comparsa para colocar em prática suas
intenções, por isso combinou de conduzi-lo até a toca do bugre. Além disso, o dinheiro
pago por Aguiar agora seria dividido também com Gonçalo.
Chega à venda o Barroso, a quem Gonçalo se dirige com certa familiaridade. Gonçalo
descobre que o outro está furioso por Jão Fera desempenhou a palavra, ao desistir de
matar Luis Galvão. Gonçalo oferece-se para concluir o serviço, difamando o bugre. Um
negro chamado Pai Quicé, escondido próximo à venda, ouve tudo e retira-se.

Nhá Tudinha, p. 152


Apresenta Nhá Tudinha e seu gosto pelo trabalho doméstico. Era aproximada a festa de
São João e ela ocupava-se em fazer os doces e broas de fubá.
Berta aparece de repente para roubar biscoitinhos, assustando e fazendo gargalhar Nhá
Tudinha.
Do quintal, Brás observa em silêncio. Berta acolhe-o, faz carinho em seus cabelos e ele
dorme. Berta caminha em direção a casa de Zana, porém, percebendo que já era tarde,
resolve voltar. Brás a seguira escondendo-se em um buraco cavado com as próprias
unhas. Ela o encontra, leva-o de volta para almoçar. Antes, lava-lhe as mãos e corta-lhes
as unhas.

Lição, p. 157
Depois do almoço, Berta ocupa-se em remendar as roupas que precisavam de conserto,
enquanto Brás, agachado junto dela, observa-a de mãos unidas, rezando a Ave Maria
para agradá-la. Berta elogia Brás e abraça-o carinhosamente. Passam-se momentos de
paz no espírito do rapaz e de ternura maternal no coração de Berta.
Brás recusa-se a rezar pela família de Luis Galvão, mas diante da ameaça de Berta,
dizendo a ele que deixaria de ser “Til”, o idiota chora e repete a oração ditada por ela: “-
Virgem Puríssima, Rainha do Céu, Bem-aventurança nossa, Mãe de Jesus e dos aflitos,
intercedei por meu tio, minha tia e meus primos; por mim, por Berta e aqueles a quem ela
quer bem, e fazei-nos a todos felizes.”
- Vamos à lição! Disse Berta.
Repetiu então o Brás de cor o abecedário e uma parte da carta de sílabas e nomes.

O idiota, p. 161
Com uma varinha de madeira, Berta riscava no chão as letras do alfabeto. O narrador
evidencia a falta de inteligência do menino, dizendo que ele não tinha espírito, já que suas
feições tornam-se animalescas diante do aprendizado.
Refere-se a ele como “um mísero idiota”, “um bruto”, “mostrengo”, “aborto humano”,
“caveira suína”, etc.
Explica que Brás era filho de uma irmã de Luis Galvão. Ao ficar órfão de pai e mãe,
passou a viver na casa do tio, porém era ignorado ou tratado com repugnância por todos
da casa.

Consentia D. Ermelinda em ser-lhe mãe e cercá-lo de toda a solicitude, apesar da natural repulsão
que deviam causar à sua índole tão delicada os modos brutais e parvos do idiota. Não lhe sofria,
porém, o coração que seus filhos vissem nesse menino malamanhado e grosseiro um camarada e
um parente, quanto mais um irmão.”

Luis Galvão teria tomado a iniciativa de matricular Brás em uma escola, porém desde os
primeiros dias, o menino sofreu severas punições do professor Domingão, que
considerava a violência o melhor método de alfabetizar.
Mas quando Brás foi colocado diante das letras e sinais:

Quando lhe puseram nas mãos a carta pregada em uma tábua, o menino percorreu todos aqueles
hieróglifos com olhos pasmos e botos, e só deu sinal de atenção, em descobrindo o til.
Então expandiu-se-lhe o estúpido semblante com um riso alvar, que estertorou na gorja, e, tomado
por súbita alacridade, ele, de ordinário soturno e pesado, começou a fazer trejeitos e gatimonhas
ao pequeno sinal ortográfico, procurando imitá-lo a uma com os dedos, com a boca, e até com
todo o corpo nos saltos extravagantes que dava pela casa.”

Todos os alunos riram muito dessa reação inusitada de Brás e o professor surrou-lhe
impiedosamente. Brás fugiu para o mato.
O abecê, p. 165
Berta um dia encontrou Brás que fugira da escola e levou-o para a casa dela. Para livrá-lo
dos castigos, resolveu ela mesma ensinar-lhe a lição. Ao ver o acento “til”, ele passou a
corcovear-se e dar cambalhotas como teria feito na escola. Berta entendeu que aquilo
poderia ser um momento de alegria na mente insana do rapaz e aproveitou para arranjar
uma estratégia de ensino. Olhou para ele e disse que ela era “Til”, para a surpresa e
alegria do parvo.
A partir desse dia, Berta exigia que Brás a chamasse de Til e assim o fazia pronunciar
este monossílabo.
Começou a mostrar-lhe outras letras. O fonema “A” ela associou ao nome de Afonso, mas
Brás reagiu mal, tomando o papel das mãos de Berta e rasgando-o com os dentes. Ela
agiu com paciência, mostrou-lhe o “B”, dizendo a ele que gostava daquele porque era “B”
de Brás.

Dessa forma, em torno dela, que era o til, Berta foi engenhosamente agrupando todas as letras do
alfabeto, com os nomes das pessoas e objetos que a cercavam. (...) Ao cabo de um mês, conhecia
Brás todo o abecedário.

Trama, p. 182
“Era véspera de São João”.
Neste capítulo, aparece Nhá Tudinha que se encarrega de fazer as comidas e os doces
para a festa. Berta e Linda passeiam pelo terreiro enfeitado da fazenda das Palmas,
enlaçadas pela cintura uma da outra.
Linda mostra-se triste e enciumada porque entende que Miguel não a ama, acha que ele
só tem olhos para Berta. A amiga anima-a dando gargalhadas para demonstrar o quanto
seria absurda as suspeitas de Linda. Enquanto conversam, Berta percebe o vulto de um
pajem (escravo), o Faustino, que parece esgueirar-se por trás dos pessegueiros. Faustino
fora encontrar-se com Barroso e outro escravo de Luis Galvão, o Monjolo.
Esses dois escravos aceitaram colaborar com Barroso na morte de Luis Galvão, em troca
de alforria e dinheiro.
Brás, escondido em buraco, ouviu todo o plano e soltou um riso de satisfação e
crueldade, “arregaçando-lhe dos beiços estúpidos”.

PARTE III
+++++++vingança, incêndio, casamento, nascimento de criança...

Fascinação, p.218
Berta vai ao quarto de Linda em busca de seu chapéu, mas a amiga quer saber aonde ela
pretende ir com tanta pressa. Ela brinca, dizendo que trará Miguel para decidir a aposta e
fazê-lo dizer que “morre” por Linda.
Afonso chega e se coloca entre a irmã e Berta, mas ao tentar dar um beijo nela, Berta
entra no quarto e tranca-se por dentro, com a ajuda de Linda que se encarrega de fazer
cócegas no irmão.
De repente, Afonso e Linda ouvem um grito pavoroso dentro do quarto.
A princípio acharam que era graça da menina, mas depois Afonso avistou, pelo espelho,
algo inacreditável: uma cobra cascavel diante de Berta, pronta para dar o bote.
Afonso soltou um grito de horror que desmaiou a irmã e correu para o terreiro. Do lado do
canavial, ouvia-se uma gargalhada demoníaca e selvagem...Era Brás!

Proposta de Exercício, p. 223

Transe, p.226
Brás consegue pular para dentro do quarto, arrancando violentamente a serpente que
enlaçava Berta. Fugia espavorido, agitando aquela serpente que lhe servia de chicote
contra o próprio corpo.
Despertada do encanto que a prendia, Berta abre a porta; é abraçada por Linda e
interrogada por Afonso. Ainda calada, aponta para Brás que rompia o canavial “vibrando
seu látego vivo” (látego: chicote).
Enquanto os irmãos se ocupam em observar o “idiota”, Berta esgueira-se pelo interior da
casa e desaparece.
Ela precisava encontrar-se com Pai Quicé, pois ele a levaria ao esconderijo de Jão Fera.
No fim do canavial, o velho negro a esperava e, sem perder mais tempo, seguiram em
direção à campina e, quando já se encontravam no meio dela, ouviram um barulho como
se fosse um ribombo de imenso trovão e a terra começava a tremer debaixo de seus pés;
depois veio o barulho de ramas despedaçadas, de ossos quebrados e grunhidos ferozes
que apavoraram Pai Quicé. Ele reconheceu logo o que seria: eram porcos-do-mato,
caititus, conhecidos como “queixadas”.
Mais de cem vinham debandados naquela direção, espantados pelos cães de Gonçalo
Pinta e Filipe que ali estavam em busca do bugre.
Berta pensa em correr para alcançar uma árvore, mas sabe que Pai Quicé não poderá
acompanhá-la e ela recusa-se a abandoná-lo. O velho oferece-lhe os ombros para
retardar-lhe a morte quando os porcos os atacarem. Berta desespera-se, estreita-se em
suas roupas e aguarda seu triste fim...
A luta, p. 242
O narrador retoma o que teria acontecido quando Jão e Berta entraram na caverna. Ele a
olhava com desejo, pois relembrava Besita. Sentia que ela lhe pertencia. Pensou até em
fazer ruir a pedra de sustentação para unir-se eternamente à Berta. Mas conteve sua
obsessão, “arrastou o calhau que obstruía uma solapa do rochedo, por onde a caverna se
comunicava com a próxima encosta, e fugiu horrorizado, levando consigo Berta.
Foi então que vendo-o passar de relance pelo desfiladeiro, a gente de Filipe desfechou as armas; e
o capanga urrou de sanha e furor.
Por atalhos só dele conhecidos, Jão ganhou a floresta e conduziu a menina até as plantações da
fazenda; aí despediu-se dela com estas palavras, proferidas em profunda entonação:
– Nunca mais, Nhazinha, ande só por estes matos.”

O beijo!
p. 247
Berta regressa, atravessando os cafezais, cantando e dançando; já esquecida de tantas
aventuras do dia. Estava feliz por saber que Jão Fera não fora preso.
Distraída em seus pensamentos, percebeu logo que estava sendo seguida e disparou
numa corrida, mas foi logo alcançada. Era Afonso que a agarrava às gargalhadas.
Ela tentava desprender-se de seus braços, mas ele divertia-se. Beijou-lhe a face e ela
fechou os olhos. Diante do silêncio de Berta, Afonso intimidou-se e afastou-se
desencorajado.
Para disfarçar o acanhamento, ele diz saber que ela não o quer bem. Ela explica que
gosta dele como gosta também de Miguel. São como irmãos para ela. O rapaz aborrece-
se, pois irmãos não se casavam. Berta acrescenta que Miguel e Linda é que deveriam se
casar, pois nasceram um para o outro. Ela segue sua caminhada, pretende ir ao encontro
de Linda, mas Afonso quer um beijo. Ela pede para que ele feche os olhos, depois se
aproxima o máximo e aplica-lhe um doído “piparote” (peteleco) na orelha. Ela foge
gargalhando satisfeita e ele; ele fica calado e aborrecido. Berta volta e beija-lhe a face,
deixando que Afonso afague seus cabelos.
Miguel aparece e assiste à cena.

PARTE IV
A lágrima, p. 269
“No vão de uma janela conversava Luís Galvão com alguns de seus convidados, entre os quais
havia mais de um antigo camarada, rapaz de seu tempo.”

Neste capítulo, D. Ermelinda ouve uma conversa entre seu marido Luis Galvão e os
amigos, que se encontravam embaixo da janela, por onde ela olhava, procurando sua
filha Linda.
A conversa revelava um segredo do passado: o envolvimento de Luis Galvão com Besita,
“a filha do Guedes”. Decepcionada, ela sai apressadamente da janela, pois além de ouvir
isso, também avistou Linda que se mostrava muito próxima a Miguel, em clima de
intimidade, e ela era contra esse namoro da filha com um moço pobre e sem estudos
como ele.
Berta, percebendo o que se passara, corre para avisar Linda, interpondo-se entre o casal,
disfarçadamente, para que D. Ermelinda não julgasse mal.
Agora os três se ocupavam em assistir à loucura de Brás que, tentando alegrar o coração
de Berta, resolveu subir ao mastro para conseguir as flores para ela.
Dona Ermelinda aproxima-se e pede à filha para não sair mais de perto dela, levando
assim a menina para dentro de casa.
Diante da iluminação de um rojão, Berta observa a figura de Jão Fera, cuja sombra
aparece distante da festa.

A traição, p. 282
“O incêndio crescia com tal velocidade, que parecia uma catarata de fogo, a inundar o espaço,
ameaçando comunicar-se à floresta, e submergir a terra em um pélago de chamas.
Do seio daquele surdo rumor produzido pelo ressolho da labareda, se desprendeu e reboou ao
longe um grito soturno; mugir da turba espavorida antes as tremendas convulsões da natureza.
- Fogo!... fogo!... fogo!...
Correndo à janela e abrindo-a outra vez, Luís Galvão recuou espantado com a viva claridade, que
o incêndio projetava sobre o terreiro e que lhe ferira os olhos.
Foi rápido, porém, o deslumbramento. Debruçando-se no peitoril e descobrindo o foco do incêndio
que vomitava labaredas como a cratera de um vulcão, o fazendeiro compenetrou-se imediatamente
da realidade.
- O que é? perguntou D. Ermelinda, que parara aterrada no meio do aposento.
- Fogo no canavial.”

Luis Galvão precipita-se para fora de casa, achando que poderia contar com a ajuda dos
capangas, pajens e escravos, mas eles todos se encontravam presos por Monjolo e
Faustino. Monjolo pensa em matar Faustino, para conseguir receber, sozinho, a
recompensa prometida por Barroso e poder ficar com a Rosa, mas contém-se.
Afonso desperta desesperado e vai ajudar o pai. De cima da janela, D. Ermelinda vê um
homem (Gonçalo Suçuarana) que sai do canavial e desfere um porrete na cabeça de Luis
Galvão. Ela desmaia e Linda solta um grito, pedindo socorro.

Vampiro, p. 285
“Quando Gonçalo se curvava para soerguer o corpo do fazendeiro e arremessá-lo no meio das
chamas, um vulto emergiu da sombra.
Jão Fera estava em face dele.
Recuou o Suçuarana de um salto, e sacou da cinta a pistola que desfechou sobre o inimigo à
queima-roupa. Não acertando o primeiro e segundo tiro, puxou da catana (faca); e começou a
esgrimi-la cortando o ar.
O capanga avançava lento, mudo, sombrio, sem arma em punho, nem sequer um gesto de ameaça;
e, todavia, era ele Gonçalo, apesar de armado, quem recuava diante daquele vulto impassível.”

Jão Fera ficara sabendo dos planos por meio de Chico Tinguá e havia se preparado
desde cedo para impedir Barroso de cumprir sua vingança. Primeiro, conseguiu matar
Monjolo e Faustino; depois, chegou a tempo de estrangular Gonçalo e arremessá-lo às
chamas, antes que ele matasse Luis Galvão. Este assiste à cena e entende que Jão
salvou-lhe a vida, por isso agradece-lhe. Mas o bugre, responde, secamente: “- Livrei-o
de morrer, porque sou eu quem o há de matar, quando chegar sua hora!”
Depois disso, correu pelo canavial em busca do Barroso (Ribeiro) e encontrando-o não
tinha outro pensamento, ia matá-lo. Mas, nesse momento, Miguel, que voltara às Palmas
depois de ter visto as chamas na fazenda, impede o bugre de concluir o seu intento. Jão
Fera parte para cima de Miguel, mas chega Berta e sua presença o faz recuar.

A entrega, p. 293
Jão Fera iria entregar-se à prisão, apresentando-se ao tal Aguiar, depois que este lhe
pagasse os cinquenta mil-réis. Antes de ir, dirigiu-se à casa de Nhá Tudinha para
despedir-se de Berta. Viu-a de longe, costurando, mas não se animou a aproximar.
Contemplou-a com adoração e partiu.
João Fera sabia o quanto Berta o repugnava por causa de suas atrocidades e isso o fazia
sofrer. Se ao menos ele pudesse revelar toda a verdade e os segredos que sabia. Enfim,
ele parte para a fazenda de Aguiar, onde Felipe e seus camaradas se encontram a sua
espera.
Chegando, é recebido com hostilidade. Ele avisa ao Aguiar que está se entregando por
vontade própria, por isso não admite que ninguém encoste as mãos nele. Aguiar
concorda. Chama-o para jantar com os outros, mas o bugre aceita apenas um copo de
aguardente.
Mais tarde, os capangas de Filipe resolvem amarrá-lo para precaverem-se, o que provoca
irritação em Jão Fera. Com uma estaca do lugar, surra todos eles e foge, acusando o
pessoal de Aguiar de ter rompido o ajuste. Agora se sentia livre para ir embora daquela
fazenda e encaminha-se de volta a Santa Bárbara.
Na verdade, ele preferia ter morrido nas mãos daqueles caipiras ou ter sido preso em
Campinas, assim evitaria de ter que encarar Berta e a indignação que ela demonstrava
ao vê-lo.
“Por vezes parou, hesitando se devia retroceder.”

Confissão, p. 309
Afonso chama por Berta e ela resolve provocá-lo, brincando com ele para amenizar os
ciúmes de Linda. Berta pergunta a Afonso se Linda ainda pensa em Miguel e ele
responde que sim.
Um índio Caiapó, que acompanhava a cavalgada, atravessou a rua e veio ao encontro de
Afonso e Berta. Parando diante deles, disse: - Teu pai matou a mãe dela; tu queres matar a
filha; e duas vezes!
Ao ver o filho Afonso com Berta, Luis Galvão lembra-se com saudades de seu tempo de
rapaz, quando amava Besita.
Dona Ermelinda, reparava na fisionomia do marido e adivinhava seus pensamentos,
porém, antes que falasse algo, o caiapó retornou e disse em alta voz a Luis Galvão: - “Teu
sangue mau quer matar teu sangue bom! Toma cautela!...”
Do outro lado, na praça da matriz, alguém avisava que um preso teria fugido da enxovia.
Essa notícia assustou a todos e a festa se desvaneceu.
A família de Luis Galvão, todos montados cada qual em um cavalo, regressa a Santa
Bárbara D´Oeste. À beira da estrada, aparece um vulto negro. Era Zana que se antepôs
diante do cavalo de Afonso, pedindo desesperadamente que não matasse a Nhazinha.
Ficava claro que, na sua loucura, Zana confundia Afonso com o Luis Galvão do passado.
Ouvindo isso, Galvão determinou que deveria revelar todo o seu segredo. Ordenando que
os filhos seguissem adiante, chamou Dona Ermelinda para segui-lo até a tapera e ali,
confessou-lhe tudo.

A enjeitada, p. 314
Este capítulo ocupa-se em narrar como Luis Galvão teria revelado todo o seu passado a
Dona Ermelinda e como decidiram juntos procurar Nhá Tudinha para que ela ajudasse a
contar à Berta que ela era filha dele. No entanto, o que narram para Berta não
corresponde à verdadeira história, pois inventam que Luis Galvão era viúvo de Besita e ao
casar-se pela segunda vez, teria omitido de Ermelinda tanto o seu primeiro casamento
como também a filha. Berta desconfia que algo esteja errado e procura por Zana. Ao
chegar à tapera, encontra Jão Fera que havia fugido da cadeia na noite da festa do
Congo e veio esperar por ela ali, em busca de perdão.
Ele implora e promete a ela nunca mais fazer maldades, arremessando ao mato as suas
armas. Berta o perdoa e pede para que ele conte sobre sua mãe Besita. O bugre então
narra com detalhes aquela história, desde o início, e Berta reconhece que ele sim deveria
ser o seu verdadeiro pai e não Luis Galvão, que será rejeitado por ela. Finalmente,
entende por que aquele homem agia com tanta crueldade e despeito. Abraça-o com
ternura, causando uma vertigem de emoção em Jão Fera.

Alma sóror...
p. 318
Miguel, já preparado para partir com a família de Luis Galvão, vem despedir-se de Berta
que se encontra à sombra da varanda costurando uma camisa para Jão. Aos seus pés
também está Zana que a observa e, ao lado, o menino Brás que a contempla. Ambos
passam a morar com Berta. Jão ocupa-se em preparar a terra com uma enxada para o
futuro plantio de feijão. Ele agora trabalha para Nhá Tudinha.
Miguel haveria de estudar em São Paulo e dois anos depois se casaria com Linda.
Aproximou-se de Berta seguido dos olhares que a cercavam e tentou mais uma vez
convencê-la de que poderiam ser felizes juntos: ele poderia ficar com ela, ou ela ir embora
com ele. Mas Berta sabia que seu lugar era junto daqueles que sofrem e recusa-se a
partir. Abraça Miguel e pousa a cabeça ao ombro dele. Nesse momento, Brás tem uma
convulsão e cai se debatendo. Berta afasta-se de Miguel para socorrer o menino,
afagando-lhe os cabelos. Ela avisa a Brás que ela é Til, e não será diferente disso. Ele
entende e acalma-se.
Miguel parte para sempre, dizendo-lhe adeus...

Leitura p. 322, “Meu sonho...” até o final.


Contradição vida, seu gênio é o ser e não ser. Busquem nela a graça da moça e
encontrarão o estouvamento do menino; porem mal se apercebam da ilusão, que já a imagem da
mulher despontará em toda sua esplêndida fascinação. A antítese banal do anjo-demônio
torna-se realidade nela, em quem se cambiam no sorriso ou no olhar a serenidade celeste com os
fulvos lampejos da paixão, à semelhança do firmamento onde ao radiante matiz da aurora
sucedem os fulgores sinistros da procela.

a) Segundo o narrador, Berta é uma “contradição viva”, cujo “gênio é o ser e o não ser”.
Como essa característica da personagem se relaciona à principal função que ela
desempenha na trama do romance?

b)Considerando a expressão “anjo-demônio” no contexto cultural da época em que


foi escrito o romance, justifica-se o fato de o narrador classificá-la como “antítese banal”?
Explique resumidamente.

*Hércules e ekdina segundo Heródoto


No capítulo Letargo (VIII), há a seguinte cena: no quarto de Linda, uma cascavel, depois
de assustar-se com o bater da porta, desce até o soalho e prepara-se para o bote,
agitando o guizo. Berta, ao deparar-se com o olhar fulgurante do réptil, grita e desmaia,
não respondendo às perguntas de Linda e Afonso.
Na verdade, é um Encontro:

Encontrando-se o olhar da serpente e o seu, cravaram-se de modo, ou antes se


imbuíram e penetraram tanto um no outro, que não pode mais a vontade
separá-los e romper o vínculo poderoso. Parecia que entre a brilhante pupila
negra da menina e a lívida retina da cascavel se estabelecera uma corrente
de luz na qual fazia-se o fluxo e refluxo das centelhas elétricas.
A mesma cambraia que retraiu o dorso flexuoso da boicininga espasmou o talhe grácil de Berta,
como se uma força única regera a vida nessas duas organizações. Aí estava produzida ao
vivo a misteriosa identificação da mulher e da serpente, que deu tema ao
poético mito da tentação.

Berta não sai correndo nem foge da cobra. O que exatamente ela faz?

Por que este capítulo se chama Letargo? Tem a ver com o que acontece entre Berta e a
cobra?

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