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- Gramatigalhas
quentes JEC não é competente para julgar ação revisional de reajuste de plano de saúde
Gramatigalhas
por José Maria da Costa
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"Prezado Prof. José Maria da Costa. Verifica-se no meio jornalístico (imprensa falada ou
escrita), quando de reportagens sobre acidentes, etc., o uso da expressão '...a vítima não
corre risco de perder a vida' ao invés de 'a vítima não corre risco de vida'. O uso da última
expressão era muito comum nos meios jornalísticos, mas, ultimamente, têm-se valido da
primeira. Pergunto: O uso da última expressão não é a mais adequada? Fico-lhe grato pela
resposta."
2) Num primeiro aspecto, é correta a expressão risco de morrer, e contra ela não parece haver
possibilidade de maiores questionamentos. Ex.: "A paciente corre o risco de morrer durante a
cirurgia".
3) Por outro lado, para se entender bem o restante do problema, é importante dizer que,
tradicionalmente, a expressão empregada quase sempre foi risco de vida. Assim foi o uso de nossos
avós, e assim empregaram maciçamente os nossos literatos mais considerados ao longo dos
tempos.
4) Para se ter uma idéia da dimensão do emprego de ambas as expressões ainda nos dias de hoje,
basta anotar que uma pesquisa de tais expressões no Google dá um resultado de 27.000.000 de
registros para risco de vida, enquanto apenas 284.000 registros para risco de morte, o que mostra a
preferência pela primeira delas.
5) Por outro lado, não se pode negar que, de uns tempos para cá, houve a redescoberta da
expressão risco de morte, a qual, impulsionada pela defesa do prestigiado Professor Pasquale Cipro
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30/12/2019 Risco de morte ou risco de vida? - Gramatigalhas
Neto em um de seus programas pela televisão, acabou por se tornar verdadeiro modismo nos meios
de comunicação.
6) O que se ouve, porém, com frequência, é que o referido professor foi alguém que inventou a
expressão risco de morte e a quer impingir à população, como se fosse ele um ditador da Gramática.
7) O certo, contudo, é que tem ele a seu favor, no mínimo, quatro aspectos relevantes: I) ao que
parece, ele não apontou erro algum na expressão risco de vida; II) o que ele fez, em verdade, foi
apenas afiançar ser correta a expressão risco de morte; III) e ele está correto, quando diz ser correta
a expressão risco de morte; IV) por fim, também se deve acrescentar que não foi ele o inventor
dessa expressão por último referida.
8) Em verdade, em obra publicada há quase trinta anos, o sempre lembrado mestre Napoleão
Mendes de Almeida já observava, em defesa dessa expressão, que, "se dizemos 'correr o risco de
morrer', 'correr o perigo de morrer', acertado é também que digamos 'correr o risco de morte', 'correr
o perigo de morte'..."1
9) Com tais ponderações, que parecem ser de total oportunidade, é possível afirmar que as duas
expressões são vernáculas e corretas, e ambas trazem o mesmo conteúdo semântico.
10) Além disso, sem exageradas preocupações de ordem gramatical, em ambas se pode ver a
ocorrência de uma elipse: I) em risco de vida, está claro que o significado é o risco de (perder a)
vida; II) em risco de morte, não menos certa é a acepção do risco de (encontrar a) morte.
11) Verificando nossa legislação – apenas no que tange aos códigos, sem busca na legislação
esparsa – podem-se afirmar os seguintes aspectos: I) não se encontrou nenhuma referência à
expressão risco de morte; II) foram encontrados apenas três exemplos da expressão risco de vida,
todas elas no recente Código Civil de 2002: a) "Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com
risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica" (CC, art. 15); b) "Quando algum dos
contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual
incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de
seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até
segundo grau" (CC, art. 1.540); c) "O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá
fazer-se representar no casamento nuncupativo" (CC, art. 1.542, § 2º).
12) Apenas a título de ilustração final, anota-se que essa convivência de expressões aparentemente
opostas, mas com o mesmo conteúdo semântico, não ocorre apenas em português, já que existem
tais expressões, em mesmos moldes, no inglês (risk of life e risk of death), no espanhol (riesgo de
vida e riesgo de muerte) e no francês (risque de vie e risque de mort).
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1 Cf. ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Dicionário de Questões Vernáculas. 1. ed. São Paulo: Caminho Suave, 1981. p.
280.
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