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GRUPO III

A escravatura doméstica é uma forma de exploração invisível que se deve, por um lado,
à pobreza dos países de origem das vítimas e, por outro, a uma procura crescente dos serviços
domésticos, devido à generalização do trabalho das mulheres na sociedade ocidental. O trabalho
doméstico é hoje frequentemente entendido como uma atividade reservada às mulheres
estrangeiras. A sua disponibilidade e as suas fracas exigências transformaram o mercado.
Evoluiu para uma forte concorrência ao nível da oferta e para um aumento das exigências da
parte da procura (flexibilidade, horários sobrecarregados, dificuldade das tarefas, salários
baixos…). As migrantes mais vulneráveis não estão muitas vezes em condições de discutir as
suas condições de trabalho e de defender os seus direitos.

Neste contexto, a expressão «escravatura moderna» foi utilizada em França pelo CCEM
[Comité Contre l’Esclavage Moderne] para designar a situação das pessoas colocadas em
situação de vulnerabilidade por coação física ou moral, e que são obrigadas a fornecer um
trabalho (tarefas domésticas, guarda de crianças) sem remuneração real, e isto num contexto de
violências e em que se encontram privadas de liberdade.

As jovens mulheres trabalham atualmente em lares privados e vivem na maioria das vezes com
a família do seu explorador. Estão assim à disposição da família 24 sobre 24 horas. A sua
liberdade de movimentos é limitada e depende das necessidades do patrão. Algumas mulheres
são isoladas do mundo exterior durante anos. Encontram-se sequestradas. A maioria das vítimas
sofre violências físicas, mas as psicológicas são as que mais afetam as mulheres. São
condicionadas, humilhadas e continuamente rebaixadas. É-lhes negado o direito de falar ou de
entrar em contacto com a sua família. Não podem usufruir de qualquer vida privada nem de
qualquer intimidade. A maioria das vítimas não tem acesso a cuidados de saúde e muitas são as
que não comem o suficiente para satisfazer a fome.

Entre dois empregos, Paulette reside em casa da Sr.a X, num pequeno apartamento em Paris.
Como esta última trabalha durante o dia, fecha Paulette numa exígua divisão sem luz, e isto
durante dias inteiros. Ao longo de seis anos, Paulette irá viver, em França, um verdadeiro
calvário. Trabalha todos os dias da semana, levanta-se às seis horas e deita-se à uma da manhã
— porque a electricidade é mais barata à noite, essa é a altura em que as jovens raparigas
engomam a roupa. Não recebe qualquer salário. Dorme no chão do quarto das crianças e é
quotidianamente vítima de agressões e de insultos.

Georgina Vaz Cabral, “A escravatura moderna e doméstica”, in Christine Ockrent (org.), O


livro negro da condição das mulheres Lisboa, Temas e Debates, 2007 (adaptado)

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1 Nas seguintes questões, indique a opção que completa corretamente cada frase

1.1 A ideia de “escravatura doméstica moderna” abordada no texto, refere-se ao tipo de


trabalho:

(A) excessivo que é realizado diariamente pelas donas de casa nos nossos dias.
(B) excessivo e mal pago que é realizado nos nossos dias por mulheres estrangeiras no mundo
ocidental.
(C) excessivo e não remunerado que é realizado hoje por mulheres estrangeiras no mundo
ocidental.
(D) excessivo e, na prática, razoavelmente pago que e realizado pelas mulheres no mundo
moderno.

1.2 Segundo o texto, esta “escravatura doméstica moderna” fica também a dever-se

(A) à inexistência de leis que protejam estas mulheres estrangeiras.


(B) ao facto de estas mulheres estrangeiras se encontrarem em situação ilegal.
(C) ao facto de as autoridades serem ineficazes no combate a esta situação.
(D) à condição frágil das mulheres estrangeiras e a sua falta de capacidade de
reivindicação de melhores condições.

1.3 Ao afirmar que as mulheres vítimas de “escravatura doméstica modernas se encontram em


situação de vulnerabilidade por coação física ou moral” a autora pretende dizer que essas
mulheres se encontram numa situação desprotegida e que

(A) são espancadas e ofendidas diariamente.


(B) vivem em estado de pressão, que se pode traduzir em imposições e ameaças.
(C) têm de trabalhar demasiado e em situações difíceis.
(D) vivem em estado de receio permanente

1.4 O constituinte “das necessidades do patrão” desempenha a função sintática de

(A) predicativo do sujeito


(B) complemento obliquo.
(C) modificador do grupo verbal
(D) complemento direto.

1.5 O constituinte “o direito de falar ou de entrar em contacto com a sua família” desempenha a
função sintática de

(A) complemento direto.


(B) predicativo do sujeito
(C) complemento agente da passiva
(D) sujeito simples.

1.6 A oração “porque a eletricidade e mais barata a noite” é uma

(A) oração subordinada adverbial causal.


(B) oração coordenada explicativa.
(C) oração subordinada adverbial consecutiva.
(D) oração subordinada adverbial final.

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