Você está na página 1de 5

“Leitura e Cidadania”

Nilcéia Albuquerque França (UEPG)


Marivete Souta de Moura (Usina de Conhecimento/NRE

1. Introdução
O presente trabalho trata de pesquisa exploratória, ligada ao projeto “Leitura e
Cidadania”, que está se desenvolvendo, no presente ano letivo, através de parceria da
Universidade Estadual de Ponta Grossa com a Usina de Conhecimento/Núcleo Regional
de Ensino, Ponta Grossa, Paraná. Decidiu-se assim nominá-lo, pois se entende que a
habilidade de leitura parece ser uma das mais relevantes a serem incentivadas e
desenvolvidas, nos alunos e nas alunas de nossas escolas, visto que deverá ser utilizada
ao longo de suas vidas, uma vez que se trata de ferramenta decisiva para adquirir cultura
e conhecimento e possivelmente até experiências, para tornarem-se pessoas interativas e
conscientes, que desejam alcançar maior qualidade de vida e o exercício de sua
cidadania. Este projeto pretende oportunizar o desenvolvimento de projetos de leitura.
Contém quatro seções, sendo a seguinte (seção 2), a descrição do projeto propriamente
dito; a seguir vem a seção que apresenta discussões teóricas acerca de leitura (seção 3);
e após, na seção 4, as considerações finais.

2. O projeto
O projeto originou-se de outro, criado em 2006, pela Professora Especialista
Marivete Souta de Moura, Coordenadora de Literatura, da Usina de Conhecimento, a
pedido do Núcleo Regional de Ensino. Chamou-se inicialmente “Nas trilhas da
Leitura”, e objetivava incentivar a leitura como forma de compreensão do mundo e de
aquisição de diferentes linguagens, atendendo às escolas da rede estadual de ensino,
principalmente aos alunos de 5ª série. Criou-se, então os Clubes de leitura que visavam
desenvolver o gosto pela leitura, sendo que para atender a mais escolas, algumas
pessoas da área da Educação trabalharam como voluntários, coordenando alguns Clubes
de Leitura, em horário contraturno, o que foi um sucesso, pois dinamizamos as
bibliotecas daquelas escolas. No início de 2007, firmamos parceria com a UEPG,
através da Professora M.Sc. Nilcéia Albuquerque França, Professora do Departamento
de Letras Vernáculas, o que nos permitiu ampliar o projeto, passando então a chamar-se
Leitura e Cidadania. Assim, o projeto totalizará 80 horas, sendo 60 horas de
capacitação e 20 horas de estudos em grupo, quando acontecem reflexões sobre práticas
de leitura, leitura de textos teóricos e troca de experiências, enriquecendo nossos
conhecimentos sobre leitura. Também ampliamos o número de escolas atendidas; de 6
escolas, passou-se para 20 escolas atendidas com os Clubes de Leitura, sendo inseridos
professores e acadêmicos de Letras e de Pedagogia (em duplas).
Sete professores de Língua Portuguesa, de diversas instituições de ensino
ministrarão cursos e oficinas de leitura/produção de textos, de alguns gêneros e tipos
textuais. Incluem-se 16 professores da rede pública estadual, e ainda estagiários, de
séries diversas, dos Cursos de Letras e de Pedagogia, totalizando aproximadamente 23,
contribuindo com os professores, na execução de seus projetos, como também poderão
auxiliar nos Clubes de Leitura. Os acadêmicos participarão ajudando aos professores
que desenvolverão projetos, ou aplicando seus próprios projetos, supervisionados pelas
Coordenadoras Marivete Souta de Moura e Nilcéia Albuquerque França. O projeto é
relevante, pois se percebe a grande necessidade de estímulo à leitura; sendo urgente que
se busquem meios de encaminhamento para a questão e que se objetive desenvolver
projetos de leitura nas escolas, pois através dela, os alunos podem alargar horizontes,
descortinar uma realidade possível, reestruturando a leitura de seu mundo.
3. Discussão teórica
A literatura sobre ensino de leitura tem sido bem vasta; acredita-se que todas
devem ter alguma eficácia; o fato, porém, é que algumas funcionam para alguns alunos
e para outros, não; sendo necessário, portanto, uma abordagem, mais particularizada,
levando em conta as diferenças entre cada um dos alunos. Assim, nota-se que o
tratamento com a leitura exige uma visão, não só pedagógica, mas também social e
cultural de cada criança, priorizando as suas peculiaridades e a sua realidade. Novas
pesquisas no campo da leitura apontam para a aproximação ou interação entre
Lingüística, Educação e Psicanálise, tudo isso vinculado ao inconsciente. Reconhece-se
a complexidade dos processos de aprendizado da leitura e da importância da
interdisciplinaridade e do uso de textos da própria cultura do aluno. Nesse sentido, a
oralidade, tão característica da cultura do povo brasileira, pode vir a ser eficiente
ferramenta no ensino da leitura, propiciando engajamento subjetivo nesse universo,
sendo que o leitor pode “brincar” com a “desmontagem” de palavras; através do
emprego de gêneros lúdicos presentes na cultura de um país para penetrar no universo
da leitura a ser desbravado, uso de jogos lúdicos, por exemplo, como afirma Belintane
(2005:274): “É possível, por exemplo, classificar os trava-línguas, as fórmulas de
escolha, as adivinhas, as mnemonias de acordo com o tipo de dificuldade que o
processo de alfabetização vai enfrentar no momento”. Tem-se, ainda a língua do “pê”,
jogos que permitem associar movimentos corporais ao deslocamento de unidades
vocabulares ou silábicas:pular corda dizendo textos, atirar bola na parede dizendo um
texto, cantigas de roda e outros que permitem o jogo de cola descola, favorecendo muito
o jogo dos sujeitos que apresentam dificuldades analíticas relacionadas à segmentação.
Sabe-se que ler é encontrar o que está explícito e o que está implícito no texto,
formando o nosso próprio pensamento crítico. Assim sendo, a leitura, dentro da visão
construtivista, relaciona-se com a alfabetização, no sentido amplo de levar o aluno a
interpretar o mundo, pois não basta decodificar as representações indiciadas por sinais e
por signos. O leitor deve portar-se diante do texto, transformando-se. Está, pois,
relacionada com o progresso escolar já que, para escrever bem, é preciso ser bom leitor.
Deste modo, nota-se que a leitura de mundo ajuda no desenvolvimento do pensamento
e, por sua vez, o pensamento mais desenvolvido auxilia a linguagem e a aprendizagem.
Sabe-se ainda, que ao ler a palavra do outro, pode-se descobrir nela outras formas de
pensar, que contrapostas às nossas, por exemplo, poderão nos levar à construção de
novas formas e assim sucessivamente. Assim sendo, as práticas das oficinas e dos
minicursos serão sempre fundamentadas na vivência anterior dos alunos e das alunas.
Como afirma Azeredo (2006:25),

”Independentemente de sua duração a experiência sociocultural dos indivíduos


anterior à aprendizagem da escrita dota-os de um amplo conhecimento sobre sua
língua, sem o qual nada entenderiam e nada saberiam dizer, e esse conhecimento será
a base do crescimento de cada um como pessoa à medida que cada um precise se
comunicar em outras situações,para dizer e assimilar coisas novas, e para lê-las e
escrevê-las”.

Deste modo, a literatura, leitura em que o autor prioriza a linguagem estética,


oferece ao aluno visão original da realidade, permitindo o preenchimento de lacunas,
resultante de sua pequena e ainda escassa experiência vivencial. Trabalham-se aí
conteúdos emocionais, muitas vezes, inconscientes, integrando-os na personalidade do
educando. É preciso redimensionar as práticas e os espaços escolares, levando à uma
reflexão sobre a relação pessoal com o desenvolvimento da leitura e da escrita,
propondo o desencadeamento de novos modos de ser e de fazer o ler e o escrever na
escola, pois a formação do cidadão implica numa qualidade cada vez mais exigente de
leitura, pois o mundo está em permanente mudança nas suas escritas. “A apropriação
dos gêneros,é, por isso, um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática
nas atividades comunicativas humanas” (Bronckart:1999:103, in Pereira, Cilene da
Cunha et alii, apud Pauliokonis e dos Santos, 2006:29). Assim, tem-se tratado de
diferentes gêneros textuais e diferentes tipos textuais, para possibilitar aos alunos e às
alunas, identificar e incorporar estratégias de organização do discurso que garantam sua
unidade e eficiência, o que resulta em textos caracterizados por um todo coerente e
coeso, produzindo e manifestando sentidos específicos, dentro de uma interação
estabelecida entre os interlocutores. É relevante apontar para as condições de produção,
para o contexto situacional, para o contexto de produção, para as propriedades
funcionais e para a estruturação textual.
Assim, o papel da escola não é mais a mera transmissão de informações; hoje,
exige-se que ela desenvolva a capacidade de aprender, o que subentende o domínio da
leitura e da escrita. A inserção do aluno, no universo da cultura letrada, desenvolve a
habilidade de dialogar com os textos lidos, através da capacidade de ler em
profundidade e de interpretar textos significativos para a formação da sensibilidade, da
cultura e da cidadania. Ela vem, pois, constituindo-se como espaço privilegiado para a
aprendizagem e para o desenvolvimento da leitura, pois aí se dá o encontro decisivo da
criança com o ato de ler. Para muitas crianças de nosso país, a escola é o único lugar
onde há livros, o único lugar onde os alunos não estão voltados apenas para a televisão.
Deste modo, cabe à escola, a tarefa de apresentar ao aluno textos de diversos gêneros e
tipos textuais, para que passe a apreciar a leitura, e ainda passe a atrever-se a persistir
nesta aprendizagem do hábito, levando-o a formular hipóteses acerca do sentido do que
lê, do que vivencia, do que vê, inclusive na tv, do que leu nos jornais, do que sente,
assumindo pontos de vista próprios, promovendo um diálogo critico entre a vida e a
escola. É ali que a própria tv pode ser vista de modo mais amplo, e não apenas lúdico,
mas também crítico. Pode-se promover, inclusire, as diferentes aprendizagens, de cada
área de conhecimento e do mundo; não sendo assim uma tarefa simples, mas possuindo
grandioso alcance na vida de toda e qualquer pessoa. “...A leitura deveria ser, para o
adolescente, tão boa como comer um doce de coco. A leitura tem que ser uma coisa
doce, e não algo imposto.(...) Quem não lê como criança, não vai ler como adulto.
”(Ziraldo, Mundo vem, abril/1998: 2). Leitura não se restringe ao ato de ler livros, mas
também de ler jornais, revistas, filmes, quadros, charges e outros textos. Os projetos
advindos deste, terão a liberdade de escolha sobre os gêneros e os tipos de texto a serem
usados para o desenvolvimento do seu projeto. O importante é criar espaços no sentido
de desenvolver o gosto pela leitura. “É preciso frisar também que a prática de leitura,
patrocinada pela escola, precisa ocorrer num espaço de maior liberdade possível.”
(Marisa Lajolo, 1997: 108). Num processo democrático, leitura parece essencial, pois o
cidadão precisa assinar contratos, procurar empregos, ler jornal, enfim, a sociedade
exige-a, pois fez da escrita seu código oficial. Assim, não se pode formar bons leitores,
usando os textos como pretextos para ensinar gramática. Numa concepção
interacionista, é mais que entender as informações explícitas; é, por meio do texto,
trocar experiências. Paulo Freire, assim define leitura: “eu vou ao texto carinhosamente.
De modo geral, simbolicamente, eu ponho uma cadeira e convido o autor, não
importando qual, a travar um diálogo comigo.” O leitor maduro não aceita tudo o está
escrito, discorda, concorda, interpreta,, constrói sentidos, dialogando com o que lê.
Smith (1999:111) fala sobre a leitura, num enfoque mais cognitivo, de
funcionamento do cérebro. Afirma que a leitura corresponde a uma ilustração, a uma
descrição, a uma análise. Diz ainda que, para se fazer uma leitura apropriada, deve-se
fazer perguntas ao texto escrito, ou seja, deve-se ter certa expectativa, ou previsão,
sendo que as respostas serão a compreensão da leitura. Deste modo, ressalta-se aí, a
importância dos textos significativos para o aluno, que lhe digam algum respeito, que
tenham algum sentido para ele ou para ela. Enfoca ainda, o contexto, como relevante
para a leitura eficiente, sendo que as palavras desconhecidas passam a não ser mais um
problema para o leitor, se ele tiver um olhar mais abrangente e contextual, o que traria a
transparência dos significados. Além disso, sugere que se leiam os textos, para os
alunos ouvirem; oportunizando-lhes familiarizar-se com a língua padrão, ampliando-
lhes, deste modo, o conhecimento acerca dos registros. Assim, poderão ler com mais
compreensão e sem terem um estranhamento diante do texto escrito, ao começarem a ler
os textos sozinhos.

CONCLUSÃO
Conforme “leitura favorece a remoção das barreiras educacionais de
que tanto se fala, concedendo oportunidades mais justas de educação principalmente
através da promoção do desenvolvimento da linguagem e do exercício intelectual, e
aumenta a possibilidade de normalização da situação pessoal de um indivíduo. A leitura
proporciona uma base de conhecimentos que darão os fundamentos para o aluno poder
pensar com mais clareza e ter facilidade de expressão. Com a leitura construímos
referenciais, pontos de apoio, que por sua vez, nos auxiliam a assimilar o conhecimento
mais facilmente. É um campo que vamos fertilizando devagar onde, com passar dos
tempos, as idéias crescem mais facilmente, ajudando a formar uma visão de mundo e
facilitando a compreensão de muitas coisas.
”Temos sistematizado todas as reflexões sobre o desenvolvimento do projeto e
pretendemos editar nossa pesquisa-ação, com o objetivo de contribuir para a classe do
magistério e para outras pessoas interessadas pelo tema. Incentivaremos a execução de
projetos, pois muitos professores já fizeram um projeto de leitura, e poderão colaborar,
compartilhando seus projetos com seus colegas e com os acadêmicos da UEPG. Esta
parceria entre Núcleo de Educação e Universidade Estadual de Ponta Grossa vem
contribuir para o desenvolvimento de projetos de leitura. Como culminância deste
projeto, faremos um fórum, no final do ano, com uma amostra dos resultados dos
projetos.
Referências Bibliográficas

AZEREDO, José Carlos de. O texto: suas formas e seus usos. In


Estratégias de Leitura – Texto e Ensino. PAULIUKONIS, Maria
Aparecida Lino & SANTOS, Leonor Werneck (orgs.) Estratégias de
Leitura. Lucerna, Rio de Janeiro, 2006.

BELINTANE, Claudemir. Leitura e letramento no Brasil: uma busca além


da polarização. In Educação e Pesquisa. São Paulo, v.32, n.2,p251-
277. maio/ago.2006.

http://www.minc.gov.br/textos/olhar/literaturainfantil.htm

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo:


Ática, 1997.

MUNDO JOVEM. Um jornal de idéias. Ler é uma atitude inteligente. Porto


Alegre. 2003. P. 2-6. Rio Grande do Sul. Dezembro/2003.

PAULIUKONIS, Maria Aparecida Lino & SANTOS, Leonor Werneck


(orgs.) Estratégias de Leitura. Lucerna, Rio de Janeiro, 2006
SMITH, Frank. Leitura significativa 3ed. Artes Médicas. Porto Alegre,
Trad Beatriz Affonso Neves.1999

PEREIRA, Cilene. Gêneros textuais. In PAULIUKONIS, Maria


Aparecida Lino & SANTOS, Leonor Werneck (orgs.) Estratégias de
Leitura. Lucerna, Rio de Janeiro, 2006

SMITH, Frank. Leitura significativa 3ed. Artes Médicas. Porto Alegre,


Trad Beatriz Affonso Neves.1999

ZIBERMAN, Regina & LAJOLO, Marisa. Literatura Infantil Brasileira. História &
Histórias. Sâo Paulo: Ática. 1985.

Segundo Hemilewski, a literatura oferece alimento à criatividade e ao imaginário e


oportuniza à criança o conhecimento de si mesmo, do mundo que a cerca, do seu
ambiente de vida, e lhe permite, então, estabelecer as relações tão importantes e
necessárias entre real e não-real.

Você também pode gostar