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Profª Ana Patrícia Cuvello

Veloso

Direito das Coisas – Direito Civil – 5º Período/Matutino

Aula de 07/04/2020

Revisão – com questões:

1 – Defina a posse ad interdicta e posse usocapionem:

posse ad interdicta: posse que autoriza a utilização dos interditos proibitórios.


Para ela existir basta que o possuidor demonstre os elementos essenciais da
posse, corpus e animus, e a moléstia, mas não conduz a usucapião, como no
caso do locatário.
posse usocapionem: posse que autoriza a aquisição do bem por usucapião.
Aqui será necessário o preenchimento de vários requisitos além dos elementos
essenciais à posse: boa-fé; decurso do tempo suficiente à aquisição; posse
mansa e pacífica; que se funde em justo título, salvo no caso de usucapião
extraordinário; que seja como animus domini, tendo o possuidor a coisa como
sua.

2- Qual a diferença entre Constituto Possesório e Tradittio Brevi Manu?


Constituto Possesório: também conhecido cláusula constituti, trata-
se de uma operação jurídica que altera a titularidade na posse, de
maneira que aquele que possuía em nome próprio, passa a possuir em
nome alheio. Ex: vendo uma casa que possuía em nome próprio, e
coloco no contrato de compra e venda uma cláusula que prevê minha
permanência na casa na condição de locatário, ou seja, passo a
possuir a casa em nome alheio
Tradittio Brevi Manu: ocorre quando a pessoa que possuí em nome
alheio passa a possuir em nome próprio. Ex: o locatário que possui a
casa em nome alheio compra a casa passando a possuir em nome
próprio.
3 – O que vem a ser Jus Possidendi e Jus Possesiones?
Jus Possidendi: é o direito À posse, decorrente do direito de
propriedade, ou seja, é o próprio domínio. Em outras palavras, é o
direito conferido ao titular de possuir o que é seu.

Jus Possesiones:
é o direito DE posse, ou seja, é o poder sobre a coisa e, a
possibilidade de sua defesa por intermédio dos interditos (interdito
proibitório, de manutenção da posse ou de reintegração de posse).
Trata-se de conceito que se relaciona diretamente com a posse direta
e indireta. Ao possuidor direto é conferido o direito de posse.

4 – Como exercer o direito de retenção?


R: Faculdade legal conferida ao credor de conservar em seu poder a coisa que
possui de boa-fé, pertencente ao devedor, ou de recusar-se a restituí-la até que
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seja satisfeita a obrigação. Veloso

5 – O que se entende por desapropriação judicial indireta?


R: é o fato administrativo pelo qual o Estado se apropria do bem particular, sem
observância dos requisitos da declaração e da indenização prévia. Costuma ser
equiparada ao esbulho podendo ser obstada por meio de ação possessória.

6 – No tocante a desapropriação judicial indireta, quem deverá pagar a


indenização mencionada no artigo 1.228 § 5º do CC/2002?
R: No caso do parágrafo 5º, o juiz fixará a justa indenização devida ao
proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do
imóvel em nome dos possuidores.

7 – Como exercitar o direito assegurado aos possuidores do §4º do artigo 5°?

R: O proprietário pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir


em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de
considerável número de pessoas, e estas nelas houverem realizado, em
conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de
interesse social e econômico relevante.

8 – Qual o traço característico da Teoria de Ihering?

Para a teoria de Ihering, a posse é caracterizada


apenas e tão somente com a ingerência econômica
sobre o bem, ou seja, o exercício do poder de fato e
propriedade (visibilidade ao domínio), não sendo
necessário o elemento animus. A teoria objetiva de
Ihering repele o elemento volitivo (animus),
justamente porque esse elemento está “implícito
no poder de fato exercido sobre a coisa”

9 – qual a natureza jurídica da Posse?

Para a doutrina mais moderna é irrelevante a


rigorosa classificação da posse como sendo
direito real ou obrigacional. Aliás, para essa
doutrina moderna, a posse assume múltiplas
facetas. Assim, a posse poderá ser configurada
como direito real, como, por exemplo, a posse
exercida pelo proprietário do bem. Por outro lado,
a posse poderá ser direito obrigacional quando
advier de uma relação jurídica, a exemplo da
locação, arrendamento, etc. Por derradeiro, deve
ser citada a posse emanada exclusivamente de
uma situação fática (apossamento e ocupação).
Enfim, a posse é um direito autônomo que pode
ser exercitado não apenas pelo proprietário, daí
sua autonomia. A posse representa, portanto, o
efetivo aproveitamento econômico dos bens para
alcance de interesses sociais.

11 – O que significa desdobramento da posse?


O desdobramento da posse é um fenômeno
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jurídico. Ocorre, basicamente, Veloso o
quando
proprietário, por meio de uma relação jurídica
negocial, transfere a outrem o poder de fato
sobre a coisa, por exemplo, um contrato de
arrendamento ou locação. A partir dessa
relação contratual a posse do proprietário será
repartida. Teremos, assim, posse direta
(daquele que exerce ingerência
socioeconômica); e, posse indireta, daquele
que transferiu a posse direta. O artigo 1.197,
do CC/2002 disciplina que: “A posse direta, de
pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito
pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem
aquela foi havida, podendo o possuidor direto
defender a sua posse contra o indireto”.

12 – O que se entende por Fâmulo da Posse?


O fâmulo da posse ou detentor da posse é
aquele que, até prova em contrário, em razão
da situação de dependência econômica ou de
um vínculo se subordinação em relação a
outra pessoa (possuidor direto ou indireto),
exerce sobre o bem não uma posse própria,
mas a posse desta última e em nome desta,
em obediência a uma ordem ou instrução

13 – A relação jurídica que se dá o suporte do desdobramento da posse deve ser


formal por meio de contrato escrito?

Não. Tanto doutrina como jurisprudência não evidenciam essa necessidade.


Aliás, esse desdobramento pode ocorrer por meio de contratos verbais. Veja
interessante ementa da jurisprudência do TJ-MT “RECURSO DE APELAÇÃO
CÍVEL - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - POSSE DECORRENTE DE
CONTRATO VERBAL DE COMODATO - NOTIFICAÇÃO DO RÉU PARA
DESOCUPAR O IMÓVEL - RECUSA - CONFIGURAÇÃO DA POSSE PRECÁRIA E
ESBULHO - RECURSO IMPROVIDO.Aquele que possui imóvel em virtude
apenas de contrato de comodato tem somente a posse direta sobre o bem, por
ato de mera liberalidade dos proprietários de modo que com o falecimento do
comodatário encerra-se o comodatoA permanência do Recorrente na posse
após a sua notificação para desocupar o imóvel configura o esbulho e a posse
precária sobre o bem”.

14 – O que vem a ser composse?

É a situação prevista no artigo 1.199, do CC/2002: Se duas ou mais pessoas


possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios,
contanto que não excluam os dos outros compossuidores”. Sobre composse é
importante salientar que eventual ação de reintegração de posse deve ser movida
contra todos os co-proprietários. Neste sentido, vejamos a ementa do STJ:
“PROCESSUAL CIVIL. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE.
REINTEGRAÇÃO DE POSSE. COMPOSSE. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DA
COMPANHEIRA. NECESSIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 10, § 2º DO CPC. 1. A
falta de prequestionamento dos artigos 46, 243 e 245 do CPC impede o
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conhecimento do recurso especial nos termos da Súmula 282/STF. 2. Em ação de
reintegração de posse, existindo a composse, é imprescindível a participação do
cônjuge para o processamento válido (art. 10, § 2º, do CPC). Precedente: REsp
76.721/PR, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU de 30.03.98 3. Impõe-se a
anulação do processo ab initio ante a ausência de citação do cônjuge
listisconsorte passivo necessário. 4. Rever os fundamentos do acórdão recorrido
para acatar a alegação de inexistência de cônjuge, ou o fato de o réu ser o
causador da falta de citação, seria necessária a incursão no campo fático-
probatório. Óbice da Súmula 7/STJ. 5. Recurso especial conhecido em parte e não
provido.” (REsp 553.914/PE, DJe 01/04/2008)

15 – A ocupação irregular de áreas públicas pode gerar direitos possessórios?

Não, pois nesses casos, de acordo com a jurisprudência do STJ, o que estará
caracterizado é apenas uma espécie de detenção. Neste sentido, vejamos a
decisão do STJ: “ADMINISTRATIVO. OCUPAÇÃO DE ÁREA PÚBLICA POR
PARTICULARES. JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO. MERA DETENÇÃO.
CONSTRUÇÃO. BENFEITORIAS. INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A ocupação
de área pública, sem autorização expressa e legítima do titular do domínio, é mera
detenção, que não gera os direitos, entre eles o de retenção, garantidos ao
possuidor de boa-fé pelo Código Civil. Precedentes do STJ. 2."Posse é o direito
reconhecido a quem se comporta como proprietário. Posse e propriedade,
portanto, são institutos que caminham juntos, não havendo de se reconhecer a
posse a quem, por proibição legal, não possa ser proprietário ou não possa gozar
de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. A ocupação de área pública,
quando irregular, não pode ser reconhecida como posse, mas como mera
detenção. Se o direito de retenção ou de indenização pelas acessões realizadas
depende da configuração da posse, não se pode, ante a consideração da
inexistência desta, admitir o surgimento daqueles direitos, do que resulta na
inexistência do dever de se indenizar as benfeitorias úteis e necessárias" (...) 6.
Recurso Especial provido”. REsp 900.159/RJ, DJe 27/02/2012

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16 – O detentor poderá valer-se das ações possessórias para defender a sua
posse?
O detentor exerce sobre o bem uma posse que não é própria, mas uma posse
em nome de outrem. Logo, como não tem posse, não lhe assiste o direito de
invocar, em nome próprio, as ações possessórias.

Diferencie permissão e tolerância:

Atos de Mera Permissão (art. 1208). Permissão é a declaração de vontade do


possuidor pela qual este, sem renunciar à posse nem fazer nascer para si
qualquer obrigação que anteriormente não existia, confere a terceiro – o
detentor – a faculdade de realizar, com relação à coisa, atos que, sem isso,
seriam ilícitos. Exemplos clássicos são os empréstimos momentâneos de
coisas, sem que o possuidor perca o controle sobre elas. Ex: Alguém que recebe
um hóspede em sua residência, cedendo-lhe o uso de um cômodo por curto
período.
Atos de Tolerância (art. 1208). Tolerância é o comportamento de inação,
omissivo, consciente ou não do possuidor que, mais uma vez, sem renunciar a
sua posse, admite a atividade de terceiro em relação à coisa ou não intervém
quando ela acontece. Caracteriza-se por uma mera indulgência, uma simples
condescendência, não implica transferência de direitos. Ex: Alguém utiliza,
diariamente, terreno de possuidor para pastagem de seu semovente.

17 – A posse injusta pode levar a usucapião?

Alguns autores dizem que a posse deve convalescer (passar de injusta para
justa), ou ter purgados os vícios (devem cessar os vícios), para gerar usucapião.
Porém, isso não é bem assim. As posses violenta e clandestina (injustas em
decorrência dos vícios e que se mantêm como injustas por sua causa original), na
verdade, somente nascem quando cessam os ilícitos. Enquanto perdurarem esses
vícios teremos simples detenção. O que se exige é que durante o prazo necessário
à usucapião não haja atos violentos ou clandestinos, embora a posse seja injusta,
porque a sua causa original é ilícita. Prova intuitiva e maior disso é que, se alguém
invadir com violência uma gleba de terras e, cessada a reação do esbulhado
(deixar de resistir), permanecer por mais quinze anos sem ser molestado (posse
mansa, pacífica, pública, contínua e com animus domini), terá usucapião, apesar
da injustiça original de sua posse. Nessa linha, a posse injusta, que possui seu
vício na origem, com a consumação dos requisitos da usucapião, passa a ser
posse justa (e não quando cessados os vícios), pois a prescrição aquisitiva é
modo originário de adquirir a propriedade, sanando qualquer vício que a
acompanhe.

18 – Qual o entendimento do STJ de posse de bens públicos e benfeitorias?

O entendimento do STJ é o seguinte: “DIREITOS REAIS. RECURSO ESPECIAL.


POSSE DE BEM PÚBLICO GERIDO PELA TERRACAP OCUPADO SEM
PERMISSÃO. IMPOSSIBILIDADE. DIREITO À RETENÇÃO E INDENIZAÇÃO POR
BENFEITORIAS. INVIABILIDADE. 1. Conforme dispõe a Lei 5.861/72, incumbe à
TERRACAP, empresa pública que tem a União como co-proprietária, a gestão
das terras públicas no Distrito Federal. 2. A jurisprudência firme desta Corte
entende não ser possível a posse de bem público, constituindo a sua
ocupação sem aquiescência formal do titular do domínio mera detenção de
natureza precária. 3. Os artigos 516 do Código Civil de 1916 e 1.219 do Código
Civil em vigor estabelecem a posse como requisito para que se possa fazer jus
ao direito de retenção por benfeitoria. 4. Recurso especial provido. (REsp
841.905/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 17/05/2011, DJe 24/05/2011)”

19 – Quais são as ações que Doutrina classicamente denomina de Interditos


Possessórios?

São três, a saber:

a) Reintegração de posse (esbulho: o possuidor perde a posse. Só cabe


reintegração se o esbulhador tem posse injusta – violência, clandestinidade,
precariedade). Esbulho parcial: a ação adequada é a reintegração da posse.

b) Manutenção de posse (turbação: ainda não houve o esbulho – aqui houve


perturbação)

c) Interdito proibitório (ameaça: é uma ação possessória de caráter nitidamente


preventivo) há possibilidade de fixação de multa

20 – A Ação de Imissão na Posse é considerada uma ação possessória?

Não. A ação de imissão de posse não é uma ação possessória, pois quem ajuíza
essa ação é o sujeito (proprietário) que quer entrar na posse pela primeira vez; o
autor tem que provar a titularidade (direito de propriedade) sobre o bem, portanto,
esse procedimento está inserido no chamado jus possidendi.

Muito Obrigada!!!

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