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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

MONITORIA DE DIREITO CONSTITUCIONAL 2019.2


ANOTAÇÕES PARA A SEGUNDA AVALIAÇÃO

HABEAS CORPUS

Art. 5°, LXVIII – Conceder-se á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade
ou abuso de poder

NATUREZA:
• Ação constitucional de natureza penal, de procedimento especial que é isenta de
custas (gratuito) conforme o inciso LXXVII, art. 5° da CF, que diz são gratuitas as
ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao
exercício da cidadania.
• Proteção da liberdade de locomoção (direito de ir e vir) que abrange, dentre outras
coisas, o direito de acesso, ingresso e permanência no território nacional, e o direito
de saída deste.
• As ações de habeas corpus não estão adstritas ao pedido ou a causa de pedir. A
ação de habeas corpus trata de direito líquido e certo (aquele que não demanda
dilação probatória para constatar a sua existência. Exige provas pré-constituídas,
que já serão juntadas na petição inicial

ESPÉCIES:
Habeas corpus preventivo: Quando alguém se achar ameaçado de sofrer violência ou
coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder (o indivíduo
está na iminência de ser preso, por exemplo. Nesta situação, poder-se-á obter um SALVO-
CONDUTO para garantir o livre trânsito de ir e vir.
Habeas corpus repressivo: Quando o individuo já teve desrespeitado o seu direito de
locomoção (já foi ilegalmente preso, por exemplo). Nesta situação, poder-se-á obter um
ALVARÁ DE SOLTURA.
Observação: é possível a concessão de medida liminar em habeas corpus, seja ele
preventivo ou repressivo, desde que presentes os pressupostos descritos no texto legal.

LEGITIMIDADE:
Ativa: Qualquer do povo pode impetrar uma ação mandamental de habeas corpus, pois
não requer para isso capacidade postulatória (654, CPP)
Passiva: O habeas corpus será impetrado contra um ato do sujeito coator, que poderá ser
uma autoridade pública, mas também um particular (contra ao agente de um hospital, que
esteja ilegalmente impedindo a saída do paciente, por exemplo.
Observações
• Segundo mandamento do art. 142, parágrafo segundo da Constituição Federal de
1998, “não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares”.
Todavia, apesar dessa vedação, o âmbito de abrangência limita-se somente ao
julgamento do mérito dessas punições, então o Poder Judiciário poderá apreciar a
legalidade dessas sanções.
• Não se admite a impetração de habeas corpus em favor de pessoas indeterminadas,
não identificadas pela parte impetrante. Ex: “em favor da coletividade formada por
todas as pessoas que se encontram na situação Y”. (HC 143.704/PR 2017)
DESCABIMENTO
A jurisprudência do STF não admite o cabimento do Habeas Corpus em algumas hipóteses:
• Impugnar decisões do Plenário, de qualquer das Turmas ou de Ministro (decisões
monocráticas) do Supremo Tribunal Federal
• Impugnar determinação de suspensão de direitos políticos
• Impugnar penalidade imposta mediante decisão administrativa de caráter disciplinar,
ou trancar o andamento de correspondente processo administrativo (nessas
hipóteses não está em jogo a liberdade de ir e vir)
• Discutir crime que não enseja pena privativa de liberdade, ou impugnar decisão
condenatória à pena de multa, ou relativa a processo em curso por infração penal a
que a pena pecuniária seja a única cominada
• Impugnar a determinação de quebra de sigilo telefônico, bancário ou fiscal, se desta
medida não puder resultar condenação à pena privativa de liberdade;

HABEAS DATA

• O habeas data é um remédio constitucional, sendo um instrumento das garantias


constitucionais. Segundo o art. 5°, LXXII, conceder-se-á habeas data: para
assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público; para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por
processo sigiloso, judicial ou administrativo.
• Trata-se de uma ação de natureza personalíssima.
• Trata-se de uma ação colocada à disposição do indivíduo para que ele tenha acesso,
retifique ou justifique registros de sua pessoa, constantes de BANCOS DE DADOS
DE CARÁTER PÚBLICO.
• Seu processo é regulado pela lei 9.507/97

LEGITIMIDADE:
Ativa: Qualquer pessoa física, brasileira ou estrangeira, bem como pessoa jurídica. É uma
ação personalíssima, e somente poderá ser impetrada pelo titular das informações (requer
capacidade postulatória)
Passiva: Entidades governamentais, da administração pública direta ou indireta, bem como
as instituições, entidades e pessoas jurídicas privadas detentoras de bancos de dados que
contém informações que sejam ou possam ser transmitidas a terceiros que não sejam de
uso privativo do órgão ou entidade depositária das informações.

DESCABIMENTO:
O Habeas data não é instrumento adequado para pleitear o acesso a autos de processo
administrativo, tampouco para a obtenção de cópia destes, e também não é instrumento
idôneo para solicitar informações relativas a terceiros, pois sua impetração deve ter por
objetivo assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante.
Observações:
• Na ação Habeas Data, não há necessidade de que o impetrante revele as causas
do requerimento, ou demonstre que as informações são imprescindíveis à defesa de
eventual direito seu, pois o direito de acesso às informações lhe é garantido,
independente de motivação.
• O Habeas Data somente pode ser impetrado diante da negativa da autoridade
administrativa do fornecimento (ou de retificação ou de anotação da contestação ou
explicação) das informações solicitadas. Portanto, para que o interessado tenha
interesse de agir para o fim de impetrar Habeas Data, é imprescindível que tenha
havido o requerimento administrativo e a negativa pela autoridade administrativa de
atende-lo.
• Inexistência de prazo prescricional: A ação de habeas data não está sujeito a um
prazo decadencial ou prescricional.
• Gratuidade da ação: é gratuita a ação do habeas data, não havendo inclusive
honorários advocatícios, mas é exigida a presença de advogado.

MANDADO DE SEGURANÇA
Art. 5°, LXIX: Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade
ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público.
Lei 12.016/2009

DIREITO LÍQUIDO E CERTO


• Direito líquido e certo é aquele demonstrado de plano, de acordo com o direito, e
sem incerteza a respeito dos fatos narrados pelo impetrante. É o que se apresenta
manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no
momento da impetração.
• Não há dilação probatória no mandado de segurança, as provas devem ser pré-
constituídas (em regra, documentais), levadas aos autos do processo no momento
da impetração. Entretanto, se a controvérsia for somente sobre questão de direito,
não constituirá óbice ao prosseguimento do MS, conforme a súmula 625 do STF.
• Não há necessidade do exaurimento da via administrativa para a impetração do
Mandado de Segurança.
• O prazo para impetração do MS é de 120 dias, a contar da data que o interessado
tiver conhecimento oficial do ato a ser impugnado. Este prazo é decadencial, não
sendo passível de suspensão ou interrupção, nem mesmo o pedido de
reconsideração administrativo vai interromper a contagem deste prazo. Todavia, se
o ato impugnado é de trato sucessivo, o prazo renova-se a cada ato.
• Se o MS for do tipo preventivo, não há que se falar em prazo decadencial, eis que
não há ato para iniciar a contagem do prazo.
• A competência para julgamento do MS é definida pela autoridade coatora e pela sua
sede funcional.
• Não cabe ao STF julgar MS contra atos de Tribunais e seus órgãos. Se o ato é do
Tribunal, é ele mesmo quem detém a competência para julgar originariamente o
mandado de segurança contra seus atos, seus respectivos presidentes, das
Câmaras, Turmas, etc.
• Não há condenação de honorários advocatícios em mandado de segurança, mas há
custas e demais despesas processuais.
• É também admissível a desistência do mandado de segurança em qualquer
momento e grau de jurisdição, independentemente do consentimento do impetrado.

LEGITIMIDADE
Ativa: Pessoas físicas (brasileiras ou não, domiciliadas ou não), jurídicas, órgãos públicos
despersonalizados, porém com capacidade processual (chefias do executivo, mesas do
legislativo, por exemplo), universalidade de bens e direitos (espólio, massa falida,
condomínio), agentes políticos (governadores, parlamentares), o Ministério Público, etc.
Passiva: A autoridade coatora, responsável pela ilegalidade ou abuso de poder (autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público)
• Súmula 510, STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência
delegada, contra ela cabe mandado de segurança ou a medida judicial
• Cabe à autoridade coatora a atribuição de prestar informações ao magistrado,
carreando a este elementos e informações que auxiliem na formação da sua
convicção sobre o conflito.
• Além da notificação da autoridade coatora, para que sejam prestadas as
informações, o juiz ordenará também que se dê ciência do feito ao órgão de
representação judicial da pessoa jurídica interessada. (Ex: AGU ou PGM)

PRAZO
• O prazo para impetração de mandado de segurança é decadencial de 120 dias, a
contar da data em que o interessado tiver conhecimento oficial do ato a ser
impugnado
• Se o ato é de trato sucessivo, o prazo de 120 dias se renova a cada ato
• Súmula 271, STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos
patrimoniais em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria

DESCABIMENTO
Não cabe mandado de segurança:
• Do ato a qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente de
caução
• Da decisão judicial a qual caiba recurso com efeito suspensivo
• Da decisão judicial transitada em julgado
• Contra lei em tese
• Contra atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas
públicas, de sociedades de economia mista e de concessionárias de serviços
públicos. Nesses casos, a atuação deles se equipara à atuação de agente privado,
e não de autoridades públicas.

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO


• Trata-se de legitimidade extraordinária (substituição processual, não só
representação).
• O direito protegido não precisa ser um direito de todos os membros da entidade
• O mandado de segurança coletivo deve defender direito subjetivo liquido e certo,
que, embora seja tutelado coletivamente, é de TITULARIDADE DEFINIDA.
Pode ser impetrado por
A) Partido politico com representação no congresso nacional, na defesa de seus
interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária.
B) Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há, pelo menos um ano, em defesa de direitos líquidos e certos da
totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus
estatutos, e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto,
autorização especial.

MANDADO DE INJUNÇÃO
• Trata-se de um remédio constitucional colocado à disposição de qualquer pessoa
que se sinta prejudicada pela falta de norma regulamentadora, sem a qual resulte
inviabilizado o exercício dos direitos, liberdades e garantias constitucionais. A
preocupação, portanto, é conferir efetiva aplicabilidade e eficácia ao texto
constitucional, para que este não se torne “letra morta” em razão de omissão do
legislador ordinário na sua regulamentação.
• A competência para o julgamento do mandado de injunção é determinada em razão
da pessoa obrigada a elaborar norma regulamentadora, e que permanece inerte.
• O mandado de injunção não é gratuito, e, para sua impetração, é necessária a
assistência de advogado.
• O rito dessa ação mandamental está previsto na lei 13.300/2016.

LEGITIMIDADE
Pode ser impetrado por pessoa natural ou jurídica que se afirmam titulares dos direitos,
das liberdades e das prerrogativas referidas no inciso LXXI, art. 5° da Constituição, mas
para impetrar deve haver capacidade postulatória. O sujeito passivo da ação de
mandado de injunção é o órgão ou autoridade com atribuição para editar a norma
regulamentadora, que normalmente é o congresso nacional.

PRESSUPOSTOS LEGAIS PARA O MANDADO DE INJUNÇÃO, CONFORME A LEI


13.300/2016:
a) Falta – total ou parcial – de norma regulamentadora de um preceito constitucional de
natureza mandatória;
b) Inviabilização, para o impetrante, do exercício de um direito ou liberdade
constitucional, ou a prerrogativa inerente à nacionalidade, à soberania e à cidadania,
decorrente dessa falta de norma regulamentadora;
c) O transcurso de prazo razoável para a elaboração da norma regulamentadora.
Assim, se a norma a ser questionada é fruto de uma alteração recente no texto da
Constituição Federal, não é razoável exigir a regulamentação dessa norma de
eficácia limitada, sendo condição necessária para a impetração o transcurso
razoável de tempo.
• O impetrante não pode impetrar o mandado de injunção diante de toda e qualquer
omissão do poder público, sendo pressuposto para tanto a existência de nexo de
causalidade entre a omissão do poder público e a inviabilidade do exercício do
direito pelo impetrante.

DESCABIMENTO
Não cabe Mandado de Injunção:
a) Para discutir a constitucionalidade de norma regulamentadora de direito previsto na
constituição;
b) Diante da falta de norma regulamentadora de direito previsto em normas
infraconstitucionais;
c) Diante da falta de regulamentação dos efeitos de Medida Provisória não convertida
em lei pelo Congresso Nacional
d) Se a constituição outorga mera faculdade ao legislador para regulamentar direito
previsto em algum de seus dispositivos.

CONCRETISMO OU NÃO CONCRETISMO?


• CONCRETISTA: Sempre que presentes os requisitos constitucionais exigidos
para o mandado de injunção, o poder judiciário deveria reconhecer a existência
da omissão legislativa ou administrativa e possibilitar efetivamente a
concretização do exercício do direito, até que fosse editada a regulamentação
pelo órgão competente. Divide-se em Concretista GERAL E INDIVIDUAL. A
posição concretista geral é adotada quando a decisão do Poder Judiciário tem
efeito geral (erga omnes), possibilitando, mediante um provimento judicial
revestido de normatividade, a concretização do exercício do direito alcançando
todos os titulares daquele direito, até que fosse expedida norma regulamentadora
pelo órgão competente. Enquanto a posição concretista individual, diz que os
efeitos da decisão seriam somente para o autor do mandado de injunção (eficácia
inter partes). Por sua vez, a posição concretista individual divide-se em duas
espécies (a) concretista individual direta, e (b) concretista individual
intermediaria.
a) Concretista individual direta: O judiciário concretiza direta e imediatamente a eficácia
da norma constitucional, sem prévia concessão de prazo.
b) Concretista individual intermediária: O judiciário dá ciência ao órgão omisso, fixando-
lhe prazo para a expedição da norma regulamentadora. Ao término do prazo, se a
omissão do órgão competente permanecer, o Poder Judiciário então fixará as
condições necessárias para o exercício do direito por parte do autor do MI.
• NÃO CONCRETISTA: Deveria o poder judiciário apenas reconhecer formalmente
a inercia do Poder Público, e dar ciência a sua decisão, para que este edite a
norma faltante.
IMPORTANTE. A posição inicialmente adotada pela jurisprudência do Supremo era a não
concretista, depois, veio a adotar a posição concretista. Com o advento do diploma
legislativo especifico do mandado de injunção – LEI 13300/2016 – a posição concretista foi
consolidada. Nos termos do art.9° da lei supracitada, os efeitos da decisão se limitam às
partes, o que nos faz entender, consoante com o dispositivo anterior, que o nosso
ordenamento adota a posição CONCRETISTA INDIVIDUAL INTERMEDIÁRIA, tendo em
vista que: (a) a decisão judicial estabelecerá as condições para o exercício do direito, mas
com eficácia limitada às partes do processo, e (b) antes da fixação de tais condições para
a fruição do direito pelos beneficiários, o Poder Judiciário fixará prazo razoável para que o
poder, órgão ou a autoridade edite a norma regulamentadora faltante.

MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO


• Os direitos, as liberdades e as prerrogativas pertencentes, indistintamente, a uma
coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou
categoria, poderão ser protegidos via mandado de injunção coletivo, em caso de
inviabilização de seu exercício por falta – total ou parcial – de norma
regulamentadora.
• Poderá ser promovido por (art. 12/ lei 13.300/2016):

a) pelo Ministério Público, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou
individuais indisponíveis;
b) por partido político com representação no Congresso Nacional, para assegurar o
exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados
com a finalidade partidária;
c) por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e
em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o exercício de direitos,
liberdades e prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros ou
associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades,
dispensada, para tanto, autorização especial;
d) pela Defensoria Pública, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a
promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos
necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal

• No mandado de injunção coletivo, em regra, a sentença faz coisa julgada


limitadamente entre às pessoas integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou
da categoria substituídas pelo impetrante. A regra, portanto, é a da adoção da
posição concretista individual intermediária.

AÇÃO POPULAR
Art. 5°, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

• A ação popular visa a defensa de interesse coletivo, e poderá ser usada de modo
preventivo ou repressivo, visando anular ato lesivo ao patrimônio público, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
• É importante ressaltar que somente o cidadão pode propor ação popular. Cidadão,
para a Constituição Brasileira é a pessoa humana em pleno gozo dos direitos cívicos
e políticos, isto é, que seja eleitor, no gozo da capacidade eleitoral ativa.
• Em tese, também seria possível por equiparação, o português equiparado ao
brasileiro naturalizado propor ação popular, caso houvesse reciprocidade por parte
de Portugal. Entretanto, na prática, nos dias atuais, não há essa possibilidade, em
face da vedação contida na Constituição Portuguesa.
• No polo passivo da ação popular devem figurar:

a) Todas as pessoas jurídicas, públicas ou privadas em nome das quais foi praticado o
ato ou contrato a ser anulado;
b) Todas as autoridades, os funcionários e administradores que houverem autorizado,
aprovado, ratificado ou praticado pessoalmente o ato ou firmado o contrato a ser
anulado, ou que, por omissos, permitiram a lesão;
c) Todos os beneficiários diretos do ato ou contato ilegal.

• A CF isenta o autor da ação popular de custas e de ônus da sucumbência, salvo


comprovada má-fé.
• O cabimento de ação popular independe da comprovação de prejuízo aos cofres
públicos.
• Segundo orientação do STF, não cabe ação popular contra ato de conteúdo
jurisdicional (decisões judiciais)
• A competência para julgar e processar a ação popular dependerá da origem do ato
a ser anulado. Por exemplo, se o ato lesivo ao patrimônio público for praticado por
autoridade, funcionário ou órgão da união, a competência será do juiz federal da
seção judiciária em que se consumou o ato.
• A Ação Popular possui juízo universal e a produção dos efeitos da coisa julgada
produzirá efeitos erga omnes.
DIREITOS DA NACIONALIDADE

• NACIONALIDADE é o vínculo jurídico-político de direito público interno, que faz da


pessoa um dos elementos componentes da dimensão do estado. Cada estado é livre
para dizer quais são seus nacionais. Divide-se em nacionalidade primária e
secundária.
• NAÇÃO é um agrupamento humano. Este agrupamento está num território, estando
ligado com elementos culturais, históricos, econômicos, tradições, costumes, tendo
inclusive uma consciência coletiva.
• POVO é um conjunto de pessoas que fazem parte de um Estado, sendo um
elemento humano. E o povo está ligado entre si em razão de um vínculo jurídico-
político, que é a própria nacionalidade.
• POPULAÇÃO, por sua vez, é um conjunto meramente demográfico. Trata-se de um
conjunto de pessoas que reside naquele território, podendo ser nacionais ou não.
• CIDADÃO serve para designar os nacionais, natos ou naturalizados, que estejam
no gozo dos direitos políticos, e que sejam participantes da vida do Estado.
• ESTRANGEIRO é todo aquele que não á nacional, não sendo nato ou naturalizado,
sem que pertença aquele povo. Todos aqueles que não são tidos por nacionais são
estrangeiros.

NACIONALIDADE PRIMÁRIA (NATO)

• Cuida-se de aquisição involuntária de nacionalidade, decorrente do simples


nascimento, ligado a um critério estabelecido pelo estado.
• A Constituição Federal de 1988 adotou, como regra, o critério ius solis, admitindo,
porém, ligeiras atenuações. Portanto, no brasil, não só o critério ius solis determina
a nacionalidade, também existem situações de preponderância do ius sanguinis.

Nos termos da Constituição Federal, art. 12, são brasileiros NATOS:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros,


desde que estes não estejam a serviço de seu país;

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer


deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira

Esse dispositivo traz duas possibilidades distintas da aquisição da nacionalidade originária


brasileira: 1. Registro em consulado, e 2. Vir o nascido no estrangeiro residir no brasil e
optar pela opção confirmativa a qualquer tempo, desde que tenha atingido a maioridade.

• É um direito potestativo, porém deve ser feito em juízo;


• É um direito de caráter personalíssimo. Logo, no caso de o nascido no estrangeiro
de pai brasileiro ou mãe brasileira, vir a residir no Brasil, ainda menor (mesmo não
registrado no órgão competente), será brasileiro nato (provisoriamente), mas estará
sujeito a posterior manifestação de vontade do interessado. Atingida a maioridade,
enquanto não manifestada a opção, esta passa a constituir-se em condição
suspensiva da nacionalidade brasileira.

NACIONALIDADE SECUNDÁRIA (NATURALIZADO)

• Como se sabe, não existe direito subjetivo à naturalização, ainda que as condições
estejam plenamente atendidas. Isso porque a concessão da naturalização é um ato
de soberania nacional, discricionário do Chefe do Poder Executivo.
• A Constituição diz que são brasileiros naturalizados:
• Naturalização ordinária: são brasileiros naturalizados os que, na forma da lei,
adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral. Neste
caso, trata-se de uma forma de nacionalidade ordinária, em que o sujeito preenche
os requisitos previstos na lei: a) capacidade civil, de acordo com a lei brasileira; b)
visto permanente; c) saber ler e escrever em português; d) exercer profissão.
Cumpridos estes requisitos, adquire a nacionalidade brasileira. Se ele for de um país
de língua portuguesa, bastará residir no Brasil por um ano e ter idoneidade moral;
• Naturalização extraordinária: são brasileiros naturalizados os estrangeiros de
qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de
quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a
nacionalidade brasileira. Neste caso, a naturalização será concedida, pois não há
discricionariedade do Chefe do Poder Executivo. Há aqui direito subjetivo, pois o
sujeito reside no país há mais de quinze anos, não tem condenação penal e requereu
a nacionalidade brasileira

DISTINÇÕES ENTRE O BRASILEIRO NATO E O NATURALIZADO PREVISTAS NA


CONSTITUIÇÃO

Primeiramente, é importante frisar que a lei não pode estabelecer distinções entre os
brasileiros natos e naturalizado, as distinções existentes são aquelas previstas
expressamente na Constituição.

1. Art. 12, parágrafo terceiro, CF: Cargos privativos de Brasileiros Natos:


I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa

2. Art. 89, VII, CF: Função no Conselho da República. O respectivo inciso reserva 6
vagas a brasileiros natos para compor o Conselho da República
3. Art. 5°, LI, CF: O brasileiro nato não pode ser extraditado
4. Art. 222, CF: O Brasileiro naturalizado há menos de dez anos não pode ser
proprietário de empresa jornalística e de radiofusão sonora de sons e imagens.
Tampouco ser sócio com mais de 30% do capital total e do capital volante e participar
da gestão dessas empresas

PERDA DA NACIONALIDADE
A perda da nacionalidade só poderá ocorrer nas hipóteses expressamente previstas na
Constituição Federal, não podendo o legislador ordinário ampliar tais hipóteses, sob pena
de manifesta inconstitucionalidade. São estas as hipóteses previstas no art. 12, parágrafo
4, CF:
I. Tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade
nociva ao interesse nacional.
II. Adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos de reconhecimento de nacionalidade
originária pela lei estrangeira, e imposição de naturalização, pela norma estrangeira,
ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em
seu território ou para o exercício dos direitos civis.

• Evita-se a naturalização forçada, pois a perda do status de nacional deve levar em


conta a vontade de se abdicar à nacionalidade primária. Se houver a necessidade
de adquirir outra nacionalidade para conseguir emprego, ter acesso a certos direitos,
o brasileiro não perde a nacionalidade.
DUPLA NACIONALIDADE?
É o caso da Itália, filhos de italianos nascidos no Brasil, cujos pais não se encontravam à
serviço da Itália, eles serão brasileiros natos (critério ius solis), mas podem adquirir também,
a nacionalidade italiana originária (critério ius sanguinis). Desse modo, passam a ter dupla
nacionalidade, gozando do status de polipátridas.

EXTRADIÇÃO
Nos termos dos seguintes incisos do art. 5°, CF:
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,
praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;

• Extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado Brasileiro e outro


Estado pela qual se concede ou se solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia
condenação criminal definitiva, ou para fins de instrução penal. Divide-se em ativa e
passiva, a ativa é a que ocorre quando o Brasil requer a extradição a um estado
estrangeiro, e a passiva é quando um estado estrangeiro requer a extradição ao
Brasil.
• O Brasileiro nato jamais será extraditado.
• O Brasileiro naturalizado será extraditado se cometeu crime comum antes da
naturalização, ou, a qualquer tempo, envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes, drogas (esse envolvimento deverá ser comprovado)
• O Extraditado poderá questionar a ilegalidade, a identidade e o defeito de forma dos
documentos apresentados pelo estado requerente
• O STF não aprecia o mérito da ação criminosa.
• O estrangeiro não será extraditado por crime político ou crime de opinião.
Crime político: é todo cometimento ilícito motivado por razões de natureza pública, as quais
violam o bem-estar social, contra a ordem política vigente no estado.
Crime de opinião: é aquele em que o agente extrapola os limites mínimos da liberdade de
manifestação do pensamento, ofendendo, atacando desmotivadamente pessoas ou
órgãos.

DIREITOS POLÍTICOS
• Conforme dispõe o art. 14, CF, a soberania popular será exercida pelo sufrágio
universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e nos termos da
lei.
• PLEBISCITO: É convocado com anterioridade ao ato legislativo ou administrativo,
cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido.
• REFERENDO: É convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo,
cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição.
• SUFRÁGIO: O direito ao sufrágio é materializado pela capacidade de votar e de ser
votado, representando, pois, a essência dos direitos políticos. O direito ao sufrágio
deve ser visto sob dois aspectos: capacidade eleitoral ativa e passiva.

CAPACIDADE ELEITORAL ATIVA: É a que garante ao nacional o direito de votar nas


eleições, nos plebiscitos e nos referendos. A aquisição da capacidade eleitoral ativa se dá
com o alistamento realizado na junta eleitoral.
• Todo elegível é obrigatoriamente eleitor, porém, nem todo eleitor é elegível.
• O voto é obrigatório para os maiores de 18 anos, e facultativo para os analfabetos,
para os maiores de setenta anos e maiores de 16 e menores de 18.
• São inalistáveis os estrangeiros, e durante o serviço militar, os conscritos.
• O domicilio eleitoral dos ciganos é no local onde eles se encontram. O domicilio
eleitoral dos indígenas, se viverem no isolamento, é facultativo, se forem integrados
à sociedade, o voto é obrigatório.
CAPACIDADE ELEITORAL PASSIVA: É o direito de ser votado (elegibilidade). Para ser
votado, não basta somente ser eleitor, o nosso ordenamento jurídico requer outras
condições de elegibilidade para que alguém possa concorrer a um mandato eletivo, além
de não possuir impedimentos.
Condições de elegibilidade:
a) Nacionalidade brasileira ou condição de equiparado a Português, sendo que para
presidente e vice da Republica, a lei exige a condição de brasileiro nato.
b) Pleno exercício dos direitos políticos (aquele que teve suspensos ou perdeu seus
direitos políticos não dispõe de capacidade eleitoral passiva)
c) Alistamento eleitoral
d) Domicilio eleitoral na circunscrição
e) Idade mínima, art. 14, parágrafo 3°, inciso VI (comprovada na data da posse, para
vereador é na data do registro)
f) Filiação partidária

HIPÓTESES DE INELEGIBILIDADE

ABSOLUTA: Analfabetos, não alistáveis.

RELATIVA
• Art.14, parágrafo 5° O Presidente da República, os Governadores de Estado e do
Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso
dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente.
• Não se exige a descompatibilização, o chefe do Poder Executivo não precisa se
afastar temporariamente do cargo para se candidatar à reeleição.
• O vice-presidente, governador ou prefeito podem também ser reeleitos para apenas
um período subsequente.
• Não pode aquele que foi titular de dois mandatos consecutivos na chefia do
executivo vir a candidatar-se, no período subsequente ao cargo de vice-chefia do
Executivo.
• Não pode o prefeito que já esteja exercendo o segundo mandato sucessivo
candidatar-se novamente ao cargo de prefeito, ainda que, dessa vez, em município
diferente (Proibição da figura do prefeito itinerante)
• Na hipótese de ocorrer a vacância definitiva do cargo de presidente, governador ou
prefeito, o vice assumirá efetiva e definitivamente o exercício da chefia do executivo,
e somente poderá candidatar-se a um único período subsequente.
• Para concorrerem a outros cargos, Presidente, governadores e prefeitos devem
renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito

REFLEXA
• Art. 14, §7º, CF: São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente
da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito
ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

• Este dispositivo trata da denominada inelegibilidade reflexa, eis que incide sobre
terceiros, alcançando somente o território de jurisdição do titular. Ou seja, a mulher
do prefeito não pode ser candidata a vereadora, mas poderá ser candidata a
governadora do Estado.

• A Súmula Vinculante 18 estabelecerá que a dissolução do vínculo conjugal no curso


do mandato não afasta a inelegibilidade pelo parentesco prevista no art. 14, §7o, da
CF. Todavia, o STF entende que não se aplica a súmula vinculante 18 quando a
dissolução do vínculo conjugal se deu em razão de morte do cônjuge.

• O STF ainda vai dizer que se o governador tiver direito à reeleição, mas não o faz,
deixando para que sua esposa o faça, não haverá óbice a isso, eis que, se ele
mesmo poderia se candidatar, não haveria fraude em relação ao cônjuge, sendo este
elegível.

• Inelegibilidade do militar

• É vedada a elegibilidade com relação a condição de militar. O militar é alistável e


pode ser eleito, mas enquanto ele tiver em serviço ativo não poderá se filiar a partido
político. Neste caso, segundo TSE, a ausência de prévia filiação partidária é suprida
pelo registro da candidatura apresentada pelo partido político, desde que seja
autorizado pelo candidato. Todavia, se o militar tem mais de 10 anos de serviço,
neste caso ele é agregado pela autoridade superior. Ou seja, se ele for eleito,
automaticamente passará, no ato da diplomação, para a inatividade. Se o militar tiver
menos de 10 anos de serviço, para ser candidato, ele deverá se afastar da atividade.

PERDA E SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS

• Perda dos direitos políticos: O cidadão em situações excepcionais pode ser


definitivamente ou temporariamente privado de seus direitos políticos; Privação
definitiva: é a perda dos direitos políticos. Privação temporária: é a suspensão dos
direitos políticos.
• A CF não admite a cassação dos direitos políticos. Isso porque se trata de motivação
política, o que a CF não permite.
• A perda ou suspensão só se dará nos casos de: cancelamento da naturalização por
sentença transitada em julgado; incapacidade civil absoluta; condenação criminal
transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; recusa de cumprir obrigação
a todos imposta ou prestação alternativa; improbidade administrativa.

Princípio da anualidade eleitoral (ou anterioridade eleitoral) –


Segundo o art. 16, a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. Isto
significa que a lei entra em vigor na data da publicação, só que não se aplicará na eleição
que ocorra até 1 ano da data de sua vigência. Este princípio visa assegurar a previsibilidade
ao eleitor das regras do processo eleitoral.

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