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produção – segundo o qual o discurso seria determinado por um “exterior”; tratava-se de
um tecido histórico social - ou, ainda, da percepção de um conceito ausente: o não-dito,
que dominará, ademais, a elaboração do conceito de interdiscurso – no crivo do qual se
inscreve a maior parte de seus temas.
Com a chegada dos anos de 1970, Antoine Culioli, Catharine Funchs e Michel Pêcheux
publicam o texto Condições teóricas a propósito do tratamento formal da linguagem, que
lançou atenção à idéia de formações discursivas. Outubro de 1971 acolhe a publicação
do artigo intitulado A Semântica e o corte saussuriano: língua, linguagem e discurso; é o
número 24 da revista Langages. Com efeito, Michel Pêcheux intervinha vigorosamente
na lingüística em torno de Saussure e contra a semântica. Contudo, seria o artigo de Al-
thusser, Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado, divulgado pela revista La Penseé,
que vincaria todo o trabalho de Michel Pêcheux nessa época. É, além disso, a força do
pensamento de Pêcheux que dissemina, em maio de 1975, uma obra forte de um filósofo
inquieto com a lingüística: o texto Semântica e Discurso configura uma produtiva articula-
ção em torno das dualidades lógica/retórica, objetivo/subjetivo, necessidade/contingência,
propriedade/situação.
O quarto capítulo, Tentativas -1976-1979, se volta a um tempo em que, ao contrário
das investidas antecedentes de Pêcheux, a fala é mais presente do que a escrita. O ano de
1976 registra o surgimento do seminário chamado HPP, sob as orientações de Paul Hen-
ry, Michel Pêcheux e Michel Plon. As argüições se assentavam em um espaço no qual se
cruzavam: língua, psicanálise e política. Sob a responsabilidade de Nicolas Pasquarelli, o
CERM, Centro de Estudos e Pesquisas Marxistas, discutia também as questões em torno
da lingüística, sua história e sua crise, que nesse momento se passa a pressentir. A Análise
de Discurso condiz, desde então, com um ponto de confrontos teóricos, compartilhados
por Pêcheux, Louis Guespin (que acabava de batizar a “Escola francesa de análise de
discurso”), François Gadet, entre outros.
É no ano de 1977 que Pêcheux apresenta uma comunicação intitulada Remontemos,
no simpósio do México nomeado O Discurso político: teoria e análises. A comunicação
acena a novas pistas para a teoria do discurso, ancorada na discussão referente à categoria
marxista da “contradição”; instaura-se a partir desse momento um “face a face” textual
entre Spinoza e Foucault. No ano seguinte, Pêcheux exibe a sua autocrítica retomando
Semântica e Discurso com o intento de mostrar que “só há causa do que falha”. Dessa
maneira, o quinto capítulo exibe, a partir de 1980, um período de reflexão crítica de Michel
Pêcheux a produzir, em uma Desconstrução Domesticada, novas (re)configurações sobre
a Análise de Discurso e seu objeto.
Enfim, em seus textos do último período, 1983, Michel Pêcheux se dispõe a uma
interpretação histórica de sua “aventura teórica”. O posicionamento radical sugere uma
“fissura” irreversível e difícil de se fazer entender. Pressentia-se a necessidade de construir
uma teoria para que a sua desconstrução florescesse iluminação, questionamentos. O dis-
curso mostrou-se a Michel Pêcheux como o lugar de todo o possível, e foi em busca dele
que, de maneira excepcional, Pêcheux se lançou nos interstícios da língua, destinando-nos
R G L, n. 5, jun. 2007.
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o complexo e riquíssimo legado de sua prática; investigação que deslocou os alicerces da
Análise de Discurso e ainda hoje se inflexiona a produzir uma multiplicidade de temas
e preocupações marcantes no pensamento contemporâneo daqueles que comungam da
mesma inquietação.
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