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Mulheres perigosas - Mulheres perseguidas. 3
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4 Esmeralda Rizzo, Ines M. Minardi e Rosana Schwartz
fornecia informações sobre as ações an- o Brasil foi considerado "uma potência, em
tifascistas no país e Roma ficava com uma perigo de bolchevização”.21
cópia dessas correspondências.18 No Brasil, foi organizado um serviço de
propaganda anticomunista e nacionalista para
As informações vinham de diver- ser divulgado em todos os Estados. Segundo a
sas fontes em 22 de março de 1928, documentação depositada no Arquivo do Es-
por exemplo, foi relatado um encon- tado, o governo italiano enviava ao gabinete
tro de uma seção do Partido Repub- do chefe de polícia, Filinto Muller, material
licano Italiano, realizada no dia 19 de propaganda considerado útil contra os co-
na casa de um certo Maurelli, na munistas.22
Rua Boa Vista, na capital paulista. Esse material deu origem aos arquivos ital-
O relato, além de denunciar a pre- ianos, que ainda serão submetidos à pesquisa.
sença do Prof. Picarollo, apre- A documentação estaria dividia em materiais
senta toda a estratégia do grupo fotográficos e relatos das ações desses gru-
em relação ao trabalho antifascista. pos.23
São citados como antifascistas em Em 1937, a Direção Geral de Assuntos
São Paulo, Silvio Lodi, Cesare Transoceânicos, em Roma, autorizou as au-
Bernacchia, Luigi Ottobrini, Angelo toridades italianas a comunicarem "qualquer
Cianciosi, Francisco Barone, Ar- notícia que tivessem a respeito do complô co-
turo Centini, Conte Frola, Frisciotti, munista".24
Finocchiaro e Michele Gatti. Na Assim, dentro do espírito de repressão das
época, o principal informante ital- polícias foi selada uma parceria entre o Estado
iano era um repórter do jornal “O brasileiro e o italiano.25
19
Estado de São Paulo”, Meucci. Segundo pesquisadores, a polícia brasileira
entregou seus prontuários para os agentes ital-
Era decisão de Mussolini “jogar
21
um papel importante na luta contra BIONDI, Luigi. Anarquistas italianos em São
Paulo. Cadernos AEL, n 8/9. 1998. p. 117-147.
a propaganda comunista no mundo 22
STORCH, Robert D. O policiamento na cidade vi-
todo. Por isso, já havia sido inici- toriana. São Paulo, Revista Brasileira de História, vol.
ado em Roma um trabalho de orga- 5 No 8/9, abril de 1985.
20 23
nização neste sentido. TOLEDO, Edilene. O amigo do povo:grupo de
afinidade e a propaganda anarquista em São Paulo nos
Com tentativa de golpe comunista, ideal- primeiros anos deste século. Mestrado em História
apresentado ao programa de pós-graduiação da UNI-
izada por Luiz Carlos Prestes e Harry Berger, CAMP, IFCH, 1996. p. 129
24
18 BIONDI, Luigi. Anarquistas italianos em São
Archivio Storico. Polizia Política - Fascicolli
Paulo. Cadernos AEL, n 8/9. 1998. p. 117-147.
172. Relatório para o Chefe de Polícia. Roma, 11 de 25
TOLEDO, Edilene. O amigo do povo:grupo de
fevereiro de 1930.
19 afinidade e a propaganda anarquista em São Paulo nos
BIONDI, Luigi. Anarquistas italianos em São
primeiros anos deste século. Mestrado em História
Paulo. Cadernos AEL, n 8/9. 1998. p. 117-147.
20 apresentado ao programa de pós-graduiação da UNI-
STORCH, Robert D.O policiamento na cidade vi-
CAMP, IFCH, 1996. p. 131.
toriana. São Paulo, Revista Brasileira de História, vol.
5 No 8/9, abril de 1985.
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ianos, alemães e ingleses 26 e condecorou com Entre 1902 e 1908, organizaram o Jor-
a medalha Croce Corona d’Itália (1941), Gus- nal “Diário Socialista”, em língua italiana
tavo Capanema, ministro da Educação, Fe- e o Avanti !, que se tornariam importantes
linto Muller, Francisco Campos, ministro da veículos propagadores das idéias socialistas
Justiça, Frederico Barros Barreto, presidente no Brasil.31
do Tribunal de Segurança Nacional e Ernanni Os trabalhadores se reconheciam nas ações
Reis, diretor geral do Ministério da Justiça. 27 dos Centros Socialistas italianos32 , que tin-
ham surgido nos vários bairros paulistanos e
Até o advento do sufrágio universal mas- na figura do editor do jornal Avanti ! de São
culino na Itália, o Partido Socialista era pe- Paulo.33
queno, sem expressão, contudo com as fili- A presença de trabalhadoras filiadas aos
ações das mulheres e sua militância começou a Centros Socialistas merece destaque, princi-
crescer a idéia de partido de massa com muitos palmente as tecelãs e as mulheres que par-
filiados.28 ticipavam de sindicatos.34 Essa participação
Os socialistas italianos, em São Paulo, ativa proporcionou as condições necessárias
a partir de 1890, mantinham relação com para a formação da Federação Operária de São
o sindicalismo por intermédio da fundação Paulo, com aproximação na atividade das so-
das ligas sindicais e de resistência, es- ciedades étnicas de socorro mútuo na cidade.35
tiveram presentes na maioria dos proces- é muito extensa, destacando-se os trabalhos de Sheldon
sos organizativos dos trabalhadores, lideraram Leslie Maram, Anarquistas, imigrantes e o movimento
greves e compartilharam direções de sindi- operário brasileiro, 1890-1920. Rio de Janeiro : Paz
catos com os anarquistas ou sindicalistas rev- e Terra, 1979 ; Edilene Toledo, O Amigo do Povo :
grupos de afinidade e a propaganda anarquista em São
olucionários.29 Criaram uma rede organizativa
Paulo nos primeiros anos deste século, mestrado. Uni-
da qual faziam parte diversos grupos de trabal- camp, IFCH, 1993 ; Isabelle Felici, Les italiens dans
hadores italianos, que preocupavam o governo le mouvement anarchiste au Brésil. 1890-1920, doc-
brasileiro.30 torat. Paris III, 1994 ; Christina da Silva Roquette Lo-
26
preato, O espírito da revolta : a greve geral anarquista
TOLEDO, Edilene. O amigo do povo:grupo de de 1917. doutorado. Unicamp, IFCH, 1996 ; Carlo Ro-
afinidade e a propaganda anarquista em São Paulo nos mani, Oreste Ristori : uma aventura anarquista. São
primeiros anos deste século. Mestrado em História Paulo, Annablume, 2002
apresentado ao programa de pós-graduiação da UNI- 31
Cadernos AEL, n° 8/9. (Anarquismo e Anarquis-
CAMP, IFCH, 1996. p. 133 tas), 1998, pp. 117-147.
27
BIONDI, Luigi. Anarquistas italianos em São 32
BIONDI, Luigi. Entre associações étnicas e de
Paulo. Cadernos AEL, n 8/9. 1998. p. 117-147. classe. Os processos de organização política e sindi-
28
TOLEDO, Edilene. Travessias revolucionárias. cal dos trabalhadores italianos na cidade de São Paulo
Campinas:Editora da Unicamp, 2004. p.77 (1890-1920), Unicamp, IFCH, 2002. p. 75.
29
TOLEDO, Edilene. O Amigo do Povo : grupos 33
LOPREATO, Chistina da Silva. O espírito da
de afinidade e a propaganda anarquista em São Paulo revolta: a greve geral anarquista de 1917. Tese de
nos primeiros anos deste século, mestrado. Unicamp, Doutorado apresentada ao programa de pós-graduação
IFCH, 1993. p 95. - IFCH - UNICAMP, Campinas 1996. p.37
30
BIONDI, Luigi. Anarquistas italianos em São 34
ROMANI. Carlso. Oreste Ristori: uma aventura
Paulo. Cadernos AEL, n° 8/9. (Anarquismo e Anar- anarquista em São Paulo, Annablume, 2002.
quistas), 1998, pp. 117-147. A bibliografia sobre o 35
BIONDI, Luigi. Entre associações étnicas e de
anarquismo em São Paulo durante a primeira república classe. Os processos de organização política e sindical
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6 Esmeralda Rizzo, Ines M. Minardi e Rosana Schwartz
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43
ROSADA, Anna. Serrati nell’emigrazione. 1899- MONTGOMERY, David, The Fall of the
1911. Roma, Editori Riuniti, 1972. House of Labor : The Work Place, the
44
Ver AESP, DEOPS, Prontuário n° 770 e Estatutos State, and American Labor Activism,
da Sociedade de Mutuo Socorro do Cambucy.Fundada 1865-1925, Cambridge : Cambridge
em 27 de fevereiro de 1922. São Paulo, Typographia
University Press, 1987.
Modelo, 1928
45
Ver Arquivo do Estado de São Paulo (AESP), DE-
MORAES, Denis . O imaginário vigiado: a
OPS, Prontuário n° 71.338.
imprensa comunista e o realismo social-
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