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ECONOMIA BRASILEIRA

CÂMBIO E SETOR EXTERNO


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SUMÁRIO
1. Câmbio ................................................................................................. 2

2. Contas Externas ................................................................................................ 7

2.1. Balanço de pagamentos .......................................................................... 7


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1. Câmbio

Câmbio significa a troca da moeda de uma nação pela moeda de outro


país. A principal pergunta que se deve fazer é: por que é necessário o câmbio
de moedas para a realização de operações entre países? A resposta vem do
conceito de senhoriagem da moeda. Os países senhores da sua moeda exigem
que a liquidação das operações dentro de seu território seja feita em moeda
nacional. É possível cotar e contratar tendo como parâmetros moeda
estrangeira. Mas a liquidação da operação é, obrigatoriamente, realizada em
moeda nacional.
Assim, é possível entrar em uma loja de carros importados e, ao questionar
sobre o preço de determinado veículo, receber uma resposta em dólares, por
exemplo. Entretanto, em caso de compra do veículo, é necessário que o
pagamento seja feito em reais, pela conversão de dólares, segundo o câmbio
comercial.
O mercado de câmbio é aquele no qual indivíduos, empresas e bancos
compram e vendem moedas estrangeiras ou câmbio estrangeiro. Esse mercado,
para toda e qualquer moeda – dólar, por exemplo –, é composto por todas as
localidades – Londres, Paris, Zurique, Frankfurt, Cingapura, São Paulo – em que
o dólar é comprado ou vendido por outras moedas.
A principal função dos mercados de câmbio é a transferência de recursos
ou de poder de compra de uma nação e moeda para outra. Mas por que os
indivíduos, empresas e bancos desejam trocar uma moeda nacional por outra?
A demanda por moedas estrangeiras ocorre quando turistas visitam outro país,
quando uma empresa doméstica deseja importar de outros países, quando um
indivíduo tem a intenção de investir no exterior, e assim por diante. Por outro
lado, a disponibilidade de moedas estrangeiras na nação surge a partir dos
gastos de turistas estrangeiros no país, dos ganhos com as exportações, da
captação de investimentos externos, etc.
Assim, os bancos comerciais de uma nação operam como câmaras de
compensação do câmbio estrangeiro demandado e ofertado no curso das
transações externas efetuadas pelos residentes na nação.
No mercado de câmbio são identificados quatro níveis de participantes. O
primeiro nível é composto por usuários tradicionais, como turistas, importadores,
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exportadores, investidores, etc. No segundo, encontram-se os bancos


comerciais, que atuam como câmara de compensação entre usuários e
recebedores de câmbio. No terceiro, tem-se os corretores de câmbio, por meio
dos quais os bancos comerciais da nação realizam as operações de entrada e
saída de moedas. Finalmente, no quarto nível, está o Banco Central do país, que
atua como comprador em última instância quando os ganhos e despesas totais
com câmbio do país encontram-se em desequilíbrio.
Outra função do mercado de câmbio é a de propiciar crédito. Ocorre
geralmente quando se trata de mercadorias em trânsito e a transação pecuniária
exige o câmbio entre as moedas. Nesse caso, seja para adiantar o recebimento
de recursos (no caso de exportadores), seja para postergar o pagamento de
recursos (importadores), a data efetiva da troca de moeda pode ser alterada de
acordo com os interesses de cada parte. São exemplos o importador que financia
a mercadoria que deseja adquirir e o exportador que recebe pela mercadoria
vendida que ainda não chegou ao seu destino final. Finalmente, pode-se
destacar uma última atribuição do mercado de câmbio, que é prover condições
de proteção contra riscos do mercado e especulação.

1.1 Taxas de câmbio

Suponha, para efeito de simplificação, que existam apenas dois países,


Brasil e Estados Unidos, sendo o real (R$) a moeda doméstica e o dólar (US$)
a moeda estrangeira. A taxa de câmbio (R) entre reais e dólares é igual ao
número de reais necessários para comprar um dólar. Ou seja, R = R$/US$. Por
exemplo, se R = 4, significa que são necessários 4 reais para comprar 1 dólar.
Ocorre uma depreciação se há aumento do preço doméstico da moeda
estrangeira, isto é, se for necessário mais reais (R$ 5,00, por exemplo) para
comprar 1 dólar. Há, por outro lado, apreciação do real quando ocorre queda do
preço doméstico da moeda estrangeira. Assim, podemos definir taxa de câmbio
como sendo o preço em moeda estrangeira de uma unidade de moeda
doméstica.
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1.2 Regimes cambiais

As taxas de câmbio podem ser, basicamente: câmbio fixo, bandas


cambiais e câmbio flexível, que pode ser flexível puro ou administrável. Cada
tipo será analisado separadamente a seguir.

1.2.1 Câmbio fixo

O sistema de câmbio fixo considera a relação de câmbio fixa entre dois


países, independentemente das variações sofridas.
O câmbio é fixado pelas autoridades monetárias e é feito pela garantia de oferta
de moeda estrangeira, ao preço fixado, independentemente da quantidade de
demanda. Assim, não importa a quantidade de moeda estrangeira ofertada; ela
deve ser igual à sua demanda. Dessa forma, para garantir a cotação fixa, o país
precisa dispor de reservas internacionais – cambiais –, o que garantirá a oferta do
papel estrangeiro. No caso das reservas internacionais se esgotarem, o governo
deve recorrer ao aumento do saldo positivo do balanço de pagamentos, por meio,
inclusive, de empréstimos internacionais.
A grande crítica desse modelo cambial refere-se ao esforço do país para
garantir a oferta de moeda estrangeira, de forma que assegure a cotação do
câmbio. Muitas vezes, a nação não consegue aumentar o superávit no balanço
de pagamentos de forma a controlar suas reservas, levando-a a recorrer aos
empréstimos internacionais, os quais, por sua vez, farão que os juros da dívida
externa aumentem e, consequentemente, afetem negativamente o balanço de
pagamentos.
Esse modelo foi adotado pelo Brasil do início do Plano Real até
meados de janeiro de 1999. O objetivo era controlar o câmbio para eliminá-
lo como fator gerador de inflação.

1.2.2 Bandas cambiais

Os sistemas de bandas cambiais, em geral, permitem que a taxa de


câmbio flutue dentro de limites estreitamente definidos. Ou seja, as nações
estabelecem a taxa de câmbio ou o valor de paridade de suas moedas e, em
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seguida, permitem uma estreita banda de flutuação acima e abaixo do valor de


paridade. Tecnicamente, as nações poderiam aumentar a banda de flutuação
permitida e deixar que a taxa de câmbio fosse determinada cada vez mais pelas
forças do mercado, reduzindo, assim, mais e mais a necessidade de intervenção
oficial.
Seria como definir que o câmbio (em dólares) pode variar de 1,20 até
1,23, isto é, a autoridade monetária decide a banda de variação e depois
intervém comprando ou vendendo dólares no mercado para influenciar a
cotação. Quando a moeda estrangeira estiver próxima do ponto mais alto da
banda (perto de 1,23), o Banco Central vende dólares no mercado, forçando a
queda da taxa. Quando o dólar estiver próximo do ponto mais baixo da banda
(1,20), o Bacen compra dólares no mercado, provocando a alta da taxa.
Exemplo disso foi o sistema de Bretton Woods − em vigor do período pós-
guerra até 1971− em que a taxa de câmbio podia flutuar em torno de 1%
acima e abaixo do valor de paridade estabelecido, ou taxa de câmbio fixa.

1.2.3 Câmbio flexível

Câmbio flexível puro

O sistema de câmbio flexível consiste em taxas de câmbio de livre


flutuação, nas quais não há qualquer intervenção governamental nos mercados
de câmbio. Assim, as taxas de câmbio são determinadas pela oferta e demanda
de mercado e não há, portanto, qualquer intervenção oficial realizada pelo Banco
Central da nação.

Câmbio flexível administrado

No câmbio flexível administrado, o Banco Central define taxas máximas e


mínimas para cotação da moeda estrangeira (dólares), geralmente com vasta
amplitude. Essas taxas não são reveladas ao mercado. Ou seja, define-se qual
seria uma cotação máxima e mínima desejada (R$ 4,00 e R$ 1,00, por exemplo),
porém o Bacen, ao contrário do que ocorre na banda cambial, não divulga essas
taxas. Em caso de alta excessiva, em que a taxa se aproxima do valor máximo,
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o Banco Central intervém vendendo dólares para forçar a queda da cotação da


moeda estrangeira. Em caso de haver queda substancial e a cotação atingir R$
1,00 (valor mínimo predefinido), a autoridade compra dólares no mercado para
forçar a alta.
Portanto, se compararmos o câmbio flexível administrado com a banda
cambial, duas são as diferenças: no câmbio flexível administrado, não se
revela ao mercado quando ocorrerá atuação do Banco Central e a amplitude
é grande; na banda cambial, as taxas desejadas são reveladas e há pouca
amplitude.
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2. Contas Externas

Um país realiza diversas transações com o resto do mundo − compra e


venda de bens e serviços, compra e venda de ativos, entre outras. Esse conjunto
de transações afeta o desempenho econômico do país, uma vez que gera uma
série de bens e serviços e fluxos monetários e de capitais entre os países.
O balanço de pagamentos de uma nação busca registrar esse conjunto
de transações do país com o resto do mundo. Ou seja, o balanço de pagamentos
de um país é um resumo contábil/gerencial das transações econômicas feitas
com o resto do mundo durante certo período de tempo. Com base nesse
balanço, pode-se avaliar a situação econômica internacional do país. É o
“registro sistemático das transações entre residentes e não residentes de um
país durante determinado período.
No Brasil, o balanço de pagamentos é elaborado pelo Banco Central e é
baseado nos registros das transações efetuadas entre residentes no país e
residentes em outras nações. Entende-se por residentes os agentes econômicos
que possuem o centro de interesse no país. Na contabilização desses registros,
adota-se o método das partidas dobradas. A metodologia adotada é a contida na
5a edição do Manual de Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário
Internacional (FMI/BPM5). O modelo de balanço de pagamentos brasileiro é o
usado no relacionamento com organismos internacionais e nas análises de
economistas que avaliam o desempenho do país, seja para efeito de rating, para
tomada de decisões para investimentos e financiamentos, ou outras
negociações internacionais.

2.1. Balanço de pagamentos

O Balanço de Pagamentos (BP) divide-se em: (i) transações correntes,


(ii) conta capital e financeira, (iii) erros e omissões, e (iv) resultado global do
balanço (reservas internacionais), havendo, ainda, subdivisões.
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Balanço de pagamentos

Transações correntes (1 + 2 +3)

1. Balança comercial (FOB) Movimentação física de bens,


Exportações independentemente do fluxo de
Importações pagamentos.

2. Serviços e renda Serviços propriamente ditos em


Receitas que se busca evidenciar as
Despesas receitas e despesas geradas por
cada uma das modalidades de
ativos e passivos externos
contidos na conta financeira.

3. Transferências unilaterais Transferências de bens e moedas


Conta capital e financeira (4 +5) para consumo corrente.

4. Conta capital Transferência de patrimônio de


5. Conta financeira migrantes.

5.1 Investimento direto (líquido):


no exterior ou no país

No exterior

Participação no capital

Empréstimos
intercompanhias

5.2 Investimento em carteira Inclui todos os instrumentos de


Ativos portfólios, inclusive bônus, notes e
Ações commercial papers.
Títulos de renda fixa

5.3 Derivativos

Ativos

Passivos
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5.4 Outros ativos Registram créditos comerciais,


Ativos empréstimos, moedas e
Passivos depósitos, outros ativos e
passivos, e operações de
regularização.

Erros e omissões

Resultado global do balanço – Reservas internacionais

Transações correntes

Conta capital e financeira

Erros e omissões

Figura 1 – Principais rubricas do balanço de pagamentos.

2.1.1 Breve explicação sobre os principais grupos e contas do balanço de


pagamento

Transações correntes (1 + 2 + 3)
Também chamado de contas correntes, o balanço de transações correntes é
composto por: (a) balança comercial (exportações e importações), (b) serviços e
rendas e (c) transferências unilaterais.

1 - Balança comercial (exportações e importações)


Inclui as exportações e as importações de mercadorias. A balança comercial
será superavitária se o volume de exportações for maior que o volume de
importações, e será deficitária se o volume de exportações for menor que o
volume de importações.

2 - Serviços e rendas
Serviços
Os serviços são:
• transportes: fretes, passagens e correlatos;
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• viagens: diárias, cartões de crédito para compras internacionais, estudos,


tratamentos médicos, turismo. Não inclui passagens e gastos com feiras e
exposições, os quais entram em serviços diversos;
• seguros: de qualquer modalidade, sendo que se evidenciam os relativos a
transportes de bens;
• financeiros: serviços bancários, juros;
• computação e informações;
• royalties e licenças;
• aluguel de equipamento;
• serviços governamentais: despesas com representantes do país no exterior,
como embaixadas, consulados, participação em organismos internacionais,
entre outras;
• outros serviços: diversas exceções, como marcas, patentes, transferências
de tecnologia, assinaturas de jornais e revistas, serviços de comunicações
e publicidade, entre outras.

Renda
• salários e ordenados;
• rendas de investimentos;
• lucros e dividendos;
• juros de empréstimos intercompanhias;
• renda de investimento em carteira, com exceção dos juros relativos à
colocação de papéis entre empresas ligadas, alocados em rendas de
investimento direto;
• juros de títulos de dívida (renda fixa);
• renda de outros investimentos.

3 - Transferências unilaterais
São as transferências (na forma de bens e moeda) entre residentes e não
residentes, sem qualquer contrapartida em compromissos de pagamento de
juros, bonificações, lucros, dividendos, etc. Envolvem principalmente doações,
heranças, recursos destinados à filantropia e organizações não
governamentais. Importante ressaltar que as transferências relativas ao
patrimônio de migrantes internacionais são alocadas na conta de capital.
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Conta capital e financeira (4 + 5)

4 - Conta capital
Registra exclusivamente transferências relativas ao patrimônio de migrantes
internacionais e à aquisição/alienação de bens não financeiros não
produzidos, como marcas e patentes.

5- Conta financeira
As transações da conta financeira dividem-se em quatro grupos, sendo cada um
subdividido em ativos e passivos:
• investimento direto: subdividido em participação no capital e
empréstimos intercompanhias;
• investimentos em carteira: ativos e passivos constituídos pela emissão de
títulos de crédito negociados em mercados secundários de papéis;
• derivativos: operações de swaps, opções (inclusive prêmios) e futuros. Não
incluem depósitos de margens de garantias vinculados às operações
(alocados em outros investimentos/outros ativos);
• outros investimentos.

Erros e omissões
Há um conjunto de dados lançados a crédito e a débito que, teoricamente,
deveriam somar zero. Na prática isso não acontece, pois sempre existe alguma
diferença. Faz-se necessário uma conta de equilíbrio.

Resultado global do balanço – Reservas internacionais


O resultado do balanço de pagamentos representa a variação das reservas
internacionais do país detidas pelo Banco Central do Brasil, no conceito de
liquidez internacional, deduzidos os ajustes relacionados à
valorização/desvalorização das moedas estrangeiras e do ouro em relação ao
dólar americano e os ganhos/perdas relacionados às flutuações nos preços dos
títulos.
Reservas internacionais de um país é o conjunto de haveres negociáveis em
moeda estrangeira, de alta conversibilidade e liquidez, de propriedade do Banco
Central.

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