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A contribuição da Neurociência no ensino dos

alunos com deficiência intelectual

A inclusão ainda é um tema polêmico, não tanto pela aceitação das


diferenças, pois acredito que estamos vencendo essa barreira aos
poucos, mas a principal dificuldade encontrada no momento é como
receber um aluno com deficiência no espaço escolar, o que fazer, o
que ensinar; enfim, são muitos questionamentos que nos
deparamos e que acabam por atravancar todo o processo inclusivo
na escola regular.

Como já foi dito, incluir não é apenas matricular a criança na escola,


ou “socializá-la”; em outro artigo explico o significado da
socialização e sua complexidade, ou seja, incluir vai além de dividir
o mesmo espaço. A criança com deficiência tem o direito de
aprender; mas como ensinar uma criança com deficiência
intelectual? Será que ela é capaz de aprender?

Até alguns anos atrás as pessoas com deficiência intelectual eram


marginalizadas e desacreditadas. Era comum ficarem em casa
isoladas do mundo ou perambulando pelas ruas, sendo tachadas de
“loucas”. A família sem conhecimento não permitia seu
desenvolvimento, tratando-as como crianças grandes, sem qualquer
autonomia e perspectiva de vida.

Hoje, sabemos que podem progredir, ter autonomia, estudar e


trabalhar. Também compreendermos que deficiência intelectual
(antigamente conhecida como deficiência mental) nada tem a ver
com doença mental ou loucura, termo que muitos ainda utilizam. A
pessoa com DI apresenta algumas particularidades, como o
funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com
manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a
duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:
comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização dos
recursos da comunidade, saúde, segurança, dentre outros. Daí a
importância de frequentar o espaço escolar para desenvolver e
aprimorar as habilidades necessárias para conviver no meio social,
sendo respeitadas e tendo oportunidades de crescimento.

Assim, voltamos ao ponto principal: como garantir essa


oportunidade? Como ensiná-los?

Quando um professor se depara com uma criança com DI em sala,


sua primeira atitude é fazer uma sondagem para saber se pelo
menos escreve o próprio nome, se conhece os números, se
conhece cores, formas, etc. Não que isso não seja importante, mas
antes de tudo é necessário observar como a criança interage com
os colegas, como se expressa, o que gosta e o que não gosta. Será
que é necessário fazer uma sondagem logo no início, ou o
professor pode utilizar estratégias como atividades em grupos ou
duplas produtivas para avaliar as habilidades e dificuldades do
aluno, conhecendo seu ritmo e forma de aprender?

Não é necessário mudar a rotina da sala, nem colocar a criança no


canto fazendo atividade diferenciada de pintura ou recorte, bem
pelo contrário, o professor deve tratá-la como os outros alunos
dando-lhe a oportunidade de opinar, de escolher e participar das
atividades mesmo com algumas limitações (seja na coordenação,
fala, raciocínio ou memória).
O problema é que muitos professores não tem compreensão sobre
a deficiência intelectual e por isso se limitam a tentar alfabetizar o
aluno.

A pergunta que faço é a seguinte: estudamos Piaget e Vygotsky,


assim como uma gama de pesquisadores e teóricos da educação
que nos deixaram grandes contribuições, para compreender como
se dá a aprendizagem para os alunos ditos “normais”; então porque
é tão difícil compreender como se dá a aprendizagem nos alunos
com deficiência intelectual? Se é possível entender os estágios de
desenvolvimento segundo Piaget, é possível entender qual a
dificuldade apresentada por um aluno com DI, uma vez que após
observação atenta percebemos que ele não está dentro do estágio
esperado e sim em um estágio anterior. Levando em consideração
que cada estágio tem sua própria organização, esquemas e
aprendizado, a partir desse conhecimento é possível saber o que é
preciso para auxiliá-lo.

Bom, talvez a questão seja essa afinal: ainda temos dificuldade


em usar nossos conhecimentos para aquilo que foge à regra. Em
um mundo onde existem tantas pesquisas sobre o cérebro humano,
sobe a plasticidade cerebral, sobre a neurociência, ainda nos
vemos presos ao passado, a educação tradicional e mecanicista, ou
como diria Paulo Freire, educação bancária.

Nos dias de hoje, falar em aprendizagem sem levar em


consideração os mecanismos cerebrais responsáveis pelo processo
de aprender significa negar nossa evolução.

A Neurociência aplicada à aprendizagem não apenas contribui para


a compreensão dos processos cerebrais, mas veio nos mostrar o
que realmente significa essa forma particular de aprender.

Tendo a compreensão de que a criança precisa desenvolver as


habilidades motoras, para após desenvolver as habilidades de
escrita, o professor saberá como melhor direcioná-la, assim como
elaborar estratégias de ensino que desenvolvam sua capacidade de
atenção, para a partir desse ponto auxiliar no processo de
memorização e compreensão do processo de leitura e escrita.

É importante saber que tudo está interligado, o aluno só resolverá


uma situação problema se compreendê-la, se fizer sentido para ele
dentro de sua vivência, pois nosso cérebro precisa conhecer para
entender seu significado.

Assim como, um aluno com DI que não consiga relatar um fato ou


acontecimento seguindo uma sequência lógica só conseguirá tal
feito se for colocado à prova, se tiver a oportunidade de se
expressar, pois aos poucos seu cérebro começará a processar
essas informações se reorganizando e dando espaço a uma nova
aprendizagem.

Existem casos de alunos que devido ao grau de comprometimento


não poderão ser alfabetizados, o que não significa que devemos
deixá-los de lado por se tratar de um caso perdido, esses alunos
poderão desenvolver outras habilidades que lhes garantirão uma
vida digna.

Nosso cérebro aprende por meio de exercícios, de motivação, de


curiosidade e interesse, desde sempre. Por menor que pareça o
progresso de uma criança com deficiência, ainda assim é
aprendizagem e para ela é muito mais do que imaginava ou
esperava.

Nosso cérebro nos permite constante aprendizagem e um fato


importante a ser lembrado é que o conhecimento adquirido na
infância até os oito ou dez anos em grande parte ocorre devido ao
incentivo, às palavras positivas, reforçando a autoestima.

É incrível como nosso cérebro trabalha e ainda há muito para ser


explorado.

por CRISTIANE CARMINATI MARICATO


Pedagoga, especializada em Psicopedagogia Clínica, Psicomotricidade e Educação
Especial; cursando pós graduação em Neuropsicopedagogia. Professora na rede
municipal de Taboão da Serra; atualmente atuando no AEE (Atendimento Educacional
Especializado ou sala de recursos multifuncionais). Experiência em Educação na
Empresa, Educação Infantil e Ensino Fundamental I.

https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/a-contribuicao da-
neurociencia-no-ensino-dos-alunos-com-deficiencia-intelectual/54521

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